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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Serviço da Desinformação


Por Artur Felipe Azevedo

Em grande parte dos nossos artigos, temos tecido comentários de alerta acerca das confusões fomentadas pelos adversários velados do Espiritismo, sejam eles encarnados ou desencarnados, com o objetivo de jogar a prática espírita na vala comum das concepções fetichistas e da alienação místico-religiosa. Infelizmente, ainda contam poucos os que levam a sério tais advertências, considerando-as exageradas ou mesmo apelando para uma postura dita evangélica, em que procuram enxergar apenas um suposto lado "bom" das coisas, numa tentativa inglória de fecharem os olhos aos absurdos e imposturas que surgem de toda parte, em que se empresta à Doutrina Espírita uma postura que ela, de forma alguma, endossa em suas obras basilares, isto é, as da Codificação. Talvez por isso esses mesmos adversários velados insistam que estejam as obras de Allan Kardec "ultrapassadas", pois não conseguem alicerçar suas teorias e práticas naquilo que verdadeiramente ensina a Doutrina, apelando, assim, para a argumentação de que se faz necessário "inovar", "modernizar", mesmo que para isso se desfigure e contrarie frontalmente os mais básicos e elementares preceitos doutrinários e as mais rudimentares noções científicas, assim como a própria lógica e a razão.

Já tratamos do tema em nosso artigo “Nos Descaminhos da Fascinação”, onde evidenciamos o risco que corre aquele que cegamente aceita tudo que venha dos espíritos ou de indivíduos que se apresentam portadores ou medianeiros de verdades e revelações espirituais, sem o contributo do conhecimento que o Espiritismo proporciona - só verdadeiramente adquirido à custa de muito estudo e humildade,- e da necessidade de uma postura crítica diante de tudo aquilo que deparamos sob o rótulo de "espírita". 

A estratégia mais empregada por esses adversários ocultos do Espiritismo tem sido a utilização de escritos psicografados para a mais fácil disseminação de suas excêntricas ideias. Não lhes interessa tanto, como no passado, causar problemas em pequenos núcleos e grupamentos espíritas - o que querem é alcançar o maior número possível de pessoas em um curto espaço de tempo. Como? Nada melhor do que encher as prateleiras das livrarias com seus ditados revestidos de belas palavras, mas que escondem a semente da tentativa de desmoralização do Espiritismo, na medida em que lhe ataca a unidade e a compromete perante a opinião pública. Alguns desses escritos, apressadamente convertidos em livros por editores famintos pelo lucro fácil e rápido, primam pela fantasia, pela linguagem trivial e sem profundidade, amparadas em historietas romanceadas repletas de chavões e ideias rasas, com superficial alusão ao Espiritismo e ao Evangelho para melhor enganar o leitor desavisado. O objetivo é passar a sensação de estarem em conformidade com a Doutrina Espírita e a mais pura moral evangélica. Outras obras, especialmente as publicadas nas décadas de 50 e 60, abordam certos temas sob uma abordagem esotérica e/ou cientificista, bem em moda naqueles tempos, da qual certos autores encarnados se aproveitaram para angariar notoriedade, sendo que muitas vezes, para melhor impressionar, afirmaram advir do mundo espiritual, como exemplificamos no artigo “Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir”.

É por essas e outras que Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, advertiu:

"Nunca será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por vezes abundam e chocam o bom- senso, produzem lamentável impressão nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma ideia falsa do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se servem seus inimigos, para ridicularizá-lo. Entre tais publicações, algumas há que, sem serem más e sem provirem de uma obsessão, podem considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas."

Tempos atrás ficamos surpresos com o caso apresentado pelo programa "Linha Direta", da Rede Globo, que abordou o caso de dois homens encontrados mortos no alto de um morro em minha cidade natal, Niterói-RJ, no ano de 1966. Segundo o programa, esses dois indivíduos teriam morrido em consequência de sua aproximação com o Espiritismo e ao tentarem buscar contato com marcianos. Como o prezado leitor poderá constatar, é relatado que, inicialmente, os dois homens teriam recebido a orientação de um espírita para a feitura de “trabalhos espirituais” realizados com fogos de artifício (!), prática esta que, nem de longe, é endossada ou ensinada pela Doutrina Espírita. Já em relação à questão dos marcianos, a inspiração teria sido o livro “A Vida no Planeta Marte”, de Ramatis, inclusive mostrado na reportagem em sua terceira parte (vide ao fim do artigo). A citada obra é analisada por mim nos artigos “Ramatis e o planeta Marte” e “Férias em Phobos e Deimos”, onde demonstramos suas mais diversas cincadas científicas e doutrinárias, que, infelizmente, não foram percebidas pelos dois homens, que acabaram perecendo de maneira estranha. Fascinados pelas supostas revelações contidas no livro, não hesitaram em subir até o alto do morro em um dia de chuva intensa e sucessivos raios a fim de tentarem contato com supostos ETs, utilizando-se de máscaras de chumbo e consumindo estranhas cápsulas contendo alguma substância que não pôde ser detectada por falha de procedimento do Instituto Médico Legal. Conforme averiguamos, é possível que tenham frequentado ou recebido alguma orientação de um centro espiritualista de orientação africanista chamado "Centro Espírita Cabana Pai José", fundado em 1935, e localizado exatamente na rua que dava acesso ao morro e que, coincidentemente ou não, dava espaço ao estudo e divulgação das obras ramatisianas.

No entanto, foram as ideias espíritas injustamente acusadas de terem influenciado a dupla a cometer a insanidade que acabou por lhes tirar a vida, devido à errônea associação que comumente se faz entre os livros e ideias da suposta entidade espiritual Ramatis e o Espiritismo, assim como das práticas fetichistas (conhecidas também como trabalhos espirituais) e a prática espírita que, na verdade, nada tem a ver com elas.

Faz-se necessário, cada dia mais, resgatar o Espiritismo através da divulgação e estudo das obras da Codificação. Enquanto o Movimento Espírita der espaço à publicação de obras mediúnicas de gosto duvidoso, que são confundidas como sendo autenticamente espíritas, teremos confusões como esta que, muitas vezes, levam a autênticas tragédias de amargas consequências, das quais se regojizam seus mal intencionados autores.

Links do programa televisivo "Linha Direta" - "As Máscaras de Chumbo":






Fonte: Blog Ramatis, sábio ou pseudossábio? - http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2012/10/a-servico-da-desinformacao.html

Você se considera Espírita? Por quê?


Por Maria das Graças Cabral 

Diante de tantos conflitos de entendimento que permeiam o Espiritismo, lancei o seguinte questionamento aos companheiros que frequentam um Grupo que criei numa rede social: - Você se considera Espírita? Por quê?

O grupo é intitulado “Doutrina Espírita – Allan Kardec”, e quando o criei meu objetivo era abrir espaço para a divulgação e o estudo da Doutrina Espírita nas bases kardecianas. Só que ele foi caminhando como tudo na vida, escolhendo seus próprios caminhos e agregando pessoas. E foi através desses caminhos e das pessoas que vieram se “achegando” que tive e tenho o prazer de conhecer “virtualmente” muitos companheiros (as) de jornada, (alguns mesmo sem conhecê-los pessoalmente, já nutro um sentimento de afeição e admiração próprio dos amigos) e com eles, passei a constatar as mais acerbas divergências em relação à Doutrina dos Espíritos.

Leio seus comentários, me encanto com TODOS os posicionamentos, pois vejo a inteligência, os sentimentos e as percepções próprias da individualidade humana. Discordo radicalmente de alguns, concordo em parte com outros, e por incrível que pareça não concordo plenamente com ninguém. Por conseguinte constatei que a complexidade e o desencontro envolvendo a Doutrina dos Espíritos é muito maior do que a minha “santa” ignorância imaginava.

Daí, hoje, dia 18 de outubro de 2.012, às vésperas de completar 60 anos de idade, acordei me perguntado: Você se considera Espírita? Por quê? E minha resposta veio pronta, sem titubear. Sim, sou Espírita. Sinto-me Espírita.

Por quê? Bem, para responder por que, fui um pouco na busca da minha história, pois tem tudo a ver. Primeiramente, minha mãe era filha de pais espíritas, mas ela não era espírita. Hoje entendo que ela era uma devota de São Jorge. Lembro-me que sempre tinha diante da imagem daquele guerreiro sobre um cavalo, matando um dragão com sua enorme lança, uma vela acesa. Era a devoção de minha mãe.

Meu pai vinha de uma família profundamente católica. Não obstante, sempre foi categórico em afirmar que não tinha religião. Acreditava em Deus e procurava viver de forma harmoniosa com sua família, e respeitando as pessoas. Portanto, meus pais sempre me deixaram à vontade desde menina para escolher meu caminho de fé. E eu escolhi ser católica. Vale ressaltar que à época que escolhi ser católica (10 anos) não tinha nenhum contato com a família paterna, pois morávamos em outro estado, e eu mal os conhecia. Portanto, minhas escolhas não tiveram a interferência familiar.

Até que já no adiantado da vida, diante de muitos conflitos e atritos com os padres das paróquias que eu frequentava, ganhei de presente O Livro dos Espíritos. E aí eu me encantei! Encontrei as respostas que já trazia dentro de mim. Compreendi certos fenômenos espíritas que vivenciei. Pude acompanhar de forma criteriosa a mediunidade de grande potencialidade de meu filho. Aliás, ele sempre afirma que se não fosse filho de uma mãe espírita, talvez o considerassem louco...

Mas até aí, eu vivenciava o Espiritismo dentro de uma Casa Espírita, sendo conduzida e me deixando conduzir por todo esse misticismo que se conecta com a bagagem trazida pelo catolicismo. E na Casa Espírita me tornei monitora de ESDE, doutrinadora nas reuniões mediúnicas de desobsessão, palestrante, ajudei a criar uma ONG, e até aí eu achava que tudo estava perfeito!

Entretanto, quanto mais eu estudava as Obras Fundamentais espíritas mais eu identificava as incongruências doutrinárias que eram repassadas na Casa Espírita por monitores, dirigentes, palestrantes. E como não gosto de me omitir, passei a incomodar, a me sentir incomodada, e resolvi ser espírita fora do Centro Espírita.

E aí fui buscar aplicar o Espiritismo na vida. Como professora, com meus alunos e alunas, com meus colegas de profissão, com amigos, filhos, e com aquele “pessoal” que como dizem os mais jovens “eu não curto muito”. Foi só então que a minha “ficha caiu”, e passei a entender porque Kardec dizia que o Espiritismo não era religião. Sim, não é mesmo!

A Doutrina Espírita ao contrário de tudo o que até hoje nos foi apresentado, é libertadora, porque educa! Ela nos consola e fortalece para as batalhas da vida, sem precisarmos virar “santinhos” de um momento para outro. Dizem-nos os Mestres Espirituais que “a virtude não consiste numa aparência severa e lúgubre, ou em repelir os prazeres que a condição humana permite”, mas que busquemos em todos os nossos atos elevar o pensamento ao Criador. (O Homem no Mundo – ESE, cap. XVII, 10) Ou seja, a DE nos emancipa, nos liberta das “muletas” onde nos escorávamos através das religiões, dos líderes religiosos, dos gurus, etc. Somos os autores do nosso destino, mas não estamos no desamparo, pois ela nos fala dos nossos anjos guardiões e amigos espirituais.

E por que me considero atualmente mais Espírita do que nunca? Porque acredito na seriedade e competência de Allan Kardec e no seu trabalho como Codificador da Doutrina dos Espíritos. Porque entendo e aceito plenamente os princípios doutrinários espíritas. Porque busco aplicar os ensinamentos dos Espíritos na minha vida, e isso me faz desenvolver uma maior responsabilidade comigo mesma, pois não posso atribuir a ninguém esse legado.

Para finalizar, me aproprio de um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Os Bons Espíritas”, quando nos é dito que: - “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela transformação moral, e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um se compraz no seu horizonte limitado, o outro, que compreende a existência de alguma coisa melhor, esforça-se para se libertar, e sempre o consegue, quando dispõe de uma vontade firme”. Portanto, me considero Espírita numa condição de espírito imperfeito, que está na luta, de uma forma consciente, na busca de equilíbrio e paz.

Fonte: Blog Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com.br/2012/10/voce-se-considera-espirita-por-que.html

domingo, 14 de outubro de 2012

Analisando o texto "É Impressionante!!!"



Por Anderson Santiago

“Cada um (dos Espíritos) diz o que pensa e o que falam quase sempre é opinião pessoal; eis por que não é para acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos” – Kardec [2]

Já comentamos, em outras oportunidades, sobre o cuidado que devemos ter ao realizarmos a leitura de comunicações mediúnicas. Se com textos de autores encarnados, espíritas ou não, o nosso senso crítico deve estar sempre ativo, com as comunicações do além este cuidado deve ser redobrado. E não será a primeira vez que o texto do Espírito Inácio Ferreira será analisado.

Seu primeiro texto analisado foi “A Obra de André Luiz e a Física Quântica” onde ele se equivoca ao afirmar que André Luiz teria antecipado as conquistas atuais da física, notadamente da física quântica. O texto-resposta foi escrito em parceria com Alexandre Fontes da Fonseca. No segundo texto, “Emmanuelismo”, Inácio assume a incumbência de defender o Emmanuel de ataques que ele considera “pessoais”. Depois tenta vender a ideia de que o Emmanuel, Espírito-guia do Chico, seria o mesmo que possui uma mensagem publicada em O Evangelho segundo o Espiritismo. O texto foi amplamente analisado e vale a leitura.

E muitos outros textos ainda poderiam ser analisados. Entretanto, escolhemos este [1], por, mais uma vez, comprovar o acerto de Kardec ao nos aconselhar a termos muita prudência com toda e qualquer informação que venha quer do mundo espiritual. Eles falam o que pensam e nós não precisamos assinar embaixo em tudo o que vem deles. Neste texto, à semelhança daquele sobre Emmanuel ele pretende sair em defesa de Chico Xavier denunciando os desmandos doutrinários cometidos – ele também chega a afirmar serem desonestidades – contra o médium mineiro.

Primeiro o Inácio o defende contra as opiniões de que ele teria errado “ao dizer isto, ao escrever aquilo, tornando pública uma situação de lesa-Doutrina”, pelo fato de ter tido, o Chico, uma vida irretocável em todos os aspectos. Creio não precisar afirmar que este tipo de opinião é completamente ingênua, pelo simples fato de que uma análise fria da biografia do Chico nos demonstrará os inúmeros momentos em que ele errou e precisou retificar o seu erro.

Chico não foi um santo, foi um homem e como homem estava sujeito a erros! Este é um ponto que não canso de reafirmar, quando posso, devido às absurdas tentativas de santificação do Chico. Já não bastassem as romarias ao cemitério onde o seu corpo foi sepultado e ao museu que foi criado na casa onde ele viveu? Agora tudo o que ele escreveu ou psicografou deve ser considerado intocável? Isso sim é impressionante, pois nos leva a perguntar se somos espíritas mesmo. Posso afirmar sem medo que a falta de um aprofundamento doutrinário durante boa parte de sua vida foi o que permitiu que ele psicografasse e publicasse algumas [poucas] obras de conteúdo duvidoso. Para bom entendedor o Inácio realmente exagera ao transformar um pingo em uma letra distorcida. E o absurdo maior é insinuar que ele tem olhos e que a “terra” do lado de lá irá comê-los (no mundo espiritual existe Terra? E a questão dos inexistentes órgãos físicos no perispírito não já deveria estar superada por não ter sustentação ante os informes dos Espíritos da Codificação em todas as obras publicadas por Kardec? Além do mais, supõe o Espírito – ou ele quer reformular o Espiritismo? – que o perispírito é perecível? Ver o item 254 e 257 de O Livro dos Espíritos [3]).

Cometendo tantos equívocos [que duvido serem mesmo equívocos] como tentar sustentar que são os outros que querem induzir algo nas pessoas? Não posso dizer que o Chico copiava, ou plagiava, pois, conscientemente, não vejo motivos para isto. Aliás, discordo deste expediente. Entretanto, não posso concordar com este espírito ao levantar novamente o problema da suposta revelação andreluizina de mais de 40 anos atrás. Isso sim é sutileza maquiavélica! Será que ele não exagerou mesmo? Vale muito a pena verificar o que J. Herculano Pires tem a dizer sobre as obras de André Luiz e seu lugar diante da revelação espírita:
A obra de André Luiz é ilustrativa da revelação espírita e não propriamente complementar, no sentido de superação que o articulista propõe. É uma grande e bela contribuição nos estudos espíritas, mas sua pedra de toque é a codificação” [4].
Depois, elenca três observações contestáveis desde a primeira vez que foram publicadas. A primeira afirmação temerária é a de que Chico teria sido a reencarnação de Kardec. Não sei o por que desta insistência neste ponto, já que quando vamos realizar uma análise da biografia de ambos, buscando suas semelhanças e, se assim podemos chamar, ‘projetos reencarnatórios’, não encontramos pontos de contato, a não ser seu envolvimento com o movimento espiritista. Para muitos o “argumento” mais forte seria a previsão feita por Kardec e os Espíritos de que sua nova reencarnação se daria provavelmente no início do século XX. Entretanto, bem sabemos que isto não serve de confirmação pra nada. Sabe, para quem tem muitas dúvidas sobre este assunto, aconselho a estudar os livros de Hermínio Miranda, contidos na série “Mecanismos Secretos da História”, onde ele faz uma análise profunda, detalhada e criteriosa com a finalidade de demonstrar que as semelhanças de destino e a identidade de personalidade entre figuras como Hipácia, Giordano Bruno e Annie Besant, por exemplo, são encarnações de um mesmo espírito. Mas, Miranda não faz considerações apressadas, superficiais e nem baseadas em apenas uma “previsão” como a contida em Obras Póstumas.          

Quem tiver dúvidas, pode pesquisar dois livros em específico: Guerrilheiros da Intolerância e As Várias Vidas de Fénelon. Perceberão os leitores, a dificuldade que envolve tal trabalho, mas, acima de tudo, terão a oportunidade de compreender porque Chico não é a reencarnação de Kardec. E aceitarão que afirmações como estas do Espírito Inácio são irresponsáveis, por querer se fundamentar em certa vantagem que teria o Espírito só por estar morto e ter “acesso aos arquivos espirituais” que contariam a estória verdadeira. Observemos bem que ele pede apenas para crermos no que ele diz, sem provar que o que diz está certo fundamentado em uma pseudoautoridade que poderia ter só por estar morto e do outro lado da vida...

A sua segunda observação insere-se no contexto da primeira no que podemos chamar de afirmação temerária e sem fundamento. E lembrando a opinião de Herculano Pires, conquanto seja interessantíssima e muito importante para os estudos espíritas, a obra de André Luiz, não se configura como ensino universitário diante do Jardim da Infância que seriam as obras de Swendenborg, Dale Owen [chamado por Ferreira de Vale] e Stainton Moses, e, porque não, da própria Codificação. Pois é isto o que este espírito quer dizer, insinuando-se desta forma. E o dirá claramente ao final do seu texto. Mas, repetimos que a obra de André Luiz por mais importante que seja só tem valor real quando tocada pela pedra de toque da Codificação. E não o contrário. Até porque muitas informações dadas por André Luiz não condizem com os princípios espíritas, se não forem alvo de uma análise acurada. Exemplo: sabendo que não podemos compreender as necessidades dos Espíritos baseando-nos nas nossas, pelo simples fato de não terem os Espíritos órgãos físicos e sentidos sensoriais como os nossos, como poderiam eles dormir e comer no mundo espiritual? Qualquer dúvida é só olhar aqueles dois itens de O Livro dos Espíritos para início de conversa. Só isto evidencia que não podemos ser levianos e apressados na leitura e divulgação de qualquer informação mediúnica.

A terceira observação se insere neste movimento reflexivo que estamos fazendo. Para o Inácio, no fim, querem apenas reduzir Chico a um mediunzinho qualquer. Eu discordo. Excetuando-se aqueles que só conseguem denegrir, os demais, em sua imensa maioria, querem apenas que Chico seja o que foi, nem mais, nem menos. Alguns médiuns, palestrantes, adeptos do Espiritismo e Espíritos desencarnados é que querem pôr lenha na fogueira e transformar o Chico em um santo!! Ignoram que Kardec nunca pôs um médium sequer em evidência, pois, na opinião de Kardec
“Os nomes dos médiuns não acrescentariam, aliás, nenhum valor à obra dos Espíritos. Sua citação seria apenas uma satisfação do amor-próprio, pelo qual os médiuns verdadeiramente sérios não se interessam. Eles compreendem que, sendo puramente passivo seu papel, o valor das comunicações não aumenta em nada o seu mérito pessoal, e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho intelectual a que prestam apenas o seu concurso mecânico” [5].
É exatamente isto o que fazem os médiuns hoje em dia? Ocultam-se e deixam a obra dos Espíritos falarem por si mesmas? Ou vangloriam-se eles e autografam livros que NÃO FORAM obra de sua inteligência nem do seu esforço como se seus fossem? Quantos não buscam apenas isto: a satisfação do seu amor-próprio e não a defesa da causa espírita? Seria isto que Inácio queria fazer com o Chico ao não querer reduzi-lo a um mediunzinho qualquer? E a opinião de Kardec neste ponto deve ser considerada ultrapassada também?

Entretanto, a sua ousadia não para por aí. Valendo-se apenas de sua “autoridade de espírito desencarnado e cheio de vícios” ele afirma que “Não fosse a Obra Mediúnica de Chico Xavier, com toda a nossa reverência a Kardec, a sua seria uma obra de mais de 150 anos atrás!” Ou seja, Kardec está ultrapassado e as obras psicografadas por Chico são a sua atualização excepcional... Será que preciso mesmo refutar opinião tão bem fundamentada e criteriosa? Será que o Inácio simplesmente esqueceu que a obra não é de Chico, mas dos Espíritos? E que qualquer erro contido nelas não pode ser atribuído ao Chico e sim a eles, os Espíritos? Aqui vale citar a opinião de Alexandre F. Fonseca sobre a obra psicografada por Chico de autoria dos Espíritos:
“A obra mediúnica de Chico Xavier, mesmo diante de todo o seu valor moral, literário e até científico, apenas possui o caráter da revelação divina ou religiosa, pois o seu conteúdo não foi fruto da observação, investigação e pesquisa de nenhum encarnado. Chico foi o intermediário dos bons Espíritos para aprofundamento das verdades espirituais, todas elas de acordo com o Espiritismo e embasadas no mesmo. Isoladamente, as obras do Chico jamais constituiriam uma doutrina com o mesmo valor e caráter que o Espiritismo possui, simplesmente por não satisfazer o caráter científico de uma revelação” [6].
Por tudo o que já escrevemos nos artigos anteriores, só podemos lamentar que opiniões equivocadas e maquiavélicas como estas estejam sendo publicadas. Chamo de maquiavélicas porque não pecam pela ingenuidade, mas, pela perversidade em querer impor uma opinião sem fundamentos nem argumentos lógicos e coerentes, apenas uma suposta pseudoautoridade que teria este Espírito só por ser Espírito... Dê ele os pinotes que quiser, essa é que é a pura verdade!

Por fim, respeitar a memória do Chico é também não transformá-lo naquilo em que ele nunca cogitou. Seria uma honra ele ser a reencarnação de Kardec, entretanto, ele não é. E isto não o diminui como ser humano nem como médium. E não sou eu, apenas, que penso assim. Richard Simonetti, J. Raul Teixeira e Dora Incontri, para citar três personalidades que já analisaram e opinaram sobre o tema. Chico não precisa [e nem pode] ser Kardec para que o respeitemos, admiremos e respeitemos. Nem Kardec dá pra ter reencarnado como Chico, pois a única semelhança aceitável entre ambos seria a participação no movimento espírita, e só. Querer mais é ignorar os princípios espíritas e agir mais por idolatria [ao Chico] do que racionalmente [como Kardec]. E mais uma vez, muito cuidado com o que lê na internet, caro leitor, principalmente se foi psicografado [ou psicodigitado] por algum espírito.

Referências:

[1] O texto “É Impressionante!!!” pode ser lido clicando neste link: http://inacioferreira-baccelli.zip.net/arch2012-08-01_2012-08-31.html, em postagem do dia 20 de agosto.
[2] A citação de abertura do texto pode ser lida aqui: PIRES, J. Herculano. Introdução ao Espiritismo. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2009, p. 145.
[3] A questão [e as dúvidas] sobre a materialidade do perispírito e da existência de órgãos materiais nele já deveria estar superada. Kardec foi explícito o suficiente sobre o tema e as questões 254 e 257 de O Livro dos Espíritos não esgotam o tema. Vale uma pesquisa por toda a codificação, especialmente nas Revistas Espíritas para uma mais profunda compreensão do tema.
[4] RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2001, p. 245.
[5] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 63ª Ed. SP, LAKE, 2007, p. 15.

Nota: Seguem os links com as opiniões de Raul Teixeira e Dora Incontri sobre a questão do Chico não ser Kardec para que o leitor possa ler na íntegra as suas opiniões.

Simonetti: http://www.richardsimonetti.com.br/pingafogo/exibir/14

Retirado do blog "Análises Espíritas" - http://analisesespiritas.blogspot.com.br/2012/10/analisando-o-texto-e-impressionante.html

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A Identidade do Espiritismo no Século 21


Por Jaci Régis

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã.

Formatou a doutrina dentro de três parâmetros, compatíveis com o modelo cristão: 

1. O mundo é de provas e expiações;

2. Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas;

3. Deus se manifestou em três grandes momentos para a salvação moral humanidade: nos dez mandamentos de Moisés, nas palavras de Jesus Cristo e, finalmente, pela manifestação dos espíritos. 

São as três revelações da Lei de Deus.

Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual. 

A trajetória de Kardec é sinuosa.

Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião.

Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.

Todavia, aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã.

Isso levou à afirmação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra.

Surgiria um reino de paz, de alegria e de fraternidade.

Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo?

Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar.

N’O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

O céu comandando a Terra.

Jesus Cristo, o rei, governando o mundo.

Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim.

Desenvolver a ideia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente, tornou o Espiritismo prisioneiro da promessa da vinda do reino. Kardec, então, elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples.

Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias, e de mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se o que seria — disse — o suicídio da Doutrina.

É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais.

A DEFINIÇÃO DO ESPIRITISMO

O século 21 desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste das ciências duras, coadjuvadas pelas ciências humanas.

Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século 21?

Neste século, o Espiritismo terá, pelo menos, duas expressões:

1. O Espiritismo Cristão

Com duas versões:

a. Religião Espírita
Atualmente, de modo geral e majoritariamente, o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século 19, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para o contexto em que foram ditas.
Os espíritas cristãos são, basicamente, católicos mediúnicos. 

b. Espiritismo Laico-Cristão
Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é, a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2. Espiritismo Pós-Cristão
A única saída para que o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo Pós-Cristão.
Esse Espiritismo Pós-Cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana.

A CIÊNCIA DA ALMA

Como consequência, o Espiritismo Pós-Cristão se estruturará como a Ciência da Alma, à maneira de uma ciência humana, específica e “sui generis”.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma revelação divina, para ombrear-se, de forma muito especial, com o esforço das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas.

Isto é, uma ciência humana cujo objetivo é explicar o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.

Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo intimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de abranger todos os problemas da humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humanas que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas.

O objetivo maior será introduzir na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo. 

Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente.

Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

Ou seja, a Ciência da Alma tentará, por todos os modos, oferecer um tipo de entendimento do ser humano que sempre foi o objeto do Espiritismo, de forma atualizada, dentro de um aspecto que integrará o rigor cientifico, expressão da sensibilidade e do sentimento na análise da realidade da alma humana.

Muitos podem questionar se um Espiritismo Pós-Cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado.

É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no inicio e no tempo decorrente.

O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana, será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado. Assimilará as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

Fonte: Discurso proferido no II Encontro da Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA-Brasil), realizado de 3 a 6 de setembro de 2010 em Bento Gonçalves-RS.

Jaci Regis (1932-2010), psicólogo, jornalista, economista e escritor espírita, foi o fundador e presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), fundador e editor do jornal de cultura espírita “Abertura” e autor dos livros “Amor, Casamento & Família”, “Comportamento Espírita”, “Uma Nova Visão do Homem e do Mundo”, “A Delicada Questão do Sexo e do Amor”, “Novo Pensar - Deus, Homem e Mundo”, dentre outros.

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1304.html