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sexta-feira, 22 de julho de 2016

[RE] - Espíritos impostores - O falso Padre Ambrósio

Por Allan Kardec

Um dos escolhos apresentados pelas comunicações espíritas é o dos Espíritos impostores, que podem induzir em erro quanto a sua identidade e que, ao abrigo de um nome respeitável, tentam passar os mais grosseiros absurdos. Em muitas ocasiões esse perigo nos tem sido explicado; entretanto, ele nada é para quem perscruta tanto a forma quanto o conteúdo da linguagem dos seres invisíveis com os quais entra em comunicação.

Não é possível repetir aqui o que temos dito a tal respeito. Leia-se atentamente o que dizemos nesta Revista, em o Livro dos Espíritos e em nossa Instrução prática[1] e ver-se-á que nada é mais fácil do que se premunir contra fraudes semelhantes, por menor que seja nossa boa vontade. Reproduzimos apenas a comparação que segue, por nós citada alhures:

“Suponhamos que no quarto vizinho a este que ocupais estejam vários indivíduos desconhecidos e que não os possais ver, embora os escuteis perfeitamente. Não seria fácil, por sua conversa, reconhecer se se trata de ignorantes ou de sábios, de gente decente ou de malfeitores, de homens sérios ou de estouvados, de pessoas finas ou de gente rústica?”

Façamos uma outra comparação, sem sairmos de nossa Humanidade material. Suponhamos que se vos apresente alguém com o nome de um distinto literato. Ao ouvir o nome, recebê-lo-eis com toda a consideração devida ao seu suposto mérito, mas se ele se exprimir como um mariola, reconhecê-lo-eis imediatamente e o expulsareis como um impostor.

Dá-se o mesmo com os Espíritos. Eles são reconhecidos pela linguagem. A dos Espíritos superiores é sempre digna e em harmonia com a sublimidade dos pensamentos. Jamais uma trivialidade lhes macula a pureza. A grosseria das expressões baixas é peculiaridade dos Espíritos inferiores. Todas as qualidades e imperfeições dos Espíritos se revelam na sua linguagem. Pode-se assim, e com razão, aplicar-lhes a frase de célebre escritor: O estilo é o homem.

Estas reflexões nos são sugeridas por um artigo do Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans, do mês de dezembro de 1857. É uma conversa estabelecida através de um médium, entre dois Espíritos, um dizendo-se o Padre Ambrósio, o outro Clemente XIV. O Padre Ambrósio foi um respeitável sacerdote, falecido em Louisiana, no século passado. Era um homem de bem, de grande inteligência e deixou uma memória venerada.

Nesse diálogo, onde o ridículo compete com o ignóbil, é impossível nos enganarmos quanto à qualidade dos interlocutores e é forçoso convir que aqueles Espíritos tomaram poucas precauções com o seu disfarce, pois qual seria a criatura de bom-senso que, ao menos por um minuto, admitiria que o Padre Ambrósio e Clemente XIV tivessem podido descer àquelas trivialidades que mais parecem uma exibição de saltimbancos? Não se exprimiriam de modo diferente comediantes de última classe que parodiassem essas duas personagens.

Estamos convencidos de que o círculo de Nova Orléans, onde se passou o fato, o compreendeu como nós. Duvidar disso seria uma injúria. Apenas lamentamos que ao publicá-lo não o tivessem acompanhado de observação corretiva, no sentido de impedir que as criaturas superficiais o tomassem como modelo de estilo sério de além-túmulo. Apressemo-nos, entretanto, em declarar que esse círculo não recebe apenas comunicações de tal ordem; há outras de caráter muito diverso, nas quais encontramos toda a sublimidade do pensamento e da expressão dos Espíritos superiores.

Pensamos que a evocação do verdadeiro e do falso Padre Ambrósio poderia oferecer material útil para observações relativas aos Espíritos impostores. Foi o que fizemos, como se pode ver pela seguinte entrevista:

1. ─ Peço a Deus Todo-Poderoso permitir que o Espírito do verdadeiro Padre Ambrósio, falecido em Louisiana no século passado, e que deixou uma memória venerável, venha comunicar-se conosco.

─ Aqui estou.

2. ─ Teríeis a bondade de dizer se fostes realmente vós e Clemente XIV que tivestes a conversa relatada no Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans, cuja leitura fizemos na sessão passada?

─ Lamento os homens que foram vítimas dos Espíritos, tanto quanto lamento a esses.

3. ─ Qual foi o Espírito que tomou o vosso nome?

─ Um pelotiqueiro.

4. ─ E o interlocutor era realmente Clemente XIV?

─ Era um Espírito semelhante ao que me tomou o nome.

5. ─ Como pudestes permitir coisas semelhantes em vosso nome? Por que não viestes desmascarar os impostores?

─ Porque nem sempre posso impedir que homens e Espíritos se divirtam.

6. ─ Compreendemo-lo quanto aos Espíritos. Mas, quanto às pessoas que recolheram as palavras, são gente séria; não buscavam divertimentos.

─ Uma razão a mais. Eles deviam pensar logo que tais palavras não poderiam deixar de ser a linguagem de Espíritos zombeteiros.

7. ─ Por que os Espíritos não ensinam em Nova Orleans, princípios perfeitamente idênticos aos que aqui ensinam?

─ Em breve lhes servirá a doutrina que vos é ditada. Haverá apenas uma.

8. ─ Desde que essa doutrina deverá ser ali ensinada mais tarde, parece-nos que se o fosse imediatamente aceleraria o progresso e evitaria que alguns tivessem dúvidas prejudiciais.

─ Os desígnios de Deus são sempre impenetráveis. Não há outras coisas que, à vista dos meios que ele emprega para atingir seus objetivos, parecem-vos incompreensíveis? É preciso que o homem se habitue a distinguir o verdadeiro do falso. Nem todos poderiam receber a luz de um jacto sem serem ofuscados.

9. ─ Teríeis a bondade de nos dar vossa opinião pessoal relativamente à reencarnação?

─ Os Espíritos são criados ignorantes e imperfeitos. Uma única encarnação não bastaria para que tudo aprendessem. É necessário que reencarnem, a fim de gozarem a felicidade que Deus lhes reserva.

10. ─ Dá-se a reencarnação na Terra ou somente em outros globos?

─ A reencarnação se dá conforme o progresso do Espírito, em mundos mais perfeitos ou menos perfeitos.

11. ─ Isto não esclarece se pode ocorrer na Terra.

─ Sim, pode ocorrer na Terra, e se o Espírito a pede como missão, ser-lhe-á mais meritório do que se a pedisse para avançar mais rapi­damente em mundos mais perfeitos.

12. ─ Rogamos a Deus Todo-Poderoso permita que o Espírito que tomou o nome do Padre Ambrósio venha comunicar-se conosco.

─ Aqui estou; mas não me queirais confundir.

13. ─ És realmente o Padre Ambrósio? Em nome de Deus te conjuro a dizer a verdade!

─ Não.

14. ─ Que pensas do que disseste em seu nome?

─ Penso como pensavam os que me escutavam.

15. ─ Por que te serviste de um nome respeitável para dizer semelhantes tolices?

─ Aos nossos olhos os nomes nada valem. As obras são tudo. Como pelo que eu dizia, podiam ver o que eu era realmente, não liguei importância à substituição do nome.

16. ─ Por que não sustentas a impostura em nossa presença?

─ Porque minha linguagem é uma pedra de toque, com a qual não vos podeis enganar.


OBSERVAÇÃO: Por diversas vezes nos foi dito que a impostura de certos Espíritos é uma prova para a nossa capacidade de julgar. É uma espécie de tentação permitida por Deus, a fim de que, como disse o Padre Ambrósio, o homem se habitue a distinguir o verdadeiro do falso.


17. ─ Que pensas de teu companheiro Clemente XIV?

─ Não merece mais do que eu. Ambos necessitamos de indulgência.

18. ─ Em nome de Deus Todo-Poderoso, eu lhe peço que ele venha.

─ Aqui estou, desde que chegou o falso Padre Ambrósio.

19. ─ Por que abusaste da credulidade de pessoas respeitáveis, para dar uma falsa ideia da Doutrina Espírita?

─ Por que nos inclinamos ao erro? Porque não somos perfeitos.

20. ─ Não pensastes ambos que um dia vosso embuste seria descoberto e que os verdadeiros Padre Ambrósio e Clemente XIV não se exprimiriam como vós?

─ Os embustes já eram conhecidos e castigados por aquele que nos criou.

21. ─ Pertenceis à mesma classe de Espíritos que chamamos batedores?

─ Não, pois ainda é necessário raciocínio para fazer o que fizemos em Nova Orleans.

22. (Ao verdadeiro Padre Ambrósio). ─ Estes impostores vos estão vendo aqui?

─ Sim. E sofrem com o meu olhar.

23. ─ São eles errantes ou reencarnados?

─ Errantes. Não seriam suficientemente perfeitos para o desprendimento, caso estivessem encarnados.

24. ─ E vós, Padre Ambrósio, em que estado vos encontrais?

─ Encarnado num mundo feliz e desconhecido para vós.

25. ─ Nós vos agradecemos os esclarecimentos que tivestes a bondade de nos dar. Teríeis a gentileza de voltar outras vezes, trazendo-nos boas palavras e deixando-nos um ditado que mostrasse a diferença entre o vosso estilo e o daquele que usurpou o vosso nome?

─ Estou com aqueles que buscam o bem na verdade.


[1] Obra esgotada, substituída pelo Livro dos médiuns. Entretanto, con­forme os direitos concedidos a Caírbar Schutel, foi feita uma tradução brasileira para a Livraria Editora O Clarim, de Matão. (N. do T).

Fonte: IPEAK - http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=676&idioma=1. Acesso em 22.07.2016
 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

[RE] - Diferentes maneiras de fazer a caridade

Sociedade Espírita de Lyon


       NOTA: A comunicação seguinte foi recebida em nossa presença, no grupo de Perrache:

       “Sim, meu amigos, virei sempre ao vosso meio, sempre que for chamado. Ontem senti-me muito feliz entre vós, quando ouvi o autor dos livros que vos abriram os olhos testemunhar o desejo de vos ver reunidos, para vos dirigir palavras benevolentes. Para vós todos é ao mesmo tempo um grande ensinamento e poderosa lembrança. Apenas, quando vos falou do amor e da caridade, senti que diversos entre vós se perguntavam: 'Como fazer a caridade? Às vezes não tenho nem o necessário.'

       A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras. Podeis fazê-la por pensamento, palavras e em ações. Em pensamento, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem ao menos ter visto a luz. Uma prece de coração os alivia. Por palavras, dirigindo aos vossos colegas de todos os dias alguns conselhos bons. Dizei aos homens amargurados pelo desespero e pelas privações, e que blasfemam o nome do Todo-Poderoso: 'Eu era como vós. Eu sofria, era infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede, estou agora radiante'. Aos velhos que vos disserem: 'É inútil; estou no fim da carreira; morrerei como vivi'. Respondei-lhes: 'Deus tem para vós todos uma justiça igual. Lembrai-vos dos trabalhadores da última hora'. Às crianças, já viciadas por seu ambiente, que vão vagar pelas estradas, prontas a sucumbir a todas as más tentações, dizei: 'Deus vos vê, caros meninos', e não temais repetir-lhes muitas vezes estas suaves palavras. Elas acabarão germinando em suas jovens inteligências e, em vez de pequenos vagabundos, tereis feito homens. Também isto é caridade.

       Vários dentre vós também dizem: ‘Ora essa! Somos tão numerosos na Terra que Deus não pode ver-nos todos’. Escutai bem isto, meus amigos. Quando estais no pico de uma montanha, vosso olhar não abarca os milhares de grãos de areia que formam essa montanha? Então! É assim que Deus vos vê. Ele vos dá o livre-arbítrio, da mesma forma que dais a esses grãos de areia a liberdade de ir e vir, ao sabor do vento que os dispersa. Apenas Deus, em sua infinita misericórdia, pôs no fundo de vosso coração uma sentinela vigilante, chamada consciência. Escutai-a. Ela só vos dará bons conselhos. Por vezes vós a entorpeceis, opondo-lhe o Espírito do mal, e então ela se cala. Tende certeza, porém, que a pobre abandonada se fará ouvir, tão logo lhe tenhais deixado perceber a sombra do remorso. Escutai-a; interrogai-a, e muitas vezes vos achareis consolados pelo conselho que tiverdes recebido.

       Meus amigos, a cada regimento novo o general entrega uma bandeira. Eu vos dou esta máxima do Cristo: 'Amai-vos uns aos outros'. Praticai esta máxima. Uni-vos em torno desta bandeira e dela recebereis a felicidade e a consolação”.

Vosso Espírito protetor

Fonte: Revista Espírita, outubro de 1861 - Ensinamentos e dissertações espíritas