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terça-feira, 7 de julho de 2009

Estudo do Pai Nosso

Uma das aulas que achei interessante no Estudo Sistemático do Evangelho (ESE) - do qual eu participo e é ministrado na Federação Espírita Paraibana (FEPB) - foi relacionado ao Pai Nosso. O que me chamou bastante atenção foi saber que devido às inúmeras traduções, terminamos orando o Pai Nosso diferente de como Jesus ensinou.

O material que estou disponibilizando abaixo foi organizado pelas monitoras do ESE e foi retirado do livro "O Sermão do Monte", de Severino Celestino da Silva. Para quem não o conhece, Severino Celestino é professor, um dos criadores do curso de Ciências das Religiões da UFPB, autor de livros de estudo religioso e considerado um dos maiores estudiosos da Bíblia.

Vamos ao nosso estudo.

PAI NOSSO EM HEBRAICO

Avinu

Avinu shebashamaim itkadash shemechá. Tavô malcutechá ieassé retsonchá baárets caasher na’assá bashamaim. Ten-lanu haiom lechem chuknu. Usselách-lanu et – ashmatenu caasher solchim anáchnu laasher ashmu lanu. Veal-tevienu lidei massá ki im-hatsilenu min-hará’. Amén.

TRADUÇÃO LITERAL

Avinu = Pai Nosso

Avinu = nosso pai, pai nosso; shebashamaim = que és dos céus, ou dos Céus; itkadash = santo é, santo será; shemechá = teu nome; Tavô = virá; malcutechá = teu reino; ieassé = se fará; retsonchá = tua vontade; baárets = na terra; caasher = quando; na’assá = se fará; bashamaim = nos Céus. Ten-lanu = Dá-nos; haiom = hoje; lechem = pão; chuknu = nossa parte. Usselách-lanu = e perdoa-nos; et-ashmatenu = as nossas culpas, pecados, crimes; caasher = quando; solchim = perdoamos; anáchnu = nós; laasher = ao que; ashmu = pecado, delito, crime; lanu = nosso. Veal-tevienu = e não nos deixe; lidei = para as mãos da; massá = prova, provação; ki = porque; imhatsilenu = nos resgatas, nos libertas, nos salvas; min-hará’ = do mal. Amén = Amém.

TRADUÇÃO

Pai nosso dos céus, santo é teu nome. Venha o teu reino, tua vontade se fará na terra quando também nos céus. Dá-nos hoje nossa parte de pão. Perdoa as nossas culpas, quando perdoarmos as culpas dos nossos devedores. Não nos deixeis entregues à provação. Porque assim nos resgatas do mal. Amém.

ANÁLISE DA TRADUÇÃO (Mateus 6: 9-13)

Pai nosso: Jesus ensina como, humildemente, devemos nos dirigir a Deus. Observe que Ele não diz “Meu Pai”, mas “Pai Nosso”. Pai Nosso significa Pai de todos. Estamos no mesmo nível de necessidades. Tratamos como se estivéssemos pedindo para todos e não apenas para “Mim”. Jesus nos orienta neste sentido humilde de nos dirigirmos a Deus.

Pai nosso dos céus: e não, "pai nosso que estás nos céus", como se tem dito até hoje. Deus está em toda parte, Ele é senhor de tudo, dos Céus e também da terra, e não de uma região geográfica restrita, circunscrita, limitada e determinada. Pode ser dito também “Pai Nosso que és dos Céus” mas nunca, que estás nos Céus.

Santo é teu nome ou Santo será: e não, "santificado seja o vosso nome". Deus já é santo independente de que desejemos ou não, que ELE SEJA. Na frase, o verbo hebraico – kidesh = Santificar, Consagrar, colocado no incompleto ou futuro, nos transporta para o sentido de que Deus não existe passado, presente ou futuro, ficamos com “Santo é o Teu Nome”.

Venha o teu reino: e não, "venha a nós o vosso reino". A preposição hebraica refere-se à segunda pessoa do singular (tu) malecutechá (teu reino). O verbo = Vir está colocado no texto hebraico, no incompleto ou futuro (tavô). No entanto, ele substitui o que é a primeira pessoa do imperativo relativo (tsivui), exprime o desejo da Tua vinda: VENHA! Portanto, Venha o teu reino, indistintamente para todos os seres do planeta. Aqui ensina-nos Jesus que o Reino Divino vem indistintamente para os animais, plantas, aves, peixes, seres vivos como um todo e não apenas para NÓS, os humanos.

Tua vontade se fará na terra como (quando) também nos céus: e não, "seja feita a vossa vontade assim na terra como nos céus". A vontade d’Ele é suprema e irreversível, independente do nosso consentimento, ela se fará. O que Deus determinou, desde a criação do mundo, continuará inalterável. Aqueles que, por ventura, se desviem da harmonia colocada por Ele no universo, colherão este desvio nas mesmas proporções que o provocaram.

Dá-nos hoje nossa parte de pão: e não, "o pão nosso de cada dia nos daí hoje". Utilizando-se o pão nosso de cada dia nos dai hoje, tem-se a impressão de que estamos pedindo o pão de todos os dia, para hoje. Só Deus sabe do que precisamos e também quando devemos e merecemos receber. Recordemos o que diz Cristo: “Não vos preocupeis com vossas vidas: que beber ou comer?”... Olhai as aves dos céus: elas não semeiam, não ceifam, nem armazenam em celeiros. Mas vosso pai dos Céus as alimenta” (Mateus 6:25 e 26). O texto hebraico fala (lechém chuknu) parte de pão. Portanto, devemos pedir só uma parte do que merecemos, ou daquela que Deus decidiu nos dar, como gesto de humildade e até porque se recebermos só uma parte, sobrará alguma coisa para aqueles que não possuem, ainda, o sustento necessário.

Perdoa as nossas culpas quando perdoarmos as culpas dos nossos devedores: e não, "perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores". Aqui está condicionado que o nosso perdão vem como conseqüência natural do perdão prévio que nós já realizamos. É a lei de causa e efeito. É a colheita natural da nossa semeadura. Este sentido é confirmado no versículo 14 deste capítulo 6. Deus não premia e não pune, cada um colhe o que plantou. Temos ainda a certeza de que ao atingirmos a perfeição, no reino da plenitude evolutiva, ninguém deve nada a ninguém. Todos estão em pleno estado de harmonia pela evolução atingida e nenhuma dívida a mais nos será cobrada. “Apressa-te em te reconciliar com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que ele não te entregue ao juiz e o juiz te enviará para a prisão ou cárcere. E Eu verdadeiramente te digo: não subirás dali até que tenhas pago o último prutá”. (Mateus 5:25 e 26). Aqui está pois a questão que perdoar ou não perdoar está em nossas mãos e tem que ser resolvido entre nós. Deus não precisa nos perdoar. Ele não se sente ofendido por nós.

Não nos faças entrar em provação ou mais especificamente, não nos deixes entregues à provação: diferente de "não nos deixeis cair em tentação" como se tem traduzido até hoje. A expressão hebraica “lidei massá” significa para as mãos da provação. A palavra hebraica que está aplicada no texto é “massá” e “massá” significa prova, provação e não tentação. É a mesma palavra que se encontra em Gênesis 22:1, onde Iahvéh põe à prova Abraão. Ele não tenta Abraão ao lhe propor o sacrifício do seu filho Isaac. Iahvéh põe à prova o povo de Israel, e não o tenta. Passar por provações não é fácil, por isso o Cristo nos ensina solicitar de Deus toda assistência possível, frente a elas, pedindo que Ele não nos abandone nas horas da provação, ou seja, não nos deixe entregue à nossa própria sorte.

Porque assim nos resgatas do mal: Se tivermos a assistência de Iahvéh pela nossa sintonia com Ele, durante as provações, com certeza resgataremos todo o mal. A expressão “hatsilenu minhará” significa nos resgatará do mal ou nos libertará do mal. Assim, fica entendido que se soubermos pedir a assistência de Iahvéh durante as provações e Ele estiver conosco através da nossa sintonia, haveremos de superar todo o mal.

Amén: Palavra hebraica que significa desejo de que se cumpra o nosso pedido. Que aconteça segundo o nosso pedido. Que assim seja.