Todo aquele que se dispõe a difundir o legado kardequiano, deve, imediatamente, lembrar-se que o faz por livre iniciativa, devendo, portanto, estar ciente de suas qualificações na competência dessa responsabilidade.É de pleno conhecimento dos espíritas ser missão do homem inteligente na Terra utilizar os recursos de sua inteligência para desenvolver as retardatárias e conduzi-las a Deus. Desse modo, todo espírita que acolheu por seu livre pensar a mensagem do Consolador, tem, por responsabilidade intrínseca a essa adesão, sua difusão por considerá-la roteiro seguro para a consecução desse objetivo. É por isso que o primeiro alvo nessa tarefa deva ser ele próprio. O Evangelho Segundo o Espiritismo alerta-nos sobre a obrigação moral que temos, primeiramente, diante de nós mesmo, para só depois, tê-la para com os outros. Isso implica no reconhecimento de que somos os primeiros a quem devemos evangelizar.
Outra questão relevante, para análise do tema, dá-se com relação à ineficácia do proselitismo como meio de difusão da Doutrina Espírita. Constitui-se pré-requisito de sua mensagem, a crença em Jesus, além da fidelidade aos seus ensinamentos. Assim, o Consolador veio para os que já têm um patamar de crenças e convicções, que lhes possa lastrear o devido entendimento. Disse-nos o Mestre: “se me amais, guardais os meus mandamentos...”. Esta convocação explicita que a primeira condição para o seguirmos é que já o tenhamos reconhecido e aceitado seus ensinamentos; a segunda, é para que lhe sejamos fieis (guardai os meus mandamentos), ou seja, que não tenhamos deturpado a mensagem que nos legou. Quem abriga dúvidas em seu íntimo, por não ter, ainda, compreendido Jesus e não estar em condições de destinatário da Mensagem do Consolador, não pode colocar-se na condição de seu propagador. O Consolador não veio para os que não crêem, não sabem, nem querem saber. Veio para esclarecer os que já crêem e já sabem. Veio complementar o que já fora dito. Veio para os que já reconhecem a Deus, e o reconhecendo, aceitam seus desígnios e buscam caminhar ao Seu encontro, aprimorando-se no caminho de sua própria perfeição. Antes de tudo, veio, para quem já se reconhece e se conduz, na condição de “inteligência retardatária”.
Do difusor da mensagem espírita, espera-se que, evangelizando-se continuamente, saiba-se cristão e alvo da mensagem do Consolador. Assim qualificado, apto estará a atender ao convite: “ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados”. Nessas condições, identificará com clareza o seu lugar na tarefa, almejando êxito.
O difusor espírita - trabalhador de última hora - saber-se-á profeta a quem foi delegada a “missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual”. E a tarefa abraçada, na condução dos homens a Deus, por intermédio dos recursos proporcionados pela difusão da mensagem espírita-cristã, dar-se-á, mais pelo exemplo, do que por belas exortações, ou exibições de prodigiosa memória e capacidade de citações. Seu comprometimento com o mundo redundará em coerência entre sua vivência cidadã e a mensagem cristã que difundirá por seu intermédio. Suas atitudes ativas revestir-se-ão de ética, comprometimento e correção diante dos seus semelhantes e do próprio planeta. Será reconhecido por isso. Sua preocupação diária será a de banir o orgulho e o egoísmo que se contradizem com a mensagem cristã de que se dispõe portador. Atuante, trabalhará com afinco para despojar-se desses males objetivando permitir que se lhes aflorem os sentimentos de humildade, fraternidade e muita tolerância para com seus semelhantes.
O difusor da mensagem espírita será aquele espírita sincero, preocupado, antes de tudo, com o seu aprimoramento moral. Será um convertido aos postulados Espíritas, (por isso, estudioso e conhecedor profundo) convicto daquilo que difunde e do seu papel na difusão, fiel aos postulados de Kardec e de Jesus, cuidadoso na formulação das idéias e conceitos que expõe em nome do Consolador.
Saberá que deverá apropriar-se e expor a Doutrina sob dois princípios indissociáveis: esclarecimento e consolação. Por isso, só esclarecerá se for para consolar, evitando abordar temas polêmicos, para os quais, as reuniões de estudo (e não as palestras) serão as melhores ocasiões.
O difusor espírita saberá que, antes de tudo, como adepto da Doutrina, cumpre-lhe um dever, o dever de difundir a mensagem consoladora a todos que dela queiram acercar-se, assim, não violentará crenças nem violará idéias. Crerá na afirmação do Espírito de Verdade, quando diz: “Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, pois que também, a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.”
O difusor da Doutrina Espírita falará com precisão e clareza, pois que a clareza – já nos esclareceu Kardec – “é da sua (da Doutrina Espírita) essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque faz ir direto à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ou vago”.
O expositor da Doutrina Espírita saberá que, ao expô-la, por seu intermédio, assume sérias responsabilidades, não só diante de quem lhe convidou, ou delegou-lhe a tarefa, mas diante de Deus, de Jesus, de Kardec e dos Benfeitores Espirituais. Portanto, estará atento para a mensagem de Lucas (XII: 447,48) que recomenda: “muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àqueles a quem mais coisas se haja confiado”.
Ciente de si, de suas limitações e de suas responsabilidades, o difusor espírita atenderá com competência e propriedade ao chamado: “Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e paz.” Saber-se-á mídia e mensagem de um precioso legado.
O difusor da mensagem espírita, á luz desses princípios, buscará o recurso das técnicas como meras coadjuvantes para o bom desempenho de sua missão, porque, antes de tudo, será um autêntico e sincero porta-voz de Jesus e de Kardec, objetivando conduzir as inteligências retardatárias ao Pai Criador, principalmente, porque, antes, estará preocupado e cuidando de conduzir-se a si mesmo, nesta caminhada.
Fonte de Consulta:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
1 Atua no Movimento Espírita Federativo Estadual, em Mato Grosso do Sul, desde 1988.
MARIA ANGELA COELHO MIRAULT PINTO é Doutora (2002) e Mestre (1998) em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Católica Dom Bosco (1995) e Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pelas Faculdades Integradas de Comunicação e Turismo Hélio Alonso, no Rio de Janeiro (1976)
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