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sexta-feira, 31 de julho de 2009

O perfil do difusor da Doutrina Espírita

Todo aquele que se dispõe a difundir o legado kardequiano, deve, imediatamente, lembrar-se que o faz por livre iniciativa, devendo, portanto, estar ciente de suas qualificações na competência dessa responsabilidade.

É de pleno conhecimento dos espíritas ser missão do homem inteligente na Terra utilizar os recursos de sua inteligência para desenvolver as retardatárias e conduzi-las a Deus. Desse modo, todo espírita que acolheu por seu livre pensar a mensagem do Consolador, tem, por responsabilidade intrínseca a essa adesão, sua difusão por considerá-la roteiro seguro para a consecução desse objetivo. É por isso que o primeiro alvo nessa tarefa deva ser ele próprio. O Evangelho Segundo o Espiritismo alerta-nos sobre a obrigação moral que temos, primeiramente, diante de nós mesmo, para só depois, tê-la para com os outros. Isso implica no reconhecimento de que somos os primeiros a quem devemos evangelizar.

Outra questão relevante, para análise do tema, dá-se com relação à ineficácia do proselitismo como meio de difusão da Doutrina Espírita. Constitui-se pré-requisito de sua mensagem, a crença em Jesus, além da fidelidade aos seus ensinamentos. Assim, o Consolador veio para os que já têm um patamar de crenças e convicções, que lhes possa lastrear o devido entendimento. Disse-nos o Mestre: “se me amais, guardais os meus mandamentos...”. Esta convocação explicita que a primeira condição para o seguirmos é que já o tenhamos reconhecido e aceitado seus ensinamentos; a segunda, é para que lhe sejamos fieis (guardai os meus mandamentos), ou seja, que não tenhamos deturpado a mensagem que nos legou. Quem abriga dúvidas em seu íntimo, por não ter, ainda, compreendido Jesus e não estar em condições de destinatário da Mensagem do Consolador, não pode colocar-se na condição de seu propagador. O Consolador não veio para os que não crêem, não sabem, nem querem saber. Veio para esclarecer os que já crêem e já sabem. Veio complementar o que já fora dito. Veio para os que já reconhecem a Deus, e o reconhecendo, aceitam seus desígnios e buscam caminhar ao Seu encontro, aprimorando-se no caminho de sua própria perfeição. Antes de tudo, veio, para quem já se reconhece e se conduz, na condição de “inteligência retardatária”.

Do difusor da mensagem espírita, espera-se que, evangelizando-se continuamente, saiba-se cristão e alvo da mensagem do Consolador. Assim qualificado, apto estará a atender ao convite: “ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados”. Nessas condições, identificará com clareza o seu lugar na tarefa, almejando êxito.

O difusor espírita - trabalhador de última hora - saber-se-á profeta a quem foi delegada a “missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual”. E a tarefa abraçada, na condução dos homens a Deus, por intermédio dos recursos proporcionados pela difusão da mensagem espírita-cristã, dar-se-á, mais pelo exemplo, do que por belas exortações, ou exibições de prodigiosa memória e capacidade de citações. Seu comprometimento com o mundo redundará em coerência entre sua vivência cidadã e a mensagem cristã que difundirá por seu intermédio. Suas atitudes ativas revestir-se-ão de ética, comprometimento e correção diante dos seus semelhantes e do próprio planeta. Será reconhecido por isso. Sua preocupação diária será a de banir o orgulho e o egoísmo que se contradizem com a mensagem cristã de que se dispõe portador. Atuante, trabalhará com afinco para despojar-se desses males objetivando permitir que se lhes aflorem os sentimentos de humildade, fraternidade e muita tolerância para com seus semelhantes.

O difusor da mensagem espírita será aquele espírita sincero, preocupado, antes de tudo, com o seu aprimoramento moral. Será um convertido aos postulados Espíritas, (por isso, estudioso e conhecedor profundo) convicto daquilo que difunde e do seu papel na difusão, fiel aos postulados de Kardec e de Jesus, cuidadoso na formulação das idéias e conceitos que expõe em nome do Consolador.

Saberá que deverá apropriar-se e expor a Doutrina sob dois princípios indissociáveis: esclarecimento e consolação. Por isso, só esclarecerá se for para consolar, evitando abordar temas polêmicos, para os quais, as reuniões de estudo (e não as palestras) serão as melhores ocasiões.

O difusor espírita saberá que, antes de tudo, como adepto da Doutrina, cumpre-lhe um dever, o dever de difundir a mensagem consoladora a todos que dela queiram acercar-se, assim, não violentará crenças nem violará idéias. Crerá na afirmação do Espírito de Verdade, quando diz: “Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, pois que também, a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.”

O difusor da Doutrina Espírita falará com precisão e clareza, pois que a clareza – já nos esclareceu Kardec – “é da sua (da Doutrina Espírita) essência mesma e é donde lhe vem toda a força, porque faz ir direto à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ou vago”.

O expositor da Doutrina Espírita saberá que, ao expô-la, por seu intermédio, assume sérias responsabilidades, não só diante de quem lhe convidou, ou delegou-lhe a tarefa, mas diante de Deus, de Jesus, de Kardec e dos Benfeitores Espirituais. Portanto, estará atento para a mensagem de Lucas (XII: 447,48) que recomenda: “muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àqueles a quem mais coisas se haja confiado”.

Ciente de si, de suas limitações e de suas responsabilidades, o difusor espírita atenderá com competência e propriedade ao chamado: “Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e paz.” Saber-se-á mídia e mensagem de um precioso legado.

O difusor da mensagem espírita, á luz desses princípios, buscará o recurso das técnicas como meras coadjuvantes para o bom desempenho de sua missão, porque, antes de tudo, será um autêntico e sincero porta-voz de Jesus e de Kardec, objetivando conduzir as inteligências retardatárias ao Pai Criador, principalmente, porque, antes, estará preocupado e cuidando de conduzir-se a si mesmo, nesta caminhada.

Fonte de Consulta:

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.

1 Atua no Movimento Espírita Federativo Estadual, em Mato Grosso do Sul, desde 1988.

MARIA ANGELA COELHO MIRAULT PINTO é Doutora (2002) e Mestre (1998) em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Católica Dom Bosco (1995) e Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas, pelas Faculdades Integradas de Comunicação e Turismo Hélio Alonso, no Rio de Janeiro (1976)

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