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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Espiritismo e Evangelismo

Por Carlos Augusto P. Parchen

Temos visto, de forma cada vez mais freqüente, no meio Espírita, apelos e defesas para que se “evangelize” o Espiritismo, bem como se encontram ferrenhos defensores do Espiritismo como “religião”. Vêem-se mesmo colocações do tipo “...necessitamos é de evangelho....”.

Em minha opinião, o religiosismo e o "evangelismo" acabará por destruir o Espiritismo, pois se está abandonando a "...filosofia com base científica e conseqüências éticas e morais..." preconizada no Livro dos Espíritos, para um “evangelismo” exacerbado, transformando muitas Casas Espíritas em "igrejas", onde o ouvir palestras e tomar passes passam a ter “status” de rito religioso.

Nessas Casas, não se aprofunda e se discute mais a Filosofia Espírita de Vida, e não se discute como transforma-la em aprendizado, em habilidade, em aptidão.

Passamos a ter "estrelas" que ministram palestras, mais preocupados com a própria imagem, com o falar empolado, com técnicas avançadas de oratória, mas incapazes de serem animadores e promotores das mudanças pessoais e sociais.

Kardec nunca deu um aspecto religioso ao Espiritismo. Mostrem-me isso nas obras básicas! Isso não existe.

Não podemos abrir mão da Doutrina Espírita em nome de uma "religião espírita", acreditando que isso se "...corrige mais tarde...". Um edifício mal construído acabará desabando. Um alicerce mal feito não suporta uma obra de grande porte.

Kardec estabeleceu um tripé didático para a Doutrina Espírita: Filosofia, Ciência e Ética/Moral (e não religião).

A Ética e a Moral adotadas são a do Cristo, brilhantemente descrita no Evangelho Segundo o Espiritismo. Mas é ética e moral, aplicada em uma filosofia de vida, embasada em conhecimento científico.

O aspecto religioso do espiritismo, tal como concebido por Kardec, é íntimo, pessoal e individual. Não precisamos transformar as Casas Espíritas em "igrejas espíritas", pois isso nada acrescenta, só atrapalha.

Em "evangelismo", temos que reconhecer que existem algumas religiões muito eficientes nisso. Se vamos seguir por esse caminho, vamos aprender com elas.

Mas essa não será a minha opção. Não abrirei mão da pureza doutrinária estruturada por Kardec.

Assusta-me uma colocação como essa: "...precisamos é de evangelho...". Isso é quase um discurso do neo-evangelismo, das "modernas igrejas evangélicas".

Não é isso que precisamos. Precisamos de amor em ação, de caridade em ação, de ética em ação, de pensamento construtivo em ação, de efetivamente nos tornarmos criadores de uma nova realidade.

Precisamos é de Filosofia Espírita, de Moral Espírita, de Ética Espírita, e isso já está contido no Livro dos Espíritos, a principal obra do Espiritismo (e poderia até ser a única).

Precisamos transformar as Casas Espíritas em oficinas de aprendizado, em "fábricas" de habilidades e aptidões éticas e morais, em não em púlpitos de discursos e pregações, esteticamente lindas, belas, mas inócuas por não estimularem a evolução individual.

Cristo como modelo. Claro que sim. Somos todos admiradores desse ser. Mas procuremos conhecer o Cristo Histórico, O Cristo Humano, o Cristo Revolucionário, o Cristo que não tinha uma religião, que não fundou uma religião, que não se entregou as religiões, que VIVEU sua pregação, que tentava transformar ensinamento em aprendizado. Que seja ele o nosso modelo de construção de vida e de sociedade. O Cristo Vivo, não o Cristo das Igrejas e Religiões. O Cristo em nosso coração e nas nossas ações, e não no evangelismo pobre e limitador.

Esta é uma opinião pessoal, mas mais que isto, é uma crença pessoal, uma diretriz de minha conduta dentro da Doutrina Espírita. Compreendo e respeito quem pensa diferente. Reconheço-lhes esse direito. Mas lutarei tenazmente pelo Espiritismo Filosófico, Científico, Ético e Moral. E para evitar que nos transformemos em Igreja.

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