Por Carlos Iglesia
Alguns dias atrás estava cortando o cabelo e conversando com o barbeiro sobre um conhecido nosso que desencarnou recentemente. Pessoa bastante respeitada no bairro, ele era médium e atuava no receituário mediúnico, tendo proporcionado alivío e cura à inumeráveis doentes que o procuravam para consultas no centro que frequentava. Ele era médico também e exercia a profissão normalmente em seu consultório, que estava aberto a todos, pudessem ou não pagar as consultas, que inclusive eram de valor acessível a maioria das pessoas. Não raro fornecia os remédios para os que precisassem.
Sua desencarnação ocorreu após um doloroso processo de luta contra o câncer - doença possivelmente ligada ao fato de ter fumado na juventude - processo pelo qual passou com a maior resignação. Pessoa muito boa, porém de gênio forte, nunca demonstrou impaciência com a doença ou revolta com a situação que gradualmente o levou a diminuir o ritmo de seu trabalho até que foi obrigado a parar já nos últimos dias de sua estadia neste mundo.
A conversa corria justamente por esse ponto, pela sua luta contra o câncer, quando o barbeiro que me atendia - de formação católica porém com simpatia pelo Espiritismo - saiu-se com uma frase que me deixou pensativo: "Coitado, ainda bem que ele era espírita, os espíritas aguentam melhor estes sofrimentos".
Realmente não tenho como afirmar categoricamente que a frase é verdadeira, seria necessária uma vasta pesquisa entre espíritas e não espíritas, que passam por situações difíceis como a descrita, para embasar tal conclusão. Mas em uma primeira análise, mais subjetiva, ela é bastante razoável e parece corresponder as observações do dia-a-dia. A experiência cotidiana parece mostrar que o sofrimento tem um componente psicológico muito forte, que ele é maior ou menor em relação ao modo como a pessoa que passa por ele encara a vida. A percepção de que estamos em um processo de aprendizado, do qual a estadia neste mundo material é apenas uma etapa muito curta, muda razoavelmente a relação entre o doente e a doença. E muda mais ainda quando sabemos o que nos espera do outro lado da sepultura, que não há o que se temer porque é apenas a vida melhorada e adequada ao nosso grau de maturidade espiritual.
Mas, independentemente do fato da frase ser mais ou menos verdadeira, há uma outra questão interessante na reflexão do barbeiro que me atendia. Em essência ele deixou transparecer que a admiração que tem pela Doutrina é causada pelo efeito que ela tem na vida de seus adeptos. A vida de nosso amigo médico, que atuava como mensageiro do mais alto, transformou-se na própria mensagem.
Assim, pensando posteriormente na frase, não pude deixar de sorrir diante da simples constatação de que por mais que falemos, que escrevamos, que divulguemos o Espiritismo por todos os meios de comunicação existentes, será sempre na forma como aplicamos o Espiritismo na nossa vivência cotidiana que passaremos realmente aos nossos conhecidos a mensagem que queremos transmitir.
Não que a comunicação não seja importante, ela o é efetivamente, apenas é necessário que nossa vida reflita aquilo que comunicamos.
Fonte: Boletim do GEAE número 507 - janeiro de 2006
Alguns dias atrás estava cortando o cabelo e conversando com o barbeiro sobre um conhecido nosso que desencarnou recentemente. Pessoa bastante respeitada no bairro, ele era médium e atuava no receituário mediúnico, tendo proporcionado alivío e cura à inumeráveis doentes que o procuravam para consultas no centro que frequentava. Ele era médico também e exercia a profissão normalmente em seu consultório, que estava aberto a todos, pudessem ou não pagar as consultas, que inclusive eram de valor acessível a maioria das pessoas. Não raro fornecia os remédios para os que precisassem.
Sua desencarnação ocorreu após um doloroso processo de luta contra o câncer - doença possivelmente ligada ao fato de ter fumado na juventude - processo pelo qual passou com a maior resignação. Pessoa muito boa, porém de gênio forte, nunca demonstrou impaciência com a doença ou revolta com a situação que gradualmente o levou a diminuir o ritmo de seu trabalho até que foi obrigado a parar já nos últimos dias de sua estadia neste mundo.
A conversa corria justamente por esse ponto, pela sua luta contra o câncer, quando o barbeiro que me atendia - de formação católica porém com simpatia pelo Espiritismo - saiu-se com uma frase que me deixou pensativo: "Coitado, ainda bem que ele era espírita, os espíritas aguentam melhor estes sofrimentos".
Realmente não tenho como afirmar categoricamente que a frase é verdadeira, seria necessária uma vasta pesquisa entre espíritas e não espíritas, que passam por situações difíceis como a descrita, para embasar tal conclusão. Mas em uma primeira análise, mais subjetiva, ela é bastante razoável e parece corresponder as observações do dia-a-dia. A experiência cotidiana parece mostrar que o sofrimento tem um componente psicológico muito forte, que ele é maior ou menor em relação ao modo como a pessoa que passa por ele encara a vida. A percepção de que estamos em um processo de aprendizado, do qual a estadia neste mundo material é apenas uma etapa muito curta, muda razoavelmente a relação entre o doente e a doença. E muda mais ainda quando sabemos o que nos espera do outro lado da sepultura, que não há o que se temer porque é apenas a vida melhorada e adequada ao nosso grau de maturidade espiritual.
Mas, independentemente do fato da frase ser mais ou menos verdadeira, há uma outra questão interessante na reflexão do barbeiro que me atendia. Em essência ele deixou transparecer que a admiração que tem pela Doutrina é causada pelo efeito que ela tem na vida de seus adeptos. A vida de nosso amigo médico, que atuava como mensageiro do mais alto, transformou-se na própria mensagem.
Assim, pensando posteriormente na frase, não pude deixar de sorrir diante da simples constatação de que por mais que falemos, que escrevamos, que divulguemos o Espiritismo por todos os meios de comunicação existentes, será sempre na forma como aplicamos o Espiritismo na nossa vivência cotidiana que passaremos realmente aos nossos conhecidos a mensagem que queremos transmitir.
Não que a comunicação não seja importante, ela o é efetivamente, apenas é necessário que nossa vida reflita aquilo que comunicamos.
Fonte: Boletim do GEAE número 507 - janeiro de 2006
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