A que bens terrenos que o Espírito se refere?
Por Octávio Caúmo Serrano
No longo item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Servir a Deus e a Mamon”, Lacordaire nos trouxe, em 1863, importante mensagem sobre o “Desprendimento dos Bens Terrenos”.
A quem bens terrenos ele se refere?
Habituamo-nos a raciocinar que somos um espírito encarnado e, portanto, subjugado ao mundo da matéria, extremamente apelatória, imediatamente vem-nos à mente que os bens terrenos são as casas, os carros, as roupas e a comida, entre outros de igual natureza.
Não há dúvida que esses bens exercem fascínio em todos os homens. Fazem parte das necessidades humanas: o conforto, a boa comida, a roupa bonita, a jóia que enfeita, porque nosso corpo é ainda com o que mais nos identificamos. Temos sido mais matéria do que espírito, característica inerente aos mundos de provas e expiações, onde a imperfeição domina os seus habitantes.
A prova do que afirmamos é que nunca se cultivou tanto a forma física. As pessoas estão artificializadas. Tudo nelas está ficando postiço, enxertado. Jovens já a partir de quinze anos, meninas e meninos, procurando “turbinar-se”, causando danos à saúde e não percebendo a efemeridade da juventude.
É difícil desprender-nos desses bens, porque mesmo quando nos explicam sobre esse tema, vem-nos a idéia de que para ser cristão é preciso fazer voto de pobreza – porque confunde-se pobreza com humildade - e os valores do mundo são proibidos pelas Leis de Deus. Logo nos chega à mente as lições de Jesus quando disse ao moço que deveria vender tudo e segui-Lo para ter o reino dos Céus; ou quando disse que é mais fácil o camelo passar pela agulha do que o rico ir para o Céu.
Isso não faz sentido, porque se nos fizermos pobres materialmente passaremos a ser mais um fardo para a sociedade, onde já existe tanta miséria e desigualdade. E seu Deus deixa que cheguem às nossas mãos recursos que nos permitem dar empregos ou consumir os produtos dos que trabalham, nenhum mal existe nisso. Só há mal quando tentamos obter riqueza de maneira desonesta ou com danos ao semelhante.
Temos para nós, porém, que há bens terrenos mais difíceis de ser vencidos pelos homens que são aqueles ligados aos sentimentos. Falamos de poder, de vaidade, de beleza, de inteligência. Falamos ainda de competições. Não porque elas existam. Afinal são necessárias para que o homem trace objetivos e busque o sucesso. Mas porque não sabemos lidar com elas.
Observemos as competições de toda ordem. Para que dez por cento fique feliz, noventa por cento têm de sofrer, pela derrota e por ser ofendido pelo sadismo do vencedor. Fala-se tanto na paz do mundo, mas enquanto houver a ganância, a avareza, o egoísmo insaciável dos seres humanos, a paz será impossível. Não fogem a essa análise nem mesmo as religiões. Todas pretendem ter a verdade e não percebem que dividem em vez de harmonizar. No entanto, todas elas têm parte da verdade e estão, em processo evolutivo, interligadas.
A proposta do Espiritismo de nos concitar ao desprendimento dos bens terrenos é mostrar-nos que somos antes espírito que matéria, porque material somos por um tempo e espiritual, seremos eternamente. Como os bens materiais mal administrados lesam o homem espiritual, se não aprendermos agora a valorizar os bens terrenos com equilíbrio, seremos escravos deles, mesmo após a morte. Os avarentos de hoje serão os obsessores de amanhã..
Não temos a ilusão de imaginar que esse quadro possa mudar dentro de alguns séculos. O progresso e o entendimento são muito lentos. É tudo pouco a pouco, um a um, até que todos compreendam que desprender do mundo é libertar-se de si próprio. Mas para nós espíritas, é mais fácil compreender essa orientação de Lacordaire, a mesma de muitos outros orientadores.
Se considerarmos toda a gama de bens terrenos, veremos que desprender de casas, e outros bens patrimoniais, é ainda mais fácil do que a mãe desprender-se do filho, a esposa do marido, a irmã do irmão e o cidadão da sua pátria. Difícil ao homem desprender-se da vaidade, das raças, dos cargos, das posições, da importância que lhe dão no mundo. Vemos isso até na diretoria de agrupamentos espíritas, onde o dirigente faz da casa o “seu centro”. Precisa da autoridade de presidente. Precisa da importância.
A finalidade da reencarnação é ajustar o homem aos valores espirituais. É viver no mundo, sem ser do mundo, como ensinam os espíritos. É sair daqui melhor do que chegou. Se assim não for, a reencarnação de nada valerá. Portanto, devemos selecionar com critério quais são os bens que valem nossos maiores investimentos. Se pensarmos apenas nos que ficam na Terra, nada construiremos para o futuro.
Tudo o que dissemos até aqui é comprovado ao vermos ricos tão infelizes quanto pobres. Uns, pobres, têm privações materiais. Outros, ricos, vivem a miséria espiritual. Se existe nos dias atuais tanta depressão causada pelo estresse da vida moderna, isso se deve à dificuldade do homem em desprender dos bens terrenos. Desprender não é relaxar. É administrar com sabedoria. E isto é o que nos tem faltado.
Sugerimos que leiam atentamente todo o item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para compreenderem mais claramente o que fazemos na Terra.
Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2005.
Por Octávio Caúmo Serrano
No longo item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Servir a Deus e a Mamon”, Lacordaire nos trouxe, em 1863, importante mensagem sobre o “Desprendimento dos Bens Terrenos”.
A quem bens terrenos ele se refere?
Habituamo-nos a raciocinar que somos um espírito encarnado e, portanto, subjugado ao mundo da matéria, extremamente apelatória, imediatamente vem-nos à mente que os bens terrenos são as casas, os carros, as roupas e a comida, entre outros de igual natureza.
Não há dúvida que esses bens exercem fascínio em todos os homens. Fazem parte das necessidades humanas: o conforto, a boa comida, a roupa bonita, a jóia que enfeita, porque nosso corpo é ainda com o que mais nos identificamos. Temos sido mais matéria do que espírito, característica inerente aos mundos de provas e expiações, onde a imperfeição domina os seus habitantes.
A prova do que afirmamos é que nunca se cultivou tanto a forma física. As pessoas estão artificializadas. Tudo nelas está ficando postiço, enxertado. Jovens já a partir de quinze anos, meninas e meninos, procurando “turbinar-se”, causando danos à saúde e não percebendo a efemeridade da juventude.
É difícil desprender-nos desses bens, porque mesmo quando nos explicam sobre esse tema, vem-nos a idéia de que para ser cristão é preciso fazer voto de pobreza – porque confunde-se pobreza com humildade - e os valores do mundo são proibidos pelas Leis de Deus. Logo nos chega à mente as lições de Jesus quando disse ao moço que deveria vender tudo e segui-Lo para ter o reino dos Céus; ou quando disse que é mais fácil o camelo passar pela agulha do que o rico ir para o Céu.
Isso não faz sentido, porque se nos fizermos pobres materialmente passaremos a ser mais um fardo para a sociedade, onde já existe tanta miséria e desigualdade. E seu Deus deixa que cheguem às nossas mãos recursos que nos permitem dar empregos ou consumir os produtos dos que trabalham, nenhum mal existe nisso. Só há mal quando tentamos obter riqueza de maneira desonesta ou com danos ao semelhante.
Temos para nós, porém, que há bens terrenos mais difíceis de ser vencidos pelos homens que são aqueles ligados aos sentimentos. Falamos de poder, de vaidade, de beleza, de inteligência. Falamos ainda de competições. Não porque elas existam. Afinal são necessárias para que o homem trace objetivos e busque o sucesso. Mas porque não sabemos lidar com elas.
Observemos as competições de toda ordem. Para que dez por cento fique feliz, noventa por cento têm de sofrer, pela derrota e por ser ofendido pelo sadismo do vencedor. Fala-se tanto na paz do mundo, mas enquanto houver a ganância, a avareza, o egoísmo insaciável dos seres humanos, a paz será impossível. Não fogem a essa análise nem mesmo as religiões. Todas pretendem ter a verdade e não percebem que dividem em vez de harmonizar. No entanto, todas elas têm parte da verdade e estão, em processo evolutivo, interligadas.
A proposta do Espiritismo de nos concitar ao desprendimento dos bens terrenos é mostrar-nos que somos antes espírito que matéria, porque material somos por um tempo e espiritual, seremos eternamente. Como os bens materiais mal administrados lesam o homem espiritual, se não aprendermos agora a valorizar os bens terrenos com equilíbrio, seremos escravos deles, mesmo após a morte. Os avarentos de hoje serão os obsessores de amanhã..
Não temos a ilusão de imaginar que esse quadro possa mudar dentro de alguns séculos. O progresso e o entendimento são muito lentos. É tudo pouco a pouco, um a um, até que todos compreendam que desprender do mundo é libertar-se de si próprio. Mas para nós espíritas, é mais fácil compreender essa orientação de Lacordaire, a mesma de muitos outros orientadores.
Se considerarmos toda a gama de bens terrenos, veremos que desprender de casas, e outros bens patrimoniais, é ainda mais fácil do que a mãe desprender-se do filho, a esposa do marido, a irmã do irmão e o cidadão da sua pátria. Difícil ao homem desprender-se da vaidade, das raças, dos cargos, das posições, da importância que lhe dão no mundo. Vemos isso até na diretoria de agrupamentos espíritas, onde o dirigente faz da casa o “seu centro”. Precisa da autoridade de presidente. Precisa da importância.
A finalidade da reencarnação é ajustar o homem aos valores espirituais. É viver no mundo, sem ser do mundo, como ensinam os espíritos. É sair daqui melhor do que chegou. Se assim não for, a reencarnação de nada valerá. Portanto, devemos selecionar com critério quais são os bens que valem nossos maiores investimentos. Se pensarmos apenas nos que ficam na Terra, nada construiremos para o futuro.
Tudo o que dissemos até aqui é comprovado ao vermos ricos tão infelizes quanto pobres. Uns, pobres, têm privações materiais. Outros, ricos, vivem a miséria espiritual. Se existe nos dias atuais tanta depressão causada pelo estresse da vida moderna, isso se deve à dificuldade do homem em desprender dos bens terrenos. Desprender não é relaxar. É administrar com sabedoria. E isto é o que nos tem faltado.
Sugerimos que leiam atentamente todo o item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para compreenderem mais claramente o que fazemos na Terra.
Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2005.
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