Por Aureliano Alves Netto
“Mas uma voz me disse: O Céu e o Inferno estão em ti mesmo”. Omar Kháyyám.
Segundo o dogma do pecado original, todos os homens, manchados pela culpa de Adão, estariam virtualmente condenados às penas eternas, não fora a Misericórdia Divina haver-lhes facilitado um meio de salvação: o holocausto do filho de Deus feito homem, para redenção de quantos fossem eleitos para o recebimento da graça. Predestinação e favoritismo, incompatíveis com a bondade e perfeita justiça de Deus.
- Que pensar – indaga com razão E. Bellamare – de um juiz que condenasse um homem sob o pretexto de que, milhares de anos, um seu antepassado cometera um crime?
“Se o sacrifício de Jesus fosse necessário para salvar a humanidade terrestre, Deus deveria o mesmo socorro a outras Humanidades desgraçadas. Sendo, porém, ilimitado o número de mundos inferiores em que dominam as paixões materiais, o filho de Deus seria, por isso mesmo, condenado a sofrimentos e sacrifícios infinitos. É inadmissível semelhante hipótese”. (Cristianismo e Espiritismo – Léon Denis).
O dogma das penas eternas e o do pecado original se entrelaçam, guardando entre si estreitas relações de causa e efeito. Um já condenado, Satã, disfarçando-se em serpente, induz a primeira mulher ao pecado e a culpa de Eva contaminará todas as futuras gerações, per omnia saecula saeculorum. E como não são muitos os favorecidos pelo “estado de graça”, haja espaço nos departamentos do inferno...
Acreditava-se antigamente que a Terra era o centro do Universo e que o firmamento formava uma abóbada na qual se incrustavam as estrelas, ficando o Céu situado no alto e o Inferno embaixo.
Mas Copérnico demonstrou o duplo movimento dos planetas sobre si mesmos e à volta do Sol; e Galileu, seguindo-lhe as pegadas, proclamou a teoria heliocêntrica do Universo. Provou-se ser errônea a idéia de subir ao Céu ou de descer aos infernos. Evidenciou-se que, devido ao movimento de rotação da Terra, há lugares antípodas a se alternarem permanentemente de posição, e que, sendo infinito o espaço, não pode haver alto nem baixo no Universo.
Contudo, por mais estranho que pareça, ainda hoje, no século da cibernética e das viagens pelo Cosmo, há certas religiões que continuam querendo demonstrar o indemonstrável: a existência do inferno.
Não é fora de propósito, por conseguinte, alinharmos algumas considerações nossas e alheias, acerca do velho assunto que de há muito já devia ter saído de pauta.
Vale repetir a frase de Denis: - Admitir Satanás e o inferno eterno é insultar a Divindade.
Efetivamente. Deus, onisciente que é, conhece todo o passado e antevê o futuro. Ao criar uma alma, deve saber se ela haverá de cometer faltas graves. E, se tendo conhecimento antecipado dessas faltas, condena a alma ao sofrimento eterno, o Criador deixa de ser bom e justo.
Outro aspecto a considerar, na lúcida explanação de Kardec:
“Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom. E porque daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem, seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes por todo o sempre o mais ligeiro carinho”.
“Achando-se em toda parte e tudo vendo, Deus deve ver também as torturas dos condenados; e se Ele se conserva insensível aos gemidos por toda a eternidade, será eternamente impiedoso; ora, sem piedade, não há bondade infinita”. (O Céu e o Inferno – Capítulo VI).
Afirma Bernardo Bartmann, em sua Teologia Dogmática, que “o fogo do inferno, em si, na sua natureza é semelhante ao fogo terrestre, mas dotado de propriedades particulares: não necessita ser aceso e alimentado”.
Santo Agostinho imagina um quadro pavoroso: num verdadeiro lago de enxofre, vermes e serpentes saciando-se nos corpos, conjugando suas picadas com as do fogo. Esse fogo, no entender de conceituados teólogos, queima sem destruir, penetrando a pele dos condenados, bem como embebendo e saturando-lhes todos os membros, medula dos ossos, pupila dos olhos, enfim, as mais recônditas fibras do seu ser.
O piedoso Doutor Angélico S. Tomás de Aquino, dá-nos ciência de que os bem-aventurados, ao contemplar as torturas dos condenados, “não somente serão insensíveis à dor, mas até ficarão repletos de alegria e renderão graças a Deus por sua própria felicidade, assistindo à inefável calamidade dos ímpios”.
Como conceber-se – objetamos nós, tanto gozo da parte de u´a mãe amorosa ou dum pai extremoso que, das beatíficas regiões celestes, observa, impassível, os ingentes sofrimentos do filho querido que foi dar com os costados no inferno?
Puro sadismo angelical, o que é uma contradição nos termos.
À vista de tanta insensatez e de tanto despautério, surge como um bálsamo a palavra sensata de um pastor evangélico, o reverendo Doutor Charles R. Brown, da Igreja Congregacionalista de Oakland e decano da Universidade de Yale:
“Hoje o Universalismo ensina que todos os homens colhem o que semeiam, segundo uma Justiça que não falha. Todo erro será castigado ou aqui ou além, mas sempre com o fim de corrigir o malfeitor. O inferno não é um lugar de condenação eterna e de desespero: é mais uma escola de reforma”.
Fonte: Luz na Penumbra
“Mas uma voz me disse: O Céu e o Inferno estão em ti mesmo”. Omar Kháyyám.
Segundo o dogma do pecado original, todos os homens, manchados pela culpa de Adão, estariam virtualmente condenados às penas eternas, não fora a Misericórdia Divina haver-lhes facilitado um meio de salvação: o holocausto do filho de Deus feito homem, para redenção de quantos fossem eleitos para o recebimento da graça. Predestinação e favoritismo, incompatíveis com a bondade e perfeita justiça de Deus.
- Que pensar – indaga com razão E. Bellamare – de um juiz que condenasse um homem sob o pretexto de que, milhares de anos, um seu antepassado cometera um crime?
“Se o sacrifício de Jesus fosse necessário para salvar a humanidade terrestre, Deus deveria o mesmo socorro a outras Humanidades desgraçadas. Sendo, porém, ilimitado o número de mundos inferiores em que dominam as paixões materiais, o filho de Deus seria, por isso mesmo, condenado a sofrimentos e sacrifícios infinitos. É inadmissível semelhante hipótese”. (Cristianismo e Espiritismo – Léon Denis).
O dogma das penas eternas e o do pecado original se entrelaçam, guardando entre si estreitas relações de causa e efeito. Um já condenado, Satã, disfarçando-se em serpente, induz a primeira mulher ao pecado e a culpa de Eva contaminará todas as futuras gerações, per omnia saecula saeculorum. E como não são muitos os favorecidos pelo “estado de graça”, haja espaço nos departamentos do inferno...
Acreditava-se antigamente que a Terra era o centro do Universo e que o firmamento formava uma abóbada na qual se incrustavam as estrelas, ficando o Céu situado no alto e o Inferno embaixo.
Mas Copérnico demonstrou o duplo movimento dos planetas sobre si mesmos e à volta do Sol; e Galileu, seguindo-lhe as pegadas, proclamou a teoria heliocêntrica do Universo. Provou-se ser errônea a idéia de subir ao Céu ou de descer aos infernos. Evidenciou-se que, devido ao movimento de rotação da Terra, há lugares antípodas a se alternarem permanentemente de posição, e que, sendo infinito o espaço, não pode haver alto nem baixo no Universo.
Contudo, por mais estranho que pareça, ainda hoje, no século da cibernética e das viagens pelo Cosmo, há certas religiões que continuam querendo demonstrar o indemonstrável: a existência do inferno.
Não é fora de propósito, por conseguinte, alinharmos algumas considerações nossas e alheias, acerca do velho assunto que de há muito já devia ter saído de pauta.
Vale repetir a frase de Denis: - Admitir Satanás e o inferno eterno é insultar a Divindade.
Efetivamente. Deus, onisciente que é, conhece todo o passado e antevê o futuro. Ao criar uma alma, deve saber se ela haverá de cometer faltas graves. E, se tendo conhecimento antecipado dessas faltas, condena a alma ao sofrimento eterno, o Criador deixa de ser bom e justo.
Outro aspecto a considerar, na lúcida explanação de Kardec:
“Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom. E porque daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem, seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes por todo o sempre o mais ligeiro carinho”.
“Achando-se em toda parte e tudo vendo, Deus deve ver também as torturas dos condenados; e se Ele se conserva insensível aos gemidos por toda a eternidade, será eternamente impiedoso; ora, sem piedade, não há bondade infinita”. (O Céu e o Inferno – Capítulo VI).
Afirma Bernardo Bartmann, em sua Teologia Dogmática, que “o fogo do inferno, em si, na sua natureza é semelhante ao fogo terrestre, mas dotado de propriedades particulares: não necessita ser aceso e alimentado”.
Santo Agostinho imagina um quadro pavoroso: num verdadeiro lago de enxofre, vermes e serpentes saciando-se nos corpos, conjugando suas picadas com as do fogo. Esse fogo, no entender de conceituados teólogos, queima sem destruir, penetrando a pele dos condenados, bem como embebendo e saturando-lhes todos os membros, medula dos ossos, pupila dos olhos, enfim, as mais recônditas fibras do seu ser.
O piedoso Doutor Angélico S. Tomás de Aquino, dá-nos ciência de que os bem-aventurados, ao contemplar as torturas dos condenados, “não somente serão insensíveis à dor, mas até ficarão repletos de alegria e renderão graças a Deus por sua própria felicidade, assistindo à inefável calamidade dos ímpios”.
Como conceber-se – objetamos nós, tanto gozo da parte de u´a mãe amorosa ou dum pai extremoso que, das beatíficas regiões celestes, observa, impassível, os ingentes sofrimentos do filho querido que foi dar com os costados no inferno?
Puro sadismo angelical, o que é uma contradição nos termos.
À vista de tanta insensatez e de tanto despautério, surge como um bálsamo a palavra sensata de um pastor evangélico, o reverendo Doutor Charles R. Brown, da Igreja Congregacionalista de Oakland e decano da Universidade de Yale:
“Hoje o Universalismo ensina que todos os homens colhem o que semeiam, segundo uma Justiça que não falha. Todo erro será castigado ou aqui ou além, mas sempre com o fim de corrigir o malfeitor. O inferno não é um lugar de condenação eterna e de desespero: é mais uma escola de reforma”.
Fonte: Luz na Penumbra
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