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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Religião Espirita e Espiritismo

Por Randy*

Na medida em que vamos analisando os aspectos cientificos do Espiritismo e avançando sobre as digressões filosóficas, fica muito clara que a inserção de uma estrutura religiosa se opõem ao desenvolvimento correto do conhecimento espírita. E o motivo é simples: na estrutura religiosa não existe lugar para a pesquisa cientifica. E quem acolhe novas informações cientificas não é e nunca foi uma religião e sim a ciência.

A ciência espirita foi criada para este fim: coletar informações de nossas relações com o plano espiritual, elevando nosso conhecimento e com isso impulsionando nossa capacidade de discernir os valores morais pelo exercicio da filosofia.

Isso é completamente destruido por qualquer manifestação de religiosismo. Em nenhum momento da história uma religião se arvorou na pesquisa isenta de fenomenos quaisquer. Muito pelo contrário, a pesquisa cientifica desafia os valores estabelecidos e o status social alcançado por individuos num sistema religioso.

Apesar disso, contudo, foi instituida uma estrutura religiosa de adoração externa no Brasil desde o século XIX por meio do sincretismo fomentado pela escola roustanguista. Essa estrutura, por todos os critérios, seja pelo conteudo, pela ritualização e pela organização juridica fez surgir os centros espiritas, de constituição e objetivos bem distantes daquilo descrito por Kardec no Livro dos Mediuns - Das Sociedades Espiritas.

Sendo essa estrutura, por todos os critérios, apartada do conceito cientifico e filosofico do Espiritismo e havendo sido instituidos todos os subsidios religiosos, desde uma casta sacerdotal (os mediuns), a ritualização (dinamica das reunioes publicas), sacramentos (passes, agua fluidificada, corrente de oração).

Sendo essa estrutura, por todos os critérios, apartada do conceito cientifico e filosofico do Espiritismo e havendo sido instituidos todos os subsidios religiosos, desde uma casta sacerdotal (os mediuns), a ritualização (dinamica das reunioes publicas), sacramentos (passes, agua fluidificada, corrente de oração), santificação (idolatria a mediuns famosos) - vamos ter que admitir que foi criada e existe, de fato, a instituição "Religião Espirita".

Somos obrigados, enfim, a reconhecer esta instituição. Ela existe e é um fenomeno social. E podemos avançar: temos que avaliar se já podemos falar em uma "Igreja Espirita", posto que todos os elementos constitutivos de uma igreja tradicional estão contidos nessa "Religião Espirita".

Mas, à parte dessa nova estrutura, ainda existe a Doutrina Espirita. Ela nada tem a ver com a Religião Espirita, que é uma corrupção dos valores contidos na codificação que estabelece os axiomas da ciência espirita - que aguardam, inclusive, comprovação cientifica academica.

Reconhecida essa nova instituição e suas diferenças para com a Ciência e Filosofia Espirita, também somos obrigados a anunciar, avaliado o critério de análise histórica e de conteudo, que a Religião Espirita é uma dissidência do Espiritismo.

A Religião Espirita é uma negação dos principios objetivos e racionais da Doutrina Espirita e aos lhe dar sustentação, seus seguidores anotam para si também o status de "dissidentes" do Espiritismo.

Desta forma, só pode de fato ser considerado um espírita aquele que preceitua os valores axiomáticos contidos na codificação espirita e sua metodologia. A corruptela religiosa, independente de ser reconhecida, talvez nem deva ser combatida, uma vez que, ao se tornar uma dissidência, assume caráter próprio, defensável, inclusive, por lei. A Religião Espirita passa a ser salvaguardada pela legislação brasileira e um ataque a ela pode, de fato, ser considerado um atentado à liberdade religiosa.

Não se trata mais, portanto, da iniciativa de trazer os membros da Religião Espirita de volta para o Espiritismo. Independente da crítica que se possa lhes fazer, a dissidencia pode - de fato - ter motivações ideologicas consistentes. Afinal, foi criado um sistema de auto-sustentação proprio, manifestado nas obras de Chico Xavier. A Religião Espirita sobrevive sem a codificação da Doutrina Espirita, mas ela não se sustenta se dela for retirado o subsidio contido nas obras de Chico Xavier.

Podemos dizer, então, que o que sustenta ideologicamente a Religião Espirita são as obras de Chico Xavier e seus derivados consequentes e seguintes, ativos no mercado editorial comercial até a presente data.

Já o que sustenta o Espiritismo é a codificação Doutrinária Espirita e os novos conhecimentos adquiridos por meio da aplicação do seu sistema metodologico e de investigação cientifica acadêmica.

Há que se deixar muito clara essa diferença nos conceitos. Indubitavelmente podemos e devemos declarar que os desvios na prática espírita deram origem à Religião Espirita e que hoje não há mais como estabelecer similaridades consistentes entre os dois pensamentos. A Religião Espirita é a negação dos objetivos do Espiritismo, mas sua existência deve ser respeitada, desde que seus seguidores não se arvorem em se declararem espíritas, ou seja, seguidores da codificação de Kardec e dos espiritos superiores.

Dissidências sempre houveram na história do pensamento humano. Não seria o Espiritismo a Filosofia que escaparia ao jogo de conveniencias que caracteriza toda dissidência. A primeira e mais famosa, tanto quanto mais grandiosa dissidência sobre um pensamento filosófico chama-se Igreja Catolica, uma corrupção clara dos principios contidos no pensamento difundido pelo filósofo Jesus, de alcunha "O Cristo" (que já é uma nomeclatura corrompida).

A Religião Espirita está para o Espiritismo como a Religião Catolica está para o Cristianismo.

Na prática, a História ensina, mas há quem se recuse a aprender.

A Religião Espirita não é a unica dissidência do Espiritismo, mas é a mais forte e a mais organizada - como qualquer sistema religioso acaba sendo. Aliás, a força de qualquer religião está na sua institucionalização e na difusão opressiva de sua mensagem ideologica. Não é diferente hoje e não é diferente com essa nova seita religiosa. Porém, no universo das novas religiões, acaba sendo uma das menores dela, perdida no meio de tantas outras, de quase absoluta inexpressividade na sociedade mundial.

Ao Espiritismo, sendo ciência e filosofia, cabe o caráter universal de trazer novas informações e despertar com isso novos valores em toda a população mundial. Qualquer forma de idéia ou conhecimento que se apresente como religião tem imediata rejeição da parcela da humanidade que já fez sua opção religiosa.

Daí que, se o Espiritismo fôsse, de fato, uma religião, não seria universalista. No entanto, é universalista. A linguagem da ciência transcende quaisquer sistemas de crenças ou conveniências ideológicas ou políticas.

Encaremos, então, o fato de que a dissidência do Espiritismo, a Religião Espirita, deve ser reconhecida também para não ser confundida com o Espiritismo. E a nós cabe levar a mensagem espírita, investigar a fenomenologia, estimular o pensamento filosofico e fazer a Doutrina Espirita alcançar as mentes e os corações de cada ser humano encarnado neste planeta.

A ciência não tem limites. A religião tem.

* Moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut.