Por Eliseu F. Mota Júnior
Sabe-se que duas correntes principais dentro do movimento espírita, nacional e internacional, com base nos mesmos textos das obras básicas do Espiritismo, disputam a primazia do acerto sobre a religiosidade ou laicidade do terceiro aspecto da Doutrina Espírita, chegando porém a conclusões opostas, pois enquanto uma delas afirma que o Espiritismo é ciência, filosofia e religião, a outra atesta que ele é ciência, filosofia e moral; por causa disso, os adeptos da primeira dizem que os integrantes da segunda praticam um Espiritismo laico, e estes respondem tachando aqueles de espíritas religiosos. Com quem está a razão?
À luz do puro vernáculo não dá para responder.
Com efeito, o vocábulo Espiritismo (do francês spiritisme), tem sido definido pelos léxicos como “uma doutrina baseada na crença da sobrevivência da alma e da existência de comunicações, por meio da mediunidade, entre vivos e mortos, ou seja, entre os espíritos encarnados e os desencarnados”.
Por sua vez, o laicismo seria uma “doutrina que proclama a laicidade absoluta das instituições sócio-políticas e culturais, ou que pelo menos reclama para estas total autonomia diante da religião”; diz-se que seria também o “sistema dos que pretendem a interferência dos leigos no governo da igreja”, ou, ainda, “de dar às instituições um caráter não religioso ou laico”, que “é o estado de quem vive no mundo, é próprio do mundo, é secular (por oposição a eclesiástico)”.
Finalmente, religioso é um adjetivo que designa “o que é relativo ou conforme a religião”, definida como o “conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade, através de um culto exterior ou interior”.
Percebe-se que esses conceitos, formulados por meio de signos lingüísticos, são realmente ambíguos, polissêmicos ou vagos, rebeldes ao entendimento e à interpretação, razão pela qual há que se reconhecer a dificuldade das correntes espíritas divergentes para encontrar uma definição consensual da Doutrina Espírita, sem embargo de contarem em suas fileiras com pessoas que conhecem a fundo a língua empregada no texto, estão bem informadas sobre a vida e a obra de Allan Kardec, e dominam como ninguém o Espiritismo e a sua história, o que nos obriga a tentar encontrar uma solução interpretativa para essa polêmica.
Ressalte-se, porém, que essa assertiva de que a Doutrina Espírita precisa de interpretação não implica, de maneira nenhuma, em “alterar ou modificar, a qualquer título, os princípios fundamentais e ensinos do Espiritismo, contido nas obras básicas de Allan Kardec”, como foi apressada e injustamente apregoado, porque tem o objetivo primordial de oferecer ao intérprete espírita — seja o leitor comum, o escritor, o expositor ou o dirigente —, subsídios para posicionar-se diante desse problema: o Espiritismo é laico ou religioso?
Pois bem, depois de muito estudar a questão, não encontramos sustentação doutrinária para considerar o Espiritismo uma religião, porque a textura aberta dessa palavra é ambígua, vaga e polissêmica, o que lhe atribui pluralidade e imprecisão de significados por reunir vários sentidos diferentes, fato aliás que o mestre Allan Kardec, com a sua inegável autoridade, já havia demonstrado à exaustação, principalmente em um artigo publicado na Revista Espírita de dezembro de 1.868.
Por outro lado — e por uma questão de justiça —, levando em consideração as mesmas técnicas de interpretação e os mesmos fundamentos, também não vemos como considerar o Espiritismo uma doutrina laica, que, tal como religião, é uma palavra de textura aberta, ambígua, vaga e polissêmica, o que também lhe confere diversidade e incerteza de significação pela pluralidade de sentidos, de modo que a sua adoção oficial pelo Espiritismo causaria à doutrina danos da mesma intensidade.
Em suma, tentando apenas contribuir modestamente para a superação dessa constrangedora e lamentável divergência entre supostos espíritas religiosos e espíritas laicos, sugerimos que doravante, à pergunta O que é o Espiritismo?, todos nós espíritas, sem qualquer adjetivação, respondamos como Allan Kardec:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência experimental e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos, enquanto que, como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações”.
“Podemos defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”[1]
Com isso acabaremos de uma vez por todas com essas acusações recíprocas, fazendo desaparecer qualquer adjetivo — laico ou religioso — para o substantivo espírita, ou seja, não existe nem espírita laico e nem espírita religioso, senão apenas espírita, o que já é muita coisa, pois Allan Kardec disse que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelo emprego de efetivo esforço para domar suas más inclinações.
Referência
[1] Allan KADEC, O que é o Espiritismo?, traduções FEB, IDE, LAKE e Ediciones CIMA.
Sabe-se que duas correntes principais dentro do movimento espírita, nacional e internacional, com base nos mesmos textos das obras básicas do Espiritismo, disputam a primazia do acerto sobre a religiosidade ou laicidade do terceiro aspecto da Doutrina Espírita, chegando porém a conclusões opostas, pois enquanto uma delas afirma que o Espiritismo é ciência, filosofia e religião, a outra atesta que ele é ciência, filosofia e moral; por causa disso, os adeptos da primeira dizem que os integrantes da segunda praticam um Espiritismo laico, e estes respondem tachando aqueles de espíritas religiosos. Com quem está a razão?
À luz do puro vernáculo não dá para responder.
Com efeito, o vocábulo Espiritismo (do francês spiritisme), tem sido definido pelos léxicos como “uma doutrina baseada na crença da sobrevivência da alma e da existência de comunicações, por meio da mediunidade, entre vivos e mortos, ou seja, entre os espíritos encarnados e os desencarnados”.
Por sua vez, o laicismo seria uma “doutrina que proclama a laicidade absoluta das instituições sócio-políticas e culturais, ou que pelo menos reclama para estas total autonomia diante da religião”; diz-se que seria também o “sistema dos que pretendem a interferência dos leigos no governo da igreja”, ou, ainda, “de dar às instituições um caráter não religioso ou laico”, que “é o estado de quem vive no mundo, é próprio do mundo, é secular (por oposição a eclesiástico)”.
Finalmente, religioso é um adjetivo que designa “o que é relativo ou conforme a religião”, definida como o “conjunto de práticas e princípios que regem as relações entre o homem e a divindade, através de um culto exterior ou interior”.
Percebe-se que esses conceitos, formulados por meio de signos lingüísticos, são realmente ambíguos, polissêmicos ou vagos, rebeldes ao entendimento e à interpretação, razão pela qual há que se reconhecer a dificuldade das correntes espíritas divergentes para encontrar uma definição consensual da Doutrina Espírita, sem embargo de contarem em suas fileiras com pessoas que conhecem a fundo a língua empregada no texto, estão bem informadas sobre a vida e a obra de Allan Kardec, e dominam como ninguém o Espiritismo e a sua história, o que nos obriga a tentar encontrar uma solução interpretativa para essa polêmica.
Ressalte-se, porém, que essa assertiva de que a Doutrina Espírita precisa de interpretação não implica, de maneira nenhuma, em “alterar ou modificar, a qualquer título, os princípios fundamentais e ensinos do Espiritismo, contido nas obras básicas de Allan Kardec”, como foi apressada e injustamente apregoado, porque tem o objetivo primordial de oferecer ao intérprete espírita — seja o leitor comum, o escritor, o expositor ou o dirigente —, subsídios para posicionar-se diante desse problema: o Espiritismo é laico ou religioso?
Pois bem, depois de muito estudar a questão, não encontramos sustentação doutrinária para considerar o Espiritismo uma religião, porque a textura aberta dessa palavra é ambígua, vaga e polissêmica, o que lhe atribui pluralidade e imprecisão de significados por reunir vários sentidos diferentes, fato aliás que o mestre Allan Kardec, com a sua inegável autoridade, já havia demonstrado à exaustação, principalmente em um artigo publicado na Revista Espírita de dezembro de 1.868.
Por outro lado — e por uma questão de justiça —, levando em consideração as mesmas técnicas de interpretação e os mesmos fundamentos, também não vemos como considerar o Espiritismo uma doutrina laica, que, tal como religião, é uma palavra de textura aberta, ambígua, vaga e polissêmica, o que também lhe confere diversidade e incerteza de significação pela pluralidade de sentidos, de modo que a sua adoção oficial pelo Espiritismo causaria à doutrina danos da mesma intensidade.
Em suma, tentando apenas contribuir modestamente para a superação dessa constrangedora e lamentável divergência entre supostos espíritas religiosos e espíritas laicos, sugerimos que doravante, à pergunta O que é o Espiritismo?, todos nós espíritas, sem qualquer adjetivação, respondamos como Allan Kardec:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência experimental e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos, enquanto que, como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações”.
“Podemos defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”[1]
Com isso acabaremos de uma vez por todas com essas acusações recíprocas, fazendo desaparecer qualquer adjetivo — laico ou religioso — para o substantivo espírita, ou seja, não existe nem espírita laico e nem espírita religioso, senão apenas espírita, o que já é muita coisa, pois Allan Kardec disse que o verdadeiro espírita é reconhecido pela sua transformação moral e pelo emprego de efetivo esforço para domar suas más inclinações.
Referência
[1] Allan KADEC, O que é o Espiritismo?, traduções FEB, IDE, LAKE e Ediciones CIMA.