Por Nazareno Tourinho
Os dislates e disparates da obra de Jean Baptiste Roustaing são tantos, e tão agressivos ao pensamento lógico, que até hoje, segundo nos parece, nenhum escritor espírita lúcido e coerente, fiel aos ensinos enfeixados na codificação de Allan Kardec julgou valer a pena se ocupar da maioria deles em termos minuciosos, detalhando-os e exibindo o lado ridículo de cada um.
Autores respeitáveis, que combateram as teses docetistas através de livros e textos veiculados na imprensa, preferiram sempre abordar apenas os pontos da obra semi-católica de Roustaing flagrantemente contrários aos princípios fundamentais da nossa doutrina: a esdrúxula ideia do corpo fluídico de Jesus e outras ideias à mesma agregadas por via de consequência, de maior peso filosófico negativo, como a evolução em linha reta do Cristo sem passar por qualquer incômodo encarnatório.
Esses autores, conquanto tenham feito às vezes estudo profundo dos escritos copiosos do célebre advogado francês que aprendeu Espiritismo com Kardec e depois o traiu, acharam por bem não se envolver com as miudezas deploráveis de tais escritos, deixando de executar uma varredura neles com o fim de queimar detritos doutrinários, aparentemente insignificantes. Procederam de modo correto, nas circunstâncias que enfrentaram. Nós, porém, em face das últimas discórdias vicejantes no seio do movimento espírita nacional, que a FEB, por capricho e orgulhoso apego ao passado, não está sabendo conduzir, decidimos pinçar e expor, para os companheiros de crença, uma ponderável parcela de tolices e pieguices espalhadas ao longo da massuda e indigesta obra de Roustaing.
Vamos, portanto, nesta série de escritos, reproduzindo as palavras do próprio Roustaing mostrar de maneira irrefutável as invencionices e sandices de Os Quatro Evangelhos tidos e havidos como “Revelação da Revelação”, isto é, uma revelação superior e mais avançada do que a contida nos livros de Allan Kardec.
Os leitores decerto vão ficar surpresos verificando os absurdos doutrinários saídos da pena de Roustaing, um tanto mais porque a Federação Espírita Brasileira os apoia expressamente por dispositivo estatutário e por habilidosa propaganda em sua tribuna oficial, a revista Reformador.
Como pode uma Entidade que pretende liderar o processo de unificação de nosso movimento ideológico patrocinar os referidos absurdos doutrinários?
Esta pergunta não nos compete responder. O que se nos impõe, na atual conjuntura, quando começa a amadurecer a consciência doutrinária do movimento espírita, é simplesmente pôr a verdade diante dos olhos de quem quiser vê-la para assumi-la. Do resto se encarregará a Providência Divina.
Os rustenistas de tradição, portadores de carteira de identidade expedida pela Secretaria de Segurança do GRUPO DOS OITO, atuante no Rio de Janeiro com alto poder de fogo para atingir os kardecistas também de tradição, costumam alardear que criticamos Os Quatro Evangelhos do antigo bastonário de Bordéus porque ignoramos grande parte de seus conceitos essenciais. Dizem, fiados em que espírita possuidor de elementar bom senso não perderá tempo com a leitura, terrivelmente enfadonha, de mais de duas mil páginas repetitivas de evidentes bobagens teológicas:
- Combatem a obra de J. B. Roustaing sem nunca a terem lido integralmente!
Pois bem, nós resolvemos ler. E o resultado de tão desconfortável esforço intelectual os rustenistas roxos agora vão ter que engolir, depois de nos haverem intoxicado o estômago durante décadas com os seus refinados sofismas.
A partir do próximo escrito provaremos que nos entregamos à penosa tarefa de estudar toda a obra de Roustaing desnudando suas tolices e pieguices sem deixar de fornecer a indicação dos números das páginas onde elas se encontram.
Podem os leitores aguardar essa despretensiosa novidade em matéria de crítica à mistificação roustainguista. Ela se torna necessária para que neste país, haja um pouco mais de respeito pela obra de Allan Kardec.
Fonte:
TOURINHO, Nazareno. As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.
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