Pages

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Males Encomendados

Por Richard Simonetti

1 - Na questão 551, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta: “Pode um homem mau, com o auxílio de um mau Espírito que lhe seja dedicado, fazer mal ao seu próximo?” A resposta é surpreendente: “Não; Deus não o permitiria.” Não contraria os incontáveis casos de pessoas perseguidas por Espíritos que atendem à evocação maldosa de gente que pretende prejudicá-las?

Há muita fantasia em torno do assunto, envolvendo médiuns supostamente capazes de “contratar” tais Espíritos, supostamente dotados de poderes para prejudicar as vítimas. Se isso fosse tão simples estaríamos todos “fritos”, conforme a expressão popular, à mercê dessas influências.

2 - No entanto, é comum nos depararmos com pessoas assustadas que foram informadas de que estão “amarradas” por artes desses “contratos”.

 É a maneira desonesta usada por gente especializada em impressionar os incautos. Há muita ingenuidade da parte dos consulentes e muita malandragem da parte dos supostos “médiuns”, amedrontando-os para mais facilmente tirar-lhes dinheiro.
      
3 - Não obstante, toda obsessão envolve influências espirituais. Sejam evocadas por médiuns ou tenham a iniciativa de Espíritos malfazejos, não produzem males na vítima?

Consideremos que um Espírito pode nos ocasionar embaraços, envolvendo as pessoas que nos rodeiam ou pressionando nosso psiquismo, mas só será capaz de nos molestar na intimidade da própria consciência se reagirmos de forma desajustada. Então, não é o mal que nos faça que nos afetará, mas o mal que asilarmos em reação à sua influência. Se eu conseguir manter a calma e o equilíbrio, sintonizado com o bem e a verdade, não serei atingido.

4 - Digamos que o Espírito obsidie uma mulher, induzindo- a ao adultério. Não estará fazendo mal ao seu marido?

O mal está com quem o pratica, no caso a esposa que cedeu à influência do Espírito, por guardar tendências compatíveis com o adultério. Vai responder por isso. Se o marido, revelando comportamento machista, agredi-la ou submetê-la à execração pública, então, sim, estará se envolvendo com o mal.

5 - De qualquer forma, haverá sofrimento para ele. Isso não é um mal?

Não podemos confundir com o mal o sofrimento decorrente de algum prejuízo moral ou material que nos façam. Ele está nos sentimentos negativos, no ódio, no rancor, no desejo de vingança…Se não os asilamos no coração, esse mal “periférico” nos fará crescer.

6 - Então o mal acaba se convertendo num bem?

Sem dúvida, mesmo o mal que façamos porquanto, contrariando as leis divinas, somos penalizados por nossa própria consciência que, mais cedo ou mais tarde, nos imporá sofrimentos depuradores, que nos converterão ao Bem.

7 - Por isso  Jesus recomendava o perdão?

Não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete, perdão  incondicional, que tira o sofrimento maior, quando nos causam prejuízos, ajudando-nos a manter a própria integridade, sem nos deixarmos arrastar ao revide, este sim, o verdadeiro prejuízo, inspirado pelo mal em nós, quando não relevamos.

8 - Em resumo…

Nenhum Espírito nos induzirá ao mal, se cultivarmos o bem. Mesmo diante de prejuízos que nos cause, conservaremos a própria integridade, evitando os comprometimentos do desequilíbrio. Consideremos, ainda, a questão vibratória, quando assediados por Espíritos que venham por encomenda ou por iniciativa própria: não seremos afetados, desde que mantenhamos uma conduta reta, firma, baseada em princípios de fraternidade e respeito pelo próximo. Atendendo à lei de sintonia psíquica, nenhum Espírito mau nos envolverá se sempre encontrar o bem a reinar em nosso coração.

Revista Internacional de Espiritismo, Julho de 2004.

"Blog dos Espíritas" recebe homenagem

"O Blog dos Espíritas" recebeu uma homenagem especial do blog "Nós, os cachorros", que destacou a seriedade do trabalho realizado por este blog em sua divulgação da Doutrina Espírita, "Não se deixando levar como outros por aí", avaliando como "ótimas" as postagens doutrinárias.

Agradecemos ao blog "Nós, os cachorros" e a todos nossos amigos, colaboradores, visitantes, seguidores o carinho demonstrado por nosso trabalho desde 2009. Todas as manifestações de apreço que nos chegam demonstram que a linha adotada por "O Blog dos Espíritas" tem encontrado ressonância e aceitação entre aqueles que veem o Espiritismo sem as fantasias anti-doutrinárias que são divulgadas em muitas obras (e sites) como "obras complementares" que só desvirtuam o Espiritismo, transformando-o em uma religião mística de categoria inferior.

Continuaremos sempre na linha da correta divulgação doutrinária do Espiritismo, caminhando com Kardec e os avanços da ciência, como deve ser.

Muito obrigado a todos.

Equipe O Blog dos Espíritas

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A Questão Religiosa no Espiritismo


Por Eugenio Lara

Atendendo à solicitação do coordenador do Espirit Book, Henrique Ventura Regis, pretendo expor aqui, de modo sintético e amparado no pensamento de Allan Kardec, o que penso sobre a chamada questão religiosa no movimento espírita.

Afinal, o Espiritismo é ou não é religião? Tema complexo, apaixonante, tão antigo quanto o Espiritismo, tornou-se recorrente e motivo de discórdia, de cisão e de posturas sectárias. Tanto que, nos anos 1980, o movimento espírita se viu dividido entre duas posições antagônicas, a dos espíritas religiosos e a dos não-religiosos. Ruptura semelhante à que ocorreu entre os espíritas místicos e os espíritas científicos, no Brasil do século 19. Essa divisão ainda prossegue, sem que possamos vislumbrar algum tipo de consenso.

Todavia, ninguém melhor do que o fundador do Espiritismo para defini-lo. E ele o fez diversas vezes, em vários momentos de sua obra. Apesar da evidente vinculação doutrinária ao cristianismo, Allan Kardec rechaçou de modo veemente o suposto caráter religioso do Espiritismo e condenou o uso da palavra religião para classifica-lo, devido ao seu duplo sentido: de laço e de culto.

Quem primeiro levantou esse tema foi o Abade Chesnel, ao considerar que havia “uma nova religião em Paris”, que deveria ser combatida e reprimida. Através da Revista Espírita, Kardec rebateu a tese do Abade, também expondo-a de forma didática em O Que é o Espiritismo, no debate com o Padre.

Allan Kardec insistiu em definir o Espiritismo como uma ciência de observação, de consequências morais, como qualquer ciência ou forma de conhecimento. A seguir, iremos transcrever de suas obras uma série de pensamentos do Druida de Lyon, a fim de observarmos que ele não vacilou nessa questão e sempre procurou deixar claro, de modo bem didático, o que pensava a respeito do caráter e da natureza da doutrina espírita.

O Que é o Espiritismo

“O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos e de suas relações com o mundo corporal.” (p. 44)

“O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência e não se ocupa das questões dogmáticas. Essa ciência tem consequências morais, como todas as ciências filosóficas.” (p. 102)

“O seu verdadeiro caráter é, portanto, o de uma ciência e não o de uma religião.” (p. 103)

“O Espiritismo conta entre os seus partidários homens de todas as crenças, que nem por isso renunciam às suas convicções: católicos fervorosos, protestantes, judeus, muçulmanos, e até budistas e hindus.” (p. 103)

“O Espiritismo não era mais que simples doutrina filosófica; foi a própria Igreja que o proclamou como nova religião.” (p. 100)

“Não somos ateus, porém não implica isso que sejamos protestantes.” (p. 104)

Só “existem duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica.” (p. 95)

“Sem ser em si mesmo uma religião, o Espiritismo está ligado essencialmente às ideias religiosas.” (p. 116)

A Gênese

“É, pois, rigorosamente exato dizer que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação.” (p. 20)

“O Espiritismo é uma revelação (...) na acepção científica da palavra.” (p. 19)

“O Livro dos Espíritos, a primeira obra que levou o Espiritismo a ser considerado de um ponto de vista filosófico, pela dedução das consequências morais dos fatos.” (p. 40 - Nota de rodapé)

“As religiões hão sido sempre instrumentos de dominação.” (p. 17)

O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples

“Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões.” (p. 27)

“Homens de todas as castas, de todas as seitas, de todas as cores, sois todos irmãos.” (p. 39)

Há dezenas de outras afirmações de Allan Kardec que poderiam ser aqui citadas, mas não seriam suficientes para fechar a questão. Há fatores antropológicos, sociológicos, psicológicos e históricos a serem contemplados. Estudos recentes no campo da antropologia social demonstram o caráter religioso do Espiritismo brasileiro. O Espiritismo é uma religião, uma forma de culto, foi assim que ele se desenvolveu historicamente. Não há como negar.

Pensadores espíritas de grande envergadura, como Carlos Imbassahy e Herculano Pires, admitiram o caráter religioso do Espiritismo, como uma doutrina de tríplice aspecto (ciência, filosofia e religião), ideia semelhante ao “triângulo de forças espirituais” do espírito Emmanuel.

Apoiado na conceituação do filósofo francês Henri Bergson, Herculano desenvolveu uma interessante tese da religião como fator natural, dinâmica, a chamada religião natural, em uma conceituação próxima à do iluminista francês Rousseau e do pedagogo suíço Pestalozzi, mestre de Rivail.

Por sua vez, pensadores espíritas outros como David Grossvater, Jon Aizpúrua, Jaci Regis e Krishnamurti de Carvalho Dias, apoiados no humanismo kardequiano e no laicismo espírita, conduziram seu pensamento rumo a uma concepção laica, não-religiosa do Espiritismo. O segmento não-religioso é minoria, mas bastante expressivo, dinâmico, aberto ao debate e às novas ideias.

Na dúvida, ficamos com Allan Kardec. Como vimos, ele rechaçou a ideia de uma religião espírita. Rejeitou a palavra religião para definir o Espiritismo. Não há como negar esse fato.

Afinal, quem estará com a razão? Difícil dizer. O tempo dirá...
  
OBRAS CITADAS

KARDEC Allan - O Que é o Espiritismo, trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo in Iniciação Espírita, 5ª ed. São Paulo-SP [Edicel].
KARDEC Allan - O Espiritismo na sua Mais Simples Expressão, trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo in Iniciação Espírita, 5ª ed. São Paulo-SP [Edicel].
KARDEC Allan - A Gênese, trad. Guillon Ribeiro, 36ª ed. Rio de Janeiro-RJ [FEB].
KARDEC Allan - Revista Espírita, trad. Júlio Abreu Filho, 1ª ed. São Paulo-SP [Edicel].

Fonte: Espirit Book - http://www.espiritbook.com.br/profiles/blogs/a-questao-religiosa-no

A Reorganização do Espiritismo

Por Maria das Graças Cabral

A Doutrina dos Espíritos foi codificada e positivada por Allan Kardec em meados do século XIX. À época com grande satisfação asseverava o Codificador em várias oportunidades, que eram numerosos os espíritas disseminados por todos os países. O espiritismo avançava a passos largos!

Passados mais de um século do desencarne do Codificador, e vivenciando a primeira década do século XXI, pode-se lançar as seguintes indagações: - Afinal, o Espiritismo se propagou e se consolidou no mundo contemporâneo e globalizado? Seus princípios foram difundidos de forma célere e efetiva? Temos um grande número de escolas, e universidades espíritas ensinando espiritismo mundo afora? O Brasil, estatisticamente considerado o maior reduto de espíritas do mundo, cumpre seu papel de divulgador fiel do Espiritismo?

Para tais questionamentos podemos afirmar de pronto e objetivamente, que a Doutrina Espírita, não se propagou nem se consolidou pós desencarne de Allan Kardec. Na França, berço da Sociedade de Paris, segundo narrativa de Gélio Lacerda da Silva “a Revista Espírita, caiu nas mãos do seu gerente Pierre Gaëtan Leymarie, que por seu excessivo espírito de tolerância, desvirtuou a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Além disso, lamentavelmente, o Sr. Leymarie se deixou enganar por um fotógrafo fraudulento, que lhe custou um ano de prisão, com danosas conseqüências para o Espiritismo, na França, tanto que, com esse triste episódio, espírita na França, passou a ser sinônimo de "escroque" (trapaceiro, vigarista, velhaco, caloteiro...)" citando o autor como fonte de consulta o livro "Allan Kardec" de autoria de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, 1ª edição da FEB, vol. III, pág. 225.

Nos demais países europeus, o espiritismo tomou rumos diversos, até seu total desaparecimento na poeira dos tempos. Da mesma forma aconteceu na América do Norte, reduto dos fenômenos de Hydesville, dentre muitos outros.

No que concerne ao Brasil, segundo as palavras de Gélio temos “um sincretismo religioso de ideologias conflitantes, um misto, ou melhor, uma miscelânea de espiritismo, roustainguismo, ubaldismo, umbandismo. Sim, até umbandismo, porque, para a Diretoria da FEB, onde há mediunismo, há também espiritismo (Reformador, 16/10/26), enfim, um saco de gatos..." (Gélio Lacerda da Silva, "Conscientização Espírita", págs. 108 a 114).

Não obstante, Allan Kardec muito prezou em evitar que o espiritismo se transformasse em mais uma religião dogmática e mística, por ser segundo suas palavras uma doutrina filosófica e moral, que tem por objetivo emancipar o espírito humano de tudo o que foi posto e imposto pelas religiões tradicionais. À esse respeito, assim se expressou o Mestre: 
“Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Em razão de não haver senão uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; porque desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí mais que uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião se levantou.” (Revista Espírita, dezembro de 1868)
Entretanto, a despeito da vontade do Codificador, o espiritismo brasileiro tomou um formato religioso igrejeiro, com centros espíritas que adotam práticas ritualísticas, místicas e anti-espíritas, que vão desde os cantos religiosos, rezas (Pai-Nosso, Ave-Maria, A Prece de Cáritas), exercícios de meditação com o canto de mantras, filas para o recebimento de passes, assemelhando-se às filas de comunhão católica; águas fluidificadas que se assemelham às “águas bentas”; o funcionamento de salas de cromoterapia, de cirurgias espirituais, até a substituição das imagens dos santos católicos, pelas fotografias emolduradas de Jesus, Maria de Nazaré, Allan Kardec, Léon Denis, Bezerra de Menezes, Emmanuel, André Luiz, Chico Xavier, dentre outros, afixadas em suas paredes e fixadas pelos olhar devoto de seus freqüentadores.

Não obstante, além das questões de “forma”, temos as questões de “fundo”, sendo estas últimas também deturpadoras dos princípios doutrinários espíritas. A corrupção doutrinária é disseminada pela literatura e pelos palestrantes. Entretanto, considero o grande adulterador do espiritismo, os livros catalogados, editados, e distribuídos como “obras complementares” da doutrina espírita, pela Federação Espírita Brasileira (FEB) - que também utilizando-se do modelo católico se auto intitula a “Casa Mater” do Espiritismo.

Faz-se por oportuno observar, que os centros espíritas espalhados por todo o território nacional, têm a cultura de instalar em suas dependências, um local para venda ou empréstimo de livros espíritas. Por conseguinte, qualquer visitante ou novo freqüentador que adentrar às dependências do centro, vai se deparar com uma pequena ou grande livraria oferecendo os mais diversos títulos, tidos como “obras espíritas“, que vão desde os livros de auto-ajuda, até os exemplares anti-doutrinários de autores encarnados e/ou desencarnados, que se contrapõem frontalmente aos princípios espíritas.

Assim, aquele que nada sabe de espiritismo, encontrará nas prateleiras da ditas livrarias, desde Os Quatro Evangelhos de Roustaing, um grande opositor de Allan Kardec, ao místico Ramatís, passando pela coleção André Luiz/Emmanuel, psicografadas pelo famoso médium Chico Xavier, trazendo toda uma gama de informações questionáveis e em total desacordo com os preceitos espíritas.
Na linha romanesca, obterá os romances de Zíbia Gaspareto, as famosas Violetas na Janela, a miscelânea do Espírito Luis Sérgio, O Vale dos Suicidas, de Yvone Pereira do Amaral, além da coleção Joanna de Angelis e Manoel Philomeno de Miranda psicografados por Divaldo Pereira Franco.

E neste mundo literário confuso e contraditório, o visitante ou novo freqüentador poderá achar uma estante perdida ao fundo da esfuziante livraria e/ou biblioteca, com uma exposição muito comumente incompleta, de O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, A Gênese, O que é o Espiritismo, Obras Póstumas, e talvez alguns poucos volumes da Revista Espírita!

Diante desta realidade, explica-se a assustadora quantidade de pessoas que se dizem espíritas e NUNCA leram sequer uma obra fundamental da doutrina Espírita, entendendo-se que o neófito ao se deparar com toda essa diversidade de livros ofertados pela instituição Espírita, acreditará por óbvio encontrar naquelas páginas o repositório de informações, e conhecimentos formalmente espíritas!

Agravando a situação de “fundo” da doutrina, o iniciante terá provavelmente na instituição que passa a freqüentar, como monitores, facilitadores, doutrinadores, ou expositores, pessoas despreparadas e desconhecedoras das Obras Fundamentais da Doutrina Espírita, sendo estes na sua grande maioria leitores contumazes das psicografias de Chico e Divaldo, de Ramatis, dos Tambores de Angola, do Aconteceu na Casa Espírita, e obviamente de Violetas na Janela!

Vale ressaltar, que na sua grande maioria, o critério de admissão para os trabalhos de dirigente de grupo, de médium ou doutrinador nas reuniões mediúnicas, é que tenha “boa vontade”, e quando muito, se arvore como leitor das famosas obras complementares - leia-se coleção André Luiz/Emmanuel! Por conseguinte, o neófito do espiritismo estará sendo formado para tornar-se o próximo divulgador mistificado e mistificador da Doutrina Espírita, levando adiante a “corrente do mal”.

Portanto, face ao exposto que é a constatação real do que são os centros espíritas de norte a sul do Brasil, entendo ser uma temeridade indicar em sã consciência uma instituição espírita para alguém que busque conhecer e estudar o espiritismo... E então, o que fazer?!

Diante do total desvirtuamento da Doutrina dos Espíritos, é fato que precisa-se urgentemente reorganizá-La, e Kardec com toda a competência quando trata do assunto, começa se reportando aos adeptos “ainda isolados sob meio a uma população hostil ou ignorante das idéias novas”. Esta é a realidade dos espíritas contemporâneos não submersos no misticismo espírita. Encontram-se isolados no meio de uma população hostil e ignorante das idéias espíritas, sendo considerados por toda a falange mística, como ortodoxos obsidiados e inimigos contumazes do espiritismo.

Entretanto, o Codificador orienta que tais espíritas “para começar, podem trabalhar por conta própria, impregnando-se da doutrina pela leitura e meditação das obras especiais”, ou seja, as obras fundamentais da doutrina espírita, ressalvando que “se se limitassem a colher na doutrina uma satisfação pessoal, seria uma espécie de egoísmo”. Acrescenta que “em razão de sua própria posição, têm uma bela e importante missão de espalhar a luz em seu redor”. Adverte ainda que não devemos nos deixar deter pelas dificuldades, posto que “sem dúvida encontrarão oposição, serão alvo de zombarias e dos sarcasmos dos incrédulos, da própria malevolência das pessoas interessadas em combater a doutrina; mas, onde estaria o mérito, se não houvesse nenhum obstáculo a vencer?” E assevera que “aos que forem detidos pelo medo pueril do que os outros pensariam deles, nada temos a dizer, nenhum conselho a dar.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Daí, estabelece Kardec algumas questões importantes para a formação dos grupos, dispondo que a primeira questão a ser considerada é a “uniformidade na doutrina”, significando que todos deverão seguir “a linha traçada em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, posto que, “um contém os princípios da filosofia da ciência; o outro, as regras da parte experimental e prática“. Complementa afirmando que “estas obras estão escritas com bastante clareza, de modo a não ensejar interpretações divergentes, condição essencial de toda doutrina nova.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

O segundo ponto abordado pelo Codificador diz respeito à constituição dos grupos, estabelecendo como uma das primeiras condições a homogeneidade, que segundo suas palavras, “sem a qual não haveria comunhão de pensamentos”, e acrescentando que “uma reunião não pode ser estável, nem séria, se não há simpatia entre os que a compõem; e não pode haver simpatia entre pessoas que têm idéias divergentes e que fazem oposição surda, quando não aberta.” Esclarece o mestre que “cada um pode e deve externar sua opinião; mas há pessoas que discutem para impor a sua, e não para se esclarecer.”

No que concerne às perturbações advindas das discussões por divergência e imposição de opiniões, diz Kardec que “as reuniões espíritas estão em condições excepcionais”, requerendo acima de tudo recolhimento. “Ora, como estar recolhido se, a cada momento, somos distraídos por uma polêmica acrimoniosa? Se, entre os assistentes, reina um sentimento de azedume e quando sentimos à nossa volta seres que sabemos hostis e em cuja fisionomia se lê o sarcasmo e o desdém por tudo quanto não concorde inteiramente com eles?” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Em seguida preceitua que “num grupo sempre há elementos estáveis e flutuantes. O primeiro é composto de pessoas assíduas, que formam a base; o segundo, das que são admitidas temporária e acidentalmente. É essencial prestar escrupulosa atenção no que respeita à composição do elemento estável; neste caso, não se deve hesitar em sacrificar a quantidade pela qualidade, porque é ele que dá impulso e serve de regulador.” ( ) “Não se deve perder de vista que as reuniões espíritas, como, aliás, todas as reuniões em geral, haurem as forças de sua vitalidade na base sobre a qual se assentam; neste particular, tudo depende do ponto de partida.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Pontua Kardec que “formado esse núcleo, ainda que de três ou quatro pessoas, estabelecer-se-ão regras precisas, seja para as admissões, seja para a realização das sessões e para a ordem dos trabalhos, regras às quais os recém-vindos terão de se conformar.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Adiante adverte que a “ordem e a regularidade dos trabalhos são coisas igualmente essenciais, considerando de grande utilidade abrir cada sessão pela leitura de algumas passagens de O Livro dos Médiuns e de O Livro dos Espíritos.Segundo Kardec por esse meio, “ter-se-ão sempre presentes na memória os princípios da ciência e os meios de evitar os escolhos encontrados a cada passo na prática. Assim, a atenção será fixada sobre uma porção de pontos, que muitas vezes escapam numa leitura particular e poderão ensejar comentários e discussões instrutivas, das quais os próprios Espíritos poderão participar.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Por fim, faz-se por oportuno ressaltar as seguintes considerações feitas pelo Codificador: “Como se vê, nossas instruções se destinam exclusivamente aos grupos formados de elementos sérios e homogêneos; aos que querem seguir a rota do Espiritismo moral, visando o progresso de cada um, fim essencial e único da doutrina; enfim, aos que nos querem aceitar por guia e levar em conta os conselhos de nossa experiência. É incontestável que um grupo formado nas condições que indicamos funcionará em regularidade, sem entraves e de maneira proveitosa. O que um grupo pode fazer, outros também podem. Suponhamos, então, numa cidade, um número qualquer de grupos, constituídos sobre as mesmas bases; necessariamente haverá entre eles unidade de princípios, desde que seguem a mesma bandeira; união simpática, desde que têm por máxima amor e caridade. Numa palavra, são os membros de um a família, entre os quais não haveria concorrência, nem rivalidade de amor-próprio, já que todos estão animados dos mesmos sentimentos para o bem.” (Revista Espírita, dezembro de 1861, Organização do Espiritismo)

Diante do exposto, entendo que a reorganização do espiritismo passará pelo mesmo processo inicial que se deu à época de Kardec, ou seja, com a formação de pequenos grupos, livres do personalismo e do misticismo implantado no que está posto.

Serão esses novos grupos que estudarão a doutrina espírita tendo como fonte as obras fundamentais, e resgatarão o pensamento espírita, rechaçando os rituais, e a necessidade infantil de se eleger alguém para reverenciar e seguir!

Aquele que estuda a doutrina espírita, entende porque ela é libertadora. A liberdade está justamente na responsabilidade trazida pelo conhecimento. Passa-se a entender que não serão os passes, a água fluidificada, as rezas, as velas, o evangelho no lar, nem os Espíritos que nos “salvarão”! Será o trabalho solitário e árduo do nosso Espírito imortal, buscando aparar as arestas da nossa personalidade infantil, depois de compreendermos e assimilamos a dinâmica da vida ora no plano material, ora no plano espiritual.

Finalizando, reitero o entendimento de que será através de um movimento que estimule e propague a formação de pequenos grupos espíritas, organizados nos moldes kardecianos, tendo como componentes companheiros unidos pelo mesmo ideal, dedicados ao estudo e à divulgação do espiritismo, que teremos um novo recomeço. Precisamos acreditar como Kardec acreditou, que a doutrina espírita avançará! Para tanto, faz-se necessário exercitarmos a comunhão de pensamentos, amadurecendo e dando vida a essa idéia. Como asseverava o Codificador, o pensamento é uma força ativa que se tornará mais forte e eficiente quanto maior o número de homens e Espíritos unidos num mesmo objetivo. Esta será a “corrente do bem!”

Fonte: Blog Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com.br/2012/06/reorganizacao-do-espiritismo.html

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Razão e Emoção


Por Reinaldo Di Lucia

Freqüentemente, alguns pensadores espíritas, em sua grande maioria pertencentes à ala progressista da doutrina espírita (isto é, a que vê o espiritismo como uma doutrina dinâmica e em constante evolução), são acusados de serem excessivamente racionais, o que os tornaria, na opinião de seus críticos, frios e impessoais, chegando ao ponto de abolir a emoção que deve existir no espiritismo. Alguns chegam a dizer que lhes falta amor, para daí cair no velho chavão de que as discussões no movimento espírita não devem ocorrer, por serem decorrentes da falta de fraternidade.

A maioria destes críticos têm esta opinião porque, devido a uma falta de vontade de superar suas próprias deficiências, não se propõem a um estudo sério da doutrina espírita. Baseados somente n’O evangelho segundo o espiritismo e em meia dúzia de livros mediúnicos, arrogam-se de profundos conhecedores da " doutrina dos espíritos ", negando a importância do estudo contínuo. São os principais detratores do espiritismo, pois passam aos não espíritas a imagem de uma doutrina estratificada, engessada em conceitos arcaicos e irracionais.

Entretanto, nem todos os críticos pertencem a esta categoria. Há os que assim falam por uma séria preocupação com o intelectualismo excessivo, muitas vezes estéril, que grassa em oradores pelo Brasil afora. Apesar de colocarem numa mesma categoria pensadores e charlatães do pensamento, não se furtam à discussão. É a estes que endereço este artigo.

Dizer que o espiritismo, sendo uma filosofia, deve necessariamente basear-se na indagação racional do mundo é redundante. Os críticos a quem me dirijo não se dispõem a abdicar da capacidade de raciocinar livremente. Contudo, há em seu discurso uma confusão conceitual. Colocam a razão e a emoção como conceitos mutuamente exclusivos, impossibilitados de conviver paralelamente, num mesmo espaço.

Mas estas duas idéias têm objetivos distintos: quando se trata de buscar o conhecimento teórico, o entendimento da composição e do funcionamento do Universo, a razão é o instrumento adequado. É através dela que o homem desvenda a verdade universal, ainda encoberta pelo véu da ignorância.

À emoção fica reservado o papel de instrumento da necessária vivência por que o ser deve passar para efetivamente introjetar os conceitos éticos que regem o espírito imortal. Sem essa vivência, o espírito não consegue demonstrar a si mesmo que adquiriu o entendimento básico da lei natural, que lhe permite seguir em seu caminho infinito de evolução.

A missão do espiritismo é a de mostrar aos homens uma nova realidade universal, a da imortalidade da individualidade pensante, e, a partir daí, deduzir uma ética que se coadune perfeitamente com esta nova forma de ver o Universo. Eis porque Kardec disse, na terminologia de sua época, que a evolução do espírito é intelecto-moral.

O binômio razão – emoção é uma realidade inconteste. Não se pode efetivar a evolução do espírito despindo-se de uma ou de outra. A despeito do que dizem os críticos, aqueles que realmente pensam o espiritismo não abrem mão de nenhuma delas. Usam-nas corretamente, cada uma em seu próprio espaço, em direção ao infinito.

Publicado na Espirit Net em Abril de 2001

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Curta resposta aos detratores do Espiritismo


Por Allan Kardec

O direito de exame e de crítica é um direito imprescritível, ao qual o Espiritismo não tem a pretensão de se subtrair, como não tem a de satisfazer todo o mundo. Cada um, pois, está livre para aprová-lo ou rejeitá-lo; mas ainda seria necessário discuti-lo com conhecimento de causa; ora, a crítica não tem senão, muito freqüentemente, provado a sua ignorância de seus princípios mais elementares, fazendo-lhe dizer precisamente ao contrário do que ele diz, atribuindo-lhe o que nega, confundindo-o com as imitações grosseiras e burlescas do charlatanismo, dando, enfim, como a regra de todos, as excentricidades de alguns indivíduos. Muito freqüentemente, também, a malevolência quis torná-lo responsável por atos repreensíveis ou ridículos, onde seu nome foi misturado incidentemente, e disso faz uma arma contra ele.

Antes de imputar a uma doutrina a incitação a um ato repreensível qualquer, a razão e a eqüidade querem que se examine se essa doutrina contém as máximas próprias para justificarem esse ato.

Para conhecer a parte de responsabilidade que incumbe ao Espiritismo numa dada circunstância, há um meio muito simples, que é o de inquirir de boa fé, não entre os adversários, mas na própria fonte, o que ele aprova e o que ele condena. A coisa é tanto mais fácil que nada tem de secreto; seus ensinos são públicos, e cada um pode controlá-los.

Se, pois, os livros da Doutrina Espírita condenam de maneira explícita e formal um ato justamente reprovado; se não encerram, ao contrário, senão instruções de natureza a levar ao bem, é que o indivíduo culpado da má ação nele não hauriu suas inspirações, tivesse mesmo esses livros em seu poder.

O Espiritismo não é mais solidário com aqueles que se comprazem em dizer-se espíritas, do que a medicina não o é com os charlatães que a exploram, nem a sã religião com os abusos, ou mesmo crimes, cometidos em seu nome. Não reconhece por seus adeptos senão aqueles que colocam em prática os seus ensinos, quer dizer, que trabalham para o seu próprio adiantamento moral, esforçando-se por vencer as suas más inclinações, serem menos egoístas e menos orgulhosos, mais dóceis, mais humildes, mais pacientes, mais benevolentes, mais caridosos para com o próximo, mais moderados em todas as coisas, porque são os sinais característicos do verdadeiro espírita.

O objeto desta curta notícia não é o de refutar todas as falsas alegações dirigidas contra o Espiritismo, nem de desenvolvê-lo ou provar-lhe todos os princípios, e ainda menos procurar converter, às suas idéias, aqueles que professam opiniões contrárias, mas de dizer, em algumas palavras, o que é e o que não é, o que admite e o que reprova.

Suas crenças, suas tendências e seu objetivo se resumem nas proposições seguintes:

O elemento espiritual e o elemento material são os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza se completando uma pela outra, e reagindo incessantemente uma sobre a outra, ambas indispensáveis ao funcionamento do mecanismo do Universo.

Da ação recíproca desses dois princípios nascem fenômenos que, cada um deles, isoladamente é incapaz de se explicar.

A ciência, propriamente dita, tem por missão especial o estudo das leis da matéria.

O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material, e encontra, na união desses dois princípios, a razão de uma multidão de fatos até então inexplicados.

O Espiritismo caminha de acordo com a ciência no terreno da matéria: admite todas as verdades que ela constata; mas onde se detêm as investigações desta, prossegue as suas no terreno da espiritualidade.

Sendo o elemento espiritual um estado ativo da Natureza, os fenômenos que se ligam a ele estão submetido a leis, e, por isso mesmo, tão naturais quanto aqueles que têm sua fonte na matéria neutra.

Certos fenômenos foram reputados sobrenaturais pela ignorância das leis que os regem. Em conseqüência desse princípio, o Espiritismo não admite o caráter maravilhoso atribuído a certos fatos, de tudo constatando a realidade ou a possibilidade. Para ele não há milagre, enquanto derrogação das leis naturais; de onde se segue que os espíritas não fazem, milagres, e que a qualificação de taumaturgos, que alguns lhe dão, é imprópria.

O conhecimento das leis que regem o princípio espiritual, se liga, de maneira direta, à questão do passado e do futuro do homem. Sua vida é limitada à existência atual? Entrando neste mundo, saiu do nada, e em que se torna deixando-o? Já viveu e viverá ainda? Como viverá e em que condições? Em uma palavra, de onde vem e para onde vai? Por que está sobre a Terra e por que nela sofre? Tais são as perguntas que cada um se coloca, porque são para todos de um interesse capital, e que nenhuma doutrina não lhe deu ainda solução racional. A que o Espiritismo lhe dá, se apóia sobre fatos, satisfazendo às exigências da lógica e da justiça mais rigorosa, é uma das principais causas da rapidez de sua propagação.

O Espiritismo não é nem uma concepção pessoal, nem o resultado de um sistema preconcebido. É a resultante de milhares de observações feitas em todos os pontos do globo, e que convergiram para o centro que as coligiu e coordenou. Todos esses princípios constituintes, sem exceção, são deduzidos da experiência. A experiência sempre precedeu a teoria.

O Espiritismo encontrou, assim, desde o início, raízes por toda a parte; a história não oferece nenhum exemplo de uma doutrina filosófica ou religiosa que haja, em dez anos, reunido um tão grande número de adeptos; entretanto não empregou, para se fazer conhecer, nenhum dos meios vulgarmente em uso; propaga-se por si mesmo, pelas simpatias que encontrou.

Um fato não menos constante é que, em nenhum país, a Doutrina não nasceu na camada baixa da sociedade; por toda a parte, ela se propagou de alto a baixo da escala social; é nas classes esclarecidas que está ainda quase exclusivamente difundida, e as pessoas iletradas nela estão em ínfima minoria.

Está ainda averiguado que a propagação do Espiritismo seguiu, desde a origem, uma marcha constantemente ascendente, apesar de tudo o que se fez para entravá-la e desnaturar-lhe o caráter, tendo em vista desacreditá-lo na opinião pública. Há mesmo a se anotar que, tudo o que se fez com esse objetivo, favoreceu-lhe a difusão; o ruído que se fez a seu propósito levou-o ao conhecimento de pessoas que dele jamais ouviram falar; quanto mais o difamaram ou ridicularizaram, mais as invectivas foram violentas, mais estimulou a curiosidade; e como não pode senão ganhar ao exame, disso resultou que os seus adversários dele se fizeram, sem o querer, os ardentes propagadores; se as diatribes não lhe trouxeram nenhum prejuízo, foi porque estudando-o em sua fonte verdadeira, o encontraram diferente do que havia sido representado.

Nas lutas que teve de sustentar, as pessoas imparciais se deram conta de sua moderação; jamais usou de represálias contra os seus adversários, nem restituiu injúria por injúria.

O Espiritismo é uma doutrina filosófica que tem conseqüências religiosas, como toda doutrina espiritualista; por isso mesmo toca forçosamente às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura; mas não é, uma religião constituída, tendo em vista que não tem nem culto, nem rito, nem templo, e que, entre os seus adeptos, nenhum tomou ou recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote. Essas qualificações são pura invenção da crítica.

É-se espírita somente porque se simpatiza com os princípios da doutrina, e que com ela se conforma a sua conduta. É uma opinião como uma outra, que cada um deve ter o direito de professar, como se tem o de ser judeu, católico, protestante, fourieísta, sansimonista, voltairiano, cartesiano, deísta e mesmo materialista.

O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como um direito natural: reclama-a para os seus, como para todo o mundo. Respeita todas as convicções sinceras, e pede para si a reciprocidade.

Da liberdade de consciência decorre o direito de livre exame em matéria de fé. O Espiritismo combate o princípio da fé cega, como impondo ao homem a abdicação de seu próprio julgamento; diz que toda fé imposta é sem fundamento. Por isso inscreveu, entre as suas máximas: "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade."

Conseqüente com os seus princípios, o Espiritismo não se impõe a ninguém; quer ser aceito livremente e por convicção. Expõe suas doutrinas e recebe aqueles que vêm a ele voluntariamente.

Não procura desviar ninguém de suas convicções religiosas; não se dirige àqueles que têm uma fé, e a quem essa fé basta, mas àqueles que, não estando satisfeitos com aquilo que se lhe deu, procuram alguma coisa melhor.

Fonte: Obras Póstumas