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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Aparece a médium Emilie Collignon


Por Nazareno Tourinho

O escrito de Emilie Collignon que aparece pela primeira vez na Revista Espírita (maio de 1862), editada por Allan Kardec, é a resposta dada por ela a um sacerdote preocupado com a fidelidade de sua mãe doente “aos dogmas invariáveis da religião católica”.

Em tal resposta pretende Emilie Collignon assumir publicamente a condição de espírita, porém deixa transparecer ainda um forte apego à Igreja Romana, concluindo sua profissão de fé com este parágrafo:
“Agradeço, pois, ao Senhor, cuja bondade e poder incontestáveis permitem aos anjos e aos santos agora se tornarem visíveis, para salvarem os homens da dúvida e da negação, o que tinha sido permitido ao demônio fazer para os perder desde a criação do mundo. Tudo é possível a Deus – mesmo os milagres. Hoje eu reconheço com felicidade e confiança.”
Com uma crença espírita tão mal estruturada filosoficamente, a médium de Roustaing, para completar, possuía um temperamento “cristão” pouco recomendável à uma pessoa destinada a servir de intérprete das altas esferas espirituais, com vistas ao surgimento no mundo de uma nova Revelação. É o que documenta o segundo dos seus escritos, estampado na Revista Espírita em junho de 1862. Trata-se de uma carta de E. Collignon dirigida a Allan Kardec, na qual ela critica a comunicação do Espírito Gérard de Codemberg, inserida no penúltimo número da Revista.

Em determinado trecho E. Collignon revela o ânimo contestatório que viria a ter anos depois suas mensagens mediúnicas de Os Quatro Evangelhos, em relação ao pensamento kardequiano. Escreve ela:
“Esse Gérard de Codemberg será um bom espírito? Se é ele, eu o duvido.”
E arremata encaminhando ao codificador do Espiritismo a “comunicação de um espírito que se supõe ter tomado o lugar de Gérard de Codemberg”. Isto depois de ter consultado o seu guia.

Kardec responde discordando de tal opinião, e tendo como apócrifa a comunicação que ela lhe enviou.

Já se vê por aí que tipo de personalidade era Emilie Collignon, e que tipo de protetores do Além estavam orientando a sua produção mediúnica.

Note-se que, tendo começado a psicografar Os Quatro Evangelhos em dezembro de 1861, a essa altura, junho de 1862, já navegava a pleno vapor nas águas turvas da “Revelação da Revelação”, com a qual encantou Roustaing e outros peixes miúdos, capazes de morder minhocas doutrinárias no anzol do misticismo.

Fonte:

TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

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