Por Sérgio Aleixo
Disse um físico brasileiro radicado no exterior: “Eu adoraria ter alma e, quando meu corpo pifasse, poder renascer em outro corpo. Histórias de espiritismo, de vida após a morte e as várias versões das religiões para isso são mecanismos que criamos para lidar com nosso problema mais fundamental, que é a mortalidade. Vários amigos espíritas dizem que a maneira científica de pensar o mundo é apenas uma. Existem outras. Usar a ciência para justificar a existência ou não da alma nunca vai dar certo”. E concluiu: “Hoje, a gente sabe que não tem alma e que o cérebro é um organismo extremamente complexo”.
Mas com fundamento em que se poderia dizer que hoje a gente “sabe” não ter alma? Com base nesta ciência que sequer provou seu materialismo? O físico declarou, porém, que usá-la para justificar a existência ou não da alma nunca vai dar certo. Então, as coisas não são exatamente deste modo para ele, porque está, sim, usando a ciência, ou o que aprendeu com ela, ou, pelo menos, a posição de que desfruta perante a mesma, para negar a existência da alma. Tudo não iria além da complexidade cerebral, de mecanismos que criamos para lidar com a mortalidade.
Todos têm direito à opinião. Entretanto, não é propriamente a ciência que nega a alma, mas a ciência oficializada por certa classe de cientistas. Outros, ao contrário, lhe afirmam a existência. Não se podem ignorar as pesquisas de Rhine, desde 1930, na Universidade de Duke. Evidenciaram definitivamente que o cérebro não explica a mente e que esta não é física, embora possa agir no mundo físico por vias não físicas (psigama e psikapa). Mesmo a supervivência da mente após a morte (psiteta) foi sustentada em Cambridge, Oxford e Londres, por Carington, Price e Soal e, na própria Duke, pelo casal Rhine e por Pratt. Idade de ouro da Parapsicologia!
Antes disso, contudo, baseando-se nas pesquisas etnológicas e antropológicas de Lang e Long, Bozzano, em seu livro Povos Primitivos e Manifestações Supranormais, estabeleceu a interessante tese de que a crença na sobrevivência à morte não teria surgido de esforços do pensamento abstrato, de pura indução, mas da mescla de fatos da experiência vital com fenômenos supranormais. À medida que ordenava estes fatos: imagens refletidas em espelhos d’água, sombras, ecos, a razão preenchia suas categorias prévias com os resultados de concomitantes experiências com aqueles fenômenos, muitos deles objetivos, sensoriais.
Na International Psychic Gazette de maio de 1930, Bozzano declarou: “[...] os fenômenos supranormais constituem um complexo admirável de provas anímicas e espiríticas, todas convergentes para um centro a favor da demonstração rigorosamente científica da existência e sobrevivência do espírito humano”.
Cerca de sessenta anos antes, o descobridor do tálio, do radiômetro e do tubo de raios catódicos, Sir Crookes, inferiu a existência da matéria radiante durante suas investigações da mediunidade da Srta. Florence Cook. Isto se deu, sim, graças às suas pesquisas com as materializações (fotografadas) do espírito Katie King ao longo de mais de três anos. Como disse oportunamente Denis, em O Além e a Sobrevivência do Ser: “Foi, pois, de um fato espírita que se originou uma série completa de descobertas, uma revolução no domínio da física e da química”. Sobre suas pesquisas, Crookes assegurou, já em 1917, na International Psychic Gazette: “É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro”.
Demais homens de ciência atingiram essa mesma convicção após a realização de minuciosos experimentos. Assim aconteceu ao naturalista Wallace, êmulo de Darwin, que publicou O Aspecto Científico do Sobrenatural; ao criminalista Lombroso, que escreveu Hipnotismo e Mediunidade; e ao astrônomo Zöllner, que editou Provas Científicas da Sobrevivência.
Também o descobridor do agente da raiva e do pênfigo agudo, discípulo de Pasteur e diretor do Instituto Bacteriológico de Nova Iorque, Dr. Gibier, no seu Análise das Coisas, foi categórico: “Podemos ter provas materiais da existência da alma”. E informou com desassombro: “Somente depois que observei o fenômeno de escrita direta pelo menos quinhentas vezes, foi que me decidi a publicar as minhas pesquisas”. Ao IV Congresso Internacional de Psicologia (Paris, 1900), Gibier dirigiu um precioso memorial contendo o relato de anos de suas pesquisas experimentais, de título As Materializações de Fantasmas, a penetrabilidade da matéria e outros fenômenos psíquicos.
No final do séc. 20, o Dr. Sabom, prof. de Cardiologia, relacionou 116 casos de estranhas experiências vividas por pacientes entre 1976 e 1981, no livro de rigorosa metodologia científica Recollection of death. Os insólitos fenômenos transcorreram, segundo ele, numa clara dissociação entre cérebro e espírito, sugerindo indubitavelmente a existência e sobrevivência da alma. São da mesma conclusão as casuísticas de Moody Jr., Kenneth Ring, George Ritchia, Elizabeth Kübler-Ross, Melvin Morse, etc.
Trata-se das “near death experiences”, ou experiências de morte aproximada, ou de quase morte. Após anestesia geral, coma e até morte clínica, muitos afirmam ter visto a si mesmos fora do corpo físico, dão conta dos procedimentos adotados na sala em que estavam e mesmo de fatos acontecidos longe dessas dependências. Não poucos conversaram com defuntos acerca de fatos do presente, do passado e do futuro. Os espíritos superiores, no entanto, já haviam instruído Allan Kardec neste assunto, dizendo-lhe no item 422-a do livro que lhes traz o nome: “(...) esse estado especial dos órgãos prova que no homem há alguma coisa mais do que o corpo, pois que, então, o corpo já não funciona e, no entanto, o espírito se mostra ativo”.
O mestre da psicologia analítica, Jung, afirmou certa feita numa entrevista à BBC de Londres: “Eu não acredito que a mente humana morra, porque está provado que a mente humana não conhece passado, nem presente nem futuro; contudo, se ela pode prever acontecimentos futuros, está acima do tempo, se está acima do tempo, não pode ficar trancafiada num corpo”. E disse também: “A plenitude da vida exige algo mais que um ser; necessita de um espírito, isto é, de um complexo independente e superior, único capaz de chamar à vida todas as possibilidades psíquicas que a consciência — ego — não poderá alcançar por si”.
Isto é o que resulta demonstrado pelas regressões de memória a vidas anteriores. Casuísticas minuciosamente documentadas como as de Banerjee, Stevenson, Drouot, Weiss, e outros, não podem ser ignoradas. Weiss foi contundente em A Cura Através da Terapia de Vidas Passadas, de 1996: “Não se trata de mera sugestão. De um modo geral não são pessoas crédulas ou sugestionáveis. Elas recordam — nomes, datas, geografia, detalhes. E depois que recordam ficam curadas. Talvez até mais importante que a cura de sintomas físicos e emocionais específicos seja o conhecimento de que não morremos junto com nossos corpos. Somos imortais. Sobrevivemos à morte física”. Drouot afirmou em Reencarnação e Imortalidade, de 1989: “Para mim, a exploração de vidas anteriores não é somente psicológica; ela é também, e sobretudo, espiritual”.
Contudo, nos Congressos Espíritas de 1889 e 1900 é que primeiramente se falou em regressões de memória a vidas anteriores ocorridas a espíritos reencarnados. Isto se deu mediante os trabalhos apresentados por Colavida, do Grupo de Estudos Psíquicos de Barcelona, e Marata, da União Espírita de Catalunha, como relatam Denis e Delanne, em O Problema do Ser, cap. XIV, e A Reencarnação, cap. VII.
Falei em regressões ocorridas a espíritos reencarnados porque, sobre tais regressões verificadas em um espírito desencarnado, Dr. Cailleux, existem dois artigos no Jornal de Estudos Psicológicos de Allan Kardec, a famosa Revista Espírita. (Cf. junho e julho de 1866.)
Os espíritos superiores, ao demais, afirmaram àquele que lhes codificou a sublime doutrina que viria o tempo em que disporíamos de meios “mais diretos e mais acessíveis” aos nossos “sentidos” nas comunicações com o além-túmulo, como se lê no n. 934 de O Livro dos Espíritos. E eis aí a Transcomunicação Instrumental. Contatos estabelecidos de maneira desafiadora se traduzem em numerosos acervos de som e imagem que não podem ser facilmente refutados, sobretudo pelas teses subliminares, pois eletrônicos não têm inconsciente.
Tudo isso só nos dá uma pequena medida do pioneirismo de Allan Kardec ao estabelecer em A Gênese, XIII, n. 9, de 1868: “Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou espírito, quer durante a encarnação, quer no estado de erraticidade. É pelas manifestações que produz que a alma revela a sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade; julga-se dela pelos seus efeitos; sendo natural a causa, o efeito também o é. São esses efeitos que constituem objeto especial das pesquisas e do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento tão completo quanto possível, assim da natureza e dos atributos da alma, como das leis que regem o princípio espiritual”.
Portanto, qualquer adepto de cultura doutrinária espírita mediana identifica desde logo que declarações como a inicialmente ressaltada vêm de pessoas que quase tudo ignoram acerca dos fatos espíritas, sejam estes anímicos (do espírito durante a encarnação), sejam mediúnicos (do espírito no estado de erraticidade). Ante uma tão vasta documentação existente dentro e fora das universidades, os mais sensatos hesitam, mas nunca, nunca resolvem pela negação.
De mais a mais, os amigos espíritas do físico não o informaram bem do próprio Espiritismo. A doutrina não poderia propor jamais uma maneira de pensar o mundo alheia à ciência, porque o Espiritismo se estabeleceu a partir do avanço engendrado pelo progresso da própria ciência, a despeito de ser apenas a ciência de um dado estado de consciência.
Segundo Kardec em A Gênese, I, n. 16: “Assim como a ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do principio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da natureza, a reagir incessantemente sobre o principio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a ciência se completam reciprocamente; a ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a ciência, faltariam apoio e comprovação”.
Eu mesmo disse em O Que É Espiritismo, 1.2: “Uma avaliação correta do posicionamento de Allan Kardec indica seu rompimento com o reducionismo de um modelo materialista mecanicista de ciência, jamais com a finalidade da ciência em si, que é o conhecimento exato da realidade. O codificador, aliás, nunca deixou de insistir na cientificidade do Espiritismo. Kardec fixou a base científica da doutrina espírita como dimensão primeira da aliança da ciência e da religião, pulverizando a dicotomia entre razão e fé”.
Deste modo, a doutrina dos espíritos incorpora a si tudo quanto resulte demonstrado pela ciência e é também nos termos da ciência que a doutrina pensa o mundo; todavia, por uma necessidade lógica e também empírica, lhes adiciona o princípio espiritual, cuja existência, no dizer preciso de Kardec, o Espiritismo foi o primeiro a demonstrar por provas inconcussas, estudando-o, analisando-o e tornando-lhe evidente a ação.
Kardec constatou pessoalmente vários fenômenos, tais como: a tiptologia, ou linguagem de batidas das mesas girantes; a psicografia indireta, na qual o lápis era, por indicação dos espíritos, adaptado a uma cesta ou a outro objeto; a psicografia direta ou manual, em que o médium já retinha em suas próprias mãos o lápis, etc. Em casa da família Baudin, o codificador do Espiritismo chegou a formular perguntas às inteligências desencarnadas em vários idiomas desconhecidos das jovens médiuns; algumas vezes, ele até o fazia sem palavras, mentalmente, e ainda assim as respostas nasciam poliglotas, profundas e lógicas por debaixo da cesta, sobre os bordos da qual as meninas impunham suas mãozinhas adolescentes. Assim foi colhida boa parte dos ensinos de O Livro dos Espíritos, obra-base da doutrina espírita.
Quanto à psicografia direta ou manual, Kardec se reporta muito instigantemente à mudança radical das caligrafias de acordo com os espíritos comunicantes, que conservavam a mesma escrita quando voltavam a se manifestar. E mais! Assegurou o mestre com requinte de detalhe (O Livro dos Espíritos, Introdução, XII): “Tem-se verificado inúmeras vezes, sobretudo se se trata de pessoas mortas recentemente, que a escrita denota flagrante semelhança com a dessa pessoa em vida. Assinaturas se hão obtido de exatidão perfeita”.
Este tipo de fenômeno, aliás, pôde ser constatado aqui no Brasil. Francisco Cândido Xavier, em 22/07/1978, psicografou carta ditada pela Senhora Ilda Mascaro Saullo, italiana falecida em Roma a 20/12/1977. Como ressaltou o codificador, tratava-se de pessoa morta recentemente. Neste caso, porém, havia um complicador: a mensagem veio no idioma da defunta, o italiano, ignorado pelo médium. Pois bem! Titular de Identificação Datiloscópica e Grafotécnica do Departamento de Patologia, Legislação e Deontologia da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, o Prof. Carlos Augusto Perandréa lançou A Psicografia à Luz da Grafoscopia, no qual atesta: “A mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier em 22 de julho de 1978, atribuída a Ilda Mascaro Saullo, contém, conforme demonstração fotográfica, em número e em qualidade, consideráveis e irrefutáveis características de gênese gráfica suficientes para revelação e identificação de Ilda Mascaro Saullo como autora da mensagem questionada”.
Também no livro A Vida Triunfa, de Paulo Rossi Severino e Equipe da Associação Médico-Espírita de São Paulo, os interessados poderão encontrar vasto material de pesquisa acerca de 45 cartas-mensagem recebidas por Chico Xavier, as quais em tudo se mostram da autoria dos mortos comunicantes, seja pela forma, seja pelo conteúdo, inegavelmente mediúnicos.
Como disse Denis, em No Invisível: “Quando se possui alguma experiência dos fenômenos psíquicos fica-se pasmado ante a penúria de raciocínio dos críticos científicos do Espiritismo. Escolhem eles sempre, na multidão dos fatos, alguns casos que se aproximem de suas teorias e silenciam cuidadosamente de todos os inúmeros que as contradizem. Será esse procedimento realmente digno de verdadeiros sábios?”.
E físico por físico, termino citando novamente Drouot, Ph.D. em Física Teórica pela Universidade de Columbia, que afirmou no seu livro Nós Somos Todos Imortais, de 1986: “A física de hoje coloca o problema das relações entre nossa matéria e nosso espírito. E a única verdadeira física será a que conseguir um dia integrar o homem total em sua representação coerente do mundo”.
Fonte: Blog Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com.br/2012/11/a-alma-existe-importancia-dos-fenomenos.html?spref=fb
Nenhum comentário:
Postar um comentário