Por Nazareno Tourinho
Prossigamos o nosso passeio
revelador pelas páginas da Coleção da
Revista Espírita editada no tempo de Allan Kardec, tendo em mira o
rastreamento dos passos de Jean-Baptiste Roustaing e sua única médium, Emilie
Collignon.
Diante dos olhos temos agora o
exemplar de dezembro de 1862. O codificador do Espiritismo o encerra com a
seguinte nota:
“RESPOSTA A UM SENHOR DE BORDEAUX
“Um senhor de Bordeaux nos
escreveu uma carta, aliás muito polida, contendo uma crítica do ponto de vista
religioso ao artigo do número de novembro sobre a Origem da linguagem, o qual, diga-se de passagem, encontrou
numerosos admiradores. Como a carta não traz assinatura nem endereço, fizemos o
que se faz com toda carta sem nome: foi para a cesta.”
Não desejamos nós, e nem
poderíamos em sã consciência, acusar Roustaing de ser o autor da carta muito
polida que foi para a cesta por ser
anônima. Entretanto, também não devemos nos furtar a uma judiciosa e oportuna
observação: o artigo Origem da linguagem,
que a missiva em tela procura desqualificar, é do Espírito Erasto, presente com os seus ensinos
sábios nos diversos livros da Codificação; este Espírito, por seu médium
habitual de Paris, transmitiu a Kardec, antes dele ir a Bordeaux em fins de
1861, uma Epístola para ser lida por
ocasião da visita. O Codificador, no discurso proferido em Bordeaux, cidade
onde viviam Roustaing e E. Collignon, fez a leitura de tal Epístola. Nela há trechos assim:
"Eis por que vos digo, com
toda a efusão de minha ternura por vós, que ficaria desolado, ficaríamos
desolados todos nós que, sob a direção do Espírito
de Verdade, somos os iniciadores do Espiritismo na França, se viesse a
desaparecer do vosso meio a concórdia de que até hoje destes provas brilhantes.
Se não tivésseis dado o exemplo de uma sólida fraternidade; se, enfim, não
fôsseis um centro sério e importante da grande comunhão espírita francesa, eu
teria deixado esta questão na sombra do esquecimento. Mas se a levantei é que tenho razões plausíveis para
convidar-vos à manutenção da união, da paz e da unidade de doutrina entre os vossos diversos grupos”.
“Tereis que lutar não só contra
os orgulhosos, os egoístas, os materialistas e todos esses infelizes que estão
imbuídos do espírito do século, mas ainda, e
sobretudo, contra a turba de Espíritos
enganadores que, encontrando em vosso meio uma rara reunião de médiuns, pois a tal respeito sois os mais
aquinhoados, em breve virão assaltar-vos,
uns com dissertações sabiamente
combinadas, nas quais, graças a tiradas piedosas, insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente..."
"Ah! Crede-me, não temais
desmascarar os embusteiros que, novos Tartufos, se introduziriam entre vós sob
a máscara da religião..."
"Para isso necessitais de
bons médiuns e aqui os vejo excelentes, em cujo meio só tendes que escolher.
Certamente, bem o sei, a Sra. e a Srta.
Cazemajoux e alguns outros possuem qualidades mediúnicas no mais alto grau,
e nenhuma região, eu vo-lo repito, a este respeito é melhor dotada do que
Bordeaux."
"Tive que vos falar assim,
porque era necessário premunir-vos contra um perigo...". (Salvo a expressão Espírito de Verdade, todos os demais destaques em negrito são
nossos. Revista Espírita de novembro
de 1861).
Note o leitor que a essa altura a
obra Os Quatro Evangelhos, de
Roustaing, já estava sendo preparada por via da mediunidade de Emilie Collignon.
O Espírito Erasto adverte contra o perigo de uma mistificação prejudicial à unidade da doutrina. Cita como médiuns
confiáveis em Bordeaux, nominalmente, apenas a Sra. E Srta. Cazemajoux.
Algum tempo depois do fato um
cidadão de Bordeaux escreve anonimamente para a Revista Espírita criticando determinada mensagem. De quem era a
mensagem? Do Espírito Erasto!
Muito estranho...
Fonte:
TOURINHO, Nazareno. As
Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio
crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do
Campo, SP, 1999.
Observação: A tradução da Revista
Espírita aqui utilizada é do site IPEAK (Instituto de Pesquisas Espíritas
Allan Kardec) e, por isso, possui pequenas diferenças da versão utilizada
originalmente por Nazareno Tourinho.
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