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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O Castigo

Por Allan Kardec

Exposição geral do estado dos culpados por ocasião de sua entrada no mundo dos Espíritos, ditada à Sociedade Espírita de Paris, em outubro de 1860.

"Os Espíritos maus, egoístas e endurecidos, são, logo depois da morte, tomados de dúvida cruel a respeito do seu destino presente e futuro; eles olham em torno de si, e não vendo de início nada sobre o que possam exercer a sua maldade, são tomados pelo desespero, pois a inação e o isolamento são intoleráveis para os maus Espíritos; eles não levantam seus olhares na direção dos lugares habitados pelos puros Espíritos; consideram o que os cerca, e logo tocados pelo abatimento dos Espíritos fracos e punidos, agarram-se a eles como a uma presa, utilizando-se da lembrança de suas faltas passadas, que incessantemente põem em ação por seus gestos desprezíveis. Não lhes bastando essa zombaria, mergulham sobre a Terra quais abutres famintos; buscam entre os homens, a alma que lhes dê fácil acesso às suas tentações; dela se apoderam, exaltam sua cobiça, e tratam de extinguir sua fé em Deus; quando, enfim, senhores de uma consciência e vendo sua presa assegurada, estendem sobre tudo o que se aproxime de sua vítima, o fatal contágio.

Ao exercer sua raiva, o mau Espírito é quase feliz; ele sofre apenas nos momentos em que não age, e também naqueles em que o bem triunfa do mal.

Entretanto, os séculos se escoam; de repente, o mau Espírito sente as trevas a invadi-lo; seu círculo de ação se restringe; sua consciência, muda até então, lhe faz sentir as pontas aceradas do arrependimento. Inativo, arrastado pelo turbilhão, ele vagueia, como dizem as Escrituras, sentindo sua pele arrepiar de terror. Não tarda, então, e um grande vazio o invade; o momento é chegado, ele deve expiar: a reencarnação está lá, ameaçadora; ele vê, como numa miragem, as provas terríveis que o aguardam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo boquiaberto da vida, ele rola amedrontado, até que o véu da ignorância recaia sobre seus olhos. Ele vive, age, e é ainda culpado; sente em si não sei que lembrança inquieta, pressentimentos que o fazem tremer, mas não o fazem recuar na via do mal. Extenuado de forças e de crimes, ele vai morrer. Estendido sobre um grabato, ou sobre seu leito, que importa! o homem culpado sente, sob sua aparente imobilidade, revolver-se e viver um mundo de sensações esquecidas. Sob suas pupilas fechadas, ele vê despontar um clarão, ouve estranhos sons; sua alma, prestes a deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto suas mãos crispadas tentam agarrar as cobertas; ele quereria falar, gritar aos que o cercam: Retenham-me! eu vejo o castigo! Mas não pode; a morte sela seus pálidos lábios, e os assistentes dizem: Ele agora está em paz!

Entretanto, ele tudo ouve; flutua em torno de seu corpo que não desejaria abandonar; uma força secreta o atrai; ele vê, e reconhece o que já havia visto. Desvairado, ele se lança no espaço onde desejaria esconder-se. Nada de abrigo! nada de repouso! Outros Espíritos lhe retribuem o mal que ele fez e, castigado, escarnecido, confuso por sua vez, ele vagueia, e vagueará até que a divina luz deslize sobre seu endurecimento e o clareie, para lhe mostrar o Deus vingador, o Deus que triunfa de todo o mal, que ele não poderá satisfazer senão à força de gemidos e expiações.

Georges.

Jamais foi traçado quadro tão eloquente, tão terrível e tão verdadeiro da sorte do mau; é necessário recorrer à fantasmagoria das chamas e das torturas físicas?

Allan Kardec

(O Céu e o Inferno - Segunda Parte - Exemplos - Capítulo IV - Espíritos sofredores)       

Fonte: IPEAK

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