Por Allan Kardec
Falecido em 1840 e evocado em Bordeaux, por sua neta, em 1862
O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens
1. Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais entre os Espíritos, e me dar alguns detalhes instrutivos para o nosso adiantamento?
- R. Tudo que quiseres, querida criança. Eu expio a minha falta de fé; mas a bondade de Deus é grande: ele leva em conta as circunstâncias. Sofro, não como poderias imaginar, mas pelo pesar de não ter empregado melhor meu tempo aí na Terra.
2. Como não o empregástes bem, uma vez que vivestes sempre honestamente?
- R. Sim, do ponto de vista dos homens; mas há um abismo entre o homem honesto segundo os homens, e o homem honesto segundo Deus. Tu queres instruir-te, querida criança; procurarei demonstrar-te a diferença. Entre vós, é tido por homem honesto aquele que respeita as leis de seu país, respeito flexível para muitos. Honesto é aquele que não prejudica o próximo, tomando-lhe o bem ostensivamente, embora as mais das vezes arranque sem ecrúpulos sua honra, sua felicidade, desde que o código penal, ou a opinião pública não possa atingir o culpado hipócrita. Quando se grava sobre sua pedra tumular as ladaínhas de virtude que se preconiza, julga-se ter pago sua dívida à Humanidade! Que erro! Para ser honesto perante Deus, não basta não ter infringido as leis dos homens, é preciso antes de tudo não ter transgredido as leis divinas. Homem honesto aos olhos de Deus é aquele que, pleno de devotamento e de amor, consagra sua vida ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, é ativo na vida: ativo para cumprir a tarefa material que lhe é imposta, pois ele deve ensinar a seus irmãos o amor ao trabalho; ativo nas boas obras, pois não deve esquecer que é apenas um servidor ao qual o senhor pedirá contas, um dia, do emprego de seu tempo; ativo em seu objetivo, pois deverá ensinar pelo exemplo o amor do Senhor e do próximo.
O homem honesto aos olhos de Deus deve evitar com cuidado essas palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói as reputações e quase sempre mata o homem moral, cobrindo-o de ridículo. O homem honesto segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração ao menor germem de orgulho, de inveja, de ambição. Ele deve ser paciente e brando com aquele que o agride; deve perdoar do fundo de seu coração, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve amar seu Criador em todas as suas criaturas; deve, enfim, colocar em prática esse resumo tão conciso e tão grande dos deveres do homem: amar Deus sobre todas as coisas e seu próximo como a si mesmo.
Eis aí, minha cara criança, mais ou menos o que deve ser o homem honesto perante Deus. Pois bem! Teria eu sido tudo isso? Não. Confesso, sem corar, que faltei a muitos desses deveres; não tive a atividade que o homem deve ter; o esquecimento do Senhor impeliu-me a outros esquecimentos que, por não serem passíveis à lei humana, nem por isso deixam de ser atentatórias à lei de Deus. Sofri muito quando percebi; eis porque espero hoje, mas com a consoladora esperança na bandade de Deus que vê meu arrependimento. Fala, querida criança, repete-o aos que têm a consciência sobrecarregada; que eles cubram suas faltas à força de boas obras, e a misericórdia divina se deterá à superfície; seus olhos paternais contarão as expiações, e sua mão potente apagará as faltas.
Fonte: KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno - Segunda Parte - Exemplos - Capítulo III.
Da equipe IPEAK
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