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sábado, 22 de fevereiro de 2014

E se não houvesse Carnaval?

Por Riviane Damásio

Há vasta literatura difundida no meio espírita – e de literatura, classifico artigos, mini textos, opiniões e até livros – que estabelece um link transcendental entre Carnaval e Obsessão. A data fica estabelecida como a ocasião onde espíritos em variados graus de imperfeições e desajustes, vêm cair na folia terrestre, como se houvesse pouca chance de divertimento nos demais 361 dias do ano, no que tange à sintonia moral...

Diante de tanto estapafurdismo, Delinha Pinto, uma amiga espírita, constata: “Estou decidindo aqui com meus obsessores se vamos atrás do trio elétrico ou descansamos na praia, ou quem sabe as duas coisas ?”

Entre os risos que a alfinetada bem humorada da moça desperta, fica a reflexão: Se não forem para o trio, os “obsessores” irão dar um tempo no afã de aprontar? Isto remete a outro tema que ficará para outro momento, do paradigma da obsessão, e do quanto ela isenta o sujeito de seus próprios desejos, sua própria moral e seu arbítrio diante da vida... Mas isto fica para outra prosa.

A corrente dos “Obsessoistas” garante: Em nenhuma outra época do ano, ocorre tanto desvario. Isto supostamente provaria a ação implacável dos obsessores que vêm se divertir na folia.

E??? E se não houvesse Carnaval? E nos lugares onde não há Carnaval? E quanto chove canivete no carnaval? O que acontece com o enxame de obsessores que se prepararam com tanto afinco para a descida triunfal para o espaço de onde provavelmente nunca saíram: A orbe terrestre. E?

Penso que a forma como agimos (seja no Carnaval, na Páscoa, no Ano-novo, no Natal, no feriado da Independência, no baile Funk, no trote universitário, na balada, na Torcida Organizada daquele time...) reflete única e exclusivamente o que trazemos já, dentro de nós: nosso valores, nosso equilíbrio ou a falta dele. As ocasiões que vão acionar o gatilho do instinto/moralidade de cada um, são variadas e imprevisíveis.

Os lugares não formatam as pessoas, as pessoas que formatam os lugares e transformam os ambientes em salubres ou não. O que alguns querem é encalacrar no Espiritismo o conceito de pecado que vem de um atavismo religioso difícil de ser transposto. Mas música não é pecado, dança não é pecado, alegria não é pecado, aliás, não existe pecado não é, espíritas? 

É claro que se houver abuso a coisa desanda e vamos atrair má companhia espiritual, mas isto pode acontecer dentro de casa, bem longe das divinas baterias dos mestres carnavalescos. Acontece quando se espanca física ou moralmente um irmão, um pai, filho, mãe, mulher, marido, quando se comete pedofilia, quando se briga no trânsito, quando enfim, nos desviamos dos princípios mais nobres que deveriam nortear nossa evolução.

Enquanto acreditarmos que os lugares têm influência sobre nós e não que nós que criamos todas as nossas condições e assim podemos influenciar os lugares para o bem e para o mal, vamos continuar seguindo a cartilha do pecado e da salvação, do maniqueísmo cego e pouco reflexivo que nos faz eleger anjos e demônios como autores da nossa história terrena.

A cada tragédia que houver nesta data, haverá quem diga que foi o bloco do Umbral que veio sambar por aqui... E nos cabe refletir o seguinte: Os responsáveis sempre somos nós, inclusive por nossas influências espirituais, pois até por permiti-las, somos responsáveis.

E para não ser irredutível, o Carnaval pode sim, influenciar cada indivíduo de maneira particular. E não há generalizações. Assim como a ausência do sol pode ocasionar depressão em alguns e em outros não. Geralmente é o que o ser já trás por dentro que define o nível de influência. Sempre de dentro prá fora e não de fora para dentro.

E uma última consideração: Quem não se sente seguro das "tentações", melhor mesmo ficar em casa quietinho nesta época de folia, para não aumentar ainda mais a ficha crime dos pobres dos obsessores!

Bom carnaval, onde ele há e onde não há bom início de Março. E lembremos todos, foliões ou não, de cuidarmos de nós mesmos, de nossas tendências e nossas atitudes diárias, pois a pior fantasia que podemos vestir não é a do bloco carnavalesco, é a de vítima. 

* Texto originalmente publicado na página "Espiritismo Simples Expressão" do Facebook. Publicado com a devida autorização da autora.

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