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domingo, 18 de outubro de 2009

Espiritismo Religião - Para quê?

Por Alamar Régis Carvalho

Tenho visto discussões sobre este assunto, desde os primeiros tempos que entrei no Espiritismo, e gostaria de tecer algumas considerações, neste artigo.

Em princípio eu vejo esta como mais uma das discussões inúteis, que ocorrem em nosso movimento, todavia, considerando que muitos dos meus leitores me pedem uma opinião sobre o assunto, aqui estou.

Mas, inicialmente, quero que algo fique bem claro, ao meu leitor, aquele universo de pessoas que gostam de mim: Existem coisas que são verdades e outras que são opiniões pessoais do Alamar.

É bom repetir isto, de vez em quando, posto que tem muita gente aí fazendo coisas, tiradas das suas cabeças, porém colocando-as para o público como se fosse verdade espírita. Ocorre muito em alguns centros espíritas, aqueles que eu identifico como praticantes do “Espiritismo, à moda da casa”.

É-nos facultado o direito de emitir opiniões e até de colocar os nossos achismos, sim, sem problema nenhum. O perigo é a presunção de colocarmos as opiniões e, principalmente, os achismos como verdades, já que aí está um grande problema.

Eu vou escrever, sim, sobre esta questão do Espiritismo ser ou não ser religião, emitindo a minha opinião, e tudo farei para ser o máximo possível racional, para que você tire a sua conclusão.

Comecemos com algumas perguntas:

Por que o Espiritismo tem que ser religião?

Qual a vantagem que a nossa Doutrina leva, em ser considerada uma religião?

Teremos algum acréscimo virtuoso, por conta desse rótulo?

O fato de ser considerada religião, dará ao Espiritismo alguma credibilidade especial, honra e respeito?

Ele passará a ter algum valor, maior do que já tem, pelo fato de ser considerado religião?

E se não for considerado religião, a sua valorização ficará comprometida, de alguma forma?

Do ponto de vista moral, esse rótulo leva a ele algum mérito especial?

E do ponto de vista, espiritual, o que altera em ser ou não ser religião?

Eu já me fiz estas perguntas várias vezes e não encontrei nenhuma resposta relevante, que pudesse justificar isto que muitos espíritas dão tanto valor.
(...)
Alguns argumentam:

- “Esses que não consideram o Espiritismo como religião, certamente são os que querem retirar Jesus do Espiritismo”.

Mentira, não tem nada uma coisa a ver com outra. Argumentação extremamente idiota e uma tremenda bobagem.

Senão, questionemos:

Quem foi que determinou que o nome de Jesus, o respeito a Jesus e sobretudo a prática do comportamento conforme Jesus sugeriu, necessariamente, só pode ocorrer no ambiente religioso?

Pelo fato do mercado religioso ter se apoderado, indevidamente, do nome dele para servir como uma espécie de base para as suas rotulações, necessariamente temos que vincular o Espiritismo, também, com religião?

Gente! Jesus nunca pregou religião nenhuma, nunca mandou ninguém ser religioso, nunca mandou ninguém praticar ritual nenhum e muito menos obrigações. O que ele pregou foi o amor entre as criaturas.

Essa história de dizerem que determinados confrades querem retirar Jesus do Espiritismo, é de uma pobreza e fragilidade, sem tamanho, pois, só mesmo gente muito irracional para propor retirar da nossa doutrina, aquele ser que os Espíritos da Codificação nos indicaram como sendo o Maior Modelo e Guia, que devemos seguir.

Mas os argumentadores, favoráveis ao religiosismo espírita, também afirmam:

- “O Espiritismo sem o seu aspecto religioso, perde a sua força moral, o sentimento da Caridade, da Beneficência, da tolerância, da humildade... e do amor ao próximo”.

Ora bolas, pergunto mais uma vez:

O que é que determina que conduta moral só é factor de relevância, dentro da religião? Quem foi que disse que não se pode praticar Caridade, Beneficência, Indulgência, Tolerância, Humildade, Respeito e Amor ao Próximo fora da rotulação religiosa?

Será que eu não posso amar ao meu próximo, como a mim mesmo, sem religião?

Será que eu não posso adquirir a consciência de que só devo fazer ao meu próximo o que gostaria que fizessem comigo, sem religião?

Conheci um homem, chamado Raimundo Jinkings, em Belém do Pará. Ele era um dos homens mais dignos, honrados, honesto, trabalhador, decente e possuidor de um coração enorme, que já conheci, mas era ateu. Foi a minha primeira convivência mais próxima como um ateu, porque eu tinha muita curiosidade em saber como eles eram, já que fui criado com a absurda cultura de que todo ateu, necessariamente, era servo do tal Satanás, pessoa má, bandida, terrorista e bem bandida. Não vi nada disto nele e em vários outros ateus que conheci depois. É claro que tem ateu safado, também.

Será que todo o seu histórico de vida, numa conduta proba, digna e honesta não valeu nada, só porque teve ele o rótulo de ateu e não estava inserido no tal universo chamado cristão?

Gente, até o nome do próprio Deus, o Criador, a religião se apropriou, indevidamente. Chegaram a ponto de inventar a Teologia, uma matéria que não é única como a Física, a Matemática e outras exactas, visto que o seu conteúdo existe conforme a conveniência da religião que ministra o curso.

A matéria Teologia chega a ser ridícula. É formada conforme as conveniências da igreja que a ministra. O pessoal da igreja Universal, por exemplo, estuda Deus, conforme a cabeça do Edir Macedo.

Por exemplo: A igreja do Edir Macedo ministra um curso de Teologia, para os seus pastores, bispos e alguns obreiros, com diploma e tudo. Só que é uma teologia que define Deus, conforme a cabeça do Edir Macedo, atendendo a convicção dele, que acha moral um líder religioso se tornar bilionário, à custa da oferta do pobre que não tem dinheiro nem para as necessidades básicas da família. O R. R. Soares, também, está ministrando curso de Teologia, na faculdade que o seu milionário dinheiro construiu; mas com uma definição de Deus, conforme a sua cabeça, que é bem diferente da do Edir Macedo, visto que eles não se suportam.

Já a igreja Católica, também, tem a sua Teologia; mas conforme as suas conveniências, definindo Deus conforme aquilo que está na Bíblia, no Antigo Testamento, de acordo com a visão do Vaticano.

Não é uma matéria como a Física, que é única, em que Isaac Newton é um só, assim como Kepler, Lavoisier, Blaise Pascal, Coulomb, Thomas Alva Edson... e vários outros. Espaço é igual a velocidade vezes tempo, em qualquer lugar do mundo, onde ensina Física. Não teria como o Alamar inventar que espaço é igual ao dobro da velocidade dividido pela raiz quadrada do tempo.

Portanto, em religião não há coerência, em Espiritismo há.

Partamos de outro princípio, que é base para qualquer pessoa tirar conclusão lógica sobre isto:
A palavra RELIGIÃO significa RE-LIGAÇÃO.

Bom, se é re-ligação, há se perguntar: Religar quem, a quê?

A ideia RELIGIÃO foi inventada com base na estória de Adão, Eva e a Cobra que, segundo os adeptos do Criacionismo, o homem se desligou de Deus, a partir do pecado do casal, com aquela conversa do fruto proibido.

Falar nisto, você já percebeu que Deus mais miserável e insensato aquele, do Velho Testamento? Como é que o Velho pode se aborrecer tanto, por causa de uma maçã, ou seja lá qual tenha sido o fruto, a ponto de castigar a humanidade por toda a eternidade? Aqui perto de casa vende uns cestinhos, com 6 maçãs, por 5 reais.

Pois bem:

Já que houve o tal desligamento, precisaria de alguma coisa para proporcionar a religação, daí o surgimento da coisa chamada RELIGIÃO.

Partindo do princípio que o Espiritismo não endossa o Criacionismo, não tem nada a ver com a infantil estória de Adão, Eva e a Cobra, posto que tem a sua base no Evolucionismo; que diabo de religação é essa que os espíritas, também, têm que estar sujeitos, se eles não se desligaram de nada?

Se você chega em casa, do seu trabalho, à noite, e já encontra a luz da sala ligada, terá alguma possibilidade de religar aquela luz?

Como poderá ligar, se ela não está desligada e sim ligada?

Para quê, o espírita precisa de religião, gente? Pra ligar o quê?

Recorramos, agora, a outro argumento:

Certa ocasião, num debate, ao ser perguntado se o Espiritismo era religião, o próprio Allan Kardec deixou claro que ele não veio ao mundo com a proposta de ser religião, muito pelo contrário, veio se colocar como um instrumento para ser utilizado pela ciência e pelas religiões, mas que a intolerância religiosa fez com que ele fosse visto, pelo povo, como religião e muita gente passou a praticá-lo como religião.

Em outras obras, em épocas mais para frente, o próprio Kardec, talvez pressionado pelo público (que adora ter religião), começou a falar no tal tríplice aspecto, mas originalmente, assim que o Espiritismo foi lançado ao mundo, ele não era religião.

Religião, ao contrário de ser sintonia com Deus, nada mais é do que intolerância, proibições, obrigações, patrulhamento da vida das pessoas, submissão, exigências de obediências a dogmas, inclusive no movimento espírita, formação de sacerdócio organizado (no movimento espírita não existe a figura do Cardeal, do Bispo e dos Padres, que dão as ordens ao povo, mas existe algo, com outro nome, que são os Membros da Directoria da Casa, os Conselhos, que fazem exactamente a mesma coisa: Dão ordens, proíbem, censuram, boicotam, sabotam, levam expositores ao “index librorum prohibitorum”, jogam a imagem de confrades de encontro a todos os outros, portanto, qual a diferença?), tem os seus rituais, sim (Todos em silêncio, vamos à prece de abertura, depois a palestra, depois a prece de encerramento para agradecer a Jesus, depois o passe, depois a água fluidificada...), e ai de quem se atreva a querer mudar isto.

O centro espírita é, por muitos, considerado a "casa de Deus", quando esses proíbem as pessoas de sorrir, de ficarem alegres, tem que falar baixo, dizem que "o silêncio é uma prece" (desde quando, silêncio é prece?), cheio de "psiu" em tudo quanto é canto, se um casal chega abraçado, mandam que desabracem, sob a argumentação de que ali é "casa de respeito" (desde quando um abraço é manifestação de desrespeito?)... enfim, a postura e a máscara religiosa é coisa intragável, chata, insensata e inadmissível às pessoas que raciocinam.

Nós podemos, sim, fazer preces, nos sintonizar com Deus, com Jesus, com a Espiritualidade Maior e até com nossos irmãos desencarnados, recebendo e enviando energias de amor, sem necessariamente sermos religiosos.

Você, que frequenta centro, deve saber que em vários deles alguns expositores são PROIBIDOS de fazer palestra lá.

O que é essa proibição? A manifestação do aspecto religioso.

Mas proíbem, por quê?

Porque o expositor é bandido, costuma ensinar os frequentadores do centro a fumar maconha, cheirar cocaína, dar golpe nos outros ou se comportar com conduta moral comprometida?

Não, nada disto. É proibido simplesmente porque não pensa, exactamente, conforme a cabeça do “dono” da casa. Isto é religião.

Os meus artigos, por exemplo, são proibidíssimos até de ser comentados, em alguns centros espíritas, por conta desta minha “teimosia” em orientar as pessoas para raciocinarem, não se deixarem ser vaquinhas de presépio de nenhum “cardeal” de centro espírita, exercer os seus direitos de discordar, de questionar e de abrir a boca.

Isto incomoda, gente!!! Mas, incomoda por quê? Porque esta é a característica da religião, há séculos e séculos.

Se alguém sugerisse a retirada do aspecto MORAL do Espiritismo, aí sim, seria um tremendo absurdo, uma insanidade, porque descaracterizaria totalmente a Doutrina, já que a sua proposta básica é a transformação do ser, para melhor.

Mas eu falei, no início do artigo, que existem coisas que são VERDADES e coisas que são apenas opinião pessoal do escritor ou expositor.

Pois bem: Diante disto, vou fazer uma proposta, convidando VOCÊ MESMO a fazer a checagem. Embora eu saiba o que você vai encontrar e vai comprovar, não vou adiantar nada aqui, para não dizerem que influenciei o meu leitor.

Já que, com certeza, você conhece os espíritas da sua cidade, ou talvez do seu estado, sabendo, pela observação, que existe gente tranquila, gente calma, carinhosa, afectuosa, humilde e bondosa e com REAIS VALORES ESPIRITUAIS ELEVADOS, do mesmo jeito que existem, também, as pessoas chatas, inconvenientes, autoritárias, que adoram se meter na vida dos outros, metidas a dar ordens, a apontar dedo para a cara dos outros, no que chamo de CONFRADES PERTURBADOS, faça o seguinte:

Comece a fazer uma verificação, anotando num caderninho, em qual dos dois segmentos, no espírita religioso e no espírita não religioso, onde é que você vai encontrar mais confrades perturbados, do tipo que patrulha, proíbe, obriga, faz fofoca, intriga, censura, crítica, etc...

É impressionante, o que você vai ver. Você vai encontrar, em nosso movimento, pessoas que se ocupam, integralmente, numa interminável guerra contra obras, como as de Roustaing, Pietro Ubaldi e outras, chegando a ponto de odiarem os adeptos dessas obras. Não estou falando apenas no direito que todo mundo tem em discordar das obras, estou falando em ÓDIO, contra as obras.

Veja a qual segmento esse pessoal pertence.

Pronto, a partir daí você vai tirar a sua conclusão se o que o Alamar colocou aqui, é uma simples opinião sua, sem base nenhuma, ou se é algo que de fato tenha fundamento.

Quem é que vai querer ter a audácia de questionar a sua inteligência e dizer que você não viu o que viu?

Respeitemos, sem dúvida, o direito dos confrades e amigos de gostar de religião, de igreja, do ritual da rezação, do “o silêncio é uma prece”, do “muita paz, meu irmão”, do “estou melhor do que mereço”, do “eu adoro sofrer, porque sofrer evolui”, etc... Se, de repente, aparecer algum dirigente aí que resolva instituir a hóstia fluídica, em seu centro, que Deus o abençoe, e que os seus frequentadores comunguem em paz, absorvendo o “cordeiro de Deus”. Mas que temos o sagrado direito de opinião, isto ninguém tenha menor dúvida, e temos que exercê-lo.

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