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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Espiritualidade e Negócio

Por André - Blog de Espiritismo - Portugal

Conta-se nos Atos dos Apóstolos (Cap. 8, 9-24), que um mago chamado Simão quis comprar-lhes o dom de curar, para incorporar essa atributo na sua oferta comercial.

Os Apóstolos, que tinham todos os seus meios de sobrevivência, e a quem repugnava o comércio das coisas sagradas e espirituais, repeliram energicamente essa tentativa.

O ato de fazer comércio com a Espiritualidade ganhou o nome de simonia, em referência ao nome do suposto mago, cuja existência histórica é alvo de controvérsia, mas cuja história ilustra a incompatibilidade moral entre atividades de cunho espiritual e negócios.

Já Jesus - segundo contam os Evangelhos - tinha expulsado os mercadores do Templo, por considerar que o aproveitamento de um espaço sagrado como apelo ao negócio, não era digno.

No Antigo Testamento, quando da fuga dos Hebreus do Egito em busca da Terra Prometida, Moisés (Deuterónimo 18) proíbe que se consultem os mortos, como era hábito do povo que os mantinha cativo, devido aos abusos que tais práticas motivavam.

No Evangelho de Marcos (12:38/44) encontramos também estas palavras de Jesus:

“Guardai-vos dos escribas que gostam de circular de toga, de ser saudados nas praças públicas, e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes, mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces. Esses receberão condenação mais severa.”

Quando entramos numa catedral, quando visitamos o Vaticano, quando subimos ao mosteiros erguidos no alto das montanhas gregas, é difícil não ficarmos impressionados pela grandiosidade e pelo poder da fé que congregou pessoas e esforços em grandes realizações, em organizações poderosas que fizeram das religiões cristãs uma presença maioritária em grandes regiões do mundo.

Um não-cristão, desconhecedor da História do Cristianismo, facilmente poderia pensar que Jesus, quando esteve na Terra, teria sido um potentado, um Imperador. E no entanto, o humilde canteiro de Nazaré não tinha uma pedra onde deitar a cabeça a que pudesse chamar sua.

Os primeiros cristãos, os seguidores de Jesus, eram gente humilde, mas ainda assim NUNCA cobraram por palestras, curas, conselhos. Jesus de Nazaré nunca se proclamou Deus. Declarou-se filho de Deus, como outro homem qualquer. Jesus de Nazaré nunca prescreveu rituais ou sacramentos. Não fundou absolutamente nenhuma religião.

Jesus de Nazaré, aos 30 anos de idade, iniciou a sua missão de divulgar uma Boa Nova, que pode ser resumida no seu ensinamento maior: "Amar a Deus de todo o coração, e ao próximo como a nós mesmos".

Nós, espíritas, entendemos que qualquer pessoa que ponha e prática esse princípio pode ser considerada um cristão, mesmo que não o saiba.

Os cristãos dos três primeiros séculos, até o Cristianismo se ter tornado religião - e religião oficial do Império Romano - reuniam-se para praticar e estudar a mensagem cristã, e não para fazer rituais, erguer altares, administrar sacramentos ou empossar quaisquer líderes ou sacerdotes. Por diversas vezes temos referido este aspecto, e a simples leitura dos Actos dos Apóstolos pode confirmá-lo.

Há quem ache que as Igrejas organizadas e hierarquizadas que apareceram a partir do século III são uma evolução no Cristianismo. Na nossa óptica não é assim. Foram um recuo evolutivo, uma cedência aos hábitos pagãos politeístas das religiões mágicas. O exterior sobrepujou o interior. A letra que mata substituiu o espírito que vivifica. A primitiva ekklesia (assembléia dos que se juntam para orar, do Grego) deu lugar a Igrejas institucionais mais viradas para a Política do que para a Espiritualidade.

Na Itália, o Estado Papal chegou a ter vastos territórios e exércitos envolvidos em guerras e em conquistas, como podemos constar num breve exame da História da Itália.E episódios tão lamentáveis como a Inquisição, tiveram muitas vezes por detrás a ânsia da posse dos bens dos condenados.

Seria isso que Jesus de Nazaré pretendia? Visava ele o estabelecimento de um poder terreno? Estaria ele interessado em fundar organizações ricas e poderosas?

Não nos interpretem mal. Não pretendemos ser "proprietários" da mensagem cristã. Esta é a visão espírita: dar de graça o que de graça se recebeu. Espiritualidade e negócio não combinam. Jesus e os Apóstolos tinham os seus ofícios, e, quando viajavam, contavam com a hospitalidade alheia e pagavam-na, trabalhando com os anfitriões.

Não faz sentido, para nós, que alguém, por ser pobre, possa ficar privado de bens espirituais. Não faz sentido que alguém que professe uma dada religião tenha que pagar para ser baptizado, ou pelo enterro de um familiar ou por uma cerimónia em sua homenagem. E que alguém, por falta de dinheiro, tenha que estender a mão à caridade para pagar por esses bens, ou fique privado deles por não os poder pagar.

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