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quinta-feira, 3 de março de 2011

A Mediunidade Social

Por Eugenio Lara

Conforme a definição de Allan Kardec, o “Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações com o mundo corporal.” (1) Essas relações ocorrem através de um processo de comunicação entre espíritos desencarnados e encarnados, classificado pelo Espiritismo de mediunidade. Para o fundador do Espiritismo, mediunidade é a capacidade que todos os seres humanos possuem de sentir a influência dos seres desencarnados. “Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns.” (2)

Essa faculdade se manifesta nas relações interexistenciais e é a responsável pela interação entre os dois mundos, o físico e o extrafísico. A mediunidade surge com o próprio ser humano, é inerente, indissociável, um atributo intrínseco de nosso psiquismo, cujos registros existem desde a pré-história. Todas as grandes religiões da humanidade, em todas as civilizações da Antiguidade, em todos os livros sagrados, da Bíblia ao Alcorão, nos Vedas e nos Upanishades, no Bagavhad Gita, no Livro de Mórmon, no Livro dos Mortos do antigo Egito, dentre outros, observa-se a influência dos Espíritos no mundo corporal.

Com as pesquisas realizadas no século passado, hoje os estudiosos do Espiritismo admitem essa influência, não somente pela via natural, tradicional, na interação comunicacional entre um determinado Espírito e o médium, mas também através de aparelhos eletrônicos, a chamada Transcomunicação Instrumental (TCI), que ao lado da Transcomunicação Mediúnica (TCM), constituem um conjunto de fenômenos inseridos no universo do Processo de Comunicação Mediúnica (PCM).

Segundo a teoria desenvolvida por Kardec em suas experimentações, evidenciada pelas investigações metapsíquicas e parapsicológicas, essa interação entre as duas dimensões ocorre em função da existência de uma matéria sutil, o fluido cósmico universal, conceito semelhante ao prana dos orientais, mais adequadamente definido como energia cósmica, cujas propriedades ainda pouco conhecemos.

É através da manipulação dessa energia que os Espíritos podem influir no mundo corporal e, em contrapartida, os encarnados conseguem obter efeitos impressionantes quando manipulam a energia vital (uma modificação da energia cósmica), cuja fonte se encontra na Natureza, especialmente nos chamados médiuns de efeitos físicos, estabelecendo influenciações na dimensão extrafísica, paralela a nossa. Essa forma de energia, ainda pouco conhecida, “desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela.” (3)

Além da mediunidade, a reencarnação é um outro portal que permite a influência dos Espíritos no mundo físico. De modo que, segundo a teoria espírita, a mediunidade e a reencarnação são as duas únicas formas de que os Espíritos podem se servir para influir na matéria.

A influência espiritual não se dá somente nas relações interpessoais. Ela ocorre em nível coletivo, social, o que nos leva a pensar a mediunidade em parâmetros que extrapolam as relações localizadas, individuais, seja em um nível eticamente positivo (a inspiração), como também nos processos obsessivos. Allan Kardec admitiu a tese de que a obsessão pode se dar em nível coletivo. “O que um Espírito pode fazer com um indivíduo, vários Espíritos podem fazer com vários indivíduos simultaneamente, dando à obsessão um caráter epidêmico. Um legião de maus Espíritos pode invadir uma localidade, e aí manifestar-se de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que castigou a Judéia no tempo do Cristo.” (4)

MEDIUNIDADE E SOCIOLOGIA

O conceito de mediunidade, aplicada no campo sociológico, se alarga, se amplia ao ponto de termos de acrescentar um adjetivo, a fim de qualificar essa modalidade fenomenológica ainda desconsiderada pelas ciências sociais. Mediunidade social foi a expressão cunhada pelo filósofo portenho Humberto Mariotti (5) , em seu livro Parapsicologia e Materialismo Histórico (6) , a partir de estudos por ele realizados sobre a monumental obra Espiritismo Dialético, do também portenho Manuel S. Porteiro. (7)

Mariotti, amiúde mais poeta do que filósofo, vê na mediunidade social o campo propício para a manifestação superior de Espíritos extremamente elevados, o que em sua visionária concepção, daria origem ao que denominou de Espiritocracia. Segundo ele, a mediunidade social seria uma nova faculdade mediúnica, “por meio da qual os fenômenos sociais, políticos e econômicos serão elucidados pelos Grandes Seres, que se comunicarão com a alma do povo para expressar ao Homem e ao Cidadão o verdadeiro significado da existência e das questões sociais.” (8)

A Espiritocracia, conforme o conceito do eminente filósofo portenho, seria uma forma extremamente avançada de democracia mediúnica, onde os tribunos espíritas, através da mediunidade social, realizariam um movimento de intensa transformação ética e comportamental no seio da sociedade, cuja conceituação se constitui numa superação do que Allan Kardec denominou de Aristocracia Intelecto-Moral. (9)

Segundo Mariotti, “a História sempre foi movida pela mediunidade social”, que abrangerá “tanto a tribuna e o orador, como as massas. Em certos momentos, os povos desenvolvem um tipo de mediunidade coletiva, por meio da qual se produzem as revoluções históricas, como a francesa e a russa.” (10)

O Espiritismo, na sua visão, é o único espiritualismo “que possui caracteres mediúnicos; por conseguinte, é ele que deverá dirigir-se aos povos, para que desenvolvam suas qualidades psíquicas e metapsíquicas.” (11)

O pensador espírita francês Léon Denis é também um dos partidários da idéia de que o mundo dos Espíritos não é uma dimensão estática, estagnada e parada no tempo e no espaço. Para ele, “as almas dos mortos não são entidades vagas, indefinidas, como alguns acreditam, pois, atingindo as altas camadas da hierarquia espiritual, elas se convertem em poderes notáveis, em centros de atividades e de vida capazes de exercer uma ação sobre a humanidade terrestre.” (12)

“Pela sugestão magnética, podem influir sobre aquele que escolheram, fazendo nele germinar a idéia matriz e incitá-lo ao ato decisivo que vai coroar sua obra.

“É dessa forma que os invisíveis se envolvem nos atos dos vivos, para a concretização do bem e o cumprimento da justiça eterna”. (13)

Esse envolvimento ativo dos Espíritos, citado por Léon Denis, ocorre, por exemplo, durante os conflitos bélicos, nas guerras. Kardec incluiu essa questão em O Livro dos Espíritos:

541. Durante uma batalha, há Espíritos assistindo os combates e amparando cada um dos exércitos?
“Sim, e que lhes estimulam a coragem.”
“Os antigos figuravam os deuses tomando o partido deste ou daquele povo. Esses deuses eram simplesmente Espíritos representados por alegorias.”

542. Estando, numa guerra, a justiça sempre de um dos lados, como pode haver Espíritos que tomem o partido dos que se batem por uma causa injusta?
“Bem sabeis haver Espíritos que só se comprazem na discórdia e na destruição. Para esses, a guerra é a guerra. A justiça da causa pouco os preocupa.”

543. Podem alguns Espíritos influenciar o general na concepção de seus planos de campanha?
“Sem dúvida alguma. Podem influenciá-lo nesse sentido, como com relação a todas as concepções.”

544. Poderiam maus Espíritos suscitar-lhe planos errôneos com o fim de levá-lo à derrota?
“Podem; mas, não tem ele o livre-arbítrio? Se não tiver critério bastante para distinguir uma idéia falsa, sofrerá as conseqüências e melhor faria se obedecesse, em vez de comandar.”

545. Pode, alguma vez, o general ser guiado por uma espécie de dupla vista, por uma visão intuitiva, que lhe mostre de antemão o resultado de seus planos?
“Isso se dá amiúde com o homem de gênio. É o que ele chama inspiração e o que faz que obre com uma espécie de certeza. Essa inspiração lhe vem dos Espíritos que o dirigem, os quais se aproveitam das faculdades de que o vêem dotado.” (14)

A intervenção dos Espíritos no mundo corporal é um tema extremamente importante no Espiritismo, ao ponto de Kardec dedicar-lhe um capítulo inteiro em O Livro dos Espíritos , cujo mecanismo será analisado em sua obra posterior, O Livro dos Médiuns.

Essa intervenção pode ser oculta ou manifesta, quando evidenciada pelos fenômenos de efeitos físicos. Sofremos a influência dos Espíritos diariamente, a todo instante. Ela se dá em nível individual e coletivo, de modo espontâneo e desorganizado. Ou então, de forma planejada e dirigida, a partir de um projeto, de uma ação coordenada visando determinado objetivo.

O conflito de idéias, de classes, que ocorre em nosso mundo, também existe no mundo dos Espíritos. Por afinidade, grupos de pessoas se aglutinam em torno de uma idéia, formando partidos, movimentos, organizações voltadas para o bem-estar ou para o mal. O crime organizado não existe somente em nosso mundo. Da mesma forma que organizações humanitárias extrafísicas atuam de forma decisiva nos processos sociais, conforme descreve o Espírito André Luiz através da mediunidade de Chico Xavier.

A influência é mútua. Ela é interativa, e não se dá de forma tão unilateral como parece ser quando lemos essa outra pergunta de O Livro dos Espíritos:

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” (15)

Há quem sustente que nosso mundo é um reflexo do mundo dos Espíritos. Trata-se de uma concepção metafísica, mística, cujos fundamentos estão bem distantes da boa lógica e do bom senso. No entanto, são dois lados de uma mesma moeda. Vivemos em um grande ecossistema (físico e extrafísico) que interage, se interpenetra, mas que na forma, no formato, em sua construção, está sujeito ao nível evolutivo, ao progresso das idéias, ao desenvolvimento tecnológico, a tal ponto que poderíamos, inclusive, inverter a formulação contida nessa questão. Não seriam os homens que dirigem os Espíritos, muito mais do que eles imaginam? Afinal, quer queira ou quer não, a decisão humana, em última instância, estará sempre restrita ao exercício do livre-arbítrio.

JOANA D’ARC E OS ESPÍRITOS

Na história da humanidade, a trajetória de Joana d’Arc (1412-1431) é uma das mais emblemáticas quanto à intervenção dos Espíritos no processo social.

Camponesa simples, analfabeta, criada dentro do,s princípios do catolicismo, Joana começou a ouvir vozes e ter visões a partir dos 12 anos de idade. Na primeira visão, viu uma grande luz e em seguida a aparição de santos. O arcanjo São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida foram as entidades que lhe revelaram uma missão: a de libertar os franceses do jugo inglês.

Esse fato ocorreu durante a Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França, que se prolongou por mais de um século (1337 a 1450) e marca uma fase da transição entre o feudalismo e o capitalismo.

Sob a inspiração dos Espíritos, Joana d’Arc convence o rei Carlos VII de sua missão, que lhe outorga o título de “chefe de guerra”, isso com apenas 17 anos. Vestida com uma armadura de guerreiro, espada e um estandarte, lidera um exército de homens envolvidos por seu magnetismo, pela influência dos Espíritos e confiantes na vitória. Joana toma a cidade de Orléans (1929) e as principais bases dos inimigos ingleses. Foi o prenúncio da definitiva expulsão dos ingleses, que somente se daria em 1450, com a vitória final de Carlos VII e a retomada da Normandia.

Mesmo tendo sido ferida em Paris, traída, presa, julgada e queimada como herege pelos ingleses, como uma bruxa, Joana tornou-se um símbolo de liberdade e do patriotismo francês, algo que na época não era muito claro, pois a idéia de nação ainda não estava bem desenvolvida entre os franceses.

O filósofo espírita francês Léon Denis foi um grande admirador dessa formidável heroína. Joana d’Arc, Médium é uma de suas obras mais eloqüentes. Nela, o Druida de Lorena analisa a vida e o martírio dessa excepcional médium, segundo os princípios espíritas. “Joana d’Arc era, pois, um intermediário de dois mundos, um médium poderoso. Por isso foi martirizada, queimada. Tal, em regra, a sorte dos enviados do Alto”. (16)

Até hoje, os fenômenos de vidência, audiência, premonição e clarividência que faziam parte da vida de Joana, desde a pré-adolescência, não são aceitos pelos historiadores. Muito menos a decisiva intervenção dos Espíritos naquela delicada fase da história humana, pois tais acontecimentos contribuíram para que surgisse um contexto propício à vindoura Revolução Francesa, em 1789. (17)

Em uma reunião anual da Academia Americana de Neurologia, realizada em 1990, as pesquisadoras Lydia Bayne e Elizabeth Foote-Smith, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, concluíram que a inspiração, as vozes e as visões de Joana eram na verdade uma forma rara de epilepsia. Segundo essas perspicazes cientistas, o ataque epiléptico ao invés de se dar por meio de convulsões, manifesta-se na forma de delírios, de alucinações. Joana sofria então de Apoplexia Parcial Complexa. (18) Cabe lembrar que o médium Francisco Cândido Xavier também foi considerado um epilético por neurologistas e parapsicólogos de batina.

O fato é que essa humilde camponesa, influenciada por vozes e visões, comandou exércitos na Idade Média, numa época em que ser mulher e, ainda mais, guerreira, não era algo comum e muito bem aceito pela sociedade da época, tanto que foi queimada como bruxa. Somente em 1455 a corte eclesiástica reverteu o processo inquisitorial que a incriminou. De mulher-demônio, tornou-se santa, canonizada somente em 1909 pela mesma igreja que a queimou em praça pública. O caso Joana d’Arc até hoje intriga os historiadores. Nenhuma das diversas correntes da História deu conta dessa questão.

Allan Kardec também, como Denis, se interessou por Joana d’Arc. Chegou a comentar na Revista Espírita (1858) uma polêmica obra psicografada pela médium Ermance Dufaux, intitulada A Vida de Joana d’Arc (Ditada por Ela Mesma) (19) . A médium, que foi colaboradora do fundador do Espiritismo, recebeu a densa obra, repleta de informações históricas, com apenas 14 anos. “Sabemos que os incrédulos farão sempre mil e uma objeções; mas para nós, que vimos a médium operar, a origem do livro não pode ser posta em dúvida”, (20) afirmou Kardec a respeito do interessante livro, lançado em 1858.

RELEITURA DA HISTÓRIA

Mesmo com todas as dificuldades de comprovação do fenômeno mediúnico, a ação dos Espíritos no processo histórico é um componente fundamental para o entendimento de determinados fatos. A partir do conceito de mediunidade social é possível fazer uma releitura da história, amparada não somente na análise da fenomenologia mediúnica, como também em informações advindas dos Espíritos, segundo uma metodologia adequada, conforme os mesmos parâmetros que nortearam Allan Kardec em seus estudos sobre a mediunidade.

Segundo Léon Denis, a intervenção dos Espíritos ocorre de tempos em tempos na vida dos povos, “como nos tempos de Joana d’Arc. As mais das vezes, porém, a ação que exercem permanece obscura, primeiro para salvaguarda da liberdade humana, e, sobretudo, porque, se é indubitável que elas desejam ser conhecidas, não menos certo é quererem que o homem se esforce e se faça apto a conhecê-las.”

E prossegue o filósofo: “Os grandes fatos da História, devidos à intervenção delas, são comparáveis às aberturas que se produzem de súbito entre as nuvens, quando o tempo está sombrio, para nos mostrarem o céu profundo, luminoso, infinito, claros esses que, entretanto, logo se cerram, porque o homem ainda não se acha bastante maduro para apanhar e compreender os mistérios da vida superior.” (21)

Afirma Manuel S. Porteiro que “desde os séculos mais antigos, os mortos têm chamado a atenção dos vivos e já era hora de a ciência dar-se por advertida. Por absurdos ou inverossímeis que pareçam os fenômenos espíritas, não deixam, no entanto, de serem certos e naturais como toda outra manifestação da Natureza e do Espírito que a anima.” “O demônio de Sócrates, a diva de Plotino, a ninfa de Numa, deixaram de ser personagens mitológicos para converterem-se, à luz do Espiritismo, em gênios protetores ou em espíritos vinculados à vida de certos homens, por afetos ou outras diversas razões, capazes, em certos casos, de ser vistos e ainda fotografados, como a Katie King de William Crookes, a Estela de Livermore, a Yolanda de Elisabeth D'Espérance, o Joey de Alexandre Aksakof e o Vicente do dr. Imoda.” (22)

Há uma infinidade de situações provocadas pelos Espíritos que ainda não foram devidamente analisadas pela historiografia oficial. A epopéia do Êxodo, com a libertação do povo judeu por Moisés, sob a inspiração e ação extrafísica de Jeová, o espírito familiar protetor dos hebreus, adotado pelo cristianismo como um Deus universal — o “Senhor dos Exércitos”, que fulminou Sodoma e Gomorra e eventualmente enviava anjos (Espíritos) aos patriarcas, como aquele que lutou corporalmente com Jacó e o que ajudou Tobias a curar seu pai da cegueira, até o evento mediúnico do Pentecostes, um marco na propagação do cristianismo, registrado no Atos dos Apóstolos.

A ação de Krishna e de Espíritos nas tradições descritas no MahaBarata; na cultura céltica, cujos guerreiros eram respeitados pela sua coragem, pela sua fúria. Eles não temiam a morte (os celtas eram reencarnacionistas) e contavam com o auxílio dos guerreiros celtas desencarnados, evocados pelo druida, um mago, poderoso médium iniciado nos mistérios dos fenômenos da natureza.

A Cabana do Pai Tomás, célebre obra escrita pela norte-americana Harriet Beecher Stowe, em 1852, foi uma contundente denúncia da escravatura e serviu como fonte de inspiração para o abolicionismo norte-americano, que culminou com a Guerra da Secessão. Essa obra, um dos grandes clássicos da literatura mundial, foi considerada pelo grande escritor russo Leon Tolstoi como “uma das grandes produções da mente humana”. Pelos relatos da escritora, a obra foi obtida em transe mediúnico, nos moldes semelhantes às obras recebidas pelo médium Chico Xavier. (23) Alguns anos depois o célebre presidente dos Estados Unidos, Abraão Lincoln, realizaria sessões mediúnicas na Casa Branca, fato esse que até hoje não foi devidamente esclarecido. (24)

Não poderia ficar de fora o que Arthur Conan Doyle chamou de “invasão organizada”. Num espaço de dez anos (de 1848 a 1858) ocorreu uma ação intensa dos Espíritos por meio de fenômenos de poltergeist, raps, materializações etc., em todo o mundo, notadamente na Europa e América do Norte. A América Latina também não passou incólume. No Brasil, principalmente no Ceará, a imprensa registrou o que se convencionou chamar de mesas girantes. De 31 de março de 1848, quando se iniciaram os célebres fenômenos de Hydesville com as irmãs Fox, nos Estados Unidos, até a fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, o mundo foi invadido pela ação dos Espíritos, em um processo antecipado pelas revelações pessoais do profeta e clarividente sueco Emmanuel Swedenborg, pelo sensitivo escocês Edward Irving e os poderes psíquicos do norte-americano Andrew Jackson Davis.

Enfim, muitos são os fatos históricos a espera de uma releitura à luz do conceito de mediunidade social e dos princípios espíritas. A evolução do ser humano, da sociedade e da história passa necessariamente pela interação entre o físico e o extrafísico, através do fenômeno mediúnico e do fenômeno palingenésico.

Notas

(1) KARDEC, Allan, O Que é o Espiritismo, preâmbulo in Iniciação Espírita, Edicel, 5ª edição, 1979, trad. Joaquim da Silva Sampaio Lobo – São Paulo-SP (Grifo meu).

(2) KARDEC, Allan, O Livro dos Médiuns, cap. XIV, item 159, pg. 203, FEB, 62ª edição, 1986, trad. J. Herculano Pires – Rio de Janeiro-RJ.

(3) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 1ª parte, cap. II, q. 27, FEB, 76ª edição, 1995, trad. Guillon Ribeiro – Rio de Janeiro-RJ.

(4) KARDEC, Allan, Obras Póstumas, 1ª parte, III. A Criação, § 7º Da Obsessão e da Possessão, pág. 45, Edicel, 2ª edição, 1979, trad. Sylvia Mele Pereira da Silva – São Paulo-SP.
Dentro desse critério, podemos considerar o nazismo como um movimento de histeria coletiva, uma obsessão social.

(5) Humberto Mariotti (1905-1982), poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita portenho. Foi presidente da Confederação Espírita Argentina (em 1935/1937 e 1963/1967) e também vice-presidente da Confederação Espírita Pan-Americana (Cepa) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras: Dialéctica y Metapsíquica; El Alma de los Animales a Luz de la Filosofia Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano Pires; Victor Hugo, el Poeta del Más Allá; Los Ideais Espíritas en la Sociedad Moderna.

(6) Essa obra, editada na Argentina em 1963, foi traduzida pelo filósofo e jornalista J. Herculano Pires nos anos 60 com o nome O Homem e a Sociedade Numa Nova Civilização (Edicel) e relançada com o título original em 1983 pela mesma editora. Ela foi lançada inicialmente no Brasil em plena ditadura militar, daí a mudança estratégica do nome da obra, a fim de evitar problemas com a censura e a repressão ideológica.

(7) Manuel S. Porteiro (1881-1936), pensador espírita argentino, considerado o fundador da sociologia espírita. Foi presidente da Confederação Espírita Argentina (1934-1935). Escreveu os livros Espiritismo Dialectico (disponível gratuitamente no site PENSE – Pensamento Social Espírita - www.viasantos.com/pense em edição virtual e lançada no Brasil por iniciativa do Centro Espírita José Barroso em 2002, com tradução de José Rodrigues), Concepto Espirita de la Sociologia, Origen de las Ideas Morales e Ama y Espera.

(8) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico, 2ª parte, cap. XIX, Edicel, 2ª edição, 1983, trad. J. Herculano Pires – São Paulo-SP.

(9) Ver Obras Póstumas, Allan Kardec, 1ª parte, As
Aristocracias.

(10) MARIOTTI, Humberto, Parapsicologia e Materialismo Histórico, 2ª parte, cap. XIX, pág. 151.

(11) MARIOTTI, Humberto, Ibidem.

(12) DENIS, Léon, O Mundo Invisível e a Guerra, cap. II, pág. 21, Ed. CELD, 1ª edição, 1995, trad. José Jorge – Rio de Janeiro-RJ.

(13) DENIS, Léon, Ibidem.

(14) KARDEC, Allan, O Livro dos Espíritos, 2ª parte, cap. IX.

(15) KARDEC, Allan, Ibidem.

(16) DENIS, Léon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, pág. 67, 11ª edição, 1984, trad. Guillon Ribeiro, ed. FEB.

(17) A Revolução Gloriosa, na Inglaterra e a Revolução Norte-Americana também influenciaram decisivamente os ideólogos da Revolução Francesa.

(18) Joana d’Arc Ganha Diagnóstico, in O Estado de S. Paulo, 3/5/1990.

(19) Essa obra foi lançada no Brasil pela Editora do Lar da Família Universal (LFU) e pela DPL.

(20) KARDEC, Allan, Revista Espírita, 1858, pág. 30, trad. Júlio Abreu Filho, Edicel.

(21) DENIS, Leon, Joana d’Arc Médium, cap. IV, págs. 64 e 65.

(22) PORTEIRO, Manuel S., Espiritismo Dialético, pág. 5, Ed. PENSE, trad. José Rodrigues. In www.viasantos.com/pense/livros

(23) MARIOTTI, Humberto, Victor Hugo, Espírita, item 15, Ed. Correio Fraterno, 1ª edição, 1989, trad. Wilson Garcia, São Bernardo do Campo-SP.

(24) MAYNARD, Nettie Colburn, Sessões Espíritas na Casa Branca, 2ª edição, 1981, Ed. O Clarim, trad. Wallace Leal V. Rodrigues, Matão-SP.

Eugenio Lara, arquiteto e jornalista, é membro-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc), do Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS) e um dos coordenadores do site Pense - Pensamento Social Espírita.

Retirado do site PENSE - http://www.viasantos.com/pense/arquivo/1126.html

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