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sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Espiritismo está cientificamente demonstrado

Por Egydio Régis

De vez em quando voltamos a ler os velhos compêndios que registram os notáveis trabalhos realizados por homens de valor histórico, a respeito dos fenômenos espíritas.

É uma pena que nós, os espíritas, não valorizamos como deveríamos, um verdadeiro arsenal de provas irrefutáveis sobre a realidade desses fenômenos. Ao invés de divulgá-los maciçamente, de modo a chamar a atenção dos pesquisadores modernos, escondemos esse tesouro sob uma pretensa e arrogante posição de que esses trabalhos não têm valor científico, porque não foram aplicados métodos e recursos tecnológicos que hoje são exigidos pelos cartesianos de plantão. Quem teve a coragem de afirmar que o espiritismo está cientificamente provado? Algum fanático, maluco ou talvez analfabeto?

William Crookes, célebre químico e físico inglês, foi uma das mais vigorosas e fecundas mentalidades contemporâneas. Nascido em Londres, em 1832, faleceu na mesma cidade em 4 de abril de 1919, tendo sido nomeado em primeiro escrutínio, em 1863, membro da “Real Sociedade de Londres”. Aos 20 anos, escreveu trabalhos de grande mérito sobre a luz polarizada; pouco tempo depois descreveu detalhadamente o espectroscópio, publicando seus estudos sobre os espectros solar e terrestre. Publicou outros sobre as propriedades ópticas das opalas e deu a conhecer um microscópio espectral; ocupou-se da densidade da luz e a física lhe é devedora de um fotômetro de polarização. Astrônomo do “Observatório de Radcliffe”, em Oxford, seus trabalhos sobre meteorologia são notáveis e não o são menos os de fotografias celestes.

Em 1855, quando apenas tinha 23 anos, fez trabalhos fotográficos sobre a luz, então reputados os melhores, honrando-o a “Real Sociedade de Londres” com um prêmio em dinheiro, como estímulo para prosseguir os estudos. Em 1879, expôs no “Bakerian Lecture”, o trabalho sobre a “Iluminação de linhas de pressão molecular e trajetória das moléculas”, dando-nos a conhecer um estado da matéria de tenuidade excessiva e do qual apenas se podia formar ideia.

Escreveu, além disso, sobre medicina, higiene e o tratamento da peste bovina, popularizando o uso do ácido fênico; e várias outras obras, entre as quais “Experiments or Repulsion from Radiation”, “Vacuum Molecular Physics” e “Select Methods of Chemical Analisys”. Publicou um tratado de análise química, que é hoje clássico; descobriu o processo de amalgamação com o sódio. Descobriu o “thalium”, novo corpo simples (elemento químico) levando cerca de oito anos a investigar seu peso atômico. Seus estudos sobre o quarto estado da matéria ou estado radiante e o radiômetro, bastariam para dar-lhe a reputação de sábio, que com tanta justiça lhe pertence. Foi presidente da “Royal Society” durante o peíodo de 1913-1915.” (Afinal Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição - Edicel).

Reproduzindo acima uma breve biografia de William Crookes, quisemos registrar que o homem que teve a dignidade de afirmar em pleno Congresso da Associação Britânica, em 1898: “Trinta anos se passaram desde que publiquei as atas das experiências tendentes a mostrar que, fora dos nossos conhecimentos científicos, existe uma força posta em atividade por uma inteligência diferente da inteligência comum a todos os mortais. Nada tenho de que me retratar em relação a essas experiências e mantenho as minhas verificações já publicadas, podendo a elas acrescentar muita coisa.” E sentencia, do alto de sua sabedoria e respeitável importância na história da ciência: “O espiritismo está cientificamente demonstrado” (Trechos citados por Pedro Granja, extraídos da Revue Spirite de fevereiro de 1899 e de “No Invisível” de Léon Denis). Ele não era nenhum zé ninguém, nenhum pseudocientista ou algum ficcionista maluco. Quem, no mundo científico de ontem ou de hoje, tem maior gabarito para desmenti-lo? Quem estudou, pesquisou, procurou reproduzir os mesmos fenômenos e comprovou que os fenômenos não existiam?

Todos aqueles que tentaram reduzir os fenômenos a embustes, ilusões etc. nunca fizeram trabalhos sérios de pesquisa. Porque os registros históricos demonstram isso. Grandes sábios dos séculos 19 e 20, que se puseram a pesquisar os chamados fenômenos espíritas, mesmo com o intuito de “desmascará-los”, acabaram por se convencer da sua realidade. E, o que é mais importante, não se furtaram em dar publicamente seu testemunho. São exemplos notáveis: Charles Richet, Cesare Lombroso, Sir Oliver Lodge, Frank Podmore, Benjamin Franklin, Thomas Alva Edison, Karl du Prel, Frederich Zölner, Alfred Russel Wallace e tantos outros. Somam-se a mais de uma centena a quantidade de autores que pesquisaram e escreveram sobre os fenômenos espíritas.

Partindo de uma missão de que foi incumbido pela Royal Society de Londres, por ser ele o mais ilustre dos componentes dessa entidade científica, William Crookes deveria pulverizar definitivamente os chamados fenômenos de origem extrafísico, em nome de todo o mundo científico.

Três anos depois das pesquisas com o espírito de Katie King, contrariando todas as expectativas de seus pares, da imprensa, dos religiosos e dos materialistas, entrega seu relatório à Society, afirmando categoricamente que os fenômenos investigados são verdadeiros. A repercussão foi, evidentemente, a mais infame possível. Tentaram ridicularizar e até inventaram uma paixão platônica do sábio pela médium/espírito. O curioso é que nada conseguiu abalar o prestígio de Crookes, apesar de a Society ter arquivado o relatório e sobre ele ter deitado um silêncio absoluto. Não houve, ao que consta, nenhum desmentido ou pronunciamento desautorizando o trabalho do pesquisador. William Crookes continuou respeitado como cientista e realizou seus notáveis trabalhos após esse episódio.

Charles Richet, fisiologista francês, prêmio Nobel de 1913, estudou e pesquisou os chamados fenômenos espíritas, com o objetivo de reduzi-los a fenômenos meramente anímicos, isto é, produzidos pelo próprio indivíduo sem interferência de agentes externos ocultos. Fundador da Metapsíquica, em sua obra “Tratado de Metapsíquica”, comentando as pesquisas de Crookes afirmou: “Não se pode distinguir o Crookes do thalium e dos raios catódicos, do Crookes de Katie King”.

Mas, será que as pesquisas de Crookes foram realmente conduzidas com todo o rigor científico? O que ele era? Um poeta, um filósofo? Era cientista, logo, como procederia um cientista nessas investigações? Vejamos alguns detalhes do seu trabalho com a médium Florence Cook e com o espírito de Katie King, extraídos de seu livro “Fatos Espíritas”:

“A médium era a jovem Florence Cook, de 16 anos, baixa, franzina, trigueira, de cabelos quase pretos e de saúde muito delicada. A aparição tomava o nome de Katie King e revela-se, em plena luz, sob formas de uma mulher formosa, alta, de tez branca e cabelos loiros, em parte cobertos com uma espécie de turbante de cor branca que lhe servia de complemento às roupagens habituais. A médium trajava-se quase sempre de veludo preto.”

Enquanto a aparição passeia livremente pela reluzente sala de jantar, apoiada ao braço de Crookes, conversando com este, com os filhos, esposa e demais assistentes e convidados, o médium rigorosamente controlado, jaz no quarto contíguo às escuras, em estado letárgico, deitado sobre um sofá e separado da sala de jantar por uma cortina ou reposteiro. Em algumas experiências, por exemplo, o médium estava isolado, fechado num círculo elétrico cujas variações de resistência eram indicadas pelo galvanômetro que se encontrava junto dos experimentadores. Outras vezes se empregavam delicados aparelhos, balanças sensivelmente equilibradas, ligadas a alavancas com mecanismo de relojoaria, controladores elétricos idealizados por Cromwell Varley e outros. Certo dia, quando a materialização de Katie King surgiu, Crookes pediu-lhe inesperadamente, que metesse as mãos numa tina preparada com mercúrio onde havia enérgico corante. O galvanômetro, que indicava uma diminuição na resistência do circuito, à medida que o espírito se formava, não sofreu qualquer desvio pela imersão das mãos deste na tina com mercúrio, nem as mãos do médium apresentaram os mais leves vestígios do corante. Observou-se, contudo, que em várias partes do corpo do médium havia manchas do corante, o que comprova que a materialização é efetuada também à custa do seu corpo, hipótese esta perfeitamente admitida pela diminuição de peso que ele experimenta durante a produção de tais fenômenos e pela diminuição da resistência do circuito.” (Afinal Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição – Edicel - Grifos nossos.).

“Na semana que precedeu à desaparição definitiva de Katie King, o que se realizou a 21 de março de 1874, Katie deu sessões em casa de Crookes, quase todas as noites, a fim de permitir fotografá-la à luz artificial. Cinco máquinas, colocadas em diversos ângulos da sala, foram simultaneamente empregadas para fotografar Katie King no momento em que fazia a aparição. O preparo e revelação das chapas eram cuidadas pelo próprio Crookes, auxiliado por um assistente. Desta forma pôde obter quinze chapas, por noite, perfazendo ao todo quarenta e quatro negativos, alguns excelentes e outros regulares ou medíocres. (Grifos nossos) De todos os presentes, o único que podia estar de pé e andar por onde lhe aprouvesse era Crookes; os demais deviam permanecer sentados. Seguia-a, diz Crookes, muitas vezes para o gabinete e vi por várias vezes Katie e o seu médium simultaneamente; o mais das vezes, porém, só encontrava o médium em estado letárgico; Katie e o seu fato branco haviam desaparecido. Frequentemente vezes levantei um canto da cortina, quando Katie estava de pé junto dela. As sete ou oito pessoas que assistiam às experiências viram, então, nitidamente e ao mesmo tempo, Katie e o médium sob o jato brilhante da luz elétrica. Tenho, afirmou Crookes, uma prova fotográfica de Katie King e Florence Cook (o médium) em grupo.”

Finalizando este rápido repasse sobre as experiências de Crookes, descrevemos o episódio da despedida de Katie, fato capital para provar que médium e espírito eram realmente duas personalidades distintas: “Terminadas as instruções, Katie convidou-me a entrar no gabinete com ela, permitindo-me ficar até o fim. Cerrada a cortina, conversou comigo algum tempo; depois atravessou a sala para ir ter com o médium, que jazia inanimado. Inclinando-se sobre ele, Katie tocou-o e disse-lhe: — Desperta, Florence! desperta! É mister que eu te deixe agora! Miss Cook acordou e, lacrimosa, suplicou a Katie King que ficasse mais algum tempo. — Não posso, querida, a minha missão está cumprida. Durante alguns minutos conversaram juntas , até que as lágrimas de Miss Cook lhe embargaram a voz. Seguindo as instruções de Katie, corri a segurar Miss Cook, prestes a cair, que soluçava convulsivamente. Olhei a seguir em torno, mas a linda Katie King e o seu vestido branco haviam desaparecido “ (William Crookes – Fatos Espíritas - editora FEB).

Eloquente e arrasador, como prova inconteste da materialização de Katie, é o depoimento de Florence Marryat, autora inglesa que escreveu “ There is no Death! e que com Crookes assistiu a última sessão em que Katie se despediu: “Nessa noite, Katie saiu do gabinete e veio sentar-se nos meus joelhos, proporcionado-me o ensejo de verificar o quanto era mais graciosa e mais pesada que seu médium. Mas como em certas ocasiões ela se assemelhava a este último, eu lho observava, e ela, encolhendo os ombros, respondeu:

— Sei disso, mas não posso impedi-lo. De qualquer modo, fui bem mais formosa na minha última existência terrena. Logo mais provar-te-ei. Reentrou no gabinete: depois espreitou, às furtadelas, pela fenda das cortinas, pedindo que me aproximasse. Assim fiz e ela me conduziu para o seu interior. Observei que os reposteiros eram muito transparentes, de modo que permitiam, à luz a gás, iluminar suficientemente o interior. O médium jazia sobre um acolchoado, imerso em profundo sono e Katie desejava ansiosamente que me assegurasse de sua identidade, insistindo para que a tocasse, apalpasse, apertasse as mãos e lhe puxasse os cabelos. Em seguida, perguntou:

— Estás bem certo de encontrar-te em presença de meu médium? Respondi-lhe que disso estava absolutamente convicto e ela assim continuou: — Agora, observa-me. Observa o meu rosto, tal qual fui em vida. Dirigi o olhar para a forma que, momentos antes estivera sentada nos meus joelhos e, extremamente extasiado, distingui o corpo de uma jovem formosíssima, de grandes olhos azuis ou cinzentos, pele alvíssima, abundante cabeleira dourada. Katie parecia enlevada com minha surpresa e sorria, dizendo: — Porventura não sou mais bonita do que minha Florence (o médium)? Levantou-se a seguir, apanhou uma tesoura sobre a mesa, cortou uma madeixa de seus cabelos e outra dos do médium e entregou-mas. Ainda as possuo. Os cabelos de Florence são quase negros e parecem macios como seda; porém, os de Katie são de um vermelho dourado e áspero ao tato.” (Afinal Quem Somos? de Pedro Granja - 9ª edição – Edicel - Grifos nossos.).

Como podemos ver, não é um bando de malucos, iludidos, que deram seu testemunho baseado em pesquisas longas, sérias e incontestáveis. Como ainda afirma o próprio Crookes: “Supor que uma espécie de loucura ou de ilusão domina subitamente um grupo de pessoas inteligentes e sensatas, que estão de acordo sobre as menores particularidades e detalhes dos fatos, parece-me mais incrível do que os próprios fatos que atestam.”

Por tudo isso, não temos a menor dúvida em admitir tranquilamente que está mais do que provado científicamente a existência do espírito independente da matéria , bem como da sua sobrevivência à morte do corpo. Por que os espíritas, que não devem ter nenhuma dúvida a respeito, porque então não seriam espíritas, estão preocupados com os outros? Por que preocuparmo-nos com o reconhecimento dos meios científicos atuais? Ora eles ignoram o trabalho de seus colegas dos séculos passados porque querem. Após os grandes conflitos mundiais, a primeira e a segunda guerra, praticamente silenciaram as vozes do além. A comunidade científica dirigiu seus interesses para outras prioridades, quem sabe muito mais importante para a Humanidade no momento, do que a comprovação do espírito.Necessário se fez, desenvolver a tecnologia, conhecer mais profundamente o corpo humano de modo a descobrir meios de cura e melhora de vida. Importante avançar os meios de comunicação, integrar a Humanidade de todo o globo. O que resolveria proclamar agora a descoberta do espírito? Só para satisfazer o ego dos espíritas?

Hoje, sem dúvida, temos meios tecnológicos infinitamente mais avançados para a realização de um grande trabalho de pesquisa sobre o espírito. E isso virá a seu tempo, talvez mais rápido do que se possa imaginar.Mas é preciso pensar qual a utilidade disso, nos dias atuais. Para a economia mundial, não há maior interesse em investir nessa pesquisa, porque não há retorno , não há lucro. O que dá lucro, é investir na indústria farmacêutica, na indústria da informática,das telecomunicações, nos transportes, etc.Como convencer os grandes capitalistas a investir em alguma coisa que não lhes dará retorno material? Os cientistas de hoje estão engajados e financiados para o desenvolvimento tecnológico e para os lucros industriais. Alguns físicos, químicos e de outras áreas de projeção, não se arriscam em trabalhos que não lhe garantam publicação e prêmio Nobel e, infelizmente, esse negócio de espírito é coisa para religiosos ou místicos.

Leio alguns artigos e escutam alguns jovens espíritas formados em áreas de ciências exatas, choramingando suas mágoas porque os Centros Espíritas não abrem espaço para pesquisas sobre o espírito.Desejam descobrir técnicas e métodos científicos atuais, desprezando o que já foi realizado, por dois motivos, segundo minha opinião: nunca se aprofundaram nos trabalhos já efetuados e citados aqui; dão mais ouvido aos Quevedos da vida, aos cientístas materialistas, professores cínicos, acomodados ou submissos ao ranço religioso. É preciso, pois, ter opinião própria, ter coragem de enfrentar os “donos da verdade”, retomando o trabalho dos antigos, publicando-os, estendendo-os. Procurem médiuns de efeitos físicos e de materialização, independentemente de centro espírita e façam suas experiências utilizando os meios tecnológicos modernos. De nada adianta acusar e ficar de braços cruzados. Quer queiram ou não, a única forma de provar a existência do espírito é através da materialização, já exaustivamente realizada por sábios do mais alto gabarito.

Termino este modesto trabalho para que sirva de exemplo aos que temem assumir suas convicções, reproduzindo a magistral resposta de Sir William Crookes aos repórteres que o entrevistaram, perguntando se ele ainda admitia a possibilidade dos fenômenos, muitos anos depois das pesquisas e no auge de seu prestígio: “Mas eu não disse que esses fenômenos eram possíveis; o que eu disse e afirmo é que são verdadeiros”.

Egydio Regis é orador espírita e estudioso do espiritismo. Foi presidente da União Municipal Espírita de Santos, fundador da Associação dos Centros Espíritas da Baixada Santista e presidente do Centro Espírita Allan Kardec, de Santos. Atualmente mantém uma coluna sobre a Revista Espírita no jornal de cultura espírita Abertura, de Santos-SP.

E-mail: egyregis@uol.com.br

Retirado do site PENSE - http://viasantos.com/pense/arquivo/1243.html

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