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sábado, 17 de agosto de 2013

A hora é mesmo extrema!

Por Sergio Aleixo

Mais equívocos em traduções dos textos de Kardec, e agora, salvo exceções indicadas, todos em edições L.A.K.E. ou F.E.E.S.P., por J. Herculano Pires...[1]

1 - N. 189 de O Livro dos Espíritos. Onde se lê: “Em sua origem, os Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmos e de seus atos”, leia-se, na verdade: “Em sua origem, os Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, mal possuindo consciência de si mesmos e de seus atos”. No francês: “A leur origine, les Esprits n'ont qu'une existence instinctive et ont à peine conscience d'eux-mêmes et de leurs actes”. Uma coisa é “mal possuir consciência de si”, outra, “possuir apenas a consciência de si”.

2 - N. 673 de O Livro dos Espíritos. Onde se lê: “Já vos disse, por isso mesmo, que Deus desaprova as cerimônias que fazeis para as vossas preces, pois há muito dinheiro que poderia ser empregado mais utilmente”, leia-se, na verdade: “Não quero dizer com isto que Deus desaprove as cerimônias que praticais para a ele orardes, mas muito dinheiro se gasta aí que poderia ser mais utilmente empregado”. No francês: “Je ne dis pas pour cela que Dieu désapprouve les cérémonies que vous faites pour le prier, mais il y a beaucoup d'argent qui pourrait être employé plus utilement qu'il ne l'est”. Uma coisa é Deus condenar as cerimônias, outra, que não as condene.

3 - N. 11 do cap. XXVIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Onde se lê: “Além do nosso anjo guardião, que é sempre um Espírito superior a nós, temos os Espíritos protetores”, leia-se, na verdade: “Além do nosso anjo guardião, que é sempre um Espírito superior, temos os Espíritos protetores”. No original: “Outre notre ange gardien, qui est toujours un Esprit supérieur, nous avons des Esprits protecteurs”. Esta inserção: “a nós”, só se verifica a partir da 59.ª edição da L.A.K.E., de 2003, ausente nas anteriores e, por exemplo, na 14.ª da F.E.E.S.P., de 1998, o que isenta, evidentemente, Herculano Pires. Uma coisa é “um Espírito superior”, outra, “um Espírito superior a nós”, sobretudo num contexto especialíssimo, em que Kardec define os tipos e elevações dos espíritos que se nos ligam, adiante esclarecendo de modo a não restar dúvida: “Deus nos deu um guia principal e superior em nosso anjo guardião, e guias secundários nos nossos Espíritos protetores e familiares”. No original: “Dieu nous a donné un guide principal et supérieur dans notre ange gardien, et des guides secondaires dans nos Esprits protecteurs et familiers”. Portanto, todo anjo guardião é espírito protetor, todavia nem todo espírito protetor é anjo guardião, precisamente porque este, como assegura o mestre, é sempre um Espírito superior.

4 - N. 23 do cap. IV de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Onde se lê: “4.º) a conservação da individualidade, com o progresso infinito, segundo a doutrina espírita”, leia-se, na verdade: “4.º a individualidade com progressão indefinida (ou indefinita), segundo a doutrina espírita”. No original: “4.º l'individualité avec progression indéfinie, selon la doctrine spirite”; portanto, progression indéfinie, não infinie. Uma coisa é que o progresso da alma seja indefinito, outra, que o seja infinito. Kardec, aliás, postula que a ascensão da alma ao bem absoluto deve ter um limite, porque jamais chegaria à felicidade perfeita se estivesse a subir incessantemente. (Cf. Revista Espírita. Set/1862. Poesias Espíritas. Peregrinações da Alma. Observação.) Nada obstante, Evandro N. Bezerra, para a F.E.B., preferiu traduzir os dizeres do mestre: “progrès successif et indéfini de l'âme”, por “progresso contínuo e infinito da alma”. Melhor, a opção de Julio A. Filho, para a EDICEL: “progresso sucessivo e indefinido da alma”; a corroborá-la está a escolha de Salvador Gentile, para o I.D.E. (Cf. Revista Espírita. Nov/1863. Pluralidade das Existências e dos Mundos Habitados. Pelo Dr. Gelpke.)

5 - N. 7 do cap. XXI de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Onde se lê: “Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles exerciam a sua ação de maneira mais ostensiva pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, auditiva ou de incorporação”, leia-se, na verdade: “Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles exerciam a sua ação de maneira menos ostensiva, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, auditiva ou falante”. No francês: “Avant que les rapports médianimiques fussent connus, ils exerçaient leur action d'une manière moins ostensible, par l'inspiration, la médiumnité inconsciente, auditive ou parlante”. Na 58.ª edição, de 2002, “mais ostensiva” dá lugar ao correto: “menos ostensiva”; sem qualquer aviso, porém, da editora L.A.K.E., o que retira credibilidade da publicação, pois, com a morte de Herculano Pires em 1979, sua obra forçosamente se petrifica, e não se pode, sem aviso, nela mexer a bel-prazer, para bem ou para mal. Permanece, contudo, a opção equívoca do mestre paulista por mediunidade “de incorporação”. Kardec escreveu mediunidade “falante”. Pode um espírito agir sobre as cordas vocais do médium sem necessariamente haver “incorporação” desse espírito no corpo do médium. Esta palavra, aliás, não é do Espiritismo. Kardec acabou admitindo a pertinência do termo “possessão” em A Gênese, XIV, 47-48 e, antes disso, na Revista Espírita de dezembro de 1863: “Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar do termo, mas subjugados. Queremos reconsiderar esta asserção, posta de maneira um tanto absoluta, já que agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, embora parcial, de um espírito encarnado por um espírito errante”. (Um Caso de Possessão. Senhorita Júlia. F.E.B., p. 499.)

[A lista permanecerá em aberto.]
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[1] Afora os nove casos elencados no cap. 9 do meu livro O Primado de Kardec. Oito deles de âmbito febiano, um, relativo ao I.D.E. http://oprimadodekardec.blogspot.com.br/2011/02/capitulo-9-tradutor-traidor.html.

Fonte:
Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com.br/2013_07_20_archive.html

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