Por José Herculano Pires
As declarações de Kardec, quanto à natureza evolutiva do Espiritismo, têm servido de justificação para muitas confusões doutrinárias. Renovadores encarnados e reveladores desencarnados apóiam-se nas próprias palavras do codificador, para desfigurarem a codificação. E quando alguém se levanta em defesa da pureza da doutrina, é logo acusado de retrógrado. Entretanto, a verdade é que Kardec só admitia a evolução mediante rigoroso controle dos fatos e das comunicações mediúnicas, estas sempre sujeitas ao exame do bom-senso e ao critério da universidade.
A facilidade com que hoje se aceitam inovações doutrinárias é simplesmente espantosa. Há uma sede tremenda de “novidades”, alimentada na fogueira da curiosidade malsã e da vaidade pessoal sem limites. Pessoas que não chegaram a ler "O Livro dos Espíritos”, que não conhecem a doutrina, apegam-se a mensagens pretensamente reveladoras e sustentam que Kardec está superado. Por outro lado, divulgadores mais informados fazem palestras, escrevem artigos e livros em que os princípios basilares da doutrina são esquecidos, em favor de teorias novas e sem base. Tudo por que? Porque o Espiritismo tem de evoluir, segundo afirmam, e não podemos “estacionar em Kardec”.
No capítulo primeiro de “A Gênese” item 55, o codificador afirma que a natureza evolutiva da revelação espírita, declarando que está “apoiada em fatos, tem de ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação”. Mas os que citam as palavras de Kardec nesse sentido nem sequer atentam para a significação desse trecho, em que o codificador se refere ao progresso geral das ciências e particularmente às relações do Espiritismo com as ciências. É claro que o Espiritismo não poderia estacionar, num mundo em que tudo evolui, tudo se transforma.
Negar a evolução do Espiritismo seria negar a sua lei fundamental, que é exatamente a lei da evolução.
Mas aceitar para a doutrina uma evolução anárquica, sem controle, sem leis, feita ao sabor da novidadeirice, e das vaidades pessoais é atentar contra o patrimônio doutrinário que recebemos, e pelo qual devemos zelar.
O progresso do Espiritismo não se faz através de “revelações mirabolantes”, dadas em tom profético, derramadas em palavreado pomposo, nem através de teorias pessoais, sutilmente elaboradas no recesso dos gabinetes, e menos ainda com a adoção de processos mágicos e rituais religiosos. Todas essas formas pertencem exatamente ao antiespiritismo, a um passado em que as idéias espíritas estavam sufocadas sob as falsas interpretações dos fatos. Depois do aparecimento do “Livro dos Espíritos” que deu cumprimento à promessa do Consolador, os problemas espirituais saíram da nebulosa das suposições absurdas, das afirmações dogmáticas e das interpretações pessoais, passando ao terreno positivo da observação e da experiência. O Espiritismo tirou fatos chamados supranormais do plano da charlatanice, para torná-los objeto de pesquisa científica e reflexão filosófica.
Vejamos para comprovar isso, o que diz Kardec em “A Gênese”, item 55 do primeiro capítulo: “O Espiritismo não estabelece, como princípio absoluto, senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou que ressalta logicamente da observação. Esta característica fundamental do Espiritismo não pode ser esquecida, quando falamos em evolução da doutrina. Os princípios doutrinários, firmados cientificamente, através da experiência e da observação, só podem ser alterados ou acrescentados por meio de novas conquistas positivas, de evidência universal. Fora disso, não temos evolução, mas retrocesso. Já no tempo de Kardec havia muitas “revelações” imaginosas, que o codificador não levou em consideração, por não conterem nenhum elemento de segurança.
Muitas “mensagens mirabolantes” lhe foram enviadas e Kardec as deixou prudentemente de lado.
Grande parte das “novidades” mediúnicas de hoje são infinitamente inferiores àquelas comunicações.
Outra tendência bastante acentuada entre nós é a do desprezo pelas ciências positivas. O amor do maravilhoso provoca vertigens no meio espírita, quando Kardec advertiu que o Espiritismo é a própria negação do maravilhoso.
Explicando os fatos supranormais pela descoberta das leis naturais do espírito, a doutrina afasta a possibilidade do milagre e conduz os homens à compreensão dos processos dinâmicos da natureza. Não existe o sobrenatural, porque este só podia existir diante da ignorância da extensão das leis naturais, que não se limitam ao plano da matéria. Por isso mesmo, Kardec acentuou que o Espiritismo e as ciências se completam e devem avançar de mãos dadas. Em “A Gênese”, esclarece que o Espiritismo só pode aparecer em meados do século dezenove, porque dependia do desenvolvimento científico: “só podia vir depois da elaboração das ciências”. (Cap. I, item 18).
Como vemos, desprezar as ciências é negar as próprias condições de desenvolvimento da doutrina espírita.
Não existe evidentemente, uma sujeição do Espiritismo às ciências, mesmo porque, segundo acentua Kardec, o Espiritismo é também uma ciência, aplicada ao elemento espiritual universo. Mas existe uma relação direta e necessária, que os próprios Espíritos Superiores respeitam, em suas comunicações. Isso está bem claro no item 54 do capítulo primeiro de “A Gênese”, quando Kardec declara que os Espíritos não precipitam suas revelações. “Eles não enfrentam as questões, diz o codificador – senão na medida em que os princípios sobre que tenham de apoiar-se estejam suficientemente elaborados, e bastante amadurecida a opinião para os assimilar. É mesmo de notar-se que, todas as vezes que os centros particulares quiseram tratar de questões prematuras não obtiveram mais do que respostas contraditórias, nada concludentes. Quando, ao contrário, chega o momento oportuno o ensino se generaliza e se unifica, na quase universalidade dos centros”.
Afinal “o Espiritismo evolui e tem forçosamente de evoluir, mas, dentro das leis que regem o seu desenvolvimento, nos quadros precisos da codificação kardeciana, que não é uma elaboração pessoal, como sabemos, mas um trabalho conjugado de encarnados, sob a égide do Espírito da Verdade. A codificação é a rocha em que se alicerça a doutrina, e a pedra-de-toque para verificação das “novas verdades” que forem surgindo. Sem essa base e essa medida, estaremos arriscados a fazer o Espiritismo retroceder no tempo e no espaço, a título de fazê-lo evoluir”.
As declarações de Kardec, quanto à natureza evolutiva do Espiritismo, têm servido de justificação para muitas confusões doutrinárias. Renovadores encarnados e reveladores desencarnados apóiam-se nas próprias palavras do codificador, para desfigurarem a codificação. E quando alguém se levanta em defesa da pureza da doutrina, é logo acusado de retrógrado. Entretanto, a verdade é que Kardec só admitia a evolução mediante rigoroso controle dos fatos e das comunicações mediúnicas, estas sempre sujeitas ao exame do bom-senso e ao critério da universidade.
A facilidade com que hoje se aceitam inovações doutrinárias é simplesmente espantosa. Há uma sede tremenda de “novidades”, alimentada na fogueira da curiosidade malsã e da vaidade pessoal sem limites. Pessoas que não chegaram a ler "O Livro dos Espíritos”, que não conhecem a doutrina, apegam-se a mensagens pretensamente reveladoras e sustentam que Kardec está superado. Por outro lado, divulgadores mais informados fazem palestras, escrevem artigos e livros em que os princípios basilares da doutrina são esquecidos, em favor de teorias novas e sem base. Tudo por que? Porque o Espiritismo tem de evoluir, segundo afirmam, e não podemos “estacionar em Kardec”.
No capítulo primeiro de “A Gênese” item 55, o codificador afirma que a natureza evolutiva da revelação espírita, declarando que está “apoiada em fatos, tem de ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação”. Mas os que citam as palavras de Kardec nesse sentido nem sequer atentam para a significação desse trecho, em que o codificador se refere ao progresso geral das ciências e particularmente às relações do Espiritismo com as ciências. É claro que o Espiritismo não poderia estacionar, num mundo em que tudo evolui, tudo se transforma.
Negar a evolução do Espiritismo seria negar a sua lei fundamental, que é exatamente a lei da evolução.
Mas aceitar para a doutrina uma evolução anárquica, sem controle, sem leis, feita ao sabor da novidadeirice, e das vaidades pessoais é atentar contra o patrimônio doutrinário que recebemos, e pelo qual devemos zelar.
O progresso do Espiritismo não se faz através de “revelações mirabolantes”, dadas em tom profético, derramadas em palavreado pomposo, nem através de teorias pessoais, sutilmente elaboradas no recesso dos gabinetes, e menos ainda com a adoção de processos mágicos e rituais religiosos. Todas essas formas pertencem exatamente ao antiespiritismo, a um passado em que as idéias espíritas estavam sufocadas sob as falsas interpretações dos fatos. Depois do aparecimento do “Livro dos Espíritos” que deu cumprimento à promessa do Consolador, os problemas espirituais saíram da nebulosa das suposições absurdas, das afirmações dogmáticas e das interpretações pessoais, passando ao terreno positivo da observação e da experiência. O Espiritismo tirou fatos chamados supranormais do plano da charlatanice, para torná-los objeto de pesquisa científica e reflexão filosófica.
Vejamos para comprovar isso, o que diz Kardec em “A Gênese”, item 55 do primeiro capítulo: “O Espiritismo não estabelece, como princípio absoluto, senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou que ressalta logicamente da observação. Esta característica fundamental do Espiritismo não pode ser esquecida, quando falamos em evolução da doutrina. Os princípios doutrinários, firmados cientificamente, através da experiência e da observação, só podem ser alterados ou acrescentados por meio de novas conquistas positivas, de evidência universal. Fora disso, não temos evolução, mas retrocesso. Já no tempo de Kardec havia muitas “revelações” imaginosas, que o codificador não levou em consideração, por não conterem nenhum elemento de segurança.
Muitas “mensagens mirabolantes” lhe foram enviadas e Kardec as deixou prudentemente de lado.
Grande parte das “novidades” mediúnicas de hoje são infinitamente inferiores àquelas comunicações.
Outra tendência bastante acentuada entre nós é a do desprezo pelas ciências positivas. O amor do maravilhoso provoca vertigens no meio espírita, quando Kardec advertiu que o Espiritismo é a própria negação do maravilhoso.
Explicando os fatos supranormais pela descoberta das leis naturais do espírito, a doutrina afasta a possibilidade do milagre e conduz os homens à compreensão dos processos dinâmicos da natureza. Não existe o sobrenatural, porque este só podia existir diante da ignorância da extensão das leis naturais, que não se limitam ao plano da matéria. Por isso mesmo, Kardec acentuou que o Espiritismo e as ciências se completam e devem avançar de mãos dadas. Em “A Gênese”, esclarece que o Espiritismo só pode aparecer em meados do século dezenove, porque dependia do desenvolvimento científico: “só podia vir depois da elaboração das ciências”. (Cap. I, item 18).
Como vemos, desprezar as ciências é negar as próprias condições de desenvolvimento da doutrina espírita.
Não existe evidentemente, uma sujeição do Espiritismo às ciências, mesmo porque, segundo acentua Kardec, o Espiritismo é também uma ciência, aplicada ao elemento espiritual universo. Mas existe uma relação direta e necessária, que os próprios Espíritos Superiores respeitam, em suas comunicações. Isso está bem claro no item 54 do capítulo primeiro de “A Gênese”, quando Kardec declara que os Espíritos não precipitam suas revelações. “Eles não enfrentam as questões, diz o codificador – senão na medida em que os princípios sobre que tenham de apoiar-se estejam suficientemente elaborados, e bastante amadurecida a opinião para os assimilar. É mesmo de notar-se que, todas as vezes que os centros particulares quiseram tratar de questões prematuras não obtiveram mais do que respostas contraditórias, nada concludentes. Quando, ao contrário, chega o momento oportuno o ensino se generaliza e se unifica, na quase universalidade dos centros”.
Afinal “o Espiritismo evolui e tem forçosamente de evoluir, mas, dentro das leis que regem o seu desenvolvimento, nos quadros precisos da codificação kardeciana, que não é uma elaboração pessoal, como sabemos, mas um trabalho conjugado de encarnados, sob a égide do Espírito da Verdade. A codificação é a rocha em que se alicerça a doutrina, e a pedra-de-toque para verificação das “novas verdades” que forem surgindo. Sem essa base e essa medida, estaremos arriscados a fazer o Espiritismo retroceder no tempo e no espaço, a título de fazê-lo evoluir”.
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