Mesmerismo, também chamado de 'magnetismo animal' (notadamente nos séculos XVIII e XIX) é o estado ou o resultado de alguém, obtido ao ser mesmerizado (ou magnetizado), com um dos significados acima listados. Mesmerizar (
Médico Mesmer criou uma terapia científica, revolucionou a medicina, antecipou conceitos da Doutrina Espírita, elaborou uma fisiologia humana espiritualista, iniciou a psicologia experimental. Mas suas descobertas estão esquecidas aguardando quem as resgate. O homem não é apenas um corpo. A complexidade da fisiologia humana ultrapassa os limites de observação dos sentidos físicos. O homem está imerso numa matéria sutil, que se espalha por todo o Universo e o interliga com todos os seres: é o princípio vital, também chamado fluido vital ou Magnetismo Animal. Essa é a causa da vitalidade orgânica e o princípio que mantém e recupera a saúde. Toda essa estrutura, desconhecida da ciência oficial, tem origem na matéria. Matéria sutil, distante do alcance dos instrumentos científicos atuais. O espírito é uma individualidade imaterial que rege essa complexa composição orgânica. O médico Franz Anton Mesmer (1734-1815) revelou ao mundo essas descobertas que renovam as ciências médicas e abrem as portas para uma medicina que realmente cura e preserva a saúde. Entretanto, a ciência do Magnetismo Animal ainda é completamente desconhecida no meio acadêmico da medicina.
Essa ciência foi considerada irmã do Espiritismo por Allan Kardec, que a estudou profundamente por mais de 35 anos! O termo Magnetismo Animal tem três significados: em primeiro lugar, é um agente natural como eletricidade, magnetismo mineral, gravidade e luz. Em segundo, é uma ciência que estuda esse agente natural e suas relações com a natureza humana. Por fim, o terceiro significado é uma terapia científica destinada a curar o homem e mantê-lo saudável, oferecendo ao médico explicações racionais sobre as causas das doenças e o processo natural de recuperação da saúde. "Ver-se-á, ouso crer, que essas descobertas não são produtos do acaso, mas sim o resultado do estudo e da observação das leis da natureza; que a prática que eu ensino não é um empirismo cego, mas um método racional. (...) Essa doutrina, enfim, colocará o médico em condições de bem julgar o grau de saúde de cada indivíduo, e de preservá-lo das doenças às quais poderá estar exposto. A arte de curar atingirá assim a derradeira perfeição", explicou Mesmer em sua obra Memórias, publicada em 1799.
A medicina oficial não curava
É importante destacar que todas as teorias ocidentais sobre o mecanismo da doença e as práticas terapêuticas da medicina oficial antes de 1800 eram completamente falsas. As perniciosas terapias, mantidas por tradição e empirismo - sangrias, vomitórios, vesicatórios, doses de ópio e outras fórmulas perigosas -, prejudicavam os pacientes e muitas vezes antecipavam sua morte. As cirurgias, procuradas somente pelos pacientes já sem esperança, eram feitas sem anestesia. Os cirurgiões haviam desenvolvido a habilidade de decepar tumores a sangue frio, cauterizando-os rapidamente com um ferro em brasa. A experiência era traumática e poucos sobreviviam, mesmo porque não havia assepsia alguma. "A ignorância dos séculos precedentes sobre este assunto garantiu aos médicos a confiança supersticiosa que eles possuíam e que inspiravam nos seus específicos e suas fórmulas, tornando-os déspotas e presunçosos", esclareceu Mesmer, em suas Memórias de 1779.
Após seus estudos básicos, concluídos antes da idade comum, Mesmer fez os cursos superiores de Música e Artes, Teologia, Filosofia, Medicina e, em parte, de Direito. No entanto, sua formação médica não foi comum. Ele fez seu quarto Doutorado na Universidade de Viena, reformulada por Van Swieten e De Haen, discípulos do famoso Herman Boerhaave (1668-1738), o maior professor de medicina de seu tempo. Esse médico visionário, criador da clínica moderna, propôs uma retomada dos princípios da medicina científica, fruto da observação junto aos pacientes e do uso da razão, recuperando os princípios do pai da Medicina, o grego Hipócrates. Sua proposta renovadora incluía, no currículo de Medicina, o estudo das Ciências Naturais, da Física e da Química, e as então recentes descobertas fisiológicas. Para Boerhaave, uma força vital - vis vitae - era responsável pela manutenção da saúde orgânica. Foi a partir dessas idéias, e da experimentação científica, que Mesmer fez as suas descobertas, chegando a conclusões opostas ao materialismo mecanicista da medicina oficial.
Uma terapia experimental e eficaz
As teses do Magnetismo Animal foram fundamentadas por uma sólida teoria, baseada em fenômenos naturais exaustivamente experimentados por mais de 15 anos antes de serem anunciados. Mesmer, porém, enfrentou muitas dificuldades para explicar aos seus contemporâneos a ciência que descobriu. Ela exigia do interessado conceitos filosóficos e científicos ainda recentes naquela época. Poucos compreendiam a Física de Newton, os livros de Hipócrates, a Fisiologia, a Química e outros temas utilizados por Mesmer em suas teses.
Em 1813, o mais famoso discípulo direto de Mesmer, Armand Marc Jacques de Chastenet de Puységur (1751-1825), o marquês de Puységur, escreveu: "Cumpria que se encontrasse um observador que, somente mais atento que outro aos perpétuos eflúvios do fluido, ou princípio vital dos corpos organizados, reparasse enfim na influência dos seus sobre o princípio ou fluido vital de seus semelhantes; cumpria que aquele homem fosse douto na Física, na Química e na Fisiologia, para que pudesse dirigir as suas observações sobre causas pertencentes àquelas ciências; e ademais cumpria ainda que fosse médico, para logo aplicá-lo ao tratamento e ao alívio dos males da humanidade. Esse homem, em quem se achou reunido tanto mérito e tantas qualidades, é o senhor doutor Mesmer, ancião hoje retirado e quase ignorado em uma pequena aldeia da Suíça, porém cuja imagem e nome transmitir-se-ão com glória à posteridade reconhecida".
As teses do Magnetismo Animal foram fundamentadas por uma sólida teoria, baseada em fenômenos naturais exaustivamente experimentados por mais de 15 anos antes de serem anunciados.
Magnetismo e Espiritismo se completam
Décadas depois, no início de suas pesquisas espíritas, Kardec afirmou que a rápida aceitação do Espiritismo deveu-se exatamente ao Magnetismo Animal, que antecipara a existência do fluido universal, princípio vital, corpo espiritual, dualidade entre alma e corpo, e outros conceitos confirmados pelos Espíritos da Codificação. E disse mais. Garantiu que as duas ciências eram tão próximas que seria impossível conhecer uma sem o auxílio da outra. "Se devêssemos ficar fora da ciência magnética, nosso quadro estaria incompleto, e se poderia nos comparar a um professor de Física que se abstivesse de falar da luz", esclareceu Kardec na Revista Espírita de 1858. A teoria médica do Magnetismo Animal foi confirmada e adotada pela Doutrina Espírita.
A ciência do Magnetismo Animal une-se ao Espiritismo ao recuperar conhecimentos anteriormente classificados como superstição, milagre ou sobrenatural, trazendo-os ao campo da Ciência. "O Espiritismo e o Magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as idéias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da natureza e o que não passa de ridícula crendice", explicou Kardec em O Livro dos Espíritos, questão 555.
Essas duas ciências acrescentarão - neste terceiro milênio - ao elemento material, estudado em detalhes pela ciência oficial, sua desconhecida face fluídica, positivamente pesquisada, dando início a uma nova era. Hoje, porém, o Magnetismo Animal está praticamente esquecido e aguarda sua necessária recuperação para estender os benefícios da saúde a toda humanidade.
O Magnetismo Animal une-se ao Espiritismo ao recuperar conhecimentos anteriormente classificados como superstição, milagre ou sobrenatural, trazendo-os ao campo da Ciência.
A confusão entre o magnetismo animal e o mineral
Por causa do nome, muitas pessoas acham que o Magnetismo Animal é uma terapia que usa imãs para curar. Mas isso não passa de um grande equívoco. Mesmer compreendia, desde sua tese de Doutorado, que o fluido magnético animal, a eletricidade, o magnetismo mineral e até a luz eram diferentes manifestações do fluido universal. A Doutrina Espírita confirmou essa hipótese. Na questão 427 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questionou os Espíritos: "De que natureza é o agente que se chama fluido magnético?", e eles responderam: "Fluido vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal". Mesmer fazia uso do fluido ou princípio vital em sua medicina. O imã poderia servir apenas como condutor de seu efeito, como também o vidro, metais e a água. Mesmer teve a idéia de utilizar a água como meio para os efeitos do fluido vital. Essa técnica, preservada pelos magnetizadores do passado, até hoje é utilizada nos centros espíritas.
Mesmer ensinava a diferença entre os dois magnetismos. "O ímã, seja natural, seja artificial, é, assim como os outros corpos, suscetível do Magnetismo Animal, e mesmo da virtude oposta, sem que, nem num nem noutro caso, sua ação sobre o ferro e a agulha sofra alguma alteração; o que prova que o princípio do Magnetismo Animal difere essencialmente daquele do mineral", explicou em Memórias, de 1779.
A maioria dos médicos de sua época não conheciam essa teoria. Os poucos que a conheciam, não a compreendiam. Na fase experimental de sua pesquisa, Mesmer chegou a fazer experiências associando ímãs, magnetos ou eletricidade como condutores do Magnetismo Animal. "A academia não apenas caiu no erro de confundir o Magnetismo Animal com o mineral, apesar de sempre eu ter me dedicado em meus estudos a estabelecer que o uso do ímã, apesar de útil, era sempre imperfeito sem o apoio de teoria do Magnetismo Animal. Os físicos e médicos com os quais estive me correspondendo, ou que buscaram se intrometer para usurpar essa descoberta, pretenderam e presumiram divulgar, uns que o ímã era o único agente que eu empregava, os outros que eu utilizava a eletricidade. E assim por diante, porque sabiam que eu havia feito uso desses dois meios", explicou Mesmer em Memórias, de 1779.
Quando Mesmer escreveu sua tese de Doutorado em Medicina, no dia 27 de maio de 1766, ele deu a suas descobertas o nome de Gravitação Animal. "Existe uma influência mútua entre os seres, equivalente à que ocorre entre os astros", era uma comparação entre o princípio vital e a teoria da gravitação de Newton. Observando que os efeitos do imã seriam mais adequados para exemplificar as analogias com a vitalidade, Mesmer passou a fazer uso do termo Magnetismo Animal. Ele escreveu uma carta, em 5 de janeiro de 1775, a um médico estrangeiro, na qual dava uma idéia precisa da sua teoria, dos sucessos que havia obtido e suas perspectivas futuras. O médico a quem a carta se destinava era Johann Christoph Unzer, de Altona, editor do jornal de medicina Neuer Gelehteer Merkurius. Nessa carta, pela primeira vez, a expressão Gravitação Animal, usada em sua tese de doutorada, foi substituída por Magnetismo Animal.
Fonte: UNIVERSO ESPÍRITA. A ciência irmã do espiritismo.