segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tradutor, Traidor

Por Sérgio Aleixo

Fiel à sua condição estatutária de integrante da “escola” rustenista e demonstrando concordar com o opúsculo Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus Adversários (1883), a Federação Espírita Brasileira ousou contrariar o Codificador neste ponto de A Gênese: cap. XV, n. 66. Fez registrar em nota de rodapé à tradução de G. Ribeiro os seguintes dizeres, ainda dados a público em novas edições:

(1) Nota da Editora: Diante das comunicações e dos fenômenos surgidos após a partida de Kardec, concluiu-se que não houve realmente vão simulacro, como igualmente não houve simulacro de Jesus, após a sua morte, ao pronunciar as palavras que foram registradas por Lucas (24:39): — “Sou eu mesmo, apalpai-me e vede, porque um Espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho.”

Os inimigos de Kardec sempre insistem em que logo após a sua morte algo de revolucionário apareceu em termos de fenômenos e de comunicações mediúnicas. Todavia, para qualquer estudioso da codificação kardeciana e, sobretudo, do vasto acervo enfeixado nos tomos da Revista Espírita, isto não é uma verdade absoluta.
A F.E.B. não hesitou em usar o seu parque editorial para contestar o pensamento de Kardec, e sucessivas diretorias hão dado aval a este acinte, pois, como já disse, a contestação há sido reeditada. O texto consignado em Lucas 24:39 não há de ser fiel. Em nada se assemelha aos demais relatos da ressurreição de Jesus. Mesmo assim, a F.E.B. o ressalta para repreender Kardec. Trata-se da antilógica rustenista de que as Escrituras seriam infalíveis. Sob este império, os adeptos de Roustaing rejeitaram também, ainda no século 19, a tese dos espíritas para explicar o desaparecimento do corpo físico de Jesus no sepulcro:

O corpo de Jesus era um corpo terrestre qual os nossos e, como tal, produzido pelo concurso dos dois sexos; os anjos ou espíritos superiores, tornando-o invisível, podiam subtraí-lo e o subtraíram do sepulcro no momento preciso em que, despedaçados os selos que lhe tinham sido apostos, a pedra que o fechava fora atirada para o lado.[1]

O fato, entretanto, é que esta hipótese decorre do verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese. Kardec, ali, falou de fenômenos de transporte e de invisibilidade. E quando recomenda, já em 1869, a leitura deste seu livro para contra-argumentar a tese do corpo fluídico de Jesus, diz claramente no seu Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita: “Sobre essa teoria, vide A Gênese segundo o Espiritismo, capítulo XV, ns. 64 a 68”.[2] Kardec menciona, portanto, para o capítulo XV de sua obra, a existência dos números 64 a 68. Por que a quase totalidade das traduções registra apenas os ns. 64 a 67? Curiosamente, a nova edição febiana de A Gênese,[3] assinada pelo mesmo tradutor do Catálogo supracitado, também só inclui os ns. 64 a 67.
Em 1884, na Revista Espiritismo, de Gabriel Delanne, o biógrafo Henri Sausse já lançara questionamentos acerca da não coincidência de duas edições que cotejara de A Gênese. Leymarie disse apenas que o fato se verificou por Sausse haver-se baseado numa edição anterior à definitiva.[4] O incontestável, no exemplo aqui tomado, é que o verdadeiro n. 67 foi retirado e o n. 68, renumerado. Por isso, não creio também na explicação do antigo secretário de Kardec, A. Desliens,[5] que atribui ao próprio mestre lionês, já quinze anos após a morte deste, essas alterações cirúrgicas em A Gênese.
Como quer que haja sido, isto demonstra que, se não foi G. Ribeiro o mentor de tais modificações, outro decerto as fez bem antes dele. Consta que a 4.ª edição de A Gênese teve sua distribuição impedida pela morte repentina de Kardec em 31 de março, acabando a cargo da Livraria Espírita e das Ciências Psicológicas. Esta edição, revisada, corrigida e aumentada pelo autor, é que contém o texto definitivo. Impressa nas oficinas gráficas de Rouge Fréres e Cie., foi entregue em abril de 1869. Segundo F. Barrera, “uns meses mais tarde sai à venda, sob a responsabilidade de M. A. Desliens, diretor da Revista Espírita”, de comum acordo com “M. Bittard, gerente da livraria, e M. Tailleur”.[6]
Desliens, em 1885, estava pressionado, decerto, não só por H. Sausse (1884), mas também pela ambiência de francos dissabores causados pelo cisma rustenista, declarado abertamente em 1883, na obra Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus Adversários, e que abrigava as mais ferinas ofensas e desleais críticas ao fundador da filosofia espírita, a quem nunca Roustaing se dirigiu senão por escrito.
O próprio Desliens confessa ao final de seu texto que, ali, quer “eliminar da família espírita uma causa de desunião”.[7] Só não nos explica por que as alterações identificadas em A Gênese têm tanto em comum com o rustenismo. No que concerne ao exemplo aqui tomado, Kardec não poderia eliminar justamente a explicação a que se propôs sobre o desaparecimento do corpo de Jesus no túmulo, até porque o mestre a menciona como integrante de sua obra, ao indicar a leitura contra-argumentativa dos números 64 a 68 do cap. XV de A Gênese. F. Barrera, no sumário referente a este livro kardeciano, registra sem equívoco: “Desaparição do corpo de Jesus, 64-68”.[8]
Quanto à nova edição febiana desta obra (10 mil exemplares, 02/2009), por Evandro Noleto Bezerra, cujo nome estampa mesmo a primeira capa, simplesmente não se sabe que edição francesa lhe serviu de base. Nada se diz ali a este respeito. Também não registra, insisto, o verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese, no que só seguiu a cartilha de G. Ribeiro. Isto, porém, não é de admirar, pois E. Bezerra considera os trabalhos deste último “irrepreensíveis”, como diz na introdução da sua Revista Espírita. Por que então os corrigiu nisto que naquilo? Qual dos dois é mais irrepreensível?
A edição comemorativa dos 150 anos de O Livro dos Espíritos, aliás, no seu índice geral, consegue até relacionar a palavra “colônia”, inexistente na obra; remete, porém, o leitor aos ns. 234 a 236, que disto em absoluto não falam, e sim de mundos, sem vida física, servindo de habitação transitória a espíritos errantes. Intenta-se forçar a confirmação da existência, incerta para muitos, das “colônias espirituais”, como “Nosso Lar”, por exemplo.
O Espírito São Luís referiu-se a algo que encontra um análogo nas “colônias espirituais”.  Reportou-se a “mundos intermediários”, que não se confundem com os “transitórios” aqui acima comentados, porque são, segundo o presidente espiritual da S.P.E.E., “viveiros da vida eterna”, de onde os espíritos vêm à Terra para progredirem. Por sinal, o tradutor febiano E. N. Bezerra preferiu registrar “centros de formação”, ainda que “pépinières” signifique literalmente “viveiros”.[9]
O mesmo esforço inglório se verifica no atinente à expressão “centros de força”, listada como referente ao n. 140 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec só se reporta ao fluido vital repartido entre os órgãos físicos, havendo mais nos que são “centros ou focos de movimento” [centres ou foyers du mouvement]. Onde a locução “de força”? Ora! André Luiz, por duvidosa analogia aos chacras hindus, fala de “centros de força” no perispírito, mas isto absolutamente não corresponde ao assunto em tela.
Na Revista Espírita de março de 1868, Instruções dos Espíritos, a consoladora exortação que um Espírito pôs nos lábios espirituais de Jesus foi alterada de “Bem-aventurados os que conhecerem meu novo nome!” para “Bem-aventurados os que conhecerem meu nome de novo!” Sempre advoguei a tese de que esse “novo nome” de Jesus é “O Espírito de Verdade”. Terá ocorrido na tradução febiana algum erro material? O fato é que “mon nouveau nom” nunca será “meu nome de novo”.
Tradutor, traidor. Já era a antiga dita latina.
Eis aqui abaixo, então, o verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese, desde sempre ausente das edições da F.E.B. e das demais que, em vez de traduções dos originais franceses, mais parecem ter oferecido ao rentável mercado meras versões das publicações febianas, exceção feita a esta honrosa citação:

67. A que se reduziu o corpo carnal? Este é um problema cuja solução não se pode deduzir, até nova ordem, exceto por hipóteses, pela falta de elementos suficientes para firmar uma convicção. Essa solução, aliás, é de uma importância secundária e não acrescentaria nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que atestam, de uma maneira bem peremptória, sua superioridade e sua missão divina. Não pode, pois, haver mais que opiniões pessoais sobre a forma como esse desaparecimento se realizou, opiniões que só teriam valor se fossem sancionadas por uma lógica rigorosa, e pelo ensino geral dos espíritos; ora, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle. Se os espíritos ainda não resolveram a questão pela unanimidade dos seus ensinamentos, é porque certamente ainda não chegou o momento de fazê-lo, ou porque ainda faltam conhecimentos com a ajuda dos quais se poderá resolvê-la pessoalmente. Entretanto, se a hipótese de um roubo clandestino for afastada, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno dos transportes e da invisibilidade. (O Livro dos Médiuns, caps. IV e V).[10]

Este número de A Gênese consta igualmente de sua primeira edição, como pode ser verificado em fotocópia do original, disponível na internet.[11]
Nada disto, porém, inocenta Guillon Ribeiro, porquanto ousou, sim, em função do rustenismo, suas próprias alterações à obra de Kardec.
1 - Registrou, em A Gênese, I, 56, que os ensinos espíritas “completam as noções vagas que SE tinham da alma”, pois, como rustenista, era bibliólatra, e lhe pareceu errada e injusta a expressão original de Kardec, que não tinha os mesmos pruridos, afinal, as noções dadas por Jesus sobre a alma foram vagas mesmo, em função de não poderem ser de outra forma. O fato é que “complètent les notions vagues qu'IL avait données de l'âme” jamais poderá ser traduzido de forma indeterminada.

[“ELE”, e não “SE”.]

2 - Chamou Jesus de “Senhor” e “Salvador” pelo mesmo motivo acima aduzido, distorcendo a postura kardeciana nos textos de A Gênese XV, 61; em XVII, 37, e no n. 671 de O Livro dos Espíritos. Eu não confiaria tanto num tradutor que registra “voyaient JÉSUS et le touchaient” como “viam o SENHOR e o tocavam”... “le sens de SES paroles” como “o sentido das palavras DO SENHOR”... ou “SA doctrine” como “doutrina DO SALVADOR”...

[“Jesus”, e não “Senhor”; “suas palavras”, e não “as palavras do Senhor”; “sua doutrina”, e não “a doutrina do Salvador”.]

3 - Acrescentou a inexistente palavra “moral” à expressão “absoluta perfeição”, no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos, porquanto o rustenismo assegura que só a absoluta perfeição moral pode ser atingida, não ocorrendo o mesmo, segundo ele, com a perfeição intelectual. G. Ribeiro quis, portanto, corrigir Kardec. A nova tradução de Evandro Bezerra acertou isso, apesar de este dizer, na Introdução da Revista Espírita, que o trabalho de Guillon é irrepreensível.

[la perfection absolue: “a perfeição absoluta”, e não “a absoluta perfeição MORAL”.]

4 - Registrou que o arcanjo começou “por ser átomo”, e não “pelo átomo”, no n. 540 de O Livro dos Espíritos, para acomodar o texto à noção monista substancial da queda angélica, de P. Ubaldi, do qual G. Ribeiro foi tradutor e adepto entusiasta. Ora! Se digo que o arcanjo começou PELO átomo, sou dualista. O arcanjo, princípio inteligente, é espírito, e o átomo é matéria. Se digo que o arcanjo começou por SER átomo, sou monista substancialista, e creio que o arcanjo, o princípio inteligente, congelou-se no evento da queda, e passou a ser o próprio átomo, a própria matéria mais não seria, assim, que o espírito condensado pela queda. Alguns ubaldistas modernos já citam essa tradução tendenciosa de Guillon para fundamentar o ubaldismo e suas teses como compatíveis com o Espiritismo. De mais a mais, por que traduzir “par l´atome” como “por ser átomo”?

[“começou PELO átomo”, e não “começou por SER átomo”.]

5 - Em O Evang. Seg. o Espiritismo, XX, 5, a informação precisa de que “CHEGASTES ao tempo” se tornou em “APROXIMA-SE o tempo” porque o rustenismo defende o “final de ciclo” por catástrofes anunciadoras da volta de Cristo. Como “nada” assim tinha ocorrido, Ribeiro quis corrigir agora o Espírito de Verdade. “Vous touchez au temps” jamais poderá ser traduzido por “Aproxima-se o tempo”.

[“atingistes, ou chegastes ao tempo”, e não “Aproxima-se o tempo”.]

Mas não falemos apenas dos livros com chancela da “Casa-Máter”. Também houve modificações na tradução adotada pelo I.D.E. para um texto da Revista Espírita de abril de 1869, no qual Kardec, na verdade, diz que “a alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem [...]”.[12] Contudo, o Sr. Salvador Gentile se arrogou a condição de mais douto em matéria de Espiritismo do que o Codificador da doutrina e acresceu ao original três palavras, transformando a sábia instrução do mestre nesta aberração filosófica: “A alma humana, emanação divina, leva nela o germe ou princípio do bem e do mal [...]”. (Grifo meu.)
Eis o francês: “L'âme humaine, émanation divine, porte en elle le germe ou principe du bien qui est son but final”. Ante o pensamento completo de Kardec, não há dúvidas: “A alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem, que é o seu objetivo final”. Como poderia o mal ser objetivo final da alma, sendo esta proveniente de Deus?
De tudo isto, resta o aparente bem de os originais franceses se encontrarem disponíveis em meios de acesso digital pela internet a fora e, pasmem, a F.E.B. e o I.D.E. contribuíram para tanto. Mas estejamos atentos, pois esses “originais” não constituem imagens das edições francesas, e sim digitalizações, o que pode ensejar erro material ou até manipulação.[13]



[1] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 66.
[2] O Espiritismo na sua expressão mais simples e outros opúsculos de Kardec. F.E.B., Evandro Noleto Bezerra.
[3] 10 mil exemplares, 02/2009.
[4] Cf. BARRERA, F. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 81.
[5] Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, pp. 169-171.
[6] Cf. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 80.
[7] Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, p. 171.
[8] Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 92.
[9] Cf. Revista Espírita. Julho/1862. Hereditariedade Moral. ALEIXO. Ensaios da Hora Extrema. Sobre André Luiz. 2.1 Aspectos Terrenais do Além-Túmulo. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_02_archive.html.)
[10] Rio de Janeiro, Léon Denis - Gráfica e Editora, 2.ª ed., março de 2008, 1.ª tiragem, do 1.º ao 3.º milheiro. Do original francês: LA GENÈSE. Les Miracles et Les Prédictions Selon Le Spiritisme. Quatrième Édition, 1868.
[12] EDICEL. Vol. XII. p. 102-103. Trad.: Júlio Abreu Filho.
[13] Meus cumprimentos, aqui formalmente consignados, aos bons amigos Caio Cardinot, Lair Amaro Faria, Rodrigo Luz, Tiago de Lima Castro, Luciano Ferreira e Sílvia R. O. por valiosas contribuições ao corpo de informes deste capítulo.

Fonte: O Primado de Kardec - http://oprimadodekardec.blogspot.com/2011/02/capitulo-9-tradutor-traidor.html

Rustenismo não é Espiritismo

Por Sérgio Aleixo

O Estatuto da Federação “Espírita” Brasileira reza que, “o estudo e a difusão do Espiritismo compreenderão, também, a obra de J.-B. Roustaing e outras subsidiárias e complementares da Doutrina Espírita”  (art. 1.º, § único); assim como registra que “o Conselho [Federativo Nacional da F.E.B.] fará sentir a todas as sociedades espíritas do Brasil que lhes cabe pôr em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier” (art. 63), servindo, desta forma, ao assim chamado “Pacto Áureo” (05/10/1949), o qual prevê que “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”.

Entre outras piadas de além-túmulo, no capítulo I desta obra, “a amargura divina” de Jesus “empolga” toda uma “formosa assembleia de querubins e arcanjos” e ele, que dirige este Globo, não sabe sequer onde é o Brasil. Não bastasse isto, no capítulo XXII, o confuso Roustaing emerge do estatuto da F.E.B. para ser equiparado a L. Denis e a G. Delanne, figurando adiante destes na condição de cooperador de Kardec para “o trabalho da fé”. Deve ter ocorrido erro material, e não foi publicada a palavra “destruição”; sim, trabalho de “destruição” da fé, pois, em Os Quatro Evangelhos, entre outras estranhezas, se diz o seguinte...

Jesus “não nasceu do homem; a matéria perecível não entrou por coisa alguma no conjunto das suas perfeições”; “não esperou, sepultado no seio de uma mulher, a hora do nascimento; tudo foi aparência, imagem, no ‘nascimento’ do mestre, na ‘gravidez’ e no ‘parto’ de Maria”; “o aparecimento de Jesus na terra foi uma aparição espírita tangível”; portanto, não nasceu, não viveu e não morreu, senão aparentemente, “de maneira a produzir ilusão”; começou enganando a própria mãe, que “teve completa ilusão do parto e da maternidade”. (1.º vol., n. 47, p. 166/67 e 243/44.)

Jesus revestia, “aos olhos dos homens, as aparências da infância, da adolescência e da idade viril na humanidade terrestre”; lactente ainda, ele era, apenas “na aparência, pequenino”, e, portanto, não era mentalmente infantil, permanecendo neste absoluto despudor, segundo a tese rustenista, “até contar a criança dois ou três anos”. (1.º vol., n. 47, p. 166/67 e 243/44.)

Jesus, na sua estada em Jerusalém, “ao abrir-se o templo, entrava com a multidão e com a multidão saía, quando o templo se fechava; uma vez fora e longe dos olhares humanos, desaparecia, despojando-se do seu invólucro fluídico tangível e das vestes que o cobriam, as quais, confiadas à guarda dos Espíritos prepostos a esse efeito, eram transportadas para longe das vistas e do alcance dos homens; ao reabrir-se o templo, reaparecia entre os homens, retomando o perispírito tangível e as vestes, que o faziam passar por um homem aos olhos humanos”. (1.º vol., n. 47, p. 251/52.)

A evolução espiritual se dá em duas linhas: a dos Espíritos que se desviaram para o mal no início de suas jornadas e, portanto, ficaram sujeitos às reencarnações humanas, e a dos Espíritos que nunca se afastaram do bem e, por isto, evoluem pelos mundos etéreos, em linha reta, após superarem os reinos inferiores, como se o homem não fosse acontecimento natural, mas desastre espiritual. Estes mesmos Espíritos bons, contudo, são passíveis de cometer um destes três “pecados”: o ciúme, a inveja e o ateísmo; quando, então, cometem um deles, são obrigados a encarnar em “substâncias humanas”, descritas — pasmem — como “larvas informes” e chamadas “criptógamos carnudos”, “uma massa quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja ou antes desliza, tendo os membros, por assim dizer, em estado latente”. (1.º vol., n. 57 a n. 59, p. 307-313.)

 “A encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo; [...] em princípio, é apenas consequente à primeira falta, àquela que deu causa à queda”. (1.º vol., n. 59, p. 317 e 324.) Por isto, Roustaing submete um texto de Kardec, da Revista Espírita de junho de 1863 (Do Princípio da Não-Retrogradação do Espírito), ao exame dos seus “evangelistas” espirituais, que concluem dizendo que os que pensam ser a encarnação uma necessidade geral (Kardec à frente) “ainda não foram esclarecidos, ou não refletiram bastante”. (1.º vol., n. 59, p. 321.)

Espíritos que já “trabalham na constituição de planetas” podem ser “dominados pelo orgulho, que os leva a desconhecer a mão diretora do Senhor, ou a duvidar do seu poder, duvidando de suas próprias forças”. Então “soa a hora da encarnação humana correspondente ao delito” e, “em tal caso, o planeta, que não pode ficar sujeito a perecer por lhe faltar o primitivo obreiro, continua sua marcha progressiva sob os cuidados e a ação de um Espírito superior que vem substituir aquele que faliu”. (1.º vol., n. 59, p. 325-326.)

E os reveladores de Roustaing decretam aqui seu maior delírio conceitual: “[...] vossos médiuns só entrarão no gozo completo de suas faculdades quando estiver entre os homens o Regenerador, Espírito que desempenhará a missão superior de conduzir a humanidade ao estado de inocência, isto é: ao grau de perfeição a que ela tem de chegar. Até lá, obterão somente fatos isolados, estranhos à ordem comum dos fatos. [...] Não nos cabe fixar de antemão a época em que tal se verificará. [...] Debaixo da influência e da direção do Regenerador, caminhará o chefe da Igreja católica, a qual, repetimos, será então católica na legítima acepção deste termo, pois que estará em via de tornar-se universal, como sendo a Igreja do Cristo”. (3.º vol., n. 196, pp. 65-66.)

Os fenômenos mediúnicos, perfeitamente integrados à ordem natural das coisas pelo Espiritismo, são apresentados, então, como “fatos isolados, estranhos à ordem comum”. No que respeita ao chefe da Igreja católica, quanto ao Regenerador, melhor eu não dizer nada. E é esta obra que a F.E.B. considera, em seu Estatuto, complementar e subsidiária de Kardec... Quando uma casa é, pois, adesa ao movimento “espírita organizado”, uma de duas: concorda com tais ensinos e os divulga, ou se torna descumpridora de deveres estatutários. Algo precisa ser feito para restituir ao movimento espírita sua legitimidade. Até os textos de Kardec foram alterados pelo rustenismo federativo.[1]

[1] Cf. ALEIXO. O Primado de Kardec. Cap. 9. Tradutor, traidor. http://oprimadodekardec.blogspot.com/2011/02/capitulo-9-tradutor-traidor.html

Retirado do blog Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_06_03_archive.html

La Fe por las Obras Y La Conducta Espirita

Por Ricardo Malta

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“Así también la fe, si no tuviera las obras, es muerta en sí misma. Más alguien dirá: Tú tienes  la fe, y yo tengo las obras; muéstrame tu fe sin tus obras, y yo te mostrará mi fe por mis obras.”  (Tiago 2:17, 18)

El Espiritismo enseña que se reconoce al verdadero cristiano por sus obras (ESE,  Cap. 18, Ítem 16). No adelanta adorar e idolatrar la figura de Jesús: Es necesario  vivenciar el mensaje del cual el fue portador y ejemplificado. El Propio nazareno elucida: ¿“Y por qué me llamáis, Señor, Señor, y no hacéis lo que yo os digo?” (Lucas 6:46). Con estas palabras, dirigidas a los hipócritas y adoradores  comodistas, el evidenció la necesidad de vivenciar el evangelio  sin las ataduras de la pueril idolatría.

La beatitud es común dentro de las iglesias cristianas, con todo, notamos la infiltración de esta actitud en algunos sectores espiritas, yendo al encuentro de los postulados doctrinarios. Hay individuos que se tornan adeptos al Espiritismo, más, infelizmente, no consiguen desasociarse totalmente de los conceptos teológicos medievales.  En realidad, la “principal  causa de la deturpación y desvió de  las grandes ideas filosóficas y concepciones religiosas es que los hombres, no esforzándose  lo suficiente para comprenderlas, pasan a adaptarlas a su modo de ser y de actuar. No consiguiendo cambiar a sí mismos, emprenden  por sus propios  puntos de vista  el cambio de los principios que no consiguieron asimilar.” (Nueva Historia    del Espiritismo – Dalmo Duque)        
                                                                                                                                                                                                                  
Es natural que los Espíritus de escuela ejerzan sobre nosotros, seres aun imperfectos, un “ascendente moral irresistible” (L.E, Q.274), más el deseo de ellos es de auxiliarnos en la conquista de nuestro progreso  intelecto moral, y no ser livianamente  adorados como mitos.

Al escribir en su frontispicio el lema “Fuera de la caridad no hay salvación”, la doctrina espirita restaura la moral cristiana en su expresión más pura. No existen más dogmas, rituales, ceremonias, sacerdocios, imágenes, o cualquier acción que evidencie la práctica del culto exterior y del formalismo institucional. Verificamos en la cuestión 886 de El Libro de los Espíritus cual es el verdadero sentido de la palabra caridad, como entendía el propio Jesús: Benevolencia para con todos, indulgencia para las imperfecciones de los otros, perdón de las ofensas.”

Conforme observamos, el sentido de la palabra caridad, empleada por el Espiritismo, es bastante amplio  y no se limita a la asistencia social, como algunos falsamente interpretan. Los dogmas, que fueron infiltrándose  en las enseñanzas evangélicas, ahogaron  las máximas grandes del cristianismo naciente. Poco a poco los cristianos fueron abandonando la esencia del Evangelio, cambiándolo por el culto exterior que nada exige del hombre a no ser la hipocresía de los fariseos.

Ocurre que, entre los cristianos protestantes y católicos, hay un predominio de la teología paulina de la justificación por la fe, según las palabras de Pablo de Tarso,  la “salvación” (¿salvarse de qué?) vendría por la fe  y no por las palabras. De acuerdo  con datos históricos, Tiago, el hermano de Jesús, fue el verdadero coordinador del  Cristianismo naciente, siendo su epístola una verdadera contestación para con la doctrina  de la justificación por la fe enseñada por el apóstol de los Gentíos.

Todavía, defiende Herminio C. Miranda que el apóstol Paulo “no predica la fe sin obras, como entienden muchos de sus intérpretes hasta hoy; el no hace otra cosa sino enseñar que la fe,  la nueva concepción del relacionamiento del hombre con Dios, dispensa la ritualista de la ley antigua, consubstanciada en el viejo testamento y en la tradición” y que “jamás encontró apoyo en el pensamiento de Paulo de que la fe pasiva y sin obras nos llevaría a la salvación. “ (Las  marcas de Cristo – Paulo, el apóstol de los Gentiles).  Por su vez,  Severino Celestino adujo que “no podemos olvidar que Paulo es Jesús. Su mensaje fue dirigido a los Gentíos  o paganos y el facilito  muchas cosas para conquistar a aquellos  a quien dirigió su mensaje, en  nombre de Jesús.” (El evangelio y el Cristianismo primitivo)
 
Tal pensamiento  tiene sentido,  bastaríamos citar el capítulo 13 de la primera epístola  de Paulo a los Corintios, considerada un verdadero himno a la caridad. Otros pasajes también evidencian que Paulo no predicaba la fe sin obras. 2 Corintios 5:10, 2 Timoteo 4: 14, 1 Corintios 3:8, entre otras.

No sabemos si la intención de Pablo de tarso era predicar la salvación gratuita o si los teólogos interpretaron mal (mala fe) sus palabras, entretanto, son en sus   epistolas que la iglesia se fundamenta, para defender el dogma salvacionista  gratuito, donde podemos decir que hay más paulinos que cristianos dentro de las iglesias.

En las palabras de Jesús el salvacionismo jamás encontró respaldo. El coloca como regla aurea la Ley de amor (Mateo 22:36-39). La síntesis del evangelio está toda contenida en el Sermón de la Montaña, en el encontramos toda la pureza de una verdadera moral universal, la exhortación es siempre en   pro de la benevolencia para con todos, indulgencia para las imperfecciones de los otros y perdón de las ofensas. Para Humberto Rohden “el Sermón de la Montaña  es el alma del evangelio". Lo que también llevó a Gandhi a decir: “Si por acaso  se perdiese todos los libros sagrados del mundo y quedase apenas el Sermón de la Montaña, nada estaría perdido”.

En una de sus bellísimas parábolas, con contenido extremadamente significativo, “Jesús coloca al samaritano, considerado herético, pero que practica el amor a su prójimo, por encima del ortodoxo que falta a la caridad. No considera, por  tanto, la caridad apenas como una de las condiciones para la salvación, más  si como la condición única. Si otras hubiesen de ser cumplidas, las habría declinado. Desde que coloca la caridad en primer lugar,  es porque ella implícitamente abraza  a todas las otras. La humildad, la dulzura, la benevolencia, la indulgencia, la justicia, etc. “(ESE Cap. 15, ítem 3)

Renace la esencia de la moral [universal] cristiana con el advenimiento del Espiritismo. Semejante al aposto Tiago,  que también afirma: “así como el cuerpo sin el espíritu está muerto, así también la fe sin obras está muerta.” (Tiago 2, 26) Esta es la verdad que debemos resguardar. Cultivar los atavismos religiosos dentro del movimiento espirita es inaceptable.

 No podemos permitir que, en nombre de una tolerancia irresponsable, desnaturalicen el mensaje del Espiritismo, silenciar ante la deturpación  es lo mismo que compactar con el error. El adepto sincero tiene el deber  de celar  por la pureza doctrinaria y denunciar toda tentativa de institucionalización de iglesia. “No hay más lugar para la complacencia, compadres, tolerancia criminosas en el medio espirita. Cada uno será responsable por las hiervas dañinas que deja crecer a su alrededor. Es esa la manera más eficaz de combatir  el Espiritismo en la actualidad: cruzar los brazos, sonrisa amarilla, concordar para no contrariar, porque, en ese caso, el combate a la doctrina no viene de fuera, más si de dentro del movimiento doctrinario. (J. Herculano Pires – Curso Dinámico de Espiritismo)

El individuo que busca vivenciar el evangelio no es ( o no debería ser)  un beato cursi, más si apenas un hombre que lucha para conquistar su transformación moral y dominar sus malas inclinaciones (ESE, Cap. 17, ítem 4). La moral cristiana  no visa crear conductas artificiales, nos invita, conforme afirmo J. Herculano Pires, a “evolucionar no para fuera más si para dentro”.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A fé pelas obras e a conduta espiritista

Por Ricardo Malta

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.“ (Tiago 2:17, 18)

O Espiritismo ensina que se reconhece o verdadeiro cristão pelas suas obras (ESE, Cap.18, Item 16). Não adianta adorar e idolatrar a figura de Jesus: É necessário vivenciar a mensagem da qual ele foi portador e exemplificador. O próprio nazareno elucida: “E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?“ (Lucas 6:46). Com estas palavras, dirigidas aos hipócritas e adoradores comodistas, ele evidenciou a necessidade de vivenciar o evangelho sem as amarras da idolatria pueril.

A beatice é comum dentro das igrejas cristãs, contudo, notamos a infiltração desta atitude em alguns setores espíritas, indo de encontro aos postulados doutrinários. Há indivíduos que se tornam adeptos do Espiritismo, mas, infelizmente, não conseguem se desassociar totalmente dos conceitos teológicos medievais. Na realidade, a “principal causa da deturpação e desvio das grandes idéias filosóficas e concepções religiosas é que os homens, não se esforçando o suficiente para compreendê-las, passam a adaptá-las ao seu modo de ser e de agir. Não conseguindo mudar a si mesmos, empreendem pelos seus pontos de vista a mudança dos princípios que não conseguiram assimilar.” (Nova História do Espiritismo – Dalmo Duque)

É natural que os Espíritos de escol exerçam sobre nós, seres ainda imperfeitos, um “ascendente moral irresistível” (L.E, Q.274), mas o desejo deles é de nos auxiliar na conquista do nosso progresso intelecto-moral, e não serem levianamente adorados como mitos.

Ao escrever em seu frontispício o lema “Fora da caridade não há salvação”, a doutrina espírita restaura a moral cristã em sua expressão mais pura. Não existem mais dogmas, rituais, cerimônias, sacerdócio, imagens, ou qualquer ação que evidencie a pratica do culto exterior e do formalismo institucional. Verificamos na questão 886 de O Livro dos Espíritos qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como entendia o próprio Jesus: Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

Conforme observamos, o sentido da palavra caridade, empregada pelo Espiritismo, é bastante amplo e não se limita a assistência social, como alguns falsamente interpretam. Os dogmas, que foram se infiltrando nos ensinamentos evangélicos, abafaram essa grande máxima do Cristianismo nascente. Aos poucos os cristãos foram abandonando a essência do evangelho, trocando-o pelo culto exterior que nada exige do homem a não ser a hipocrisia dos fariseus.

Ocorre que, entre os cristãos protestantes e católicos, há um predomínio da teologia paulina da justificação pela fé, que, segundo as palavras de Paulo de Tarso, a “salvação” (salvar-se de que?) viria pela fé e não pelas obras. De acordo com dados históricos, Tiago, o irmão de Jesus, foi o verdadeiro coordenador do Cristianismo nascente, sendo a sua epístola uma verdadeira contestação para com a doutrina da justificação pela fé ensinada pelo apóstolo dos Gentios.

Todavia, defende Hermínio C. Miranda que o apóstolo Paulo “não prega a fé sem obras, como entendem muitos de seus intérpretes até hoje; ele não faz outra coisa senão ensinar que a fé, a nova concepção do relacionamento do homem com Deus, dispensa a ritualista da lei antiga, consubstanciada no velho testamento e na tradição” e que “jamais encontrou apoio no pensamento de Paulo de que a fé passiva e sem obras levar-nos-ia à salvação.” (As marcas do Cristo - Paulo, o apóstolo dos Gentios). Por sua vez, Severino Celestino aduz que “não podemos esquecer é que Paulo não é Jesus. Sua mensagem foi dirigida aos Gentios ou pagãos e ele facilitou muita coisa para conquistar aqueles a que dirigiu sua mensagem, em nome de Jesus.” (O evangelho e o Cristianismo primitivo)

Tal pensamento faz sentido, bastaríamos citar o capítulo 13 da primeira epístola de Paulo aos Coríntios, considerada um verdadeiro hino à caridade. Outras passagens também evidenciam que Paulo não pregava a fé sem as obras: 2 Coríntios 5:10, 2 Timóteo 4:14, 1 Coríntios 3:8, entre outras.

Não sabemos se a intenção de Paulo de Tarso era pregar a salvação gratuita ou se os teólogos interpretaram mal (má-fé?) as suas palavras, entretanto, são nas suas epístolas que a igreja se fundamenta para defender o dogma do salvacionismo gratuito, donde podemos dizer que há mais paulinos do que cristãos dentro das igrejas.

Nas palavras de Jesus o salvacionismo jamais encontrou respaldo. Ele coloca como regra áurea a Lei do amor (Mateus 22: 36-39). A síntese do evangelho está toda contida no Sermão da Montanha, nele encontramos toda pureza de uma verdadeira moral universal,  a exortação é sempre em prol da benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e o perdão das ofensas. Para Huberto Rohden “o Sermão da Montanha é a alma do evangelho”. O que também levou Gandhi a dizer: “Se por acaso se perdesse todos os livros sagrados do mundo e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”.

Numa de suas belíssimas parábolas, com conteúdo extremamente significativo, “Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que pratica o amor do próximo, acima do ortodoxo que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas como a condição única. Se outras houvesse a serem preenchidas, ele as teria declinado. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc.” (ESE, Cap.15, Item 3)

Renasce a essência da moral [universal] cristã com o advento do Espiritismo. Semelhante ao apóstolo Tiago, também afirma: “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tiago 2, 26) Esta é a verdade que devemos resguardar. Cultivar os atavismos religiosos dentro do movimento espírita é inaceitável.

Não podemos permitir que, em nome de uma tolerância irresponsável, desnaturem a mensagem do Espiritismo, silenciar ante as deturpações é o mesmo que compactuar com o erro. O adepto sincero tem o dever de zelar pela pureza doutrinária e denunciar toda tentativa de institucionalização igrejeira. “Não há mais lugar para comodismos, compadrismos, tolerâncias criminosas no meio espírita. Cada um será responsável pelas ervas daninhas que deixar crescer ao seu redor. É essa a maneira mais eficaz de se combater o Espiritismo na atualidade: cruzar os braços, sorrir amarelo, concordar para não contrariar, porque, nesse caso, o combate à doutrina não vem de fora, mas de dentro do movimento doutrinário.” (J. Herculano Pires - Curso Dinâmico de Espiritismo.)

O indivíduo que busca vivenciar o evangelho não é (ou não deveria ser) um beato piegas, mas apenas um homem que luta para conquistar sua transformação moral e dominar suas más inclinações (ESE, Cap. 17, Item 4). A moral cristã não visa criar condutas artificiais, convida-nos, conforme afirmou J. Herculano Pires, a “evoluir, não por fora, mas por dentro”.

¿Las obras básicas de la Doctrina Espirita están ya ultrapasadas?

Por Maria das Graças Cabral

Clique aqui para ler a versão em português.

Es muy común oír en estos nuevos tiempos por parte de una legión de espiritas, que las Obras Básicas están ultrapasadas, por no haber acompañado a los avances de la humanidad.

En contrapartida, las denominadas “obras complementarias”  se tornan dignas de toda  la credibilidad, merecedoras de todo el respeto, formando una verdadera legión de seguidores, en detrimento de las “ultrapasadas” Obras Básicas.

Vale recordar que las referidas obras “complementarias”, son comunicaciones de origen mediúmnico, advenidas de un único Espíritu, bajo la supervisión de otro Espíritu (mentor del médium), a  través de un único médium. Tal análisis se extiende  a todas las otras millares de obras literarias que abarrotan las carteleras de las librerías de Brasil y del mundo, y que se titulan espiritas.

Ya la Obra considerada por los compañeros como “ultrapasada”, al contrario de las “complementarias”, fue dictada por una pleya de Espíritus de alta evolución moral e intelectual, del porte de San Juan Evangelista, San Agustín, San Vicente de Paul, San Luis, Sócrates, Platón, Fenelon, Franklin, Swedenborg, entre otros, bajo el comando nada más y nada menos de  El Espíritu de Verdad.

Es oportuno resaltar, que las comunicaciones de los Espíritu superiores que dieron origen a la Codificación Espirita, acontecieron a través de millares de médiums, en los más diversos grupos espiritas esparcidos por el mundo, sometidas todas al Control  Universal de las Comunicaciones Espiritas, conforme palabras de Allan Kardec , el Codificador, en la Introducción del Evangelio Según el Espiritismo.

Se debe también tomar en cuenta,  en lo que concierne a las “ultrapasadas” Obras Básicas, que el referido Codificador (Allan Kardec), se trataba de un hombre de elevada intelectualidad y moralidad, que no teniendo el don  mediúmnico, se  serbia  de todo su intelecto, conocimiento, racionalidad y buen sentido, para analizar, evaluar y organizar las comunicaciones recibidas a través de los médiums, bajo la fiscalización de los Espíritus  Superiores, las cuales vinieron  a componer  el “Cuerpo doctrinario” de la Codificación Espirita. 

Más volvamos a la cuestión  de las emblemáticas “obras complementarias”. Se percibe  la confusión que se hace entre, avance tecnológico del mundo contemporáneo, y evolución moral del espíritu humano.

¿En lo que concierne a las ya “ultrapasadas” Obras Básicas, podemos preguntar a los que así la consideran, en cuales de sus aspectos  las mismas ya fueron ultrapasadas o están incompletas?

¿Será en su aspecto Filosófico, debidamente organizado en “El Libro de los Espíritus?

Según Allan Kardec “El libro de los Espíritus es el compendio de las enseñanzas de los Espíritus  Superiores. Fue escrito por orden  y bajo el distado de los Espíritus Superiores para establecer los fundamentos de una filosofía racional, libre  de los prejuicios del espíritu de sistema. Nada contiene que no sea la expresión de su pensamiento, y no haya sufrido el control de los mismos. El orden y la distribución metódica de las materias así como las notas y la forma de algunas partes de la redacción constituyen la única obra de aquel que recibió la misión de publicar, o sea, de Allan Kardec. (L.E, p.52)

Se pregunta: ¿Qué áreas del conocimiento tratadas en el Libro de los Espíritus, que ya está ultrapasado, precisando  de complementación? -  ¿Cuáles  de los más variados y vastos asuntos tratados en la referida obra, que va de la “Teología Espirita” a las  de “Esperanzas y Consuelos”,  ya  no atienden a los “avances” del Espíritu humano?

En lo que concierne a la importancia de la obra, oportunamente  trascribimos  a Herculano Pires, cuando así se expresa: - “El Libro de los Espíritus no es, apenas, la piedra fundamental  o el marco inicial de la nueva codificación. Porque es el propio delineamiento, su núcleo central y al mismo tiempo el marco general de la doctrina. Examinándolo, en relación a las demás obras de Kardec, que complementan la codificación, verificamos que todas esas obras parten de su contenido”. (L.E, p. 12)

En una nota al pie de El Libro de los Espíritus, asevera el referido autor: “Los Espíritus aluden  a la eternidad espiritual de la doctrina, de su permanente proyección en la Tierra. Más debemos distinguir entre  sus manifestaciones falseadas, en el pasado, y la manifestación pura  que se encuentra en este libro. Los trazos de la Doctrina  espirita marcan el  camino de la evolución humana en la Tierra, más solo con este libro ella se presentó  definida y completa. Por eso, el Espiritismo es, una doctrina moderna”. (L. E. p. 116)

En realidad, se puede constatar que a cada momento, cuando retomamos el estudio de El Libro de los Espíritus, nos deparamos con nuevas enseñanzas y cuestiones que nos pasaron desapercibidos en lecturas anteriores. Se entiende por tanto  improbable  e inadmisible, que en una única encarnación, consigamos alcanzar  y aprender con profundidad, toda la grandiosidad de las enseñanzas de los Espíritus Superiores, aplicándolos por consiguiente en nuestras vidas. Más allá, tal constatación y hecha por varios y respetados estudiosos de la Doctrina Espirita, tales  como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raúl Texeira, entre otros.

¿Bien, entonces sería la Ciencia  la que demostró la superación de la Doctrina Espirita? Ósea, consiguió probar la inexistencia de los Espíritus o de los fenómenos Espiritas? A ese respecto nadie mejor que Kardec cuando así se expresa:

“Las ciencias comunes se apoyan en las propiedades de la materia, que pueden ser experimentadas y manipuladas a  voluntad; los fenómenos espiritas se apoyan en la acción de   inteligencias que tienen voluntad propia y nos prueban a todo instante  no estar sometidas a nuestro capricho.

Las observaciones, por tanto, no pueden ser hechas de la misma manera, en uno u otro caso”. (L. E. p. 36)
Más adelante asevera el codificador: “La ciencia propiamente dicha,  como ciencia incompetente, para pronunciarse sobre la cuestión del espiritismo: no le cabe ocuparse del asunto y su pronunciamiento, al respecto, cualquiera que sea, favorable o no, no tiene ningún peso” (L. E. p, 36) 

¿Si la ciencia  tradicional no tiene “competencia” para considerar “ultrapasada” la Doctrina Espirita – seria entonces su  aspecto religioso el que estaría ultrapasado, precisando de “obras complementarias”?
¿Más el aspecto religioso de la Doctrina  Espirita está amparada en la moral de Cristo! ¿Entonces esta moral  está ultrapasada? A ese respecto, vale resaltar, que aunque  transcurridos dos milenios del paso de Jesús por el planeta Tierra, sus enseñanzas  basadas en la Ley de Amor, aun están por acontecer.

¿Entonces,  cual es  el gran problema que viene causando la  cizaña en el Movimiento Espirita? Por un lado, aquellos que defienden el “rescate” del estudio de las Obras Básicas de la Codificación, siendo considerados por parte de los defensores de las “obras complementarias” de “ortodoxos” o “puristas”.

De otro lado, los que consideran “avanzados”, o “evolucionistas” los cuales entienden que realmente la Doctrina espirita está “ultrapasada” y precisa de “obras complementarias” con más informaciones “avanzadas” que acompañan  la evolución científica (¿) , y la evolución del pensamiento humano (¿)

Estos compañeros que se consideran “libres” y “avanzados” entienden que la humanidad ahora ya está preparada para recibir las nuevas “revelaciones” traídas en las “obras complementarias”.

Entretanto es sabido que una obra filosófica o científica o religiosa, solo podría ser considerada “ultrapasada” , cuando sus conceptos y principios estuviesen en total desacuerdo con las pruebas científicas, o que ultrapasasen los límites de la razón y del buen sentido. Fue lo que ocurrió por ejemplo, con ciertas creencias del catolicismo que fueron  contestados y comprobados  por la ciencia tradicional, y se tornaron para sus seguidores dogmas de fe, (por tanto incuestionable).

En lo que concierne a  la Doctrina Espirita esto no acontece, por ser una doctrina evolucionista, racional y no dogmatica. Por otro lado, debemos poner en pauta que las nuevas revelaciones traídas por compañeros del plano espiritual, objetivando “complementar” las “ya ultrapasadas” Obras Básicas, no podrían en hipótesis alguna  estar en desacuerdo con cualquiera de los principios doctrinarios de las obras las cuales se proponen “complementar”!

Entretanto, en lo que concierne a lo por encima expuesto, basta que  nosotros propongamos  con la mente  y el corazón abiertos a un estudio serio y efectivo de las Obras Básicas, para que fácilmente identifiquemos en las dichas “obras complementarias”, varios aspectos contradictorios a los principios  doctrinarios espiritas. Por tanto, tales novedades no podrían ser consideradas “enseñanzas complementarias”.

Para una mejor comprensión, hagamos una analogía con la Constitución Federal que es la Ley Mayor de un país. Esta Ley  Mayor establece los principios fundamentales sobre los cuales se erguirá  todo el ordenamiento jurídico de una nación. Las leyes “complementarias” advenidas, deberán obligatoriamente para efectos de validez  estar plenamente de acorde con los principios constitucionales.
¡De la misma forma, las Obras Básicas como el propio nombre sugiere, trazan los principios fundamentales, o sea, la base de la Doctrina de los Espíritus, debiendo por tanto ser respetados por cualquier obra posterior que se quiera considerar espirita!

Expuesto esto, nos gustaría dejar claro que no defendemos una ortodoxia reaccionaria, objetivando la creación de un INDEX de obras a ser quemadas por no ser las Obras Básicas, o por estar en desacuerdo con estas.

Defendemos si, el estudio serio de las Obras de la Codificación, objetivando el conocimiento y discernimiento, para una segura evaluación e identificación de lo que no puede y no debe ser considerado obra espirita. Y lo más temerario que es la atribución  y titulación de “obra complementaria” de la Doctrina Espirita.

Es un hecho que el Espiritismo viene vivenciando una ortodoxia y un gran dogmatismo. Más no por parte de una minoría que busca rescatar el estudio de los principios doctrinarios postulados en las Obras Básicas, puesto que, estas están relegadas al total descaso  por la gran mayoría de los espiritas, bajo la alegación de estar  las mismas ultrapasadas; o por ser consideradas de lectura difícil, cansativa y aburrida.

Entiendo que la gran ortodoxia y dogmatismo que despierta las más exacerbadas reacciones, vienen siendo practicada por parte de una verdadera legión de espiritas de comportamiento intolerante y agresivo, que de forma enceguecida defienden ferozmente  no solo a las llamadas “obras complementarias”, más principalmente las figuras que las representan, en detrimento de los espíritus Superiores que nos trajeron los Principios Espiritas  y del propio Codificador, Allan Kardec.

Más allá, en lo que dice al respecto a Kardec, ya oí por  parte de espiritas defensores de las “obras complementarias”  referencias de profundo desprecio, como -¿Quién es Kardec? Por acaso es el “dueño” del Espiritismo? ¿No es “apenas” el Codificador?

Bien para finalizar, es un hecho que realmente ocurrió una “división” en el Movimiento Espirita, donde los seguidores de las “obras complementarias”, infelizmente formaron una verdadera “secta” salida de las huestes espiritas, adoptando como verdades incuestionables y absolutas todo lo que preconiza las referidas obras. ¡Es una pena!

Más, como todos acreditamos que el Espiritismo es inmortal, sabemos que todo es una cuestión de tiempo… Desencarnaremos y estaremos ante  nosotros mismos, bajo las Leyes inmutables de Dios. Vamos entonces a confirmar por nosotros mismos todo lo que nos dicen las Obras Básicas de la Doctrina espirita.

Al final, nos dicen los Espíritus que una encarnación es menos que un minuto ante la eternidad. ¡Paz!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Lei de Ação e Reação não é o axioma de Causa e Efeito

Por Maria das Graças Cabral

É muito comum ouvirmos de espíritas, ou lermos em obras intituladas espíritas, quando tratam das razões que levam ao sofrimento humano, e muitas vezes ‘inexplicáveis’, a aplicação da chamada “Lei de Ação e Reação“, preconizada pelo Espírito André Luiz através da psicografia do médium Chico Xavier.

Primeiramente faz-se por oportuno termos a lucidez para observar que o Espírito André Luiz, quando na sua última encarnação, segundo sua própria narrativa no livro Nosso Lar, foi médico sanitarista no início do século XX, exercendo sua profissão no Rio de Janeiro, Brasil, e tendo passado "mais de oito anos" nas regiões umbralinas de sua consciência.
   
Enquanto encarnado, não foi um homem religioso, vivendo voltado exclusivamente para o seu trabalho de médico. Era temperamental, bebia e fumava, vindo a morrer de um câncer intestinal. Daí, a sua total incompreensão diante do fenômeno ‘morte‘, e de sua resistência em buscar Deus para socorrê-lo dos pesadelos vivenciados dentro do seu estado exacerbado de perturbação.

Ao lermos suas obras, devemos considerar que suas percepções sobre o mundo espiritual retratados nos seus romances, trazem o viés de um cientista leigo nas questões espirituais, em processo inicial de aprendizado, usando de um vocabulário técnico bem próprio da sua profissão. Inferindo-se que, o Espírito André Luiz não era um estudioso da Doutrina Espírita, não teve tempo suficiente enquanto ditava suas obras do plano espiritual para conhecê-la através de um estudo aprofundado, posto que, se tomarmos por analogia a nós mesmos enquanto encarnados, não chegamos durante uma encarnação relativamente profícua no estudo doutrinário, ao verdadeiro conhecimento de O Livro dos Espíritos, que é a primeira obra da Codificação.

Daí, o porquê quando no seu romance intitulado “Ação e Reação” - vai buscar nos seus conhecimentos de física a ‘Lei de Ação e Reação“ - Terceira Lei de Newton - que é uma restrita lei física, para adequá-la por analogia às causas dos sofrimentos humanos.

Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da ação e reação asseverando que: A qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.

Se um corpo A, exerce uma força em um corpo B, o corpo B simultaneamente exerce uma força da mesma magnitude no corpo A - ambas as forças possuindo mesma direção, contudo sentidos contrários.
   
Aplicado ao pé da letra a lei de Newton, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; p. ex., se uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação.

No referido romance intitulado ‘Ação e Reação’, o Espírito André Luiz também se reporta a questão do ‘carma’ quando o Ministro Sânzio atendendo às suas interrogações ansiosas diante do que observa nas instituições visitadas, lhe explica o que seja a questão do ‘carma’, ou ‘choque do retorno’. Nota-se perfeitamente a confusão de informações que o Espírito André Luiz recebe e repassa, constatando-se claramente, que seus instrutores não seriam também espíritas conhecedores da Codificação Espírita, daí recorrerem a outras terminologias.

À esse respeito, vale pontuar que “carma” é uma palavra oriental que significa ação. No dicionário encontra-se a seguinte definição: do sânscrito karman; nas filosofias da Índia, o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências - (bem semelhante à Lei de Ação e Reação).

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos os atos foram maus,   renascerão de uma mulher  pária  (castas  inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos. (J. Herculano Pires)

No que concerne à Codificação Espírita, se formos pesquisar em todas as Obras Básicas incluindo a Revista Espírita, não encontraremos em nenhuma delas, em momento algum, os Espíritos Superiores, ou mesmo Kardec tratando ou estabelecendo uma Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito. Nem muito menos usando do termo ‘carma’.
 
Isto porque Kardec logo na Introdução da gigantesca obra sobre o qual se ergue a Doutrina Espírita - que é O Livro dos Espíritos - assevera que: “Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos”. (Introdução de O Livro dos Espíritos) (grifei)

Portanto, não existe formalmente na Codificação ou na Revista Espírita a definição de Lei de Causa e Efeito - mas a menção de um axioma utilizado pelos Espíritos Superiores, quando esclarecem a origem das dores dizendo que para todo o efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.

Mais precisamente em “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, este axioma é aplicado quando trata da “Justiça das Aflições” e os Espíritos Superiores discorrem sobre as Causas Atuais e Anteriores das Aflições.
 
No que concerne às causas atuais das aflições nos é dito que: “Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau comportamento ou por não terem limitado os seus desejos”. (ESE, Cap. V, 4)

No item seguinte quando são tratadas as causas anteriores das aflições, assim se expressam: “Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a perda de entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que nenhuma previdência pode evitar; os revezes da fortuna; os flagelos naturais; doenças de nascença; deformidades, a idiotia, a imbecilidade, etc. (ESE. Cap. V, 6)

Adiante, esclarecem a problemática utilizando-se do axioma anteriormente mencionado asseverando: “Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual, é que pertence a uma existência precedente”. (ESE. Cap. V, 6)

Diante do exposto infere-se que em razão de uma justiça divina rigorosa precisamos ‘aprender’ para evoluir. Mas não aplicando-se uma Lei de Ação e Reação que seria uma versão modernosa da Lei de Talião, ou seja, do ‘olho por olho e dente por dente’. Na realidade a Lei que transmudará as dores num estado interior de felicidade e paz, é a preconizada por Jesus quando nos asseverou que “o Amor cobre a multidão de pecados”.

Oportuno ressaltar, como nos asseveram os Espíritos Superiores que nem todo o sofrimento que se passa nesse mundo é advindo necessariamente de uma determinada falta, pois pode tratar-se muito “freqüentemente” de simples provas escolhidas pelo próprio Espírito, para acelerar seu processo evolutivo. (ESE. Cap. V, 9)
 
Portanto, na condição de espíritas, estejamos atentos para não cairmos nas malhas da anfibologia, que tanto Kardec combateu em relação à Doutrina Espírita, evitando a utilização de palavras que já têm um sentido próprio, e usadas analogicamente geram interpretações equivocadas no que concerne ao corpo doutrinário.

Inteligência Cósmica

Por Ricardo Malta

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. (L.E, Q.1)

Não podemos conceber, em pleno século XXI, a imagem de um Deus antropomórfico, personificado na imagem de um velhinho sisudo, de barbas longas e com um cajado nas mãos. As religiões ancestrais limitaram a Divindade a ponto de transformá-la neste ser humanóide. Ainda existem aqueles que afirmam, ingenuamente, que Deus habita nas igrejas. Esquecem que o “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.” (Atos 17:24) 

O ateísmo se faz justo com essa imagem primitiva do Criador. Não podemos negar que essa teologia medieval colaborou muito para a proliferação da descrença. Voltaire, o filósofo iluminista, afirmou que não acreditava no Deus que os homens criaram, mas no Deus que criou os homens. Com razão ele fez tal afirmativa, da qual o Espiritismo apóia, pois a causa primária de todas as coisas não poderia ser essa figura limitada e pintada pelos teólogos.

A visão espírita, descrita na primeira questão de O Livro dos Espíritos, é, talvez, a melhor concepção que podemos ter do Criador. Falta-nos a percepção necessária para defini-Lo com maior exatidão, sendo toda tentativa neste sentido infrutífera. Ora, como poderá o limitado definir aquilo que é ilimitado? Inconcebível. “Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair.” (L.E, Q.14)

“Deus não é uma forma humana, não é uma figura mitológica, não é um símbolo. Deus é a realidade fundamental, a Inteligência suprema, a fonte de que surgem todas as coisas, assim como da inteligência finita do homem surgem as coisas que constituem o seu mundo finito. Não é possível dar forma a Deus, limitá-lo, restringi-lo, dominá-lo pela nossa razão, como não é possível dar forma à nossa própria inteligência.” (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)


Entretanto, observando suas obras, que se encontram escritas no universo cósmico, conseguimos ter uma idéia de seus atributos. Por isso, a doutrina espírita nos ensina que só podemos conceber Deus: eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. (L.E, Q.13)

Com razão afirmou J. Herculano Pires que o espiritualismo simplório e o materialismo atrevido são os dois pólos da estupidez humana. Claro, negar o Deus criado pelos teólogos é aceitável, mas negar a existência de uma inteligência cósmica que preside todo o universo é, no mínimo, faltar com o bom senso.

Extraímos a certeza da existência de Deus num axioma lógico: Não há efeito inteligente sem uma causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa.

Não conseguimos, por questão de lógica e bom senso, imaginar que o universo seja obra do acaso. “Viu-se alguma vez o arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que poema o da vida universal! [...] Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade.” (Leon Denis. Depois da morte.)

Com sabedoria, utilizando-se de uma analogia brilhante, nos diz Allan Kardec: “A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente? Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.” (GE, Cap.2, Item 6)

Ora, ao lançar o olhar para o universo, torna-se impossível aceitar que a dança cega dos átomos seja capaz de compor esse poema cósmico de que nos fala o ilustre filósofo Leon Denis. Alias, nas palavras de Herculano Pires, "as coisas evidentes se impõem pela própria evidência. Não podemos negar a existência de Deus, porque como dizia Descartes, isso equivale a negar a existência do sol em nosso sistema planetário." (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)

Ante o exposto, conclui-se, por racionalidade e não por crendice, que “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial” (L.E, Q.14). Assim, da mesma forma que Voltaire, declaramos: Morro adorando a Deus!