segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O Espiritualismo Experimental

Por Léon Denis

Em nossos dias, mais do que nunca, o Espiritismo chama a atenção do público. Fala-se com freqüência em casas mal-assombradas, em fenômenos de telepatia, em aparições e materializações de espíritos.

A Ciência, a Literatura, o Teatro e a Imprensa deles se ocupam constantemente, porquanto as experiências do Instituto Metapsíquico, os testemunhos do grande escritor inglês Conan Doyle e as averiguações feitas por alguns jornais parisienses dão a esta questão um caráter de atualidade permanente.

Examinemos, pois, este problema, e averigüemos por que o Espiritismo, tão freqüentemente sepultado, sempre reaparece, crescendo, dia a dia, o número de seus partidários.
Não é, por acaso, uma coisa estranha?

Talvez, na História, jamais se tenha produzido nada igual.

Nunca se viu um conjunto de fatos, considerados impossíveis a princípio, cuja idéia provocava, em geral, antipatia, receio, desdém; fatos que excitavam a hostilidade de várias instituições seculares, acabarem por se impor à atenção e até à convicção de homens cultos, competentes, autorizados por suas funções e por seu caráter.

Esses homens, inicialmente céticos, terminaram por reconhecer e afirmar a realidade dos aludidos fenômenos, depois de os estudar, investigar e experimentar.

O ilustre sábio inglês William Crookes, conhecido no mundo inteiro pelo descobrimento do estado radiante da matéria, e que durante três anos obteve, em sua casa, materializações do espírito Katie King, em condições de controle rigoroso, falava, a propósito dessas manifestações: “Eu não digo que isto seja possível, eu digo: isto é".

Oliver Lodge, reitor da Universidade de Birmingham, membro da Sociedade Real, escreveu:

“Fui levado, pessoalmente, à certeza da existência futura, por provas que repousam sobre uma base estritamente científica”.

Frederico Myers, professor de Cambridge – a quem o Congresso Oficial Internacional de Psicologia de Paris, em 1890, elegeu Presidente de Honra – em seu admirável livro A Personalidade Humana, chega à conclusão de que vozes e mensagens nos vêm do Além-Túmulo.

Falando da médium Sra. Thompson, Myers escreve: “Creio que a maioria dessas mensagens vêm de espíritos que se servem, temporariamente, do organismo dos médiuns para transmiti-las a nós.”

O célebre professor Césare Lombroso, de Turim, diz na Leitura: “Os fatos observados nas casas freqüentadas por fantasmas, nas quais, durante anos, se reproduzem aparições e ruídos, de acordo com o relato de mortes trágicas, e sem a presença de nenhum médium, atestam em favor da ação dos mortos. Com freqüência, trata-se de casas desabitadas, onde esses fenômenos se produzem durante várias gerações e, muitas vezes, durante séculos.”

O Sr. Boutroux, filósofo bem conhecido, dissertava, em suas brilhantes conferências, acerca dos espíritos e as comunicações medianímicas, assegurando que: “A porta do subconsciente é a abertura por onde o divino pode entrar na alma humana.”

“Às vezes, – dizia, – as revelações espíritas são tão estranhas que parece, efetivamente, estar, o médium, em comunicação com diferentes seres dos que lhe são acessíveis normalmente.”

William James, reitor da Universidade de Harvard, New York, eminente psicólogo falecido há alguns anos, afirmava a verossimilhança das comunicações com os mortos, em seu estudo publicado no ano de 1909, no Proceedings, acerca de seu amigo Hodgson, já falecido, que vinha conversar com ele pela mediunidade da senhora Piper. James escrevia que: “Estes fenômenos dão a impressão irresistível de que é realmente a personalidade de Hodgson, com suas características próprias” e, mais adiante: “O sentimento dos assistentes era de que conversavam com o verdadeiro Hodgson”.

A origem do Espiritismo, o Espiritualismo Moderno, está na América.

Na realidade, os fenômenos do Além-Túmulo se encontram na base de todas as grandes doutrinas do passado. Em quase todos os tempos, o mundo dos vivos manteve relação com o Mundo Invisível. Porém, na Índia, no Egito e na Grécia, esses estudos eram privilégio de um pequeno número de investigadores e de iniciados, e os seus resultados se ocultavam cuidadosamente.

Para que esse estudo fosse acessível a todos, e se conhecessem as verdadeiras leis que regem o Mundo Invisível; para ensinar os homens a ver nesses fenômenos, não uma ordem de coisas sobrenatural, mas um domínio ignorado da natureza e da vida, era necessário o trabalho enorme dos séculos, todos os descobrimentos da Ciência, todas as conquistas do espírito humano sobre a matéria.
Era preciso que o homem conhecesse seu verdadeiro lugar no Universo, que aprendesse a medir a debilidade de seus sentidos e a sua impotência para explorar, por si mesmo e sem ajuda, todos os domínios da natureza viva.

A Ciência, com seus inventos, atenuou essa imperfeição de nossos órgãos.

O telescópio abriu aos nossos olhos os abismos do espaço, o microscópio nos revelou o infinitamente pequeno: assim surgiu a vida, tanto no mundo dos infusórios  como na superfície dos globos gigantes que giram na profundidade dos céus.

A Física descobriu as leis que regulam a transformação das forças e a conservação da energia e, também, as leis que mantém o equilíbrio dos mundos.

A radioatividade dos corpos revelou a existência de poderes desconhecidos e incalculáveis: raios X, ondas hertzianas, irradiações de todas as classes e de todos os graus.

A Química nos fez conhecer as combinações da matéria. O vapor e a eletricidade vieram revolucionar a superfície do globo, facilitando as relações entre os povos e as manifestações do pensamento, para que as idéias resplandeçam e se propaguem a todos os pontos da esfera terrestre.

Hoje, o estudo do Mundo Invisível vem completar essa magnífica ascensão do Pensamento e da Ciência. O problema do Além-Túmulo se ergue frente ao espírito humano com poder e autoridade.

Nos fins do século XIX, o homem, desenganado de todas as teorias contraditórias e de todos os sistemas incompletos que se lhe apresentavam, abandonava-se à dúvida; perdia, cada vez mais, a noção da vida futura.

Foi então que o Mundo Invisível veio até ele e o perseguiu até sua própria morada. Por diversos meios, os mortos se manifestaram aos vivos. As vozes do Além-Túmulo falaram. Os mistérios dos santuários orientais, os fenômenos ocultos da Idade Média, após um largo silêncio, reapareceram.

O Espiritismo nasceu.

As primeiras manifestações do Espiritualismo Moderno se produziram além dos mares, num mundo jovem, rico de energia vital, de expansão ardente, menos exposto que a velha Europa ao espírito de rotina e aos prejuízos do passado. Dali as manifestações se espalharam por todo o globo.

Essa eleição foi profundamente sensata, pois a livre América era, com efeito, o ambiente mais propício para uma obra de difusão e de renovação. Por isso ali se contam, hoje, vinte milhões de “espiritualistas modernos”. Mas, tanto de um lado do Atlântico quando do outro, embora com intensidades diferentes, as fases de progresso da idéia espírita têm sido idênticas.

Em ambos os continentes, o estudo do magnetismo e dos fluidos havia preparado certos espíritos para a observação do Mundo Invisível.

A princípio, se produziram fatos estranhos em todas as partes, fatos dos quais ninguém se atrevia a falar, senão em voz baixa, na intimidade. Depois, pouco a pouco, se foi elevando o tom. Sábios, homens de talento, cujos nomes são garantia de honorabilidade e de sinceridade, se atreveram a falar desses fatos em voz alta, afirmando-os.

Falou-se de hipnotismo, de sugestão; depois, vieram a telepatia, os casos de levitação e todos os fenômenos do Espiritismo. Agitavam-se mesas em louca rotação; deslocavam-se objetos, sem nenhum contato, ressoavam golpes nas paredes e nos móveis. Todo um conjunto de fatos se produzia; manifestações, vulgares na aparência, mas perfeitamente adaptadas às exigências do meio terrestre, ao estado de espírito positivo e cético das sociedades modernas.

O fenômeno falava aos sentidos, porque os sentidos são como aberturas por onde o fato penetra até o entendimento.

As impressões produzidas no organismo despertam surpresas, incitam à busca, e conduzem à convicção. Daí o encadeamento dos fatos, a marcha ascendente dos fenômenos.
Com efeito, depois de uma primeira fase material e grosseira, as manifestações tomaram um aspecto novo. Os golpes se fizeram mais regulares e se converteram em um meio de comunicação inteligente e consciente; a escrita automática se divulgou.

A possibilidade de estabelecer relação entre o mundo visível e o invisível apareceu como um fato imenso, derrubando as idéias herdadas, derrubando os ensinamentos habituais, mas abrindo sobre a vida futura uma saída que o homem não se atrevia ainda a transpor, deslumbrado pelas perspectivas que se apresentavam a ele.

Ao mesmo tempo que se propagava, o Espiritismo via numerosas oposições levantarem-se contra si. Como todas as idéias novas, teve que enfrentar o menosprezo, a calúnia, a perseguição moral.

Tal qual o Cristianismo, em seu começo foi sobrecarregado de amargura e de injúrias. Sempre acontece assim. Quando novos aspectos da verdade aparecem aos homens, sempre provocam assombro, desconfiança, hostilidade.

É fácil compreendê-lo. A humanidade esgotou as velhas formas de pensamento e de crença; e quando formas inesperadas da verdade se revelam, não parecem corresponder muito ao antigo ideal, que está debilitado, mas não morto.

Por isso se necessita de um período bastante longo de estudo, de reflexão, de incubação, para que a nova idéia abra caminho na opinião. Daí as lutas, as incertezas, os sofrimentos da primeira hora.
Riu-se muito das formas que tomava o Novo Espiritualismo. Os poderes invisíveis, que velam sobre a humanidade, são melhores juízes que nós dos meios de ação e de adestramento que convém adotar, segundo os tempos e os ambientes, para fazer com que o homem tome consciência do seu papel e do seu destino, sem, por isso, travar seu livre-arbítrio. Porque isto é o essencial: que a liberdade do homem fique intacta.

A Vontade Superior sabe ajustar-se às necessidades de uma época, de uma raça, e às novas formas da eterna revelação.

Ela suscita, no seio das sociedades, os pensadores, os experimentadores, os sábios que indicarão o caminho a seguir e colocarão os primeiros marcos. Sua obra se desenrola lentamente. Os resultados são, a princípio, débeis, insensíveis, mas a idéia penetra pouco a pouco nas inteligências. O movimento, por ser imperceptível, não é, por si, menos seguro e profundo.

Em nossa época, a Ciência se elegeu em dona soberana, em diretora do movimento intelectual. Cansada das especulações metafísicas e dos dogmas, a humanidade reclamava provas sensíveis, bases sólidas sobre as quais pudesse assentar suas convicções.

Fazia-se o estudo experimental, a observação dos fatos, como uma tábua de salvação. Daí o grande critério dos homens da Ciência, na atualidade. Por isso a revelação adquiriu um caráter científico. Com fatos materiais, chamou-se a atenção dos homens que se haviam materializado.

Os fenômenos misteriosos, que se achavam disseminados na História, se renovaram e se multiplicaram ao nosso redor, sucederam-se em ordem progressiva, que parece indicar um plano preconcebido, a execução de um pensamento, de uma vontade.

À medida que o Novo Espiritualismo ganhava terreno, os fenômenos se iam transformando. As manifestações, grosseiras no começo, se aperfeiçoavam, tomando um caráter mais elevado. Certos médiuns recebiam por meio da escrita, de uma forma mecânica ou intuitiva, mensagens, inspirações de fonte estranha. Instrumentos musicais tocavam sozinhos.

Ouviam-se vozes e cantos: penetrantes melodias pareciam baixar do céu e turvavam o ânimo dos mais incrédulos. A escrita direta aparecia no interior de lousas justapostas e lacradas.

Os fenômenos de incorporação permitiam aos mortos possuírem o organismo de um médium adormecido, e conversar com quem haviam conhecido na Terra.

Gradualmente, e como conseqüência de um desenvolvimento calculado, apareciam os médiuns videntes, falantes, curadores.

Enfim, os habitantes do espaço, revestindo-se de envoltórios temporários, vinham reunir-se com os humanos, vivendo, por uns instantes, sua vida material e terrestre, deixando-se ver, tocar, fotografar; dando impressões de suas mãos e de seus rostos e desvanecendo-se logo para prosseguir sua vida etérea.

Assim é que se tem produzido uma série de fatos, durante mais de meio século, desde os mais inferiores e vulgares até os mais sutis, segundo o grau de elevação das inteligências que intervêm; toda uma ordem de manifestações se desenrolou sob o olhar atento de observadores.

Por isso, e apesar das dificuldades de experimentação, apesar dos casos de fraudes e dos modos de exploração, em que esses fatos serviram muitas vezes de pretexto, a apreensão e a desconfiança se atenuaram paulatinamente, e o número de investigadores cresceu.

Há quase cinqüenta anos, em todos os países, o fenômeno espírita tem sido objeto de freqüentes investigações empreendidas e dirigidas por comissões científicas. Sábios céticos, professores célebres de todas as grandes universidades do mundo, submeteram esses fatos a um exame profundo e rigoroso. Sua intenção primeira foi sempre esclarecer o que eles acreditavam tratar-se do resultado de enganos deliberados ou de alucinações. Mas quase todos, depois de anos de estudos conscienciosos e de experimentações perseverantes, abandonaram suas prevenções e sua incredulidade, e se inclinaram ante a realidade dos fatos.

As manifestações espíritas, comprovadas por milhares de pessoas em todos os pontos do globo, demonstraram que, ao nosso redor, se agita um mundo invisível, um mundo onde vivem, em estado fluídico, aqueles que nos precederam na Terra, que lutaram e sofreram, e que constituem, além da morte, uma segunda humanidade.

O Novo Espiritualismo se apresenta hoje com um acompanhamento de provas e um conjunto de testemunhos tão imponentes, que já não é possível a dúvida para os investigadores de boa-fé. Isto mesmo expressava o professor Challis, da Universidade de Cambridge, nos seguintes termos:

“Os atestados têm sido tão abundantes e tão perfeitos, os testemunhos têm vindo de tantas fontes independentes entre si e de um número tão grande de testemunhas, que se faz necessário ou admitir as manifestações tal como se nos apresentam, ou renunciar à possibilidade de atestar, por um depoimento humano, qualquer fato que seja.”

Por essa razão, o movimento de propagação se foi acentuando cada vez mais.

No momento atual, estamos assistindo a um verdadeiro florescimento das idéias espíritas. A crença no Mundo Invisível se estendeu por sobre toda a face da Terra. Por toda parte, o Espiritismo tem suas sociedades de experimentação, seus vulgarizadores, seus periódicos.

Embora a filosofia, em suas mais atrevidas especulações, tenha conseguido elevar-se à concepção de outro mundo de existência, depois da morte do corpo, a ciência humana, não obstante, não havia logrado, experimentalmente, a certeza do fato em si.

O valor do Espiritismo consiste, precisamente, em nos proporcionar essas bases experimentais, provando-nos a possibilidade de comunicação entre os vivos e as inteligências que viveram entre nós antes de transpor o umbral da vida invisível. Essas almas puderam dar, em certos casos, a demonstração de sua identidade e de seu estado de consciência.

Para não citar senão um caso entre mil: o doutor Richard Hodgson, falecido em dezembro de 1906, comunicou-se depois com seu amigo J. Hislop, professor da Universidade de Columbia, entrando em minuciosos detalhes, acerca das experimentações e trabalhos realizados pela Sociedade de Investigações Psíquicas, de cuja seção americana era presidente.

Explicou como teriam que dirigi-los, provando sua identidade com todos esses pormenores. Essas comunicações se transmitiram por intermédio de diferentes médiuns, que não se conheciam entre si, servindo de mútua confirmação. Nelas se reconhecem as palavras e as frases familiares do comunicante durante sua vida.

Embora o início do Espiritismo tenha sido difícil e sua marcha, lenta e cheia de obstáculos, há quase vinte anos ele conquistou direito de cidadania. Converteu-se em uma verdadeira ciência e, no tempo certo, num corpo de doutrina, uma filosofia geral da vida e do destino, cimentada em um conjunto imponente de provas experimentais às quais, a cada dia, se agregam fatos novos.

Essa ciência, essa doutrina, nos tem demonstrado, cada vez melhor, a realidade de um mundo invisível, incomensurável, povoado de seres viventes, que até agora haviam passado despercebidos aos nossos sentidos. Novos horizontes se nos abriram. A perspectiva de nossos destinos se nos ampliou.

Nós mesmos pertencemos, por uma parte de nosso ser – a mais importante – a esse Mundo Invisível, que se revela cada dia mais aos observadores atentos.

Os casos de telepatia, os fenômenos de desdobramento, as exteriorizações de pessoas vivas, as aparições à distância, tantas vezes descritas por F. Myers, C. Flammarion, Charles Richet, Dr. Dariex, Dr. Maxwell, etc., o demonstram experimentalmente. As atas da Sociedade de Investigações Psíquicas, de Londres, são ricas em fatos desse gênero.

Os espiritistas crêem que essa parte invisível, imponderável de nosso ser, registro inalterável de nossas faculdades, de nosso “eu” consciente, em uma palavra, o que os crentes de todas as religiões chamaram “alma”, sobrevive à morte. Prossegue sua evolução, no decorrer do tempo e do espaço, até estados sempre melhores e mais iluminados através de raios de justiça, de verdade e de amor. Essa alma, esse “eu” consciente, tem como invólucro indestrutível, como veículo, um corpo fluídico, envoltório do corpo humano, formado de matéria sutil, radiante, invisível, sobre o qual a morte não tem ação alguma.

Achamo-nos aqui em presença de uma teoria, de uma concepção suscetível de reconciliar as doutrinas materialistas e espiritualistas, que durante tanto tempo se combateram sem se poderem derrubar, nem destruir mutuamente.

A alma já não seria uma vaga abstração, mas um centro de força e de vida, inseparável de sua forma sutil, imponderável, embora ainda material.

Há nela uma base positiva para as esperanças e as aspirações elevadas da humanidade. Tudo não termina com esta vida: o ser, indefinidamente aperfeiçoável, recolhe em seu estado psíquico – que sem cessar se refina – o fruto do trabalho, as obras, os sacrifícios de todas as suas existências.

As dores, o grito de chamada que se eleva para o céu, desde as profundezas da humanidade, não ficam sem resposta.

Aqueles que viveram entre nós, e que continuam no espaço sua evolução indefinida, sob formas mais etéreas, não se desinteressam de nossos sacrifícios e de nossas lágrimas.
Desde os cumes da vida universal caem, sem cessar, sobre a humanidade, correntes de força e inspiração. Dali procedem os relâmpagos do gênio; dali os sopros poderosos que passam sobre as multidões nas horas decisivas; dali o consolo para os que sucumbem sob a pesada carga da existência.

Um laço misterioso une o visível ao invisível.

Nosso destino se desenvolve sobre a cadeia grandiosa dos mundos e se traduz em aumentos graduais de vida, de inteligência e de sensibilidade.

Mas, o estudo do universo oculto não se faz sem dificuldades. Lá, como aqui, o bem e o mal, a verdade e o erro se misturam segundo o grau de evolução dos espíritos com os quais entramos em relação.

Por isso é necessário abordar o terreno da experimentação com uma prudência extremada, depois de estudos teóricos suficientes.

O Espiritismo é a ciência que regula essas relações e nos ensina a conhecer, a atrair, a utilizar as forças benéficas do Mundo Invisível; a separar as más influências e, ao mesmo tempo, a desabrochar os poderes escondidos, as faculdades ignoradas que dormem no fundo de todo ser humano.
 
Do livro "Espíritos e Médiuns"

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Da Obsessão e da Possessão

Por Allan Kardec

A obsessão é o império que maus Espíritos tomam sobre certas pessoas, tendo em vista dominá-las e submetê-las à sua vontade, pelo prazer que sentem em fazer o mal.

Quando um Espírito, bom ou mau, quer agir sobre um indivíduo, ele o envolve, por assim dizer, com o seu perispírito, como um manto; os fluidos se penetram, os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e o Espírito pode, então, se servir desse corpo como do seu próprio, fazê-lo agir segundo a sua vontade, falar, escrever, desenhar, tais são os médiuns. Se o Espírito é bom, a sua ação é doce, benfazeja; ele não leva a fazer senão boas coisas; se é mau, leva a fazê-las más; se é perverso e mau, constrange-o, como numa rede, paralisa até a sua vontade, o seu julgamento mesmo, que abafa sob o seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada de água; fá-lo pensar, falar, agir por ele, impele-o, apesar dele, a atos extravagantes ou ridículos, em uma palavra, o magnetiza, o cataleptiza moralmente, e o indivíduo se torna um instrumento cego de suas vontades. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em graus de intensidade muito diferentes. É ao paroxismo da subjugação que se chama vulgarmente de possessão. Há a se anotar que, neste caso, freqüentemente, o indivíduo tem a consciência de que o que faz é ridículo, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso do que ele fizesse mover, contra a sua vontade, os seus braços, as suas pernas e a sua língua.

Uma vez que os Espíritos existiram de todos os tempos, de todos os tempos também eles desempenharam o mesmo papel, porque esse papel está na Natureza, e a prova disso está no grande número de pessoas obsidiadas ou possuídas, querendo-se, antes que fosse posta a questão dos Espíritos, ou que, em nossos dias, jamais ouviram falar de Espiritismo nem de médiuns. A ação dos Espíritos, bons ou maus, é, pois, espontânea; a dos maus produz uma quantidade de perturbações na economia moral, e mesmo física, que, por ignorância da causa verdadeira, atribuía-se a causas errôneas. Os maus Espíritos são os inimigos invisíveis tanto mais perigosos quanto não se suponha a sua ação. O Espiritismo, pondo-os a descoberto, vem revelar uma nova causa para certos males da Humanidade; conhecida a causa, não se procurará mais combater o mal pelos meios que doravante se sabem inúteis, procurar-se-ão os mais eficazes. Ora, o que fez descobrir essa causa? A mediunidade; foi por meio da mediunidade que esses inimigos ocultos traíram a sua presença; ela fez para eles o que o microscópio fez para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo. O Espiritismo não atraiu, de nenhum modo, os maus Espíritos; ele os descobriu, e deu os meios de paralisar-lhes a ação e, conseqüentemente, afastá-los. Ele não trouxe, de nenhum modo, o mal, uma vez que o mal existia de todos os tempos: trouxe, ao contrário, o remédio ao mal mostrando-lhe a causa. Uma vez reconhecida a ação do mundo invisível, ter-se-á a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos, e a ciência, enriquecida com esta nova lei, verá se abrir diante dela novos horizontes. QUANDO CHEGARÁ ELA A ISSO? Quando ela não professar mais o materialismo, porque o materialismo detém o seu vôo e lhe coloca uma barreira intransponível.

Uma vez que se há maus Espíritos que obsIdiam, há bons que protegem, pergunta-se se os maus Espíritos são mais poderosos do que os bons.

Não é o bom Espírito que é mais fraco, é o médium que não é bastante forte para sacudir o manto que se lança sobre ele, para se livrar do constrangimento dos braços que o enlaçam e nos quais, é necessário dizê-lo bem, algumas vezes se compraz. Neste caso, compreende-se que o bom Espírito não possa ter a superioridade, uma vez que se lhe prefere um outro. Admitamos agora o desejo de se desembaraçar desse envoltório fluídico, do qual o seu está penetrado, como uma vestimenta está penetrada pela umidade, o desejo não bastará. A própria vontade nem sempre bastará.

Trata-se de lutar contra um adversário; ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, é aquele que tem músculos mais fortes que derruba o outro. Com um Espírito é necessário lutar, não corpo a corpo, mas de Espírito para Espírito, e é ainda o mais forte que domina; aqui, a força está na autoridade que se pode tomar sobre o Espírito, e essa autoridade está subordinada à superioridade moral. A superioridade moral é como o Sol que dissipa o nevoeiro pela força de seus raios. Esforçar-se para ser bom, tornar-se melhor sendo-se já bom, purificar-se de suas imperfeições, em uma palavra, se elevar moralmente o mais possível, tal é o meio para adquirir o poder de dominar os Espíritos inferiores, para afastá-los, de outro modo eles zombarão de vossas imposições. (O Livro dos Médiuns, nº 252 e 279.)

Entretanto, dir-se-á, por que os Espíritos protetores não lhes ordenam para que se retirem? Sem dúvida, eles o podem e o fazem algumas vezes; mas, permitindo a luta, deixam também o mérito da vitória; se deixam se debaterem pessoas merecedoras sob certos aspectos, é para provar a sua perseverança e fazê-las adquirir mais força no bem; é para elas uma espécie de ginástica moral.

Certas pessoas, sem dúvida, prefeririam uma outra receita para expulsar os maus Espíritos: algumas palavras a dizer, ou alguns sinais a fazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que corrigir os seus defeitos. Com isso estamos descontentes, mas não conhecemos nenhum meio eficaz para vencer um inimigo senão de ser mais forte do que ele. Quando se está enfermo, é necessário resignar-se em tomar um medicamento, embora amargo que seja; mas também, quando se teve a coragem de bebê-lo, como se porta bem e como se é forte! É necessário, pois, bem se persuadir de que não há, para alcançar esse objetivo, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismã, nem quaisquer sinais materiais. Os maus Espíritos deles se riem e se divertem, freqüentemente, indicando-os, que têm sempre o cuidado de dizerem infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles que querem enganar, porque então estes, confiantes na virtude do processo, se entregam sem receio.

Antes de esperar domar o mau Espírito, é necessário domar a si mesmo. De todos os meios para adquirir a força para lá chegar, o mais eficaz é a vontade secundada pela prece, entenda-se a prece de coração, e não de palavras, para as quais a boca toma mais parte do que o pensamento. É necessário rogar seu anjo guardião, e os bons Espíritos, para nos assistir na luta; mas não basta lhes pedir para expulsarem o mau Espírito, é necessário se lembrar desta máxima: Ajuda-te, e o céu te ajudará, e lhes pedir, sobretudo, a força que nos falta para vencermos os nossos maus pendores, que são para nós piores do que os maus Espíritos, porque são essas tendências que os atraem, como a corrupção atrai as aves de rapina. Pedindo também para o Espírito obsessor, é restituir-lhe mal com o bem, e se mostrar melhor do que ele, o que já é uma superioridade. Com a perseverança, freqüentemente, acaba-se por conduzi-lo a melhores sentimentos e de perseguidor se faz um agradecido.

Em resumo, a prece fervorosa, e os esforços sérios para se melhorar, são os únicos meios para afastar os maus Espíritos que reconhecem seus superiores naqueles que praticam o bem, ao passo que as fórmulas os fazem rir, a cólera e a impaciência os excitam. É necessário deixá-los se mostrando mais pacientes do que eles.

Mas ocorre, algumas vezes, que a subjugação aumenta ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, e que não se pode dele esperar nenhum concurso sério. É então, sobretudo, que a intervenção de terceiros torna-se necessária, seja pela prece, seja pela ação magnética; mas a força dessa intervenção depende também do ascendente moral que os intervenientes podem tomar sobre os Espíritos; porque se não valem mais, a sua ação é estéril. A ação magnética, nesse caso, tem o efeito de penetrar o fluido do obsidiado de um fluido melhor, e de livrá-lo do Espírito mau; ao operar, o magnetizador deve ter o duplo objetivo de opor uma força moral a uma força moral, e de produzir sobre o sujeito uma espécie de reação química, para nos servirmos de uma comparação material, expulsando um fluido por um outro fluido. Por aí, não somente ele opera um desligamento salutar, mas dá força aos órgãos enfraquecidos por uma longa e, freqüentemente, vigorosa opressão. Compreende-se, de resto, que a força da ação fluídica está em razão, não só da energia da vontade, mas sobretudo da qualidade do fluido introduzido, e, segundo o que dissemos, que essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador; de onde se segue que um magnetizador comum, que agiria maquinalmente para magnetizar pura e simplesmente, produziria pouco ou de nenhum efeito; é preciso, de toda a necessidade, um magnetizador espírita agindo com conhecimento de causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou uma cura orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever. Além disso, é evidente que uma ação magnética, dirigida nesse sentido, não pode ser senão muito útil no caso de obsessão comum, porque então, se o magnetizador é secundado pela vontade do obsidiado, o Espírito é combatido por dois adversários ao invés de um.

É necessário dizer, também, que se acusam, freqüentemente, os Espíritos estranhos de danos dos quais são muito inocentes; certos estados doentios, e certas aberrações que se atribuem a uma causa oculta, por vezes, devem-se simplesmente ao Espírito do próprio indivíduo. As contrariedades, que mais comumente cada um se concentra em si mesmo, sobretudo os desgostos amorosos, fazem cometer muitos atos excêntricos que se estaria errado em levar à conta da obsessão. Freqüentemente, pode ser-se obsessor de si próprio.

Acrescentemos, enfim, que certas obsessões tenazes, sobretudo nas pessoas de mérito, algumas vezes, fazem parte das provas às quais estão submetidas. "Ocorre mesmo, por vezes, que a obsessão, quando é simples, é uma tarefa imposta ao obsidiado, que deve trabalhar para a melhoria do obsessor, como um pai pela de um filho viciado."

(Para maiores detalhes, remetemos a O Livro dos Médiuns.)

A prece, geralmente, é um meio poderoso para ajudar na libertação dos obsidiados, mas não é uma prece de palavras, dita com indiferença e como uma fórmula banal, que pode ser eficaz em semelhante caso; é necessária uma prece ardente que seja, ao mesmo tempo, uma espécie de magnetização mental; pelo pensamento pode-se levar, sobre o paciente, uma corrente fluídica salutar, cuja força está em razão da intenção. A prece não tem, pois, somente por efeito invocar um socorro estranho, mas de exercer uma ação fluídica. O que uma pessoa não pode fazer só, várias pessoas unidas pela intenção, numa prece coletiva e reiterada, freqüentemente o podem, sendo a potência da ação aumentada pelo número.

A ineficácia do exorcismo nos casos de possessão está constatada pela experiência, e está provado que, a maior parte do tempo, aumenta o mal antes que o diminua. A razão disso é que a influência está inteiramente no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos, e não num ato exterior, na virtude das palavras e de sinais. O exorcismo consiste nas cerimônias e fórmulas das quais se riem os maus Espíritos, ao passo que eles cedem à superioridade moral que se lhes impõe; vêem que se quer dominá-los por meios impotentes, que se pensa intimidá-los por um vão aparelho, e tratam de se mostrar os mais fortes, por isso é que redobram; são como o cavalo assustado, que lança por terra o cavaleiro inábil, e que se submete quando encontra o seu senhor; ora, o verdadeiro senhor aqui é o homem de coração mais puro, porque é este que é o mais escutado pelos bons Espíritos.

O que um Espírito pode fazer sobre um indivíduo, vários Espíritos podem fazê-lo sobre vários indivíduos, simultaneamente, e dar à obsessão um caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos pode invadir uma localidade, e ali se manifestar de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero que maltratou a Judéia ao tempo do Cristo; ora, o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios, ou maus Espíritos, uma superioridade moral tal que lhe bastava ordenar-lhes para se retirarem, para que eles o fizessem, e não empregava para isso nem sinais, nem fórmulas.

O Espiritismo está fundado sobre a observação dos fatos resultantes das relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Estando esses fatos na Natureza, produziram-se em todas as épocas, e são muitos sobretudo nos livros sagrados de todas as religiões, porque serviram de base à maioria das crenças. Por falta de compreendê-los, foi que a Bíblia e os Evangelhos oferecem tantas passagens obscuras e que foram interpretadas em sentidos tão diferentes; o Espiritismo é a chave que deve facilitar-lhes a inteligência.

Fonte: Obras Póstumas

Para saber mais:

El Espiritismo Y Las Curas Espirituales

Por Maria Ribeiro

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Seria comprender muy poco el propósito real de la Doctrina espirita el pensar que las curas espirituales son una de sus especialidades, desobedeciendo   a una irrevocable  orden natural de las cosas.

La búsqueda del bienestar es un principio del instinto de conservación, que es una ley natural. Por tanto no existe nada más justo que  procurarse recursos capaces de restaurar la salud, cuando esta entra en un estado de debilidad.

Lo que aquí se propone es una reflexión más racional a respecto del tema.

Es considerable el número de individuos que, a lo largo de los tiempos, tuvieron, unos más, otros menos el poder de curar. Uno de ellos, claro es nuestro Maestro Jesús, profundo conocedor de todas las ciencias  y no  lo sería menos en cuanto a la ciencia del magnetismo.

“La facultad de curar por la influencia fluídica  es muy común y puede desenvolverse mediante el ejercicio; sin embargo, la de curar instantáneamente por la imposición de las manos es más rara,  y su apogeo  puede ser considerado como excepcional. Entretanto, ha sido observada en diversas épocas, y en casi todos los pueblos han surgido individuos que la poseían en grado elevado. En estos últimos  tiempos, se ha visto diversos ejemplos  notables, cuya autenticidad  no puede ser constatada. Dado que estas especies de curas reposan sobre un principio natural, y que el poder de producirlas no es un privilegio, es que ellas no salen de la naturaleza y apenas tienen de meticulosa, la apariencia.” (La Génesis, capitulo XIV – Curas)

Esta declaración Kardeciana trae al entendimiento de que esta, como todas las facultades humana no se desenvuelven de otra forma. Kardec hace que se remeta   a la vida eterna del Espíritu, donde las adquisiciones paulatinas  de encarnación en encarnación, con el trabajo constante en el Bien purifican los fluidos constituyentes  del Ser, que tiene sus recursos aumentaos para que pueda promover el auxilio que se haga necesario

“… La facultad de curar instantáneamente por la imposición de las manos es más rara” porque es preciso un  grado de pureza que no se hace  siquiera una idea aproximada. ¿Los domiciliados en el planeta Tierra, que Según los Espíritus  Superiores  es un lugar aun apropiado  para recibir seres imperfectos, como esperar ciertos prodigios? El estado moral  atrasado representa un óbice para tal. Aunque nada impide que la Providencia Divina se manifieste a través de hombres imperfectos que buscan sinceramente reajustarse  con las Leyes Morales, no se puede despreciar que haya factores que determinan que tal evento ocurra o no.

En este caso especifico, Kardec enfatiza que se trata de un tipo de facultad mediúmnica rara, y previene contra las celadas que puedan aparecer. (el Libro de los Espíritus -556)

El ítem 18 del mismo capítulo, aun en La Génesis, Kardec deja evidente: “El  pensamiento del Espíritu encarnado actua sobre los fluidos espirituales como también el de los Espíritus desencarnados; se transmite de Espíritu a Espíritu, por la misma via, y, conforme sea bueno o malo, sanea o vicia los fluidos circundantes". En otras palabras, es a través del pensamiento que los fluidos son manipulados y dirigidos de una persona para otra, estén encarnadas o no. Esto quiere decir que los fluidos de los Espíritus no son más poderosos que el de los encarnados por el simple hecho  de ser Espíritus.  y que los fluidos  son emitidos todos del Ser, de la misma forma que son recibidos, y no necesariamente por las manos, como es la creencia vigente.  Estas declaraciones confirman que gesticulaciones y sincronismos, posturas aun tan frecuentes, deben disminuir a la medida que se comprendan  la inutilidad de las formas. Por cuanto es bueno que se esté atento  más a lo que pueda surgir.

Es sabido que en el pasado hubo compañeros en la labor mediúmnica que se sirvieron de formas materiales,  y hasta bizarras, para realizar curas y cirugías espirituales.  Eran Espiritas entusiasmados, que cayeron en el gusto  de creer que estas prácticas  eran lo más extraordinario que la Doctrina podía ofrecer. Más  que proporcionar a los pacientes el alivio de sus males, aquellas prácticas probaron que las Entidades desencarnadas actúan verdaderamente a través de los médiums  con los cuales afiniza. Resta saber que si esto provocó  avances morales en alguien, una vez que las manifestaciones por sí mismas  no tornan a un ser bueno o malo, ni  a un ignorante sabio.

Cuando la terapia del pase no ofrece los efectos esperados, se acostumbran  a recurrir a otras, que se pueden  contar a decenas, más que no tienen vínculo doctrinario. Así,  se ha incorporado la cromoterapia, florales, pirámides, reike y otras  y otras como “menú” doctrinario-espirita

Analizándose la terminología de la locución – cura espiritual – se puede entender CURA DEL ESPÏRITU,  aunque mucho se desee la cura del cuerpo, pues es él, el que se siente masacrado, torturado  y abatido. Cuando se es llamado al testimonio de la enfermedad, son pocos  los que no murmuran, olvidados de la resignación, del concepto de causa y efecto, de la vida futura.

Admitiéndose -  LA CURA POR ESPÍRITUS – recúrrase al ultimo parágrafo del comentario de la cuestión 70 de El Libro de los Espíritus que dice que “El fluido vital se transmite de un individuo para otro. Aquel que tiene lo bastante puede darlo, aquel que tiene poco y, en ciertos casos restablecer la vida  que está presta a apagarse." Kardec señala, así, que la solidaridad es un bien que debe  permear entre los seres,   de unos para los otros, en la medida de sus fuerzas. El deseo  y la buena voluntad  de servir y de ser útil establecen la harmonía necesaria para el engranaje del universo íntimo, que se expande a distancias que no se osa mensurar. En el parágrafo anterior, el dice que este “fluido se renueva por la absorción y asimilación de las sustancias que lo contienen” El individuo precisa no solamente absorber, más también asimilar  las sustancias que contienen el fluido.  Esto quiere decir  que pueden ser absorbidos, más no necesariamente asimilados, o sea, tornarse compatibles con los fluidos propios del receptor, para que actúen beneficiosamente. Es lo que ocurre  en el organismo humano en relación a las proteínas de origen animal: ellas sufren procesos de “quiebra” hasta conseguir formas  que son asimilables por el organismo humano.

Entretanto se debe, pues, percibir que la cura espiritual es un proceso individual que escapa al control de otro.  El cuerpo adolece por razones morales-espirituales relacionadas a la historia de cada uno, por tanto es responsabilidad individual e intransferible la cura efectiva, que  es al fin lo que se espera. “Tu fe te salvo”, dijo Jesús. Los mecanismos de transformar los fluidos enfermizos para fluidos saludables  están en cada individuo. La Génesis, tratando del asunto, dice que “los fluidos no tienen calidades  en su generis, más si las adquieren en el medio donde son elaborados; se modifican por los efluvios de ese medio… Los Fluidos… trazan la impresión  de los sentimientos del odio, de la envidia, de los celos…  de la benevolencia, del amor, de la caridad…"El deseo ardiente de dar alivio  a un hermano sufridor, o para sí mismo, representa una llamada fortísima para las Entidades Benéficas. El auxilio magnético  tendrá siempre un efecto, según las circunstancias que muchas veces no están bajo el dominio de la comprensión humana. En la narrativa de Lucas 9, vs 11, se encuentra:” … Y el los recibió, y les habló del Reino de Dios, y sanaba a los que necesitaban de cura”, o sea, Jesús reconocia  los que se curarían pues Él vino a derogar Leyes Divinas: El sabia que muchos aun necesitaban permanecer enfermos. La necesidad es entonces algo relativo: unos necesitan la cura para la franca realización  de proyectos idealizados  durante el progreso de la enfermedad; mientras que otros necesitan continuar enfermos, porque el Espíritu no consiguió la conciencia de su real estado.

Hay personas dotadas del don de curar, según la Codificación, con un toque, con una simple mirada. Kardec los diferencia de los magnetizadores, más lo que el pretende es dejar claro  dos órdenes de cosas oriundas  del mismo principio. El tratamiento magnético común consigue  en sesiones continuadas, metódicas, y no requiere que el magnetizador sea necesariamente médium, aun mismo porque este proceso es anímico; mientras que con un médium curador ocurre espontáneamente, con la intervención de Espíritus sumados  al apelo a través de la oración. (El Libro de los Mediums  - cap., XIV – 175)

En el ítem 32 del capitulo XIV de La Genesis el sabio francés esclarece que “los  efectos de la acción fluídica sobre los enfermos son extremadamente variados, según las circunstancias; esta acción es alguna veces rápida como una corriente eléctrica. Hay personas dotadas  de tal poder, que operan sobre  ciertos enfermos  curas instantáneas  por una sola imposición de las manos  o  aun mismo  por un acto de la voluntad. Entre  los dos polos  extremos de tal facultad, hay infinitas variaciones. Todas las curas de ese género son variadas  del magnetismo y no difieren  sino por la potencia  y la rapidez de la acción. El principio  es siempre el mismo; es el fluido que desempeña el papel agente terapéutica, y cuyo efecto es subordinado  a su calidad  y a las circunstancias especiales. “En el ítem siguiente Kardec especifica  cada una de las acciones  magnéticas, a saber: magnetismo humano, el magnetismo espiritual, y el magnetismo espiritual-humano.

Las curas instantáneas por un simple gesto, o por una mirada, son formas para que se  comprendan mecanismos que ocurren, no exactamente por la mirada  o del gesto, que son materiales. Más si por las disposiciones intimas del Ser que se propone donar algo  bueno de si mismo, secundado por las Entidades Benefactoras,  este con  o sin el conocimiento de eso. hay una practica denominada de “pase de columna”  que más se aproximaría realmente  a aplicaciones magnéticas  si no contuviese  un punto de ritual y palabras sacramentales. (El Libro de los Médiums – cap. XIV – ítem 176, 9).  Existe  también una propuesta conocida por “pase de soplo”, que deja dudas  sobre su fundamento.  Los Evangelistas no citaron ningún pasaje  donde Jesús hubiese  curado a alguien a través del soplo; la Codificación tampoco  nos habla  sobre el asunto. Lo que se pretende es continuar manteniendo las formas de cómo hacer las cosas, y las formas son materiales, no son esenciales. Jesús se sirvió de algunos recursos materiales para realizar algunas curas; más ciertamente no fue con el propósito  de que se tornasen elementos de superstición. Más también realizó beneficios curadores  a distancia. De manera alguna pretendió que se substituyese al necesitado por un interventor, transmitiendo fluidos  a este para que el enfermo los reciba. Al final la intervención es puramente mental.

Es  razonable que se reconozca cuanto la Medicina terrena, cada vez más aumentado  los recursos de tratamiento y prevención de las enfermedades. Los Benefactores Espirituales también se han reencarnado con el propósito de manifestar  materialmente, claro dentro de los limites que el planeta les ofrece, los recursos necesarios para minimizar las malezas humanas, pues esto representa oportunidades de trabajo en el Bien y crecimiento moral-espiritual e intelectual también para ellos. Sus descubrimientos atienden  no a un número limitado de individuos, más si  a una colectividad entera. El trabajo en el Plano espiritual no se restringe a estas facetas estancadas  a las cuales el hombre se acostumbro a creer. ¿O será  que la magnánima actividad Divina está circunscrita a los “templos sagrados?!

La cura espiritual se da, entiéndase bien, cuando el Ser Inmortal esté depurado de sus imperfecciones por haber comprendido mejor  las Leyes Inmutables de la naturaleza.

Traducido al español por M. C. R

domingo, 18 de setembro de 2011

Artigos de Sérgio Aleixo dividem leitores do blog

Os artigos de Sérgio Aleixo, vice-presidente da ADE-RJ (Associação de Divulgadores do Espiritismo do Rio de Janeiro), palestrante e escritor espírita publicados em "O Blog dos Espíritas" tem mexido com a cabeça de vários leitores.

A maioria concorda com a posição adotada por Aleixo, defensor da Doutrina Espírita tal qual foi codificada por Kardec em parceria com os Espíritos Superiores, assim como a utilização do Controle Universal do Ensino dos Espíritos - CUEE, detalhado minuciosamente por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, para a aceitação ou não de comunicações como doutrinárias.

A minoria é composta por espíritas cristãos que defendem o ponto de vista do Espiritismo ser uma religião, a infalibilidade dos médiuns e suas comunicações, a crença em André Luiz e suas colônias espirituais.

Alguns leitores entram em contato conosco de forma gentil e ponderada, acerca de seus pontos de vista doutrinários, outros, mais exaltados, discordam radicalmente de Aleixo e da posição do blog, que ratifica o posicionamento do vice-presidente da ADE-RJ.

Não é objetivo de "O Blog dos Espíritas" impor seu ponto de vista a ninguém. Respeitamos quem acredita ser o Espiritismo uma religião, embora discordemos dessa afirmação e de tantas outras que estão em clara contradição com os princípios espíritas. Pedimos, então, àqueles que discordam do posicionamento do blog e do escritor Sérgio Aleixo que, se o quiserem, exponham seu ponto de vista dentro da razão e do embasamento doutrinário. Que defendam suas idéias sem ofender o contrário. Argumentem. Criticar a pessoa ou pessoas que defendem a pureza doutrinária do Espiritismo é mostrar desconhecimento da Doutrina Espírita e de argumentos. Pois o que se deve combater são as idéias, e não os indivíduos.

Este blog permanecerá na sua linha de esclarecimento do Espiritismo para aqueles que não conhecem a doutrina e tampouco creem no que leram ou assistiram em livros/filmes como Nosso Lar. Apesar do nosso pouco tempo online, temos certeza que fizemos com que muitos espíritas, simpatizantes e até mesmo opositores da Doutrina refletissem sobre ela de forma honesta e sincera, possibilitando que imagens errôneas veiculadas pela mídia fossem desmistificadas.

“Segue-se que a opinião de um Espírito sobre um princípio qualquer não é considerada pelos espíritas senão como uma opinião individual, que pode ser justa ou falsa, e não tem valor senão quando é sancionada pelo ensino da maioria, dado sobre os diversos pontos do globo”. (Revista Espírita, 1865)

“Mas nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo.” (O Livro dos Médiuns – Kardec – item 98)

Mística Marciana e Segurança Doutrinária

Por Sérgio Aleixo

Ressaltam a seu favor, os que reclamam atualizações doutrinárias, a dita de Kardec que afirma que, se uma verdade nova se revela, o Espiritismo a aceita; todavia, omitem a condição estabelecida pelo mestre para que tal ocorra. De ordem física ou metafísica, novos informes que venham a integrar-lhe o cômputo de ensinos, necessariamente, já se devem encontrar no “estado de verdades práticas e saídas do domínio da utopia, sem o que o Espiritismo se suicidaria”.[1] E esta praticidade consiste em quê? Análises rigorosamente filosóficas respaldadas, até onde seja possível, em pesquisas demonstradamente científicas. Tal é o espírito da doutrina.

Leia-se mais atentamente a nota ao n. 188 de O Livro dos Espíritos: “De todos os globos que constituem o nosso sistema planetário, segundo os espíritos, a Terra é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente; Marte lhe seria ainda inferior, e Júpiter, muito superior, em todos os sentidos”.

Kardec apresenta o ensino dos espíritos que lhe fora dado registrar até aquele momento, a este particular respeito, em caráter transitório, pois o relega ao patamar de mera hipótese, razão por que se valeu da forma verbal francesa correspondente ao futuro do pretérito do nosso idioma pátrio: “seria”, e posta, ao demais, numa nota de rodapé, não no texto principal.

Atualizar, pois, o quê, se não foi consignado ali grau absoluto de certeza? Nada mais adequado da parte do codificador, sobretudo quando não se refere propriamente ao princípio em si da pluralidade dos mundos habitados, mas a um assunto de interesse secundário: a vida neste ou naquele planeta, que não reclama sequer a chancela da universalidade de ensino.

A única garantia segura do ensino dos espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares. Compreende-se que não se trata aqui de comunicações relativas a interesses secundários, mas das que se referem aos próprios princípios da doutrina.[2]

De mais a mais, o que parece ignorado é que a verdadeira atualização foi perpetrada pelo próprio Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, 8 a 12. O texto é considerado parte das Instruções dos Espíritos, mas quem o redige, à guisa de “Resumo do ensinamento de todos os espíritos superiores” sobre “Mundos superiores e mundos inferiores”, é Allan Kardec! O mestre não declina, ali, o nome de nenhum planeta sequer, como quem sinaliza para o fato de que só as generalidades interessavam à chancela da universalidade do ensino, devendo ser abandonados os méritos das circunscrições, na certa, por absoluta falência dos instrumentos e meios de aferição.

Logo, um suposto apêndice atualizador, como querem alguns, converter-se-ia em foco de confusão acerca do assunto, seja por não contemplar o real tratamento que a matéria recebeu já na codificação espírita, seja no que respeita às pseudossoluções apresentadas, como a infalibilidade dos conteúdos da obra psicografada por Chico Xavier, o que seria um acinte.

Em termos espíritas, nada que venha de uma única fonte mediúnica, seja qual for, jamais poderá ser considerado “inquestionável”. Seria um retorno à ancestral infalibilidade divinatória sem qualquer justificativa à luz da doutrina. A codificação kardeciana assegura que “o melhor [médium] é o que, simpatizando somente com os bons espíritos, tem sido enganado menos vezes”, assim como preconiza que, “por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado”.[3]

Por outro lado, se Kardec publicou em A Gênese ditados recebidos de um só médium, sobre Uranografia Geral, é porque se fiou noutras fontes mediúnicas concordantes de que dispunha, aferidas por lógica severa e esmerada cultura de época; esses ditados, aliás, talvez tivessem sido rejeitados por Kardec, no todo ou em parte, se os dados positivos adquiridos até aquele ano já atestassem, por exemplo, que, sim, Marte possui satélites.[4]

De qualquer forma, a presença ou ausência de corpos celestes, bem como sua constituição, não é matéria afeta à Doutrina Espírita em si. Kardec disse certa vez que, no domínio científico, nada cabe ao Espiritismo resolver de forma definitiva, “naquilo que não é essencialmente de sua alçada”.[5]

Portanto, nenhum precedente há nisto que enseje a atualização sugerida, ainda menos nos termos pretendidos. E alegar a existência de um ensino concordante de alguns poucos espíritos na produção de Chico Xavier fora esquecer que tal situação é aquela em que várias entidades se comunicam por um único médium, o que só se aproxima do que seria, para Kardec, a concordância de ensino “menos segura de todas”.[6] Não seria prudente aplicar tão franzino acordo.

O informe de O Livro dos Espíritos era de interesse evidentemente secundário, não reclamando sequer universalidade e, ainda assim, foi afastado por um Kardec posto ante os dados concordantes desta mesma universalidade, que não alcançaram segurança que permitisse ao codificador afirmar o mérito das circunscrições a respeito, sendo suficientes, todavia, para chancelar as generalidades, as probabilidades, como o prova o procedimento do gênio lionês em O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, 8 a 12.

Além do mais, devemos crer cegamente nisto que, na verdade, parece um conto ficcional de moral vegetariana, que a humanidade marciana evoluiu mais rapidamente que a terrena e, desde a formação dos seus núcleos sociais, nunca precisou destruir para viver, diversamente das “concepções” dos homens na Terra, cuja vida não prossegue sem morte? Na Terra, a vida não prossegue sem morte só por força das concepções humanas, mas, antes disso, pelo imperativo das leis naturais.

Doutra forma, que teria sido feito das fases marcianas de mundo primitivo, de provas e expiações, ou mesmo de regeneração? A vida só transcorre sem morte, fora da universal lei de destruição, quando o espírito está desencarnado, de posse tão só de seu corpo espiritual. Os marcianos acaso não precisaram da matéria densa para evoluir de início? Seria um convite a teses não espíritas.

De mais a mais, supor que haja seres inteligentes em Marte só porque lá existe água é muito precipitado. Mais ainda quando se imagina que habitem “em outra dimensão física” do planeta. Que quer isto dizer em termos espíritas? Fale-se em dimensão física ou em dimensão extrafísica. Numa ou noutra. A água serviria a seres inteligentes de constituição orgânica, e destes não há qualquer vestígio. Até segunda ordem, a química física do Universo é uma só.

A situação de Marte é mais compatível com a de um “mundo transitório” de O Livro dos Espíritos, 234 a 236. Sua superfície é estéril porque os que o habitam de nada precisam; são espíritos errantes, que ali se encontram com o fim de instruir-se e de repousar de erraticidades muito longas e um pouco penosas, gozando de maior ou menor bem-estar conforme a natureza de cada um. Como disse Kardec: “Ninguém poderá negar que há, nesta ideia dos mundos ainda impróprios para a vida material, e entretanto povoados de seres apropriados ao seu estado, alguma coisa de grande e sublime, onde talvez se encontre a solução de muitos problemas”.

Poderiam ser espíritos de antigas civilizações marcianas? Quem sabe? Neste caso, ainda assim, não hão de ter evoluído ao arrepio da universal lei de destruição; não poderiam ter chegado à civilização e à espiritualização sem haver galgado o progresso que os tirou da barbárie inicial. O Livro dos Espíritos, 742, prevê que, na barbaria, a guerra “é um estado normal”, e que, à medida que o homem progride, menos frequente ela se torna, porque lhe evita as causas, mesmo lhe adicionando humanidade, quando “se faz necessária”.

Por estas e outras é que um vulto gigantesco como J. Herculano Pires [1914-1979], cuja ausência carnal já completou trinta e uma das nossas translações planetárias, sempre deve ser lembrado em suas advertências ao movimento espírita “organizado”, para que a codificação kardeciana seja mais respeitada e perquirida em suas muito específicas e mais altas razões.

Não, portanto, à atualização em forma de apêndice que, desde junho de 2008, intenta-se impor à nota ao n. 188 de O Livro dos Espíritos. A solução dada por Kardec, já na codificação, é a que mais convém à higidez doutrinária. Quando muito, que pequeno aditamento editorial remeta o leitor a um confronto com O Livro dos Médiuns, 296, observação à 32.ª pergunta; e com O Evangelho Segundo o Espiritismo, III, 8 a 12.

[1] A Gênese, I, 55.

[2] KARDEC. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.

[3] O Livro dos Médiuns, 226, 9.ª e 10.ª

[4] Cf. A Gênese, VI, 26: “Alguns planetas como Mercúrio, Vênus e Marte não deram origem a nenhum astro secundário; enquanto que outros, como a Terra, Júpiter, Saturno, etc., formaram um ou mais”. Como digo no ensaio seguinte, Kardec e os Exilados, é verdade que Fobos e Deimos foram descobertos apenas depois dessas psicografias, em 1877. Não surpreende que os espíritos deixem de revelar o que só aos homens compete descobrir, mas quando prestam informações falsas, o caso é outro.

[5] « ...en ce qui n'est pas essentiellement de son ressort ». In : Revista Espírita. Jul/1868. A Geração Espontânea e “A Gênese”.

[6] O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.

Fonte: Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_03_24_archive.html

sábado, 17 de setembro de 2011

A Pedagogia de Jesus

Por Dora Incontri

"(...) Ninguém melhor do que a figura de Jesus para mostrar o modelo máximo de estatura moral, aliada à confiança no ser humano e a uma prática educativa libertadora. Mas as polêmicas em torno da personalidade do Cristo têm sido tão acirradas em dois mil anos de história cristã, que não se pode deixá-las à parte, antes de aventar qualquer interpretação a seu respeito.

Não poderíamos assim ignorar a questão da divindade de Jesus, pois que é justamente a tomada de posição em relação a esse tema que vai nos colocar na via de demonstrar que a sua pedagogia é de fato a pedagogia pleiteada pelo paradigma do espírito. Nos primeiros três séculos de Cristianismo, andava longe uma unanimidade a respeito da divindade de Jesus." (Pág. 108 à 109)

"(...) Durante esses primeiros séculos, várias interpretações a respeito da natureza do Cristo lutaram pela preponderância, mas as mais significativas foram justamente a católica- vigente até hoje - e a ariana. A primeira considera o mistério da encarnação divina, e, portanto, a existência de um Deus uno e trino,como dogma fundamental da crença cristã. A segunda admitia que:

"O Pai apenas é eterno e merece em sentido próprio o nome de Deus. Tirado do nada, o filho é a primeira, mas a mais excelente das criaturas; ele foi instrumento do Pai para a criação do mundo. Ele se encarnou em Jesus Cristo."

Ora, a vitória da versão católica deu-se por obra de Atanásio e Constantino. Este último, o imperador cristão, patrocinou o Concílio de Nicéia, no qual foi arbitrariamente declarado o dogma da divindade de Jesus. "A existência de Atanásio se concentra numa luta gigantesca contra o arianismo. (...)"" (Pág. 109)

"(...) Ora, Jesus veio ao mundo como mediador para redimir o homem e oferecer-se em sacrifício diante de Deus (ou seja, diante de si mesmo!), para restaurar a integridade humana. Pela queda de um homem, perdemo-nos todos. Pelo sacrifício de um Deus, redimimo-nos todos. Esta doutrina, reconhecidamente, não é de Jesus, mas de Paulo." (Pág. 112)

"Não sendo o Ser Supremo do Universo (desde a época da formulação do dogma da Trindade, esse universo se expandiu infinitamente e se aceitamos a existência de Deus, e a sua presença, governo e poder entre bilhões e bilhões de galáxias e em meio a prováveis inúmeras humanidades, fica mais difícil aceitar a idéia de uma encarnação sua na Terra), Jesus Cristo não se vulgariza com isso,tornando-se apenas mais um homem entre outros tantos. Ele seria o Espírito que já atingiu a perfeição como todos nós atingiremos um dia, segundo a lei da evolução. Portanto ele é a realização daquilo de que somos ainda potência. É a meta a ser atingida, por um processo de educação do espírito, nas sucessivas existências." (Pág. 113 à 114)

“Revelando um otimismo intrínseco em sua pregação e em sua ação, Jesus consegue enxergar o fio de conexão com o outro ser humano, para chamá-lo à realização da vida moral”. Desencadeia processos de regeneração, sem qualquer imposição externa. Conquista Madalena para fora da vida de desregramento, desperta em Zaqueu a consciência de ser menos avarento, e, mesmo depois da morte, aproveita o ímpeto destrutivo de Saulo de Tarso, canalizando-o para a divulgação apostólica do Cristianismo.

Realiza, pois, de forma mais eficaz e elevada, a idéia de Sócrates, de restituir o homem a si mesmo, pela prática de um diálogo informal, que transcorre à beira dos lagos, no alto dos montes ou no meio das praças. E o faz estabelecendo um vínculo amoroso com os discípulos, ao mesmo tempo em que apela para a sua autonomia racional." (Pág. 115)

“Que pedagogia era essa que praticava Jesus”? Herculano Pires refere-se a uma Pedagogia da Esperança:

"A educação não era mais o ajustamento do ser aos moldes ditados pelos rabinos do Templo, a imposição de fora para dentro da moral farisaica, mas o despertar das criaturas para Deus através dos estímulos da palavra e do exemplo. A salvação pela graça não era um privilégio de alguns, mas o direito de todos. Jesus ensinava e exemplificava e seus discípulos faziam o mesmo. Chamava as crianças a si para abençoá-las e despertar-lhes, com palavras de amor, os sentimentos mais puros. Nem os apóstolos entenderam aquela atitude estranha: um rabi cheio da sabedoria da Torá a perder tempo com as crianças. (.) Cada criatura humana é para ele um educando, um aluno (...) Assim, a Terra não é mais o paraíso dos privilegiados e o inferno dos condenados. É a grande escola em que todos aprendemos, em que todos nos educamos. A Pedagogia da Esperança oferece a todos a oportunidade de salvação, porque a salvação está na educação."


A visão da vida na Terra como processo educativo faz sentido à luz da reencarnação, em que as almas estão em permanente aprendizagem. Por isso mesmo o cristão, que admite essa idéia, vê em Jesus muito mais o pedagogo da humanidade que o salvador." (Pág. 116 à 117)

"A natureza humana não corrompida, o livre-arbítrio como apanágio de cada alma individual e uma propensão natural ao aperfeiçoamento e à ascensão emprestam à educação cristã, proposta por Jesus, um ar refrescante de liberdade e naturalidade. Jesus não se impõe, não usa de coerção, nem mesmo de persuasão. Convida, exemplifica, serve e ama." (Pág. 117)

"Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve" (Lc. 22, 27) - aí se resume seu método pedagógico. Quem mais serve, por amor, é quem mais é capaz de fazer brotar o impulso do bem na alma humana. Quem mais se sacrifica, por amor, é quem mais alcança a intimidade do outro, para fazê-lo melhor." (Pág. 118)

"As duas vertentes do Cristianismo têm coexistido no decorrer da história - de um lado, a visão do homem, herdeiro do Criador, como capaz de projetar-se para a transcendência, de fazer-se santo, perfeito, e, nesta linha, propostas libertárias, igualitárias de educação. Do outro, a visão do pecado, da tragédia da queda, da corrupção inata, da necessidade de disciplinar e reprimir. Evidentemente, em muitas doutrinas e práticas, ambas as visões se conjugam, em nuanças intrincadas. A tese aqui levantada, entretanto, é a de que Jesus, propondo um modelo de educação humana, é o fundador da primeira tendência, que combina perfeitamente com a de Sócrates." (Pág. 118)

"Recuperado como mensagem de fraternidade, liberto do dogmatismo sectário, encarando-se Jesus como um pedagogo divino, que veio propor um programa de educação do espírito, em parâmetros de liberdade e amor, o Cristianismo é revisto pelo paradigma do espírito. O Espiritismo assim se anuncia como mais um ensaio histórico de retorno à essência cristã, ofuscada pelas instituições humanas, de poder e de dominação. E na raiz desta revisão, renasce a pedagogia de Jesus, como pedagogia da esperança: quem já realizou em si a divindade intrínseca de todas as criaturas, trabalha para despertá-la em seus irmãos de humanidade, confiando em sua capacidade de aperfeiçoamento autônomo. E daqueles que já pisaram no mundo, certamente Jesus foi quem a realizou de maneira mais completa e por isso sua mensagem e seu exemplo exercem poderoso influxo de mudança e ascensão."(Pág. 120)

INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita - um projeto brasileiro e suas raízes. Bragança Paulista - SP. Editora Comenius, 2004.

Obsessão e auto-cura

Por Heloísa Pires
 
O professor, jornalista, filósofo, poeta, conhecedor da doutrina espírita, Herculano Pires, escreveu o "pequeno grande" livro, Obsessão, Passe e Doutrinação. Baseado em sua experiência de mais de quarenta anos no trabalho de desobsessão, Herculano explica como resolver os problemas das influências de espíritos inferiores. Com muita autoridade, o professor pode falar sobre o assunto, pois sua vida foi um exemplo de capacidade e superação das dificuldades. Viveu a doutrina, não apenas a teorizou. Calmo, alegre, humilde; homem culto, doutor em Filosofia, jornalista respeitado e escritor premiado, enfrentou problemas com muita tranqüilidade.

Foi eleito várias vezes presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo; diretor da cadeira de filosofia da Faculdade de Filosofia de Araraquara. Autor de 81 obras de valor reconhecido. Desenvolveu grande experiência no sentido de auxiliar os que, nesse difícil planeta Terra, se perdem no cipoal das próprias angústias ou rebeldia, que entram em lamentável estado de esquizofrenia temporária, do qual não conseguem sair sem o auxílio externo.

O professor realizava sessões chamadas de desobsessão, onde mentes encarnadas eram auxiliadas. Nos últimos quinze anos de sua existência, Herculano, com o auxílio do doutor Antonio João Tadesco-Marchese, neurologista e do doutor Laércio Saudini, realizavam as sessões nas quais muitos obsedados encontraram a cura.

Nos casos de desajuste, o indivíduo, expelindo de si mesmo pensamentos de depressão, liga-se a mentes encarnadas ou desencarnadas, que aumentam suas sombras interiores; a esse fenômeno convencionamos, os espíritas, chamar de obsessão.

Obsessão

Obsessão, como diz Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, é "o domínio que os espíritos inferiores exercem sobre determinadas pessoas".

A obsessão é sempre produto de uma auto-obsessão. O desequilíbrio tem início na mente do indivíduo encarnado. Telepaticamente, por questão de sintonia vibratória, entra em contato com outros indivíduos que vibram no mesmo teor e o processo se inicia. Não há mistério, há apenas ligação mente a mente, comunicação. O indivíduo estabelece laços com pensamentos desfavoráveis, entra em ondas desagradáveis e colhe os frutos de seu próprio desequilíbrio.

Todos nós, encarnados, em momentos de desânimo, de falta de "oração e vigilância", notamos que vamos nos enredando em uma teia de aranha, que faz os problemas parecerem insolúveis. É a hora do basta, da reação interior, do uso da vontade para sair de um estado desfavorável e entrar num equilíbrio maior com a harmonia universal; sintonizar melhor sua onda mental, mudar o teor vibratório.

Somos os construtores do nosso destino. Temos sempre o direito de optar pelo que nos convém; indivíduos fortes enfrentam os problemas que surgem e, devido à força interior, sintonizam com outros indivíduos encarnados ou não, que vibram positivamente; lutam, vencem e se tornam cada vez mais equilibrados.

Indivíduos frágeis, deslizam a todos os instantes pelos difíceis caminhos do pessimismo e entram em desajustes que podem causar até doenças físicas. Pensamentos de ódio, revolta, pessimismo são tóxicos que envenenam o corpo e desajustam a mente. O Mestre de Nazaré no convida ao perdão e à fé em Deus; disse "Olhai os lírios do campo, que não tecem nem fiam e nem Salomão se vestiu como eles em toda a sua glória". Não fez um convite à preguiça, mas à serenidade. Centelhas divinas, fomos criados por Deus para um progresso infinito. Ou, como disse Jesus: "sois deuses, sois luzes...".

O nosso livre-arbítrio permite escolhermos caminhos mais rápidos para a evolução, ou labirintos dolorosos dos desequilíbrios. Mas nosso destino, dentro do determinismo das leis de Deus, é a angelitude.

Causas das obsessões


A causa primeira é a nossa incapacidade para utilizar a nossa força interior e resolver os problemas que aparecem.

As encarnações passadas devem ser levadas em conta. O doutor Ian Stevenson, em seu livro Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação, explica como o indivíduo traz no inconsciente o arquivo do passado, que às vezes aflora no presente. Os conteúdos subliminares afloram na consciência supraliminar. Desafetos do passado aproveitam os nossos momentos de descuido, a quebra de defesa psicológica e nos afetam até onde o permitimos.

Cura da obsessão


É necessário se manter dentro de um equilíbrio psíquico gerado por bons pensamentos.

O Mestre de Nazaré explica na história O Espírito Mal como se livrar dos obsessores. O indivíduo precisa povoar a sua casa mental com bons pensamentos; necessita entender a finalidade da existência, o sentido da vida.

"Vivemos", diz Herculano, "para desenvolver as potencialidades psíquicas de que somos dotados. Nossa existência tem por fim a transcedência, a superação de nossa condição humana".

Sartre, o grande filósofo materialista, diz que o Ser deve assimilar as aquisições dos que antecederam e deixar o produto de suas experiências para os que vierem depois. Embora diga que o homem é "uma paixão inútil" reconhece a necessidade da transcendência.

Keerkgard conta a história do homem e do cachorro que estão na porta de um bar. O cachorro vive apenas; come, satisfaz as necessidades biológicas da espécie. O homem só Existe quando cresce espiritualmente, raciocina, é um elemento indutor ao progresso. Muitos apenas vivem, raros Existem.

O destino do homem não é ser escravo dos vícios, das seduções da carne, da matéria. É caminhar ereto, na vertical, em busca de mundos melhores. É fazer da terra um mundo de Justiça e de Amor.

O mundo é lindo. Há uma música suave, que só os mais sensíveis conseguem captar, que embala nossos corações, que é produto da harmonia universal. Deus nos criou para a felicidade e alegria. Diz A Gênese, de Allan Kardec: "Se o homem agisse sempre de acordo com a lei de Deus seria feliz sobre a terra e evitaria para si mesmo os males mais amargos". É o homem que, contrariando as leis de Amor, cria problemas: fome, desemprego, guerras, doenças. Aos poucos ele vai se saturar do mal moral e procurar remédio no bem.

O mundo apresenta problemas que não nos agradam; vamos resolvê-los. Se nosso próprio interior nos parece deprimente, vamos modificá-lo. Possuímos forças incríveis, é necessário utilizá-las.

Sabemos hoje, através das experiências do casal Paul Vase, na França, que o pensamento divide gotas d’água, acende lâmpadas, intensifica o crescimento de plantas. Com a força de nosso pensamento, podemos nos modificar para melhor e modificar o mundo em nossa volta. Certeza de vencer nos dará vitória. Ghandi, igualmente frágil, conseguiu mudar a face de seus país.

As dimensões da vida


No século XX é fácil ser espírita; não praticar a doutrina, mas entendê-la. A matéria se dissolveu em energia; experiências provam que, como dissera Platão, "O mundo sensível é ilusório". A Gênese de Allan Kardec disse, há mais de cem anos, que matéria é apenas condensação de energia.

Os físicos atuais são metafísicos. Falam em buracos negros e em elétrons positivos que viriam de um submundo. A mente do homem se abre para outras dimensões, outras formas de existência. O grande Einstein fala sobre a relatividade. Popper confirma que tudo é efêmero e relativo. Um mundo novo surge, os preconceitos científicos ou religiosos não tem mais razão de ser.

O corpo bioplásmico dos russos confirma que o dos egípcios é o perispírito da doutrina espírita.

Uma nova compreensão do universo, uma nova ordem de valores surgiu. A existência de dois mundos, o material e o espiritual, é uma realidade. O homem cresce para a conscientização de que é uma pequena peça, importante quando inserida na grande engrenagem universal. Mas, assim como um parafuso sozinho não tem grande utilidade, sendo indispensável ao funcionamento de uma máquina, o indivíduo é útil quando se integra na Harmonia Universal. Sozinhos somos pontinhos frágeis perdidos num universo luminoso. A nossa força está na união de nossas mentes, para a construção de um mundo melhor.

Nessa nova dimensão, convém ouvir Herculano: "Reformule o conceito de si mesmo. Você não é um pobrezinho abandonado no mundo. Tire da mente a idéia de pecado e de castigo. O que chamam pecado é o erro, que pode e deve ser corrigido. Corrija-se". A idéia de pecado e o complexo de culpa arrasam o indivíduo.

Tratamento médico


Herculano lembra que "Deve haver uma orientação médica, tendo ou não o profissional conhecimento da doutrina espírita".

O médico espírita contará com as armas maiores da compreensão da reencarnação e do intercâmbio entre encarnados e desencarnados; isso facilitará sua tarefa.

Além do tratamento médico, o obsedado recorrerá às casas espíritas onde, através de passes de sessões de desobsessão, conseguirá fortificar sua vontade e esclarecer não só sua mente como as demais envolvidas no processo para a sua libertação.

Recorrendo aos especialistas do campo da matéria e ao auxílio dos que tratam dos problemas do espírito, o indivíduo conseguirá modificar o seu modo de vida e organizar ao redor de si "a couraça da fé e da caridade" aconselhada pelo apóstolo Paulo.

Se pensamentos dissemelhantes não sintonizam, o indivíduo que emitir sempre bons pensamentos afastará toda a inferioridade e perturbação. Preocupado em ser útil, esquecerá seus problemas e será mais feliz. Madre Tereza de Calcutá não devia sentir tédio, desânimo, ou angústia existencial. Suas energias eram dedicadas aos sofredores.

É hora de crescer. Devemos nos lembrar que nenhum julgo resiste a uma vontade firme. "Só fica obsedado aquele que, consciente ou inconscientemente o desejar. É uma espécie de auto-punição". "A cura da obsessão é uma autocura...", diz Herculano Pires.