sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Água Fluidificada e Passes Curadores - O Mito e a Ciência


Por Andressa de Oliveira Dias

Em todos os tempos da história temos relatos os mais diversos sobre curas milagrosas usando a imposição das mãos. A Bíblia talvez seja o livro mais famoso que narra as mais diferentes curas: “E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe dizendo: Quero. Fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo de sua lepra”. (Mateus, Cap. VIII, v. 3). Nos povos indígenas, a figura do Pajé se mostra um grande curador que utiliza suas mãos para tal. As Bezendeiras que fazem parte da cultura popular, também possuem seus métodos de cura, e um grande prestígio, em especial nas cidades interioranas. No oriente, relatos mais antigos que a bíblia nos remete a religiosos que curavam as mais diversas mazelas utilizando-se somente das mãos, inclusive uma prática que se originou no oriente: o Reike, terapia que utiliza principalmente a imposição das mãos, assim como o Karuna. A Cura Prânica, também é uma terapia que utiliza as mãos para curar.

Franz Anton Mesmer foi um dos primeiros a pesquisar cientificamente esta prática. Médico austríaco, criador da teoria do magnetismo animal conhecida pelo nome de Mesmerismo, nasceu a 23 de maio de 1734 em Iznang, em uma pequena vila perto do Lago Constance. Estudou teologia em Ingolstadt e formou-se em medicina na Universidade de Viena. Em 1775, após muitas experiências, Mesmer reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Acredita que delas se desprende um fluido que alcança o doente. Declara: "De todos os corpos da Natureza, é o próprio homem que com maior eficácia atua sobre o homem". A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura, opina ele. Mesmer, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, estendia o benefício a maior número de pessoas, magnetizando a água, pratos, etc. Cujo contato submetia os enfermos. Inventada a cuba mesmérica (Fig.1), passou a atender 30 pacientes por sessão, 300 diariamente. A cuba consistia num recipiente com água magnetizada, do qual saiam numerosas varas de ferro, em cujos extremos pontiagudos se prendiam os doentes, colocando estas pontas em suas partes enfermas

Produziam-se, então, variadas reações nervosas ou histéricas, com efeitos curativos em muitos casos. Mesmer praticou durante anos o seu método de tratamento em Viena e em Paris, com evidente êxito, mas ele acabou expulso de ambas as cidades pela inveja e incompreensão de muitos. Depois de cinco tentativas para conseguir exame judicioso do seu método de curar, pelas academias, é que publica, em 1779, a "Dissertação sobre a descoberta do magnetismo animal", na qual afirma que esta é uma ciência com princípios e regras, embora ainda pouco conhecida. Em 1784, o governo francês nomeou uma comissão de médicos e cientistas para investigar suas atividades. Benjamin Franklin foi um dos membros dessa comissão, que acabou por constatar a veracidade das curas, porém as atribuíram não ao magnetismo animal, mas a outras causas fisiológicas desconhecidas.

Atualmente no Brasil esta prática é muito difundida nos centros espíritas espalhados por todo o país, juntamente com a administração de "água fluidificada"; observam-se várias formas de aplicação de passes, como é chamado o ato nos centros espíritas. O Codificador da Doutrina reflete:

O magnetismo preparou o caminho para o Espiritismo, e os rápidos progressos desta última doutrina são incontestavelmente devidos à vulgarização das idéias acerca da primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas, não há senão um passo; sua conexão é tal, que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar de outro. (Kardec, Allan. Revista Espírita, 1858).

Kardec ainda esclarece:

O Espiritismo e o Magnetismo (Animal) nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas ciências que, a bem dizer, formam uma única, mostrando a realidade das coisas e suas verdadeiras causas, constitui o melhor preservativo contra as idéias supersticiosas, porque revela o que é possível e o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de ridícula crendice (Kardec, Alan. O Livro dos Espíritos, questão 555).

Certas pessoas têm realmente o dom de curar por simples contato?

– O poder magnético pode chegar até isso, quando é secundado pela pureza de sentimentos e um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons Espíritos auxiliam. Mas é necessário desconfiar da maneira por que as coisas são contadas, por pessoas muito crédulas ou muito entusiastas, sempre dispostas a ver o maravilhoso nas coisas mais simples e mais naturais. É necessário também desconfiar dos relatos interesseiros, por parte de pessoas que exploram a credulidade em proveito próprio. (Kardec, Alan. O Livro dos Espíritos, questão 556).

É comum pessoas que assistem às palestras espíritas tomarem o passe e beberem da água ao final das palestras, como em um ritual, mas qual é o conceito da água “fluidificada”? E de onde surgiu esse conceito? A água é capaz de reter campos magnéticos? O fator psicológico altera os resultados? E os passes ditos espíritas, estão de acordo com os conceitos vistos nas obras dos Espíritos? É realmente necessário um curso de passe e qualquer um pode ser passista? O mérito moral realmente influencia no processo de cura? Qual é a visão científica dos dois temas?

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde de Washington (EUA), com base em cerca de trinta teses de doutoramento, foi atribuído ao Toque Terapêutico, em 1994, a comprovação da sua eficácia como terapia alternativa.

Em 1975, Dolores Krieger demonstrou os efeitos do toque terapêutico através da medição de índices fisiológicos em seres humanos após estudos laboratoriais. Comprovou que após a imposição de mãos ocorrem significativas alterações fisiológicas em doentes hospitalizados em diferenciados casos clínicos. Este estudo foi publicado na Revista Americana de Enfermagem, em 1979, sob o título de “Therapeutic touch: searching for evidence of physiological change” (Toque Terapêutico: busca por evidências de mudanças fisiológicas).

Verifica-se, até os dias de hoje, a existência de cargas magnéticas - de monopolos magnéticos - na natureza. Eis, pois, que surge a questão: qual a causa primária responsável pelos fenômenos magnéticos observados na natureza? A resposta é simples: cargas elétricas em movimento, ou seja, correntes elétricas. Todo magnetismo conhecido atrela-se de alguma forma à presença de cargas elétricas em movimento.

A escolha de sistemas envolvendo apenas cargas em movimento retilíneo uniforme é geralmente assumida quando se estuda o magnetismo, em virtude de que em sistemas envolvendo cargas elétricas aceleradas, haverá ainda um terceiro fenômeno envolvido: a emissão de ondas eletromagnéticas. Tal fenômeno resume-se geralmente na seguinte sentença: "cargas elétricas aceleradas irradiam". A necessidade de se considerar as interações oriundas da radiação presente em tais sistemas certamente torna-os mais complexos, sendo estes estudos no contexto do eletromagnetismo. O estudo dos fenômenos associados à interação magnética em sistemas envolvendo apenas cargas elétricas em movimento retilíneo uniforme - ou em sistemas onde a quantidade total de onda eletromagnética irradiada pode ser desprezada - é geralmente designado por Magnetostática.

Em essência, todo magnetismo conhecido atrela-se de alguma forma à presença de cargas elétricas em movimento. Mesmo em ímãs naturais, materiais onde não se verifica a presença de correntes macroscopicamente mensuráveis em suas estruturas, tal afirmação é valida.

Correntes elétricas é a fonte primária de campos magnéticos. É certamente necessário, pois que, dada uma distribuição de corrente conhecida, se possa calcular o campo magnético por ela produzido em um determinado ponto escolhido do espaço ao seu redor. Células biológicas usam a bioeletricidade para armazenar energia metabólica, fazer trabalho ou desencadear mudanças internas, entre um sinal elétrico e outro. Entramos aqui na Ciência do Bioeletromagnetismo, que é o resultado da ação da corrente elétrica produzida por potenciais de ação, junto com os campos magnéticos gerados pelo fenômeno de indução eletromagnética.

O campo magnético, afeta cada átomo do seu corpo. Os elétrons nos átomos giram em torno do núcleo. Aumentando o campo magnético presente junto do átomo, a velocidade dos elétrons orbitais aumenta e os elétrons de valência começam a pular para órbitas de maior energia. O átomo começa a vibrar com maior intensidade, num movimento chamado de precessão. A precessão resulta no aumento da ação molecular, causada pelo aumento do campo magnético. Isto cria uma órbita cônica para certos elétrons. O resultado líquido desse aumento na atividade molecular é um aumento na transferência de elétrons, que é a base de toda as reações químicas em nosso corpo. Esta é a razão porque uma diminuição no campo magnético leva a uma menor atividade molecular e a um decréscimo de enzimas no nosso corpo.

Em resumo: campo magnético mais elevado aumenta o movimento de elétrons e prótons, o que leva ao aumento da atividade molecular, resultando em reações químicas mais eficientes, o que funciona como um catalisador para melhorar as funções de nosso corpo.

Em 1829, CLOQUET faz o primeiro relato da utilização do mesmerismo como anestesia, procedendo à amputação de uma mama, método já utilizado por DUBOIS (1797) e RECAMIER (1821). James ESDAILLE (1808-1959) tornou-se um dos maiores magnetizadores, inspirado nas técnicas de ELLIOTSON. Cirurgião, trabalhou num hospital mesmérico em Calcutá, Índia, onde realizou milhares de pequenas cirurgias e 300 de grande porte sem dor, pelo magnetismo, com diminuição impressionante dos índices de mortalidade. Não empregava a sugestão verbal, mas o passe e a insuflação magnética, obtendo estados profundos de letargia, catalepsia, sonambulismo e insensibilidade. James, concluiu que: O mesmerismo é uma força natural do organismo humano, que afeta diretamente o sistema nervoso muscular; que a administração crônica do mesmerismo atua como um utilíssimo estimulante da debilidade funcional; que a água pode ser carregada com fluído magnético e tem um poderoso efeito sobre o sistema; que a influência mesmérica pode se transmitida através do ar a considerável distância. - ESDAILLE J. Cirurgia mayor e menor bajo hipnosis. Ed. Crespilil Buenos Aires, 1959.

Nesse trecho de O Livro dos Espíritos, questão 483, temos a resposta que o magnetismo atua no sistema nervoso central: Qual a causa da insensibilidade física que se verifica, seja entre certos convulsionários, seja entre outros indivíduos submetidos às torturas mais atrozes? – Entre alguns é um efeito exclusivamente magnético, que age sobre o sistema nervoso da mesma maneira que certas substâncias. Entre outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade, pelo que a vida parece haver-se retirado do corpo e se transportado ao Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está fortemente preocupado com uma coisa, o corpo não sente, não ouve e não vê? (Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos).

Segundo LANTIER, em 1892, foi criada por uma espírita eminente uma escola prática de magnetismo e de massagem, admitida pelo governo francês. Frente à reação dos médicos, um novo projeto sobre o exercício da medicina foi discutido pelo Parlamento, levando os espíritas, magnetizadores, curandeiros e massagistas a fundarem um sindicato, conseguindo vinte e cinco mil assinaturas favoráveis à sua petição em defesa de seus interesses. Em função de vários processos contra curandeiros, espíritas e magnetizadores, e particularmente num caso envolvendo Mouroux em 1896, o Congresso Internacional Espírita que se realizou em 1900 em Paris, discutiu e deliberou que o Magnetismo realmente possui propriedades curativas e a eficácia de sua utilização para o tratamento das doenças sem qualquer perigo, e solicitando a alteração da legislação sobre o exercício da medicina.

Os passes ditos espíritas estão de acordo com os conceitos vistos nas obras dos Espíritos? É realmente necessário um curso de passe e qualquer um pode ser passista?

Na Revista Espírita de setembro de 1865, a Sra Maurel, médium vidente e psicógrafa mecânica, na manhã do dia 26 de Maio, fraturou o antebraço direito com distensões no punho e cotovelo, numa queda. Foi tratada através do magnetismo espiritual, e curada em impressionantes nove dias (tempo recorde para a medicina humana) por Bons Espíritos, dentre eles o Dr. Demeure, além de um grupo de amigos encarnados (formando assim, uma espécie de corrente magnética, oferecendo material fluídico que misturado com os dos Espíritos, proporcionaria a cura, neste caso), solicitados pelos Espíritos e um magnetizador que colocava a médium em estado sonambúlico. Os Espíritos poderiam agir sozinhos, mas os fluidos animalizados são mais compatíveis com a necessidade de um órgão físico.

“O fluido humano sendo menos ativo, exige uma magnetização prolongada e um verdadeiro tratamento, às vezes, muito longo. O fluido espiritual, mais poderoso em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e, frequentemente, quase instantâneos”, orienta Kardec em outro artigo da mesma Revista.

Existe então, na realidade, esta gradação nos efeitos de acordo com o potencial fluídico, a origem do fluido e a sua maior ou menor qualidade. Qualidade que depende diretamente do nosso estado de saúde física e emocional, além do nosso padrão moral.

Kardec estuda a temática em "A Gênese" (KARDEC, 1989), no tópico "Curas". Esclarece as três formas da ação magnética: Pelo fluido (Bioenergia) do magnetizador (Magnetismo Humano); pelo fluido dos Espíritos atuando diretamente, sem intermediário (Magnetismo Espiritual), e pelo fluido que os Espíritos transmitem ao magnetizador (potencializando e ao qual este serve de condutor (Magnetismo Misto ou humano-espiritual). Conceitos não vistos no MEB.

Muitos acreditam que o efeito curativo dos passes magnéticos nada mais é que efeito placebo. A questão do placebo é um dos assuntos que mais fascinam e, ao mesmo tempo, mais causam controvérsias entre a classe científica.

Conhecer o placebo, suas possibilidades e seus efeitos, é fundamental para a classe científica. E para um leigo, até que ponto é interessante saber que um remédio ao qual ele atribui sua cura não passava, por exemplo, de simples composição de amido com açúcar? O placebo é definido como uma substância inerte ou inativa, a que se atribuem certas propriedades (como as de cura de uma doença) e que, ingerida, pode produzir um efeito que suas propriedades não possuem.

O Dr. Bernard Grad, bioquímico e pesquisador de geriatria no McGill University's Allen Memorial Institute, no Canadá, realizou experiências muito interessantes na Universidade de McGill, Montreal, na década de 1960, a respeito da cura pelo toque das mãos que foi reconhecida, e Grad recebeu um prémio da Fundação CIBA, uma fundação científica fundada por um grande laboratório farmacêutico. Nas suas experiências com sementes de cevada, Grad substituiu humanos por plantas e animais, para evitar o efeito placebo. Num recipiente de água salgada (que retarda o crescimento), Grad colocou as sementes e pediu a um curador psíquico (um passista) que fizesse imposição das mãos sobre a água.

As sementes foram colocadas em água salgada (tratada pelo passista e não tratada).Foram colocadas de seguida numa estufa, onde o processo de germinação e crescimento foi acompanhado. Verificou-se então que as sementes submetidas à água tratada pelo passista germinavam com maior frequência do que as outras.

Depois de germinadas, as sementes foram colocadas em potes e mantidas em condições semelhantes de crescimento. Após várias semanas, e de acordo com uma análise estatística, as plantas regadas com a água tratada eram mais altas e tinham um maior conteúdo de clorofila.

O Fator psicológico altera os resultados da Magnetização? Grad lembrou-se de dar a água para pacientes psiquiátricos segurarem. Essa mesma água foi depois usada para tratar as sementes de cevada. A água energizada pelos pacientes que estavam seriamente deprimidos produziu um efeito inverso ao da água tratada pelo passista: ela diminuiu a taxa de crescimento das plantinhas novas (Jeanne P. Rindge in As Curas Paranormais, George W. Meek, Ed. Pensamento, 10ª edição, 1995, Cap. 13, pp. 158-159).

Bernard Grad efectuou ainda experiências com ratos. Numa delas, Grad produziu a doença do bócio (Bócio, conhecido popularmente como papo, é um aumento do volume da tiróide) em ratos e separou-os em dois grupos. Contatou um famoso curador, o Coronel do Exército Húngaro, aposentado, Oskar Stabany, que pegava nos ratos durante 15 minutos de cada vez, durante 40 dias.

Embora todos os animais apresentassem um aumento da tiróide, os ratos pertencentes ao grupo tratado pelo curador apresentavam uma proporção significativamente mais baixa de casos de bócio, 48 ratos que foram submetidos a uma pequena cirurgia e separados em três grupos, um dos grupos foi tratado pelo curador (“passista”). Nos ratos pertencentes ao grupo tratado pelo curador, o processo de cicatrização das feridas era significativamente mais rápido.

Estes estudos foram comprovados pelos Drs. Remi J. Cadoret e G. I. Paul, na Universidade de Manitoba, em condições de rigoroso critério, que concluíram: os ratos tratados por pessoas dotadas de poderes curativos apresentaram uma velocidade de cicatrização significativamente maior. (Medicina Vibracional, Ed. Cultrix, Richard Gerber, 1997).

Bernard Grad (RINDGE, 1983) mediu a cicatrização de ferimentos provocados na pele de 48 ratos divididos em 3 grupos de 16 unidades e tratados durante 40 dias. O grupo controle não foi tratado pelo "curador" voluntário, Cel. Estebany.

O segundo grupo foi submetido a calor na mesma temperatura das mãos de Estebany. O grupo por ele tratado apresentou velocidade de cicatrização estatisticamente significativa. Deduz-se que a bioenergia sutil emitida não é energia calorífica.

Qual é o conceito da água “fluidificada”? E de onde surgiu esse conceito? Temos de levar em conta o conceito do termo “água fluidificada”, oferecida atualmente nos centros espíritas, que surgiu no MEB- Movimento Espírita Brasileiro. De acordo com o dicionário, “fluido é uma substância que pode escoar (fluir)” e fluidificar significa “Fazer passar ao estado fluido”. Tendo em vista essas informações, podemos considerar que o termo “água fluidificada” está equivocado, pois a água já é um fluido.

Helmholtz em 1847 enunciou o principio da conservação de energia: “A soma da energia do universo é constante”. Isto equivale a dizer que a energia não pode ser criada e nem destruída, mas somente transformada. Se você energiza um copo de água - que não é espírito (e, portanto não guarda a mesma receptividade como num passe) ela teria obrigatoriamente que apresentar mudanças nas propriedades da água.

Em pesquisa, Bernard Grad analisou a água quimicamente para verificar se a energização (através do passe pela imposição das mãos) havia provocado alguma alteração física mensurável. Análises por espectroscopia de infravermelho revelaram a ocorrência de significativas alterações na água tratada pelo passista. O ângulo de ligação atômica da água

havia sido ligeiramente alterado, bem como a diminuição na intensidade das ligações por pontes de hidrogênio entre as moléculas de água e significativa diminuição na tensão superficial. (Medicina Vibracional, Ed. Cultrix, Richard Gerber, 1997).

Konstantin Korotkov (KOROTKOV, 1998), utilizando-se da moderna técnica GDV – Visualização da Descarga de Gás (ionizado) em torno de estruturas orgânicas e inorgânicas identificou alterações significativas, nas imagens da água tratada (Fig.2) bioenergéticamente por Allan Chumak.

Escolheu-se a água como substância de observação, levando-se em conta a tradicional afirmação nas grandes escolas espiritualistas, do seu papel de absorvedora de fluidos curativos, sua fundamental participação nos processos da natureza, principalmente nos ecossistemas orgânicos (NOGUEIRA, 1995), e finalmente pelo fato de podermos extrapolar os resultados das investigações para o sangue, a linfa e outros líquidos biológicos. Dr. Robert N. Miller (MILLER, 1977), e RINDGE, (1983), o qual se utilizou das faculdades da curadora Olga Worrall visando descobrir um processo para medir a energia curativa no que obteve sucesso, através de experiências controladas de medição da sua capacidade de "reduzir a Tensão Superficial da água".

A água é capaz de reter campos magnéticos? Estudando mais a fundo as tipologias da água, destacamos as seguintes para uma análise mais profunda:

Água destilada

A água constituída, exclusivamente, por hidrogênio e oxigênio. Origina-se na natureza quando se forma a chuva, ou é produzida em laboratório. Esta água é imprópria para consumo uma vez que não possui os sais necessários ao organismo humano.

Água mineral

A água que dissolve uma grande quantidade de sais minerais quando do seu percurso pela natureza. Normalmente, adquire cheiros, cores e gostos característicos o que permite classificá-la em vários tipos.

Os sais dissolvidos e ionizados presentes na água transformam-na num eletrólito capaz de conduzir a corrente elétrica. Como há uma relação de proporcionalidade entre o teor de sais dissolvidos e a condutividade elétrica, pode-se estimar o teor de sais pela medida de condutividade de uma água. Ou seja, quanto mais sais minerais a água conter, maior será sua capacidade de conduzir eletricidade.

Face ao exposto entendemos que a água mineral, sendo um condutor elétrico, pode-se considerar que ela é capaz de produzir campos magnéticos quando induzida, porém somente o recipiente poderia reter o campo magnético - recipientes específicos.

Conclusões:

No ritual, preconizado pelo movimento espírita brasileiro, de receber passes e beber água magnetizada, um dos fatores que se pode levar em consideração é a influência psicológica, que tem o poder de agir do inicio ao fim no processo; do magnetizador ao Espírito, até o paciente. O fator psicológico não é causa nem conseqüência, mas pode ser um elemento alterador dos resultados. Pode-se, ainda, considerar que o termo água fluidificada seja equivocado, pois a água, como definição física, já é um fluido. O termo surgiu no MEB - Movimento Espírita Brasileiro -, e o entendimento é de que água magnetizada seria aceito, porque a água não é capaz de reter campos magnéticos, mas ela pode ser magnetizada, segundo as pesquisas realizadas.

A ação de reter um campo magnético é diferente da ação de magnetizar. Os passes praticados em rituais na maioria das casas espíritas estão em sintonia com técnicas criadas da literatura oriental, afastando-se dos conceitos, experimentos e pareceres emanados nas obras Kardequianas, nas pesquisas de Mesmer e nas orientações dos Espíritos. Assim como todos somos médiuns, mas nem todos têm a capacidade mediúnica nesta encarnação, qualquer indivíduo é um magnetizador, mas nem todos tem a capacidade magnetizadora. Além da capacidade magnetizadora, é desejável que tenha o conhecimento necessário sobre Magnetismo Animal e sobre a influência da saúde física e moral no processo de magnetização, pois são fatores que alteram a qualidade dos efeitos. A Codificação explica que se pode magnetizar somente com o olhar, sem tocar ou até exclusivamente por ato da vontade. Essas são informações importantes e por esse motivo se faz necessário um treinamento da faculdade. Ter maior conhecimento facilita e impede que os magnetizadores sejam condicionados aos rituais, sem o entendimento dos "porquês", realizando práticas desnecessárias.

REFERÊNCIAS

Kardec, Allan ; A Gênese (1868)- Curas, Capítulo XIV.

___________ O Livro dos Espíritos (1857)- Principio Vital, Capítulo IV e Emancipação da Alma, Capitulo VIII.

___________ O Livro dos Médiuns (1861)- Médiuns Curadores, Capítulo XIV.

___________ Revista Espírita Janeiro de 1864- Médiuns Curadores.

___________ Revista Espírita Setembro de 1865- Cura Pela Magnetização Espiritual 

Filme - Magnetismo Selvagem Dr. Mesmer. 

Wikipedia, a Enciclopédia livre:

Bioeletricidade. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bioelectricidade

Magnetismo Animal. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnetismo_animal

Magnetostática. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnetost%C3%A1tica

Monografia: Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec - Ademar Arthur C. dos Reis- CPDoc.

Fonte: Núcleo Espírita de Filosofia e Ciências Aplicadas - NEFCA - http://www.nefca.org.br/artigo/agua-fluidificada-e-passes-curadores-o-mito-e-ciencia

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Frase atribuída a Kardec: "Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei".


Por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Não é raro ouvirmos de oradores e expositores espíritas que Kardec é o autor dessa célebre frase. Tentamos descobrir com alguns deles qual seria a fonte onde se basearam para passar essa informação ao público, mas nunca logramos êxito. Então, o recurso foi fazermos minuciosa pesquisa em todas as obras do Codificador para ver se nelas encontrávamos algo; porém, nada encontramos sobre o assunto. E já não tínhamos esperança de que um dia fôssemos desvendar isso. 

Bem disse Jesus que "não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido" (Mt 10,26; Lc 12,2), hoje, a luz se fez, e acabamos encontrando uma obra que fala dessa frase. Trata-se do livro Allan Kardec: o educador e o codificador, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, uma publicação da Federação Espírita Brasileira. Como achamos que o que consta dessa obra pode, certamente, esclarecer o assunto e, consequentemente, apontar a sua origem, resolvemos por bem transcrever o seguinte trecho: 

No bordo frontal da pedra que, pesando seis toneladas, serve de teto, acha-se gravado o apotegma que resume a doutrina kardequiana, de justiça e progresso: 

NAÎTRE, MOURIR, RENAÎTRE ENCORE 
ET PROGRESSER SANS CESSE TELLE EST LA LOI.

Esta inscrição faltava à época da inauguração, tendo sido esculpida ainda em 1870(39). Jean Vartier, que parcialmente biografou Kardec (40), escreve que ela fora calcada no capítulo IX da primeira parte da obra "Die Wahlverwandstschaften", de Johann Wolfgang von Goethe. 

Vartier baseou-se na tradução francesa de Camille Selden, pseudônimo de Elise Krinitz, publicada em Paris, s. d., com prefácio datado de janeiro de 1872. De fato, na referida tradução - "Les affinités électives" -, a página 78, há referência a uma casa cujos fundamentos seriam então lançados. Na solenidade, um pedreiro (maçon), com o martelo numa das mãos e a colher na outra, procurou em pequeno discurso dizer que o edifício a ser levantado seria um dia destruído, acrescentando: "Naître pour mourir, mourir pour renaître, telle est la loi universelle. Les hommes y sont soumis, à bien plus forte raison leurs travaux". 

O Sr. Vartier, com aquele seu apressado e mordente espírito crítico, deveria ter estudado mais a fundo o assunto. Descobriria, então, que no original alemão não há aquela frase, tal como está em francês; que a tradução francesa, feita com certa liberdade por C. Selden, fora publicada posteriormente a janeiro de 1872, mais de um ano após ter sido gravado o apotegma em questão no dólmen de Kardec; que, se houve plágio (como o Sr. Vartier quis insinuar), ele partiu do tradutor. 

Não acreditamos, porém, em plágio de quem quer que seja. A frase em foco andava no ar, não é de Kardec, como pretendem alguns, e pode ser encontrada, com algumas variantes, em citações bem anteriores à desencarnação de Kardec, como, por exemplo, na obra "Clê de la Víe", de Louis Michel, organizada por C. Sardou e L. Pradel, editores, Rue du Hassard, 9, Paris, datada de 1º de agosto de 1857, p. 570: 

"Saturées de l'aimant divin, de l'amour divin, des provisions divines de toute nature, les âmes solaires, par cet aimant, par cel amour, par tous ces divers agents cêlestes. font naître, vivre, circuler, évolutionner, mûrir, se transformer, monter au chemin ascendant, leurs soleils et leurs planètes, et, par les âmes de ces dernières, font jouir des mêmes avantages la plus obscure image de Dieu elle-même, l'homme, restê, encore, en dehors de l'unité; dès qu'il consent à s'y prêter un peu". 

Em discurso pronunciado na presença de Kardec, no dia 14 de outubro de 1861, na Reunião Geral dos Espíritas de Bordéus, o Sr. Sabó disse textualmente: 

"...pour aller à lui, il faut naître, mourir et renaître jusqu'à ce qu'on soit arrivé aux limites de la perfection..." ("Revue Spirite", 1861, p. 331.) 

Vejamos também estas duas frases: 

"Tout, tout, dan cette grande unité de la création, existe, naît, 
vit, fonctionne et meurt et renaît pour l'harmonie universelle". 

"(...) il faut naître, mourir et renaître jusqu'à ce que l'on soit 
parvenu aux limites de la perfecion". 

Estão elas em "Les Quatre Évangiles", J.-B. Roustaing, Tome Premier, Paris, Librairie Centrale, 24, Boulevard des Italiens, 1866, às páginas 191 e 227, respectivamente. Notemos que a frase é substancialmente a mesma, sob várias formas, sempre, porém, com o mesmo sentido, em 1857, 1861, 1866 e finalmente em 1870, quando foi esculpida no frontispício do dólmen de Kardec, em três linhas: 

NAÎRE, MOURIR, RENAÎTRE ENCORE 
ET PROGRESSER SANS CESSE 
TELLE EST LA LOI 

Terá sido por tudo isso que o Espírito Emmanuel a atribui não a um ser humano em particular, mas sim ao Espiritismo? Com efeito, diz ele, na página intitulada "Problema conosco", inserta no livro "Justiça Divina" (F. C. Xavier, 3ª edição FEB, 1974, p. 84): 

"E o Espiritismo acentua: "Nascer, viver, morrer, renascer de novo e progredir continuamente, tal é a lei". (os grifos são nossos [dos autores]). 

Inauguration du monument", Paris, à la Librairie Spirite, 1870, pp. 7/8. Neste opúsculo foi anexada uma estampa (vue) do dólmen de Kardec, "executada (executée) com o maior cuidado e a mais rigorosa exatidão pelo Sr. Pégard, gravador, conforme desenho feito pelo Sr. Sebille" (pp. 11 e 12). 

Pégard, gravador em madeira, da Escola francesa, fez as gravuras do "Dictionnaire d'architccture" de Viollet-le-Duc e as da "Histoire populaire, anecdotique et pittoresque de Napoléon". (Apud E. Bénézit: "Dictionnaire des Peintres, Sculpteurs, Dessinateurs et Graveurs", nouvelle édition, tome sixième, Librairie Gründ, 1996, p. 571.) 

(40) Jean Vartier: "ALLAN KARDEC, la naissance de spiritisme", Paris, Libraire Hachette, 1971, pp. 150/151. 

(WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codificador. Vol. II. Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 285-288) (grifo nosso). 

Vamos, por oportuno e atendendo à solicitação de um amigo, transcrever a tradução das frases em francês, constantes da Revue Spirite e Les Quatre Évangiles, pela ordem: 

[...] para ir a ele, é necessário nascer, morrer e renascer até que se tenha chegado aos limites da perfeição, [...] (KARDEC, A. Revista Espírita 1861. Araras, SP: IDE, 1993, p. 331). 

Tudo, tudo, na grande unidade da Criação, nasce, existe, vive, funciona, morre e renasce para a harmonia do Universo, [...] (ROUSTAING, J. B. Os quatro evangelhos - revelação da 
revelação. Vol. 1. Rio de Janeiro: FEB, s/d., p. 323). 

[...] para chegar a ele, teria o homem que nascer, morrer e renascer até atingir os limites da perfeição. [...] (ROUSTAING, J. B. Os quatro evangelhos - revelação da revelação. Vol. 1. Rio de Janeiro: FEB, s/d., p. 387). 

Fica bem claro, portanto, que a frase não é mesmo de Kardec. Sem nos colocarmos acima de ninguém, sinceramente, esperamos que, com as informações aqui apresentadas, possamos ter contribuído para que os nossos oradores e expositores tenham um maior esclarecimento do assunto. 

Observação: Substituímos as imagens da obra de Wantuil e Thiesen porquanto, na reprodução, perderam em qualidade, as novas foram encontradas no link: http://geak2002.blogspot.com.br/2011/03/o-atentado-ao-tumulo-de-allan- kardec.html, acesso em 01/05/2012, às 13:49 hs. 

Artigo publicado na revista Espiritismo & Ciência, nº 95, São Paulo: Mythos Editora, jun/2012, p. 30-33

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Deus, sua infinita bondade e nossa sede insaciável de felicidade



Se Deus nos criou com uma sede insaciável de felicidade, é porque o nosso destino, a trancos e barrancos, deve ser mesmo de salvação, a qual, porém, deverá ser num futuro distante, com a evolução do espírito através das reencarnações.

Os líderes religiosos não espíritas detestam a reencarnação, porque eles pregam a nossa salvação ou libertação, mas com a condição de termos que passar por eles, quando essa doutrina nos mostra que a salvação é conseguida por nós mesmos pela nossa evolução espiritual e moral. Quando eles ensinam a verdade, até que eles podem orientar as pessoas para se salvarem. Mas a profissão deles é realmente prejudicada pelo fenômeno da reencarnação.

A nossa evolução moral e espiritual é real, pois até Jesus evoluiu. “Tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos que lhe obedecem.” (Hebreus 5: 9). “Até que todos nós cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo.” (Efésios 4: 13). Temos realmente que reencarnar muitas vezes, até chegarmos à estatura moral do nível de aperfeiçoamento de Jesus Cristo. “Diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus.” Isso vai acontecer no futuro com a evolução dos espíritos humanos. “Somos transformados de glória em glória.” (2 Coríntios 3:3). “Mesmo que nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia.” (2 Coríntios 4: 16). E Jesus fala também na regeneração no futuro. (Mateus 19: 28). 

Os teólogos apegam-se muito ao lado material do homem, que veio do pó e ao pó retornará (Eclesiastes 12: 7), deixando em segundo plano o homem espiritual, interior e imortal. E, assim, pregam a ressurreição do espírito, mas para eles, ela tem que ser junto com o corpo, quando a Bíblia diz que a ressurreição é só do espírito. (1  Coríntios  15: 44). “Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus.” (1 Coríntios 15: 50). “Os ressuscitados são como os anjos.” (Mateus 22: 30). Anjos são espíritos humanos de alto nível de evolução e significam enviados de Deus ou do mundo espiritual para nós, justamente porque são muito evoluídos. Todos os corpos vêm do pó e para o pó retornam. E a Bíblia não diz que, depois que eles voltam para o pó, eles retornam à vida, pois voltam ao seu pó em definitivo. “Tu és pó e ao pó retornarás.” (Gênesis 3: 19). Esse é o destino do homem exterior.

Para os teólogos católicos, enquanto estamos aqui na Terra, nós podemos nos salvar por nós mesmos e por Deus. Morrendo o corpo e indo a alma para o Purgatório, só Deus nos pode ajudar a sairmos de lá. Daí a importância das preces para as almas. Isso é uma exaltação da matéria, da carne, pois só enquanto temos corpo, poderíamos fazer algo para a nossa libertação. No entanto, Jesus disse: “O espírito é o que vivifica; carne e sangue para nada aproveita.” (João 6: 63).

Se Deus nos deu capacidade e liberdade para pecarmos; se Deus não é prejudicado com os pecados; se é o espírito que ressuscita; se Deus nos ama com amor infinito; se a misericórdia divina não termina jamais, pois é também infinita; se a nossa evolução espiritual é uma realidade pelas reencarnações; se temos sempre uma sede insaciável de uma felicidade perene e para sempre; se Deus não quer que nenhum de nós se perca (Mateus 18: 14), não vão ser suficientemente tão poderosos os teólogos e os “diabos” para porem em dúvida a nossa salvação! 

José Reis Chaves escreve às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO e é autor dos livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência” Ed. EBM (SP)  e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 2/2.


Por Ademir Xavier

"No estado material em que vos achais, só com o auxílio de seus invólucros semimateriais podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro é o intermediário por meio do qual eles atuam sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, assim em plena luz, como na obscuridade." (A. Kardec. O Livro dos Médiuns, 2a parte, "Das manifestações espíritas". Cap. VI.)

Em post anterior (ref 1), discutimos brevemente trechos do artigo de Michael Nahm (2011) sobre o contexto de experiências de quase morte. Nesta segunda parte, comentamos outros trechos igualmente interessantes para compor nossa análise final do trabalho.

Relação entre NDE, Mediunidade e CORTs: do inglês 'Case of Reencarnation type'. Aqui o autor traça relações aparentes que existem entre relatos de experiências de quase morte (EQM =NDEs), fenômenos mediúnicos e eventos de lembranças de vidas anteriores (CORT):

Por exemplo, Giovetti (1999) descreve um caso no qual um NDEr reportou ter encontrado uma mulher de nome Mara durante uma experiência fora do corpo. Ela disse que ele poderia escolher entre permanecer naquele estado ou retornar ao seu corpo. O NDEr decidiu retornar. Mais tarde, descobriu-se que Mara era também um comunicante regular em um grupo mediúnico e que ela tinha dado uma comunicação independente em uma sessão descrevendo o encontro com o NDEr. 

Tal ocorrência singular está totalmente de acordo com o estado de liberdade do Espírito, na possibilidade de seu encontro com outros Espíritos e de trânsito de informação de forma não convencional, como nunca seria esperado por qualquer outro processo que jamais admitisse a independência e comunicabilidade dos Espíritos. Mas qual a relação com lembranças de vidas passadas? Em outro trecho do artigo, Nahm descreve:

No contexto presente, é relevante que várias crianças, de diferentes traços culturais, deram descrições complementares sobre como elas passaram o período intermediário entre duas existências. Frequentemente tais descrições começam dizendo que deixaram o corpo da personalidade anterior com a morte e que perceberam cenas a partir de cima. Algumas crianças também dizem que as pessoas presentes próximas ao corpo não conseguiam ouvi-las ou vê-las, embora as crianças tentassem fazer contato. Outras ainda descrevem corretamente o que aconteceu com o corpo da personalidade anterior, por exemplo, fornecendo informação verídica sobre eventos do funeral (Hassler, 2011; Stevenson, 1997; Tucker, 2006).

Tais descrições são ainda mais extraordinárias (sempre do ponto de vista que não admite a sobrevivência e reencarnação), pois provêm de fontes consideradas de difícil influenciação por ideias aprendidas. Vimos como crianças também podem fornecer relatos de experiências de quase morte (ver post da nota 2). Aqui, Nahm considera a existência de relatos de NDE por crianças que não experimentaram uma NDE realmente, mas que se lembram de experiência semelhante vivida por sua personalidade anterior. A descrição da NDE é, portanto, indireta e fornecida a partir de uma lembrança de uma vida anterior. 

Tais descrições sancionam não só a existência integral e consistente da personalidade após a morte como também as vidas sucessivas.

Anúncios de nascimento e posterior confirmação: Outra variedade de fenômeno relacionado a sonhos compartilhados, são os casos de lembranças nos pais de visitas de Espíritos de crianças antes de seu nascimento. Pensemos em toda controvérsia que existe em torno da questão do aborto e sua ética, diante de evidências de sonhos compartilhados desse tipo em que a criança posteriormente confirma a visita!

Mas, os casos mais típicos de anúncios oníricos CORT não recíprocos são bastante notáveis. Neles os futuros pais sonham frequentemente com uma personalidade falecida que declara ser seu interesse nascer a partir deles. Posteriormente, a criança nascida fala de uma vida que corresponde à existência da personalidade que apareceu durante os sonhos, sendo que a criança pode apresentar marcas de nascença que corresponde àquelas da personalidade anterior (por exemplo, o caso de Necip Ünlütaskiran em Stevenson, 1997)

Um interessante caso também é apresentado pelo Dr. Moody conforme vimos em um post anterior (ver ref. 4).

Lucidez terminal: Um fenômeno que tem sido observado durante eventos de EQM é o súbito retorno à lucidez de pessoas consideradas incapazes mentalmente ou doentes em estado avançado de ausência de consciência nos momentos que se aproximam da morte. Esse fenômeno pode ser chamado de lucidez terminal. Segundo Nahm:

Presentemente, conheço cerca de 85 casos publicados desse tipo. Eles incluem pacientes com tumores no cérebro, demência  doença de Alzheimer, derrame, meningite, esquizofrenia e outros sem diagnóstico médico preciso. Vários outros casos me foram relatados por comunicação pessoal. Os incidentes mais perplexos são aqueles em que a doença mental é causada por degeneração ou destruição de estruturas cerebrais no paciente tal como a doença de Alzheimer, tumores e derrames.

Sobre esse retorno à lucidez por alguns momentos, há ainda uma observação perspicaz:

A lucidez inexplicável que é mostrada por alguns pacientes pode também ser relacionada ao estado de extraordinária claridade mental que é reportada durante as EQMs e, como mencionado, aos momentos de lucidez que ocorrem nas visões de leito de morte (DBV). Guy Lyon Playfair reportou um caso de um DBV que torna evidente esse tipo de relação (correspondência eletrônica de 22 de Dezembro de 2009). Nesse caso, uma paciente em estado de demência experimentou uma DBV no dia anterior ao da sua morte. Nessa visão, a paciente viu e reconheceu membros familiares falecidos, a saber, um irmão e uma irmã que já haviam falecido há bastante tempo. A visão foi tão real que a mulher pediu a sua enfermeira, de forma surpreendente, que a servisse três xícaras de chá. Isso, considerando que no último ano ela era incapaz de reconhecer sequer membros da família que viviam com ela na mesma casa.

Ou seja, há uma relação entre a percepção de estado de grande lucidez durante uma EQM e sua ocorrência quanto o paciente encontra-se em um estado de doença mental. Não podemos deixar de lembrar aqui que a lucidez terminal é comprovação do que foi revelado no 'Livro dos Espíritos' em várias questões desde # 371 a #378 sobre o Idiotismo e a Loucura. Reproduzimos aqui a questão #375 do LE para comparação (ref. 3):

375. Qual, na loucura, a situação do Espírito?

"O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e diretamente exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado, porém, ele se encontra em condições muito diversas e na contingência de só o fazer com o auxílio de órgãos especiais. Altere-se uma parte ou o conjunto de tais órgãos e eis que se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação ou as impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que seja o órgão que preside às manifestações da inteligência o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil te será compreender que, só tendo o Espírito a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, uma perturbação resultará de que ele, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso não lhe está nas mãos deter."

A lucidez terminal é, portanto, um fenômeno previsto pela teoria espírita que afirma a natureza dual do ser  humano. Evidências de lucidez terminal são fornecidas por Nahm nas seguintes referências: (Barrett, 1926, Bozzano, 1947, Kelly, Greyson, & Kelly, 2007)

Conclusões

Comentamos abaixo algumas outros trechos do excelente artigo de M. Nahm como conclusão deste post. Em primeiro lugar sobre as evidências existentes para o retorno à lucidez de pacientes terminais com doenças mentais:

Se essas observações forem substanciadas em investigações futuras, elas representam problemas sérios aos modelos amplamente aceitos para a consciência e processamento de memória. Segundo essas, a mente humana é considerada um subproduto de interação de disparos de neurônios. Mas, como no caso das EQMs, somos obrigados a nos perguntar: como pode a cognição e a memória funcionarem sob condições severas de paralisia cerebral ou mesmo degeneração avançada das estruturas neuronais necessárias? 

Aqui há pouco a ser comentado, deixando claro nossa concordância com essa observação de Nahm. Ele ainda desenvolve:

A hipótese de que uma EQM não depende do estado da organização orgânica no cérebro constitui-se em um modelo explicativo capaz de lidar com o enigma sobre porque as experiências NDE podem ser tão notavelmente similares sob condições tão variadas de fisiologia do cérebro.

Em outras palavras, as experiências de EQM são manifestações da parte espiritual do ser humano e, dessa forma, manifestam-se de forma independente do estado particular ou condição neurológica em que se encontre o corpo (embora, sua manifestação exige que partes inteiras do cérebro estejam profundamente comprometidas). Nesse sentido, as observações feitas com pacientes dementados em estado terminal são muito relevantes:

Se pacientes em estado de demência podem subitamente reconhecer membros familiares próximos vivos durante a lucidez terminal, outros podem muito bem reconhecer membros familiares falecidos durante uma visão de leito de morte ou EQM, talvez porque entrem semelhantemente em um processo de enfraquecimento de vínculos com a matéria física cerebral. De fato, é uma afirmação antiga do Espiritualismo que muitas doenças mentais podem ser revertidas ou curadas no estado desencarnado.

Como vimos, isso é corolário do que apresentamos acima com a questão # 375 de 'O Livro dos Espíritos'. Sobre desdobramentos empíricos das EQM, Nahm também lembra a existência de eventos onde múltiplas pessoas foram envolvidas simultaneamente em um evento de EQM (Gibson, 1999), o que possibilitaria a descrição simultânea da ocorrência entre diferentes indivíduos:

Se tais descrições puderem ser independentemente corroboradas por participantes diferentes em uma mesma experiência, isso forneceria um argumento forte a favor da possibilidade de experiências intersubjetivas durante o estado aparentemente desencarnado do ser. A crença de que aqueles que deixam seus corpos físicos - seja durante a vida ou durante a morte - são capazes de ver outros Espíritos desencarnados é parte de antigas tradições de muitas culturas ao redor do mundo.

Experiências de quase morte reciprocamente confirmadas, comunicações mediúnicas que confirmam experiências de EQM, crianças que lembram EQMs vividas pelas personalidades de uma vida anterior, pais que sonham recorrentemente com personalidades que pedem para nascer a partir deles e seus filhos então confirmam os sonhos dos pais, doentes mentais que repentinamente recobram a lucidez pouco antes da morte, pessoas afetadas por problemas neuronais graves que subitamente recordam EQMs exibindo um estado de grande lucidez, EQMs que relembram experiências vividas em outras existências...

Tais são os fenômenos desprezados e desconsiderados pelo conhecimento especializado da medicina, casos que ocorrem talvez aos milhares todos os dias, previstos e prescritos na lei, porque revelam a natureza real do ser humano, alma consciente e viva dentro da grande Eternidade que é a vida verdadeira do Espírito imortal.   

Notas
Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.
Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)
A. Kardec. 'O Livro dos Espíritos'. Referência do IPEAK.
Palestra do Dr. Raymond Moody sobre Experiências de quase-morte compartilhadas. (Set, 2011).

Referências
Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
Gibson, A. S. (1999). Fingerprints of God. Bountiful, UT: Horizon
Giovetti P. (1999). Visions of the dead. Death-bed vision and and near death experiences in Italy. Human Nature 1, 38-41.
Hassler D (2011). Spontanenerinnerungen kleiner kinder an ihr 'früheres leben'. Aachen. Shaker Media.
Kelly, E. W., Greyson, B., & Kelly, E. F. (2007). Unusual experiences near death and related phenomena. Em E. F. Kelly, E. W. Kelly, A. Crabtree, A. Gauld, M. Grosso, & B. Greyson (Eds.), Irreducible Mind: Toward a Psychology for the 21st Century, Lanham, MD: Rowman & Littlefi eld, pp. 367–421.
Nahm, M (2011). Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
Stevenson I. (1997). Reincarnation and Biology. Westport. CT Praeger.
Tucker J. T.(2006). Life before life. London: Piatkus Books.

Retirado do blog "Era do Espírito" - http://eradoespirito.blogspot.com.br/2012/11/reflexoes-sobre-o-contexto-de.html

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.


Por Ademir Xavier

"Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados como ele." (A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23).

Em um artigo recente e muito interessante, Michael Nahm (2011), "Reflections on the Context of Near-Death Experiences", apresenta uma introdução ao fenômeno de experiências de quase morte (em inglês NDE, near death experiences) como visto pela perspectivas de fenômenos correlacionados a NDE e que ocorrem um pouco antes, durante ou depois dele. Tais ocorrências constituem o que Nahm chama de 'contexto' das NDEs. Ele chama a atenção para o fato de que muitos pesquisadores que buscam explicações 'naturalistas' para a NDE não prestam atenção devida a tais eventos, gerando assim, explicaões incompletas. Esse estudo é interessante pois demonstra a amplitude explanativa da tese espiritualista que descreve o ser humano como composto de um 'duplo': primeiro a noção filosófica dualista de corpo e espírito e, depois, a tese espírita de um novo corpo (perispírito) que sobrevive a morte e que também não deve ser confundido com o Espírito.

Aqui apresentamos a 1a parte (de 2) de um resumo do artigo de Nahm com citação de referências contidas nesse artigo. O estudo mostra também que essas referências modernas confirmam o que Kardec já havia descoberto e descrito em muitos de suas obras. No que consistiria tal contexto? O artigo analisa os seguintes fenômenos registrados na literatura:

Modificações corporais inexplicáveis (Unexplained Bodily Changes): tais modificações ocorrem durante ou logo após uma NDE. São curas ou alívios momentâneos que trazem lucidez ao paciente que passa pela NDE. Há entretanto relatos de modificações físicas inexplicáveis (Pasricha, 2008) que parecem corresponder à experiências que ocorreram durante o estágio de NDE. Há estudos que demonstram a existência de ocorrências de marcas corporais durante estados hipnóticos ou durante sonhos, o que forneceria uma possível mecanismo para explicação das marcas observadas durante NDEs. 

Experiências fora do corpo reciprocamente confirmadas (Reciprocally Confirmed OBEs During Near-Death States), De acordo com Nahm :

Em casos típicos, uma pessoa em um estado de NDE afirma ter visitado membros da família à distância, pessoas que muito se deseja encontrar.  A visita ocorre por meio de uma 'experiência fora do corpo' (OBE: em inglês 'Out-of-the-body experience). Posteriormente, esses membros da família confirmam terem recebido uma impressão da presença da pessoa no momento assinalado por ela. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção, 'Originais do artigo', 1)

Isso seria uma variedade de aparições durante as crises que tem sido narradas na literatura (Fenwick, Lovelace e Brayne, 2010) sobre eventos psíquicos. Já em 1868 em 'A Gênese', Kardec descreveu esse tipo de ocorrência (Nota 1). Pode-se também correlacionar tais experiências como uma variedade dos chamados fenômenos de 'aparições dos vivos' que foi abundantemente tratado por Kardec (Nota 2) e outros (Gurney, Myers e Podmore, 1886). Estudos recente apontam para ocorrência de 'comunicações pós falecimento' (LaGrand, 1997) que seriam curtas notícias verificados junto a familiares:

Em todos esse casos, o modo geral de ocorrência parece ser idêntico ao das aparições durante as crises de vivos ou pessoas quase falecidas, mas as motivações para seu aparecimento ou as mensagens a serem passadas são diferentes: as aparições de crise tendem a informar a pessoa sobre a crise ou a própria morte, enquanto que as aparições de recém falecidos transmitem frequentemente mensagens de bem estar, esperança ou encorajamento aos que ficaram enlutados. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 2)

O primeiro caso caracterizaria o que é chamado de DBV (deathbed visions), ou visões do leito de morte. Com relação a esses últimos, Nahm considera: (a) as DBVs trazem mensagens consoladoras; (b) quase sempre surgem imagens de parentes falecidos durante as DBVs; (c) as DBV compartilham de aparência semelhante a de muitas outras 'aparições' tais como visões de emanação de luzes; (d) Muitas DBVs são 'testemunhadas' por apenas uma pessoa, mas há casos de várias pessoas, de forma coletiva, servirem de testemunhas (Bozzano, 1947, Barrett,1926). Não foge de nossa memória o Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos' sobre a 'Emancipação da alma'. O leitor deve comparar a descrição de Nahm com as questões # 413-418.

Existem muitos relatos durante tais aparições de crises de encontro com pessoas falecidas (Osis e Haraldsson, 1997). Explicações não espíritas tem dificuldade em justificar porque isso ocorre com pessoas falecidas e não com pessoas vivas (que, afinal, não poderiam comparecer para um último adeus). Ao contrário, quando o paciente deseja insistentemente se encontrar com um vivo é que ocorrem eventos de visualização desse paciente junto aquele parente-alvo que está vivo (o que seria uma 'aparição de um vivo').

Fato muito interessante que também é descrito por Nahm é quanto a ocorrência de aparições de vivos a pacientes em estado de NDE. A princípio, poder-se-ia imaginar que o surgimento de vivos a pacientes de NDE demonstra o caráter fantasioso da ocorrência. Mas, Nahm descreve que tais aparições se dão em momentos especiais,seja quando o vivo também tem presentimentos a respeito da morte iminente do paciente ou quando o vivo encontra-se em um estado alterado de consciência (dormindo, acamados etc, os chamados casos 'reciprocally confirmed', ver mais adiante).  Portanto, Nahm admite que, nesses casos, o vivo tenha se 'projetado' de alguma forma em direção ao paciente. Além disso, segundo Nahm:

Há inúmeros casos registrados em que o paciente erroneamente achou que estivesse vendo um vivo - mas tal indivíduo em questão já estava morto. Além disso, pacientes de NDE frequentemente tem visões de pessoas totalmente desconhecidas, o que é algo difícil de explicar usando wishful thinking. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 3)

Uma referência de casos sobre isso é (Greyson, 2010).

Sonhos e NDEs compartilhados: conforme descrito pelo Dr. Moody (2010), há casos de indivíduos absolutamente sãos que têm sonhos onde experimentam sensações e informações semelhantes ao do paciente que passa pelo NDE. Essas experiências podem assim ser compartilhadas, o que dificulda a explicação de que NDE são fenômenos causados por danos cerebrais no paciente. Como explicar as visões compartilhadas por pessoas sãs? Conforme explica Nahm:

NDEs compartilhadas também podem ser consideradas como ND-OBEs compartilhados, que, além disso, incluem estágios posteriores de NDEs onde persistem aspectos mais transcendentais. Dados esses paralelos, parece que NDEs e sonhos (lúcidos) são experiências que podem ser compartilhadas com outras pessoas vivas em um tipo de espaço não físico ou mental. Nesse contexto, é interessante ver que uma grande quantidade de experiências psíquicas sejam reportadas a partir de sonhos onde a morte e o morrer sejam temas predominantes, e que muitos dos sonhos ostensivamente paranormais sejam descritos com uma vivacidade ou intensidade que é ausente na maioria dos sonhos ordinários.(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 4)

Aqui "ND-OBE" são 'near death out-of-the-body experiences'. Lendo isso, não há como não citar Kardec (Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos': da emancipação da alma, o sonho e os sonhos), Q #402:

O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis, como disse um santo.

O leitor deve considerar ainda as respostas a outras questões, como a #406 (sobre o 'sonhar com pessoas vivas') e toda a questão #402 da qual reproduzimos acima apenas um parágrafo.

Conclusões preliminares

Portanto, na revisão feita por Nahm da literatura sobre o contexto de NDEs encontramos resultados que validam parte inteiras do Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos'. Chama a atenção que essa confirmação não vem absolutamente da análise de fatos comuns tais como sonhos ordinários ou experiências menos relevantes. Ao contrário, é da análise das anomalias, de fatos não corriqueiros tais como NDEs e ocorrências de experiências psíquicas compartilhadas, que podemos reunir uma grande quantidade de fatos que atestam a realidade da 'emancipação da alma' e da natureza dual do ser humano.

Em um futuro post continuaremos com a exposição comentada da revisão de M. Nahm com os temas: ligações formais entre NDEs, mediunidade e lembranças de vidas  passadas; correspondência entre o conteúdo de NDEs, comunicações mediúnicas e lembranças de vidas passadas; fenômenos físicos registrados no momento da morte; audição de músicas não explicadas no momento da morte e memórias não ordinárias em crianças.

Referências

Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
Fenwick, P., Lovelace, H., & Brayne, S. (2007). End of life experiences and their implications for palliative care. International Journal of Environmental Studies, 64, 315–323.
Greyson, B (2010). Seeing deceased persons not known to have died: "Peak in Darien" experiences. Anthropology and Humanism, 35, p. 159-171.
Gurney, E., Myers, F. W. H., & Podmore, F. (1886). Phantasms of the Living (2 vols). London: Trübner.
LaGrand, L. (1997). After Death Communication: Final Farewells. St. Paul, MN: Llewellyn.
Moody R. (2010), Glimpses of Eternity, New York: Guideposts.
Nahm, M (2011), Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
Osis, K., & Haraldsson, E. (1997). At the Hour of Death (third edition). Norwalk, CT: Hastings House.
Pasricha, S. (2008). Near-death experiences in India: Prevalence and new features. Journal of Near-Death Studies, 26, 267–282.

Notas e referências a Kardec.

1. A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23: 
O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta do princípio vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão, desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc., e que mais não são do que manifestações da vida espiritual. (*)

(*) Casos de letargia e de catalepsia: Revue Spirite: “Senhora Schwabenhaus”, setembro de 1858, pág. 255; — “A jovem cataléptica da Suábia”, janeiro de 1866, pág. 18.

Originais do artigo

In typical cases, a person in a near-death state claims to have visited family members at a distance whom he or she was intensely wishing to see. This visit was often accomplished by means of an OBE. Later, these family members confi rm that they had perceived a corresponding impression of this person at the time in question. 

In these cases, the overall mode of appearing seems identical to crisis apparitions of the living or dying, although the motivations to appear and the messages conveyed seem different: Crisis apparitions tend to inform the perceiver predominantly about the crisis or of death itself, whereas apparitions of the longer-deceased convey more often messages of their own well-being, or of hope and encouragement for the bereaved.

Moreover, there are numerous cases on record in which the dying erroneously thought they had seen apparitions of living persons - but the individuals in question had in fact died already. In addition, patients in near-death states often see visions of persons entirely unknown to them, a finding difficult to explain along the lines of wishful thinking.

Shared NDEs could also be regarded as shared ND-OBEs - with the addition that they include mutual experiences of later stages of NDEs featuring more transcendental aspects. Given these parallels, it seems that NDEs and (lucid) dreams are experiences that can be shared with other living persons in a sort of nonphysical or mental space. In this context, it is of interest that a large proportion of spontaneous psychic experiences are reported from dreams, with death and dying constituting predominant themes, and that many of these ostensibly paranormal dreams are characterized by a vividness or an intensity missing in most ordinary dreams. 

Retirado do blog "Era do Espírito" - http://eradoespirito.blogspot.com.br/2012/09/reflexoes-sobre-o-contexto-de.html