sexta-feira, 26 de março de 2010

Memórias Póstumas de Brás Cubas: Espiritismo Literário

Por Glaucio Cardoso

Publicado em 1881, embora tendo surgido em forma de folhetim no ano anterior, a trajetória do defunto autor impressiona pela exposição crítica, irônica e por vezes até amarga que faz de sua vida. Muitas páginas já foram dedicadas a esse romance ímpar em nossa literatura, grande parte delas enfocando o distanciamento que a morte do narrador das memórias póstumas estabelece. Afinal, pode haver melhor ponto de vista para avaliar a vida e a sociedade que o de quem se encontra afastado de ambas?

Sem procurar penetrar ainda mais neste campo de análise da obra em questão, julgando que já há trabalhos excelentes sobre tal temática, passemos a avaliação de como Machado utiliza-se de idéias colhidas no Espiritismo para a composição das memórias de seu defunto autor.

Comecemos com a própria idéia da obra em si: um morto que escreve suas memórias a partir do além.

Se levarmos em conta que desde o século XVIII surgiram livros atribuídos a espíritos e que Machado foi contemporâneo da chegada dos primeiros livros espíritas no Brasil, poderemos concluir que a referência cultural é clara, não trazendo portanto nada de tão novo assim, mesmo na época em que é publicado, o que levou o temido Silvio Romero a classificá-lo como uma “espécie de espiritismo literário”¹.

Ironicamente, eu diria que machadianamente, Silvio Romero deu-nos a primeira chave para analisar o romance em questão: Espiritismo literário seria a criação ficcional apoiada ou inspirada em conceitos espíritas. O defunto autor das memórias póstumas é, portanto, a representação ficcional dos defuntos autores presentes nas obras espíritas desde os livros organizados por Allan Kardec.

Na explicação ao leitor, o narrador Brás Cubas evita “contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias” alegando que “Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra.” Para tanto ele argumenta que “O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado.”.

É um excelente recurso para a) fugir de explicações a respeito do processo da psicografia, i.e., o processo pelo qual o espírito transmite seu pensamento ao médium que o transcreve, tal processo foi amplamente descrito por Allan Kardec em O livro dos médiuns, constituindo um dos mais conhecidos fenômenos mediúnicos; no entanto, como são vários os gêneros pelos quais a psicografia se opera e como havia muita controvérsia sobre os mesmo à época é natural que Machado se abstivesse de o explicar com o estatuto de que melhor prólogo é o que menos diz, ou seja, só diz aquilo que realmente interessa à narrativa; e b) eximir o autor Machado de Assis de qualquer influência ou responsabilidade sobre a obra o que se entende quando levamos em conta que até então Machado havia cultivado uma escrita bem comportada e, por isso mesmo, aceita pelo público leitor de então; se como diz Ronaldes de Melo e Souza “O estatuto ambivalente do narrador desdobrado no encenador e no ator do drama de sua vida singulariza a situação narrativa dos romances machadianos de primeira pessoa” (Souza, 2006:139), não é absurdo julgarmos que tal singularização possui um efeito extremo no caso do romance de memórias póstumas e que, portanto, torna o autor tão distante do narrador que não se lhes pode indicar qualquer tipo de identidade em comum.

Exposição aguda da influência das idéias espíritas na escrita machadiana pode ser encontrada em outras passagens das Memórias. Por exemplo, quando o defunto autor fala de sua reação à morte da mãe: “Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto.” (Assis, 1999: 87).

Há perfeita simetria entre a passagem acima e outras tantas encontradas nas obras espíritas da época. Só para citar uma fonte primária, refletimos que as questões 919 e 919-a de O Livro dos Espíritos tratam especificamente do conhecimento de si mesmo indicando-o como o meio mais eficaz que o espírito, encarnado ou desencarnado, possui para julgar suas ações e confessar-se falho quando tal necessidade se apresenta.

Já na resposta à questão de nº 1000 encontramos a pergunta retórica “De que lhe serve [ao espírito], finalmente, humilhar-se perante Deus, se continua orgulhoso diante dos homens?” (Kardec, 2007: 547), o que nos leva à seqüência das reflexões feitas por Cubas:

Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência (...) Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lentejoulas, despregar se, despintar se, desafeitar se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos, não há platéia. (Assis, 1999: 87-8)

Outro trecho da mesma resposta à questão 1000 aponta-nos mais um exemplo de como Machado exibe sua capacidade de torcer conceitos vários para que estes validem sua narrativa: “Só por meio do bem se repara o mal (...)” (Kardec, 2007 [1857]: 547). Este conceito de reparar o mal com o bem será desenvolvido em várias passagens de toda a Codificação Espírita, notadamente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, sendo desnecessário que lhe façamos a transcrição. Parece-me ser este o conceito base para a “lei da equivalência das janelas”: Brás se julga perdoado por roubar a esposa de Lobo Neves restituindo uma moeda achada estabelecendo “que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.” (Assis, 1999: 126).

Longe de pretender esgotar todas as possibilidades de diálogo entre as Memórias Póstumas de Brás Cubas e as idéias espíritas encerro esta parte com uma curiosidade que acredito proposital da parte de Machado: Brás Cubas nasce a 20 de outubro de 1805, pouco mais de um ano depois do nascimento de Allan Kardec em 03 de outubro de 1804, e morre em uma data ignorada do mês de agosto de 1869, sendo este também o ano de morte de Kardec, mais precisamente no dia 31 de março. Coincidência ou simples capricho de Humanitas?

1 - Citado por H. Pereira da Silva em “Sobre os romances de Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas)”. In: ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: SEDEGRA, 1960, p. 5-15.

Publicado no Recanto das Letras em 24/08/2008

quinta-feira, 25 de março de 2010

O Homem Novo

Por José Herculano Pires

Para construir um mundo novo precisamos de um homem novo. O mundo está cheio de erros e injustiças porque é a soma dos erros e injustiças dos homens.

Todos sabemos que temos de morrer, mas só nos preocupamos com o viver passageiro da Terra. Por isso, a humanidade desencarnada que nos rodeia é ainda mais sofredora e miserável que a encarnada a que pertencemos. “As filas de doentes que eu atendia na vida terrena — diz a mensagem de um espírito — continuam neste lado.”

Muita gente estranha que nas sessões espíritas se manifestem tantos espíritos sofredores. Seria de estranhar se apenas se manifestassem espíritos felizes. Basta olharmos ao nosso redor — e também para dentro de nós mesmos — para vermos de que barro é feita a criatura humana em nosso planeta. Fala-se muito em fraude e mistificação no Espiritismo, como se ambas não estivessem em toda parte, onde quer que exista uma criatura humana. Espíritos e médiuns que fraudam são nossos companheiros de plano evolutivo, nossos colegas de fraudes cotidianas.

O Espiritismo está na Terra, em cumprimento à promessa evangélica do Consolador, para consolar os aflitos e oferecer a verdade aos que anseiam por ela. Sua missão é transformar o homem para que o mundo se transforme. Há muita gente querendo fazer o contrário: mudar o mundo para mudar o homem.

O Espiritismo ensina que a transformação é conjunta e recíproca, mas tem de começar pelo homem.

Enquanto o homem não melhora, o mundo não se transforma. Inútil, pois, apelar para modificações superficiais. Temos de insistir na mudança essencial de nós mesmos.

O homem novo que nos dará um mundo novo é tão velho quanto os ensinos espirituais do mais remoto passado, renovados pelo Evangelho e revividos pelo Espiritismo.

Sem amor não há justiça e sem verdade não escaparemos à fraude, à mistificação, à mentira, à traição.

O trabalho espírita é a continuação natural e histórica do trabalho cristão que modificou o mundo antigo. Nossa luta é o bom combate do apóstolo Paulo: despertar as consciências e libertar o homem do egoísmo, da vaidade e da ganância.

Fonte: PIRES, Herculano. O Homem Novo.

Sai a edição de Abril da gazeta eletrônica "Pensador"

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SAINDO "QUENTINHA" DA OFICINA DA ANESPB A GAZETA ELETRÔNICA "PENSADOR", EDIÇÃO DE ABRIL

CARMEM BARROS - PB

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quarta-feira, 24 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fidelidade Espírita, uma questão de racionalidade cristã

Por Jorge Hessen

É evidente que "Fidelidade Doutrinária" não é o que alguns incautos alcunham como sendo algo subjetivo. Consiste na simplicidade dos conceitos escritos e praticados, desde que, invariavelmente, alicerçados na Codificação, cujas recomendações foram escoradas pelos "Espíritos do Senhor, que são as "Virtudes dos Céus", no dizer do Espírito de Verdade, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A nossa irmã Wanda Simões escreveu que "estamos vivendo dias de dificuldades em todo o planeta, mas, configura-se de muita gravidade a situação encontrada nas casas espíritas. Afinal, não é onde deveria estar centrada a cátedra do Espírito de Verdade? Não é onde deveria se encontrar a luz do conhecimento que liberta? Não é onde se deve aprender a construir um novo homem, liberto das amarras da ignorância? No entanto, não é o que se vê. Senão, vejamos: As casas espíritas, inspiradas pelo espírito de sistema, optaram por navegar nas águas rasas do conhecimento, na superficialidade dos ensinos exarados nas obras psicografadas de qualidade duvidosa. É comum, muito comum, os espíritas saberem, de cor, as histórias romanceadas das vidas de personagens habitantes das colônias transitórias, mas não sabem sequer de onde surgiu a doutrina que professam. Espalhou-se, no meio, a idéia de que a leitura das Obras básicas é muito difícil, e que, portanto, é melhor que se comece lendo romances e livrinhos de histórias fantasiosas sobre a vida espiritual, que só convencem mentes imaturas e sem senso de racionalidade. O resultado disso é que quando a pessoa se interessa, de fato, pelo estudo da Doutrina, já se embrenhou num mundo irreal, já poluiu sua mente com leituras inadequadas e atrapalhadas, tornando-se muito difícil a incursão no conhecimento real do Espiritismo, atrasando, sobremaneira, o avanço da criatura na estrada da compreensão. Os conceitos, que já se formaram em sua mente, são de complicada reestruturação e haja tempo para se formar outra mentalidade. São pessoas com um nível de fantasia muito grande acerca da vida terrena e espiritual, pois misturam conceitos espíritas com doutrinas esotéricas, com neurolinguística, terapias alternativas, auto-ajuda e tudo o que pode fazer uma grande confusão nas idéias."1

Certa ocasião, ao término de uma palestra sobre o tema FIDELIDADE DOUTRINÁRIA, aproximou de mim um confrade e nos contou que estava procurando se harmonizar com uma casa espírita, mas, no grupo que freqüentava, os trabalhadores promoviam sessões de "desobsessão" pela apometria e por corrente magnética (?!...). Utilizavam cristais e pirâmides nos chamados trabalhos de "cura". Indicavam sal grosso aos assistidos, ervas, pomadas "cura-tudo" e outros quejandos estranhos.

Lembramos que muitos centros acenam com movimentos e idéias hipnotizantes, tentando embutir, na espinha dorsal da Doutrina Espírita, práticas inoportunas, sutis, criando neologismos de impacto para supostos "tratamentos espirituais".

Indagou-nos, se eram corretas essas práticas, pois, segundo acreditava, consoante as lições das Obras Básicas, essas práticas não condizem com o projeto final do Espiritismo. Disse-nos, ainda, que foi convidado pela Direção do tal Centro, a trabalhar em serviços de atendimento aos irmãos que estavam necessitados de ajuda material naquela região. Contudo, estava receoso de iniciar um trabalho com esses pontos conflitantes na mente.

Esclarecemos que o Centro Espírita tem que funcionar como se fosse um autêntico Pronto-Socorro Espiritual; tal qual refrigério em favor das almas em desalinho. Os grupos espíritas têm que estar preparados para receber um contingente, cada vez maior, de pessoas perdidas no lodaçal de suas próprias imperfeições, e que estão nos vales sombrios da ignorância.

Aqueles que leem literaturas ditas avançadas, de autores pseudosábios, duvidosos, sem antes lerem e estudarem, com seriedade, as obras do Pentateuco Kardeciano, correm, invariavelmente, o grande risco de enveredarem por caminhos escorregadios e trilhas sinuosas de difícil acesso esclarecedor. Os Centros Espíritas refletem a índole e a consciência doutrinária dos seus dirigentes (mandões). As práticas que nos narrou o irmão chocam, de frente, com as receitas de Allan Kardec. Logo, no centro citado, não se praticam as recomendações doutrinárias, logo não se pratica o Espiritismo-Kardecista.2 Todavia, são estágios de entendimento insipientes, quiçá, necessários para esses irmãos neófitos (nunca se esquecendo de que A CADA UM SEGUNDO SEUS MERECIMENTOS). Ressaltamos que, no grupo em referência, certamente, existem confrades que ajudam os necessitados, o que lhes concede apreciáveis méritos, obviamente. Contudo, ainda, não se desligaram de práticas bizarras, perfeitamente dispensáveis para seus compromissos cristãos.

Lembramos ao nosso interlocutor, que já possuía um critério doutrinário formado, que ele deveria procurar outro núcleo espírita, onde propusessem práticas, genuinamente, espíritas. Se optasse por continuar, que transmitisse, aos poucos, as noções claras da Doutrina Espírita, promovendo, no Centro, leituras de obras consagradas, e que sugerisse oradores experientes, quando agendassem nomes para palestras públicas, etc.

Alertamos sobre as dificuldades que iria encontrar, mas que não esmorecesse diante desse nobre propósito, pois a firme vontade de ajustar aquelas mentes doentias ao projeto dos Espíritos Superiores superaria qualquer adversidade que tivesse que enfrentar. O mais importante é servir em nome do Cristo, mesmo que convivendo, estóica e heroicamente, ao lado de práticas vazias de lógica. Se conseguisse conviver com isso, nós o estimulamos. Contudo, lembramos ao confrade que ninguém era obrigado a conviver sob as amarras dos constrangimentos, por isso, que usasse e abusasse do bom senso.

A verdadeira prática espírita é a expressão da moral cristã, consubstanciada no Evangelho. O grupo espírita que se basear nos ensinos de Jesus terá maior pureza doutrinária em qualquer tipo de continente (desobsessão, desenvolvimento da mediunidade, palestras, livros, mensagens, assistência social, evangelização da infância e juventude, divulgação, etc.).

Recordemos que Allan Kardec legou à humanidade a melhor de todas as embalagens (FIDELIDADE DOUTRINÁRIA) ao divino presente que é a DOUTRINA ESPÍRITA, e aqueles que têm como base o alicerce do Evangelho podem, até, conviver com qualquer obra ou filosofia, que estarão IMUNIZADOS contra o vírus das influenciações obsidentes.

Fonte: http://jorgehessen.net/

quinta-feira, 18 de março de 2010

Roustainguismo ou Docetismo?

Por Leonardo Arantes Marques

Roustainguismo (A Verdade revelada através da Mentira) – A auto-intitulada Revelação da Revelação foi fundada por Jean Baptista Roustaing em 1865 na França. O autor das obras os Quatro Evangelhos, “julgou seguir um outro caminho. Em vez de proceder por gradação, quis atingir o fim de um salto. Dissemo-lo cem vezes, para nós a opinião de um Espirito, seja qual for o nome que traga, tem apenas o valor de sua Opinião Individual. Convém, pois, até mais ampla confirmação (Os Quatro Evangelhos), não podem (nem devem ) ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita. Nosso critério está na concordância universal, corroborada por uma rigorosa lógica, para as coisas que não podemos controlar com os próprios olhos” 1.

Existem milhares de diferenças entre o Espiritismo e a crença fundada por Roustaing - Revelação da Revelação (?). Nunca, jamais devemos confundir ou aludir qualquer semelhança entre estes dois pensamentos (Espiritismo e Roustainguismo) totalmente antagônicos entre si. Se você quiser ser Roustainguista que seja, mas nunca se diga Espírita, pois entre estes dois pensamentos nada existe de comum, há não ser as partes e os textos que o Sr. Roustaing decalcou descaradamente dos livros de Kardec e os distorceu com orgulho.

Os supostos “ministros de Deus” que orientavam Roustaing em seus extensos textos eram forças invisíveis e inimigas do progresso do Espiritismo e um abuso a inteligência racional humana. "Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras" 2.

Quem conhece um pouco sobre religiões e mitologias, ao ler qualquer uma das obras de Roustaing (apesar de os “ministros de Deus” afirmarem que essas formam um “conjunto indivisível”), perceberá logo de início que o suposto nascimento fuídico de Jesus tão pregado e divulgado pela suposta “revelação da revelação” é pura e simplesmente uma cópia mal feita dos nascimentos dos semideuses greco-romano 3. Leia-se sobre a religião greco-romana, principalmente no que concerne ao nascimento dos semideuses. Quando Zeus coabitava com alguma mortal, todas as gravidez e nascimentos eram diferentes dos nascimentos comuns dos mortais, mas igual em número e grau ao apresentado pelo roustainguismo. Esse feito se dava para diferenciar os semideuses dos pobres mortais. O que Roustaing fez em suas obras foi apropriar-se de forma indevida da teoria da substância de Aristóteles e reviver nada menos e nada mais que o docetismo do século I ou II d.C., pregado por Dociteu e Saturnino que negavam o corpo carnal de Jesus. Seria o senhor Roustaing a reencarnação de um dos fundadores do docetismo? Sabemos que todos trazemos de forma inconsciente resquícios e traços de existências que vivemos outrora e se Roustaing prega e afirma com tanta veemência que o corpo de Jesus era apenas aparente, deve ter tido em algum momento de suas existências contato com o pensamento docetista, se não foi um de seus fundadores.

Nas obras de Roustaing (Os Quatro Evangelhos ou Revelação da Revelação), Jesus não passa de um saltimbanco e um bom mentiroso, mente desde o nascimento até a crucificação. Fingiu todo o tempo que esteve conosco, fingiu o nascimento, as dores, os martírios e tudo o mais, e , o pior de tudo é que envolveu pessoas inocentes nisso e as iludiu também como um bom ilusionista que era, segundo os Quatro Evangelhos explicados pelos espíritos das trevas 4.

Maria não passou de um fantoche, com uma gravidez simulada por Jesus do início da suposta concepção até o nascimento, um brinquedo do qual Jesus se serviu sorrateiramente para mentir e envolver a todos. Como dissemos anteriormente existem milhares de diferenças entre o Espiritismo e o Roustainguismo, mas uma delas é de principal acentuação, ou seja, a tese da vida aparente de Jesus, que segundo Roustaing: Jesus teria tido um corpo fluídico e não carnal. Logo, Jesus teria sido um Agênere 5. “Nisso conhecereis o Espírito de Deus; todo o Espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus. E todo Espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é Deus; mas este é o Espírito do anticristo, do qual já ouviste que há de vir, e eis que está já no mundo” 6.

O que mais preocupa nas obras de Roustaing, não é o que está posto, ou seja, as claras, como o nascimento aparente de Jesus, a cópia da suposta virgindade de Maria feita pela Igreja do culto egípcio de Ísis 7, as divergências doutrinárias com as teorias de Kardec 8, a metempsicose apresentando duas categorias de espíritos: os que falharam na busca da evolução, por isso, estão encarnados na terra e os espíritos que atingiram uma evolução superior em linha reta sem nunca terem necessitado encarnar em mundo algum, mas quando falham devido suas fraquezas (o ciúme, a inveja e o ateísmo) encarnam (por punição e é só isso que justifica a reencarnação no Roustainguismo) em criptógamos carnudos (lesmas). Como dissemos anteriormente, o que mais nos preocupa nas obras de Roustaing não é o que está posto, mas o que está proposto, ou seja, que vem de forma subliminar, inconsciente, escondido e hipnótica 9. Esse método de “trabalho” minucioso é utilizado pelas trevas para envolver, enganar e ludibriar através de suas correntes mentais os incautos 10.

Os roustainguistas para se defenderem quando são intitulados de anti-Kardec, costumam afirmar que Kardec não condenou os Evangelhos de Roustaing, apenas os deixou em quarentena. Parece-nos que os roustainguistas realmente não sabem ler o que Kardec deixou escrito nas edições da Revista Espírita sobre a interpretação dos Evangelhos de Roustaing. Kardec é um espírito de alta envergadura espiritual, muito generoso e paciente o que não acontecia com o Sr. Roustaing, que lhe fez uma ofensa de quase dez páginas na introdução de seus Evangelhos, suprimido pela então “casa mater” do Roustainguismo (FEB). Kardec sabia da enfermidade sofrida por Roustaing e quis poupar-lhe o desgaste emocional e se realmente Roustaing quisesse a opinião de Kardec teria seguido o conselho dado na Revista Espírita, e, com certeza teria feito um levantamento, retirado os excessos e as explicações pueris e visto que o que lhe restava para ser editado não passava de pura fantasia de menino. Dois anos antes dos Quatro Evangelhos de Roustaing serem editados, São Luiz e Erasto em mensagem na Revista Espírita de 1863 a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, advertiu: “a festa da criação Espírita sucederão a perturbação e o orgulho dos diversos sistemas que, desprezando sábios ensinamentos, armarão uma nova Torre de Babel, o dia de confusão, em breve reduzida a nada, porque as obras do passado são o penhor do futuro e nada se dissipa do tesouro de experiência amontoadas pelos séculos. Espíritas, formai uma tribo intelectual, segui vossos guias mais docilmente do que fizeram os Hebreus. Nós também vimos livra-vos do julgo dos Filisteus e a vos conduzir à Terra Prometida. As trevas das primeiras idades (seria uma alusão ao neo-docetismo de Roustaing ?), sucederá a aurora e ficareis maravilhados ao compreender a lenta reflexão das idades anteriores sobre o presente. As lendas reviverão enérgicas como a realidade e adquirireis a prova da admirável unidade, penhor da aliança constituída por Deus com suas criaturas. Uma verdadeira Torre de Babel está em vias de construção entre vós. Aliás, fora preciso ser cego ou abusado para não reconhecer que à cruzada dirigida contra o Espiritismo pelos adversários-natos de toda doutrina progressista e emancipadora, se junta uma cruzada espiritual, dirigida por todos os Espíritos pseudo-sábios, falsos grandes homens, falsos religiosos e falsos irmãos da erraticidade, fazendo causa comum com os inimigos terrestres, em meio a essa multidão de médiuns por eles fanatizados, e aos quais ditam tantas elucubrações mentirosas. Mas vedes o que resta de todos esses andaimes erigidos pela ambição, o amor-próprio e a inveja. Quantos não vistes, desabar e quantos não vedes ainda! Eu vo-lo digo, todo edifício que não se assenta sobre a base sólida da Verdade cairá, porque só a verdade pode desafiar o tempo e triunfar de todas as utopias. Mas, de tudo isto, que restará? Desta Torre de Babel que jorrará? Uma coisa imensa: a vulgarização da idéia Espírita, e como doutrina, o que será verdadeiramente doutrinário! Esse conflito é inevitável, porque o homem é manchado de muito orgulho e egoísmo, para aceitar sem oposição uma verdade nova qualquer; digo mesmo que esse conflito é necessário, porque é atrito que desfaz as idéias falsas e faz ressaltar a força das que resistem. Em meio a esta avalanche de mediocridade, de impossibilidade e de utopias irrealizáveis, a verdade esplendida espalhar-se-á na sua grandeza e na sua majestade” 11.

No Brasil todo tipo de misticismo, e doutrinas estranhas à Razão imperam com todo o vapor possível. Este hábito existe devido aos brasileiros não serem um povo tão científico como se esperasse que fossem, pois não conseguimos ainda seguir os verdadeiros passos que Kardec nos legou através de suas obras e dos exemplos da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Vemos em muitos Centros e Federações que se dizem Espíritas, proliferarem crenças e hábitos estranhos ao Espiritismo. Precisamos nos orientar e ficar conscientes do mal que estes credos representam a Doutrina Espírita. O Espiritismo é uma Ciência Experimental de cunho filosófico e fundo ético (religioso) e não cabe querer adaptar crendices sem fundos epistemológicos as suas bases. Os dirigentes de Centros Espíritas e Federações que se dizem Espíritas, possuem toda responsabilidade pelo ensino 12 que ministram e pela divulgação de materiais estranhos 13 ao Espiritismo e ao bem geral, responderam perante Deus as ridicularizações e as deturpações – como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu feito tornará sobre a tua cabeça 14 – que queiram fazer com o Espiritismo 15.

Vivemos em uma época de transformações onde as Ciências demonstram claramente a possibilidade de muitos dos fenômenos apresentados pela ciência Espírita, por isso, dediquemo-nos ao estudo das bases epistemiológicas do Espiritismo e não inventemos o que não existe ou que possa nos tornar ridículos aos olhos dos outros. “Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro” 16. Se a Federação Espírita Brasileira (FEB) aceita as obras de Roustaing que estão totalmente contra os princípios das obras de Kardec, quem não acredita que esteja consulte a Revista Espírita de 1866 págs 188 a 190 e o capítulo 15 itens 64 a 67 da Gênese que foi estruturado para rebater o neo-docetismo de Roustaing. A pergunta que muitas vezes se faz quando se ensina e mostra as divergências entre a teoria Roustainguista e a teoria de Kardec é a seguinte: se a FEB aceita os livros de Roustaing, porquê não aceitar os de Ramatis e outros também? Na verdade, apesar de Ramatis ter opiniões pessoais sobre muitos pontos, ele é anti-Roustaing. No que tange a figura e a personalidade de Jesus, Ramatis lê e escreve o que está no contexto das obras de Kardec. E no que tange a outros autores, basta o leitor continuar lendo este trabalho e então entenderá porque nenhum outro autor cita Roustaing, a não ser os próprios Routainguistas.

O primeiro erro grave de Roustaing, foi utilizar apenas uma médium (Madame Collignon) para o recebimento de todas as mensagens, o segundo foi não analisar com o crivo da Razão e do bom-senso, passando as mensagens recebidas para outros pensadores mais experientes (Leon Denis e Camille Flammarion, por exemplo) para serem analisadas, o terceiro e mais grotesco foi acreditar cegamente que estava cercado por Espíritos ilustres, sem ater-se no que falavam e escreviam, sem perguntar-se se era merecedor da presença desses Espíritos. Toda vez que “contestava” alguma teoria mirabolante ou mesmo a linguagem ridícula que esses apóstolos apresentavam nas mensagens, os “Ministros de Deus” simplesmente afirmavam o que já haviam dito antes, ou seja, Roustaing e a médium precisavam acreditar naquilo que estavam escrevendo, mesmo que estas teorias não fossem de acordo com as verdades existentes, pois a verdade, para ser aceita, tem primeiro que se chocar contra as contradições dos homens. Esse método de fascinação por espíritos inteligentes e perversos é muito bem explicado e comentado por Kardec no livro dos Médiuns 17. Se esses Espíritos fossem realmente os Espíritos dos ilustres profetas, eles com toda a certeza sabiam que a missão de restaurar o Cristianismo estava nas mãos de Kardec, e, por isso deveriam ter dito a Roustaing que seus Evangelhos precisavam da aprovação de Kardec, coisa que não aconteceu. Roustaing editou os Evangelhos a pedido dos supostos “Ministros de Deus”, apesar da advertência de Kardec na Revista Espírita de 1866 para o ridículo que os textos dos Os Quatros Evangelhos apresentavam.

Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de senso 18. Isso é muito radical? Ótimo me mostrem os senhores estudiosos do Roustainguismo, doutrina do espírito do erro 19, um escrito, historiador das religiões, sociólogo, psicólogo ou um escritor de quadrinhos infantis não roustainguista que escreva sobre a doutrina de Roustaing ou da suposta revelação da revelação. De Kardec, mostro muitos e estou falando de não Espíritas. Querem prova? Ok! Lá vai: Durkheim em Formas elementares da Vida Religiosa comenta sobre o Espiritismo, Will Durant em seus trabalhos e livros, Claude Levi-Strauss famoso filósofo e antropólogo belga, sempre interessado nas “estruturas profundas” do homem, comenta e fala em seus trabalhos sobre o papel do Espiritismo e sua formação no Brasil e o melhor de tudo, demonstra a diferença entre as religiões que trabalham com fenômenos espirituais (Umbanda e o Candomblé); Mircea Eliade é considerado um dos maiores historiadores e pesquisadores das Religiões do século XX e em seu Livro Origens fala do papel e da importância da ciência espiritual e claro do Espiritismo; Jung, este já é conhecido e não vale; Hinnells em seu Dicionário das Religiões fala do Espiritismo como o novo Espiritualismo moderno; Joseph Campbell em seus trabalhos sobre religiões trata do assunto; Hilton Japiassú e Danilo Marcondes os dois mais respeitados filósofos Brasileiros coloca a disposição de todos uma pequena, mas profunda biografia de Kardec em seu Dicionário Básico de Filosofia e por incrível que pareça eu não encontrei nada sobre Roustaing ou a suposta revelação da revelação em nenhum dos livros e dicionários citados acima. Puxa!

Desculpem-me, quase me esqueci do grande VOCABULÁRIO TÉCNICO E CRÍTICO DA FILOSOFIA do grande filósofo francês e mestre da cadeira de filosofia e ciências na Sorbone, André Lalande, esse não Espírita com certeza conhece mais o Espiritismo dos que muitos que se dizem Espíritas. Atualmente temos Jean Delumeau que coordenou um trabalho e transformou-se em um Livro de quase 800 páginas de nome As grandes Religiões do Mundo, que versa sobre as grandes religiões do mundo, dedica-se na página 728 ao Espiritismo e o diferencia do sincretismo existentes no Brasil. Nem mesmo no dicionário da língua portuguesa encontra-se algo sobre esse tal de Roustaing e sua suposta revelação da revelação. Nenhum pensador ou historiador das religiões que se presa e estude seriamente o Espiritismo ou as religiões do mundo, acredita nas mentiras e fábulas apresentadas por Roustaing em seus “Os quatro Evangelhos” de quase duas mil páginas. Nenhum pensador ou pesquisador citado acima sabe da existência desse tal de Roustaing, e é bom que seja assim, pois como afirmou Erasto e São Luís na mensagem anteriormente, essa nova torre de Babel só faz ridicularizar e desacreditar o Espiritismo frente aos nobres estudiosos do assunto. “O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios” 20.

Não pense vocês que os estudiosos acima são espíritas ou tenham alguma simpatia pelo Espiritismo. Não são simpáticos e muitas vezes são avessos ao pensar espírita, mas sabem o valor e respeitam o trabalho de Kardec como um cientista desapaixonado e sério. Mesmo nas universidades quando um professor pensa em falar do Espiritismo, fala com moderação e respeito, sempre atentando ao cientista Kardec. Infelizmente o Brasil é o único país do mundo que confunde o Espiritismo com outros credos, cultos e pensamentos diferentes do que ensina a codificação. Em nenhum outro país do mundo a Umbanda e o Candomblé se faz presente como no Brasil, e se por ventura existir esses pensamentos e cultos em outros países, esses com certeza não confundem a fenomenologia com o sincretismo 21. Quando um pensador fora do Brasil fala ou escreve algo sobre o Espiritismo, este pensador pensa em Kardec e fala do Espiritismo codificado por Kardec. O Brasil é o único país onde existe a incoerência de atribuir situações e crendices que não são do Espiritismo a este. Os autores estrangeiros não precisam falar ou escrever em seus livros Espiritismo de kardec ou kardecista, pois possuem conhecimento o suficiente para saber que o Espiritismo está vinculado a figura do cientista Kardec.

Por isso, quando lemos artigos ou teses de pesquisadores, historiadores e cientistas de outros países sobre o Espiritismo ou a sua fenomenologia, este referem-se ao Espiritismo como Espiritismo e não como Espiritismo kardecista ou Espiritismo de Allan Kardec. Não existe Espiritismo kardecista, Espiritismo é Espiritismo e outros cultos são outros cultos 22, da mesma forma que não existe Espiritismo de mesa branca, baixo ou alto Espiritismo. Precisamos ensinar no Brasil que o Espiritismo é uma ciência codificada por Kardec, todo os codinomes restantes são mera e pura invenção humana. “Quando vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio” 23.

"Para o triunfo do mal basta que os bons fiquem de braços cruzados." Edmund Burke

Bibliografia

* Kardec, A. Revista Espírita, 1866, editora Edicel.
* ______________________, 1861, editora Edicel.
* ______________________, 1867, editora Edicel.
* Pires, J. H. Agonia das Religiões, editora Paidéia, 1989.
* Silva, Gélio L. Conscientização Espírita, Editora Opinião E. Capivari – SP, 1995.
* Ferreira, Carlos Alberto. Será a Obra de Roustaing Espírita? Editora Opinião E. Capivari.

Referências

1 Kardec, A. Revista Espírita de 1866, p. 180.
2 2 Coríntios; 11:13 a 15.
3 2 Pedro; 1:16.
4 2 Pedro; 2:1.
5 Kardec, A. O Livro dos Médiuns; item 125, A Gênese; 14:36 e rodapé e 15:65; Revista Espírita 1859, p. 38 a 44 e 1860, p. 43 e 124.
6 I João cap. 4 v. v. 2 a 6.
7 Dononi, A. História do Cristianismo, p. 39.
8 Livro dos Espíritos, perg. 193 e 194; Revista Espírita 1858, p. 296 e 1863, p. 163.
9 Xavier, F. C. Mecanismos da Mediunidade, cap. XIII.
10 Kardec, A. Revista Espírita 1862, págs. 355 a 365.
11 Kardec, A. Revista Espírita 1863, págs. 354, 382 e ss.
12 1 Timóteo; 4:16.
13 Hebreus; 13:9.
14 Obadias; 1:15.
15 Provérbios; 4:2.
16 1 João; 4:6.
17 Item 239.
18 Pires, J. H. e Abreu, J. O Verbo e a Carne – 2 análises do roustainguismo, 30.
19 Apocalipse; 2:15.
20 1 Timóteo 4:1.
21 Champion, F. Religiosidade Flutuante, Ecletismo e Sincretismo. In: Delumeau, J. As Grandes religiões do Mundo, p.705.
22 Amorim, D. O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas, caps. II e IV.
23 João; 15:26 e 27.

O Dirigente Espírita e a Orientação Doutrinária

Por Juca Soares

Alguns centros espíritas ainda mantêm nas suas linguagens e posturas, vícios que se faz necessário trabalhar para que sejam eliminados do seu dia-a-dia. Vejamos alguns exemplos: Você é médium e precisa desenvolver a mediunidade – Existem Dirigentes que ainda usam essa afirmação, sem atentar para o perigo de tal assertiva, considerando que não há como saber se a pessoa é portadora de mediunidade, que só a prática e a experiência poderão confirmar. O fato da pessoa estar sofrendo um processo obsessivo não quer dizer que seja ela médium. A esse respeito, o Cap. I , Meios de Comunicação, de "O que é o Espiritismo", de Allan Kardec, ensina que "até o presente não se conhece nenhum diagnóstico para a mediunidade; todos os que se acreditou reconhecer, não tem nenhum valor. Ensaiar é o único meio de se saber se se é dotado".

É de se considerar ainda que, quase sempre as pessoas estão temerosas, pois nada conhecem da doutrina, vindo de outra ou de nenhuma Religião, com muitos problemas espirituais, e uma afirmativa dessa natureza poderia afastá-las definitivamente do Espiritismo.

A mediunidade é uma missão – Raríssimos são aqueles que têm uma missão a cumprir no campo da mediunidade; a grande maioria traz a mediunidade como uma oportunidade para servir ao próximo, facilitando o aprendizado da doutrina, renunciando a uma série de atitudes que poderiam comprometê-los novamente, embora nem todos consigam superar o orgulho e o egoísmo.

Se você abandonar a Doutrina sofrerá as conseqüências, como se ser espírita fosse um castigo – Caso o médium abandone a Doutrina, mas, se continuar a manter uma vida regrada, orando e vigiando, nada lhe acontecerá; entretanto, se ele for ao Centro Espírita todos os dias, mas não se mantiver vigilante, tentando deixar o orgulho e o egoísmo, o seu problema continuará e poderá até agravar.

O mentor recomendou por isso não poder ser alterado – " Os bons espíritos jamais aconselham senão coisas perfeitamente racionais; toda recomendação que se afaste da linha do bom senso ou das leis imutáveis da natureza acusa um Espírito limitado por conseguinte pouco digno de confiança." (O Livro dos Médiuns, tradução de Eliseu Rigonatti, Lake, 1966).

Em toda a Codificação Kardec alerta de que os Espíritos não têm a suprema sabedoria, por isso é preciso analisar toda e qualquer mensagem que recebermos, especialmente quando vem com recomendação para atividades a desenvolver na Casa Espírita.

Há casos, porém, de Centro Espírita que nada faz sem que tenha a autorização do mentor e se o órgão de Unificação da região quer programar uma atividade em suas dependências isso só poderá acontecer se o referido mentor der o aval, e até para pintar uma parede precisam ouvir sua opinião.

Vá tomar passes que seu problema será resolvido – São Dirigentes que colocam o passe na condição de milagreiro, como se esta simples atitude pudesse tudo resolver, quando se faz necessário explicar para a pessoa que o passe irá ajudar, acalmar, dar condições de encontrar a solução dos problemas, mas que cabe a cada um tomar as resoluções necessárias, inclusive mudar a sua atitude mental, lembrando a recomendação de Jesus de "Orai e Vigiai".

Reuniões para receber mensagens de familiares – No livro " O que é o Espiritismo", no já citado Cap. I, Meios de Comunicação, Kardec afirma que "seria pois, um erro crer-se que todo Espírito pode atender ao apelo que lhe é feito e se comunicar pelo primeiro médium que encontra. Para que um Espírito se comunique, é preciso primeiro que lhe convenha fazê-lo, em segundo lugar, que sua posição ou suas ocupações lhe permitam, em terceiro lugar, que ele encontre no médium um instrumento propício, apropriado à sua natureza."

No entanto, poucos são aqueles que buscam essas atividades e não saem com mensagens de seus familiares. Muitos, porém, acabam desacreditando do Espiritismo, pois sentem que a resposta nada tem a ver com o nome que a assina.

Publicado no Dirigente Espírita no 66 de julho/agosto de 2001

Pseudo-Mentor - Uma tática enganosa

Por Orson Peter Carrara

A base de sustentação fluídica de uma instituição espírita está na reunião mediúnica. É ali, na constância e seriedade dos companheiros que se estabelecem através do tempo os recursos protetores do grupo e da própria instituição. Portanto, quando os espíritos contrários ao bem desejam desestabilizar uma instituição, o primeiro caminho que eles buscam é a reunião mediúnica. É o local onde, se não houver harmonia entre os seus integrantes, seriedade nas tarefas e comprometimento com as propostas do Espiritismo, será fácil ser transformado num foco de intrigas, desunião e origem de inúmeros transtornos que podem levar à derrocada de qualquer grupo.

Eis um caso grave para nossa reflexão.

Um inteligente espírito, ainda devotado ao mal e à perseguição, com objetivos de vingança, desejando destruir um grupo mediúnico que atuava recuperando inúmeros espíritos em dificuldade – e, portanto, atrapalhando os objetivos daquele espírito – descobriu um jeito fácil de provocar a desunião.

Trouxe para o ambiente da reunião, onde ele já se apresentava em inúmeras tentativas exitosas como o mentor da casa, um espírito embriagado e que sentia muita dor de cabeça. Despojou-o sobre um dos médiuns mais considerados do grupo, que passou a sentir fortes dores de cabeça. Através de outro médium, então, o inteligente espírito apresenta-se – novamente como se na condição de mentor – e, depois de considerações iniciais, afirmou que tiraria a dor de cabeça forte que o médium estava sentindo, sem que o próprio médium houvesse antecipado qualquer informação sobre o desconforto mental.

E, confirmando o que prometera, retirou o espírito que ele mesmo trouxera, resultando em alívio imediato para o médium. Aí firmou-se no grupo a idéia do suposto poder daquele espírito que manifestava-se já há algum tempo... Especialmente para aquele médium que viu sua aguda e repentina dor de cabeça desaparecer também num efeito rápido.

Um dos médiuns, todavia, de percepção sintonizada com o bem percebeu o embuste e alertou o grupo. Aí se estabeleceu a confusão, porque especialmente o médium beneficiado repentinamente da incômoda dor melindrou-se com a observação. Daí para a agressão verbal foi um passo. Pronto, estabeleceu-se a desunião, objetivo primeiro daquele inteligente e equivocado espírito.

Quantos de nós já não passamos por essas observações inoportunas que nos fascinam, estabelecem confusão e são fartos caminhos de melindres e desentendimentos?

Algo que exige um pouco mais de reflexão do que a simples aceitação cega de um fato que pode muito bem ser uma bela armadilha bem montada. Daí a oportunidades das sábias recomendações dos espíritos para que estejamos alertas e vigilantes, especialmente aquela trazida por Erasto em O Livro dos Médiuns, no item 230 do capítulo XX – Influência Moral do Médium: “(...) Desde que uma opinião nova se apresenta, por pouco que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom-senso reprovam, rejeitai ousadamente; vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira, uma só falsa teoria. (...)”.

sábado, 13 de março de 2010

Ramatís e o Espiritualismo Eclético

Por Marcus Vinícius Pinto

A mediunidade é a capacidade humana de transcender as limitações físicas e de adentrar no mundo espiritual. O médium é a criatura humana que dispõe de capacidade natural de realizar contato entre o mundo físico e o espiritual e servir de intermediário entre os dois planos da vida. A mediunidade, que é faculdade natural, própria de todo ser humano, em certos casos se manifesta de forma ostensiva, característica, permitindo o intercâmbio de sentimentos, emoções e conhecimentos entre os que aqui permanecem temporariamente (Espíritos encarnados) e os que se libertaram do corpo físico (Espíritos desencarnados). A partir da constatação da existência da mediunidade e dos Espíritos que se comunicam, Hippolite Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec, recebeu grande cota destes conhecimentos da parte dos Espíritos Superiores, sistematizou-os, formando um corpo de doutrina filosófica espiritualista ao qual denominou Espiritismo ou Doutrina Espírita. Isto porque, segundo Kardec, “Para coisas novas precisamos de palavras novas: assim o exige a clareza da linguagem, para evitarmos a confusão inerente ao sentido múltiplo dos mesmos termos” (L.E. introd. 1). Em seguida, ele coloca que diversos são os espiritualismos e que nem todos acreditam nos Espíritos e nas comunicações deles conosco. Além, é claro, de outras diferenças de pontos de vista e de interpretações de questões espirituais. Para diferenciar a Doutrina dos Espíritos de outros ramos espiritualistas é que ele criou a nova palavra Espiritismo.

Acontece que nem todos os médiuns tomam como base de suas atividades as seguras orientações de Kardec e muitos não admitem sequer pertencer a uma sociedade espiritista ou a alguma federativa. E, pior ainda, querem divulgar que suas recepções mediúnicas são superiores ao conteúdo da obra de Kardec ou trazem algum acréscimo necessário à sua atualização. Um destes é o médium Hercílio Maes que viveu em Curitiba – Paraná e foi médium do Espírito conhecido como Ramatís. Seus livros psicografados contêm perguntas e respostas sobre diversos assuntos de cunho espiritualista. Este Espírito se refere muito ao Espiritismo em suas obras. Porém, ao analisar as questões, introduz conceitos, idéias e informações de outros ramos espiritualistas. Ramatís, em antiga edição do livro “Mensagens do Astral”, se afirma não espírita, sem rótulo e sem compromisso particular com determinada escola espiritualista. Ao mesmo tempo, afirma que sua última encarnação foi na Indochina, tendo sido “mestre iniciático” de um templo no século X. Afinal, o que ele segue? O que ele defende? Em certos momentos se refere, com relação a sua salada indigesta, como sendo “Universalismo” ou “Espiritualismo Eclético”. O segundo termo, talvez, seja o mais preciso para essa mistura irrestrita de tantas escolas espiritualistas: rosa-cruz, teosofia, yoga, ocultismo, esoterismo e outros “ismos” mais. Deve possuir consultores desencarnados nesses diversos ramos para assessorá-lo. O fato é que seus fiéis se dizem seguidores de “Jesus, Kardec e Ramatis”. Será que o Espiritismo, em sua origem com o Espírito de Verdade, estava programado para receber essas enxertias sincréticas e ecléticas, ou seja, toda essa mistura? É evidente que não.

No livro “Ramatís: Sábio ou Pseudo Sábio”, editora EME, o confrade Artur Felipe, em feliz ensaio crítico, demonstra os erros e contradições nas comunicações de Ramatís: As previsões aterradoras de final de tempos para o último período do século XX em que dois terços da população seriam dizimados (Mensagens do Astral) não aconteceram. Rituais, mantras, etc. são meios de se alcançar o "Cristo Planetário".(p. 302). As sondas norte americanas mapearam todo o planeta Marte e nada encontraram de vida organizada conforme o livro “O planeta Marte e os discos voadores”. No livro “Sublime Peregrino” Jesus é médium de outra entidade: o “Cristo Planetário” (sic). Em notas de rodapé é recomendado aos leitores a leitura de livros de yoga, esoterismo e outros. Quem aguenta? Muitos não lêem as obras básicas de Kardec. Como vão ser espíritas conscientes ainda misturando outros conceitos heterogêneos? Dizia Deolindo Amorim: - “O Espiritismo é universalista, porque os fatos do Espírito são universais, os seus problemas tem o sentido da universalidade, mas também é oportuno acentuar que o ESPIRITISMO não é uma forma de sincretismo doutrinário ou religioso, sem unidade ou consistência. NÃO, ABSOLUTAMENTE. Já se falseou muito a idéia de universalismo. Ser universalista é ter visão global de conhecimento, É ESTIMAR A UNIVERSALIDADE DOS VALORES ESPIRITUAIS ACIMA E ALÉM DE TODAS AS CONFIGURAÇÕES GEOGRÁFICAS OU HISTÓRICAS. UNIVERSALISMO É CONVICÇÃO, É UMA POSIÇÃO CONSCIENTE EM FACE DA CULTURA HUMANA E ESPIRITUAL; NÃO É, PORTANTO, A JUNÇÃO PURA E SIMPLES DE CRENÇAS, DOUTRINAS E PRÁTICAS DIVERSAS. (Deolindo Amorim – “Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas”). Na verdade Ramatís e seus seguidores são Espiritualistas Ecléticos e não espíritas. Porém, nas fachadas de suas instituições ostentam o nome de Espiritismo e de Sociedade Espírita. O ideal seria que se denominassem ecléticos e seguidores do Espiritualismo Eclético. Todas estas considerações são para esclarecer, sem perder de vista o Espírito fraterno, solidário, tolerante e benévolo que deve caracterizar a todos os que buscam a luz e a verdade.

Fonte: Blog Ramatis - Sábio ou Pseudosábio?

O Consolador Prometido

Por Luiz Pessoa Guimarães

Iniciamos nosso artigo, relembrando a história de Jesus; veio ao mundo, anunciado pelos profetas, várias passagens de sua existência reveladas nos Livros da Lei foram confirmadas na vida real. Como Messias, surgiu no seio da religião dominante, educado conforme as normas religiosas vigentes, participando com seus progenitores de todos os eventos religiosos que aconteciam na época; veio cumprir o programa do Pai, cumprir a sua missão. Estabelecer uma nova ordem, estabelecer a Lei do Amor.

Os homens sempre pedem aos céus os sinais, as evidências pelas quais possam reconhecer aqueles que vem cumprir na Terra, os desígnios do Criador. Os sinais são enviados, as evidências ocorrem e os missionários enviados cumprem a vontade do Pai; que geralmente, não é a vontade dos que dominam. Os homens se impõem e isto é contra as Leis naturais que se estabelecem harmonizando e equilibrando.

A história de Jesus, não necessitamos relembrá-la; e por não serem aceitas as suas Verdades e não serem convenientes as suas propostas; apesar de todos os sinais e da beleza de sua mensagem, não foi reconhecido como o Messias pelos lídimos posseiros da Revelação Mosaica.

Apesar de tudo, surgiriam aqueles, que sensíveis à Nova Revelação, souberam absorver as lições do Mestre e identificados com os seus propósitos e princípios, abraçaram a missão de propagar a Boa Nova a todas as criaturas. Surgindo então o movimento conhecido como o Cristianismo.

Antes de seu desencarne, Jesus deixou registrado entre seus apóstolos, que após a sua partida, eles não ficariam desamparados e descreveu algumas características, daquele que deveria dar continuidade à sua Missão na Terra. Passamos a transcrever os registros referentes a este episódio, que extraímos de “A Bíblia Sagrada”, traduzida por João Ferreira de Almeida e publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira em 1962.

S.João Cap.14 ver. 16, 17 e 26. – E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito.

S.João Cap. 16 ver. 12,13 – Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.

Nosso objetivo, neste artigo, é demonstrar que 2000 anos depois os fatos se repetem com os mesmos componentes demonstrados por ocasião da vinda do Cristo. Manifesta-se em Paris em 1857 o Espírito de Verdade e apresenta ao Mundo a Doutrina dos Espíritos no seio das Religiões dominantes conforme prometido pelo Cristo.

De novo, no seio das religiões estabelecidas, por meio de seus adeptos, Deus revela conforme a promessa de Jesus. Mas a Revelação Divina, apesar de seu conteúdo não atende aos anseios daqueles que dominam e não querem abrir mão do poder conquistado. E novamente, aqueles sensíveis a mais esta Revelação Divina são os responsáveis por trazê-la até os dias de hoje.

Apesar de, nos dias atuais, a Doutrina dos Espíritos ser divulgada com ampla liberdade e ter a seu dispor todos os meios de comunicação disponíveis; existem ainda alguns sacerdotes e pastores que insistem em vinculá-la ao demônio insuflando àqueles menos informados, certo temor em examinar o conteúdo do Espiritismo. Além daqueles que ainda freqüentam as Casas Espíritas “escondidos” de seus pares. Sem esquecer que, de vez em quando, voltamos a escutar aquele velho chavão de que; os espíritas não são cristãos.

Nosso objetivo aqui é provar que Jesus designou o seu sucessor como sendo o Consolador Espírito de Verdade e pelas características apontadas pelo Cristo, o Espiritismo é este Consolador Prometido.

Em Paris, 1860, o Espírito de Verdade dirige-se aos espíritas: Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; Instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo se encontram todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do Além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus – Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade. Duas condições, apontadas pelo Cristo em João transcritas acima, estão ai evidenciadas: 1 – O Espírito de Verdade; 2 – Não falará de si mesmo. Enumeramos abaixo as condições 3 – Consolar e 4 – Esclarecer.

Em quais situações o Espiritismo consola?

Perda de entes queridos, a morte não existe; como o nascimento; é a ligação do Espírito e seu corpo incorruptível (Paulo), ao corpo físico; a morte é o desligamento deste Espírito do corpo material que não reúne mais condições de permitir-lhe as manifestações. Retornando ao Plano Espiritual, como Jesus, plenamente vivo e imortal. Animais não são seres à parte da criação, mas o Princípio Espiritual com uma alma em sua trajetória evolutiva. Sentimento de Antipatia entre alguns familiares, retorno ao mesmo palco na condição de familiar, daqueles que em reencarnações passadas viveram situações de conflito, com o objetivo de reconciliação na vida presente. Pobreza e Riqueza, provas na vida presente que devemos vencê-las com resignação e caridade para aproveitarmos a vida atual. Parentes de Criminosos, nosso ente querido paga a pena com a sociedade e não está condenado ao inferno; sua consciência culpada o conduzirá ao reajuste em nova existência com aquele que houver prejudicado na vida atual, quando, a partir de então, poderá seguir livre rumo à perfeição.

Em quais situações o Espiritismo esclarece? Adão e Eva: o ser humano, como os animais e todos os seres vivos, são produtos do processo evolutivo realizado nos mundos criados por Deus e que consistem o nosso Universo, repleto de mundos habitados e onde a vida se expressa de diferentes modos materiais e imateriais. Permitindo ao Espírito de homens e mulheres, criados da mesma forma, simples e ignorantes, moldar sua perfectibilidade. Mundo em seis dias: condizente com as provas geológicas, o Espiritismo mostra que os mundos foram formados em bilhões de anos e que as eras geológicas são condizentes com a forma poética que a Escritura descreve aos habitantes daquela época segundo sua capacidade de entendimento. Nascimento e Morte: são processos naturais de preparação, ligação, vivência e evolução, desligamento e retorno do ser imaterial à sua pátria de origem, o mundo espiritual. Meu reino não é deste Mundo: descrição, amostras, experiências e constatações sobre a vida espiritual, seus habitantes e constituição. Reencarnação: pluralidade das existências permitindo nossa evolução, aprendizado, reajuste e justiça de Deus, tornando-nos artífices de nossa perfeição.

Ficaríamos escrevendo eternamente, não fosse a necessidade de afirmar, peremptoriamente: o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus. Aqueles que enfrentaram todas as vicissitudes para permitir que esta doutrina chegasse até nós de forma tão clara e abundante de provas, são os verdadeiros Cristãos responsáveis por identificar e preservar o Cristianismo Redivivo. Pelo exposto, de forma consciente, coloquemos de uma vez por todas as coisas nos seus devidos lugares, sem necessidade de privarmos nossos filhos do convívio do Consolador Prometido, obrigando-os a cumprir rituais e dogmas a que fomos vinculados no passado. Quando ouvirmos os velhos e superados chavões contra os Espíritas, tenhamos em mente as palavras de Jesus: Conhecereis a Verdade e a Verdade vos Libertará.

Fonte: O Mensageiro

Fantoches da ilusão, bom senso ou somos "donos da verdade"?

Por Jorge Hessen

Infelizmente, os Centros Espíritas estão repletos de modismos e práticas vazias de sentido, oriundos da falta de conhecimento das recomendações básicas do Espiritismo. Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/ou discussões estéreis em torno de temas como: crianças índigo; Chico é ou não é Kardec? Ubaldismos, ramatisismos, apometria, cromoterapias, e tantos outros enfadonhos "ismos" e "pias", empurrados goela abaixo no corpo doutrinário. Há médiuns que confiam, cegamente, nos efeitos das pomadas "cura tudo", como se essa enganosa prática lhes fosse trazer algum benefício. Por relevantes razões, devemos estar atentos às impertinências desses visionários, propagadores de placebos "bentos". Outros, pela apometria, creem revolucionar o universo da "cura espiritual", mas, a bem da verdade, a cura das obsessões não se consegue por um simples toque de mágica apométrica, como fazem os ilusionistas com uma varinha de condão. Desobsessão não ocorre de um momento para outro, pois, quase sempre, é um tratamento que depende de um longo prazo. Portanto, não tão rápida como sói acreditar alguns incautos apometristas de plantão.

O legítimo Centro Espírita não promete a cura para quem o procura. A Doutrina Espírita afirma que a "cura" de uma influência espiritual (obsessão) ou doença física depende de uma série de fatores, entre os quais a modificação moral do enfermo, sua necessidade de disciplina mental, seus problemas relacionados com encarnações anteriores e, sobretudo, se há ou não a concessão divina para a solução da dificuldade.

O sofrimento é, sempre, a conseqüência de atos que contrariam as Leis de Deus. É o período necessário para que o Espírito, encarnado ou desencarnado, reflita sobre sua natureza íntima e decida por onde e quando reparar as faltas cometidas, pois Nosso Eterno Pai respeita a nossa singularidade. Já o sofrimento compulsório é uma imposição do Divino Criador, quando o Espírito, deliberadamente, persiste no erro ou insiste no mal, e Ele é o Único que sabe como agir, para o bem do filho rebelde, e até quando deva, ele, sofrer.

O Centro Espírita é um pronto-socorro aos necessitados de amparo e esclarecimento, seja através da evangelização, das orações, dos tratamentos espirituais, ou seja, pelas orientações morais e materiais. A Casa Espírita oferece as bênçãos do passe, que é um método, tradicionalmente, eficaz para transmitir fluidos magnéticos e espirituais, pelas mãos dos médiuns sobre a fronte daqueles que se encontram - moral e fisicamente - descompensados, fortalecendo-lhes o corpo físico e o tecido espiritual, ou seja, o perispírito. É evidente que o passe não poderá, em tempo algum, ser aplicado com movimentos bruscos, utilizando-se de objetos, de baforadas de cigarro ou charuto, de estalos de dedos, cânticos estranhos, toque direto no corpo do paciente, e, muito menos, ainda, estando incorporado e, psicofonicamente, verbalizando "aconselhamentos" para o receptor. Isso não é prática recomendável pelos Orientadores Espirituais.

Há confrades que insistem em usar trajes especiais no Centro. Cabe alertá-los de que o Espiritismo não adota paramentos especiais para exercê-lo e o que dignifica o trabalhador espírita é a pureza de intenções. A Doutrina Espírita não adota enfeites, amuletos, colares, roupas brancas ("significando o bem") ou roupas pretas ou vermelhas ("significando o mal"). Os trabalhadores cônscios da realidade Espírita trajam roupas normais, de forma simples, até porque, a discrição deve fazer parte dos que trabalham para o Cristo.

Há médiuns que se ajoelham diante de imagens sagradas e de determinadas pessoas; mantêm-se genuflexos e beijam a mão dos responsáveis pela Casa Espírita, como forma de reverenciá-los; benzem-se; sentam-se no chão; fazem sinais cabalísticos; e outros, por incrível que pareça, proferem palavras esquisitas (mantras) para evocar os Espíritos. Casa Espírita séria não comporta imagens de Santos ou personalidades do movimento espírita; amuletos de sorte; figuras que afastam ou atraem maus Espíritos; incensos, preces cantadas, velas e outros quejandos alienantes. Como se não bastasse, há, ainda, palestrantes que promovem, das tribunas, verdadeiros shows da própria imagem, mise-en-scène, essa, protagonizada pelos ilustres oradores, que não abrem mão da ridícula imposição do "Dr." antes do nome. Há Instituições Espíritas que cobram taxas para o ingresso nos congressos, simpósios, seminários, tendo, como meta, o fomento de querelas doutrinárias.

A questão é: como evitar esses disparates? Como agir, com tolerância cristã, ante os Centros mal orientados, com dirigentes perturbados, com médiuns obsidiados, com oradores "show-men"? Enfim, como agir, diante dos espíritas cegos, que querem guiar outros cegos?

Para os líderes "mornos bonzinhos", é interessante a prática do "lavo as maõs" do "laissez faire", "laissez aller", "laissez passer". Porém, os Benfeitores espirituais dizem o contrário e nos advertem que cabe, a nós, a obrigação intransferível de defender os ensinamentos de Allan Kardec, seja, OBVIAMENTE, pelo exemplo diário do amor fraterno, seja pela coragem do debate elevado.

A Casa Espírita que se orienta pelos ensinamentos dos Espíritos superiores não realiza práticas bizarras, pois elas nada têm a ver com a Doutrina codificada por Allan Kardec. O Espiritismo ensina, tão somente, a moralização do indivíduo, e o Projeto Espírita é desprovido de aparatos exteriores. Suas propostas terapêuticas, como as de Jesus, fundamentam-se na instrução moral e na reposição de energias e fluidos espirituais, seja pela fluidificação da água, seja pela imposição das mãos através do passe, mas sempre e, fundamentalmente, pelos pensamentos elevados.

Os Centros que praticam as terapias ou rituais aqui denunciados, têm liberdade para fazê-lo, porém, não deveriam nominar-se "Espíritas". O bom senso sussurra para que os seus estatutos sejam alterados, IMEDIATAMENTE. Até porque, é por causa das Casas Espíritas mal dirigidas que existe uma confusão muito grande a respeito do que seja Doutrina Espírita ou Espiritismo. Os que estão fora do movimento, e não conhecem a Doutrina Espírita, creem que "o espiritismo é coisa do diabo"; que "comunicação com os mortos é pecado"; que "espírita não acredita em Deus, muito menos em Jesus Cristo"; que "espírita não ora"; que "espírita faz macumba, sacrifica animais, tem rituais"; que "os espíritas são lunáticos, loucos e desequilibrados"; e, ainda, afirmam que "se alguém entrar nessa "coisa" de Espiritismo, jamais poderá sair". Isso, porque, essas pessoas não sabem que as palavras, "espírita e espiritismo", foram criadas em 1857, na França, pelo Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec.

Sabemos que, para alguns confrades "mornos bonzinhos" (!?), o tema que abordamos, aqui, ressona como algo obscuro, subjetivo, mas vale lembrar-lhes que qualquer escritor sensato não se coloca como imprescindível, e muitíssimo menos, ainda, tenta impor sua idéia, e nem, tampouco, considera seu ponto de vista o mais acertado, devendo ser aceito por todos, esperando adesões sem questionamentos. Chega a ser primário demais estarmos, aqui, afirmando, para os leitores, que não somos donos da verdade. Que a nossa opinião é, apenas, um ponto de vista pessoal, fruto de diuturno estudo das obras basilares e resultante de observação pessoal dos fatos, o que, obviamente, difere da experiência dos outros, que - sabemos - não pode ser desconsiderada no contexto. Se alguém insiste nas práticas inócuas, aqui descritas, com certeza, não está bem informado sobre o que seja Espiritismo.

Os Códigos Evangélicos nos impõem a obrigatória fraternidade para com os adeptos equivocados, o que não equivale dizer que devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não se transforme em academia de fantoches dos distúrbios psíquicos.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O Espiritismo e a Universidade: Condições Necessárias mas não Suficientes

Por Alexandre Fontes da Fonseca

O Espiritismo é a única doutrina espiritualista que não foi desenvolvida a partir dos esforços de uma única pessoa ou único grupo de pessoas. Ele constitui-se no ensinamento das vozes do além que, ao mesmo tempo, chamaram a atenção para a existência do mundo espiritual e apresentaram as leis que o regem. As vozes fizeram presença em toda parte mostrando a Kardec que elas não estão circunscritas a nenhum grupo ou local em especial. Esse caráter universal do Espiritismo o torna imune contra qualquer tentativa de torná-lo "doutrina para iniciados" pois onde quer que existam pessoas, as vozes poderão aí estar levando a sua mensagem.

Foi necessário, porém, que alguém com elevada capacidade intelectual e moral, pesquisasse e codificasse todos esses ensinamentos para que pudesse ser melhor apreendido por todos os que se interessassem. Mas, curiosamente, as vozes ao invés de aproveitarem o prestígio que o sobrenome Rivail detinha como educador e cientista, junto às academias de ciência da época, elas sugeriram que as obras destinadas à divulgação da nova doutrina fossem assinadas com um nome até então desconhecido: Allan Kardec. Dessa forma, vemos que as vozes não sugeriram que o Espiritismo nascesse no interior das cátedras, com o brilho que as modernas teorias de até então detinham, mas sim que ele nascesse como uma humilde mas verdadeira doutrina. Isso nos lembra a humildade de Jesus que sendo o maior entre nós preferiu a manjedoura para iniciar seus passos no nosso mundo. Queriam as vozes que os futuros leitores buscassem o Espiritismo não por causa do prestígio de Rivail mas, pelo simples interesse no assunto.

Nos dias de hoje, muita coisa mudou desde a publicação da primeira edição de O Livro dos Espíritos, em 1857.

A ciência desenvolveu novos paradigmas sobre a realidade e a tecnologia atingiu níveis inimagináveis. O ser humano vive mais tempo, em média, e com maior qualidade de vida, no sentido material. Porém, no campo moral, o nível evolutivo da humanidade não difere muito do da época de Kardec, deixando ainda muito a desejar. O desenvolvimento dos direitos humanos, por exemplo, mostra que já temos algum progresso no campo moral mas ainda estamos longe do nível satisfatório que o progresso material atingiu. Sabemos estirpar o tumor que ameaça o equilíbrio orgânico mas não sabemos como eliminar o "câncer" de orgulho e egoísmo que mutila a alma e gera tanta dor e miséria, estando na raiz de todos os males e problemas do nosso mundo.

Um dos objetivos do Espiritismo é ajudar o Homem a retomar o caminho ensinado, em essência, por todas as religiões. Ao mostrar que o amor e a fraternidade são leis tão naturais quanto aquelas que fazem uma maçã cair ao chão, o Espiritismo desmistifica os ensinamentos cristãos tornando-os inteligíveis à todo aquele que busca "algo mais" além da matéria. E, em face do atraso moral de nossa humanidade, existe uma certa urgência na sua transformação para o bem. Assim, tudo o que contribuir para o despertar do ser humano para as necessidades morais será muito bem vindo e terá, com certeza, o apoio daquelas mesmas vozes que iniciaram o processo de codificação.

Isso posto, vamos discutir uma questão que a mais de 10 anos [1] tem sido levantada por alguns irmãos da seara espírita. Se trata da ligação do Espiritismo com a instituição conhecida como Universidade. Existem opiniões divergentes dentre os irmãos espíritas. Alguns defendem fortemente a inserção do Espiritismo na Universidade como disciplina acadêmica e tópico de pesquisa [2], enquanto outros, sem discordarem de forma absoluta, levantam questionamentos importantíssimos para uma análise das possíveis consequências dessa idéia [1]. Por exemplo, o que significaria um título acadêmico em Espiritismo? Um doutor em Espiritismo será melhor do que um espírita sem o título? Sabemos que não. Mas, por outro lado, o reconhecimento do conteúdo espírita como tema de estudo legítimo nas Universidades não ajudaria a promover a divulgação da Doutrina Espírita? Não elevaria o valor da mesma perante os olhos da sociedade? Essas questões não são fáceis de responder. De fato o interesse intelectual pelo Espiritismo cresceria o que não garante, em princípio o interesse na prática moral elevada, mas isso já seria um avanço.

Pretendemos discutir a idéia de que essas consequências positivas para o aumento do interesse no Espiritismo não são condições suficientes que justificariam uma certa ênfase e ansiedade nessa inserção do Espiritismo nos meios acadêmicos. Não discordaremos em absoluto dos que defendem essa inserção mas lembraremos de alguns outros cuidados necessários para que essa não venha a se tornar uma empreitada destinada ao fracasso, como muitas outras na história das religiões.

O primeiro detalhe importante que os interessados nessa inserção não devem esquecer é que o Espiritismo, que é uma doutrina bem estabelecida, não necessita dessa inserção para sua sobrevivência. O Espiritismo representa o ensinamento das vozes que estão por toda a parte ajudando o ser humano a se lembrar dos seus deveres cristãos. Se um dia todos os livros espíritas forem queimados elas, as vozes, poderão ditar outros e o trabalho nunca ficará totalmente perdido.

O segundo detalhe é que os fins não justificam os meios. Quem quer que use a bandeira espírita em nome de qualquer projeto, seja de inserção do Espiritismo nas Universidades, ou seja o que for, deve ser o primeiro a dar o exemplo da doutrina que professa. Um desses exemplos é a forma pela qual o companheiro que pensa diferente é tratado e, particularmente, como o companheiro espírita que pensa diferente é tratado.

O terceiro detalhe e, talvez, o mais importante é que antes de defender o estudo e pesquisa da Doutrina Espírita nos meios acadêmicos, deve o pesquisador espírita ter consciência de como a tem vivenciado dentro e fora desse ambiente. De que adianta a defesa de teses brilhantes relacionadas ao Espiritismo se nossos atos desmentem, logo em seguida, a essência dos seus ensinamentos? Como sabemos que já existem vários irmãos espíritas que já defenderam teses e dissertações sobre temas relacionados com o Espiritismo, esclarecemos que o questionamento acima não é nenhuma crítica particular a ninguém, mesmo porque este autor não conhece pessoalmente nenhum deles.

O questionamento acima é ponto básico para que o verdadeiro ideal não seja esquecido em nome de “ver” o Espiritismo divulgado nos paineis e seminários dentro das Universidades.

O primeiro esforço deve ser o da reforma íntima sem a qual nenhum projeto, por mais nobre e dignificante que seja, não conseguirá ir adiante.

Um outro ponto que precisa ficar claro é que o jovem espírita que esteja iniciando a sua carreira acadêmica não deve se sentir na obrigação de ter que trabalhar em alguma tese ligada ao Espiritismo. O jovem espírita não deve se sentir envergonhado se seu trabalho de tese não tem ligação com o Espiritismo. O jovem espírita, como nenhum outro jovem, não pode correr o risco de iniciar um projeto "às escuras", mal preparado e sem perspectiva de resultados sob pena de prejudicar seu futuro profissional e, por conseguinte, sua influência como espírita no meio acadêmico. Apenas se o jovem espírita encontrar um orientador com interesse real e competência suficiente para propor ou formular um bom projeto de pós-graduação em tema espírita é que ele pode aceitar se assim desejar.

Que fique bem claro que o fato de uma tese ser espírita não torna o autor especial ou melhor do que os outros.

E, muito pelo contrário, o fato de uma tese não ser espírita não torna o autor espírita pior ou menos especial que ninguém. É importante que esse tipo de julgamento não seja feito porque viola os ensinamentos cristãos e, portanto, é atitude anti-doutrinária. Muitas vezes uma boa tese em assunto não-espírita pode levar o autor a ter oportunidades futuras em posições de maior destaque onde, como espírita, ele ou ela poderá fazer muito pela divulgação do Espiritismo.

É preciso buscar o ponto de equilíbrio sobre a questão da falta de “coragem moral”. Ao mesmo tempo que devemos dar exemplos de nossa crença, não devemos “jogar pérolas aos porcos”. A insistência com projetos espíritas que não sejam bem consistentes pode levar ao descrédito do pesquisador e do movimento espírita.

Em resumo, concordamos que uma condição necessária para um progresso na divulgação do Espiritismo junto à sociedade seja a sua inserção nas Universidades através de projetos de pesquisa, teses e cursos. Mas essa condição não é suficiente para o sucesso na divulgação espírita. É preciso que o pesquisador espírita busque ser espírita dentro e fora da Universidade. Que o estudante e o professor espíritas vivenciem o Evangelho dentro e fora dos ambientes acadêmicos.

O Espiritismo na universidade pode até ser necessário como mais um “ajudante” no progresso moral da Humanidade mas, com certeza, não é condição suficiente para isso. O livro O Evangelho Segundo o Espiritismo explica bem o porquê.

Publicado no jornal Alavanca 490, de Março de 2004, pág.03.

domingo, 7 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Desencarnação: Processo de Transição

Por Fernando A. Moreira

Morte é a cessação da vida orgânica; desencarnação é a libertação do Espírito imortal, período de transição, na sua mudança de plano. "A morte é hereditária" (1) e quando o corpo morre, o Espírito está pronto para delivrar-se, porque "não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito;"(2) mas este, nem sempre está em condições de fazê-lo. Neste caso, a morte biológica acontece mas, o Espírito não se desprende, não se liberta, fica preso ao corpo físico, isto é, continua encarnado, porque "nem todos os que morrem desencarnam." (3)

"Disse-nos, certa vez, um suicida: ‘Não estou morto.’ E acrescentava: ‘No entanto sinto os vermes a me roerem.’ Ora indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. (...) Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade." (4)

A reencarnação não é um processo punitivo, mas educativo, pois aqui "é escola, é prisão, é hospital"; para atingir a perfeição, a felicidade e a plenitude, é necessário renovar-se na experiência da matéria densa.. Tendo escolhido o caminho do progresso, evoluído, e assim realizado a sua reforma íntima, ou, ao contrário estagnado, com a ressalva que, por mínimo que seja, sempre se evolui alguma cousa, inexoravelmente sobrevém a morte (Fig. 1) , que é a fatalidade do corpo físico, assim como "a evolução é a fatalidade do Espírito"(5), um dos objetivos da reencarnação.(4); o outro é " trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino" (6), "é por o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (...) e concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta." (4) (FIG. 1); este último é atingido consciente ou inconscientemente pelo Espírito. A reestruturação ou não de seu perispírito, vai depender em ter atingido ambos os objetivos, com influências importantes no seqüênciamento do processo desencarnatório. Quanto mais depurado esteja mais fácil se torna o seu desligamento gradual, porque "os laços se desatam, não se quebram." .(4)

Dois fatores são seqüenciais à morte (Fig. 1), ocorrendo paralelamente e vinculados às suas circunstâncias e ao grau evolutivo do Espírito desencarnante:

o desprendimento do corpo físico

a perturbação do Espírito.

Léon Denis assinala que deveríamos chorar na hora da reencarnação, que é um momento de intenso sofrimento para o Espírito, e rirmos na hora da morte, quando o Espírito se liberta, já que encarnação é seu encarceramento fluídico e a desencarnação a sua libertação; isto, é importante frisar, se o Espírito cumpriu os objetivos da encarnação, porque se não o fez, serão dois choros, um ao encarnar e o outro ao desencarnar, tal a influência que esta sua conduta projetará na desencarnação.

O desprendimento.

Ao reencarnar o Espírito se liga ao corpo, através de seu perispírito, que a ele se une, molécula a molécula, átomo a átomo e ao desencarnar, inversamente se desprende, também, átomo a átomo, molécula a molécula.

O princípio vital e´ "o interruptor da vida",(7) enquanto que o fluido vital é a eletricidade que carrega nossas baterias, o fluido cósmico animalizado; ao ser desligado aquele, a vida se esvai, cessa e sobrevem a morte (morte natural), que se dá por esgotamento do fluido vital ou embora com sua presença, por falência orgânica súbita (morte violenta), ficando ele impotente para transmitir o movimento da vida. (8) Esta fuga energética do corpo físico e do perispírito, que se encontravam dela impregnados, desde o primeiro instante da concepção, realiza-se de forma suave ou abrupta,(Fig. 1) de acordo com a sua distribuição, que é peculiar a cada ser, a cada órgão, a cada célula; há nos centros vitais ou de força, maior atividade vital e pontos de ligação com maior densidade entre o Espírito-perispírito e o corpo físico; destes o que tem mais forte esta união com o Espírito, via perispírito, é o centro coronário ou regente que, pelo fato mesmo, é o último que se desliga, desfazendo-se as conexões Espírito-perispírito-glândula pineal, a "glândula da vida espiritual". O rompimento destes laços fluídico-magnéticos que compõe o cordão fluídico ou de prata, representa o selo da desencarnação, iniciando-se pelas extremidades e terminando, como dissemos, no cérebro.

A natureza das demais ligações dos centros vitais, variam de acordo com cada ser, dependentes da evolução do Espírito, modulador e estruturador do perispírito e portanto de suas ligações com a matéria densa, através dos centros vitais controladores e seus órgãos súditos e que serviço prestou ao comandante de suas ações_ o Espírito. Assim quem usou desregradamente o sexo, ou praticou aborto, por exemplo, terá suas ligações com o centro vital genésico difíceis de serem desligadas; quem foi tabagista inveterado, igualmente terá fortes ligações fluídico-magnéticas com o centro cardíaco, a retardar o processo desencarnatório, e daí por diante.

Assim o desprendimento acontece de forma lenta (envelhecimento natural, doenças crônicas, etc.) por esgotamento do fluido vital, ou de forma abrupta (morte violenta: acidentes, desastres, assassinatos, suicídios) por injúria grave, determinando a incapacidade funcional orgânica definitiva.(FIG. 1); nos primeiros, o desligamento já vinha se fazendo quando ocorreu a morte e nos últimos, a morte corresponde ao início do processo desencarnatório; eqüivale a dizer que o período morte-libertação, genericamente, é maior nestes. Com os Espíritos evoluídos ocorre que o momento da morte corresponde ao da libertação, mas, ao contrário, certos Espíritos que têm seu perispírito ainda muito densificado, ficam presos ainda ao corpo, após a morte.

"O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham esta separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros", (2) e até anos.

A perturbação.

A consciência é do Espírito e após a morte corporal, ele passa por um período variável de perturbação, de acordo com o estado moral da alma, "fruto das suas construções mentais, emocionais e volitivas" (9) e o gênero ou circunstâncias da morte, para voltar a readquiri-la.

O Espírito purificado se desvencilha dos tênues laços que o prendiam ao corpo físico, tomando então consciência de si mesmo, da sua volta ao mundo espiritual e da memória do passado, que é também do Espírito e aos poucos vai retornando do inconsciente, sediado no perispírito (8); este "livro misterioso, fechado a nossa vista, durante a vida terrena, abre-se no espaço. O espírito adiantado percorre-lhe à vontade as páginas (...)." (6) Nestes casos a sensação é de alívio, como quem acordou de uma intervenção cirúrgica e obteve alta, curado; não é pois, nem penosa, nem duradoura; é um despertamento, pois a "vida na carne é o sono da alma; é o sonho triste ou alegre." (6)

Naqueles Espíritos que não aproveitaram o retorno à vida corporal, para sua evolução, estagnados na escala do progresso, o desencarne será um processo extremamente doloroso, "tétrico, aterrador, ansioso (...) qual horrendo pesadelo" (10), demorado e a perturbação espiritual que se seguirá, será muito intensa e prolongada; muitas vezes, mal se lembram até da última encarnação e muito menos das outras, em mais uma concessão da bondade e da misericórdia divina, mas um dia o farão, pois terão que "entrar no conhecimento do seu estado, antes de serem levadas para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. "(6)

Na morte violenta, situação não esperada na maioria das vezes pelo Espírito, sua conscientização da morte e conseqüente passagem à vida espiritual é difícil e demorada, tanto mais prolongada quanto menor a evolução espiritual.

Na Espiritualidade.

A espiritualidade não está parada, nem contemplativa, ao contrário, trabalha incessantemente e "Espíritos evoluídos, com fortes vínculos com a caridade", (11) se incumbem da tarefa da desencarnação, ajudando nos desligamentos dos laços que unem o Espírito ao corpo físico, sob influxo do pensamento divino. Espíritos amigos e familiares, já desencarnados, colaboram nesta tarefa. Esta mesma atuação, pode ser prejudicada por Espíritos inimigos, obsessores até, que têm a finalidade de tornar o desligamento mais penoso, contribuindo também para maior perturbação do Espírito desencarnante, seu desafeto.

Destino dos componentes do homem.

Após a morte, o corpo físico desintegra-se, seguindo as leis físico-químicas, que também são divinas, nunca mais voltando a recompor-se, ou destinar-se à ressurreição, que seria desprovida de qualquer finalidade.

O fluido vital volta ao seu lugar de origem _ o fluido cósmico ou universal.

O perispírito poderá apresentar modificações em relação à sua densidade; não se segmenta e não se sedimenta; se depura, tornando-se tanto mais sutil quanto maior for o progresso espiritual.

O Espírito pode apresentar modificações em relação ao seu estado moral reencarnatório, porque o "Espírito evolui, tudo o mais se transforma", por menor que seja esta mesma evolução, às vezes mínima, o que não pode nunca acontecer, é retrogradar.

Conclusão

Um dia, depois da morte corporal, nós teremos um decisivo encontro marcado com nós mesmos, nos recônditos da nossa consciência, apanágio do Espírito, onde foram impressas por Deus as suas leis morais (4); aí serão julgados por ela, todos os nossos atos da senda reencarnatória, no uso do nosso livre arbítrio e comparados com os nossos propósitos ao reencarnar, escolhidos ou impostos pela justiça divina, sempre de acordo com as aptidões de cada um; depende de nós, e só de nós, se este será o "dia mais feliz de nossa existência", momento de puro êxtase ou, "ao contrário, o pior deles", o seu momento mais fatídico.

"Cremos que a educação para o desencarne implica na educação para a vida". (9), para que consigamos a morte de que nos fala Hernani Santanna :(12)

"A morte (...) é a liberdade !

É o vôo augusto para a luz divina,

sob as bênçãos da paz da eternidade!

É bem começo de uma nova idade,

antemanhã formosa e peregrina,

da nossa vera e grã felicidade."

BIBLIOGRAFIA

1 _ FORMIGA, Luiz Carlos D. "Dores, Valores, Tabus e Preconceitos", CELD Ed., maio/96, pg.89-102.

2 _ KARDEC, Allan. "A Gênese". 22ª ed. Trad. Guillon Ribeiro. 1980, pg. 215.

3 _ RIBEIRO, Gêmison. "Nem todos que morrem desencarnam." Revista Internacional de Espiritismo, Dez/1999, pg. 504.

4 _ KARDEC, Allan. "O Livro dos Espíritos". 68ª ed.: FEB, 1987. perg. 132, 155, 257, 621.

5 _ SANTOS, Edson Ribeiro dos. Comunicação pessoal.

6 _ DENIS, Léon. "O Problema do Ser, do Destino e da Dor." 4ª ed. 1936: FEB, pg. 167, 261, 323.

7 _ MELO, Jacob. "O Passe". 8ª ed.: FEB,1992, pg 60.

8 _ MOREIRA, Fernando Augusto. "Fisiologia da Alma". Revista Inter-nacional de Espiritismo, Out/2000, pg.399.

9 _ JERRI, Roberto. "A Fisiologia do Desencarne" A Reencarnação. Nº 414, ano XIII, 1º semestre, 1997, pg. 39 e 42.

10 _ KARDEC, Allan. "O Céu e o Inferno". 37ª ed. Trad. Manuel J. Quintão: FEB, 1991, pg. 169.

11 _ CARNEIRO, Oscar F. "Reflexões". Ozon Editor, 1960, pg. 15.

12 _ SANTANNA, Hernani. "Canção do Alvorecer". 2ª ed,: FEB, 1983, pg. 46.