Por Octávio Caúmo Serrano
Preferimos conviver com os afins. Todavia, é no relacionamento com os que não pensam como nós que adquirimos novas e importantes experiências.
Toda coisa tem o oposto. A morte tem a vida, a noite tem o dia, o claro o escuro, o grande o pequeno, o alto o baixo ...
É comum procurarmos a harmonia das situações e dos agrupamentos, na semelhança entre as partes. Todavia, a igualdade pode criar choques.
É preciso haver diferenças. Mas que se complementem sem criar dissensões.
Imaginemos uma casa onde os dois gastam irresponsavelmente.
Em curto prazo, o lar vai a bancarrota. Mas se os dois forem avaros, faltará até o indispensável e eles serão irritadiços e ansiosos. Um terá de ser mais arrojado e o outro comedido, prudente.
Irão completar-se.
O mesmo se daria se ambos fossem excessivamente risonhos, brincalhões, irreverentes. Nunca seriam levados a sério. Mas se fossem sisudos, mal-humorados, rechaçariam os que tentassem aproximar-se.
Este pequeno esboço serve de intróito para analisarmos uma sociedade, um grupo, uma entidade.
Toda pessoa tem sua própria habilidade. Observemos uma orquestra.
Cada músico toca um instrumento. No entanto, a melodia embeleza-se pela combinação de todos eles. Um conjunto vocal tem diversas vozes, que se fundem numa só, em harmonia. Um time de futebol tem os que fazem os gols e um que trata de evitá-los.
A grande empresa, por exemplo, começa pela presidência e assessores diretos, mas não dispensa os auxiliares de escalões menores e nem mesmo o trabalho dos mensageiros, os office-boys, encarregados da correspondência. Eles são, muitas vezes, a apresentação da companhia. Um funcionário educado, bem composto, eficiente, levará boa imagem da firma onde trabalha, junto à clientela, fornecedores e bancos.
Dá-se o mesmo nas sociedades culturais, recreativas, filantrópicas, religiosas. E, neste caso, analisemos o Centro Espírita.
Um agrupamento onde se divulga o Espiritismo tem diferentes tipos de colaboradores. Ali encontramos a equipe diretora da casa, muitas vezes fundadora do Centro, os passistas, os palestrantes, os orientadores, os assistentes sociais, os faxineiros.
Não podemos esperar que todos tenham as mesmas idéias. São espíritos em variados degraus de entendimento, espíritas há mais ou menos tempo, culturas diferentes e convicções que não coincidem. Uns mais amoráveis, outros mais racionais. Este se encanta com o fenômeno, aquele valoriza a mensagem. Há os que preferem a religião e os que destacam a ciência espírita.
O fato de não darmos atenção a esse aspecto pode criar dificuldades de relacionamento entre os participantes da mesma casa espírita ou, em âmbito maior, do próprio movimento espírita.
Desejamos que haja perfeita sintonia e qualquer deslize é considerado irreverência, desobediência, indisciplina, o que nem sempre é verdade.
Ninguém muda de um dia para outro apenas por tornar-se adepto do Espiritismo.Sem dúvida, há que haver afinidade quanto ao ideal e objetivos.
Todos, sem exceção, devem praticar a caridade em favor do semelhante. Mas cada um na sua habilidade própria.
Encontramos irmãos com grande cabedal doutrinário que são péssimos orientadores. Para ajudar, é preciso respeitar a capacidade do outro.
Ninguém pretenda resolver as dificuldades alheias b aseado no próprio conhecimento, na sua coragem e disposição diante de problemas. Jamais aconselhar com frases como: "se eu fosse você"; "se isso fosse comigo", porque nem você é o outro, nem o problema é seu.
A maioria dos dependentes deseja ver-se livre do vício, mas não consegue.
Para aquele que já venceu alguma imperfeição, ou que nunca fez uso das químicas nocivas e alienantes, parece fácil vencer o mal. Mas é difícil; extremamente difícil.
Observemos os passes. Quantos trabalhadores que se dedicam a essa tarefa, mesmo sem grande conhecimento doutrinário, têm bom sentimento e desejo de servir.
Quando impõem as mãos, jorra luz do seu coração, pela facilidade de sintonia com os Espíritos Benfeitores.
Mas se convidados a fazer uma simples prece, alegarão dificuldades em comunicar-se.
Quantos são eficientes orientadores, porque, mesmo sem a vidência ou a audiência, são ouvintes pacientes que deixam a pessoa falar para descarregar as mágoas.
Não têm pressa em resolver tudo, preferindo entregar o irmão aos Espíritos e às palestras, que explicam, pouco a pouco, os meandros da vida e como a pessoa pode ajudar a si mesma, ampliando a fé e ganhando entendimento.
Sabe que só quando chegar o tempo certo e nascer o merecimento é que a melhora começara a processar-se. A imperfeição é uma doença que leva tempo para ser curada. É preciso que doa para que a compreensão chegue.
Poupar excessivamente alguém é como atrofiar-lhe a vida. O passe, terapêutica de emergência, é socorro provisório, até que a própria pessoa aprenda a cuidar-se, modificando sua maneira de viver.
Palestrantes há que têm grandes conhecimentos doutrinários, mas falam de forma rebuscada e metafórica, atêm-se ao cientismo criando barreiras que impossibilitam a compreensão.
Demonstram sabedoria mas não atingem os que esperam palavras simples e de fácil assimilação. Falam mas não comunicam.
Vimos, portanto, que num agrupamento espírita há de tudo e todo tipo de participante. Um vaidoso, outro humilde. Um culto, outro menos instruído. Um jovem afoito, outro maduro e prudente. Um com receitas para salvar a humanidade, outro que contenta-se em ajudar um ou dois, colocando-se entre os necessitados.
A igualdade que deve haver no Centro Espírita é que todos se preocupem em estudar o Espiritismo e conhecer objetivamente, sem dogmas ou figurações, o Evangelho de Jesus. Todos devem ser educados e gentis com cada pessoa que visite a casa em busca de orientação e socorro.
Todos se devem mútuo respeito, aceitando os defeitos e as fraquezas do companheiro de ideal.
Temos de ajudar, sem impor, orientar, sem agredir, aconselhar, sem exigir.
Isso não significa que o tarefeiro rebelde, nocivo ao agrupamento, renitente, de coração endurecido, não possa e não deva ser afastado, em benefício dos demais e dele próprio. Se tememos os obsessores desencarnados, temos de nos cuidar contra os encarnados que, muitas vezes, tumultuam os trabalhos mais do que "fantasmas".
Concluindo: As diferenças não são problemas. As diferenças podem compor harmonioso conjunto; o que cria problemas são os radicalismos, quando exigimos dos outros o que nem sempre podem dar. Além disso, convém lembrar que não somos perfeitos, nem modelo para ninguém. Temos ainda, todos, muito a ser corrigido em nós mesmos.
No Centro Espírita, igualmente como em qualquer lugar, a paciência segue sendo a maior virtude para que os homens se entendam e se complementem na lei do amor.
Fonte: Revista Internacional do Espiritismo - Nov 99A
Preferimos conviver com os afins. Todavia, é no relacionamento com os que não pensam como nós que adquirimos novas e importantes experiências.
Toda coisa tem o oposto. A morte tem a vida, a noite tem o dia, o claro o escuro, o grande o pequeno, o alto o baixo ...
É comum procurarmos a harmonia das situações e dos agrupamentos, na semelhança entre as partes. Todavia, a igualdade pode criar choques.
É preciso haver diferenças. Mas que se complementem sem criar dissensões.
Imaginemos uma casa onde os dois gastam irresponsavelmente.
Em curto prazo, o lar vai a bancarrota. Mas se os dois forem avaros, faltará até o indispensável e eles serão irritadiços e ansiosos. Um terá de ser mais arrojado e o outro comedido, prudente.
Irão completar-se.
O mesmo se daria se ambos fossem excessivamente risonhos, brincalhões, irreverentes. Nunca seriam levados a sério. Mas se fossem sisudos, mal-humorados, rechaçariam os que tentassem aproximar-se.
Este pequeno esboço serve de intróito para analisarmos uma sociedade, um grupo, uma entidade.
Toda pessoa tem sua própria habilidade. Observemos uma orquestra.
Cada músico toca um instrumento. No entanto, a melodia embeleza-se pela combinação de todos eles. Um conjunto vocal tem diversas vozes, que se fundem numa só, em harmonia. Um time de futebol tem os que fazem os gols e um que trata de evitá-los.
A grande empresa, por exemplo, começa pela presidência e assessores diretos, mas não dispensa os auxiliares de escalões menores e nem mesmo o trabalho dos mensageiros, os office-boys, encarregados da correspondência. Eles são, muitas vezes, a apresentação da companhia. Um funcionário educado, bem composto, eficiente, levará boa imagem da firma onde trabalha, junto à clientela, fornecedores e bancos.
Dá-se o mesmo nas sociedades culturais, recreativas, filantrópicas, religiosas. E, neste caso, analisemos o Centro Espírita.
Um agrupamento onde se divulga o Espiritismo tem diferentes tipos de colaboradores. Ali encontramos a equipe diretora da casa, muitas vezes fundadora do Centro, os passistas, os palestrantes, os orientadores, os assistentes sociais, os faxineiros.
Não podemos esperar que todos tenham as mesmas idéias. São espíritos em variados degraus de entendimento, espíritas há mais ou menos tempo, culturas diferentes e convicções que não coincidem. Uns mais amoráveis, outros mais racionais. Este se encanta com o fenômeno, aquele valoriza a mensagem. Há os que preferem a religião e os que destacam a ciência espírita.
O fato de não darmos atenção a esse aspecto pode criar dificuldades de relacionamento entre os participantes da mesma casa espírita ou, em âmbito maior, do próprio movimento espírita.
Desejamos que haja perfeita sintonia e qualquer deslize é considerado irreverência, desobediência, indisciplina, o que nem sempre é verdade.
Ninguém muda de um dia para outro apenas por tornar-se adepto do Espiritismo.Sem dúvida, há que haver afinidade quanto ao ideal e objetivos.
Todos, sem exceção, devem praticar a caridade em favor do semelhante. Mas cada um na sua habilidade própria.
Encontramos irmãos com grande cabedal doutrinário que são péssimos orientadores. Para ajudar, é preciso respeitar a capacidade do outro.
Ninguém pretenda resolver as dificuldades alheias b aseado no próprio conhecimento, na sua coragem e disposição diante de problemas. Jamais aconselhar com frases como: "se eu fosse você"; "se isso fosse comigo", porque nem você é o outro, nem o problema é seu.
A maioria dos dependentes deseja ver-se livre do vício, mas não consegue.
Para aquele que já venceu alguma imperfeição, ou que nunca fez uso das químicas nocivas e alienantes, parece fácil vencer o mal. Mas é difícil; extremamente difícil.
Observemos os passes. Quantos trabalhadores que se dedicam a essa tarefa, mesmo sem grande conhecimento doutrinário, têm bom sentimento e desejo de servir.
Quando impõem as mãos, jorra luz do seu coração, pela facilidade de sintonia com os Espíritos Benfeitores.
Mas se convidados a fazer uma simples prece, alegarão dificuldades em comunicar-se.
Quantos são eficientes orientadores, porque, mesmo sem a vidência ou a audiência, são ouvintes pacientes que deixam a pessoa falar para descarregar as mágoas.
Não têm pressa em resolver tudo, preferindo entregar o irmão aos Espíritos e às palestras, que explicam, pouco a pouco, os meandros da vida e como a pessoa pode ajudar a si mesma, ampliando a fé e ganhando entendimento.
Sabe que só quando chegar o tempo certo e nascer o merecimento é que a melhora começara a processar-se. A imperfeição é uma doença que leva tempo para ser curada. É preciso que doa para que a compreensão chegue.
Poupar excessivamente alguém é como atrofiar-lhe a vida. O passe, terapêutica de emergência, é socorro provisório, até que a própria pessoa aprenda a cuidar-se, modificando sua maneira de viver.
Palestrantes há que têm grandes conhecimentos doutrinários, mas falam de forma rebuscada e metafórica, atêm-se ao cientismo criando barreiras que impossibilitam a compreensão.
Demonstram sabedoria mas não atingem os que esperam palavras simples e de fácil assimilação. Falam mas não comunicam.
Vimos, portanto, que num agrupamento espírita há de tudo e todo tipo de participante. Um vaidoso, outro humilde. Um culto, outro menos instruído. Um jovem afoito, outro maduro e prudente. Um com receitas para salvar a humanidade, outro que contenta-se em ajudar um ou dois, colocando-se entre os necessitados.
A igualdade que deve haver no Centro Espírita é que todos se preocupem em estudar o Espiritismo e conhecer objetivamente, sem dogmas ou figurações, o Evangelho de Jesus. Todos devem ser educados e gentis com cada pessoa que visite a casa em busca de orientação e socorro.
Todos se devem mútuo respeito, aceitando os defeitos e as fraquezas do companheiro de ideal.
Temos de ajudar, sem impor, orientar, sem agredir, aconselhar, sem exigir.
Isso não significa que o tarefeiro rebelde, nocivo ao agrupamento, renitente, de coração endurecido, não possa e não deva ser afastado, em benefício dos demais e dele próprio. Se tememos os obsessores desencarnados, temos de nos cuidar contra os encarnados que, muitas vezes, tumultuam os trabalhos mais do que "fantasmas".
Concluindo: As diferenças não são problemas. As diferenças podem compor harmonioso conjunto; o que cria problemas são os radicalismos, quando exigimos dos outros o que nem sempre podem dar. Além disso, convém lembrar que não somos perfeitos, nem modelo para ninguém. Temos ainda, todos, muito a ser corrigido em nós mesmos.
No Centro Espírita, igualmente como em qualquer lugar, a paciência segue sendo a maior virtude para que os homens se entendam e se complementem na lei do amor.
Fonte: Revista Internacional do Espiritismo - Nov 99A
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