quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Golpe baixo de Roustaing em Kardec

Por Nazareno Tourinho

No corpo doutrinário do Espiritismo a obra de Roustaing assemelha-se a um apêndice supurado, reclamando cirurgia urgente, porque apresenta alto teor de catolicismo infeccionante de nosso ideal saudavelmente cristão.

Conforme já salientamos, nesta série de artigos iremos demonstrar isso com base nas coisas que o próprio bastonário de Bordéus escreveu, e assim convém caminharmos sem pressa pelas páginas de Os Quatro Evangelhos que ele nos legou, ou melhor, nos impingiu, e que na atualidade, em todo o mundo, só a Federação Espírita Brasileira comete a imprudência de divulgar, sem o devido respeito ao pensamento de Kardec.

Até então, nos três escritos precedentes, por motivos imperiosos, não conseguimos avançar além do Prefácio da hábil mistificação roustainguista, e que agora necessitamos nos ocupar da Introdução que se lhe segue, ficando para depois a análise do texto principal. Tenha um pouco de paciência o leitor interessado em conhecer as tolices, e pieguices, dos seres invisíveis que ditaram mensagens psicográficas à única médium de Roustaing, Emille Collignon: precisamos ainda colocar em foco os dislates e disparates do autor material de Os Quatro Evangelhos.

Na sua Introdução, subsequente ao Prefácio, Roustaing menciona a obra em tela como “Revelação da Revelação” mais de VINTE VEZES (páginas 69, 70, 76, 77, 80, 82, 84, 86, 94, 106, 110, 111, 112, 115, 116, 117, 118, 119, 120 e 122 na 6ª edição da FEB).

Basta esse tique neurótico, megalomaníaco, para fornecer ideia do estado mental do insciente discípulo de Kardec, àquela altura fascinado pelo desejo de suplantar o mestre dando a lume teorias que lhe ultrapassassem as concepções filosóficas.

Quando Jean-Baptiste Roustaing, contemporâneo de Allan Kardec, entregou ao público açodamente Os Quatro Evangelhos “seguidos dos mandamentos explicados em espírito e em verdade pelos Evangelistas assistidos pelos Apóstolos e Moisés”, no ano de 1866, o Codificador se encontrava ainda em pleno trabalho receptor da III Revelação.

Quer dizer: Antes da III Revelação ser completada, Roustaing, dela aprendiz, vaidosa e ambiciosamente inventou logo uma outra, supostamente mais avançada, que intitulou de “Revelação da Revelação”.

Isso tem alguma lógica, por menor que seja?

Por que a Espiritualidade Superior confiaria a Roustaing uma nova revelação quando ainda nem terminara de transmitir aquela que foi codificada por Kardec?

(Roustaing também chama a sua obra de nova revelação, nas páginas 69, 70, 79, 80, 82, 84, 86, 106, 110, 115, 117.)

Acresce, ainda, que J. B. Roustaing comportou-se com extrema deslealdade em relação ao codificador da nossa Doutrina, surpreendendo-o com a obra já pronta, editada, através da oferta de um exemplar, e pondo-lhe acima do título as palavras ESPIRITISMO CRISTÃO, como se os livros de Allan Kardec, entre eles O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, deixassem de possuir o mesmo caráter religioso. Este erro suplementar foi algo moralmente abominável, valendo por uma traição ou mesquinha esperteza, de conteúdo desonesto.

Na Introdução que desdobra o Prefácio de Os Quatro Evangelhos nota-se mais o quanto a tal de  “Revelação da Revelação” transborda de misticismo igrejeiro, inconveniente à racionalidade de nossa fé.

Jesus, nas páginas 100, 107, 108, 111 e 119 não é referido apenas pelo nome, com naturalidade, e sim repetidamente denominado Jesus-Cristo. Na página 122 é identificado na condição de “nosso único senhor”, daí porque os rustenistas febeanos adoram chamá-lo de Nosso Senhor Jesus-Cristo, ignorando que o Mestre Galileu, sábio e sublime em sua paixão pelo Bem, nos quer como seguidores e não bajuladores, como almas livres e não escravas, sendo portanto nosso grande MESTRE e não SENHOR (alguém só pode ser senhor de quem lhe seja escravo).

Essas expressões católicas, cheirando a sacristia, que Roustaing conseguiu infiltrar em nosso meio doutrinário denunciam a origem antikardequiana da mensagem mediúnica que ele acolheu.

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

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