quarta-feira, 14 de março de 2012

Magnetização nos tempos modernos - A água fluidificada


Por Maria Ribeiro

Ninguém pode negar que danosas influências desde o nascedouro do Espiritismo quiseram se impor, sendo muitas delas, infelizmente, assimiladas e defendidas, até mesmo por pessoas respeitáveis, dada a invigilância em que muitos se deixam envolver. Aliás, as atuais circunstâncias do globo facilitam as interferências nada desejáveis e só a muito custo consegue-se enxergar que a luz maravilhosa da Verdade aponta para novas e convidativas perspectivas.

Pergunta-se como que de uma ciência perfeitamente positiva pôde surgir crenças tão tacanhas que insultam a razão mais superficial, que a mínima sensatez é capaz de dissuadir.

Em contrapartida, a excessiva precaução gerou o extremo oposto, e palavras e expressões da Codificação são utilizadas para contradizerem-se a si mesmas, com o torpe propósito de embasarem vaidosas suposições particulares.

Em se falando de Espiritismo não se pode desprezar a contribuição de outras ciências, tomando por base o item 17 do primeiro capítulo de A Gênese que dispara: 

“Todas as ciências se encadeiam e se sucedem numa ordem racional; elas nascem umas das outras à medida que encontram um ponto de apoio nas idéias e conhecimentos anteriores.”

O conhecimento da Química auxilia no entendimento de alguns pontos que acabaram por se tornar polêmicos no meio espírita. Um deles diz respeito às incompreendidas ações do magnetismo. Embora seja fato que a ingenuidade leve ao precipício da superstição, dos ritualismos e dos dogmatismos, não se pode por isso criar uma barreira que negue definitivamente qualquer ideia, sem antes ter buscado a contraprova. Aliás, esta é uma recomendação essencialmente doutrinária, esquecida pelos extremistas teimosos na postura anti-científica. 

O desconhecimento das coisas torna o homem escravo da superstição, e embora o Espiritismo de tudo fale sem rodeios, há sempre quem queira permanecer ainda no degrau da fantasia. Quando se trata do assunto em questão – o magnetismo – não é diferente, sendo perfeitamente observáveis fatos inconvenientes para não dizer ridículos. 

No movimento espírita dois procedimentos que envolvem o magnetismo se tornaram muito comuns: o passe e a fluidificação da água. Há os que desconhecem ser o passe um método terapêutico, analisado por Kardec* e há os que acreditam ser algo miraculoso, e por isso mesmo, o rodeiam de formas ritualísticas, com dizeres extravagantes em número determinado de vezes, etc. O mesmo se dá com a água fluidificada ou magnetizada. Há os adeptos que unem ambos, ritualizando o procedimento: um copinho de água fluidificada após o passe. 

O assunto em pauta, porém, diz respeito exclusivo à água. Então, recorde-se de uma observação da Química que esclarece que a molécula de água é dos corpos o mais suscetível de absorver energia dependendo da freqüência ambiente. Ora, se a molécula de água tem esta propriedade, infere-se que a fluidificação, ou ainda, a energização da mesma possa de fato ocorrer, nada tendo de anti-doutrinário, é um fato químico. A menos que se admita a inexistência da energia, ou dos fluidos. E também assim, derrubar-se-ia uma premissa de uma ciência tão positiva quanto a própria Doutrina Espírita. Deste modo, está-se diante de um fato puramente natural.

Se a água tem esta propriedade no mais alto grau, deduz-se que outros corpos a tenham em graus menores, variando ao infinito. Mas aqui é necessário observar as circunstâncias que poderiam ocorrer estas absorções, pois ninguém é tolo o bastante para não crer nas peculiaridades individuais de cada um dos corpos da natureza, inclusive em se tratando dos seres vivos, como o homem.

Kardec no capítulo XIV de A Gênese descreve os fluidos como substância desprovida de qualidades próprias, capazes de adquiri-las conforme o meio ambiente, ou por outra, conforme aquelas formadas pelo teor dos pensamentos e sentimentos que dominem. Seguindo esta linha de raciocínio, não parece muito irreal que a água, obedecendo a uma lei natural, absorva os fluidos que possam proporcionar um alívio orgânico ou um conforto moral para aqueles que anseiam por este resultado. Uma questão é suscitada: Se a água absorve energia, porque não poderia ser esta energia algo salutar?l

Daí, segue-se que: primeiro – comprovadamente a água tem propriedade de absorver energia; segundo - esta energia pode ser algo benéfico. Ao ser bebida, este líquido entrará em contato com outros líquidos corpóreos, indaga-se: nesta interação, é ou não é possível que estes líquidos corpóreos também absorvam as energias do líquido que foi ingerido? Se isto é possível, também não seria se, uma vez entrando para a circulação, se concentrassem num órgão doente, assim como o fazem os remédios? Esta é uma questão, como tantas outras, que precisa de resposta. Não uma resposta baseada numa opinião particular, mas baseada na positividade científica. Afinal, com base ainda no magnetismo, não será crível que, até certo ponto, um órgão doente “crie” em torno de si um campo de atração, obviamente, para tudo o que for contrário ao seu estado de debilidade? Na verdade, não o órgão, mas a Mente é que faria que se “criasse” um campo magnético em torno do órgão ou da estrutura que precisasse de reajuste, pois o organismo busca a todo o tempo o seu equilíbrio, sempre criando mecanismos de defesa, de luta e de reparo.

Analisando as curas do Mestre Jesus, no capítulo XV da obra supracitada, Kardec didaticamente enquadra alguns casos, segundo o que julgou por fenômenos parecidos. Citar-se-á dois casos para ilustrar. 

A respeito do paralítico da piscina, Kardec admite que possivelmente as águas daquele poço tivessem propriedades curativas. Assim o Mestre francês se expõe: 

“Segundo a crença vulgar, esse movimento era o mais favorável às curas; talvez, na realidade, no momento de sua emissão, a água tivesse uma propriedade mais ativa, ou que a agitação produzida pela água fizesse vir à tona a vasa salutar para algumas moléstias. Tais efeitos são muito naturais e perfeitamente conhecidos na atualidade...”

A respeito da cura do cego de nascença, estudada nos itens 24 e 25, Kardec explica: 

“Quanto ao meio empregado para o curar, é evidente que a espécie de lama feita com a saliva e a terra não podia ter virtude senão pela ação do fluido curador do qual ela estava impregnada; é assim que as substâncias as mais insignificantes, a água, por exemplo, podem adquirir qualidades poderosas e eficientes sob a ação do fluido espiritual ou magnético ao qual elas servem de veículo, ou se quiserem, de reservatório.”

Kardec também trata neste mesmo capítulo, pela mesma via magnética, sobre a cura das obsessões, as ressurreições e outros fatos que passaram por milagres. 

“É também pelo bem que pratica, que o Espiritismo prova sua missão providencial. Ele cura os males físicos, mas cura sobretudo as moléstias morais e aí estão os maiores prodígios mediante os quais ele se afirma...” Com esta fala, Kardec atualmente adverte os adeptos para que ponham freios em seus intuitos de tudo quererem explicar à própria maneira. O estudo do Espiritismo faz o homem conhecedor dos seus poderes psíquicos, e espera que estes sejam postos a serviço da causa cristã, sem os preconceitos que a mente humana é capaz de engendrar .

*O Livro dos Espíritos – comentário da questão 70; A Gênese – capítulos XIV e XV; O Evangelho segundo o Espiritismo – cap. XIX item 5, cap. XXVII itens 9,10 e 11.

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