Por Marcelo Coimbra Régis
Um dos principais filósofos e cientistas de tendência claramente espírita do século 20 foi, sem dúvida, Gustave Geley. Pouco conhecido no Brasil, onde temos apenas duas de suas obras traduzidas (O Ser Subconsciente, ed. FEB e Resumo da Doutrina Espírita, Lake), Gustave Geley, francês nascido em 1868, em Monceau-Les-Mines, doutor em medicina por Lyon, desde jovem se viu atraído pelo inquietante problema da sobrevivência e da evolução humana. Homem de ação e cientista por natureza decidiu dedicar sua vida e prestígio ao crescimento da Metapsíquica.
Em 1919, convidado por J. Myers, abandonou a prática médica e passou a dedicar-se integralmente as pesquisas metapsíquicas, tornando-se o primeiro presidente do Instituto de Metapsíquica Internacional – I.M.I.
Geley foi um dos mais notáveis pesquisadores no campo das materializações, tornando-se referência obrigatória no estudo do ectoplasma e seus fenômenos. Estão entre suas contribuições os estudos e pesquisas extensivas com os médiuns de efeitos físicos Franek Kluski, Jean Guzik e Eva Carriére.
Com Franek Kluski conseguiu obter moldes em parafina de mão e braços de espíritos materializados, ainda hoje em exposição no IMI em Paris. Seu trabalho com Eva Carriére, a quem submeteu aos mais rigorosos testes e provas afim de evitar qualquer possibilidade de fraude, foram assistidos por mais de 150 homens de ciência comprovando a veracidade das materializações ali obtidas. Em 1920 fundou o Bulletin de IMI (mais tarde Revue Metapsychiquee) onde publicou grande parte de suas pesquisas e experimentos acerca da ideoplastia, clarividência, telepatia, correspondência cruzada entre outros.
Dentre suas obras destacamos: O Ser Subconsciente (1899); Essai de revue generale et l’interpretation syntehetique du Spiritisme (1898); L’ectoplasmie et la Clairvoyance (1924) e Del Inconsciente al Consciente (1918).
Del Inconsciente al Consciente, sua obra magistral demonstra toda a grandeza de Geley como pensador e como pesquisador metapsíquico. Nela expõe uma teoria evolutiva baseada tanto nos princípios de Darwin como na reencarnação (por ele chamada de palingenesia), na sobrevivência da alma (por ele chamada de dinamopsiquismo) culminando, num processo de ascensão do inconsciente para o consciente, com a realização da soberana justiça, do bem e do belo. Esta é uma obra que necessita de um amplo e profundo estudo, visto que tem inúmeras contribuições ao pensamento espírita. Trata-se da mais importante obra filosófica da Metapsíquica.
Podemos considerar Geley espírita (apesar de o mesmo não ter-se declarado formalmente como tal), pois aceitava a sobrevivência da alma, a reencarnação e a comunicação com os mortos. Sobre o Espiritismo ele assim se expressa em seu Essay de revue generale d’interpretation syntehetique du Spiritisme (lançado no Brasil com o título Resumo da Doutrina Espírita):
“A Doutrina espírita é muito grandiosa para não impor aos pensadores uma discussão profunda. Bom número deles concluíram, seguramente, considerando que uma doutrina baseada sobre fatos experimentais tão numerosos e tão precisos, e acordes com todos os conhecimentos científicos nos diversos ramos de atividade humana, dando solução muito clara e muito satisfatória aos grandes problemas psicológicos e metafísicos, é verossímil; muito mais verdadeira; é muito provavelmente verdadeira”. (Del Incosnciente al Consciente, G. Geley, pag. 9 , Casa Editorial Maucci- Barcelona).
Em resposta a uma pesquisa feita pela revista Filosofia della Scienza em 1913 expressou assim sua posição quanto à reencarnação:
“Eu sou um reencarnacionista por três razões: (1) porque a doutrina me parece totalmente satisfatória do ponto de vista moral, (2) absolutamente racional do ponto de vista filosófico e (3) do ponto de vista científico aceitável, ou melhor ainda, provavelmente verdadeira.
Sua contribuição ao avanço da Metapsíquica é tão relevante que mesmo o evento se sua morte é significativo e contribuiu para a comprovação dos fenômenos metapsíquicos. Dois casos de premonição vaticinaram as circunstâncias da morte de Geley. O primeiro ocorreu nas experiência levadas a cabo pelo Dr. Eugênio Osty. Iniciando-se 31 meses antes do fato e durante 14 sessões, o sensitivo insistiu na morte acidental, por queda, de um médico francês, homem de ciência, durante uma viagem a um país distante. Além disso relatou que tal morte afetaria em muito na vida do Dr. Osty (após a morte de Geley, Osty se tornaria presidente do IMI).
O segundo caso é mais impressionante ainda. Em abril de 1924 o sensitivo-clarividente francês Pascal Forthuny obteve um “aviso” auditivo que o ordenava a procurar o Dr. Geley no IMI sem demora. Pascal devia comunicar que fora prevenido da morte próxima de um médico francês na Polônia, vítima de um desastre de aviação. Pascal procurou Geley imediatamente e lhe contou a premonição. Geley perguntou então quem seria tal médico, pergunta que Pascal não soube responder. Geley como homem de ciência anotou detalhadamente esse fato para posterior pesquisa e comprovação. Porém a comprovação veio, tragicamente, apenas alguns meses depois. Em 14 de julho de 1924, após encerrar uma série de sessões na Polônia com o médium Franek Kluski, o médico e pesquisador Gustave Geley, tentou retornar à França. A principio teve dificuldades em encontrar piloto que o acompanhasse, devido aos festejos da Revolução Francesa em Varsóvia. Porém, sem recordar da premonição à ele revelada por Pascal Forthuny, Geley tanto insistiu até que encontrou, finalmente, um piloto disposto a empreender a viagem.
Tão logo levantou vôo sobre Varsóvia o avião, por causas desconhecidas, caiu matando Geley e o piloto.
Geley merece de todos nós a admiração e o reconhecimento por sua dedicação, seu espírito cientifico e acima de tudo por suas preocupações éticas e morais, na busca de um mundo mais belo e melhor. Gostaria de terminar esse artigo com um pequeno extrato do pensamento filosófico de Geley, transcrito, em tradução livre, de sua obra: Del Inconsciente al Consciente:
“O mal não é resultado da vontade, da impotência ou imprevidência de um Criador responsável.
O mal não é tampouco o resultado de uma queda. O mal é companheiro inevitável do despertar da consciência. O esforço necessário para o passo do inconsciente ao consciente não pode deixar de ser doloroso. Caos, tentativas, lutas, sofrimentos; tudo isso é conseqüência da ignorância primitiva e do esforço por sair dela.
...O mal, em uma palavra, não é mais que a medida da inferioridade dos seres e dos mundos. E nas fases inferiores de sua evolução está a razão suprema deste bem supremo: a aquisição da consciência”. (Geley, G. – Del Inconsciente al Consciente, pág. 375, Casa Editorial Maucci – Barcelona – Espanha)
Fonte: Espiritnet - http://www.espiritnet.com.br/Biografias/biogust.htm
Permita-me discordar do título. Geley é magistral e seu livro Do Inconsciente ao Consciente é a maior obra pós-Kardec que temos até hoje. Todavia, Ernesto Bozzano conseguiu ser mais espírita que Geley, apesar de ambos declararem-se apenas "metapsiquistas".
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