sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Batismo para salvar-se

"SE VOCÊS, ESPÍRITAS, NÃO SÃO BATIZADOS, COMO É QUE PODERÃO SALVAR-SE?"

Por Celso Martins

Esta pergunta me foi feita por um amigo. Já houve quem me dissesse que o espírita deve batizar-se, sim, porque até Jesus o foi. A esta pessoa, baseando-me numa argumentação do médium e orador espírita José Raul Teixeira, respondi que João Batista batizou Jesus nas águas do rio Jordão; no entanto, Jesus a ninguém batizou. Demais, nós espíritas devemos procurar fazer tudo quanto Jesus fez, e não praticar tudo o que com Ele fizeram os homens porque, senão, neste descompassado, dentro em breve estaremos pregando em nosso semelhante uma cruz com uma coroa de espinhos!

Outros alegam que o batismo evita que se morra pagão. Ouvi muito esta afirmativa quando eu era criança. Aproveito a para explicar que a palavra vem do latim paganus e não designava, em absoluto, o morador do Pagus.

Quem informa é o ilustre catedrático paulista Silveira Bueno, católico convicto. Designava aquele que, para não servir na romana, fugia das cidades, ia residir nos campos longe de Roma. Quando o Cristianismo triunfou com a aliança dos líderes políticos com os líderes religiosos, ao tempo de Constantino, século III depois de Cristo, deu-se à palavra paganus uma nova semântica, um novo significado. Desde então pagão seria todo aquele que não desejasse servir nas milícias celestiais, todo aquele que não quisesse pertencer ao Catolicismo.

O batismo é um ritual muito mais antigo do que comum ente se pensa. Vem dos povos mais antigos, dos gregos, dos egípcios e dos hindus. As religiões tradicionalistas, ainda hoje, às panas do século XXI, insistem em conservá-lo, no que nada temos que ver. E um direito que elas têm e não seremos nós, os espíritas, que iremos cercear o lívre-arbítrio de quem quer que seja, desde que não haja prejuízo alheio. Só que a Doutrina Espírita pura e simplesmente dispensa este ritual. Ou qualquer outro ritual também como preces especiais, casamentos religiosos, oferendas ou coisas do gênero. Perdão se me torno repetitivo, porém penso como Napoleão, segundo o qual a mais importante figura da retórica é a repetição.

O meu missivista, como ia dizendo, indagava como é que o espírita iria salvar-se pois que não fora batizado. E porque talvez algum leitor amigo se defronte com esta mesma questão, atrevo-me sumariar a resposta enviada a ele. Devemos sempre fazer o devido esclarecimento espírita do assuntos que nos são apresentados.

Bem, pessoalmente, para usar de sinceridade, eu não aprecio esta palavra salvação, não. Prefiro a expressão redenção ou libertação espiritual, salvação, a meu ver, no que posso até estar errado, porque sou míope para longe e para perto, seria o oposto de perdição. Como não aceito a idéia de que Deus, definido por Jesus como Amor, deixe perder-se para sempre um de seus filhos, dou preferência à redenção ou libertação espiritual.

Mesmo porque Jesus declarou: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará."(João, cap. 8 vers. 32) O que liberta a criatura do sofrimento, decorrente da violação às leis divinas, é a prática genuína e desinteressada do BEM. É a vivência espontânea da fraternidade. É a vontade ardente de ver no semelhante um seu irmão para progredir, daí ser merecedor de melhores demonstrações de estima e consideração.

Neste contexto, cabem duas palavras acerca do preconceito. Do preconceito racial, por exemplo. Determinado confrade fez um teste com um grupo de espíritas. Cada um dos componentes daquela brincadeira deveria fechar os olhos e imaginar-se sendo assaltado. O leitor amigo poderá dizer qual foi a cor do assaltante imaginado pelos confrades espíritas envolvidos naquela experiência brejeira, porém, muito significativa !

O que liberta a criatura é a prática da CARIDADE, que, segundo uma definição do Irmão X, escrevendo pelo médium Chico Xavier, é servir sem descanso, é cooperar espontaneamente nas boas obras da comunidade, sem aguardar o convite ou o agradecimento dos outros, é não incomodar aquele que trabalha, é suportar sem revolta as limitações alheias, auxiliando o próximo a superá-las.

O que liberta a criatura da ignorância é a leitura de livros que nos dizem porque vivemos, para onde iremos depois da morte do corpo físico (se é que ele morre) pois em verdade até ele simplesmente se transforma). Contudo, não basta a leitura. É necessária a sua reflexão. Impõe-se a vivência dos seus ensinos. Pois como já reconhecia Daudet, quanta gente há, em cuja poder-se-ia escrever "para uso externo", como nas garrafas das farmácias. Quer dizer, ler por ler simplesmente não vale a pena. Mister se faz modificar o comportamento, ampliar o horizonte cultural, aprofundar a análise do porquê da vida e sobretudo, repito, vivenciar o que os bons livros nos ensinam em termos de crescimento moral e espiritual.

O que liberta a criatura de suas imperfeicões é o seu desejo de despojar-se de seus vícíos morais como a inveja, a cobiça, o ciúme, a ira, forcejando por ser mais paciente, mais humilde, mais prudente, mais humano diante das dores alheias, mais tolerante diante das falhas da outra pessoas, sem cair na alienação dizendo amém a tudo e a todos, com esta atitude muito cômoda concordando com erros que não podem de jeito nenhum contar com a nossa anuência.

O que liberta a criatura não é o batismo que recebeu em criança ou já adulto ao aceitar esta ou aquela seita religiosa. Não. O que liberta a criatura de seus erros do passado e de suas limitações atuais é este esforço diuturno de observar, na vida diária, tudo quanto o Cristo nos ensinou através da força do exemplo!

Fonte: Jornal Espírita - janeiro/08

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