Mostrando postagens com marcador Raul Teixeira. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Raul Teixeira. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de outubro de 2012

Analisando o texto "É Impressionante!!!"



Por Anderson Santiago

“Cada um (dos Espíritos) diz o que pensa e o que falam quase sempre é opinião pessoal; eis por que não é para acreditar cegamente em tudo o que dizem os Espíritos” – Kardec [2]

Já comentamos, em outras oportunidades, sobre o cuidado que devemos ter ao realizarmos a leitura de comunicações mediúnicas. Se com textos de autores encarnados, espíritas ou não, o nosso senso crítico deve estar sempre ativo, com as comunicações do além este cuidado deve ser redobrado. E não será a primeira vez que o texto do Espírito Inácio Ferreira será analisado.

Seu primeiro texto analisado foi “A Obra de André Luiz e a Física Quântica” onde ele se equivoca ao afirmar que André Luiz teria antecipado as conquistas atuais da física, notadamente da física quântica. O texto-resposta foi escrito em parceria com Alexandre Fontes da Fonseca. No segundo texto, “Emmanuelismo”, Inácio assume a incumbência de defender o Emmanuel de ataques que ele considera “pessoais”. Depois tenta vender a ideia de que o Emmanuel, Espírito-guia do Chico, seria o mesmo que possui uma mensagem publicada em O Evangelho segundo o Espiritismo. O texto foi amplamente analisado e vale a leitura.

E muitos outros textos ainda poderiam ser analisados. Entretanto, escolhemos este [1], por, mais uma vez, comprovar o acerto de Kardec ao nos aconselhar a termos muita prudência com toda e qualquer informação que venha quer do mundo espiritual. Eles falam o que pensam e nós não precisamos assinar embaixo em tudo o que vem deles. Neste texto, à semelhança daquele sobre Emmanuel ele pretende sair em defesa de Chico Xavier denunciando os desmandos doutrinários cometidos – ele também chega a afirmar serem desonestidades – contra o médium mineiro.

Primeiro o Inácio o defende contra as opiniões de que ele teria errado “ao dizer isto, ao escrever aquilo, tornando pública uma situação de lesa-Doutrina”, pelo fato de ter tido, o Chico, uma vida irretocável em todos os aspectos. Creio não precisar afirmar que este tipo de opinião é completamente ingênua, pelo simples fato de que uma análise fria da biografia do Chico nos demonstrará os inúmeros momentos em que ele errou e precisou retificar o seu erro.

Chico não foi um santo, foi um homem e como homem estava sujeito a erros! Este é um ponto que não canso de reafirmar, quando posso, devido às absurdas tentativas de santificação do Chico. Já não bastassem as romarias ao cemitério onde o seu corpo foi sepultado e ao museu que foi criado na casa onde ele viveu? Agora tudo o que ele escreveu ou psicografou deve ser considerado intocável? Isso sim é impressionante, pois nos leva a perguntar se somos espíritas mesmo. Posso afirmar sem medo que a falta de um aprofundamento doutrinário durante boa parte de sua vida foi o que permitiu que ele psicografasse e publicasse algumas [poucas] obras de conteúdo duvidoso. Para bom entendedor o Inácio realmente exagera ao transformar um pingo em uma letra distorcida. E o absurdo maior é insinuar que ele tem olhos e que a “terra” do lado de lá irá comê-los (no mundo espiritual existe Terra? E a questão dos inexistentes órgãos físicos no perispírito não já deveria estar superada por não ter sustentação ante os informes dos Espíritos da Codificação em todas as obras publicadas por Kardec? Além do mais, supõe o Espírito – ou ele quer reformular o Espiritismo? – que o perispírito é perecível? Ver o item 254 e 257 de O Livro dos Espíritos [3]).

Cometendo tantos equívocos [que duvido serem mesmo equívocos] como tentar sustentar que são os outros que querem induzir algo nas pessoas? Não posso dizer que o Chico copiava, ou plagiava, pois, conscientemente, não vejo motivos para isto. Aliás, discordo deste expediente. Entretanto, não posso concordar com este espírito ao levantar novamente o problema da suposta revelação andreluizina de mais de 40 anos atrás. Isso sim é sutileza maquiavélica! Será que ele não exagerou mesmo? Vale muito a pena verificar o que J. Herculano Pires tem a dizer sobre as obras de André Luiz e seu lugar diante da revelação espírita:
A obra de André Luiz é ilustrativa da revelação espírita e não propriamente complementar, no sentido de superação que o articulista propõe. É uma grande e bela contribuição nos estudos espíritas, mas sua pedra de toque é a codificação” [4].
Depois, elenca três observações contestáveis desde a primeira vez que foram publicadas. A primeira afirmação temerária é a de que Chico teria sido a reencarnação de Kardec. Não sei o por que desta insistência neste ponto, já que quando vamos realizar uma análise da biografia de ambos, buscando suas semelhanças e, se assim podemos chamar, ‘projetos reencarnatórios’, não encontramos pontos de contato, a não ser seu envolvimento com o movimento espiritista. Para muitos o “argumento” mais forte seria a previsão feita por Kardec e os Espíritos de que sua nova reencarnação se daria provavelmente no início do século XX. Entretanto, bem sabemos que isto não serve de confirmação pra nada. Sabe, para quem tem muitas dúvidas sobre este assunto, aconselho a estudar os livros de Hermínio Miranda, contidos na série “Mecanismos Secretos da História”, onde ele faz uma análise profunda, detalhada e criteriosa com a finalidade de demonstrar que as semelhanças de destino e a identidade de personalidade entre figuras como Hipácia, Giordano Bruno e Annie Besant, por exemplo, são encarnações de um mesmo espírito. Mas, Miranda não faz considerações apressadas, superficiais e nem baseadas em apenas uma “previsão” como a contida em Obras Póstumas.          

Quem tiver dúvidas, pode pesquisar dois livros em específico: Guerrilheiros da Intolerância e As Várias Vidas de Fénelon. Perceberão os leitores, a dificuldade que envolve tal trabalho, mas, acima de tudo, terão a oportunidade de compreender porque Chico não é a reencarnação de Kardec. E aceitarão que afirmações como estas do Espírito Inácio são irresponsáveis, por querer se fundamentar em certa vantagem que teria o Espírito só por estar morto e ter “acesso aos arquivos espirituais” que contariam a estória verdadeira. Observemos bem que ele pede apenas para crermos no que ele diz, sem provar que o que diz está certo fundamentado em uma pseudoautoridade que poderia ter só por estar morto e do outro lado da vida...

A sua segunda observação insere-se no contexto da primeira no que podemos chamar de afirmação temerária e sem fundamento. E lembrando a opinião de Herculano Pires, conquanto seja interessantíssima e muito importante para os estudos espíritas, a obra de André Luiz, não se configura como ensino universitário diante do Jardim da Infância que seriam as obras de Swendenborg, Dale Owen [chamado por Ferreira de Vale] e Stainton Moses, e, porque não, da própria Codificação. Pois é isto o que este espírito quer dizer, insinuando-se desta forma. E o dirá claramente ao final do seu texto. Mas, repetimos que a obra de André Luiz por mais importante que seja só tem valor real quando tocada pela pedra de toque da Codificação. E não o contrário. Até porque muitas informações dadas por André Luiz não condizem com os princípios espíritas, se não forem alvo de uma análise acurada. Exemplo: sabendo que não podemos compreender as necessidades dos Espíritos baseando-nos nas nossas, pelo simples fato de não terem os Espíritos órgãos físicos e sentidos sensoriais como os nossos, como poderiam eles dormir e comer no mundo espiritual? Qualquer dúvida é só olhar aqueles dois itens de O Livro dos Espíritos para início de conversa. Só isto evidencia que não podemos ser levianos e apressados na leitura e divulgação de qualquer informação mediúnica.

A terceira observação se insere neste movimento reflexivo que estamos fazendo. Para o Inácio, no fim, querem apenas reduzir Chico a um mediunzinho qualquer. Eu discordo. Excetuando-se aqueles que só conseguem denegrir, os demais, em sua imensa maioria, querem apenas que Chico seja o que foi, nem mais, nem menos. Alguns médiuns, palestrantes, adeptos do Espiritismo e Espíritos desencarnados é que querem pôr lenha na fogueira e transformar o Chico em um santo!! Ignoram que Kardec nunca pôs um médium sequer em evidência, pois, na opinião de Kardec
“Os nomes dos médiuns não acrescentariam, aliás, nenhum valor à obra dos Espíritos. Sua citação seria apenas uma satisfação do amor-próprio, pelo qual os médiuns verdadeiramente sérios não se interessam. Eles compreendem que, sendo puramente passivo seu papel, o valor das comunicações não aumenta em nada o seu mérito pessoal, e que seria pueril envaidecerem-se de um trabalho intelectual a que prestam apenas o seu concurso mecânico” [5].
É exatamente isto o que fazem os médiuns hoje em dia? Ocultam-se e deixam a obra dos Espíritos falarem por si mesmas? Ou vangloriam-se eles e autografam livros que NÃO FORAM obra de sua inteligência nem do seu esforço como se seus fossem? Quantos não buscam apenas isto: a satisfação do seu amor-próprio e não a defesa da causa espírita? Seria isto que Inácio queria fazer com o Chico ao não querer reduzi-lo a um mediunzinho qualquer? E a opinião de Kardec neste ponto deve ser considerada ultrapassada também?

Entretanto, a sua ousadia não para por aí. Valendo-se apenas de sua “autoridade de espírito desencarnado e cheio de vícios” ele afirma que “Não fosse a Obra Mediúnica de Chico Xavier, com toda a nossa reverência a Kardec, a sua seria uma obra de mais de 150 anos atrás!” Ou seja, Kardec está ultrapassado e as obras psicografadas por Chico são a sua atualização excepcional... Será que preciso mesmo refutar opinião tão bem fundamentada e criteriosa? Será que o Inácio simplesmente esqueceu que a obra não é de Chico, mas dos Espíritos? E que qualquer erro contido nelas não pode ser atribuído ao Chico e sim a eles, os Espíritos? Aqui vale citar a opinião de Alexandre F. Fonseca sobre a obra psicografada por Chico de autoria dos Espíritos:
“A obra mediúnica de Chico Xavier, mesmo diante de todo o seu valor moral, literário e até científico, apenas possui o caráter da revelação divina ou religiosa, pois o seu conteúdo não foi fruto da observação, investigação e pesquisa de nenhum encarnado. Chico foi o intermediário dos bons Espíritos para aprofundamento das verdades espirituais, todas elas de acordo com o Espiritismo e embasadas no mesmo. Isoladamente, as obras do Chico jamais constituiriam uma doutrina com o mesmo valor e caráter que o Espiritismo possui, simplesmente por não satisfazer o caráter científico de uma revelação” [6].
Por tudo o que já escrevemos nos artigos anteriores, só podemos lamentar que opiniões equivocadas e maquiavélicas como estas estejam sendo publicadas. Chamo de maquiavélicas porque não pecam pela ingenuidade, mas, pela perversidade em querer impor uma opinião sem fundamentos nem argumentos lógicos e coerentes, apenas uma suposta pseudoautoridade que teria este Espírito só por ser Espírito... Dê ele os pinotes que quiser, essa é que é a pura verdade!

Por fim, respeitar a memória do Chico é também não transformá-lo naquilo em que ele nunca cogitou. Seria uma honra ele ser a reencarnação de Kardec, entretanto, ele não é. E isto não o diminui como ser humano nem como médium. E não sou eu, apenas, que penso assim. Richard Simonetti, J. Raul Teixeira e Dora Incontri, para citar três personalidades que já analisaram e opinaram sobre o tema. Chico não precisa [e nem pode] ser Kardec para que o respeitemos, admiremos e respeitemos. Nem Kardec dá pra ter reencarnado como Chico, pois a única semelhança aceitável entre ambos seria a participação no movimento espírita, e só. Querer mais é ignorar os princípios espíritas e agir mais por idolatria [ao Chico] do que racionalmente [como Kardec]. E mais uma vez, muito cuidado com o que lê na internet, caro leitor, principalmente se foi psicografado [ou psicodigitado] por algum espírito.

Referências:

[1] O texto “É Impressionante!!!” pode ser lido clicando neste link: http://inacioferreira-baccelli.zip.net/arch2012-08-01_2012-08-31.html, em postagem do dia 20 de agosto.
[2] A citação de abertura do texto pode ser lida aqui: PIRES, J. Herculano. Introdução ao Espiritismo. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2009, p. 145.
[3] A questão [e as dúvidas] sobre a materialidade do perispírito e da existência de órgãos materiais nele já deveria estar superada. Kardec foi explícito o suficiente sobre o tema e as questões 254 e 257 de O Livro dos Espíritos não esgotam o tema. Vale uma pesquisa por toda a codificação, especialmente nas Revistas Espíritas para uma mais profunda compreensão do tema.
[4] RIZZINI, Jorge. J. Herculano Pires – O Apóstolo de Kardec. 1ª Ed. SP – Ed. Paidéia, 2001, p. 245.
[5] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 63ª Ed. SP, LAKE, 2007, p. 15.

Nota: Seguem os links com as opiniões de Raul Teixeira e Dora Incontri sobre a questão do Chico não ser Kardec para que o leitor possa ler na íntegra as suas opiniões.

Simonetti: http://www.richardsimonetti.com.br/pingafogo/exibir/14

Retirado do blog "Análises Espíritas" - http://analisesespiritas.blogspot.com.br/2012/10/analisando-o-texto-e-impressionante.html

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Movimento Espírita: "Alvo das investidas das sombras organizadas"

Por Artur Felipe Azevedo

O espírito Camilo, através da psicografia de José Raul Teixeira, fez um alerta muitíssimo pertinente intitulado "Uma Reflexão sobre o Movimento Espírita", constante da obra "Desafios da Educação"(Editora Fráter).

Como o prezado e atento leitor poderá notar, a citada entidade espiritual analisa detalhadamente a quantas anda o Movimento Espírita em vista da falta de estudo e conhecimento do Espiritismo, resultando na tentativa de enxertias e desvios de todo tipo, incentivadas pela espiritualidade inferior, interessada em promover o sincretismo e a confusão em nossa fileiras.

Leiamos com atenção e vejamos a estreita conexão com aquilo que analisamos aqui neste blog.

Inicialmente, a nobre entidade fala sobre a excelência da mensagem espírita e da grandiosa figura do Codificador Allan Kardec e sua preocupação com a UNIDADE doutrinária.

"A excelente Mensagem Espírita chega ao mundo como refrescante e iluminada aurora, anunciando um dia novo de bençãos para o planeta, atendendo as imensas carências da alma terrestre, que vivia a braços com as trevas ocasionadas pelo absolutismo materialista, que tem seus fundamentos balançados, em razão das Vozes altíssimas e claras que rasgaram o silêncio dos túmulos, para invadir os ouvidos da Humanidade inteira.

Como chuva bondosa, a Doutrina Espírita penetra o solo ressequido das almas, onde, a partir de então, as sementes nobres dos ensinamentos do Mundo Superior teriam toda a chance de germinar e medrar, estabelecendo ventura e progresso.

Eram novos tempos para a cultura e para a fé, que, agora, irisadas por luzes espirituais que se mostravam diante de todos, formulando convite ao espírito humano para um pensamento mais alto.

No centro das ocorrências, destaca-se a figura augusta do professor Rivail, universalmente conhecido como Allan Kardec, e na sua visão de espírito de escol, sabia e afirmava que seria ponto de honra para o desenvolvimento da Mensagem na Terra a manutenção da unidade. Seria indispensável que em toda parte, onde surgisse um núcleo de estudos do Espiritismo, se pudesse falar a mesma linguagem, sem que houvesse riscos de ser ele desfigurado, sem riscos de que viesse a sofrer enxertias, o que seria descabida ocorrência no bojo de uma doutrina de tamanha lucidez. A preocupação do Codificador, porém, dizia que tais dificuldades eram passiveis de ocorrer."

Prosseguindo, o espírito Camilo comenta sobre o crescimento do Movimento Espírita e faz um alerta:

"O tempo passa, as atividades em torno da Doutrina Espírita são desenvolvidas com rapidez. Da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, aos dias atuais, podem-se contar por milhares as instituições levantadas no mundo em nome da Veneranda Doutrina. Do pequeno grupo de almas dispostas, que ladearam o Codificador, suportando toda agrestia e fereza dos primeiros preconceitos até hoje, quando se torna status importante dizer-se espírita, há quase um século e meio de modificações na mentalidade geral.

À semelhança do que ocorreu com a primitiva comunidade dos Apóstolos de Jesus, que foi perdendo em qualidade à medida que se foi expandindo, se popularizando e ganhando notoriedade através do prestígio político de Roma, as atividades ao redor do Espiritismo - o Movimento Espírita - foi tomando contornos preocupantes em todo lugar, na proporção do seu agigantamento acompanhado pelo desconhecimento declarado dos seus fundamentos."

Como pudemos perceber, Camilo aponta o desconhecimento decorrente da falta de estudo do Espiritismo como razão principal para a perda de qualidade que se nota em todo lugar no que tange à prática doutrinária, tal qual ocorreu com o Cristianismo, que em praticamente nada se assemelha àquilo que foi legado por Jesus.

"Allan Kardec, valendo-se do seu inesgotável bom senso, estabeleceu que o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, significando que, não sendo impositiva, oferece ao indivíduo que vai ao seu encontro todas as possibilidades de discussão e de análises, até que tenha podido compreender suas bases, de modo a vivê-las com claridade mental e segurança. Tristemente, muitos pensaram que tal condição de Mensagem lhes permita adaptar os seus preceitos doutrinários aos próprios gostos e tendências, sem causarem problemáticas adulterações no trabalho de profunda coerência dos Numes Tutelares da Terra."

Realmente perfeita a colocação do espírito Camilo. Muitos acham que podem adaptar seus atavismos ao corpo doutrinário espírita, demonstrando, com isso, total incoerência. Se não encontram-se satisfeitos com o Espiritismo, e não sendo esta uma Doutrina exclusivista e impositiva, nada mais sensato que dedicarem-se aos seus movimentos religiosos, deixando a prática espírita livre de adulterações e enxertias descabidas.

"Referiu-se o Codificador à compreensão do Espiritismo dizendo que quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das suas idéias (Kardec, A. O Livro dos Espíritos, introdução, parte VIII). Lamentavelmente, porém, muitos admitiram que poderiam falar e agir em seu nome, sem o mínimo de estudo de sua doutrina, na pressa inconsequente por obter fenômenos que bem podiam ser buscados fora dos arraiais espíritas, o que não vincularia a possível má qualidade ou a sua impostura ao respeitável estatuto espiritista.

Os abnegados Prepostos do Cristo ensinam na Codificação que o ensino dos espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão (O Livro dos Espíritos, questão 627). Desafortunadamente, indivíduos oriundos dos mais diversos territórios intelectuais, das mais variadas regiões morais, com as mais estranhas idiossincrasias, atiraram-se a propor alterações doutrinárias, a fazerem adaptações inconsistentes quão perigosas, introduzindo idéias e práticas francamente estranhas aos textos e contexto da Doutrina. São muitos os que, ignorantes, vão mantendo outras criaturas no seu mesmo nível, abominando estudos, detestando análises, impossibilitando a aeração dos movimentos do raciocínio. Um grande número não crê no que o Espiritismo expõe, mas se vale da atenção dos crédulos e ingênuos, sempre abundantes, para impor as suas próprias fantasias que trata de envolver com as cores da Veneranda Doutrina, porque sabe do desvalor do produto que oferece querendo adesões que lhe incense a vaidade.

Nenhum problema provocaria o indivíduo que criasse uma ordem de idéias, uma doutrina pessoal e que a defendesse com insistência, em seu nome mesmo, e a partir disso cobrasse atendimento, forjasse distintivos, premiações, imagens de "santos" encarnados, liturgias sacramentais e ordenações. Toda a sua prática seria buscada e seguida pelas almas que sintonizassem com isso, como deparamos no mundo dos intocáveis ismos , personalizados e personalistas, arrebanhando grupos imensos de fanatizados, que pagam bem caro para comprar um lugar no céu..., conforme a promessa dos seus líderes."

Camilo cita aquilo que também defendemos: sigam a quem quiserem e aquilo que bem entenderem, têm todos esse direito, mas aqueles que se dizem espíritas devam cuidar para que o Espiritismo mantenha-se livre de misturas, atavios e enxertias, permanecendo claro e límpido conforme nos foi legado pela Espiritualidade Superior.

"Quanto ao Espiritismo, porém, as coisas devem ser diferentes. Não havendo obrigação da pessoa ser espírita; inexistindo qualquer ameaça infernal para quem não aceite sua orientação; não se prometendo premiações celestiais a quem quer que seja e sendo uma escolha livre da criatura, em meio de tão diversificadas opções, torna-se imprescindível que quem queira ser espírita se despoje dessa terrível vaidade de que querer que as coisas sejam a seu gosto, ao invés de ajustar-se aos espirituais ensinamentos da Grande Luz. Imprescindível que o sincero espírita assuma, de fato, a disposição de melhorar-se com o conteúdo assimilado das lições do Infinito, pelejando para domar as suas inclinações inferiores."

No trecho a seguir, Camilo fala da estratégia da espiritualidade inferior para aniquilar o Movimento Espírita:

"Com tristeza, percebe-se hoje que o Movimento Espírita, que dispõe de tudo o que a Doutrina Espírita lhe brinda para ser amadurecido, pujante e avançado, tem sido alvo das investidas das Sombras organizadas e se encharcado com seus conteúdos peçonhentos e danosos. Daí, são núcleos criados para reverenciar personalidades vaidosas, que não abrem mão da relação de vassalagem; são instituições montadas somente para atender os corpos, sem qualquer compromisso com o espírito imortal que permanece vagueando nas trevas de si mesmo; são casas erguidas para desfigurar o pensamento espírita, em razão das mesclas implantadas com doutrinas, filosofias e práticas orientalistas ou africanistas que, mesmo merecendo respeito, têm propostas bem distintas das do Consolador."

Tais observações de Camilo não poderiam ser mais claras: a ênfase em trabalhos de cura de corpos em detrimento do estudo da Doutrina; a inserção de práticas orientalistas e africanistas; a idolatria a personalidades vaidosas e centralizadoras, encarnadas e desencarnadas, tidas como detentoras exclusivas da Verdade... Tudo isso com o velado objetivo de desfigurar o Espiritismo.

"Ainda em nosso Movimento Espírita, se há confundido o caráter universalista do Espiritismo com uma infausta tendência agregacionista, pois, ao invés de o pensamento espírita ajudar a ver o mundo dentro da óptica da Vida Superior, para que o indivíduo saia do nível das considerações meramente materiais, vê-se que tudo que é encontrado de "interessante" mundo afora, deseja-se agregar ao Espiritismo. Cânticos, terapias, experimentações psíquicas diversas, mantras, vestuário, jargões, festividades de gosto execrável e coisas outras ocupando variado espectro, têm despontado aqui e ali, em nome da Doutrina Espírita. E o que é mais contristador, é que tudo isto se dá diante da postura inerme dos que aceitaram responsabilidades diretivas das quais não dão conta. Tudo isto tem sido acompanhado com o consentimento dos que dirigem, coordenam, "orientam"..."

Exatamente como pensa a seita ramatisista: tudo crêem devam incorporar ao Espiritismo, em nome de um suposto "universalismo", que, na verdade, não passa de confusão sincrética oriunda de atavismos e falta de aprofundamento e entendimento da proposta doutrinária espírita. Disseminam aos quatro cantos que Kardec (entenda-se a Codificação) estaria ultrapassado, como se as verdades universais fossem mutáveis, ao mesmo tempo que desejam inserir no Espiritismo as crendices e superstições cujam origens remontam milhares de anos, quando a civilização achava-se em sua infância. E quando chamados a atenção, colocam-se na posição de vítimas, de perseguidos, raivosamente alegando "falta de caridade" daqueles que lutam pacificamente pela manutenção da unidade doutrinária. No entanto, como bem disse o espírito Camilo, falta de caridade é justamente nada fazer e tão-somente observar o crescimento dessas estranhas idéias em nosso meio.

Conclui Camilo, magistralmente:

"Afirmou o Celeste Guia que ninguém pode servir a dois senhores...

Estabeleceu o Excelso Mestre: Seja o vosso falar sim, sim, não, não...

Informa o Espírito da Verdade: Deus procede ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente.

Vale a pena refletir em todos esses brilhantes dizeres e nessas imagens tão expressivas dos mentores da Humanidade. A hora é, incontestavelmente, de testemunhos difíceis, e quem ainda não se sinta em condições de tomar do conteúdo da luminosa Revelação e dar-lhe impulso positivo, fazendo-a útil a si e aos irmãos do caminho, comece ou recomece o esforço íntimo para o fortalecimento da vontade de crescer, de despojamento do comodismo do homem velho, uma vez que Jesus Cristo confia nos empenhos das suas ovelhas, e conta que esses empenhos sejam verdadeiros, para que o seu devotamento não seja tão somente aparência, a fim de que se possa, então, construir um Movimento Espírita vívido e forte, capaz de representar as excelências do Espiritismo vivenciado e sofrido, se necessário, através das ações e convicções dos seus seguidores fiéis."

Retirado do blog "Ramatis - Sábio ou Pseudosábio?"

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de junho de 2009

ENTREVISTA - Raul Teixeira - Os Perigos das Obras Mediúnicas Duvidosas

12:04 Posted by Fabiano Vidal , , ,

Entrevista concedida à revista "O Consolador".

O Consolador: Qual deve ser a atitude dos dirigentes espíritas relativamente a essa enxurrada de obras mediúnicas de origem duvidosa, que tem infestado o mercado de publicações espíritas nos últimos tempos? Será que Kardec, no seu tempo, ficaria calado diante dessas obras?

RAUL: Acredito que num período em que o planeta está vivendo tormentos de todos os tipos, confirmando o que considera Allan Kardec, em seu livro A Gênese, ao afirmar que, hoje, não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade, não poderia o nosso Movimento Espírita estar livre dessa avalanche atormentadora de más influências, seja de indivíduos aventureiros e insanos ─ que anseiam por vitórias passageiras e/ou lucrativas, sem a necessária consciência do tipo de semente que estão plantando para colheita complexa no porvir ─ seja de entidades desencarnadas que continuam zombando dos esforços da Luz, das Falanges Crísticas, que visam desfazer as sombras que se demoram sobre a Terra.

Na medida em que os dirigentes espíritas vão se tornando mais lúcidos e, por conseguinte, mais coerentes com os princípios do Espiritismo, conseguem dar-se conta de que qualquer obra que divulguemos em nome da nossa Doutrina deve ter a chancela do bom senso kardequiano. Compreenderão que não vale oferecer ao grande público tudo o que vai surgindo no mercado livresco porque tenha o título de obra mediúnica ou espírita, a fim de obter o tão esperado “lucro”. Primeiro, porque nem tudo o que é mediúnico tem que ser espírita, já que a mediunidade não é patrimônio do Espiritismo. Segundo, porque o critério utilizado pelo Codificador do Espiritismo para a seleção e publicação de textos é bastante rigoroso, indiscutivelmente responsável. Sempre que alguém se põe a publicar e a comercializar produtos sem qualidade genuinamente espírita, no mínimo comete o erro de lesa-verdade espírita, o que ao longo do tempo deve acarretar muitas coisas graves nas mentes dos que as leem sem os necessários filtros do conhecimento dos livros de Kardec.

Com relação a Allan Kardec, estou certo de que não aceitaria tal fato com a passividade que temos encontrado no nosso Movimento, uma vez que são muitos os dirigentes, nos mais variados níveis de responsabilidades, que não têm coragem de afrontar o status quo vigente nesse campo literário, seja para não terem aborrecimentos e se pouparem das investidas retaliadoras dos interessados na manutenção do que acontece agora, seja porque também não dispõem do necessário senso crítico para ver os elementos antiespíritas ou inverídicos que tais obras contêm.

É na Revista Espírita, publicada por Kardec no mês de maio de 1863, quando ele faz um exame das comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas, que encontramos suas palavras dizendo: Em grande número encontramo-las notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos que as assinam. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. Vemos, assim, que o Codificador do Espiritismo tomava posição e se pronunciava a respeito com a firmeza que o caracterizava.

Temos lido livros ditos mediúnicos onde são apresentados o chulo da pornografia, das descrições libidinosas, fantasiosas descrições que não suportam o crivo da razão espírita, ao lado de outras coisas sem nexo, sem sentido para o processo de renovação e crescimento da criatura humana, sob a ótica do Consolador. Vejamos o que escreve Kardec no texto supracitado: Para começar convém delas afastar (das massas) tudo quanto, sendo de interesse privado, só interessa àquele que lhe concerne. Depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas ideias, ou pueril pelo assunto. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal; mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Infelizmente o homem é inclinado a supor que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros. O mais hábil pode enganar-se; tudo está em enganar-se o menos possível. Há Espíritos que se comprazem em alimentar a ilusão em certos médiuns. Por isso nunca seria demais recomendar a estes não confiar em seu próprio julgamento. É nisso que os grupos são úteis: pela multiplicidade de opiniões que podem ser colhidas. Aquele que, neste caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais esclarecido que todos, provaria superabundantemente a má influência sob a qual se acha.

Vale a pena continuar a ler o que nos diz o Codificador, Allan Kardec sobre o tema em apreço: Aplicando estes princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há mais de 300 para publicidade, e apenas cem de um mérito inconteste. Essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes. Inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode julgar-se da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se se quiser atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo.

Bem entendemos, pois, que Kardec não se acomodaria silenciosamente, como não se acomodou em sua época. Hoje em dia nos deparamos com um espírito acomodatício em nosso Movimento, o que se mostra indicativo do descompromisso de muitos com a grandeza e clareza do Espiritismo, nada obstante continuem ocupando as mais diversas posições nos seus campos de atividades.