domingo, 30 de maio de 2010

Controles Bem Seguros

Por Orson Peter Carrara

Sabemos todos, pelo estudo da Escala Espírita, apresentada por Kardec em O Livro dos Espíritos (questão 100), que os espíritos pertencem a diferentes estágios de moralidade e intelecto, estágios estes alcançados pelo próprio esforço e pela força do progresso que é lei para todos. O entendimento prévio da importante classificação apresentada pelo Codificador evita possíveis decepções quanto às manifestações, fenômenos e pseudo-orientações apresentadas no intercâmbio com os encarnados. Uma vez sabedores dessas diferenças, estaremos prevenidos contra tentativas de mistificação e fraude por eles arquitetadas. E igualmente estaremos portando um bom nível de discernimento na recepção de orientações que surjam através de médiuns.

Na Revista Espírita, de julho de 1859, no Pronunciamento do Encerramento do ano social 1858-1859, feito por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, dentre os vários assuntos focados, destacamos trecho de máxima importância para nossas reflexões: “(...) saibam, pois, que tomamos toda opinião manifestada por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de tê-la submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência espírita nos fornece, meios que todos vós conheceis. (...)”.

Observemos a curiosa observação de Kardec: “controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência espírita nos fornece”. A lógica sugere e solicita que tudo que venhamos receber dos espíritos, por via mediúnica, seja submetido à avaliação do raciocínio, do bom senso. Se fugir disso, que seja rejeitado.

Como orienta Erasto: “(...) Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. (...) (capítulo XX, item 230 de O Livro dos Médiuns).

Sob o ponto de vista da investigação, eis aí um critério que qualquer estudioso espírita pode efetuar com tranqüilidade: basta observar atentamente o que ocorre à nossa volta ou venha dos espíritos. A investigação, sugerida pela Ciência Espírita, é exatamente submeter todos os fenômenos e ocorrências mediúnicas (e até mesmo anímicas, acrescentamos) ao critério dos fundamentos e princípios apresentados pelo Espiritismo. Estão coerentes? Ferem os fundamentos doutrinários? Sem esquecer que, simultaneamente, podemos também efetuar pesquisa, através de anotações, acompanhamentos e métodos de experimentação.

São, pois, controles bem seguros: controle da lógica e investigação dos fatos. Estes são a comprovação daquilo que se pesquisa ou se busca. A lógica, por sua vez, coloca frente a frente o fato com a referência que o raciocínio oferece, sempre como fruto da observação, da experiência e da própria história e fundamentação dos reais fenômenos das manifestações dos espíritos.

Apoiados nestes dois critérios, não há o que temer, desde que nos desarmemos da negação simplesmente por negação, das implicâncias e preferências de ordem pessoal e nos coloquemos no neutro terreno de quem quer conhecer e aprender, descobrir e investigar pelo prazer de aprimorar o conhecimento.

A propósito da publicação desta abordagem na edição comemorativa do centenário deste mensário, é oportuno recordar que Cairbar Schutel – seu fundador –, publicou o livro Médiuns e Mediunidades, justamente estudando a questão mediúnica e com embasamento em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec.

Na Exposição Preliminar, Cairbar declara: “(...) em vez de ser uma explanação, com larga dissertação de O Livro dos Médiuns, esta obra é dele um resumo. (...) O Espiritismo, exposto aos leitores em síntese, tal como o fazemos, proporciona duas vantagens bem nítidas: primeira, a de dar àqueles que nos lêem a expressão nítida, clara, racional da sua doutrina, que abrange as esferas religiosa, filosófica e científica; segunda, a de guiá-los a mais altos empreendimentos, infundindo-lhes nas almas o desejo de aprofundar a Revelação nova, que veio iniciar uma nova era no progresso dos povos. Tal é nosso intuito ao lançar à publicidade este livrinho, em cujas páginas, estamos certos, os leitores encontrarão alguma coisa de proveito (...)”

Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, edição de agosto de 2005.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Os Cavalos de Tróia do Espiritismo

Por Artur Felipe Azevedo

Segundo conta a lenda, os troianos acreditaram que um grande cavalo de madeira teria sido dado a eles de presente pelo exército grego como sinal de rendição após uma longa e sangrenta guerra. No entanto, tudo não passou de uma grande ideia de Odisseu, um sagaz guerreiro, que pensou numa maneira de entrar em Tróia sem despertar a desconfiança dos inimigos troianos. Recebido com festa e júbilo, o grande cavalo na verdade abrigava dezenas de soldados em seu interior, que, já bem tarde da noite, aproveitando-se do cansaço e da ressaca provocada pelos intensos festejos troianos, saíram de seu esconderijo, abriram os portões da cidade aos outros milhares de soldados escondidos do lado de fora que tomaram a cidade, logo após saqueando-a e incendiando-a.

Pois bem, nada muito diferente desta conhecida história tem ocorrido com o Movimento Espírita praticamente desde que o Espiritismo deu, na França, seus primeiros passos.

Inicialmente, o Espiritismo teve de lutar contra seus inimigos externos: os materialistas, os chefes da Igreja, e os céticos em geral, todos interessados em destruí-lo, ou por vê-lo como uma ameaça aos seus interesses de domínio e poder, ou por mero escárnio e aversão à reforma ético-moral que a mensagem espírita trazia, desde o princípio, em sua filosofia.

No entanto, a maior luta que o Espiritismo teve e tem travado tem sido contra seus inimigos internos, ou seja, aqueles que dizem ocupar suas fileiras, mas que, na verdade, tais quais os gregos, nada mais intentam, conscientemente ou não, que destruí-lo.

O Primeiro de Todos

O primeiro cavalo de tróia inoculado, tal qual um vírus letal, em nosso meio, foram as ideias docetistas, ressuscitadas por um certo advogado bordelense chamado J.-B. Roustaing com a colaboração de uma (única) médium chamada Emillie Collignon, que pensaram poder solapar a obra kardequiana de uma só vez através de ditados mediúnicos supostamente advindos dos evangelistas Mateus, Marcos, João e Lucas, sob a também suposta coordenação do Espírito Moisés.

De posse de tais suspeitas comunicações, eivadas de erros crassos e ideias absurdas, de forte influência do pensamento católico, Roustaing compilou a obra "Os Quatro Evangelhos – Espiritismo Cristão, ou Revelação da Revelação", que publicou em 1866, a qual foi imediatamente contestada por Allan Kardec. Com a negativa de Kardec de aceitar prontamente o inteiro teor da referida obra, Roustaing e seus partidários duramente atacaram o Codificador nas páginas suprimidas do prefácio de "Os Quatro Evangelhos", de 1920, com ironia e desdém, acusando o codificador de ser o "chefe", o "mestre" de uma "igrejinha com seus corrilhos, entregue a lutas liliputianas". Ficava, pois, evidente, conforme muito claramente explica Sérgio Aleixo em sua obra "O Primado de Kardec", "... a patente rivalidade, a exagerada conta em que Roustaing e seus discípulos tinham sua própria "escola", supostamente tão superior à de Kardec a ponto de poder substituí-la. Àquela época, o cisma rustenista era confesso. Proclamavam: "Cismas há atualmente; ninguém tem o poder de impedi-los".

Nos dias de hoje, as ideias rustenistas, apesar da pouca vendagem e penetração de sua supra-citada obra basilar, estão presentes em obras editadas pela FEB - Federação Espírita Brasileira, tais como os best-sellers "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", "O Consolador" e "Voltei", além de outras menos conhecidas, porém não menos perigosas "obras-primas" do pensamento neo-docetista, como "Elucidações Evangélicas", "Elos Doutrinários", "A Vida de Jesus", "O Cristo de Deus", entre outras.

O conjunto de teses antidoutrinárias defendidas pelo roustainguismo (ou rustenismo) incluem, por exemplo:

1- A crença que Jesus teria revestido um corpo fluídico e nascido de uma virgem, tornada grávida apenas aparentemente;

2- A defesa da metempsicose, i.é, que o espírito possa reencarnar na condição de animal, mais especificamente como "larvas informes” e chamadas "criptógamos carnudos", "uma massa quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja ou antes desliza, tendo os membros, por assim dizer, em estado latente". (Os Quatro Evangelhos, 1.º vol., n. 57 a n. 59, p. 307-313.);

3- A antidoutrinária tese de que "a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo; [...] em princípio, é apenas consequente à primeira falta, àquela que deu causa à queda". (Os Quatro Evangelhos, 1.º vol., n. 59, p. 317 e 324.)

O Ramatisismo

Não muito diferentemente da estratégia rustenista, o Ramatisismo trouxe antigas ideias do antigo espiritualismo oriental travestidas de novidades, desta feita explorando a tendência místico-esotérica, em lugar das teses do Catolicismo Romano e de seitas cristãs dos primeiros séculos depois de Cristo defendidas por Roustaing e seus adeptos.

Igualmente valendo-se de um único médium, o advogado e contador curitibano Hercílio Maes, de formação teosofista, o espírito Ramatis, que segundo alguns, aparece vestindo um turbante com uma esmeralda e uma túnica ao estilo hindú, defende um certo "universalismo eclético", capaz, segundo ele, de enriquecer o corpo doutrinário espírita. Alegando ter fundado santuários iniciáticos no século X na China e na Índia, teria desencarnado ainda moço. Alega também ter tido posições de destaque na mitológica Atlântida, no antigo Egito e na Grécia, além de ter convivido com Jesus e Kardec. Com base nessa suposta ligação com o primeiro, ditou o livro "O Sublime Peregrino", com o qual intenta descrever detalhes da passagem do Cristo pelo planeta, na tentativa de passar ao leitor autoridade e conhecimento. Seguindo a mesma estratégia de convencimento, dita ainda a obra "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", que passa a ser coqueluche nos idos de 1950, justamente quando surgem os primeiros filmes sobre ETs e vida em outros planetas. Seu minucioso relato sobre a vida e a topografia marcianas, no entanto, sofre duro abalo, já que, anos depois, sondas não-tripuladas chegam ao planeta e descrevem uma paisagem inteiramente diferente àquela constante da referida obra.

Embora não se auto-intitule "espírita", Ramatis procura incutir ao leitor a noção de que se encontra acima daquilo que chama de "rótulos" e "convenções humanas", ao mesmo tempo que seus ditados, estranhamente, se destinam quase que exclusivamente ao leitor espírita. Ousadamente, Ramatis chega a afirmar que o Espiritismo naufragará, caso seus adeptos relutem em aceitar os elevados princípios e ensinos do espiritualismo oriental. Por conta disso, os centros ramatisistas, boa parte ostentando o nome "espírita" em suas fachadas, veiculam conceitos e práticas estranhas ao Espiritismo, embora digam seguir Kardec, além de Jesus e, claro, o próprio Ramatis, alçado à condição de última palavra em termos de revelação espiritual.

Onde está a concordância?

Aprendemos em "O Livro dos Médiuns" que os Espíritos Superiores jamais se contradizem. Levando-se em conta tal premissa, logo chegamos à conclusão que, entre Roustaing e Ramatis, pelo menos um deles está errado, já que essas duas "escolas" defendem princípios completamente diferentes entre si. Ramatis, inclusive, chega a afirmar que a principal tese rustenista, a do corpo fluídico de Jesus, "é ainda um reflexo dos efeitos seculares adstritos aos dogmas, milagres, mitos e tabus copiados da vida de diversos precursores de Jesus" (O Sublime Peregrino, Cap. VII, A natureza do Corpo de Jesus). Não obstante, lança sua própria tese de que Jesus fora discípulo dos essênios, tendo aprendido com eles, e que, ao mesmo tempo, foi médium do Cristo, "uma entidade espiritual arcangélica", algo que, em momento algum, encontramos em Roustaing.

Portanto, vemos aí uma batalha ideológica entre espíritos unicamente interessados em fazerem prevalecer suas ideias e opiniões isoladas, com as quais acabam por provocar a cizânia, a divisão e a desinteligência nas fileiras espíritas que, teoricamente, deveriam manter-se fiéis, por mera questão de coerência, ao Espiritismo e à Codificação Espírita, conjunto de obras que passaram pelo crivo da universalidade e concordância, além de terem sido supervisionadas pelo insígne e autêntico missionário Allan Kardec, cujas credenciais todos conhecemos e das quais possuímos inúmeros exemplos positivos e factuais.

Conclusão

Muitos indagam como podem os Espíritos Superiores, ou mesmo Deus, permitirem que certos espíritos, encarnados e desencarnados, alcancem (parcial) sucesso em suas empreitadas, com as quais enganam a tantos. A resposta também encontramos na Codificação, repositório de múltiplos alertas a respeito da ação dos espíritos pseudo-sábios e mistificadores que pululam na atmosfera espiritual terrena:

P.:(...)"Mas como os Espíritos elevados permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o erro através de máximas muitas vezes perversas?"

R.: — "Não é com a sua permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da impostura.

— Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais suficientemente elevados e necessitais ainda das lições da experiência."

Outros tantos também se confundem por encontrarem boas coisas nos ditados desses espíritos. Tal questão é também esclarecida na Codificação:

P.: 11. As comunicações espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e maus?

— Os Espíritos maus ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos bons."

É bom que ressaltemos que nem sempre tais espíritos estão de má-fé:

P.: 12. Os Espíritos que induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?

— "Não. Há Espíritos bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem."

Foi, no entanto, o Espírito Erasto que nos trouxe o alerta mais direto sobre a ação dessa classe de espíritos em 1862, na cidade de Bordéus, Paris, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, apontando os "falsos profetas da erraticidade", ou seja, "Espíritos orgulhosos que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da Humanidade, lançando-lhe através seus sistemas absurdos, depois de terem feito que seus médiuns os aceitem. E, para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias, se apropriam, sem escrúpulos, de nomes que só com muito respeito os homens pronunciam.

"São eles que espalham o fermento dos antagonismos entre os grupos; que os impelem a isolarem-se uns dos outros, a olharem-se com prevenção. Isso, por si só, bastaria para os desmascarar,pois, procedendo assim, são os primeiros a dar o mais formal desmentido às suas pretensões. Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair em tão grosseiro embuste..."

E conclui o sábio Espírito, dizendo: "- É incontestável que, submetendo ao crivo da razão,da lógica todos os dados e todas as comunicações dos espíritos, fácil se torna rejeitar a absurdidade e o erro. Pode um médium ser fascinado, pode um grupo ser iludido; mas, a verificação severa a que procedam os outros grupos, a ciência adquirida, a elevada autoridade moral dos diretores de grupos, as comunicações que os principais médiuns venham a receber, com um cunho de lógica e de autenticidade dos melhores Espíritos, rapidamente condenarão esses ditados mentirosos e astuciosos, que emanam de uma turba de Espíritos mistificadores ou maus". ("O Evangelho segundo o Espiritismo",Cap.XXI,itens X,l)

E, por fim, perguntamos a todos: onde estão os falsos profetas da erraticidade, já que tudo quanto é ditado escrito por via mediúnica é aceito prontamente pelo Movimento Espírita como sendo advindo da Espiritualidade Superior, sem qualquer análise e critério, e logo encaminhadas para publicação? Por que o aceitação pura e simples de qualquer mensagem, sendo que sabemos que, no mundo dos espíritos, tanto os bons quanto os maus podem se comunicar?

Ou seguimos o critério kardequiano de análise das mensagens, seguido de um retorno à divulgação e estudo rigoroso e sério das obras da Codificação Espírita, ou então continuaremos a testemunhar a entrada dos cavalos-de-tróia através de nossos muros, aproveitando-se da incúria e da ingenuidade de muitos que, mesmo sabendo do perigo iminente, fecham os olhos confiando unicamente naquilo que chamam de "providência divina", esquecendo-se das responsabilidades a nós confiadas.

Cabe, pois, aos espíritas verdadeiros, cuidarem para que o Movimento Espírita não se desvie pelas sendas do erro e da divisão, tal qual aconteceu com o Cristianismo, hoje tornado uma colcha de retalhos. O Espiritismo é um só: aquele contido nas obras kardecianas, sem enxertias e adulterações, tal qual um todo monolítico e capaz de responder às mais graves questões espirituais por ainda muito, muito tempo.

Fonte: Blog Ramatis, Sábio ou Pseudosábio?

O Inferno

Por Aureliano Alves Netto

“Mas uma voz me disse: O Céu e o Inferno estão em ti mesmo”. Omar Kháyyám.

Segundo o dogma do pecado original, todos os homens, manchados pela culpa de Adão, estariam virtualmente condenados às penas eternas, não fora a Misericórdia Divina haver-lhes facilitado um meio de salvação: o holocausto do filho de Deus feito homem, para redenção de quantos fossem eleitos para o recebimento da graça. Predestinação e favoritismo, incompatíveis com a bondade e perfeita justiça de Deus.

- Que pensar – indaga com razão E. Bellamare – de um juiz que condenasse um homem sob o pretexto de que, milhares de anos, um seu antepassado cometera um crime?

“Se o sacrifício de Jesus fosse necessário para salvar a humanidade terrestre, Deus deveria o mesmo socorro a outras Humanidades desgraçadas. Sendo, porém, ilimitado o número de mundos inferiores em que dominam as paixões materiais, o filho de Deus seria, por isso mesmo, condenado a sofrimentos e sacrifícios infinitos. É inadmissível semelhante hipótese”. (Cristianismo e Espiritismo – Léon Denis).

O dogma das penas eternas e o do pecado original se entrelaçam, guardando entre si estreitas relações de causa e efeito. Um já condenado, Satã, disfarçando-se em serpente, induz a primeira mulher ao pecado e a culpa de Eva contaminará todas as futuras gerações, per omnia saecula saeculorum. E como não são muitos os favorecidos pelo “estado de graça”, haja espaço nos departamentos do inferno...

Acreditava-se antigamente que a Terra era o centro do Universo e que o firmamento formava uma abóbada na qual se incrustavam as estrelas, ficando o Céu situado no alto e o Inferno embaixo.

Mas Copérnico demonstrou o duplo movimento dos planetas sobre si mesmos e à volta do Sol; e Galileu, seguindo-lhe as pegadas, proclamou a teoria heliocêntrica do Universo. Provou-se ser errônea a idéia de subir ao Céu ou de descer aos infernos. Evidenciou-se que, devido ao movimento de rotação da Terra, há lugares antípodas a se alternarem permanentemente de posição, e que, sendo infinito o espaço, não pode haver alto nem baixo no Universo.

Contudo, por mais estranho que pareça, ainda hoje, no século da cibernética e das viagens pelo Cosmo, há certas religiões que continuam querendo demonstrar o indemonstrável: a existência do inferno.

Não é fora de propósito, por conseguinte, alinharmos algumas considerações nossas e alheias, acerca do velho assunto que de há muito já devia ter saído de pauta.

Vale repetir a frase de Denis: - Admitir Satanás e o inferno eterno é insultar a Divindade.

Efetivamente. Deus, onisciente que é, conhece todo o passado e antevê o futuro. Ao criar uma alma, deve saber se ela haverá de cometer faltas graves. E, se tendo conhecimento antecipado dessas faltas, condena a alma ao sofrimento eterno, o Criador deixa de ser bom e justo.

Outro aspecto a considerar, na lúcida explanação de Kardec:

“Se Deus é inexorável para o culpado que se arrepende, não é misericordioso, deixa de ser infinitamente bom. E porque daria Deus aos homens uma lei de perdão, se Ele próprio não perdoasse? Resultaria daí que o homem que perdoa aos seus inimigos e lhes retribui o mal com o bem, seria melhor que Deus, surdo ao arrependimento dos que O ofendem, negando-lhes por todo o sempre o mais ligeiro carinho”.

“Achando-se em toda parte e tudo vendo, Deus deve ver também as torturas dos condenados; e se Ele se conserva insensível aos gemidos por toda a eternidade, será eternamente impiedoso; ora, sem piedade, não há bondade infinita”. (O Céu e o Inferno – Capítulo VI).

Afirma Bernardo Bartmann, em sua Teologia Dogmática, que “o fogo do inferno, em si, na sua natureza é semelhante ao fogo terrestre, mas dotado de propriedades particulares: não necessita ser aceso e alimentado”.

Santo Agostinho imagina um quadro pavoroso: num verdadeiro lago de enxofre, vermes e serpentes saciando-se nos corpos, conjugando suas picadas com as do fogo. Esse fogo, no entender de conceituados teólogos, queima sem destruir, penetrando a pele dos condenados, bem como embebendo e saturando-lhes todos os membros, medula dos ossos, pupila dos olhos, enfim, as mais recônditas fibras do seu ser.

O piedoso Doutor Angélico S. Tomás de Aquino, dá-nos ciência de que os bem-aventurados, ao contemplar as torturas dos condenados, “não somente serão insensíveis à dor, mas até ficarão repletos de alegria e renderão graças a Deus por sua própria felicidade, assistindo à inefável calamidade dos ímpios”.

Como conceber-se – objetamos nós, tanto gozo da parte de u´a mãe amorosa ou dum pai extremoso que, das beatíficas regiões celestes, observa, impassível, os ingentes sofrimentos do filho querido que foi dar com os costados no inferno?

Puro sadismo angelical, o que é uma contradição nos termos.

À vista de tanta insensatez e de tanto despautério, surge como um bálsamo a palavra sensata de um pastor evangélico, o reverendo Doutor Charles R. Brown, da Igreja Congregacionalista de Oakland e decano da Universidade de Yale:

“Hoje o Universalismo ensina que todos os homens colhem o que semeiam, segundo uma Justiça que não falha. Todo erro será castigado ou aqui ou além, mas sempre com o fim de corrigir o malfeitor. O inferno não é um lugar de condenação eterna e de desespero: é mais uma escola de reforma”.

Fonte: Luz na Penumbra

A Harmonia das Diferenças

Por Octávio Caúmo Serrano

Preferimos conviver com os afins. Todavia, é no relacionamento com os que não pensam como nós que adquirimos novas e importantes experiências.

Toda coisa tem o oposto. A morte tem a vida, a noite tem o dia, o claro o escuro, o grande o pequeno, o alto o baixo ...

É comum procurarmos a harmonia das situações e dos agrupamentos, na semelhança entre as partes. Todavia, a igualdade pode criar choques.

É preciso haver diferenças. Mas que se complementem sem criar dissensões.
Imaginemos uma casa onde os dois gastam irresponsavelmente.
Em curto prazo, o lar vai a bancarrota. Mas se os dois forem avaros, faltará até o indispensável e eles serão irritadiços e ansiosos. Um terá de ser mais arrojado e o outro comedido, prudente.

Irão completar-se.
O mesmo se daria se ambos fossem excessivamente risonhos, brincalhões, irreverentes. Nunca seriam levados a sério. Mas se fossem sisudos, mal-humorados, rechaçariam os que tentassem aproximar-se.

Este pequeno esboço serve de intróito para analisarmos uma sociedade, um grupo, uma entidade.
Toda pessoa tem sua própria habilidade. Observemos uma orquestra.

Cada músico toca um instrumento. No entanto, a melodia embeleza-se pela combinação de todos eles. Um conjunto vocal tem diversas vozes, que se fundem numa só, em harmonia. Um time de futebol tem os que fazem os gols e um que trata de evitá-los.

A grande empresa, por exemplo, começa pela presidência e assessores diretos, mas não dispensa os auxiliares de escalões menores e nem mesmo o trabalho dos mensageiros, os office-boys, encarregados da correspondência. Eles são, muitas vezes, a apresentação da companhia. Um funcionário educado, bem composto, eficiente, levará boa imagem da firma onde trabalha, junto à clientela, fornecedores e bancos.

Dá-se o mesmo nas sociedades culturais, recreativas, filantrópicas, religiosas. E, neste caso, analisemos o Centro Espírita.

Um agrupamento onde se divulga o Espiritismo tem diferentes tipos de colaboradores. Ali encontramos a equipe diretora da casa, muitas vezes fundadora do Centro, os passistas, os palestrantes, os orientadores, os assistentes sociais, os faxineiros.

Não podemos esperar que todos tenham as mesmas idéias. São espíritos em variados degraus de entendimento, espíritas há mais ou menos tempo, culturas diferentes e convicções que não coincidem. Uns mais amoráveis, outros mais racionais. Este se encanta com o fenômeno, aquele valoriza a mensagem. Há os que preferem a religião e os que destacam a ciência espírita.

O fato de não darmos atenção a esse aspecto pode criar dificuldades de relacionamento entre os participantes da mesma casa espírita ou, em âmbito maior, do próprio movimento espírita.

Desejamos que haja perfeita sintonia e qualquer deslize é considerado irreverência, desobediência, indisciplina, o que nem sempre é verdade.

Ninguém muda de um dia para outro apenas por tornar-se adepto do Espiritismo.Sem dúvida, há que haver afinidade quanto ao ideal e objetivos.

Todos, sem exceção, devem praticar a caridade em favor do semelhante. Mas cada um na sua habilidade própria.

Encontramos irmãos com grande cabedal doutrinário que são péssimos orientadores. Para ajudar, é preciso respeitar a capacidade do outro.

Ninguém pretenda resolver as dificuldades alheias b aseado no próprio conhecimento, na sua coragem e disposição diante de problemas. Jamais aconselhar com frases como: "se eu fosse você"; "se isso fosse comigo", porque nem você é o outro, nem o problema é seu.

A maioria dos dependentes deseja ver-se livre do vício, mas não consegue.
Para aquele que já venceu alguma imperfeição, ou que nunca fez uso das químicas nocivas e alienantes, parece fácil vencer o mal. Mas é difícil; extremamente difícil.

Observemos os passes. Quantos trabalhadores que se dedicam a essa tarefa, mesmo sem grande conhecimento doutrinário, têm bom sentimento e desejo de servir.

Quando impõem as mãos, jorra luz do seu coração, pela facilidade de sintonia com os Espíritos Benfeitores.
Mas se convidados a fazer uma simples prece, alegarão dificuldades em comunicar-se.

Quantos são eficientes orientadores, porque, mesmo sem a vidência ou a audiência, são ouvintes pacientes que deixam a pessoa falar para descarregar as mágoas.

Não têm pressa em resolver tudo, preferindo entregar o irmão aos Espíritos e às palestras, que explicam, pouco a pouco, os meandros da vida e como a pessoa pode ajudar a si mesma, ampliando a fé e ganhando entendimento.

Sabe que só quando chegar o tempo certo e nascer o merecimento é que a melhora começara a processar-se. A imperfeição é uma doença que leva tempo para ser curada. É preciso que doa para que a compreensão chegue.

Poupar excessivamente alguém é como atrofiar-lhe a vida. O passe, terapêutica de emergência, é socorro provisório, até que a própria pessoa aprenda a cuidar-se, modificando sua maneira de viver.

Palestrantes há que têm grandes conhecimentos doutrinários, mas falam de forma rebuscada e metafórica, atêm-se ao cientismo criando barreiras que impossibilitam a compreensão.

Demonstram sabedoria mas não atingem os que esperam palavras simples e de fácil assimilação. Falam mas não comunicam.

Vimos, portanto, que num agrupamento espírita há de tudo e todo tipo de participante. Um vaidoso, outro humilde. Um culto, outro menos instruído. Um jovem afoito, outro maduro e prudente. Um com receitas para salvar a humanidade, outro que contenta-se em ajudar um ou dois, colocando-se entre os necessitados.

A igualdade que deve haver no Centro Espírita é que todos se preocupem em estudar o Espiritismo e conhecer objetivamente, sem dogmas ou figurações, o Evangelho de Jesus. Todos devem ser educados e gentis com cada pessoa que visite a casa em busca de orientação e socorro.

Todos se devem mútuo respeito, aceitando os defeitos e as fraquezas do companheiro de ideal.
Temos de ajudar, sem impor, orientar, sem agredir, aconselhar, sem exigir.

Isso não significa que o tarefeiro rebelde, nocivo ao agrupamento, renitente, de coração endurecido, não possa e não deva ser afastado, em benefício dos demais e dele próprio. Se tememos os obsessores desencarnados, temos de nos cuidar contra os encarnados que, muitas vezes, tumultuam os trabalhos mais do que "fantasmas".

Concluindo: As diferenças não são problemas. As diferenças podem compor harmonioso conjunto; o que cria problemas são os radicalismos, quando exigimos dos outros o que nem sempre podem dar. Além disso, convém lembrar que não somos perfeitos, nem modelo para ninguém. Temos ainda, todos, muito a ser corrigido em nós mesmos.

No Centro Espírita, igualmente como em qualquer lugar, a paciência segue sendo a maior virtude para que os homens se entendam e se complementem na lei do amor.

Fonte: Revista Internacional do Espiritismo - Nov 99A

domingo, 23 de maio de 2010

Como entender a ORTODOXIA – coerência – Espírita? Parte II

Por Nelson Free Man

É preciso estudar o Espiritismo – Filosofia e Ciência – O combate intelectual - Espiritismo híbrido – Espiritismo não é religião – O Espiritismo para todas as religiões – Equívocos do espiritismo híbrido

A Doutrina dos Espíritos nos lança a uma ordem tão grandiosa de estudos, que este só pode ser feito por pessoas sérias, perseverantes, isentas de toda e qualquer prevenção e com uma vontade firme de se esclarecer.

Não o podem aqueles que a seguem levianamente, que não dão aos estudos seqüência, regularidade ou a cautela necessária.

Aqueles que não queiram estudar, ou que aderem por aderir, aceitando tudo que se lhes apresenta como se espiritismo fosse, apenas para não perder a pose de homens de espírito, que se empenham em ridicularizar aos que tomam o estudo e as pesquisas como coisa séria, ou aqueles que tentam tornar como ridículo o esforço e a dedicação de se apresentar o Espiritismo em seu viés filosófico com as conseqüências morais, assim como o de demonstrar a utilidade para o avanço da ciência, que se calem em suas críticas inócuas; ninguém tenciona impor-lhes a mudança nas suas crenças espiritualistas, ninguém tenciona violentá-los nas suas convicções, mas que saibam, no entanto, respeitar a convicção dos que defendem a coerência doutrinária Espiritista.

O movimento que torna forte a manutenção da Ortodoxia dos Ensinamentos dos Espíritos é um movimento formado por pessoas comprometidas com a base desses ensinamentos, em toda a extensão das obras que compõem a Doutrina dos Espíritos.

A coerência será defendida, pela convicção de que o que está postulado ao longo da gênese do Espiritismo foi construído com a mais cuidadosa lógica e a mais apurada racionalidade, não havendo, até os dias atuais, alguém que pudesse contestar essa lógica ou pudesse desacreditá-la com a razão.

Então dizem que o movimento em prol dessa Ortodoxia e que as pessoas concordantes com os avanços filosóficos e científicos do Espiritismo não passam de iludidos, retrógrados e fundamentalistas.

Não se pode admitir a pretensão de alguns críticos que julgam ter o privilégio do bom senso e que, desrespeitando a decência ou o valor moral das pessoas que se aliam à idéia do movimento pela coerência e ortodoxia, os tacham, sem nenhuma cerimônia, de tolos todos aqueles que não estejam de acordo com as suas opiniões espiritualistas.

Aos olhos de todas as pessoas sensatas, ajuizadas, um movimento dessa natureza constituirá sempre um resgate aos fundamentos de base da Doutrina Espírita; constituirá sempre a propagação da coerência para as coisas do espírito, preservando as suas estruturas doutrinárias.

E a esse movimento, faz-se mister salientar que a seu favor conta a lhe dar rumo e propósito, a atenção de homens sérios que não se dignam a propagar erros, enganos ou ilusões, e que não têm, também, tempo para perder com futilidades.

Quando se fala e se pratica a Ortodoxia Espírita, é para combater, no terreno intelectual, o intenso e nocivo religiosismo e misticismo implantados, ao longo de mais de um século, ao movimento espírita atual.

E combater não quer dizer atacar as pessoas que professam esse sistema de crença construído tal qual uma colcha de retalhos, ou rejeitar as pessoas que aderem a um espiritismo híbrido.

O combate está proposto na divulgação e esclarecimentos coerentes com a base dos ensinamentos ditados pelos espíritos que compuseram a codificação Espírita.

O combate está proposto na demonstração e fundamentação do atraso que causa ao indivíduo, quando não percebe a essência desses ensinamentos filosóficos, e quando não percebe o caráter progressista da Doutrina Espírita, ao ignorar o convite que a doutrina faz para que cada um a entenda em sua profunda e filosófico-científica construção.

A filosofia é a que dará ao indivíduo o suporte lógico e racional, para compreender os valores morais que alavancam a sua evolução e o seu progresso, e a ciência é a que dará ao indivíduo oportunidades, para que as experiências e as pesquisas das relações entre os mundos material e espiritual possam ser mais bem compreendidas.

O espiritismo híbrido é uma variação equivocada do Espiritismo como doutrina. Este não se sustenta sob os pilares de nenhuma religião formal conhecida ou desconhecida. Ele é, especificamente, Filosofia de conseqüências morais e Ciência.

Já aquele tem a lhe sustentar um pilar religioso, formal e sincrético, cuja base é a Igreja Católica Apostólica Romana.

Como se chegou a essa hibridez é um estudo que será apresentado em outra oportunidade.

O interesse e o foco deste ensaio é o de demonstrar de que forma podemos e devemos entender a ortodoxia dos ensinamentos dos Espíritos, ou seja, a coerência da base doutrinária do Espiritismo.

E para isso devemos considerar em primeira mão como análise dessa coerência, a fundamentação e a demonstração de o Espiritismo NÃO ser uma religião. E ao mesmo tempo e na mesma demonstração, fundamentar o equívoco perpetrado ao se concretizar, propagar e divulgar o espiritismo híbrido.

Quando Allan Kardec escreveu: "O Espiritismo é o futuro das religiões", muitas pessoas, notadamente aquelas que produziram e praticam o espiritismo híbrido, entenderam e defendem, ainda hoje e erradamente, que o codificador quisera dizer que o Espiritismo “é a religião do futuro”, porém Allan Kardec não tinha por hábito tropeçar intelectualmente na condução das suas idéias.

Ele não poderia querer dizer aquilo que não dissera e não escrevera.

O codificador teve um cuidado muito grande para que as pessoas, ao terem contato com os postulados espíritas, entendessem que ali não se criava uma nova religião.

E mesmo que não tivesse esse cuidado, a razão já levaria a essa conclusão. Os postulados da Doutrina são inconfundíveis.

Mas Allan Kardec ia mais além; toda a vez que tinha oportunidade ou quando era confrontado com a afirmação de que o Espiritismo surgia como mais uma religião ele, prontamente, rebatia a equivocada compreensão da Doutrina dos Espíritos.

Uma das provas nós encontramos na Revista Espírita de maio de 1859, quando da refutação de um artigo do jornal O Universo, no número de 13 de abril daquele mesmo ano, que continha o artigo do senhor abade Chesnel onde a questão do Espiritismo foi longamente discutida, mas que não deixou de ter um erro grave, segundo Allan Kardec, o qual tratou, prontamente, de refutar.

O codificador reportava à parte onde o artigo intitulava o Espiritismo como “Uma religião nova em Paris”, e como resposta disse ao longo de sua explanação ao abade:

“Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus adeptos, com homens de todas as crenças, e que por isso não renunciaram às suas convicções: os católicos fervorosos que não praticam menos todos os deveres de seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e brâmanes; há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas idéias são incompatíveis com as observações espíritas.”

(...)

“O Espiritismo não é, pois, uma religião: de outro modo teria seu culto, seus templos, seus ministros. Cada um, sem dúvida, pode se fazer uma religião de suas opiniões, interpretar ao seu gosto as religiões conhecidas, mas daí à constituição de uma nova Igreja, há distância, e creio que seria imprudente dar-lhe a idéia.”

(...)

“A Sociedade, da qual falais, definiu seu objetivo por seu próprio título; o nome de: Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se parece com nada de uma seita; tem-lhe tampouco caráter, que seu regimento lhe interdita ocupar-se de questões religiosas; ela está alinhada na categoria de sociedades científicas porque, com efeito, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos que resultam das relações entre o mundo visível e o mundo invisível;”

Allan Kardec ainda disse mais: que o Espiritismo não formava homens ateus, mas não implicava, de modo algum, que aqueles que o seguissem fossem novos formandos religiosos.

Como conseqüência filosófica o Espiritismo não nega Deus, não nega a alma, nem a sua individualidade após a morte do corpo físico, nem nega o livre arbítrio do homem, não nega as penas ou as recompensas futuras e, se os negasse, poderia ser considerada uma doutrina amoral ou imoral.

Ao contrário, o Espiritismo prova, não pela fé cega, mas pelos fatos, todas as bases fundamentais da religião, para demonstrar que o mais perigoso inimigo do homem é o materialismo.

Ele ensina, pela resignação, a suportar dores e misérias da vida, minorando o desespero; ensina sobre o perdão e sobre o amor.

Então percebemos o acerto na afirmativa de Allan Kardec quando vaticinou ser o Espiritismo “o futuro das religiões”, pois, sem ser este uma religião, vem para desempenhar o papel que as religiões omitiram, ao enunciar todas as conseqüências reservadas ao Espírito, com clareza, raciocínio e lógicas irrefutáveis.

Tornou claro aquilo que estava obscuro e tornou evidente aquilo que era duvidoso.

O Espiritismo, sem ser uma religião, deveria ser uma ferramenta de conhecimento obrigatória para todas elas, pois ao invés de acompanhar impotente a perdição de almas, ele salva almas.

Deixar a Doutrina dos Espíritos em seu estado genésico e básico é de fundamental importância para o resgate do processo de evolução e progresso dos espíritos.

Seguir a coerência com que o compêndio Espírita foi formulado é demonstrar sabedoria e lucidez intelectual.

O Espiritismo é progressista pela natureza das suas bases e pelos seus objetivos, já que se sustenta nas Leis Divinas e Naturais. Aquilo que a ciência revelar, o Espiritismo dará curso, conforme orientações e esclarecimentos dos Espíritos da codificação, ao sugerirem que muitas coisas ainda não nos foram dadas conhecer, mas que a ciência se ocupará delas.

Em contrapartida, a criação do espiritismo híbrido, sincrético, com a fusão de dois elementos culturais antagônicos, na intenção de formar uma base de pensamento e prática sustentada num terceiro elemento, acabou formando uma mistura heterogênea e paradoxal em si mesma.

Enquanto um elemento diz não à idolatria, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não aos rituais, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não à hierarquia, o outro diz sim; enquanto um elemento diz não às imagens e adorações personalizadas, o outro diz sim.

O antagonismo cultural e filosófico só não é trágico, porque os interesses dos seus idealizadores superam o desvio moral com a consciência doutrinária e com a coerência ideológica.

Transformar o Espiritismo em religião – o espiritismo híbrido -, fez com que os seus seguidores passassem a adorar e idolatrar Jesus e seus prepostos “santos”, colocando-os em patamar inalcançável, e fê-los acreditar que este é o caminho para a cura do sofrimento e das tragédias humanas.

Num reduto cultural, onde a religiosidade é latente, é uma falácia conveniente para agregar adeptos e lotar auditórios.

É mais cômodo entregar os problemas nas "mãos" de Deus e crer que “Jesus salva".

Entre todas as religiões podem-se distinguir, nesse panorama universal, quatro grandes tendências, na seguinte classificação: religiões de Integração, religiões de Servidão, religiões de Libertação e religiões de Salvação.

Não é difícil saber e entender o porquê da escolha da religião de Salvação para o sincretismo na Doutrina dos Espíritos.

Para séculos de dominação religiosa, nada melhor do que se aliar.

E o Espiritismo e a coerência são, por conseqüência, vilipendiados nos seus alicerces.

Bibliografia:

extraído, reformatado, redimensionado e compilado a partir de:

- O Livro dos Espíritos;
- Revista Espírita,Jornal de Estudos Psicológicos,PUBLICADA SOB A DIREÇÃO DE
ALLAN KARDEC - Segundo Ano – 1859;
- Revista Pense, Pensamento Social Espírita, Espiritismo à Moda Brasileira, Novembro/2000;
- Comunidade Orkut ESE-E, Espiritismo é Religião?;
- UFRGS, Tese:Fenomenologia das Grandes Tendências Religiosas - junho/2006

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Bonus-hora - Caridade remunerada?

Por Randy*

Nossa comunidade é tão avançada no aprofundamento das questões espíritas que não raras vezes nos esquecemos de nosso caráter esclarecedor sobre o Espiritismo para quem ainda não teve contato com nossos debates mais complexos.

E diante disso, a pessoa que entra aqui ainda acreditando nas colonias só pode crer também em todo o pacote que a lenda das "colonias espirituais" traz. Afinal, somos criticados por desmascarar a farsa dessa invenção de Chico Xavier, mas os críticos esquecem-se facilmente do que vem junto com as tais colonias.

O que vem junto com a idéia de colonias?

Vêm as paisagens... Sim... rios espirituais, montanhas espirituais, nuvens espirituais, céu espiritual, animais espirituais, plantas espirituais e tudo o que comporia um cenário renascentista que pudesse reproduzir Adão e Eva no Paraíso. Afinal, qual é o sentido de existirem montanhas num plano espiritual, se montanhas são consequencia de graves colapsos das placas tectónicas em nosso planeta?... Porventura estaría Chico Xavier afirmando que terremotos também existem no plano espiritual???? E os animais, se a codificação nos ensina que eles reencarnam imediatamente após seu desencarne?

Isso são questões pontuais que ridicularizam a racionalidade de um sistema de "colonias espirituais", já tratados em diversos tópicos por aqui.

Mas, agrava-se a questão quando adentra contradições morais profundas para com a codificação espírita e nisso está especialmente os "bonus-hora".

Segundo o suposto espírito André Luiz em supostas obras psicografadas, os espiritos medianos são "estimulados" à prática do bem pela recompensa de "bônus-horas".

Qualquer pessoa que atente para as lições do Evangelho Segundo o Espiritismo, sobre a necessidade do homem se tornar bom, amar ao próximo e a este auxiliar, no que se chama de "caridade", fica PASMO em ler o que transcrevo abaixo.

- Todos cooperam no engrandecimento do patrimônio comum e dele vivem. Os que trabalham, porém, adquirem direitos justos. Cada habitante de "Nosso Lar" recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente necessário; mas os que se esforçam na obtenção do bônus-hora conseguem certas prerrogativas na comunidade social. O espírito que ainda não trabalha, poderá ser abrigado aqui; no entanto, os que cooperem podem ter casa própria. O ocioso vestirá, sem dúvida; mas o operário dedicado vestirá o que melhor lhe pareça; compreendeu? Os inativos podem permanecer nos campos de repouso, ou nos parques de tratamento, favorecidos pela intercessão de amigos; entretanto, as almas operosas conquistam o bônus-hora e podem gozar a companhia de irmãos queridos, nos lugares consagrados ao entretenimento, ou o contacto de orientadores sábios, nas diversas escolas dos Ministérios em geral. Precisamos conhecer o preço de cada nota de melhoria e elevação. Cada um de nós, os que trabalhamos, deve dar, no mínimo, oito horas de serviço útil, nas vinte e quatro de que o dia se constitui. Os programas de trabalho, porém, são numerosos e a Governadoria permite quatro horas de esforço extraordinário, aos que desejem colaborar no trabalho comum, de boa-vontade. Desse modo, há muita gente que consegue setenta e dois bônus-hora, por semana, sem falar dos serviços sacrificiais, cuja remuneração é duplicada e, às vezes, triplicada.

- Mas, é esse o único título de remuneração? - perguntei.

- Sim, é o padrão de pagamento a todos os colaboradores da colônia, não só na administração, como também na obediência.

Todos os grifos são nossos.

O trecho acima é retirado de "Nosso Lar".

Você não precisa ser defensor da pureza doutrinária, nem ortodoxo, para responder às interrrogações que surgem a cada trecho em negrito. O suposto autor defende claramente a existência de uma remuneração pela prática do bem...

Nesse caso, onde foram parar os principios do Evangelho Segundo o Espiritismo? Note: claramente se avalia que se o sujeito quiser se dar bem numa colonia, tem que juntar "bonus hora" para COMPRAR" vantagens, inclusive a de... entretenimento..

Por que os trabalhadores precisam de "provisões de roupas e comida", se a codificação é clarissima em dizer que o espírito não possui necessidades físiologicas (alimentação) e ele mesmo é capaz de, por meio de ações sobre o perispírito, tecer a própria aparência? E nem estamos falando em "roupas", mas de órgãos externos, face, cabelos, etc...

Por que um espírito iria precisar de... "casa própria"????... Mas, os defensores da existência das colonias não sustentam o tempo todo que essas... casas... são criações fluidicas dos próprios espíritos?... Então, ainda que um espírito necessite de uma... casa (num lugar onde não há ladrões, nem chuva, nem sol, nem frio, nem calor), pela teoria das colonias, não seria ele próprio capaz de "criar" uma casa para si? Por que a necessidade de "ganhar bonus hora" para "ganhar uma casa própria"???

E se o principio dos espiritos é o da comunhão, porque tal casa, se realmente existisse, teria que ser... "própria"?... Isso não é um ato de profundo egoismo?...

A questão é que essa história de bonus-hora mata a credilibilidade do sistema de mérito moral. E pior ainda: o Evangelho Segundo o Espiritismo nos diz claramente que NÃO PODEMOS JULGAR A MORAL DO PRÓXIMO... Sendo assim, como se mede a prática do bem de uma pessoa por meio de "horas trabalhadas"?

São extremas as contradições entre a história de "bonus-horas" e a codificação espírita. QUALQUER INDIVIDUO QUE ESTUDE A CODIFICAÇÃO fica estarrecido com essa comparação.

Vale lembrar que citamos apenas um pequeno trecho. "Nosso Lar" pretende ser uma comédia moderna no sentido Aligueriano. A obra reproduz outra produção clássica: o capitalismo industrial do século XIX. Sequer se compara ao do século XX. E por que afirmamos isso? Porque ele estabelece uma "semana de bonus hora" de setenta e duas horas", quando no capitalismo moderno não se ultrapassam quarenta e quatro horas de trabalho semanais.

- Ora - dirá alguém - mas um espirito não se cansa como um encarnado e portanto pode trabalhar setenta e duas horas semanais.

Ao que responderei:

- Se não se cansa - e não se cansa mesmo - porque ele teria necessidade de... entretenimento?

Não fomos nós quem inserimos a questão e a expressão "remuneração" na dita obra. Foi seu autor. E o conceito de remuneração, pelo Direito Brasileiro, é o seguinte:

Remuneração é o conjunto de retribuições recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviços, seja em dinheiro ou em utilidade, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família.

Atenção para as expressões "retribuição" e "satisfazer necessidades básicas".

Sobre retribuição, não enseja o Evangelho Segundo o Espiritismo que ninguém pratique o bem desejando ser retribuido.

E sobre necessidades básicas, quais seriam as dos espiritos desencarnados, senão aprender com os erros para evoluir rumo à perfeição?

E por décadas sobreviveu mais uma lenda no Meio Espirita. Os "Bonus horas", como facilmente se elucida, não possuem nenhum tipo de respaldo dentro da codificação espirita e atuam em direta contradição com esta. Mais um absurdo no qual acreditam os incautos e os mal intencionados que lucram com vendas de livros ou com sua vaidade intelectual despejada em palestras espiritas e comunidades espiritualistas de Orkut.

* Randy é moderador da comunidade "Eu Sou Espirita - Espiritismo" do Orkut.

O desaparecimento do corpo de Jesus

Por Allan Kardec

O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte foi objeto de numerosos comentários; é atestado pelos quatro evangelistas, que se basearam em relatos das mulheres que se apresentaram no sepulcro no terceiro dia, e que não o acharam. Uns viram nesse desaparecimento um fato milagroso; outros supuseram uma remoção clandestina. Segundo outra opinião, Jesus não teria jamais revestido um corpo carnal, mas somente um corpo fluídico (Ver “Os Quatro Evangelhos” de J.B. Roustaing), ou seja, durante toda sua vida, não teria sido senão uma aparição tangível, uma espécie de agênere. Seu nascimento, sua morte, e todos os atos materiais de sua vida não teriam sido mais do que uma aparição. E dizem que só assim se explica que seu corpo, retornado ao estado fluídico, pôde desaparecer do sepulcro, e foi com esse mesmo corpo que ele teria se mostrado depois de sua morte. Sem dúvida, um fato dessa natureza não é radicalmente impossível, segundo o que se sabe hoje sobre as propriedades dos fluídos; seria, porém, pelo menos, inteiramente excepcional e estaria em oposição formal com o caráter dos agêneres que jamais demoram por muito tempo e não podem tornar-se comensais habituais de uma casa, nem figurar entre os membros de uma família.

Na verdade, a permanência de Jesus sobre a Terra apresenta dois períodos bem distintos: aquele que precede e aquele sucede à sua morte. No primeiro período, desde o momento da concepção até o seu nascimento, tudo se passou com sua mãe como nas condições comuns da vida humana. (Portanto, Maria, como esposa de José, teve relações sexuais com ele e ficou grávida durante nove meses, findos os quais, num parto natural, deu à luz um belo menino, cumprindo assim a Lei divina que diz: ‘- Crescei e multiplicai-vos’). A partir do nascimento, e até sua morte, tudo em seus atos, em sua linguagem, e nas diversas circunstâncias de sua vida, apresenta os caracteres inequívocos da sua corporeidade. Os fenômenos de ordem psíquica que se produzem nele são acidentais e nada têm de anormal, pois explicam-se pelas propriedades do perispírito, e são encontrados em diferentes graus em outros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo revela nele o ser fluídico...

Depois do suplício, o corpo de Jesus lá ficou, inerte e sem vida; foi sepultado como os corpos comuns o são também, e todos puderam vê-lo e tocá-lo...

É forçoso, pois concluir que, se Jesus pôde morrer, é porque tinha um corpo carnal, como todos nós.

Entretanto, aos fatos materiais se juntam considerações morais do mais alto poder.

Se, durante sua vida, Jesus tivesse estado sempre nas condições dos seres fluídicos, não teria experimentado nem a dor, nem nenhuma das necessidades do corpo; supor que ele assim era (fluídico), é o mesmo que retirar-lhe todo o mérito da vida de privações e de sofrimentos que, antes de reencarnar, havia escolhido como exemplo de resignação. E depois, se tudo nele era só aparência, todos os atos de sua vida, o anúncio reiterado de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua oração a Deus para que afastasse o cálice de seus lábios, sua paixão, sua agonia, tudo enfim, até mesmo seu último grito no momento de entregar o Espírito, não teria sido senão um vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer no sacrifício ilusório de sua vida, o que seria uma comédia indigna de um homem honesto e simples, quando mais, e por mais forte razão ainda, de um ser também superior, como era ele, Jesus. Numa palavra, Jesus teria abusado da boa fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais são as conseqüências lógicas desse sistema (o docetismo antigo e o roustainguismo moderno), conseqüências que não são admissíveis, pois teriam como resultado diminuí-lo moralmente ao invés de exaltá-lo.

Jesus teve, portanto, como todos nós, humanos, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é confirmado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que assinalaram sua vida”

Ver “A Gênese - Os Milagres e as predições segundo o Espiritismo”, caps. XIV nº 36 e XV, nº 64, 65 e 66.

Erasto, os falsos profetas e o critério espírita

Por Allan Kardec
Pesquisa de Artur Felipe de A. Ferreira


"Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem. Esses falsos profetas, para melhor fascinar os que desejam enganar, e para dar maior importâncias às suas teorias, disfarçam-se inescrupulosamente com nomes que os homens só pronunciam com respeito.

São eles que semeiam os germes das discórdias entre os grupos que os levam isolar-se uns dos outros e a se olharem com prevenções. Bastaria isso para os desmascarar. Porque, assim agindo, eles mesmos oferecem o mais completo desmentido ao que dizem ser. Cegos, portanto, são os homens que se deixam enganar de maneira tão grosseira.

Mas há ainda muitos outros meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem: passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom-senso, e vereis o que restará. Então concordareis comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação, medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um Espírito ignorante e mentiroso.

Lembrai-vos, ainda, de que, quando uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é comunicada, por assim dizer, instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns sérios, e não a este ou aquele, com exclusão dos outros. Ninguém é médium perfeito, se estiver obsedado, e há obsessão evidente quando um médium só recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este pretenda ser. Em conseqüência, todo médium e todo grupo que se julguem privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que, além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se indubitavelmente sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o Espírito dominante se vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar, não deixando que seja comprometido a todo instante.

É incontestável que, submetendo-se ao cadinho da razão e da lógica toda a observação sobre os Espíritos e todas as suas comunicações, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser fascinado e um grupo enganado; mas, o controle severo dos outros grupos, com o auxílio do conhecimento adquirido, e a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos, as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade dos Espíritos mais sérios, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou malfazejos.

ERASTO

Discípulo de São Paulo

Paris, 1862

O Critério da Concordância Universal

“A melhor garantia de que um princípio é o expressar da verdade se encontra em ser ensinado e revelado por diferentes Espíritos, com o concurso de médiuns diversos, desconhecidos uns dos outros e em lugares vários, e em ser, ao demais, confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número. Só a verdade pode fornecer raízes a uma doutrina. Um sistema errôneo pode, sem dúvida, reunir alguns aderentes; mas, como lhe falta a primeira condição de vitalidade, efémera será a sua existência.” (Capítulo XXXI, pág. 474, Livro dos Médiuns)

O Codificador do Espiritismo, também em "O Livro dos Médiuns", já elucidava quanto às intenções dos Espíritos quando estes se prontificavam a realizar previsões e revelações retumbantes:

"De que serve o ensino dos Espíritos, dirão alguns, se não nos oferece mais certeza que o ensino humano? Fácil é a resposta. Não aceitamos com igual confiança o ensino de todos os homens e, entre duas doutrinas, preferimos aquela cujo autor nos parece mais esclarecido, mais capaz, mais judicioso, menos acessíveis às paixões. Do mesmo modo se deve proceder com os Espíritos. Se entre eles há os que não estão acima da Humanidade, muitos há que a ultrapassaram; estes nos podem dar ensinamentos que em vão bsucaríamos com os homens mais instruídos. É a dintingui-los da turba dos Espíritos inferiores que devemos nos aplicar, se quisermos nos esclarecer, e é a essa distinção que conduz o conhecimento aprofundado do Espiritismo. Porém, mesmo esses ensinamentos têm um limite e, se aos Espíritos não é dado saber tudo, com mais forte razão isso se verifica relativamente aos homens. Há coisas, portanto, sobre as quais será inútil interrogar os Espíritos, ou porque lhes seja defeso revelá-las, ou porque eles próprios ignoram e a cujo respeito apenas podem expender suas opiniões pessoais. Ora, são essas opiniões pessoais que os Espíritos orgulhosos apresentam como verdades absolutas. Sobretudo, acerca do que deva permanecer oculto, como o futuro e o princípio das coisas, é que eles mais insistem, a fim de insinuarem que se acham da posse dos segredos de Deus. Por isso, esses pontos é que mais contradições se observam". (Capítulo XXVII - item 300)

Sigamos, pois, o conselho de Erasto em "O Livro dos Médiuns" (capítulo XX, item 230):

“(...) Desde que uma opinião nova se apresenta, por pouco que nos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai ousadamente; vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira (...)”.

Em relação à postura de alguns com relação aos ditados dos espíritos, Kardec comenta:

“Os crentes apresentam três nuanças bem caracterizadas: os que não vêem nessas experiências, senão uma diversão, um passatempo...mas que não vão além.

Há, em seguida, as pessoas sérias, instruídas, observadoras, às quais não escapa nenhum detalhe, e para as quais as menores coisas são objeto de estudo.

Vem, em seguida, os ultra-crentes, os crentes cegos, aos quais se pode censurar um excesso de credulidade; aos quais a fé, insuficientemente esclarecida, lhes dá uma total confiança nos Espíritos, que lhes emprestam todos os conhecimentos e, sobretudo, a presciência...”

Revista Espírita – Fev 1858 – Allan Kardec – IDE – 1ª edição – pg. 53
Retirado do blog "Ramatis - Sábio ou Pseudosábio?"

"Oração de Maria" - Gélio Lacerda da Silva

Na obra "Conscientização Espírita", Gélio Lacerda da Silva nos apresenta a "Oração de Maria", a qual transcrevemos abaixo:

"Meu Deus:

"Como bem sabeis, há quase dois mil anos, na Palestina, desposei José, e, desse matrimônio, nasceu nosso primeiro filho: Jesus.

"Senti desenvolver no meu ventre o fruto do nosso amor, e, igual a todas as mulheres, verti as lágrimas do parto, para, instantes depois, sorrir feliz aconchegando a mim o filho recém-nascido.

"Amamentei meu filho por todo o tempo necessário a dar-lhe vitalidade para o seu crescimento.

"Dispensei-lhe todos os cuidados de mãe, inclusive, certa vez, admoestei-o amorosamente por nos ter deixado apreensivos, a mim e a seu pai, quando, desconhecendo o seu paradeiro, depois de três dias o encontramos no templo, a discutir com os doutores da lei, que se maravilhavam com os seus precoces conhecimentos.

"Mais tarde veio a fase mais difícil para uma mãe: sofri, quase a desfalecer, a suprema dor de acompanhar meu filho, vilipendiado pelo povo, carregando pesada cruz, com o rosto transtornado por um misto de cansaço, suor e do sangue que brotava da coroa de espinhos, numa dolorosa caminhada que antecedeu a inominável tragédia.

"Decorridos alguns anos do drama do Calvário, iniciou-se, na Terra, uma corrente filosófica pretendendo convencer a todos que meu filho teve um corpo só na aparência, não sujeito às vicissitudes humanas, não nascido de minhas entranhas, negando, enfim, que fui sua mãe.

"Essas idéias, de tão absurdas, levaram o fiel e amado discípulo de meu filho Jesus, o apóstolo João, a advertir o povo com estas palavras incisivas:

"E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do Anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo" (1ª Ep. João, 4.3)

"Felizmente as inusitadas idéias foram combatidas e relegadas ao esquecimento.

"Todavia, para meu espanto, a extinta doutrina docetista ressurgiu no séc. XIX, na França, na cidade de Bordéus, quando o advogado João Batista Roustaing, deixando-se envolver por espíritos mistificadores, que se apresentaram com os respeitáveis nomes dos evangelistas, dos apóstolos e de Moisés, reuniu as mensagens atribuídas a esses espíritos, recebidas pela médium Émile Collignon, e as enfeixou nos livros denominados ‘Os Quatro Evangelhos’ ou ‘Revelação da Revelação, acrescentando-lhes ainda o título de ‘Espiritismo cristão’, ressuscitando a absurda teoria do corpo aparente de meu filho Jesus, que não esteve sujeito às necessidades humanas, nem ao sofrimento, nem à morte.

"Pouco antes de Roustaing publicar esses seus livros, Allan Kardec, também na França, em Paris, concretizava o seu trabalho missionário de revelar ao mundo o Espiritismo, em cumprimento à promessa que meu filho fizera à humanidade de lhe enviar o Consolador.

"Roustaing abeberou-se da água cristalina jorrada dos livros de Kardec, mas não se contentou em ser apenas um discípulo ou propagador dos ensinos dos espíritos, compilados por Kardec; os espíritos mistificadores, que falaram a Roustaing, através de Mme. Collignon, o convenceram a projetar-se por si mesmo como autor de nova revelação, a que dera o nome de ‘Espiritismo Cristão’, com o deliberado propósito dos espíritos enganadores de confundir os adeptos da verdadeira doutrina espírita.

Quando já se prenunciava a morte da infeliz obra de Roustaing, a frondosa árvore plantada por Kardec, na França, lançava também suas raízes no Brasil, onde encontrou solo fértil. Contudo, por esse determinismo conseqüente da imperfeição humana, da mesma forma que as igrejas cristãs desvirtuaram os ensinamentos de meu filho, a Federação Espírita Brasileira, que se arroga o título de ‘Casa Máter do Espiritismo’, apossou-se da plantinha promissora do solo brasileiro e fez nela a enxertia roustainguista, pretendendo manter-lhe o aspecto exterior, mas modificando radicalmente a sua essência. Os adeptos da doutrina espírita, na sua quase totalidade, não se deixaram enganar e repeliram o corpo estranho.

"Mas o equivocado sentimento de tolerância dos espíritas tem encorajado as constantes investidas inimigas que, astuciosamente, vêm agindo como parasita, numa simbiose mortal, envolvendo o tronco da árvore kardecista e lhe sugando a seiva, pouco a pouco, e sua nefasta ação, se não for contida, poderá, quando menos, tornar a árvore estéril ou produtora de frutos amargos.

"Meu Deus: as igrejas cristãs, conquanto chamem meu filho de homem-Deus, nem por isso me negam a maternidade; reconhecem que dei à luz meu filho, que o amamentei, que meu sangue lhe correu nas veias e que, igual a todo o ser humano, se sujeitou à dor física e viveu o drama que culminou com sua crucificação.

"Os adeptos de Roustaing, se de um lado, louvável, reconhecem em vós e meu filho duas pessoas distintas, por outro lado, lamentavelmente, atribuem a Jesus uma figura fantasmagórica, nem Deus, nem homem, que representou, na Terra, desde o seu ‘nascimento’ até a sua ‘morte’, a maior farsa de que se tem notícia na história.

"Permiti, oh! Deus, que eu implore aos roustainguistas que me desçam do pedestal a que me elevaram; que lhes diga que me não comovem os pomposos títulos de ‘Virgem Maria’, ‘Virgem Santíssima’, ‘Rainha dos Céus’... que eu troco todas essas honrarias por este título singelo, mas tão real e afetivo, o de ‘Mãe de Jesus’!

"Assim seja."

Retirado de "O Franco Paladino"

sábado, 15 de maio de 2010

Como entender a ORTODOXIA – coerência - Espírita?

Por Nelson Free Man*

Segundo Allan Kardec, “a experiência nos confirma todos os dias que as dificuldades e as decepções que encontramos na prática do Espiritismo - doutrina fundada sobre a crença na existência dos Espíritos e em suas manifestações - têm sua origem na ignorância dos princípios dessa ciência.”

O Espiritismo, mesmo que alguns neguem, fez grandes progressos desde a sua divulgação para a humanidade, mas o seu maior progresso se fez a partir do momento que entrou no caminho filosófico e passou a ser apreciado por pessoas esclarecidas.

O Espiritismo não se solidariza com as extravagâncias que são cometidas em seu nome, assim também como dizia A.Kardec “como a verdadeira ciência não o é com os abusos da ignorância nem a verdadeira religião não o é com os excessos do fanatismo”.

O Espiritismo, abordando as questões mais graves da filosofia em todos os ramos da ordem social, compreendendo ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é por si só toda uma ciência e uma filosofia que não se apreende em algumas horas, como qualquer outra ciência.

É crítico sério do Espiritismo, e por seus seguidores assim considerado, somente aquele que tenha visto tudo, estudando e se aprofundando com paciência e perseverança, qualidades essas próprias de um observador consciencioso. Que demonstrasse o seu saber sobre o assunto, de idêntica forma que o mais esclarecido dos seus seguidores e estudiosos o fizesse e, ainda assim, que tivesse alcançado os seus conhecimentos em outros lugares que não nos romances. Seria aquele a quem não se poderia apresentar nenhum postulado que ele não conhecesse, tampouco qualquer argumento que deixasse de passar pela sua meditação. Que contestasse a base da Doutrina dos Espíritos não por meras negações ou inserções contraditórias, maculando a lógica e o crivo da razão na doutrina apresentados, mas que pudesse comprovar, enfim, causas mais lógicas daquelas que o Espiritismo apresenta.

Esse crítico ou esse inovador ainda está por vir. Se vier.

Sendo o Espiritismo toda uma ciência e toda uma filosofia, para que alguém possa conhecê-lo seriamente, a primeira condição é a dedicação a um estudo sério e compenetrado; não pode ser aprendido por curiosidade ou brincadeira. O Espiritismo aborda todas as questões que interessam aos humanos, tem um campo imenso de ensinamentos e é nas conseqüências que deve ser mais bem examinado. Crer nos Espíritos não é suficiente para autoproclamar-se espírita esclarecido.

Quando se menciona a palavra ortodoxia, está-se referindo a um conceito pronto e acabado dentro dos seus fundamentos e da sua base. E é desse conceito que todo aquele que defende a ortodoxia Espírita se vale, seguindo a rota segura preconizada nas orientações e esclarecimentos apontados no CUEE (Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos).

É a partir desse conceito que todo Espírita deve buscar os meios de aprender e também ensinar. Que não se espante o Espírita com a palavra ensinar; não significa que se deva fazer do alto de uma cátedra ou de uma tribuna. Ensinar também é conversar, debater, trocar idéias, seja por explicações, seja por experiências. O desejo maior de todo aquele que queira ser um Espírita esclarecido e coerente com a doutrina é que o seu esforço alcance resultados, e é por isso que deve dar conselhos sempre proveitosos para os que queiram se instruir por si mesmos. Só assim esses encontrarão meios mais seguros de chegar ao seu objetivo: a evolução e o progresso do Espírito.

Há, no meio Espírita, uma imensidão de espiritualistas. Mesmo sendo o Espírita um espiritualista de origem, aqueles não podem, ainda, serem considerados Espíritas, segundo os princípios da doutrina mencionados em O Livro dos Espíritos, Introdução, I -ESPIRITISMO E ESPIRITUALISMO, pois que conservam os traços do apego aos rituais, aos sacramentos, à hierarquia ministerial e sacerdotal, aos avatares religiosos, às oferendas, ao misticismo e à idolatria a personagens espirituais, ainda que a Doutrina dos Espíritos esclareça a sua inconsistência para as coisas do Espírito.

Acredita-se que para se convencer alguém basta mostrar os fatos. E que esses fatos, sendo fundamentados com lógica e sustentados pelo crivo da razão, bastariam para demover ao mais ferrenho espiritualista. A experiência mostra que não é o melhor a se fazer, pois há pessoas a quem nem um argumento ou fundamento bem sustentados é suficiente e não as convencem. Difícil saber porque isso acontece, porém é possível tecer algumas considerações explicativas que podem ser demonstradas.

Para o espiritualista-refratário, será em vão reunir todas as provas ou argumentos lógicos; ele contestará todas, porque não admite o Espiritismo, por si só. É preciso, antes de tudo, dar-lhe tempo de amadurecer os ensinamentos da Doutrina, para que possa compreender o desapego a que se acostumou durante sua vida.

Há o espiritualista-orgulhoso, e para esse não existem dúvidas, apenas a negação absoluta, à qual raciocina à sua maneira. A maioria deles teima com as suas opiniões apenas por orgulho, pois acredita, por amor-próprio, que são obrigados a persistir espiritualista. Persistem, apesar de todos argumentos e provas lógicas contrários, porque não querem se rebaixar às evidências do raciocínio e da razão. Esses são os mais difíceis de convencer, pois muitas vezes, sob falsa aparência de sinceridade dizem: “concordo com a Doutrina, mas ela precisa se atualizar com as doutrinas milenares”. Há os que vaidosamente, como se francos fossem, dizem: “a Doutrina é limitada para a minha capacidade de compreensão”. Com essas pessoas não há nada a fazer, já que o orgulho e a vaidade sobrepõem-se ao Espiritismo.

Há, ainda, o espiritualista-indiferente. Até compreendem que são “espíritas” por indiferença, podendo-se até dizer que é “por falta de coisa melhor”. Não que sejam indiferentes de caso pensado, pois o que mais desejariam é crer integralmente e exclusivamente no Espiritismo como ele é, mas a indiferença para a leitura e para o estudo leva-os a seguirem o que lhes é apresentado. E esse é o que tem o contingente mais numeroso entre os “espíritas”.

O fato de alguém defender a ortodoxia (coerência) Espírita, não quer dizer que outra qualquer forma de crença deixe de ser válida afinal, cada um usa o seu conhecimento e a sua crença naquilo que mais o conforta e responde aos seus anseios de momento. Da mesma forma, não quer dizer que alguém que compreenda os fundamentos da DE e os defenda sem qualquer inserção ou sincretismo de outra crença ou práticas que o Espiritismo esclarece que sejam desnecessárias para o crescimento e progresso do indivíduo, o torne um SER mais evoluído ou superior.

Todos nós estamos evoluindo e progredindo de alguma forma. Todos nós somos falíveis e deixamos transparecer, quando menos esperamos, as nossas fraquezas, notadamente as fraquezas morais.

Defender a pureza doutrinária do Espiritismo é buscar melhorar a nossa conduta como um todo. Alguns avançam, outros ainda têm um longo caminho pela frente, e nesse caminho está vencer a vaidade, o orgulho e a intolerância. Não quer dizer que sabendo quase tudo da DE em seus detalhes, que esse caminho já tenha sido percorrido.

Quanto a perceber comportamentos e posturas que não condiziriam com o conhecimento da Doutrina, não caberia a nós fazermos tais julgamentos de valor moral sobre ninguém, mesmo porque se estamos todos juntos, é para que possamos aprender uns com os outros.

Que procuremos fazer a nossa parte, sempre que possível.

Se estivermos aptos a fazer uma análise de palavras ou escritos, que sejamos duros, porém comedidos na abordagem.

Que tenhamos sempre argumentos e fundamentos que façam o outro compreender o seu erro.

Somente com tolerância e paciência, mas com palavras que não deixem margens à dúvidas, é que poderemos traçar um caminho mais proveitoso para todos nós seguidores do Espiritismo.

Não desistir e não desanimar.

Todo trabalho para frutificar, necessita de uma boa aragem e uma boa semeadura.

Muitas vezes, encontraremos intempéries morais para prejudicar nossa lavoura, mas devemos sempre persistir.

*extraído, reformatado, redimensionado e compilado a partir de O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

As Penas Futuras Segundo o Espiritismo

Por Otávio Caúmo Serrano

No capítulo VII da primeira parte do livro “O Céu e o Inferno”, encontramos interessantes questões sobre a vida futura.

As explicações do Espiritismo sobre a crença na vida futura, não se fundamentam em teorias nem em sistemas preconcebidos, mas nas constantes observações oferecidas pelas almas que deixaram a matéria e gravitam na erraticidade nos diferentes planos evolutivos.

Há quase século e meio, essas informações são cuidadosamente anotadas, comparadas e selecionados e formam um compêndio que esclarece devidamente o estado das almas no mundo espiritual.

Quando levamos em conta a universalidade das informações, observamos que as pessoas que viveram em diferentes raças, credos, condições sociais ou intelectuais, religiões, e mesmo ateus, confirmam que a sua situação atual é decorrência do seu próprio passado.

Ao reencarnar, o espírito vem com uma programação geral, tendo como base os velhos erros e acertos, sem que isso determine um destino fatalista. Submete-se às provas e expiações que mais possam ajudá-lo a livrar-se do passado delituoso e fazê-lo avançar na escala espiritual. Há vezes que, além dos fatos da encarnação imediatamente anterior, há outros pendentes de outras passagens pelos planetas que já podem ser enfrentados. Porém, se forem penosos, só poderão ser atendidos por um espírito amadurecido e com capacidade para vencer problemas mais graves. Se ele ainda não tem condição, as provas e as expiações serão ainda suaves, em atenção à pouca capacidade do espírito, no atual momento, e as mais difíceis ficam para outra oportunidade.

A vida do espírito na erraticidade e a sua intenção ou não, conhecimento ou não, aceitação ou não de encarnar depende da situação em que se encontra. A maioria dos que desencarnam na Terra continuam imperfeitos e sofrem na espiritualidade todas as conseqüências dos defeitos que carregam. É este grau de pureza ou impureza que o faz feliz ou infeliz no plano espiritual.

Para ser ditoso o espírito necessita da perfeição. Como isso é raro neste mundo, é fácil concluir-se que a erraticidade que circunda o planeta é ainda um vale de lágrimas, semelhante ao mundo material. É essa comunidade que nos rodeia e influencia os nossos pensamentos, exigindo de nós muita oração e vigilância.

A compreensão e a crença nessa verdade farão os homens melhorar para sofrer menos. Cada um tratará de construir com sabedoria seu próprio futuro para ficar livre das dores.

Estas notícias deixam claro que não há castigo de Deus porque Deus é a Lei. Não pune nem dá prêmios. Toda imperfeição, e as faltas dela nascidas, embute o próprio castigo em condições naturais e inevitáveis. Assim como toda doença é uma punição contra os excessos, como da ociosidade nasce o tédio, não é necessária uma condenação especial para cada falta ou para cada pessoa em particular. Quando segue a lei o homem pode livrar-se dos problemas pela sua vontade. Logo, pode também anular os males praticados e conseguir a felicidade.

A advertência dos espíritos nessa nossa escalada é objetiva e segura. Dizem que “o bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos, é, portanto, o resultado de uma imperfeição.” Observem que não basta não fazer o mal. É preciso fazer o bem.

Os espíritos advertem, também, que não é suficiente que o homem se arrependa do mal que fez, embora seja o primeiro e importante passo; são necessárias a expiação e a reparação.

Quando falta ao espírito a crença na vida futura, fica difícil ele lutar por algo que não acredita e, nesse caso, pratica o mal sem preocupar-se com futuras conseqüências.
Por isso, é comum aos espíritos atrasados acreditarem que continuam vivos, materialmente, mesmo após a desencarnação. Continuam com as mesmas necessidades que tinham quando eram humanos. Sentem fome, frio e enfermidades, como qualquer encarnado.

Tudo o que acontece a qualquer um de nós está inscrito na nossa consciência. Dela não podemos fugir por mais longe que estejamos do lugar onde cometemos as faltas.
A solução para ter a consciência tranqüila é reparar os erros e desfazer-se do presente que nos atormenta. Quanto mais demoramos na reparação mais sofremos. Não devemos adiar. Nas suas lições, já nos ensinou Jesus: “Reconcilia-te com teu adversário enquanto estás a caminho.”

No próprio capítulo em questão de “O Céu e o Inferno”, há uma indagação que todos nós certamente já fizemos algum dia: Por que tanto sofrimento? “Deus não daria maior prova de amor às suas criaturas criando-as infalíveis, perfeitas, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimento quer em moralidade?” Mas a resposta é óbvia. Deus poderia tê-lo feito, mas não o fez para que o progresso constituísse uma lei geral. Deixou o bem e o mal entregue ao livre-arbítrio de cada um, a fim de que o homem sofresse as dores dos seus erros, mas também o prazer dos seus acertos. E dando “a cada um, segundo as suas obras, no Céu como na Terra.” Esta é a Lei da Justiça Divina. Se assim não fosse, a vida não teria tempero.

O sofrimento, em resumo, é inerente à imperfeição. Livre-se o homem da imperfeição pela sua própria vontade e anulará os males dela decorrentes; conquistará nesse momento a sonhada felicidade

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Espiritismo e Humanismo

Por Deolindo Amorim

Comecemos por uma questão indispensável: sendo o Espiritismo uma doutrina muito ampla, há de ter, e tem mesmo, um conteúdo de humanismo em suas implicações. A palavra humanismo , como inúmeras outras palavras, já mudou de sentido mais de uma vez e, por isso, pode ser entendida em acepções diversas. É problema de semântica. O valor das palavras sofre influências da época, do meio e dos fatos novos. Com relação à predominância da Teologia, na Idade Média, segundo a qual o homem nada significava, porque "não caía uma folha das árvores sem a vontade de Deus", a noção de humanismo corporificou-se no homem como o eixo, o centro de tudo. Era a valorização do homem, que precisava ocupar seu verdadeiro lugar na Terra. O movimento renascentista, que sucedeu ao ciclo medieval, deu muito valor ao papel do homem no mundo. A palavra humanismo, dentro desse contexto, dava idéia de uma "tomada de posição", restaurando como que a supremacia do homem.

Com o decorrer do tempo, no entanto, surgiu um movimento novo, no Renascentismo (também chamado de Renascença ), definindo-se justamente pela fixação de certos padrões. Houve um momento de desordem espiritual, como é comum em todos os períodos de transição, uma tendência para o relaxamento, uma espécie de fobia, querendo acabar com as formas e os conceitos do passado. Justamente por isso, e para evitar a desagregação, ou talvez o caos, deu-se a "volta aos clássicos", isto é, um movimento que tinha por objetivo retomar o contato com as fontes gregas, restaurar as heranças clássicas da cultura. Humanismo, a esta altura, já significava não apenas a posição do homem, como expressão decisiva sobre a Terra, mas também o culto dos valores e da forma nas letras, nas artes, nos gostos, etc. Era realmente o retorno às "fontes clássicas". Humanismo, então, pressupunha o conhecimento das velhas matrizes do pensamento.

A idéia, de certo modo, ainda é válida, até hoje. É considerado humanista, no sentido antigo, aquele que tem uma cultura geral muito sólida, com fundamentos mais profundos nas ciências básicas, na história, nas línguas. Allan Kardec, por exemplo. Podemos considerá-lo pedagogo, moralista, pensador entre os mais autênticos, mas é bom não esquecer que sua formação, antes de tudo, era de humanista. Pelas questões que levantou, pela segurança com que formulou as teses fundamentais da Doutrina em seus diálogos com os espíritos instrutores e pelas próprias linhas mestras de sua estrutura intelectual, vê-se logo que havia, nele, os recursos culturais de humanista completo. (*)

Com a valorização da cultura especializada, entretanto, os humanistas clássicos já estão desaparecendo. O Brasil teve alguns deles e foram notáveis. E é o caso de nosso grande Rui Barbosa. Ainda há pouco, em artigo no "Anuário Espírita" de 970, de Araras, S. Paulo, escrevemos o seguinte: "Rui Barbosa era humanista, e dos maiores e mais completos do Brasil. Lia infatigavelmente. Além de portentoso saber jurídico, que era seu campo de atividades, tinha conhecimentos gerais de várias ciências, como de literatura, vernáculo etc. Entendia alguma coisa de Medicina, dizem que às vezes fazia diagnóstico, lia Homeopatia, leu Espiritismo... Hoje, porém, Rui certamente já não poderia, com a intensa vida profissional das “cidades trepidantes”, como o Rio, dedicar-se a tantos assuntos ao mesmo tempo. Outro humanista brasileiro: Pandiá Calógeras, que era engenheiro de minas, homem público, mas tinha conhecimentos positivos em vários campos do saber, fora de sua profissão. Capistrano de Abreu, homem sem curso acadêmico, de hábitos um tanto esquisitos, conseguiu formar um lastro admirável de conhecimentos lingüísticos, históricos, filosóficos, literários.

No meio espírita, e sem favor nem exagero, podemos apontar Carlos Imbassahy como verdadeiro tipo de humanista. E ele o era na plenitude da expressão exata. Ocorre-nos lembrar, entre outros, Ismael Gomes Braga, que também era um espírita de cultura humana muito extensa, embora muita gente só o conhecesse através do Esperanto, de que foi, na realidade, um idealista. Mas Ismael tinha boa bagagem de humanidades.

Humanista, em suma, é aquele que, não tendo formação especializada ou não sendo propriamente um técnico, tem conhecimentos fundamentais em vários sentidos. Não se deve confundir, todavia, o vero humanista com o simples "livresco", que lê um pouco de tudo, mas sempre "por alto". Mas o mundo de hoje é dos técnicos, dos especialistas, dizem. É verdade, até certo ponto. Apesar disto, é preciso notar que a especialização muito rígida e fechada pode criar certas deformações. As pessoas que se especializam demais levam certa vantagem na vida prática, mas ficam muito limitadas, desde que não cuidem de enriquecer sua cultura através de outros campos, ainda que seja apenas por diletantismo.

Afinal, que tem tudo isso com o Espiritismo? Vamos ver. Se o título desta exposição é "Espiritismo e Humanismo", claro que devemos relacionar um assunto com o outro. E o que iremos fazer, daqui por diante. O conceito de humanismo, nos dias presentes, principalmente depois da II Guerra, tomou dimensões diferentes. Já se entende, hoje, por humanismo não apenas conhecimentos gerais, bebidos nas "belas letras", como se dizia antigamente, mas também a preocupação absorvente com o homem. A acepção atual de humanismo volta-se para o homem, antes de tudo, justamente porque o homem passou a ser, agora, o centro de todas as cogitações.

Humanismo é, portanto, a filosofia que visa ao homem, à dignidade da pessoa humana, de que tanto se fala, muitas vezes apenas teoricamente. E como considerar criteriosamente essa nova concepção à luz da Doutrina Espírita? Posta a questão em termos espíritas, devemos saber, preliminarmente, se a Doutrina ficou apenas no plano ideal ou se tem, na verdade, um conteúdo humano. Neste particular, a Doutrina Espírita é profundamente humanista. Não é exagero, é observação. Mas isto é apenas uma premissa, pois não podemos parar aqui.

Quando dizemos que o Espiritismo é uma doutrina profundamente humanista, claro que estamos vendo o conjunto, não estamos considerando apenas um aspecto, seja qual for a relevância imediata desse aspecto. Se quisermos inicialmente situar a Doutrina dentro do contexto histórico do humanismo, segundo a compreensão antiga de conhecimentos gerais, "letras clássicas" etc., encontraremos elementos que nos permitem formar uma síntese, englobando vários subsídios da cultura humana: Biologia, Psicologia, Física e assim por diante. Há umas tantas questões, por exemplo, em que a Doutrina Espírita, embora sem minúcias técnicas, leva o estudioso forçosamente a ciências pouco familiares aos conhecimentos comuns, como é o caso da Geologia e da Astronomia. O objetivo da Doutrina não é aprofundar o estudo da formação da Terra nem tampouco cogitar de mecânica celeste ou movimento dos astros, mas a tese da evolução, que é uma de suas teses fundamentais, não pode deixar de suscitar inquirições sobre as formas de vida e a sucessão das camadas geológicas, o meio físico etc. A geologia histórica, portanto, há de entrar em cogitações, pelo menos em determinado momento. A tese da pluralidade dos mundos habitados — tese básica da Doutrina — pressupõe inevitavelmente algumas noções gerais de Astronomia. Cabe aos especialistas, é óbvio, a palavra técnica, o emprego da terminologia própria, mas esses problemas podem muito bem ser apreciados no quadro dos conhecimentos gerais, no ponto em que se tornam necessários, como elementos auxiliares. É o que se dá com a Doutrina Espírita.

A Doutrina também envereda algumas vezes pelas ciências sociais, levantando questões atinentes à Sociologia, principalmente.

E a Doutrina, por sua vez, também não discute o problema da criminalidade em face das condições sociais? Forçosamente vai entrar na Criminologia, não como especialidade, mas naturalmente como disciplina subsidiária de comprovação. Podemos observar, ainda, que a condensação geral das teses espíritas incide no problema racial, em passagens especiais, quando trata das desigualdades das raças humanas e dos caracteres dos tipos representativos de certos grupos. É Antropologia. Naturalmente o antropólogo de profissão poderá formular algumas questões de outro modo, com esquematizações mais técnicas, mas verdade é que a Doutrina também toca em problemas de Antropologia. Fá-lo por decorrência natural de suas premissas gerais e não com o propósito de dar soluções específicas, fora de sua verdadeira problemática.

Tudo isso, evidentemente, em função de uma tese central: a reencarnação. O desdobramento da Doutrina, como se vê, pode estender-se a diversos ângulos da cultura. Isto não quer dizer que a Doutrina Espírita seja obrigada a fazer uma sistematização dessas disciplinas ou pretenda monopolizar todo o saber, como se fosse uma enciclopédia no estilo antigo... Não ! Essa conjunção de proposições e conhecimentos diversos vem apenas mostrar a extensão cultural do Espiritismo, fazendo ver, notadamente àqueles que têm ainda noções muito incompletas ou falsas, que a Doutrina Espírita não é um manual ou breviário de "falar com os mortos" ou simples tabela de regrinhas para "adivinhar o futuro". Espiritismo é conhecimento, e conhecimento no sentido intensivo. E nesta ordem de idéias, conseqüentemente, que a Doutrina Espírita se torna humanista à medida que notamos suas relações com diversas províncias da cultura.

Para a verificação de nossa assertiva, bastaria observar a distribuição e a convergência das matérias dispostas em três obras básicas: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns e A Gênese . São livros em que se condensam os princípios gerais da Doutrina sem prejuízo do fio de seqüência que se prolonga através das outras obras. Não incluímos, aqui, O Evangelho Segundo o Espiritismo , justamente porque esta obra é o coroamento, é o vértice de toda a estrutura da Doutrina, representando a essência moral, o código de ética por excelência.

Queremos dizer, em suma, que a organização da Doutrina, em suas afirmações, não se limita pura e simplesmente ao fato das comunicações, fato que teria pouca significação, se fosse apenas objeto de curiosidade, mas a comunicação em si mesma envolve uma série de questões. O caso da obsessão ou da "loucura sem lesão" porventura não nos obriga a uma incursão na fisiologia cerebral? E disciplina médica, mas entra forçosamente no exame do problema mediúnico. Se a Doutrina discute o problema da estrutura psíquica do indivíduo em relação com as desigualdades espirituais, determinando as variações de comportamento ou de reações em face do meio biológico, do meio cósmico e do meio social, naturalmente está nos domínios da Psicologia.

Poder-se-á dizer que a Psicologia de hoje não se interessa mais pela alma como entidade independente, porque considera essa concepção mais filosófica do que científica. Diga-se que é metafísica, é psicologia tradicional ou coisa equivalente, mas o que estamos querendo demonstrar é que as preocupações do Espiritismo não dizem respeito exclusivamente ao problema da alma (espírito) "no espaço", mas também às relações da alma com o corpo, sua influência na formação do ser e no processo evolutivo. Temos, aí, problemas de Biologia, como de Fisiologia. E tudo isso está no corpo da Doutrina.

Quando a Doutrina, finalmente, estuda as funções do perispírito no organismo, os fenômenos de "desdobramento" e as materializações, os deslocamentos de objeto sem contacto, vai provocar a discussão de problemas de peso, pulsações, estabilidade, ação sobre a matéria, não é verdade? E não entram, aí, certas leis de Física e de Fisiologia? E não há fenômenos mediúnicos em que se dá alteração até na organização vocal? Diante de fenômenos tão inusitados, tão impressionantes, poder-se-ia então negar a correlação do Espiritismo com alguns ramos da Ciência? E não seria até o caso de fazermos uma revisão das noções que aprendemos acerca da matéria?...

Com estas considerações, lançadas de passagem ou de simples "pinceladas", como geralmente se diz, objetivamos apenas fixar um ponto: a amplitude do Espiritismo perante os conhecimentos gerais. Cabe, aqui, portanto, e com inteira propriedade de expressão, chamá-lo de Doutrina humanista.

Vamos a outro ponto: o conceito moderno de humanismo , o que, aliás, já foi referido. A Doutrina Espírita é humanista em suas conseqüências, porque se preocupa, em tudo por tudo, com o homem, e propõe soluções para os problemas que dependem da sociedade. Há problemas, como se sabe, que estão vinculados a existências passadas e fazem parte do chamado "acervo cármico" do indivíduo, como dizem os teosofistas, mas também há problemas que a sociedade pode evitar e há dificuldades que a organização social deve resolver. Logo, a Doutrina Espírita não está à margem da vida social. Se, portanto, o que se entende, hoje, por humanismo é o interesse pelo homem, é a preservação de sua dignidade, é o aprimoramento das instituições sociais, a Doutrina Espírita é humanista, sem tirar nem pôr.

(*) O curso de preparatórios, que se fazia anteriormente para chegar a escolas superiores, chamava-se "curso de humanidades", porque compreendia os conhecimentos gerais considerados indispensáveis à formação básica, antes de entrar em Faculdade.

Artigo transcrito do livro Idéias e Reminiscências Espíritas, de Deolindo Amorim, lançado pelo Instituto Maria, de Juiz de Fora (MG), em 1980.

Deolindo Amorim (1908-1984), jornalista e pensador espírita baiano. Escreveu vários livros e artigos relacionados à questão social. Fundou o Instituto de Cultura Espírita do Brasil (ICEB), participou ativamente da Liga Espírita do Brasil e foi um dos organizadores do II Congresso Espírita Pan-Americano, realizado no Rio de Janeiro em 1949. Obras: Espiritismo e Criminologia; O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas; Africanismo e Espiritismo; O Espiritismo e os Problemas Humanos.