sábado, 30 de janeiro de 2010

ANESPB lança edição de fevereiro de "Pensador"

CARLOS BARROS - PB
Editor e Redator Responsável

O destaque desta edição é a entrevista que nossa agência fez com Marcelo Henrique Pereira, assessor administrativo da ABRADE.

Sem contar com os artigos, as análises, os apontamentos críticos acerca da conduta e do comportamento de gente que "faz e acontece" no movimento tupiniquim.

"PENSADOR", a gazeta eletrônica da ANESPB, está do jeito que você gosta: com liberdade para expressar seu pensamento e debater, sem sofisma, suas matérias.

Leia, comente, recomende e imprima. Leitura no Adobe Reader 8 ou 9.

Colaboraram nesta edição: Octávio Caúmo (PB), Pedro Fonseca Vieira (MG), Beatriz Conceição (PB), Kiko Muniz (PB), Marcos Paterra (PB), Jayme Lobato (RJ), Carmem Barros (PB), José João Torres (DF), Saulo Rocha (PB), João Pascale (SP) e Néventon Vargas (PB).

Clique na figura acima para fazer o download ou vá na seção "Informativo Pensador" na barra de menus deste blog.

OLE - Escala Espírita

Por Allan Kardec

100. Observações preliminares.
A classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram. Esta classificação nada tem de absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto: de um grau a outro, a transição é insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida humana. Pode-se, portanto, formar um número maior ou menor de classes, de acordo com a maneira por que se considerar o assunto. Acontece nisto como em todos os sistemas de classificação científica: os sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência; mas, seja como for, nada alteram quanto à substância da Ciência. Os Espíritos, interpelados sobre isto, puderam, pois, variar quanto ao número das categorias, sem maiores conseqüências. Houve quem se apegasse a esta contradição aparente, sem refletir que eles não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo: deixam-nos os problemas da forma, da escolha dos termos, das classificações, em uma palavra, dos sistemas.

Ajuntemos ainda esta consideração que jamais se deve perder de vista: entre os Espíritos, como entre os homens, há os que são muito ignorantes, e nunca será demais estarmos prevenidos contra a tendência a crer que eles tudo sabem, por serem Espíritos. Toda classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto. Ora, no mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são, como os ignorantes deste mundo, incapazes de apreender um conjunto e formular um sistema; eles não conhecem ou não compreendem senão imperfeitamente qualquer classificação; para eles, todos os Espíritos que lhes sejam superiores são da primeira ordem, pois não podem apreciar as suas diferenças de saber, de capacidade e de moralidade, como entre nós faria um homem rude, em relação aos homens ilustrados. E aqueles mesmos que sejam incapazes, podem variar nos detalhes, segundo os seus pontos de vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluto. Lineu, Jussieu Tournefort tiveram cada qual o seu método, e a botânica não se alterou por isso. É que eles não inventaram nem as plantas nem os seus caracteres, mas apenas observaram as analogias, segundo as quais formaram os grupos e as classes. Foi assim que procedemos. Nós também não inventamos os Espíritos nem os seus caracteres. Vimos e observamos; julgamos pelas suas palavras e os seus atos, e depois os classificamos pelas semelhanças, baseando-nos nos dados que eles forneceram.

Os Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou três grandes divisões. Na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem: são os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição.

Esta divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta caracteres bem definidos; não nos resta senão destacar, por um número suficiente de subdivisões, as nuanças principais do conjunto. Foi o que fizemos, com o concurso dos Espíritos, cujas benevolentes instruções jamais nos faltaram.

Com a ajuda deste quadro, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em relação e, por conseguinte, o grau de confiança e de estima que eles merecem. Esta é de alguma maneira, a chave da Ciência espírita, pois só ela pode explicar-nos as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as irregularidades intelectuais e morais dos Espíritos. Observaremos, entretanto, que os Espíritos não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou aquela classe; o seu progresso se realiza gradualmente, e, como muitas vezes se efetua mais num sentido que noutro, eles podem reunir as características de varias categorias, o que é fácil apreciar por sua linguagem e seus atos.

TERCEIRA ORDEM: ESPÍRITOS IMPERFEITOS

101. Caracteres gerais. Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo, e todas as más paixões que lhes seguem. Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.

Nem todos são essencialmente maus; em alguns, há mais leviandade. Uns não fazem o bem, nem o mal; mas pelo simples fato de não fazerem o bem, revelam a sua inferioridade. Outros, pelo contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo.

Podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia; mas, qualquer que seja o seu desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e os seus sentimentos mais ou menos abjetos.

Os seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados, e o pouco que sabem a respeito se confunde com as idéias e os preconceitos da vida corpórea. Não podem dar-nos mais do que noções falsas e incompletas daquele mundo; mas o observador atento encontra freqüentemente, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.

O caráter desses Espíritos se revela na sua linguagem. Todo Espírito que, nas suas comunicações, trai um pensamento mau, pode ser colocado na terceira ordem; por conseguinte, todo mau pensamento que nos for sugerido provém de um Espírito dessa ordem.

Vêem a felicidade dos bons, e essa visão é para eles um tormento incessante, porque lhes faz provar as angústias da inveja e do ciúme.

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea, e essa impressão é freqüentemente mais penosa que a realidade. Sofrem, portanto, verdadeiramente, pelos males que suportaram e pêlos que acarretaram aos outros; e como sofrem por muito tempo, julgam sofrer para sempre. Deus, para os punir, quer que eles assim pensem.

Podemos dividi-los em cinco classes principais.

102. Décima classe. Espíritos Impuros — São inclinados ao mal e o fazem objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança, e usam todos os disfarces, para melhor enganar. Apegam-se às pessoas de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de as levar à perda, satisfeitos de poderem retardar o seu adiantamento, ao fazê-las sucumbir ante as provas que sofrem.

Nas manifestações, reconhecem-se esses Espíritos pela linguagem: a trivialidade e a grosseria das expressões, entre os Espíritos como entre os homens, e sempre um índice de inferioridade moral, senão mesmo intelectual. Suas comunicações revelam a baixeza de suas inclinações e, se eles tentam enganar, talando de maneira sensata, não podem sustentar o papel por muito tempo e acabam sempre por trair a sua origem.

Alguns povos os transformaram em divindades malfazejas- outros os designam como demônios, gênios maus, Espíritos do mal.

Quando encarnados, inclinam-se a todos os vícios que as paixões vis e degradantes engendram: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia cupidez e a avareza sórdida. Fazem o mal pelo prazer de fazê-lo, no mais das vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vitimas entre as pessoas honestas. Constituem verdadeiros flagelos para a humanidade seja qual for a posição que ocupem, e o verniz da civilização não os livra do opróbrio e da ignomínia.

103. Nona classe. Espíritos Levianos - São ignorantes, malignos inconseqüentes e zombeteiros. Metem-se em tudo e a tudo respondem sem se importarem com a verdade. Gostam de causar pequenas contrariedades e pequenas alegrias, de fazer intrigas, de induzir maliciosamente ao erro por meio de mistificações e de espertezas. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes de duendes, diabretes, gnomos, tragos Estão sob a dependência de Espíritos superiores, que deles se servem multas vezes, como fazemos com os criados.

Nas suas comunicações com os homens, a sua linguagem é, muitas vezes espirituosa e alegre, mas quase sempre sem profundidade; apanham as esquisitices e os ridículos humanos, que interpretam de maneira mordaz e satírica. Se tomam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade

104. Oitava classe. Espíritos Pseudo-Sábios - Seus conhecimentos são bastante amplos, mas julgam saber mais do que realmente sabem Tendo realizado alguns progressos em diversos sentidos, sua linguagem tem um caráter sério, que pode iludir quanto à sua capacidade e às suas luzes Mas isso freqüentemente, não é mais do que um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas que tiveram na vida terrena. Sua linguagem é uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, entre os quais repontam a presunção, o orgulho, a inveja e a teimosia, de que não puderam despir-se

105. Sétima classe. Espíritos Neutros – Nem são bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal; tendem tanto para um como para outro, e não se elevam sobre a condição vulgar da humanidade, quer pela moral ou pela inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, saudosos de suas grosseiras alegrias.

106. Sexta classe. Espíritos Batedores e Perturbadores — Estes Espíritos não formam, propriamente falando, uma classe distinta quanto às suas qualidades pessoais, e podem pertencer a todas as classes da terceira ordem. Manifestam freqüentemente sua presença por efeitos sensíveis e físicos, como golpes, movimento e deslocamento anormal de corpos sólidos, agitação do ar etc. Parece que estão mais apegados à matéria do que os outros, sendo os agentes principais das vicissitudes dos elementos do globo, quer pela sua ação sobre o ar, a água, o fogo, os corpos sólidos ou nas entranhas da terra. Reconhece-se que esses fenômenos não são devidos a uma causa fortuita e física, quando têm um caráter intencional e inteligente. Todos os Espíritos podem produzir esses fenômenos, mas os Espíritos elevados os deixam, em geral, a cargo dos Espíritos subalternos, mais aptos para as coisas materiais que para as inteligentes. Quando julgam que as manifestações desse gênero são úteis, servem-se desses espíritos como auxiliares.

SEGUNDA ORDEM: BONS ESPÍRITOS

107. Caracteres Gerais. Predomínio do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e seu poder de fazer o bem estão na razão do grau que atingiram: uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantados juntam ao seu saber as qualidades morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, segundo sua ordem, os traços da existência corpórea, seja na linguagem, seja nos hábitos, nos quais se encontram até mesmo algumas de suas manias. Se não fosse assim, seriam Espíritos perfeitos.

Compreendem Deus e o infinito e gozam já da felicidade dos bons. Sentem-se felizes quando fazem o bem e quando impedem o mal. O amor que os une é para eles uma fonte de inefável felicidade, não alterada pela inveja nem pêlos remorsos, ou por qualquer das más paixões que atormentam os Espíritos imperfeitos; mas terão ainda de passar por provas, até atingirem a perfeição absoluta.

Como Espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem durante a vida aqueles que se tornam dignos, e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre os que não se comprazem nelas.

Quando encarnados, são bons e benevolentes para com os semelhantes; não se deixam levar pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela ambição; não provam ódio, nem rancor, nem inveja ou ciúme, fazendo o bem pelo bem.

A esta ordem pertencem os espíritos designados, nas crenças vulgares, pelos nomes de bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos tempos de superstição e de ignorância, foram considerados divindades benfazejas.

Podemos dividi-los em quatro grupos principais:

108. Quinta classe. Espíritos Benévolos — Sua qualidade dominante é a bondade; gostam de prestar serviços aos homens e de os proteger; mas o seu saber é limitado: seu progresso realizou-se mais no sentido moral que no intelectual.

109. Quarta classe. Espíritos Sábios — O que especialmente os distingue é a amplitude dos conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm mais aptidão; mas só encaram a Ciência pela sua utilidade, livres das paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos.

110. Terceira classe. Espíritos Prudentes — Caracterizam-se pelas qualidades morais da ordem mais elevada. Sem possuir conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite julgar com precisão os homens e as coisas.

111. Segunda classe. Espíritos Superiores — Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua linguagem, que só transpira benevolência, é sempre digna, elevada, e freqüentemente sublime. Sua superioridade os torna, mais que os outros, aptos a nos proporcionar as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que nos é dado conhecer. Comunicam-se voluntariamente com os que procuram de boa fé a verdade e cujas almas estejam bastante libertas dos liames terrenos, para a compreender; mas afastam-se dos que são movidos apenas pela curiosidade ou que, pela influência da matéria, se desviam da prática do bem.

Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e então nos oferecem o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.

PRIMEIRA ORDEM: ESPÍRITOS PUROS

112. Caracteres Gerais. Nenhuma influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos Espíritos das outras ordens.

113. Primeira classe. Classe Única — Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a soma de perfeições de que é suscetível a criatura, não têm mais provas nem expiações a sofrer. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que desfrutam no seio de Deus.

Gozam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material, mas essa felicidade não é a de uma ociosidade monótona, vivida em contemplação perpétua. São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam, para a manutenção da harmonia universal. Dirigem a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e determinam as suas missões. Assistir os homens nas suas angústias, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os distanciam da felicidade suprema é para eles uma ocupação agradável. São, às vezes, designados pêlos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.

Os homens podem comunicar-se com eles, mas bem presunçoso seria o que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.

Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Capítulo VI - Escala Espírita. Tradução de José Herculano Pires.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Veemente Defesa de Kardec

Por Rogério Coelho

Quando o Espiritismo contava apenas três anos de idade, já provocava a fúria dos detratores de plantão, em especial daqueles que se encontravam aprisionados nas constringentes e sufocantes muralhas dos ancilosados dogmas medievais, sob o guante de deslavada ignorância...

Muitas vezes (como Jesus o fazia) Kardec respondia as provocações com o silêncio; outras vezes, dava largas a monumentais réplicas que impressionavam pelo poder de demolição das argumentações antípodas.

Em agosto de 1860, quando visitava sua cidade natal, o periódico Gazette de Lyon publicou um artigo de um jornalista que se identificou apenas com as iniciais “C.M.”, intitulado: “Uma Sessão Entre os Espíritas”, lavrado com requintes de leviandade, inverdades, incoerências e abundantemente tendencioso, no qual os espíritas eram chamados, entre outros epítetos de: “alucinados” envolvidos em mil formas de aberrações, “laicos” que romperam com todas as crenças religiosas, “ignorantes”, “ineptos”, “ridículos”, pertencentes exclusivamente à classe operária. Ao Espiritismo chamou de “loucura nova renovada das antigas”.

O artigo termina assim: “(...) Antigamente a Igreja era bastante poderosa para impor silêncio a semelhantes divagações; ela feriria – talvez – muito forte, é verdade, mas deteria o mal. (Evidentemente o articulista se referia às fogueiras inquisitoriais).

Hoje, uma vez que a autoridade religiosa é impotente, uma vez que o bom senso não tem bastante império para fazer justiça a tais alucinações, a outra autoridade (referia-se à autoridade civil constituída) não deveria intervir neste caso, e colocar fim a práticas das quais o menor inconveniente é tornar ridículos aqueles que com isso se ocupam?”.

Esse conjunto de aleivosias fez com que Kardec escrevesse a seguinte carta ao redator da Gazette de Lyon (naturalmente dentro do espírito do direito de resposta, que evidentemente foi escamoteado pelo redator) na qual podemos observar o brilho intenso da verve e inteligência do Codificador do Espiritismo, bem como a justificativa para que seu conterrâneo Camille Flammarion o chamasse “Bom senso encarnado”:

“Senhor,

Foi-me comunicado um artigo, assinado C.M., que publicastes na Gazette de Lyon, de 2 de agosto de 1860, sob o título: “Uma Sessão Entre os Espíritas”. Nesse artigo, se não fui atacado senão indiretamente, o sou na pessoa de todos aqueles que partilham as minhas convicções; mas isto não seria nada se as vossas palavras não tendessem a falsear a opinião pública sobre o princípio e as conseqüências das crenças espíritas, derramando o ridículo e a censura sobre aqueles que as professam, e que assinalais à vindita legal. Peço-vos permitir-me algumas retificações a esse respeito, esperando de vossa imparcialidade que, uma vez que crestes dever publicar o ataque, bem gostaríeis de publicar a minha resposta.

Não credes, Senhor, que o meu objetivo seja de procurar vos convencer, nem que vá restituir-vos injúria por injúria; quaisquer que sejam as razões que vos impeçam de partilhar a nossa maneira de ver, não penso em indagá-las, e as respeito se são sinceras; não peço senão a reciprocidade praticada entre pessoas que sabem viver. Quanto aos epítetos descorteses, não está nos meus hábitos deles me servir.

Se tivésseis discutido seriamente os princípios do Espiritismo, se a eles opusésseis argumentos quaisquer, bons ou maus, teria podido vos responder; mas toda a vossa argumentação se limita a nos qualificar de ineptos, e não me cabe discutir convosco se tendes erro ou razão; eu me limito, pois, a levantar o que as vossas assertivas têm de inexato, fora de todo personalismo.

Não basta dizer às pessoas, que não pensam como nós, que elas são imbecis: isto está ao alcance de qualquer um; é necessário demonstrar-lhes que estão erradas; mas como fazê-lo, como entrar no cerne da questão se não se sabe dela a primeira palavra? Ora, creio que é o caso em que vos encontrais, de outro modo teríeis empregado melhores armas do que a acusação banal de estupidez. Quando tiverdes dado, ao estudo do Espiritismo, o tempo moral necessário, e vos previno que dele é necessário muito; quando tiverdes lido tudo o que possa assentar a vossa opinião, aprofundado todas as questões, assistido como observador conscencioso e imparcial a alguns milhares de experiências, a vossa crítica terá algum peso; até lá, não é senão uma opinião individual que não se apóia sobre nada, e a respeito da qual podeis, em cada palavra, ser preso em flagrante delito de ignorância. O princípio de vosso artigo, disto é a prova: “Chamam-se ESPÍRITAS”, dizeis, “certos alucinados que romperam com TODAS as crenças religiosas de sua época e de seu país”. Sabeis, Senhor, que esta acusação é muito grave, e tanto mais grave que é, ao mesmo tempo, falsa e caluniosa? O Espiritismo está inteiramente fundado sobre o princípio da existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade depois da morte, sua imortalidade, as penas e as recompensas futuras. Ele não sanciona estas verdades somente pela teoria, sua essência é de dar-lhes provas patentes; eis porque tantas pessoas, que não criam em nada, foram conduzidas para as idéias religiosas. Toda a sua moral não é senão o desenvolvimento destas máximas do Cristo: Praticar a caridade, restituir o bem para o mal, ser indulgente com seu próximo, perdoar aos inimigos, em uma palavra, agir para com os outros como gostaríamos que eles agissem para conosco. Achais, pois, estas idéias muito estúpidas? Romperam com toda a crença religiosa aqueles que se apóiam sobre as próprias bases da religião? Não, direis, mas basta ser católico para ter estas idéias; tê-las, seja; mas praticá-las é outra coisa, ao que parece. É bem evangélico a vós, católico, insultar bravas pessoas que não vos fizeram mal, que não conheceis e que tiveram bastante confiança em vós, para vos receber entre elas? Admitamos que estejam no erro; será prodigalizando-lhes injúria, irritando-as que as conduzireis?

O vosso artigo contém um erro de fato que prova, ainda uma vez, a vossa ignorância em matéria de Espiritismo. Dissestes: “Os adeptos são geralmente operários”. Sabei, pois, Senhor, para o vosso governo, que sobre os cinco ou seis milhões de Espíritas que existem hoje, a quase totalidade pertence às classes mais esclarecidas da sociedade; ele conta entre seus adeptos um número muito grande de médicos em todos os países, de advogados, de magistrados, de homens de letras, de altos funcionários, de oficiais de todos os graus, de artistas, de sábios, de negociantes, etc., pessoas que classificais muito levianamente entre os ineptos. Mas passemos por cima disto. As palavras insulto e injúria vos parecem muito fortes? Vejamos!

Pesastes bem a importância de vossas palavras quando, depois de ter dito que os adeptos são geralmente operários, acrescentais, a propósito das reuniões lionesas: Porque ali não recebem facilmente aqueles que, pelo seu exterior, anunciam MUITA INTELIGENCIA; os Espíritos não se dignam manifestar-se senão aos SIMPLES, provavelmente, foi o que nos valeu para ser ali admitido. (...) Assim, segundo vós, para se admitido nas reuniões de operários, é necessário ser operário, quer dizer, desprovido de bom senso, e ali não fostes introduzido senão porque, dissestes, provavelmente vos tomaram por um tolo. Seguramente, acreditando-se que tivésseis bastante espírito para inventar coisas que não são, muito certamente ter-lhe-iam fechado a porta.

Sabeis bem, Senhor, que não atacais somente os Espíritas, mas toda a classe operária, e em particular a de Lyon? (...) Derramais o ridículo sobre a sua linguagem; mas esqueceis que seu estado não é o de fazer discursos acadêmicos? Há necessidade de um estilo tirado ao cordel para dizer o que se pensa? As vossas palavras, Senhor, não são apenas levianas, — emprego esta palavra com comedimento, — elas são imprudentes.

Sabeis o que fazem esses operários espíritas lioneses, que tratais com tanto desdém? Em lugar de irem se distrair num cabaré, ou de se nutrir de doutrinas subversivas e quiméricas; nessa oficina que comparais zombeteiramente ao antro de Trophomus, no meio desses teares, eles pensam em Deus. Ali os vi durante a minha estada; conversei com eles e estou convencido do que se segue: Entre eles, muitos maldiziam seu trabalho penoso: hoje o aceitam com a resignação do cristão, como uma prova; muitos viam com olhos de inveja e de ciúme a sorte dos ricos: hoje, eles sabem que a riqueza é uma prova ainda mais arriscada do que a da miséria, e que o infeliz que sofre, e não cede à tentação, é o verdadeiro eleito de Deus; eles sabem que a verdadeira felicidade não está no supérfluo, e que aqueles que são chamados os felizes deste mundo, também têm cruéis angústias que o ouro não aquieta; muitos se riam da prece: hoje, eles oram, e reencontraram o caminho da religião, que esqueceram, porque outrora não acreditavam em nada e hoje eles crêem; vários teriam sucumbido ao desespero: hoje, que conhecem a sorte daqueles que abreviam voluntariamente sua Vida, se resignam à vontade de Deus, porque sabem que têm uma alma, e que antes disto não estavam certos; porque sabem, enfim, que não estão senão de passagem sobre a Terra, e que a justiça de Deus não falta a ninguém...

(...) Objetareis, sem dúvida, que, em suas comunicações, os Espíritos dizem algumas vezes coisas absurdas. Isto é muito verdadeiro; eles fazem mais: dizem às vezes grosserias e impertinências. É que, deixando o corpo, o Espírito não se despoja imediatamente de todas as suas imperfeições; e é provável que aqueles que dizem coisas ridículas como Espíritos, o disseram mais ridículas ainda quando estavam entre nós; por isso, não aceitamos mais cegamente tudo o que vem de sua parte, quanto o que vem da parte dos homens. Mas me detenho, não tendo a intenção de fazer aqui um curso de ensinos; basta-me provar que faláveis do Espiritismo sem conhecê-lo.

Aceitai, Senhor, minhas cordiais saudações.

Allan Kardec

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de Julho de 2005.

Desprendimento dos Bens Terrenos

A que bens terrenos que o Espírito se refere?

Por Octávio Caúmo Serrano

No longo item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, “Servir a Deus e a Mamon”, Lacordaire nos trouxe, em 1863, importante mensagem sobre o “Desprendimento dos Bens Terrenos”.

A quem bens terrenos ele se refere?

Habituamo-nos a raciocinar que somos um espírito encarnado e, portanto, subjugado ao mundo da matéria, extremamente apelatória, imediatamente vem-nos à mente que os bens terrenos são as casas, os carros, as roupas e a comida, entre outros de igual natureza.

Não há dúvida que esses bens exercem fascínio em todos os homens. Fazem parte das necessidades humanas: o conforto, a boa comida, a roupa bonita, a jóia que enfeita, porque nosso corpo é ainda com o que mais nos identificamos. Temos sido mais matéria do que espírito, característica inerente aos mundos de provas e expiações, onde a imperfeição domina os seus habitantes.

A prova do que afirmamos é que nunca se cultivou tanto a forma física. As pessoas estão artificializadas. Tudo nelas está ficando postiço, enxertado. Jovens já a partir de quinze anos, meninas e meninos, procurando “turbinar-se”, causando danos à saúde e não percebendo a efemeridade da juventude.

É difícil desprender-nos desses bens, porque mesmo quando nos explicam sobre esse tema, vem-nos a idéia de que para ser cristão é preciso fazer voto de pobreza – porque confunde-se pobreza com humildade - e os valores do mundo são proibidos pelas Leis de Deus. Logo nos chega à mente as lições de Jesus quando disse ao moço que deveria vender tudo e segui-Lo para ter o reino dos Céus; ou quando disse que é mais fácil o camelo passar pela agulha do que o rico ir para o Céu.

Isso não faz sentido, porque se nos fizermos pobres materialmente passaremos a ser mais um fardo para a sociedade, onde já existe tanta miséria e desigualdade. E seu Deus deixa que cheguem às nossas mãos recursos que nos permitem dar empregos ou consumir os produtos dos que trabalham, nenhum mal existe nisso. Só há mal quando tentamos obter riqueza de maneira desonesta ou com danos ao semelhante.

Temos para nós, porém, que há bens terrenos mais difíceis de ser vencidos pelos homens que são aqueles ligados aos sentimentos. Falamos de poder, de vaidade, de beleza, de inteligência. Falamos ainda de competições. Não porque elas existam. Afinal são necessárias para que o homem trace objetivos e busque o sucesso. Mas porque não sabemos lidar com elas.

Observemos as competições de toda ordem. Para que dez por cento fique feliz, noventa por cento têm de sofrer, pela derrota e por ser ofendido pelo sadismo do vencedor. Fala-se tanto na paz do mundo, mas enquanto houver a ganância, a avareza, o egoísmo insaciável dos seres humanos, a paz será impossível. Não fogem a essa análise nem mesmo as religiões. Todas pretendem ter a verdade e não percebem que dividem em vez de harmonizar. No entanto, todas elas têm parte da verdade e estão, em processo evolutivo, interligadas.

A proposta do Espiritismo de nos concitar ao desprendimento dos bens terrenos é mostrar-nos que somos antes espírito que matéria, porque material somos por um tempo e espiritual, seremos eternamente. Como os bens materiais mal administrados lesam o homem espiritual, se não aprendermos agora a valorizar os bens terrenos com equilíbrio, seremos escravos deles, mesmo após a morte. Os avarentos de hoje serão os obsessores de amanhã..

Não temos a ilusão de imaginar que esse quadro possa mudar dentro de alguns séculos. O progresso e o entendimento são muito lentos. É tudo pouco a pouco, um a um, até que todos compreendam que desprender do mundo é libertar-se de si próprio. Mas para nós espíritas, é mais fácil compreender essa orientação de Lacordaire, a mesma de muitos outros orientadores.

Se considerarmos toda a gama de bens terrenos, veremos que desprender de casas, e outros bens patrimoniais, é ainda mais fácil do que a mãe desprender-se do filho, a esposa do marido, a irmã do irmão e o cidadão da sua pátria. Difícil ao homem desprender-se da vaidade, das raças, dos cargos, das posições, da importância que lhe dão no mundo. Vemos isso até na diretoria de agrupamentos espíritas, onde o dirigente faz da casa o “seu centro”. Precisa da autoridade de presidente. Precisa da importância.

A finalidade da reencarnação é ajustar o homem aos valores espirituais. É viver no mundo, sem ser do mundo, como ensinam os espíritos. É sair daqui melhor do que chegou. Se assim não for, a reencarnação de nada valerá. Portanto, devemos selecionar com critério quais são os bens que valem nossos maiores investimentos. Se pensarmos apenas nos que ficam na Terra, nada construiremos para o futuro.

Tudo o que dissemos até aqui é comprovado ao vermos ricos tão infelizes quanto pobres. Uns, pobres, têm privações materiais. Outros, ricos, vivem a miséria espiritual. Se existe nos dias atuais tanta depressão causada pelo estresse da vida moderna, isso se deve à dificuldade do homem em desprender dos bens terrenos. Desprender não é relaxar. É administrar com sabedoria. E isto é o que nos tem faltado.

Sugerimos que leiam atentamente todo o item 14, do capítulo XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, para compreenderem mais claramente o que fazemos na Terra.

Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição de agosto de 2005.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Conheça a Doutrina Espírita

Por Alamar Régis Carvalho

Para quem não conhece eis uma boa oportunidade para conhecer a Doutrina Espírita...

Partindo do princípio que o objetivo de todo jornalística ético e sensato é o de informar bem, com coerência, honestidade, dignidade e imparcialidade, preocupando-se sempre com o indispensável conhecimento da causa que leva a reportar, venho apresentar-lhes uma contribuição em cima de um assunto que muitos profissionais do jornalismo, embora bem intencionados, terminam cometendo equívocos lamentáveis, por uma inexplicável ignorância que compromete os seus nomes bem como o dos veículos por onde vinculam as suas matérias ou reportagens.

Falo com respeito ao assunto Espiritismo, tema este que invariavelmente é visto apenas no campo religioso, o que na verdade não é, e sobretudo, o que é mais lamentável, sempre enfocado com afirmativas de conceitos absurdos, oriundos do "achismo" e também de uma cultura criada na cabeça das pessoas, pela intolerância e a desonestidade religiosa.

Não objetivo aqui defender crença ou fé nenhuma, porque não é isto que está em questão. Só quero mesmo prestar contribuição ao gigantesco segmento honesto do jornalismo acerca de uma coisa, como ela realmente é, para que ele esteja melhor informado, sem a menor pretensão de querer fazer com que nenhum profissional o aceite, concorde com os seus postulados e, muito menos, se converta.

Vamos aos assuntos:

Espiritismo não é igreja.

Em princípio corrijam a conceituação inicial: Espiritismo não é simplesmente religião. Ele não veio ao mundo com objetivo nenhum de ser religião. Trata-se de uma doutrina filosófica, com base calcada na racionalidade, na lógica e na razão, apenas com conseqüências religiosas, haja vista que os seus adeptos ficam livres da submissão a qualquer religião, por não serem obrigados a coisa nenhuma e nem serem proibidos de nada. Há centros espíritas que se portam como se fossem igrejas, mas isto é produto da concepção equivocada dos seus dirigentes, que ainda sentem a necessidade da rezação, em que pese o Espiritismo ser algo muito acima disto.

Não existe "Kardecismo", existe "Espiritismo".

O jornalista equivocado costuma utilizar-se da expressão "kardecismo", para identificar algo que ele imagina ser uma "ramificação" do Espiritismo, achando que Espiritismo é um "montão de coisas" que existe por aí, quando na realidade não é. A palavra "Espiritismo" foi criada, ou inventada, como queiram, pelo senhor Allan Kardec, exclusivamente, para denominar a doutrina nova que foi trazida ao mundo, por iniciativa de Espíritos, e que tem os seus postulados próprios. Portanto, qualquer crença ou prática religiosa que utiliza-se da denominação "Espiritismo", fora desta que se enquadre nos seus postulados, está utilizando-se indevidamente de uma denominação, mergulhando no campo da fraude. Daí a verdade que o nome disto que vocês chamam de "kardecismo", verdadeiramente é "Espiritismo".

Apenas para clarear o campo de conhecimento dos que ainda têm dúvidas, em achar que Candomblé, Cartomancia, Necromancia, Umbanda e outras práticas espiritualistas é Espiritismo, vai aqui uma pequena tabela, exemplificando algumas práticas de alguns segmentos, para apreciação daqueles que consideram relevante o uso da inteligência e do bom senso, a fim de um discernimento mais coerente e responsável.

Vejam quem adota e quem não adota o quê.
Procedimento, prática ou ritual Umbanda Catolicismo Espiritismo

1 Uso de altares.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

2 Uso de imagens.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

3 Uso de velas.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

4 Uso de incensos e defumações.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

5 Vestimentas e paramentos especiais.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

6 Obrigações aos seus praticantes.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

7 Proibições aos seus praticantes.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

8 Ajoelhar-se, sentar-se e levantar-se em seus cultos.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

9 Bebidas alcoólicas em seus cultos.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

10 Sacerdócio organizado.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

11 Sacramentos.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

12 Casamento religioso e batizados.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

13 Amuletos, patuás, escapulários e penduricalhos.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

14 Hinos e cantarolas nos cultos.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

15 Crença na existência de satanás.
Umbanda - Sim
Catolicismo - Sim
Espiritismo - Não

Como pode, então, um profissional que tem a obrigação de estar bem informado, poder afirmar que Espiritismo e Umbanda são a mesma coisa? Não seria mais coerente dizer que tem mais semelhanças com o Catolicismo, embora não seja também a mesma coisa? O espírita não tem a menor pretensão de diminuir ou desvalorizar o adepto da Umbanda que, por sua vez, tem também a sua denominação própria que é Umbanda, e não Espiritismo, apenas quer deixar claro que Espiritismo é Espiritismo e Umbanda é Umbanda, assim como Catolicismo é Catolicismo, Protestantismo é Protestantismo.

A afirmativa que alguns fazem, em dizer que tudo é a mesma coisa, com a diferença de que na Umbanda se reúnem negros e pobres e no tal "Kardecismo" se reúnem o que chamam de elites, é extremamente leviana, desonesta e irresponsável. O Espiritismo não faz qualquer discriminação de raças, cor ou padrão social, já que em seu movimento existem inúmeros negros, mulatos, brancos e de todas as etnias.

Allan Kardec não inventou o Espiritismo.

Allan Kardec não inventou, ou criou, Espiritismo nenhum. A proposta veio de Espíritos, através de manifestações espontâneas, consideradas como fenômenos, na época, e ele, que nada tinha a ver com aquilo, foi convidado por alguns amigos para examinar e analisar os tais fenômenos, em suas casas, oportunidade em que foi convidado, pelos Espíritos, pela sua condição de pedagogo e educador criterioso, a organizar aqueles ensinamentos em livros e disponibilizar para a humanidade. Ele foi tão honesto e consciente de que a obra não era de sua autoria, que evitou colocar o seu nome famoso na Europa antiga (Denizard Rivail) como autor dos livros e preferiu utilizar-se de um pseudônimo. É bom que se saiba que o tal professor Rivail era autor famoso de livros didáticos e que tudo o que aparecia com seu nome vendia muito, não apenas na França como em toda a Europa..

Atentem para o detalhe: Os Espíritos optaram por um pedagogo, um professor, e não por um padre, um religioso, o que nos convida a entender que o Espiritismo é escola e não igreja.

Sobre a reencarnação.

Não é patrimônio exclusivo do Espiritismo e não foi inventada pelo Espiritismo, posto que é algo conhecido pela maior parte da humanidade, por milênios, muito antes do Espiritismo, que tem apenas 151 anos de idade. O espírita, depois de estudar a reencarnação, não crê na reencarnação, ele passa a SABER a reencarnação, o que é diferente. Exemplificando: Você crê que a Lua existe ou você sabe que ela existe? Afinal, você pode vê-la e comprovar, inclusive cientificamente? É isto aí. Portanto a afirmativa de que os espíritas crêem na reencarnação é infantil e sem sentido.

Sobre a mediunidade.

Também não é patrimônio exclusivo e nem foi inventada pelo Espiritismo. É uma faculdade humana normal e independe de crença religiosa, já que a pessoa pode possuí-la, com maior ou menor intensidade, acredite ou não. O Espiritismo apenas se dispõe a estudá-la, educar e disciplinar as pessoas que a possuem, para que o seu uso possa ser benéfico a elas e aos outros, absolutamente dentro dos elementares padrões de moralidade. Segundo os postulados espíritas ela não deve ser comercializada, nunca, e deve ser utilizada gratuitamente; todavia é praticada comercialmente em alguns lugares do mundo, por pessoas que são médiuns, inclusive honestas, mas nada sabem sobre Espiritismo, numa comprovação de que ela existe fora do meio espírita. Qualquer afirmativa do tipo que "alguém tem mediunidade e precisa desenvolver" é vinda de pessoas inconseqüentes, mesmo algumas que se auto rotulam espíritas, posto que o Espiritismo propõe que a faculdade deve ser educada e não desenvolvida.

Sobre o caráter do centro espírita.

É um local que deve atuar como escola e não como igreja. A sua proposta é de estudos, sobretudo da matéria que trata da reforma íntima das pessoas, dando ciência do papel de cada um de nós na terra, da nossa razão de existir enquanto criaturas úteis ao nosso próximo, esclarecimento da nossa condição espiritual no presente e no futuro e, principalmente, a nossa conduta moral. Recomenda a prática da Caridade, sim, mas de forma ampla no sentido de orientar e informar aos outros sobre os meios de libertações dos conflitos, das amarguras, das incompreensões e do sofrimento em si e não esse entendimento estreito de que Caridade se resume apenas a dar prato de sopa ou roupas usadas para pobres, para qualificar o doador como bonzinho. Adota Jesus, sim, inclusive como o maior modelo e guia que temos para seguir, concebendo o seu Evangelho como a bula coerente a nos conduzir, e não como sendo ele o próprio Deus. Enfim. O centro espírita é um local de estudo e não de rezação.

Sobre quem é reencarnação de quem.

Recentemente vimos um jornalista afirmar, nas páginas da VEJA, que os espíritas juram que Fulano é reencarnação de Ciclano, o que se constitui em um absurdo. Em princípio espírita não adota jura nenhuma. Segundo, que não consta da atividade espírita a preocupação de quem é reencarnação de quem, uma vez que esta discussão é irrelevante, não tem razão nenhuma, não acrescenta absolutamente nada na proposta espírita para a criatura humana, em que pese alguns espíritas, apenas alguns, (nem todos entendem bem a proposta da doutrina) se ocuparem com esse tipo de discussão.

Falar em quem é ou talvez possa ser reencarnação de quem, é conversa amena de momentos de descontração de espíritas, apenas em nível de curiosidade ou especulação, jamais tema de estudo sério da casa espírita. Ainda que possa existir, em alguns locais de estudos mais profundos e pesquisas espíritas, interesses em trabalhar as questões da reencarnação, os estudiosos apenas sugerem que fulano possa ser a reencarnação de alguém, mas nunca afirmam, apesar de evidências marcantes e inquestionáveis, quando a condução da pesquisa é séria e criteriosa. Quem anda dizendo que é a reencarnação de reis, de rainhas e de personagens poderosas do passado não são os espíritas, são apenas alguns bobos que estão no Espiritismo sem consciência do seu papel.

Apologia ao sofrimento.

Matérias de revistas e jornais, dentro deste equívoco que nos referimos, chegaram a afirmar, diversas vezes, que o Espiritismo ensina as pessoas a serem acomodadas em relação ao sofrimento e até chegarem a dizer que o sofrimento é bom. Não condiz com o coerente ensinamento do Espiritismo. Se algum espírita chega a dizer isto, certamente é vítima do masoquismo e, provavelmente, deve praticar um ritual em sua casa, quando, talvez uma vez por semana, colocar a mão sobre uma mesa e dar uma martelada em seu dedo. Sofrimento não é condição fundamental para a evolução de ninguém, embora entendemos que, ao passar por ele, muitas pessoas terminam acordando para a realidade da vida e mudando de conduta, sobretudo no campo do orgulho, do egoísmo e da presunção.

Mesa branca.

Não existe espiritismo mesa branca, alto espiritismo, baixo espiritismo ou qualquer ramificação do Espiritismo, que é um só. O hábito de forrar mesas com toalhas de cor branca, na maioria dos centros espíritas, nada mais é que um hábito de alguns espíritas, de certa forma até equivocados também, uns talvez achando que a cor branca da toalha ou das roupas das pessoas tem algum significado virtuoso, quando na verdade não existe esta orientação no Espiritismo. Muito pelo contrário, seria preferível utilizar toalhas (por que tem sempre que ter toalhas nas mesas?) de outras cores, posto que tecidos em cor branca tem maior facilidade de sujar. Portanto a citação de "espiritismo mesa branca" é mais uma expressão da ignorância popular, o que não se admite nos jornalistas.

Terapia de vidas passadas.

Não é procedimento espírita, em que pese ser recomendável em alguns casos, porém em consultórios de profissionais especializados, geralmente psicólogos ou médicos. É fato, existe, é comprovado, tem resultados cientificamente respaldados, mas não é prática espírita.

Cromoterapia, piramidologia etc...

Se alguém usa uma dessas práticas no espaço físico de uma casa espírita, é por pura deliberação da direção da casa, que se considera livre para fazer o que quiser, até mesmo dar aulas de arte culinária, corte e costura, curso de inglês, informática ou o que quiser, que são atividades úteis, sem dúvidas. Mas não tem a ver diretamente com o Espiritismo.

Sucessor de Chico Xavier.

Isto nunca existiu no Espiritismo, em que pese vários jornalistas terem colocado em matérias diversas, quando o Chico Xavier "morreu", e ainda repetem, talvez querendo estabelecer alguma comparação do Espiritismo (que vêem apenas como religião) com a Igreja Católica, que tem sucessores dos papas, quando morrem. Chico Xavier nunca foi uma espécie de papa, de cardeal ou de qualquer autoridade eclesiástica dentro do movimento espírita. Divaldo Pereira Franco nunca foi sucessor do Chico, nunca teve essa pretensão, ninguém no movimento espírita fala nisto, que é coisa apenas de páginas de revistas desinformadas sobre o que verdadeiramente é o Espiritismo.

A sua relação com a Ciência.

Faz parte da formação espírita a seguinte recomendação: "Se algum dia a Ciência comprovar que o Espiritismo está errado em algum ponto, cumpre aos espíritas abandonarem imediatamente o ponto equivocado e seguirem a orientação da Ciência".

Mas isto não quer dizer que o que afirma determinadas criaturas, como o padre Quevedo, que se apresenta presunçosamente como cientista, deva ser entendido como Ciência, já que ele não é unanimidade e nem ao menos aceito pela maioria dos cientistas coisa nenhuma. Ele é padre, nada mais do que padre, com um tipo de postura que não aceita nem pela maioria do seio católico, quanto mais pelo científico.

Não é à pseudo-ciência ou a opiniões pessoais de um ou outro elemento, que se diz de Ciência, que o Espiritismo se submete, com esta recomendação, é a Ciência, como um todo, em descobertas inquestionáveis. Até agora a Ciência não conseguiu apontar e muito menos comprovar erro em um ensinamento espírita, sequer.

Se alguém exige, por exemplo, querer provas por parte dos que afirmam que existe vida fora da Terra, por questão de bom senso deve ter também provas de que não existe. Será que tem?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Espírito Desencarnado não é Santo

Por Alamar Régis Carvalho

O grande problema de uma doutrina são os equívocos praticados por alguns dos seus profitentes. A Doutrina Espírita também é vítima disto, pelo que fazem alguns espíritas que, apesar da boa vontade que estão investidos no movimento e até mesmo da honestidade de propósitos, não se dão muito ao trabalho de entender bem os postulados doutrinários, a base fundamental da doutrina, na sua essência, e terminam prejudicando o entendimento do Espiritismo.

É exatamente por causa desses conhecimentos apenas superficiais da doutrina que ainda há muita prática igrejeira em nosso movimento, com todos os ingredientes do espírito de igreja, com as proibições, as obrigações, as censuras, as rezações excessivas, os rituais, as perseguições e todas essas coisas.

Analisemos aqui a questão da concepção dos espíritos pelos espíritas. Antes que eu faça a minha abordagem, vale relermos “O Livro dos Espíritos”, em seu livro segundo, que fala do “Mundo Espírita ou dos Espíritos”, da natureza dos espíritos de um modo geral, da influência deles em nossas vidas, etc.

É muito comum ouvirmos pessoas dizerem:

- “Esta coisa tem que ser assim, porque o Espírito tal disse que tem que ser assim, no livro tal”.

- “A nossa instituição vai ter que trabalhar desta forma, porque o mentor da casa disse que tem que ser desta forma”.

- “Fulano está errado e não deve ser levado a sério, porque o espírito tal, no livro tal, coloca a coisa de uma maneira diferente”.

- “Isto não é Espiritismo!!!!”.

Expressões como estas são ouvidas a todo momento no meio espírita. Daí resultam aquilo que chamo de “Espiritismos à moda da casa”, quando vários dirigentes, em diversas localidades, fazem do Espiritismo o que bem entendem, embora laborando na doutrina com honestidade e dedicação.

A grande confusão que existe é a concepção dos Espíritos, quando muitos os vêem como verdadeiros santos, donos absolutos da verdade, conhecedores de todas as coisas, perfeitos e infalíveis como se fossem o próprio Deus.

É preciso que todos nós espíritas entendamos bem aquilo que a obra básica da doutrina nos ensina, que diz que os espíritos desencarnados são exatamente os espíritos dos homens que viveram encarnados na Terra.

Se uma pessoa não foi espírita, quando encarnada, não vira espírita imediatamente à sua desencarnação. Poderá, depois de algum tempo, aceitar as idéias espíritas; do mesmo jeito que poderia aceitá-las, como muitos passam a aceitar, quando estão encarnados. Mas poderá também não querer aceitar.

Se uma pessoa, enquanto encarnada, viveu advogado aqui, praticando a advocacia como sua vocação e profissão, depois que desencarna não terá tendência para ser “espírito de cura”, já que não teve qualquer afinidade com a medicina ou a enfermagem. Continuará gostando do direito, das leis, dos “data venia”, do “vamos fazer uma juntada aos autos do processo”, do “transitado e julgado” etc.

Se um espírito foi padre ou freira, quando encarnado, amante da sua venerável igreja católica, não vai deixar de amar a sua igreja, depois que morre, por mais que tome consciência da sua condição de desencarnado, entenda a possibilidade da comunicação mediúnica, passe a usar um médium para se comunicar, crie simpatia pelo Espiritismo e resolva até escrever livros, exercendo o seu amor pela educação, pelo ensinar e pela aplicação dos seus conhecimentos de um modo geral.

Só que tentará passar para as pessoas, mesmo espíritas, orientações conforme a sua cultura adquirida que, queiramos ou não, trás o ranço católico. É natural que não vá passar idéias inquisitoriais, recomendações a determinadas formalidades, rituais ou qualquer procedimento católico que ele não aceita, do mesmo jeito que nos dias atuais já conseguimos identificar padres que, mesmo encarnados, não aceitam determinados dogmas e procedimentos que a sua igreja impõe. Antigamente o padre que se atrevesse a pelo menos insinuar que não aceitava pelo menos um dogma da igreja, era queimado sumariamente. Hoje a coisa está mais livre.

Nós temos um problema muito sério, no movimento espírita, no campo da moralidade, por exemplo, problema esse que gera outros para as pessoas.

Geralmente os Espíritos que são mais conhecidos no movimento espírita, que escrevem livros, que enviam mensagens através dos mais famosos médiuns, são pessoas que desencarnaram nas décadas de dez, de vinte, de trinta... mais ou menos.

Raramente nos vemos um espírito escrever algum livro pelo Divaldo, por exemplo, ou por outro médium, que tenha desencarnado na década de setenta. Falo desses espíritos que são considerados modelos doutrinários pelo movimento, não espíritos como aqueles da Editora Petit, embora respeitáveis.

Acompanhem o meu raciocínio:

Uma pessoa que viveu até a década de vinte, por exemplo, tendo desencarnado com 70 anos, mais ou menos, certamente deve ter nascido por volta do ano de 1850.

Que tipo de cultura ele adquiriu no período da sua vida como encarnado, acerca do que seria moral, da relação homem mulher, dos direitos do homem e dos direitos da mulher, etc, vivendo no período de 1850 a 1920?

Conceber a mulher como um ser inferior ao homem, que deveria se limitar aos afazeres domésticos, jamais a sair também para trabalhar fora, em igualdade de condições, era uma concepção machista desse espírito?

Claro que não. É machista hoje, nos nossos dias, mas no tempo dele era absolutamente normal, era o que era moral.

Discutia-se abertamente as questões sobre o sexo nas escolas? Nem pensar! Seria considerada a maior imoralidade.

Hoje o assunto é abordado, naturalmente, não apenas nas escolas, como também na televisão, onde até órgãos sexuais masculinos e femininos, em látex, são mostrados para crianças pegarem, vêem como funcionam, com câmeras mostrando em close, e ninguém mais se escandaliza com isto, a não ser mentes altamente poluídas e retrógradas que ainda existem nos dias atuais.

Mas o espírito em questão veria a coisa com essa naturalidade de hoje? Claro que não, veria como imoralidade conforme a cultura da sua época.

Mas aí há um outro questionamento que, de fato, tem fundamento:

Os espíritos, depois de desencarnados, continuam o curso das suas vidas normalmente, continuam os seus aprendizados, as suas buscas, pesquisas e aperfeiçoamento das suas idéias.

Nem todos.

Aqui na Terra, algumas pessoas concluem as suas graduações, nos diversos cursos superiores, e param por aí. São muitos os médicos que se formam, entram numa das vertentes das especialidades e ficam acomodados naquele conhecimento, sem se preocuparem com Mestrado, Doutorado, Pós Graduação em geral, participação em Congressos, Seminários, assinaturas de revistas e periódicos, porém trabalhando honestamente, lidando com dedicação, amor e respeito aos seus pacientes, no entanto estacionaram os seus conhecimentos.

Conheço oftalmologista formado há mais de 40 anos, que nunca fez qualquer pós graduação muito menos participou de congresso algum.

No Direito, nas diversas Engenharias e em todos os outros segmentos ocorrem a mesma coisa.

Você vai encontrar, entre os espíritos encarnados, alguns que, embora desencarnados na década de 20, continuaram a acompanhar o processo evolutivo, inclusive do plano encarnado e falam como se estivessem vivendo aqui hoje.

A Joanna de Ângelis, por exemplo, é um espírito que desencarnou em 1823, mas fala tranqüilamente sobre Carl Gustav Jung, que nasceu em 1875 e desencarnou em 1961, com um detalhe: Ela viveu no Brasil e ele na Suíça.

Mas tem outro detalhe que precisamos considerar: Ela foi freira, em várias das suas encarnações, inclusive na última, e como freira foi uma mulher extremamente digna, honesta e moralmente elevada.

Por estar em Paz com a sua consciência, já que o postulado espírita, que ela também passou a admirar, diz que A Lei de Deus está escrita na nossa consciência, ela obviamente deve conceber a sua vida como freira absolutamente correta e os conceitos obtidos no seio católico como sendo morais.

Continua freira, o que é absolutamente normal. Tanto que quando se apresenta a algum médium vidente, está sempre com a vestimenta de freira.

Outro aspecto que deve ser considerado:

O fato de um espírito desencarnado entender que ele pode se comunicar com o mundo material através de um médium, possibilidade que vem sendo dita pelo Espiritismo há muito tempo, não quer dizer que ele aceite o Espiritismo, se não aceitava enquanto encarnado.

Tenho mais um exemplo a citar:

Com o médium José Medrado, trabalham vários espíritos, com destaque para aqueles que gostam de pintar quadros.

Acontece que no meio deles, tem um que é padre e que não aceita o Espiritismo.

Veja só que coisa mais interessante: Se o Medrado participar de algum evento de pintura mediúnica em alguma instituição espírita, esse espírito se recusa a comparecer e, obviamente, não pinta nada. Mas se o evento acontece em um clube ou qualquer lugar neutro, já que é comum o citado médium realizar esse tipo de trabalho em ambientes não espíritas, olha ele lá, já querendo lugar na fila.

Vá explicar uma coisa dessa.

Segundo relata Medrado, trata-se de um espírito dócil, bom e carinhoso, mas pensa desse jeito e exige que todo mundo respeite o seu modo de ser, o que é um direito que ele tem.

Deixa de ser bom por causa disto?

Se você quiser me qualificar como alguns dirigentes me qualificam, pela minha absoluta independência de pensamento, que qualifique, mas eu, sinceramente, não leio obra espírita nenhuma, seja do espírito que for, já com a idéia preconcebida de que tudo o que vou ler ali é a verdade absoluta, que não deve ser discutida e nem questionada.

Se eu questiono até o Evangelho, que foi colocado no mundo como a “Boa Nova” do Cristo, como aquele caso da parábola da figueira, que eu não engulo de jeito nenhum, porque o meu bom senso convida-me e perguntar a mim mesmo:

“Será que o episódio aconteceu exatamente daquele jeito como foi relatado pelo evangelista?”.

Pense você, raciocine você e veja se tem sentido Jesus, com toda aquela excelência que ele foi, ter vontade de comer figo, encontrar uma figueira que não tinha nenhum fruto para lhe satisfazer, numa época em que não era tempo de figos, de repente se aborrecer daquele jeito e amaldiçoar a pobre da árvore e ainda jogar-lhe uma praga!!! Tem cabimento, uma coisa dessa?

Aí aparece um monte de gente para fazer palestras, dando as mais diversificadas interpretações para aquilo, pra coisa ficar “bonitinha”. Ora, tenha a santa paciência.

Para concluir é bom que todos entendamos que ninguém vira santo depois que desencarna, ninguém vira sábio, adquire todos os conhecimentos, fica dono de verdade absoluta e muito menos deve ser aceito em todos os seus conceitos e opiniões sem a devida análise o mais criteriosa possível.

Aproveito aqui para dizer às pessoas amigas que costumam me convidar para fazer palestras em algumas cidades. Se vocês me convidarem, como muitos convidam, para participar de reuniões mediúnicas, digam antes à direção da casa que o Alamar costuma gostar de conversar com os espíritos, gosta de questionar e de esclarecer todas as colocações feitas que não ficam bem claras. Comigo não tem esse negócio de silêncio absoluto e apenas ficar ouvindo, ouvindo, ouvindo e dizendo amém para o que espírito fala não.

É bom que se saiba, também, que muitos conceitos impostos por muitos espíritas, com base no que disse o espírito A ou B, principalmente no campo da moralidade, devem ser considerados como opiniões pessoais deles, e nem sempre devem ser absorvidos como a verdade absoluta. Principalmente quando entramos mais fundo na questão e identificamos um pouco da “cabeça” do médium na mensagem.

Ihhhhh! Aí já é uma outra matéria, que demandariam algumas páginas a mais.

A excelência do Espiritismo só se desperta onde existem espíritas lúcidos, sensatos e coerentes. Fora disso, o que encontramos é apenas prática de religião espírita.

Amém.

Uma carta para o Sr. Kardec

Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, naquela triste manhã de abril de 1860, estava exausto, acabrunhado.

Fazia frio. Muito embora a consolidação da Sociedade Espírita de Paris e a promissora venda de livros, escasseava o dinheiro para a obra gigantesca que os Espíritos Superiores lhe haviam colocado nas mãos. A pressão aumentava. Missivas sarcásticas avolumavam-se à mesa.

Quando mais desalentado se mostrava, chega a paciente esposa, Madame Rivail - a doce Gabi - a entregar-lhe certa encomenda, cuidadosamente apresentada. O professor abriu o embrulho, encontrando uma carta singela. E leu:


“Sr. Allan Kardec:
Respeitoso abraço.

Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso. Sou encadernador desde a meninice, trabalhando em grande casa desta capital. Há cerca de dois anos casei-me com aquela que se revelou minha companheira ideal.

Nossa vida corria normalmente e tudo era alegria e esperança, quando, no início deste ano, de modo inesperado, minha Antoinette partiu desta vida, levada por sorrateira moléstia. Meu desespero foi indescritível e julguei-me condenado ao desamparo extremo. Sem confiança em Deus, sentindo as necessidades do homem do mundo e vivendo com as dúvidas aflitivas de nosso século, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade.

A prova da separação vencera-me, e eu não passava, agora, de trapo humano. Faltava ao trabalho e meu chefe, reto e ríspido, ameaçava-me com a dispensa. Minhas forças fugiam. Namorara diversas vezes o Sena e acabei planeando o suicídio. ‘Seria fácil, não sei nadar’- pensava.

Sucediam-se noites de insônia e dias de angústia. Em madrugada fria, quando as preocupações e o desânimo me dominaram mais fortemente, busquei a ponte Marie. Olhei em torno, contemplando a corrente. E, ao fixar a mão direita para atirar-me, toquei um objeto algo molhado que se deslocou da amurada, caindo-me aos pés.

Surpreendido, distingui um livro que o orvalho umedecera. Tomei o volume nas mãos e, procurando a luz mortiça do poste vizinho, pude ler, logo no frontispício, entre irritado e curioso:

“Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. - A. Laurent.”

Estupefato, li a obra – ‘O Livro dos Espíritos’ - ao qual acrescentei breve mensagem, volume esse que passo às suas mãos abnegadas, autorizando o distinto amigo a fazer dele o que lhe aprouver.” Ainda constava da mensagem agradecimentos finais, a assinatura, a data e o endereço do remetente.

O Codificador desempacotou, então, um exemplar de O Livro dos Espíritos ricamente encadernado, em cuja capa viu as iniciais do seu pseudônimo e na página do frontispício, levemente manchada, leu com emoção não somente a observação a que o missivista se referira, mas também outra, em letra firme:

“Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. - Joseph Perrier.”

Após a leitura da carta providencial, o Professor Rivail experimentou nova luz a banhá-lo por dentro. Aconchegando o livro ao peito, raciocinava, não mais em termos de desânimo ou sofrimento, mas sim na pauta de radiosa esperança. Era preciso continuar, desculpar as injúrias, abraçar o sacrifício e desconhecer as pedradas.

Diante de seu espírito turbilhonava o mundo necessitado de renovação e consolo. Allan Kardec levantou-se da velha poltrona, abriu a janela à sua frente, contemplando a via pública, onde passavam operários e mulheres do povo, crianças e velhinhos.

O notável obreiro da Grande Revelação respirou a longos haustos, e, antes de retomar a caneta para o serviço costumeiro, levou o lenço aos olhos e limpou uma lágrima...

(Por Hilário Silva – ‘O Espírito da Verdade’, 52, FEB)
Retirado do Fórum Espírita.net

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Espiritismo e Comunicação Social

Por Milton Felipeli

“Com uma palavra para cada coisa, todos se entenderiam”.
(Allan kardec, O Livro dos Espíritos, introdução, item I).

A frase que encabeça este artigo foi escrita por Kardec praticamente na abertura da obra máxima da doutrina. Refere-se o codificador às dificuldades da linguagem para a expressão de pensamentos e idéias não conhecidas. Essa dificuldade foi sendo apresentada ao longo do trabalho entre os Espíritos e os Médiuns para a produção do texto da nova doutrina. O exemplo apresentado foi da palavra alma em que “a divergência de opiniões sobre a natureza da alma provém da aplicação particular que cada um dá a esse termo”.

No entendimento e na aplicação que se dá às palavras, portanto, criam-se idéias distintas, diferentes e esse fato é fácil de ser verificado no processo de comunicação. Kardec expõe sua idéia sobre essa questão, solicitando que “o mal está em a língua dispor somente uma palavra para exprimir três idéias (no caso da alma”).

A presente preliminar tem por objetivo chamar a atenção para as primeiras preocupações do codificador do espiritismo, quanto ao processo de comunicação de suas bases e de seu conteúdo. Principalmente, tendo em vista as idéias novas que seriam apresentadas pela doutrina que estava nascendo. Com efeito, a expressão dessas novas idéias estaria na razão direta do entendimento geral, o que imporia a criação de vocábulos especiais para a tradução fiel do pensamento.

O espiritismo, portanto, inaugurou um novo processo na adoção de símbolos da comunicação, através da palavra escrita e falada com vistas à sua compreensão.

Allan Kardec, nesse período, esteve entre os comunicadores invisíveis, os espíritos, e os intermediários visíveis: os médiuns. A mensagem, numa síntese, referia-se à origem, natureza e o futuro dos espíritos, os agentes inteligentes do universo. O resumo dessa mensagem, entre os emissores e receptoras, pode ser conhecida através da leitura oportuna do item VI da já citada introdução ao estudo da Doutrina Espírita de O Livro dos Espíritos.

Tratava-se, portanto, de uma comunicação nova, com o frescor das idéias renovadoras, em meio a uma fermentação de idéias filosóficas e científicas antigas e preconceituosas. Paris era o centro de toda essa fermentação do pensamento. Diversas correntes fomentavam o choque natural dos conceitos e interpretações sobre o homem, a vida e o futuro da humanidade. E o espiritismo, como fenômeno no processo da Comunicação Social, somente pode ser entendido, se examinado dentro de um panorama cultural, situado em sua determinada época, as correntes filosóficas, científicas, religiosas, políticas, econômicas, sociais a que estamos nos referindo encontravam-se envolvidas pelas idéias do Positivismo, Evolucionismo, Ecletismo, Ceticismo, Catolicismo, Materialismo. A força do pensamento de Emmanuel Kant, René Descartes, e outros pensadores, e as três linhas de pensamento estavam já deliberadas: humanismo, racionalismo e universalismo.

Como mensagem doutrinária, o Espiritismo surgia em um meio em que a Comunicação Social refletia muito mais a tendência das elites intelectuais na discussão acadêmica.

Deolindo Amorim, vigoroso pensador espírita, assim se expressa sobre esse assunto: “A doutrina vinha com sua mensagem, essa mensagem teria que ser comunicada a todos, através de linguagem simples e clara: mensagem que fala á inteligência pela luz da razão, mas também fala ao coração pela pureza do sentimento, pela força da fé sem medo e sem dogmas”, Deolindo Amorim, livro Allan Kardec, O Homem, a Época e o Meio, Edição do Instituto de Cultura Espírita de Juiz de Fora-MG.

O que lemos nas linhas acima possibilita uma reflexão mais profunda sobre o conteúdo da doutrina e os meios pelos quais deverá ele ser levado ao conhecimento geral. Diz Deolindo Amorim: “a doutrina vinha com sua mensagem, e essa mensagem teria que ser comunicada a todos”.

Tal pensamento havia anteriormente já sido exposto pelo próprio codificador: “Dois elementos devem contribuir para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da doutrina e os meios de popularizá-lo. O desenvolvimento que ela toma todos os dias multiplica as nossas relações, que mais e mais avultarão pelo impulso da nova edição do O Livro dos Espíritos e conseqüentes publicidades da doutrina”.

Considerando-se o fato de que a doutrina espírita toca em todas áreas do conhecimento humano, compreende-se que, por conseqüência, envolve também a comunicação social, pois esta área refere-se a todos os processos de relacionamento. Mais especificamente, a comunicação social, permite o intercambio essencialmente social das experiências humanas.

Ao desenvolver as séries diferentes de comunicação, o homem tornou possível a vida social. A origem, como se sabe, parte do pensamento, palavra oral, a escrita e assim sucessivamente.

Ao colocar nas prateleiras de algumas livrarias públicas de Paris, exemplares de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec introduzia o espiritismo no processo de comunicação social. Pensamentos, idéias, a palavra escrita e o livro como meio, faziam refletir o conhecimento humano dentro da comunicação social.

Como a comunicação significa a ação ou ato de comunicar, disso decorre, por fenômeno natural, que qualquer informação, mensagem, notícias que expressem o pensamento e que seja passada de qualquer forma, pertence à comunicação.

Em termos de objetivos, a comunicação social, sendo utilizada pelo Espiritismo, amplia o conhecimento sobre as teses espíritas a respeito dos problemas humanos e se estende como contribuição à reflexão do homem.

Assim, podemos estabelecer dois tipos de públicos que são objetos da comunicação social espírita: o publico interno das instituições e o público externo (inclusive o público não espírita). O conhecimento espírita de transforma em cultura espírita na medida que as propostas da doutrina são vivenciadas. O resultado do conhecimento teórico e das experiências práticas resulta num caldeamento cultural.

As propostas do espiritismo para as mudanças sociais, penetrando em todas as camadas da sociedade, permitem o enraizamento da doutrina na cultura do mundo.

Todos os meios, processos, recursos e instrumentos utilizados para essa finalidade pertencem à comunicação Social.

A informação verbal, a divulgação, a propaganda, a publicidade, fazem parte da comunicação.

O objetivo do espiritismo é o homem, o espírito encarnado, a humanidade. A doutrina se destina ao corpo social do planeta: a grande coletividade humana. Por esse fato, torna-se imperioso que os espíritas esclarecidos, convictos e responsáveis destinem o seu trabalho ao meio social em que vivem.

A doutrina não deve ficar enclausurada entre as paredes das instituições espíritas. Ela precisa penetrar os meios sociais e lançar aí a luz do conhecimento. Deve, entretanto, ficar bem claro, que a atuação ou a utilização dos meios de comunicação social pelo espiritismo não possui o caráter doutrinal, tornando ou pretendendo tornar hegemônica a doutrina em relação a outras correntes filosóficas e religiosas.

A comunicação social espírita visará, em todos os campos em que atuar, proposta de uma reflexão sobre a interpretação do espiritismo a respeito da vida e dos acontecimentos que encerram as experiências e os problemas do homem e da sociedade.

Compreendida na acepção correta, como sendo a maneira certa de agir a fim de obter o que se deseja, a palavra política da comunicação social espírita, cabe bem no caso em que estamos examinando. Entre a doutrina e a sociedade encontra-se o meio pelo qual esta última tomará conhecimento daquela, e também em que o meio espírita conhecerá o resultado da comunicação empreendida.

Bibliografia:
1. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
2. Obras Póstumas, Allan kardec
3. O Homem, a Época e o Meio, Deolindo Amorim
4. A Filosofia de uma Política de Comunicação para o Espiritismo, Luiz Sgnates, tese apresentada no Fórum Nacional de Espiritismo, Brasília-DF novembro de 1998.
5. A Interatividade na Comunicação, Éder Favaro, trabalho de análise e comentário.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pessimismo - Atitude Destruidora

Por Adésio Alves Machado*

O planeta, por suas características de atraso ético/moral/espiritual, carrega habitantes intoxicados, podemos dizer que quase a maioria, por um estado mental pessimista. Tal pessimismo origina-se no hábito lastimável da lamentação, do acúmulo de mágoas e de queixas. O somatório leva à vivências e convivências conturbadas.

É, como se pode aquilatar, um comportamento enfermiço, arrastando milhões de pessoas ao desestímulo, insuflando temperamentos voltados à violência e seus sequazes. No fundo, tais criaturas, mesmo que agindo inconscientemente, desejam desviar o curso da vida terrena em seu derredor, insatisfeitas que se acham, com ela, pelo não atendimento aos seus caprichos.

A pessoa que contumazmente reclama, queixa-se, vive insatisfeita, tem uma visão distorcida da realidade existencial, desconhecendo, como não poderia deixar de ser, o papel desempenhado pela vida espiritual em nossas reencarnações que são intercaladas pelas necessárias vidas na matéria.

Em geral, o tipo de pessoa aqui analisada apresenta-se como vítima inocente de tudo quanto lhe acontece, porque não cogita, nem de leve, sobre reencarnação, lei de causa e efeito, evolução espiritual, influência dos espíritos, bons e menos bons, em nossas vidas e outras questões doutrinárias do Espiritismo. Ignora as fases positivas e as concessões que lhes são ofertadas pela Vida, adotando uma forma de ingratidão que sempre acarreta conseqüências infelizes.

Os ideais de enobrecimento humano são torpedeados pelas pessoas alimentadas mentalmente de pessimismo, o qual se deriva da autocomiseração. Atormentam-se os pessimistas e passam também a atormentar as criaturas desprevenidas, assim aumentando o número de deprimidos que recorrem às clínicas psiquiatras em busca de solução para o que elas mesmas criaram, invigilantemente.

Tudo deve convergir em favor da retificação dos erros nas suas mais variadas formas de manifestação. Com a adoção deste procedimento saneador, costuma a pessoa, interessada pela sua reforma interior, a ter que enfrentar obstáculos revestidos aparentemente de intransponibilidade. É justamente aí que a atuação pessimista se mostra mais numerosa e ativa. Os fracassos se agravam, o desânimo impera e a crítica destrutiva transparece preponderantemente.

Com o pessimismo e o hábito da crítica destrutiva, não há o favorecimento de estímulos à saúde, ao bem-estar psico-físico, mas sim do incentivo à valorização das doenças.

A recuperação das patologias diminuem por haver ignorância quanto à ação benfazeja da mente saudável sobre os implementos celulares, estes que são os delicados mecanismos dos nervos, os quais agem nos sutis equipamentos cerebrais onde operam os neurônios. Estes sofrem, desta maneira as descargas vibratórias desequilibradas, e verdadeiros curtos circuitos são estabelecidos.

Diz o Espírito Joanna de Ângelis que "A conduta pessimista constitui vício grave do Espírito comprometido com a própria consciência". Torna-se necessária, como se percebe, uma mudança radical no estilo de comportamento mental. Um salto de um extremo a outro, do pessimismo para o otimismo.

A saúde física e mental se constitui num estado natural da vida, o que parece o contrário no nosso mundo, quando as enfermidades se alastram de forma impressionante e vão se mostrando como resultados de distúrbios morais que a alma invigilante e ignorante costuma insculpir nas delicadas organizações celulares, exigindo imediata reparação para que a doença não chegue a um estado irreversível.

Sem a higienização, a assepsia da mente, esta distonia que ocorre propicia a instalação das doenças de etiologias as mais variadas. Somente através da harmonização geral do seu campo energético o ser humano desfrutará saudavelmente da vida. Sem isto, a flora e a fauna microbiana se instalam e proliferam por encontrarem campo propício, ideal para suas operações destruidoras, as quais levam à produção das degenerações celulares.

O ser humano caminha, vai em frente, mesmo sem ter uma noção mais exata do fenômeno que o leva ao crescimento intelecto-moral, à plenitude, à sublimação.

Os degraus evolutivos são granjeados pelo esforço despendido na ação do Bem, o que faz com que o ser reconheça o seu auto-valor, que atinja outros patamares evolutivos e alcance, por fim, as cumeadas da evolução.

A vida, na sua essencialidade, é alicerçada em desafios permanentes, habituamo-nos a conceituar, sendo que nossos limites e dificuldades, que vão surgindo pelo caminho para serem vencidos, estão em nosso mundo íntimo, nos atavismos e reminiscências menos felizes, e não no mundo exterior. Transformam-se, assim, em excelentes aguilhões que nos projetam longe, fazendo com que descortinemos uma outra visão da existência na carne e fora dela, tudo isso graças às admiráveis dádivas recebidas de Deus para o nosso tentame finalista da Vida - a perfeição.

Se queremos complicar ainda mais o quadro de realizações enobrecedoras, comecemos por nos queixar e reclamar de tudo e de todos, e o pessimismo, tóxico letal de nossas nobres realizações, assumirá o papel de carrasco de nossos anelos superiores, vitimando-nos sem piedade.

As etapas da evolução são vencidas, pouco a pouco, ora trabalhando-se a nossa condição intelecto-moral, outras vezes vivenciando as experiências mais doloridas, estas que mais nos fixam às preciosas lições da vida, de forma indelével, desta forma nos capacitando para tentames mais auspiciosos e elevados.

Valiosos são os recursos em disponibilidade para o triunfo: otimismo, alegria de viver, bom humor, simpatia e confiança em Deus, em Sua providência e também na Espiritualidade Superior. Com estes trunfos morando em nosso mundo interior, haveremos de nos libertar dos atávicos pensamentos pessimistas, os quais precisam, devem ser abandonados em favor da auto-realização, da auto-plenificação..

* Escritor, Orador e Radialista. Autor dos livros: Ser, Crer e Crescer - Elucidações Para uma Vida Melhor; Diálogo com Deus - Preces de MEIMEI e Verdades que o tempo não apaga.

Na conta dos Espíritos

Por Manoel Lourenço

Infelizmente existem pessoas que culpam os Espíritos por tudo quanto lhes aconteça na vida. Não se pode ignorar a influência dos Espíritos em nossas vidas. No entanto, pessoas há que vêem a influência dos Espíritos em tudo, até nas mínimas incidências do dia a dia.

Allan Kardec esclareceu, de forma simples, que "os bons Espíritos nenhum constrangimento infligem. Aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os ouvem, retiram-se" (Livro dos Médiuns, item 237). Percebe-se que os bons Espíritos estão empenhados na prática do bem, e não são capazes de provocar o menor constrangimento a quem quer que seja.

Através do Espiritismo sabemos que os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e ações muito mais do que supomos. Isto não significa que estejamos subordinados passivamente, de forma incontrolável, à vontade dos Espíritos. A obsessão é fato real e concreto, comprovado todos os dias. Sabemos os efeitos danosos que as obsessões provocam no ser obsidiado. Um deles é o de fazer com que o ser não admita estar obsidiado, dificultando o processo de tratamento desobsessivo. Afinal, qualquer tratamento, para que surta o efeito esperado, é necessário que conte com a colaboração do paciente.

É comum chegarem nos Centros Espíritos pessoas de várias religiões, em busca de explicações para seus problemas insolúveis pela ciência e a religião tradicionais. A Doutrina Espírita esclarece até onde vão os fenômenos puramente materiais, e faz a divisão lógica desses com os fenômenos espirituais. Apresenta os tratamentos adequados, sem misticismos, sem segredos, sem mistérios, e gratuitamente. E assim, inúmeros são os descrentes que se convertem ao Espiritismo, tornando-se defensores dessa Doutrina iluminadora e libertadora.

Se de um lado existem os que não acreditam nos fenômenos espíritas, de outro, há os que acreditam exageradamente neles, com um certo fanatismo.

O que mais choca a razão é perceber que essas pessoas são espíritas declaradas, que freqüentam as Casas Espíritas, e no mais das vezes são também trabalhadores dessas instituições. Esses espíritas consideram-se alvo constante dos habitantes do mundo invisível. Mostram-se acossados por todos os lados, num combate desigual, onde os inimigos invisíveis parecem levar certas vantagens.

Segundo eles, os Espíritos provocam sintomas os mais diversos, concentrando energias negativas nos órgãos e no organismo como um todo. Uma noite mal dormida, uma simples dor de cabeça, um pequeno mal estar, uma contrariedade qualquer é para eles um sinal que os Espíritos estão atuando, tentando atrapalhar-lhes a vida. Há, ainda, a crença de que os Espíritos procuram atingi-los utilizando-se dos outros. Dessa forma, basta que alguém lhes cause o menor constrangimento, ou até mesmo uma expressão de mau humor do chefe, do amigo, do parente ou de um desconhecido, atribuem imediatamente aos desencarnados a responsabilidade pelo ocorrido, na tentativa de atingi-los através do próximo.

Para esses espíritas não importa se durante a refeição ingeriram um alimento estragado, ou mesmos abusaram na quantidade. Também não se dão conta de que os outros têm seus problemas, suas enfermidades, seus momentos de tristeza e justamente por isso, às vezes, não conseguem esboçar um sorriso nos lábios. Vêem os outros como pessoas obsidiadas, e recomendam sempre a oração e a vigilância, como antídotos contra as investidas danosas da espiritualidade inferior. Apresentam suas técnicas de defesa espiritual, baseadas nas Obras Espíritas, pois são também estudiosos da Doutrina, e no mais das vezes deturpam as técnicas desobsessivas, criando técnicas próprias, às vezes esdrúxulas, e o que é pior: recomendam para os outros.

Para esses, os Espíritos são seres desocupados, que vivem unicamente para prejudicar ou atrapalhar as pessoas, principalmente a eles, que se acham melhores que os outros, e por isso mesmo se tornam alvos fáceis. Consideram-se vítimas da espiritualidade inferior, e responsabilizam os Espíritos por tudo quanto lhes aconteça na vida, por menores que sejam os incidentes. Até mesmo um simples tropeção "põem na conta dos Espíritos".

(Sergipe Espírita – julho/1998 – nº 62).

(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 98)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"O Blog dos Espíritas" faz parceria com a Agência de Notícias Espíritas da Paraíba - ANESPB


Por Fabiano Vidal

Através de contato de "O Blog dos Espíritas" com a Agência de Notícias Espíritas da Paraíba (ANESPB) do jornalista Carlos Barros, foi acertada uma parceria para divulgação do informativo eletrônico "Pensador", que contém matérias atuais sobre a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita Paraibano.

"Pensador" se constitui em leitura obrigatória para os Espíritas, pois elucida e põe por água abaixo vários misticismos e práticas estranhas ao Espiritismo que infelizmente andam em voga em muitos Centros Espíritas.

A periodicidade do informativo é mensal, e contatos com o mesmo podem ser feitos através do e-mail cabarros157pensador@hotmail.com.

Para fazer o download da edição de Janeiro de 2010, clique na figura abaixo:

Pensador - Janeiro de 2010

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A preexistência e o subconsciente

Por Cairbar Schutel

A doutrina da preexistência do espírito está em íntima relação com a da sobrevivência ao corpo.

A lei das vidas sucessivas vem em apoio a esta verdade consoladora e luminosa.

A vida não começa no berço e não termina no túmulo.

É nas vidas múltiplas na Terra e em outros mundos que adquirimos, conhecimentos e vamos nos libertando da ignorância que nos prende à infância do espírito.

É no perispírito que se gravam todas as imagens fornecidas à mente pelo mundo exterior, ele é o repositório de todas as aquisições, de todos os conhecimentos adquiridos, de tudo o que aprendemos, vimos, ouvimos e sentimos através das existências que percorremos...

Está, portanto, no perispírito a sede exclusiva da subconsciência.

A aceitação da subconsciência, em determinadas condições, implica, portanto, a aceitação da preexistência e da sobrevivência espiritual, bem como a reencarnação dos espíritos.

Quer isto dizer que os materialistas e os espiritualistas que não aceitam a reencarnação, não podem invocar a teoria do subconsciente para explicar fenômenos que estão na esfera do animismo; assim não explicam, porque não aceitam a doutrina das vidas múltiplas, a razão de ser da precocidade ou os “meninos prodígios”, que tanto os maravilha.

De fato, como dar provas de conhecimentos que se não se adquiriu na Terra, se a alma começa e termina com o corpo ou se a alma, como dizem o Catolicismo e o Protestantismo foi criada com o corpo?

Como proclamar a “teoria do inconsciente” - com “aquisições anteriores” se se tem certeza que o indivíduo, com quem ou em quem se observa os fenômenos, nenhuma aquisição tem de tudo a que disse e dos altos conhecimentos que manifestou?

Um indivíduo, por exemplo, em estado de transe, de sonambulismo, fala do que não estudou, trata de assuntos altamente científicos ou filosóficos que não estão ao seu alcance em estado normal, quando não há aí interferência de um Espírito, uma outra personalidade, não há dúvida que a “teoria do subconsciente” aí é manifesta, mas sem dúvida alguma, também essa teoria não é um derivativo materialista e sim está intimamente ligada aos princípios espíritas da preexistência e vidas sucessivas.

O corpo humano nada pode; o espírito sim, quando mais ou menos livre dum organismo denso e grosseiro que constitui o seu invólucro na Terra, pode dominar esse invólucro, e ler, remontando à corrente do passado, uma a uma, as páginas da sua existência integral, cujas ações e ideias desfilam ao longo do trajeto de suas encarnações.

Fonte: livro “Os Fatos Espíritas e as Forças X” - 1926, de Cairbar Schutel
Retirado do blog "Espírita na Net"