quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Na conta dos Espíritos

Por Manoel Lourenço

Infelizmente existem pessoas que culpam os Espíritos por tudo quanto lhes aconteça na vida. Não se pode ignorar a influência dos Espíritos em nossas vidas. No entanto, pessoas há que vêem a influência dos Espíritos em tudo, até nas mínimas incidências do dia a dia.

Allan Kardec esclareceu, de forma simples, que "os bons Espíritos nenhum constrangimento infligem. Aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os ouvem, retiram-se" (Livro dos Médiuns, item 237). Percebe-se que os bons Espíritos estão empenhados na prática do bem, e não são capazes de provocar o menor constrangimento a quem quer que seja.

Através do Espiritismo sabemos que os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e ações muito mais do que supomos. Isto não significa que estejamos subordinados passivamente, de forma incontrolável, à vontade dos Espíritos. A obsessão é fato real e concreto, comprovado todos os dias. Sabemos os efeitos danosos que as obsessões provocam no ser obsidiado. Um deles é o de fazer com que o ser não admita estar obsidiado, dificultando o processo de tratamento desobsessivo. Afinal, qualquer tratamento, para que surta o efeito esperado, é necessário que conte com a colaboração do paciente.

É comum chegarem nos Centros Espíritos pessoas de várias religiões, em busca de explicações para seus problemas insolúveis pela ciência e a religião tradicionais. A Doutrina Espírita esclarece até onde vão os fenômenos puramente materiais, e faz a divisão lógica desses com os fenômenos espirituais. Apresenta os tratamentos adequados, sem misticismos, sem segredos, sem mistérios, e gratuitamente. E assim, inúmeros são os descrentes que se convertem ao Espiritismo, tornando-se defensores dessa Doutrina iluminadora e libertadora.

Se de um lado existem os que não acreditam nos fenômenos espíritas, de outro, há os que acreditam exageradamente neles, com um certo fanatismo.

O que mais choca a razão é perceber que essas pessoas são espíritas declaradas, que freqüentam as Casas Espíritas, e no mais das vezes são também trabalhadores dessas instituições. Esses espíritas consideram-se alvo constante dos habitantes do mundo invisível. Mostram-se acossados por todos os lados, num combate desigual, onde os inimigos invisíveis parecem levar certas vantagens.

Segundo eles, os Espíritos provocam sintomas os mais diversos, concentrando energias negativas nos órgãos e no organismo como um todo. Uma noite mal dormida, uma simples dor de cabeça, um pequeno mal estar, uma contrariedade qualquer é para eles um sinal que os Espíritos estão atuando, tentando atrapalhar-lhes a vida. Há, ainda, a crença de que os Espíritos procuram atingi-los utilizando-se dos outros. Dessa forma, basta que alguém lhes cause o menor constrangimento, ou até mesmo uma expressão de mau humor do chefe, do amigo, do parente ou de um desconhecido, atribuem imediatamente aos desencarnados a responsabilidade pelo ocorrido, na tentativa de atingi-los através do próximo.

Para esses espíritas não importa se durante a refeição ingeriram um alimento estragado, ou mesmos abusaram na quantidade. Também não se dão conta de que os outros têm seus problemas, suas enfermidades, seus momentos de tristeza e justamente por isso, às vezes, não conseguem esboçar um sorriso nos lábios. Vêem os outros como pessoas obsidiadas, e recomendam sempre a oração e a vigilância, como antídotos contra as investidas danosas da espiritualidade inferior. Apresentam suas técnicas de defesa espiritual, baseadas nas Obras Espíritas, pois são também estudiosos da Doutrina, e no mais das vezes deturpam as técnicas desobsessivas, criando técnicas próprias, às vezes esdrúxulas, e o que é pior: recomendam para os outros.

Para esses, os Espíritos são seres desocupados, que vivem unicamente para prejudicar ou atrapalhar as pessoas, principalmente a eles, que se acham melhores que os outros, e por isso mesmo se tornam alvos fáceis. Consideram-se vítimas da espiritualidade inferior, e responsabilizam os Espíritos por tudo quanto lhes aconteça na vida, por menores que sejam os incidentes. Até mesmo um simples tropeção "põem na conta dos Espíritos".

(Sergipe Espírita – julho/1998 – nº 62).

(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 98)

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