sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Espiritismo e Comunicação Social

Por Milton Felipeli

“Com uma palavra para cada coisa, todos se entenderiam”.
(Allan kardec, O Livro dos Espíritos, introdução, item I).

A frase que encabeça este artigo foi escrita por Kardec praticamente na abertura da obra máxima da doutrina. Refere-se o codificador às dificuldades da linguagem para a expressão de pensamentos e idéias não conhecidas. Essa dificuldade foi sendo apresentada ao longo do trabalho entre os Espíritos e os Médiuns para a produção do texto da nova doutrina. O exemplo apresentado foi da palavra alma em que “a divergência de opiniões sobre a natureza da alma provém da aplicação particular que cada um dá a esse termo”.

No entendimento e na aplicação que se dá às palavras, portanto, criam-se idéias distintas, diferentes e esse fato é fácil de ser verificado no processo de comunicação. Kardec expõe sua idéia sobre essa questão, solicitando que “o mal está em a língua dispor somente uma palavra para exprimir três idéias (no caso da alma”).

A presente preliminar tem por objetivo chamar a atenção para as primeiras preocupações do codificador do espiritismo, quanto ao processo de comunicação de suas bases e de seu conteúdo. Principalmente, tendo em vista as idéias novas que seriam apresentadas pela doutrina que estava nascendo. Com efeito, a expressão dessas novas idéias estaria na razão direta do entendimento geral, o que imporia a criação de vocábulos especiais para a tradução fiel do pensamento.

O espiritismo, portanto, inaugurou um novo processo na adoção de símbolos da comunicação, através da palavra escrita e falada com vistas à sua compreensão.

Allan Kardec, nesse período, esteve entre os comunicadores invisíveis, os espíritos, e os intermediários visíveis: os médiuns. A mensagem, numa síntese, referia-se à origem, natureza e o futuro dos espíritos, os agentes inteligentes do universo. O resumo dessa mensagem, entre os emissores e receptoras, pode ser conhecida através da leitura oportuna do item VI da já citada introdução ao estudo da Doutrina Espírita de O Livro dos Espíritos.

Tratava-se, portanto, de uma comunicação nova, com o frescor das idéias renovadoras, em meio a uma fermentação de idéias filosóficas e científicas antigas e preconceituosas. Paris era o centro de toda essa fermentação do pensamento. Diversas correntes fomentavam o choque natural dos conceitos e interpretações sobre o homem, a vida e o futuro da humanidade. E o espiritismo, como fenômeno no processo da Comunicação Social, somente pode ser entendido, se examinado dentro de um panorama cultural, situado em sua determinada época, as correntes filosóficas, científicas, religiosas, políticas, econômicas, sociais a que estamos nos referindo encontravam-se envolvidas pelas idéias do Positivismo, Evolucionismo, Ecletismo, Ceticismo, Catolicismo, Materialismo. A força do pensamento de Emmanuel Kant, René Descartes, e outros pensadores, e as três linhas de pensamento estavam já deliberadas: humanismo, racionalismo e universalismo.

Como mensagem doutrinária, o Espiritismo surgia em um meio em que a Comunicação Social refletia muito mais a tendência das elites intelectuais na discussão acadêmica.

Deolindo Amorim, vigoroso pensador espírita, assim se expressa sobre esse assunto: “A doutrina vinha com sua mensagem, essa mensagem teria que ser comunicada a todos, através de linguagem simples e clara: mensagem que fala á inteligência pela luz da razão, mas também fala ao coração pela pureza do sentimento, pela força da fé sem medo e sem dogmas”, Deolindo Amorim, livro Allan Kardec, O Homem, a Época e o Meio, Edição do Instituto de Cultura Espírita de Juiz de Fora-MG.

O que lemos nas linhas acima possibilita uma reflexão mais profunda sobre o conteúdo da doutrina e os meios pelos quais deverá ele ser levado ao conhecimento geral. Diz Deolindo Amorim: “a doutrina vinha com sua mensagem, e essa mensagem teria que ser comunicada a todos”.

Tal pensamento havia anteriormente já sido exposto pelo próprio codificador: “Dois elementos devem contribuir para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da doutrina e os meios de popularizá-lo. O desenvolvimento que ela toma todos os dias multiplica as nossas relações, que mais e mais avultarão pelo impulso da nova edição do O Livro dos Espíritos e conseqüentes publicidades da doutrina”.

Considerando-se o fato de que a doutrina espírita toca em todas áreas do conhecimento humano, compreende-se que, por conseqüência, envolve também a comunicação social, pois esta área refere-se a todos os processos de relacionamento. Mais especificamente, a comunicação social, permite o intercambio essencialmente social das experiências humanas.

Ao desenvolver as séries diferentes de comunicação, o homem tornou possível a vida social. A origem, como se sabe, parte do pensamento, palavra oral, a escrita e assim sucessivamente.

Ao colocar nas prateleiras de algumas livrarias públicas de Paris, exemplares de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec introduzia o espiritismo no processo de comunicação social. Pensamentos, idéias, a palavra escrita e o livro como meio, faziam refletir o conhecimento humano dentro da comunicação social.

Como a comunicação significa a ação ou ato de comunicar, disso decorre, por fenômeno natural, que qualquer informação, mensagem, notícias que expressem o pensamento e que seja passada de qualquer forma, pertence à comunicação.

Em termos de objetivos, a comunicação social, sendo utilizada pelo Espiritismo, amplia o conhecimento sobre as teses espíritas a respeito dos problemas humanos e se estende como contribuição à reflexão do homem.

Assim, podemos estabelecer dois tipos de públicos que são objetos da comunicação social espírita: o publico interno das instituições e o público externo (inclusive o público não espírita). O conhecimento espírita de transforma em cultura espírita na medida que as propostas da doutrina são vivenciadas. O resultado do conhecimento teórico e das experiências práticas resulta num caldeamento cultural.

As propostas do espiritismo para as mudanças sociais, penetrando em todas as camadas da sociedade, permitem o enraizamento da doutrina na cultura do mundo.

Todos os meios, processos, recursos e instrumentos utilizados para essa finalidade pertencem à comunicação Social.

A informação verbal, a divulgação, a propaganda, a publicidade, fazem parte da comunicação.

O objetivo do espiritismo é o homem, o espírito encarnado, a humanidade. A doutrina se destina ao corpo social do planeta: a grande coletividade humana. Por esse fato, torna-se imperioso que os espíritas esclarecidos, convictos e responsáveis destinem o seu trabalho ao meio social em que vivem.

A doutrina não deve ficar enclausurada entre as paredes das instituições espíritas. Ela precisa penetrar os meios sociais e lançar aí a luz do conhecimento. Deve, entretanto, ficar bem claro, que a atuação ou a utilização dos meios de comunicação social pelo espiritismo não possui o caráter doutrinal, tornando ou pretendendo tornar hegemônica a doutrina em relação a outras correntes filosóficas e religiosas.

A comunicação social espírita visará, em todos os campos em que atuar, proposta de uma reflexão sobre a interpretação do espiritismo a respeito da vida e dos acontecimentos que encerram as experiências e os problemas do homem e da sociedade.

Compreendida na acepção correta, como sendo a maneira certa de agir a fim de obter o que se deseja, a palavra política da comunicação social espírita, cabe bem no caso em que estamos examinando. Entre a doutrina e a sociedade encontra-se o meio pelo qual esta última tomará conhecimento daquela, e também em que o meio espírita conhecerá o resultado da comunicação empreendida.

Bibliografia:
1. O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
2. Obras Póstumas, Allan kardec
3. O Homem, a Época e o Meio, Deolindo Amorim
4. A Filosofia de uma Política de Comunicação para o Espiritismo, Luiz Sgnates, tese apresentada no Fórum Nacional de Espiritismo, Brasília-DF novembro de 1998.
5. A Interatividade na Comunicação, Éder Favaro, trabalho de análise e comentário.

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