quarta-feira, 20 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Kardec, a biografia – um livro bom de se ler

Por Dora Incontri

Não direi que o livro Kardec: a biografia é uma grata surpresa, porque quem escreveu a melhor biografia de Chico Xavier, até hoje, prometia escrever também a melhor do mestre de Chico e de milhões de espíritas brasileiros: Allan Kardec.

Por que considero ambas excelentes biografias? Porque são biografias mesmo e não hagiografias. (Para quem não sabe, hagiografia é história de santo, escrita dentro dos cânones da Igreja Católica). Marcel Souto Maior conta a história de um ser humano. De um grande ser humano, mas um ser humano. Um homem de bem, que é o que O Evangelho segundo o Espiritismo propõe como padrão ético. E conta muito bem contado.

Seu estilo é leve, sem cair na banalidade. É espirituoso e às vezes oportunamente irreverente, justo para não assumir um tom laudatório demais, o que acabaria com a sua credibilidade de biógrafo e jornalista investigativo. É um texto saboroso, ágil e que nos dá vontade de ler sem parar.

Souto Maior soube tratar de um assunto delicado, sem ferir nenhum partido; de um assunto sério, sem cair numa doutrinação massacrante e antipática.

Acima de tudo, porém, é fiel aos fatos. E sendo fiel aos fatos, a grandeza do personagem se destaca naturalmente, sem a mínima necessidade de usar uma batelada de elogios melosos.

Aliás, o que se sobressai na biografia escrita por Souto Maior é o Kardec da Revista Espírita. Quem está familiarizado com os 12 volumes da Revista, conhece melhor a personalidade de Kardec, seus embates, seu contexto, seus diálogos e discussões com adversários e aliados, com admiradores e detratores. O autor soube compor não só a partir da Revista, mas de outros documentos, um mosaico bem montado de Kardec, seu trabalho e sua época, que nos permite nos sentirmos lá, na França do século XIX.

Talvez para alguns, que prefeririam uma hagiografia, o fato de Kardec na biografia se irritar, se cansar, se alegrar e usar de uma fina ironia (e usava mesmo com todo o requinte do esprit francês) pode parecer algo humano demais. Mas grandes homens também se irritam e se cansam. Com essa constatação óbvia, em absolutamente nada sai arranhada a personalidade de Kardec e o que ele propôs como Espiritismo.

É claro que não se trata de uma obra filosófica e por isso não discute a fundo alguns pontos que poderiam ser polêmicos e assim não é um livro que sai dos cânones do Espiritismo brasileiro atual. Mas a postura crítica, racional e vigilante que Kardec tinha em relação à mediunidade é muito bem retratada e, mesmo sem querer, serve de alerta para esse movimento, que perde muitas vezes qualquer critério de análise do que supostamente vem do Além.

Quando me refiro aos cânones do Espiritismo brasileiro atual, estou falando de coisas que já estão assentadas entre nós e não me parecem que sejam tão fiéis a Kardec. Por exemplo, o termo “codificador”, que eu mesma usava, criada que fui nesse movimento, mas que tenho criticado ultimamente, pois ele não aparece em nenhuma obra da Kardec. Aparentemente, trata-se de algo criado aqui no Brasil e que ressalta o caráter do mestre como mero organizador de uma revelação pronta ou mero secretário dos Espíritos. Tenho pontuado que, apesar de sua modéstia, o próprio Kardec reconhecia em si mesmo um papel mais ativo e criativo nessa relação com os Espíritos. Diz ele em Obras Póstumas:

“Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com os homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados.”

E na Gênese:

“O homem concorre para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério; desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos. Ora, as manifestações (…) são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei, auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do termo.”

Ou seja, como estudei em minha tese de doutorado na USP, que virou depois o livro Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes, Kardec criou um novo paradigma para conhecermos o mundo, que inclui uma dimensão espiritual. E esse método de estudar os fenômenos que evidenciam a imortalidade de alma é algo criado por ele e não pelos Espíritos. O livro de Souto Maior não desmente isso, aliás chega perto de demonstrar através de sua narrativa essa proposição que fiz. Mas não é seu objetivo, e nem poderia ser, discutir altas questões epistemológicas.

Um único reparo histórico que tenho a fazer no livro, um descuido talvez: Victor Hugo, quando se interessou pelas mesas girantes e manteve diálogos com os Espíritos, inclusive o de sua filha morta num afogamento, não estava em Paris, como afirma Marcel. O grande escritor francês estava exilado na ilha de Jersey, por conta de sua oposição ao governo de Napoleão III, que ele chamava de Napoléon, le petit (Napoleão, o pequeno).

Gostei particularmente dos dois últimos capítulos do livro, que estão muito bem articulados. O penúltimo trata do processo dos espíritas (aliás, num erro de digitação ou num engano de tradução aparece como “processo dos espíritos”), em que o juiz Millet destrata Amélie, já idosa, e lança de uma ironia agressiva e injusta contra a personalidade de Kardec. E Souto Maior nada responde. Mas insere no último capítulo a resposta final: um texto do mestre, que considero um dos mais bonitos, porque revela algo de sua intimidade e que só apareceu em Obras Póstumas, em que ele descreve a si mesmo, fazendo um balanço de sua vida de homem de bem. Essa é a melhor resposta para o Juiz furioso e para todos aqueles que ainda denigrem Kardec. Um texto em que o mestre se analisa com toda a simplicidade como um pessoa interessada em fazer o bem e promover a felicidade alheia. E foi isso o que fez com o Espiritismo.

Fonte: http://doraincontri.com/2013/11/11/kardec-a-biografia-um-livro-bom-de-se-ler/

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Jesus, o amor perfeito de todo o bem

09:19 Posted by Administrador , , , , No comments
Por Sergio F. Aleixo

Muito se fala em reforma íntima, ou interior. Que seja. A expressão, contudo, parece algo insuficiente a propósitos tão transversais como os do Espiritismo. Simples reformas não operam mudanças substantivas, cuja significação anime em definitivo o fomento de uma nova sensibilidade, que é, sem dúvida, a meta suprema do Evangelho do Mestre.

Os ensinos e a vida de Jesus em tudo se distanciam destes simulacros comportamentais, de meras exibições proselitistas, que as religiões do oportunismo ousam chamar de “conversões”. Há que considerar o sentido mais radical da mensagem genuinamente cristã, que se reporta a nossa mudança de mente, à passagem de nossos níveis de consciência a percepções mais apuradas do existir, mediante a compreensão da necessidade de enfrentarmos o coexistir segundo Jesus: aquilo que queremos que nos façam, devemos fazê-lo primeiramente aos demais, pois não há amor a Deus que não se faça amor ao próximo e vice-versa; do contrário, não haveria amor e, mais ainda: sem amor, já não haveria Deus.

Para tanto, são precisos movimentos de grande profundidade do ser imortal, que o conduzam para além da sua face animal, da mecânica física e mesmo da aparência perispirítica, e lhe proporcionem surpreender-se neste poder de constante transformação, fundamentalmente moral, por influência de nossa identidade perene em sua incorruptível transcendência, de divina natureza. Todos somos filhos do Altíssimo!

Claro está hoje que estes movimentos de grande profundidade no espírito não se verificam por graça, de um momento inusitado para outro de mero capricho. A evolução pela reencarnação é o processo natural que opera esta transformação gradativa da consciência imortal dos seres, em âmbitos de especialíssimos estados, cada vez mais identificados com nossa filiação indissimulável, até que nos sobrevenha aquela plenitude definitiva, destinada às criaturas em sua realizável perfeição: a angelitude, da qual é impossível decairmos.

Frio automatismo cósmico? De forma nenhuma. É a Providência mesma que se nos manifesta. Ao demais, dizem os espíritos superiores da codificação kardeciana que Jesus Cristo é o tipo mais perfeito que o próprio Deus nos ofereceu para guia e modelo. E, de fato, não se trata de um guia cego, um modelo distante de nossas vidas tão precárias. Ele efetivamente conhece o caminho pelo qual nos enveredou com sua entrada neste mundo de sangue e água, pele e ossos; padecendo a carne, mas de contínuo vivificado no espírito. Ele veio para dar testemunho da verdade, e esta mais não é do que a essência espiritual da vida.

No mundo teremos tribulações, mas tenhamos bom ânimo, pois o Mestre é vitorioso deste sistema de coisas pelo menos há milhões anos. E não se distraiu com nossas brincadeiras de cabra-cega à margem do caminho; veio até nós para que o trilhemos com decisão e sem vendas. Só conheceremos a verdade e esta somente nos tornará livres se permanecermos na doutrina de Jesus, aquele que encarnou o amor perfeito de todo o bem, assumindo para si próprio que o que se faça ao menor de seus irmãos a ele mesmo estará sendo feito. Ao menos uma vez, o mais simples foi visto como o mais importante.

Fonte: Blog Ensaios da Hora Extrema - http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com.br/2012/12/jesus-o-amor-perfeito-de-todo-o-bem.html