quarta-feira, 28 de julho de 2010

Afinal, que obras são ou não Espíritas?

Redação O Blog dos Espíritas

"O Blog dos Espíritas" tem recebido muitos e-mails de pessoas estudiosas ou simpatizantes da Doutrina Espírita, querendo saber que livros podem ou não serem considerados como Espíritas.

Invariavelmente, nossa resposta tem sido a mesma: a necessidade de estudar as obras de Allan Kardec. Através do conhecimento dos pilares basilares da Doutrina Espírita, será fácil separar o joio do trigo.

Em resumo: para que uma obra seja considerada Espírita, deve estar de acordo com os ensinamentos da Codificação.

Observação: Tenham sempre em mente os alertas feitos por Kardec:

"Segue-se que a opinião de um Espírito sobre um princípio qualquer não é considerada pelos espíritas senão como uma opinião individual, que pode ser justa ou falsa, e não tem valor senão quando é sancionada pelo ensino da maioria, dado sobre os diversos pontos do globo". (Allan Kardec, Revista Espírita, 1865)

"Mas nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo.” (O Livro dos Médiuns – Kardec – item 98)


“(...)
Todas precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio) “Aplicando esses princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas 100 de um mérito inconteste. Essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes".

"Os maus Espíritos temem o exame; eles dizem: 'Aceitai nossas palavras e não as julgueis.' Se tivessem a consciência de estar com a verdade, não temeriam a luz. O hábito de escrutar as menores palavras dos Espíritos, de pesar-lhes o valor, distancia forçosamente os Espíritos mal intencionados, que não vêm, então, perder inutilmente seu tempo, uma vez que se rejeite tudo o que é mau ou de origem suspeita. Mas quando se aceita cegamente tudo o que dizem, que se coloca, por assim dizer, de joelhos diante de sua pretensa sabedoria, fazem o que fariam os homens - disso abusam." (Allan Kardec, Escolhos dos Médiuns, Revista Espírita, fevereiro de 1859)

“Inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode julgar-se da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quiser atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

"Diante desse poderoso critério (da Universalidade) caem necessariamente todas as teorias particulares que sejam o produto de idéias sistemáticas, seja de um homem, seja de um Espírito isolado. Uma idéia falsa pode, sem dúvida, agrupar ao seu redor alguns partidários, mas não prevalecerá jamais contra aquela que é ensinada por toda a parte." (Allan Kardec, Revista Espírita, 1865)

Vídeo aonde Allan Kardec demonstra um estudo crítico de comunicação recebida:

domingo, 25 de julho de 2010

Nos Descaminhos da Fascinação

Por Artur Felipe Azevedo

Há, em "O Livro dos Espíritos", primeira e principal obra da Codificação Espírita, um questionamento de Allan Kardec aos Espíritos Superiores nos seguintes termos:

459 - "Os espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?"

Cuja resposta foi: "A esse respeito sua influência é maior do que credes, porque, frequentemente, são eles que vos dirigem".

Allan Kardec, assim como os Espíritos Superiores que o inspiraram no trabalho de escrever e organizar as obras que compõe a Codificação Espírita, sempre se preocupou em alertar acerca dos perigos oriundos da influência dos espíritos imperfeitos. À esta influência deram o nome de "obsessão".

Didaticamente, a obsessão pode atingir três graus bem caracterizados, conforme podemos ler em "O Livro dos Médiuns":

1 - Obsessão simples , que é, segundo o Codificador, "quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu mau grado, nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados.(...) Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, do mesmo modo que, entre nós homens, os mais honestos podem ser enganados por velhacos. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua".

(...)"Na obsessão simples, o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso e este não se disfarça; de nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de contrariar. O médium que se mantém em guarda raramente é enganado. Este gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem outro inconveniente, além do de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de Espíritos sérios, ou dos afeiçoados".

2 - A subjugação, que é "uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. O paciente fica sob um verdadeiro jugo. A subjugação pode ser moral ou corporal".

"No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é como uma fascinação.

No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.

Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era; porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente".

3 - E, finalmente, a fascinação, que "é muito mais grave, no sentido de que o médium se ilude completamente. O Espírito que o domina ganha sua confiança ao ponto de paralisar seu próprio julgamento na análise das comunicações e lhe faz achar sublimes as coisas mais absurdas".

"Há Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas idéias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias.(...) Procuram deslumbrar por meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho, porque bem sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por eles enganados os defendem, dizendo: 'Bem vedes que nada dizem de mau'. A moral, porém, para esses Espíritos é simples passaporte, é o que menos os preocupa. O que querem, acima de tudo, é impor suas idéias por mais disparatadas que sejam".

A fim de que pudéssemos reconhecer melhor os espíritos fascinadores, Kardec os descreve:

"Os Espíritos dados a sistemas são geralmente escrevinhadores, pelo que buscam os médiuns que escrevem com facilidade e dos quais tratam de fazer instrumentos dóceis e, sobretudo, entusiastas, fascinando-os. São quase sempre verbosos, muito prolixos, procurando compensar a qualidade pela quantidade. Comprazem-se em ditar, aos seus intérpretes, volumosos escritos indigestos e frequentemente pouco inteligíveis, que, felizmente, têm por antídoto a impossibilidade material de serem lidos pelas massas. Os Espíritos verdadeiramente superiores são sóbrios de palavras; dizem muita coisa em poucas frases. Segue-se que aquela fecundidade prodigiosa deve sempre ser suspeita."

E aconselha:

"Nunca será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por vezes abundam e chocam o bom-senso, produzem lamentável impressão nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma idéia falsa do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se servem seus inimigos, para ridicularizá-lo. Entre tais publicações, algumas há que, sem serem más e sem provirem de uma obsessão, podem considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas."

Os Efeitos sobre o Movimento Espírita

A fascinação é realmente mais comum do que se pensa. Tal como uma epidemia, espalhou-se, e, atualmente, atinge o Movimento Espírita como uma doença moral muito séria. Aliada à falta de estudo das obras de Kardec, à tendência cultural ao sincretismo e à ausência de discernimento e de auto-crítica, ela é responsável pela edição de livros antidoutrinários e comprometedores existentes no mercado da literatura espírita. Essas obras são escritas por médiuns e escritores muitas vezes ingênuos ou mesmo vaidosos que, sob o império da fascinação, não se dão conta do ridículo a que se submetem, comprometendo, inclusive, o sadio entendimento das massas acerca da própria Doutrina Espírita e do que ela verdadeiramente ensina.

A Salada Mística

A fascinação é, sem dúvida, a responsável por inúmeras condutas esdrúxulas observadas em núcleos ditos espíritas, tais como práticas de cunho supersticioso e místico, sem qualquer fundamento racional e doutrinário.

Na esfera da divulgação, muitos indivíduos, embora instruídos, não estão livres da fascinação. Alguns, por confiarem excessivamente no seu pretenso saber, tornam-se instrumentos de Espíritos fascinadores e passam a divulgar, através de livros ou palestras, conceitos antidoutrinários nocivos à fé (raciocinada) espírita. Adotam e divulgam uma série de "ensinos" sem qualquer fundamentação doutrinária e um discurso místico-esotérico a qual chamam de "universalismo", sendo que, quando tais "ensinos" são comparados, nota-se não haver qualquer concordância e que cada um de seus representantes diz uma coisa, baseados que estão unicamente em suas férteis imaginações e arroubos místicos.

Crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais, profecias mirabolantes e aterrorizantes, milagres, intraterrestres, ETs que implantam chips na cabeça dos outros, terapias exóticas e milagreiras, 4ª e 5ª dimensões que a tudo explicam, astrologia, rituais e maneirismos... Enfim, é possível listarmos aqui centenas de fantasias, conceitos e noções que não encontram o menor respaldo, nem doutrinário, nem científico, e que só afastam o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.

Infelizmente, isso tudo é conduzido por espíritos perversos, levianos e/ou pseudo-sábios, que estimulam tais fantasias de modo a atrasar o progresso do humanidade e de seus ingênuos adeptos, fazendo-se valer de indivíduos incautos, de mente imaginosa e que carecem de aprofundamento e estudo das questões mais básicas do conhecimento, tanto do ponto-de-vista humano quanto espiritual.

São pessoas que ainda atrelam as questões do espírito ao maravilhoso, ao sobrenatural, ao milagreiro, ao aterrador, ao fantástico, esquecendo-se da razão, da racionalidade e da necessidade de tudo aferir para que então se possa, enfim, acreditar. Em tudo crêem, bastando que esteja um médium, um espírito ou algo que o valha a ditar alguma tolice sem sentido - desde que recheada de palavras bonitas e pomposas - para que sejam imediatamente aceitas como reflexo da Verdade e da mais pura "revelação" espiritual..

Quando chamados à realidade, vociferam, alegando terem a liberdade de pensarem como quiserem e que não se encontram "presos" a nenhuma "ortodoxia", não se importando que levam, de roldão, dezenas de outras consciências ao abismo de seus devaneios místicos, com que se aferram, julgando-se "especiais", "escolhidos"...

A Fascinação nos Grupos Espíritas

Allan Kardec alerta para outro grave perigo: o da fascinação de grupos espíritas. Iniciantes afoitos e inexperientes podem cair vítimas de Espíritos mistificadores e embusteiros que se comprazem em exercer domínio intelectual sob todos aqueles que lhes dão ouvidos, manifestando-se algumas vezes como guias, missionários, e até como Espíritos de outra natureza, advindos de algum planeta ou galáxia distante. O mesmo pode ocorrer com grupos experientes que se julguem maduros o suficiente. O orgulho e o sentimento de superioridade é a porta larga para a entrada dos Espíritos fascinadores. Portanto, deve-se tomar todo o cuidado quando na direção de centros espíritas e das sessões de atividades mediúnicas. Os dirigentes são alvos preferidos dos Espíritos hipócritas que, dominando-os, podem mais facilmente dominar o grupo.

Preocupado com tais descaminhos, o espírito Vianna de Carvalho ditou a seguinte mensagem, intitulada "Esquisitices e Espiritismo":

"Ressumam com frequência nos arraiais da prática mediúnica esdrúxulas superstições que tomam corpo, teimosamente, entre os adeptos menos esclarecidos do Espiritismo, grassando por descuido dos estudiosos, que preferem adotar uma posição dubidativa, à coerência doutrinária de que sobejas vezes deu mostras o insigne Codificador.

Pretendendo não se envolver no desagrado da ignorância que se desdobra sob a indumentária de fanatismos repetitivos, alguns espíritas sinceros, encarregados de esclarecer, consolar e instruir doutrinariamente o próximo, fazem-se tolerantes com erros lamentáveis, em detrimento da salutar propaganda da Doutrina de Jesus, ora atualizada pelos Espíritos Superiores. A pretexto de não contrariarem a petulância e o aventureirismo, cometem o nefando engano de compactuarem com o engodo, desconcertando as paisagens da fé e, sem dúvida, conspurcando os postulados kardecistas, que pareceriam aceitar esses apêndices viciosos e jargões deturpadores como informações doutrinárias. (...)

De uma lado, é a ausência de estudo sistemático, de autodidatismo espíritico, haurido na Codificação, de atualização doutrinária em face das conquistas do moderno pensamento filosófico e tecnológico; doutro, é o desamor com que muitos confrades, após se adentrarem no conhecimento imortalista, mantêm atitude de indiferença, resguardando a própria comodidade, por egoísmo, recusando-se a experimentar problemas e tarefas, caso se empenhassem na correta difusão e no eficiente esclarecimento espírita; ainda por outra circunstância, é a falsa supervalorização que se atribuem muitos, preferindo a distância, como se a função de quem conhece não fosse a de elucidar os que jazem na incipiência ou na sombra das tentativas infelizes; e, normalmente, é porque diversos preferem a falsa estima em que se projetam ilusoriamente a desfavor do aplauso da consciência reta e do labor retamente realizado...

...E surgem esquisitices que recebem as manchetes do sensacionalismo da Imprensa mais interessados na divulgação infeliz que atrai clientes, do que na informação segura que serve como luzes do esclarecimento eficiente.

Médiuns e médiuns pululam nos diversos campos da propaganda, autopromovendo-se, mediante ridículos conciliábulos como 'status' de fantasias vigentes no báratro em que se converteu a Terra, sem aferição de valores autênticos, com raras exceções, conduzindo, quase sempre, a deplorável vulgaridade a nobre Mensagem dos Céus, assim chafurdando levianamente nos vícios que incorrem. Fazem-se instrumentos de visões extravagantes e dizem-se dialogando com anjos e santos desocupados, quando não se utilizando, ousadamente, dos venerandos nomes de Cristo e Maria, dos Apóstolos e dos eminentes sábios e filósofos do passado, que retornam com expressões da excentricidade, abordando temas de somenos importância em linguagem chã, com despautérios, em desrespeito pelas regras elementares da lógica e da gramática, na forma em que se apresentam. Parecia que a desencarnação os depreciara, fazendo-os perder a lucidez, o patrimônio moral-intelectual conseguido nos longos sacrifícios em que se empenharam arduamente. Prognosticam, proféticos, os fins dos tempos chegados e, imaginosos, recorrem ao pavor e à linguagem empolada, repetindo as proezas confusas de videntes do pretérito, atormentados que são, a seu turno, no presente.

Utilizando-se das informações honestas da Ciência, passam à elaboração de informes fantásticos, fomentando débeis vagidos de 'ciência-ficção', entregando-se a debates e provas inexpressivas retiradas de lacônicos telegramas de agências noticiosas, com que esperam positivar seus informes sobre a vida em tais ou quais condições, nesse ou naquele Planeta do Sistema Solar, ou noutra galáxia que se lhe torne simpática, como se a Doutrina já não o houvera oportunamente conceituado com segurança a questão, à Ciência competindo o labor de trazer a sua própria afirmação, sem incorrerem os espiritistas no perigo do ridículo desnecessário... (Veja nosso artigo sobre o tema aqui).

Outras vezes entregam-se à atualização de antigas crendices e feitiços, enredando os neófitos em mancomunações com Entidades infelizes ainda anestesiadas pelos tóxicos de última reencarnação, vinculadas às impressões do que acreditavam e se demoram cultuando...

Receitam práticas estranhas e confusas, perturbando as mentes que se encontram em plena infância da cultura como da experiência superior, tornando-se chefes e condutores cegos que são, conduzindo outros cegos, conforme a lição evangélica, terminando por caírem todos no mesmo abismo...

O Espiritismo é simples e fácil como a verdade quando penetrada.

Deixá-lo padecer a leviana aventura de pessoas irresponsáveis, ingênuas ou malévolas, é gravame de que não se poderão eximir os legítimos adeptos da Terceira Revelação.

(...)Cabem, frequentemente, sempre que possíveis, as honestas informações entre Doutrina Espírita e Doutrinas Espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opinião espírita e opiniões medianímicas, calcadas na Codificação Kardequiana, que delineou, aliás, com muita propriedade, as características do Espiritismo, conforme se lê na Introdução de 'O Livro dos Espíritos', estando presente em todo o Pentateuco, que desdobra os postulados mestres em incomparáveis estudos de perfeita atualidade, a resistirem a todas as investidas da razão, da técnica e da fé contemporâneas".

Questão de Coerência

Como já pudemos constatar em vários artigos, não só o Codificador e os Espíritos ligados diretamente à Codificação se preocupavam com os rumos do movimento Espírita e a nefasta tendência das ideias demasiado heterodoxas e suas infiltrações no Movimento Espírita, mas também outras entidades espirituais têm atualmente evidenciado grande preocupação com a invasão de práticas e conceitos estranhos advindos do Orientalismo e do Africanismo, que são respeitáveis, mas que não coadunam com os ensinamentos espíritas.

Portanto, estudemos, pois, a Doutrina Espírita, e atentemos para os desvios que sorrateiramente encarnados e desencarnados propõem de maneira leviana e até irresponsável, para que, amanhã, não caiamos nós nas teias e descaminhos da fascinação.

domingo, 18 de julho de 2010

Inimigos de Allan Kardec

19:59 Posted by Administrador , , 2 comments
Por Maria Carolina Gurgacz

Você sabia que Allan Kardec sofria os mais variados ataques durante o período de construção do Espiritismo? Porém, o mais espantoso, segundo ele mesmo, é que ele tinha adversários entre os próprios adeptos do Espiritismo.

No Discurso I, pronunciado nas reuniões gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux e transcrito para o livro “Viagem Espírita em 1862”, Kardec fala sobre os adversários seus e do Espiritismo. Chega a dizer que são inimigos.

Durante o discurso ele se questiona “No estado atual das coisas aqui da Terra, qual é o homem que não tem inimigos? Para não tê-los fora preciso não habitar aqui, pois esta é uma conseqüência da inferioridade relativa de nosso globo e de sua destinação como mundo de expiação. Bastaria, para não nos enquadrarmos na situação, praticar o bem? Não! O Cristo aí está para prová-lo. Se, pois, o Cristo, a bondade por excelência, serviu de alvo a tudo quanto a maldade pôde imaginar, como nos espantarmos com o fato de o mesmo suceder àqueles que valem cem vezes menos?”

Ele nunca respondeu com hostilidade a nenhuma crítica recebida. Talvez porque acreditava que ser benevolente era uma forma de tocar os corações dos Homens, pois para ele, o ser beneficiado, poderia ser estimulado a sentimentos elevados por um proceder reto, podendo assim levá-lo a refletir e suavizar sua alma e quem sabe até mesmo salvá-lo! Ele afirma que muitas vezes acompanhou espíritos muito duros terem suas almas tocadas pela benevolência e ajudando-os assim a buscar o caminho do bem.

Quanto aos inimigos que se consideravam espíritas, Allan Kardec destaca esses:

1. Médiuns profissionais, que cobravam como cartomantes, para consultar os espíritos. Sobre eles Kardec diz “Não pretendo absolutamente dizer que entre os médiuns profissionais não existem muitos que sejam honestos e dignos de consideração. Mas a experiência provou, a mim e a muitos, que o interesse é um poderoso estimulante à fraude, pois que tem em mira o lucro; e se os Espíritos não colaboram – o que freqüentemente ocorre, pois que não estão por conta de nossos caprichos, - a astúcia, fecunda em expedientes, encontra facilmente meio de supri-los, Para um que agir lealmente, haverá cem dispostos ao abuso e que conspurcarão a reputação do Espiritismo.”

Kardec considera isso uma especulação material e acredita que isso só traz malefícios para aquele que busca, pois não existe garantias de que o Espírito seja quem diz ser.

2. Médiuns vaidosos, segundo ele “É o caso dos que acreditam, sem interesse pecuniário, ser possível fazer do Espiritismo um pedestal honorífico para se colocarem em evidência.” Ele considera isso uma especulação moral.”

3. Ciumentos, que como ele define são as “pessoas que não me perdoam o fato de ter sido bem sucedido, para as quais o sucesso de minhas obras é uma causa de desgosto, que perdem o sono quando assistem aos testemunhos de simpatia que, espontaneamente, são me dispensados. É a faixa do ciúme, reforçada por todos aqueles que, por temperamento, não toleram ver um homem erguer um pouco a cabeça sem tentar um movimento de fazê-lo submergir.

4. Médiuns obsidiados (fascinados) que acreditam que estão acima de qualquer julgamento, que são extremamente orgulhosos e que “tudo quanto recebem é sublime e só pode vir dos Espíritos Superiores, que se irritam com a menor observação crítica, a ponto de se malquistarem com seus amigos quando estes têm inabilidade de não admirar o que lhes parece absurdo.” Kardec diz que esses médiuns se aborrecem com facilidade, por qualquer motivo insignificante como não ter sua mensagem lida por primeiro, não ter um lugar de bastante evidência durante a reunião, muitos deles gostariam de se considerar médiuns titulares do grupo pretendendo que seus Espíritos guias sejam considerados árbitros infalíveis de qualquer questão, entre outras coisas. Ele diz que a época, muitos diretores dos grupos e das sociedades vinham sofrendo com esses médiuns, ele os convida a tomar sua atitude, isto é, “não dando importância a médiuns que antes constituem um entrave que um recurso. Em sua presença está-se sempre pouco à vontade, no temor de os ferir com ações por vezes as mais insignificantes.”

5. Pessoas que jamais estão contentes. Algumas criticavam Kardec porque estava indo rápido demais, sobre isso ele diz “reprovam-me por haver formulado princípios prematuros, de me colocar como chefe de uma escola filosófica. Mas acontece que, pondo-se a idéia espírita à parte, não poderia eu acaso arrogar-me, como tantos outros, a autoria de um sistema filosófico, fosse ele o mais absurdo? Se os meus princípios são falsos, por que não apresentam outros que os substituam, fazendo-os prevalecer? Ao que parece, entretanto, de modo geral eles não são julgados irracionais, já que encontram aderentes em tão grande número. Mas não será exatamente isso que excita o mau humor de certas pessoas? Se esses princípios não encontrassem partidários, se fossem ridículos a partir do primeiro enunciado, seguramente, deles não se falaria.” Outras criticavam-no por ir com muita lentidão, e ele, com sua suave ironia comenta “esses desejariam me empurrar – com boa intenção, quero crer, pois é sempre melhor pressupor o melhor que o pior – em um caminho onde não quero me arriscar. Sem, pois, me deixar influenciar, seja pelas idéias de uns, seja pelas de outros, sigo a rota que eu mesmo tracei: tenho um objetivo, vejo-o, sei como e quando o atingirei e não me inquietam os clamores dos que passam por mim.”

6. E finalmente, ele define seus últimos inimigos como “pessoas que são postas, relativamente a mim, em posições falsas, ridículas e comprometedoras e que procuram se justificar, em última instância, recorrendo a pequenas calúnias: os que esperavam seduzir-me pelos elogios, crendo poder levar-me a servir aos seus desígnios e que reconheceram a inutilidade de suas manobras para atrair minha atenção; aqueles que não elogiei nem incensei e que isso esperavam de mim; aqueles, enfim, que não me perdoam por ter adivinhado suas intenções e que são como a serpente sobre a qual se pisa. Se todas essas pessoas decidissem se colocar, por um instante sequer, em uma posição extraterrena e ver as coisas um pouco mais do alto, compreenderiam bem a puerilidade daquilo que as preocupa e não se espantariam com a pouca importância que a tudo isso dão os verdadeiros espíritas.”

Kardec termina esse discurso falando sobre uma das principais acusações que ele sofria, a de não ir atrás das pessoas que, por um motivo qualquer, se afastavam dele e do Espiritismo.

Quanto a isso ele se questiona “Aqueles que de mim se aproximam, fazem-no porque isto lhes convém; é menos por minha pessoa do que pela simpatia que lhes desperta os princípios que professo. Os que se afastam fazem-no porque não lhes convenho ou porque nossa maneira de ver as coisas reciprocamente não concorda. Por que, então, iria eu contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz.”

Ele sempre deixa muito claro que não tem tempo a perder correndo atrás de pessoas que tem interesse em qualquer coisa, menos no Espiritismo. Acredita que deve dedicar-se àqueles que considera homens de boa vontade.

E finaliza falando sobre seus adversários o seguinte “Tenho adversários, eu sei! Mas o número deles não é tão grande quanto poderia fazer supor a enumeração mencionada. Eles se encontram nos grupos que citei, mas são apenas indivíduos isolados e seu número pouca coisa é em comparação com os que desejam testemunhar-me sua simpatia. Além disso, nunca conseguiram perturbar-me o repouso, nem uma vez sequer suas maquinações, suas diatribes me emocionaram e devo acrescentar que essa profunda indiferença de minha parte, o silêncio que oponho aos seus ataques, não é o que os exaspera menos. Por mais que façam, jamais conseguirão fazer-me sair da moderação e da regra que tenho por conduta. Nunca se poderá dizer que respondi à injúria com injúria. As pessoas que me conhecem na intimidade podem dizer se jamais os mencionei, se alguma vez, na Sociedade, foi dita uma única palavra, foi feita uma única alusão relativamente a qualquer um deles. Mesmo pela Revista, jamais respondi às suas agressões, se dirigidas à minha pessoa, e Deus sabe que elas não têm faltado!”

Em vários momentos de suas obras é possível notar como Allan Kardec foi um grande homem. Porém, em seus discursos, onde a coisa é mais pessoal, isso fica ainda mais evidente. Ele é o que podemos chamar de verdadeiro homem de bem, com virtudes e qualidades muito raras na Terra.

Sua postura sempre foi exemplar e creio que por isso o Espiritismo é algo tão especial, pois teve este homem admirável e grandioso que a ele dedicou toda sua força e sua vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Excrescências do Livro Nosso Lar

Por Francisco Amado

Agora com o subtítulo de "A vida no mundo espiritual" se faz propaganda da coleção do Espírito André Luiz, psicografados por Francisco Cândido Xavier. Junte isso com a versão cinematográfica de "Nosso Lar", e Kardec será voz mais vencida do que já é (se é que tal coisa é possível).

Percebemos em vários romances conteúdos com contradições imensas, narrativas mitológicas e desvinculadas de qualquer discernimento.

Encontramos na obra da coleção, intitulada "Nosso Lar", apontamentos como este:
"[...] Em seguida, chamou-me Lísias para ver algumas dependências da casa [espiritual], demorando-me na SALA DE BANHO, cujas instalações interessantes me maravilharam. Tudo simples, mas confortável." [Ob. Cit. FEB. 60ª edição. Cap. 17. pp. 113. Grifo Nosso.]
Fica clara e escancarada a visão ainda material do espírito, que acredita que os espíritos necessitam de banho. A questão é como se suja os espíritos? Portanto onde está a real necessidade de uma sala de Banho, como narra o enaltecido texto de André, no Mundo dos Espíritos?

A verdade é que, sem a formação doutrinária, não teremos um movimento espírita coeso e coerente. E, sem coesão e coerência, não teremos Espiritismo.

Como afirmou Kardec: "A crença nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo."

No Espiritismo, a questão dos Espíritos está em segundo lugar, não constituindo o seu ponto de partida. E é esse, precisamente, o erro em que se cai e que acarreta o fracasso com certas pessoas.

Outras excrescências que encontramos no livro Nosso Lar:

1º Se você desejar uma casa em Nosso Lar tem que acumular 15 anos de serviços, tempo necessário para obter 30 mil bônus-hora, a moeda do lugar. Se você não conseguir tem que morar na casa de pessoas bondosas que o acolhem.

2º Chico Xavier viveu na pobreza, mas em Nosso Lar não funciona assim.
Quanto mais o espírito é evoluído mais ele é "rico", tem direito a morar em casas de grandes proporções, terem roupas variadas e veículos. Para se ter uma idéia, o espírito mais evoluído de lá (o governador) mora em um palácio de proporções faraônicas que é ricamente mobiliado e cujas torres rasgam o céu. Pasmem!

3º O mais absurdo é que só podem pedir qualquer coisa quem tem dinheiro, já que segundo informam NADA ALI É DE GRAÇA, QUEM QUER ALGO TEM QUE DAR ALGO EM TROCA, OU SEJA, A MOEDA BÔNUS-HORA.

4º Para surpreender os mais pedintes que gostam de orar em favor de alguém e ser atendido no Nosso Lar você vai precisar ter muito BÔNUS HORA.

5º Mesmo os espíritos mais evoluídos tomam banho e comem. Em cada casa tem um banheiro. Só não dizem como é o sistema de esgoto.

Mais adiante, o Espírito André Luiz anota a fala do Espírito Judite, na mesma obra psicografada:

"[...] Aprendemos em "Nosso Lar" que a vida terrestre se equilibra no amor, sem que a maior parte dos homens se aperceba. Almas gêmeas, almas irmãs, almas afins, constituem pares e grupos numerosos. [...] "[Ob. Cit. FEB. 60ª edição. Cap. 18. pp. 118. Grifo Nosso.]

A crença na alma gêmea vem da lenda de que o Criador ao fazer o homem teria percebido que sua obra estaria incompleta, teve então a idéia de retirar do próprio homem uma parte e assim criou a mulher.

Desde este momento, homem e mulher vivem a busca da sua outra metade para serem felizes.

Entretanto a Doutrina Espírita é taxativa em afirmar que "não existe união particular e fatal entre duas almas", isto é, não existem almas gêmeas.

Consultado o LIVRO DOS ESPIRITOS O QUE ENCONTRAMOS:

298. As almas que se devem unir estão predestinadas a essa união desde a sua origem, e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo, a sua metade, à qual algum dia se unirá fatalmente?

— Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam, ou seja, de acordo com a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta felicidade completa.

299. Em que sentido se deve entender a palavra metade, de que certos Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos?

—A expressão é inexata; se um Espírito fosse à metade de outro, quando separado estaria incompleto.

Voltamos para nosso lar: "[...] O espírito que ainda não trabalha [na colônia espiritual de "Nosso Lar"], poderá ser abrigado aqui. No entanto, os que cooperem podem ter casa própria. O ocioso vestirá, sem dúvida; mas o operário dedicado vestirá o que melhor lhe pareça; compreendeu? [...] "[Ob. Cit. FEB. 60ª edição. Cap. 22. pp. 140.

Onde está a necessidade de trabalho pago para atender aos modismos do mundo espiritual? O estranho texto exprime a idéia de que o Espírito desencarnado, quanto mais desenvolvido e desmaterializado, pode vestir o que lhe convém. Os menos evoluídos não.

O curioso é se o espírito é mais evoluído e desmaterializado para que vestimentas, tudo bem não é praia de nudismo, mas existe C&A ou Lojas Renner na espiritualidade?

O que informa "O Livro dos Médiuns":

"[...] Dissemos que os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em panos flutuantes ou com as roupas comuns. Os panos flutuantes parecem ser de uso geral no mundo os Espíritos. Mas perguntam-se onde eles encontram roupas inteiramente semelhantes às que usavam em vida, com todos os acessórios do traje. É evidente que não levaram esses objetos com eles, pois que ainda se encontram conosco. De onde provém então o que eles usam no outro mundo?

[...] Poderíamos citar numerosos casos em que Espíritos de mortos ou de vivos aparecem com diversos objetos, como bengalas, armas, cachimbos, lanternas, livros, etc. [...] O Espírito dispõe sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode concentrar esses elementos por sua vontade e dar-lhe a forma aparente que convenha às suas intenções.

[...]" [O Livro dos Médiuns. Cap. 08. Itens 126 e 128. Grifo Nosso.]

Aqui teremos que fazer a seguinte reflexão:

Afinal, Kardec é que deveria se adequar aos romances espíritas ou os romances espíritas é que devem se adequar a Kardec?

Kardec sempre deixou claro que a Doutrina é dos Espíritos.

Mas que garantia podemos ter de que a Doutrina é mesmo deles? Como assegurar-se cientificamente de que os ensinos não são oriundos da mente dos médiuns ou do codificador?
Aqui é que entra uma das metodologias proposta por Kardec, que a maioria desconhece e ou abomina o Método do Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE)

Ainda aprendemos no mesmo "Livro dos Médiuns":

"Os adversários do Espiritismo não se esquecem de objetar que os seus adeptos não concordam entre si. Que nem todos partilham das mesmas crenças. Numa palavra: que se contradizem. Se o ensinamento é dado pelos Espíritos, dizem eles, como pode não ser o mesmo? Somente um estudo sério e aprofundado da Ciência pode reduzir estes argumentos ao seu justo valor.

[...] Para compreender a causa e o valor das contradições de origem espírita temos de identificar-nos com a natureza do mundo invisível, tendo para isso estudado todos os seus aspectos. À primeira vista pode parecer estranho que os Espíritos não pensem todos da mesma maneira, mas isso não pode surpreender a quem conhecer o número infinito de graus que eles devem percorrer para chegar ao alto da escala.

Para querer uma visão única das coisas teríamos de supô-los a todos no mesmo nível; pensar que todos devem ver com justeza seria admitir que todos chegaram à perfeição, o que não acontece nem poderia acontecer, quando nos lembramos de que eles não são nada mais do que a humanidade desprovida do envoltório corporal.

Como os Espíritos de todos os graus podem manifestar-se, resulta que as suas comunicações trazem o cunho da sua ignorância ou do seu saber, da sua inferioridade ou da sua superioridade moral.

E é justamente para distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, que devem servir as instruções que temos dado." [Ob. Cit. Cap. 27. Itens 297 e 299. ]

A obra de Allan Kardec garante sua procedência de elevada condição espiritual e de insuperável poder aferidor. Sem ela estaremos bracejando nas trevas do pensamento reducionista materialista ou até mesmo nas excentricidades de Espíritos menos adiantados.

Evitemos as fantasias e busquemos a luz! Eis o que o espiritismo incessantemente nos exorta.

domingo, 11 de julho de 2010

Epistemologia Espírita

Por José Herculano Pires

Na aparente simplicidade da sua forma escrita o Espiritismo abrange todos os campos do Conhecimento. Não o faz de maneira sistemática, mas espontânea, numa espécie de improvisação determinada pelas exigências do borbulhar dos fatos e da escassez do tempo. Kardec já estava com 50 anos de idade e não dispunha de recursos financeiros e meios técnicos, nem de auxiliares preparados para a execução da obra imensa e urgente que o desafiava. Estava só diante daquela erupção de fenômenos que tinha de controlar na formulação de uma doutrina que os tornassem acessíveis a todos. Dispunha apenas dos seus conhecimentos científicos, da visão pedagógica herdada de Rousseau e Pestalozzi, dos instrumentos humanos de pesquisa que eram as meninas Boudin, de 14 e 16 anos e dos recursos da sua didática, desenvolvidos nos Institutos que fundara e dirigira, nas obras que publicara e nos serviços prestados à Universidade de França como diretor de estudos. Valeu-lhe o seu temperamento calmo, ponderado, que lhe permitiu dominar as circunstâncias e organizar uma nova ciência apoiada em pesquisas dotada de métodos próprios, entrosada nas exigências cientificas da época, amparada numa instituição científica por ele mesmo fundada e pelos meios de divulgação, pesquisa de opinião e possibilidade de debates em plano mundial, que criou com suas obras e a fundação e manutenção da Revista Espírita. Uma epopéia cultural silenciosa, que não obstante expandiu-se em todas as direções culturais, abalando o mundo.

Essa façanha homérica não dispensou o auxílio clássico dos deuses — aqueles mesmos que Tales de Mileto dizia encherem o mundo em todas as suas dimensões — os Espíritos. Esses deuses, que ele humanizou ao invés do divinizar, enfunaram as velas do seu barco e o levaram, solitário, à conquista de mares e terras desconhecidas e envoltos nos mistérios de todas as mitologias e magias religiosas. Teve de enfrentar, como Ulisses, os báratros e os monstros do mar e os guerreiros entrincheirados nas muralhas das tróias culturais da Terra.

A Epistemologia Espírita, estudo e crítica do Conhecimento Científico à luz do Espiritismo, não é sequer mencionada na obra de Kardec, mas está nela integrada, é um dos problemas fundamentais da doutrina, indispensável à sua compreensão. Na Antigüidade, com algumas exceções do mundo clássico grego-romano (por exemplo: as observações empíricas dos filólogos gregos e posteriormente de Aristóteles), todo o Conhecimento Humano decorria das tradições religiosas e se processava por dedução. Com ou sem o esquema lógico aristotélico, os sábios serviam-se de um único instrumento de pesquisa, que era o silogismo. Só nos princípios do Século XIV surgiram na Itália as primeiras tentativas de interrogar a Natureza para se conhecer a realidade.

Daí por diante a Ciência desenvolveu-se, através de penosos episódios históricos como os de Galileu e Giordano Bruno, pois qualquer descoberta que contrariasse a Bíblia era logo motivo de perseguições e condenações por heresia. Para se dar o passo lógico da dedução para a indução foram necessários quatro séculos. Basta lembrarmos o episódio de Descartes, que em seu Tratado do Mundo teve de usar um expediente curioso. Para dizer que a Terra girava em torno do Sol, afirmou que a Terra era fixa no espaço, envolta na sua atmosfera, mas esta girava em torno do Sol. Apesar disso, Descartes acabou fugindo para a Holanda, país protestante, a fim de livrar-se das condenações da Igreja. Ele usava em seu emblema a palavra caute, significando a cautela que devia ter na exposição de suas idéias. Nesse ambiente opressivo a Ciência era uma erva daninha que só crescia às ocultas. No Século XVIII, chamado o Século de Ouro das Ciências, a opressão clerical se afrouxara na medida em que as invenções, mais do que as descobertas, lhes davam prestígio. No Século XIX a situação mudara bastante, mas só nos meados desse século o clima se tornara propício ao emprego atrevido do uso da indução científica, que consiste na pesquisa de vários fenômenos para deles obter-se a lei geral que os rege.

Antes disso seria impossível a pesquisa espírita, que além de condenada em si mesma como profanação da morte, seria também condenada por contrariar a sabedoria infusa dos teólogos, procedente de Deus através da Bíblia e do milagre das intuições reveladoras. Apesar da liberdade já conquistada, a Inquisição Espanhola, não podendo condenar Kardec à fogueira, pois ele estava na França, condenou a sua obra e a queimou com todos os rituais da Inquisição em Barcelona. Kardec comentou o fato na Revista Espírita, num artigo intitulado A Cauda da Inquisição (1), aproveitando o fato para rasgar mais amplamente a pesada cortina da censura eclesiástica no mundo.

A França marchava na vanguarda da libertação, enquanto a cauda da opressão ainda se arrastava, eriçada de ameaças e eivada de crimes, em terras de Portugal e Espanha. Só na França seria possível, naquela fase de transição histórica e cultural, o desenvolvimento do Espiritismo. Não obstante, ali mesmo se ergueram as ondas da reação, sopradas pelos vendavais do fanatismo religioso, dos preconceitos culturais e do exclusivismo cientifico. Foi no estudo sereno dessa reação, em meio ao furor dos elementos desencadeados, que Kardec deu início à Epistemologia Espírita. Sozinho a principio, eram ainda poucos os seus companheiros. Repetia-se no antigo e carismático solo das Galias o mesmo quadro palestino de Jesus com seus poucos discípulos a enfrentar os poderes do mundo. O panorama histórico, porém, se modificara e Kardec podia usar com mais eficácia as armas da razão. O Renascimento prepara a França para aquele momento glorioso.

Kardec examina a posição epistemológica do Espiritismo na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita que abre O Livro dos Espíritos, obra fundamental da Doutrina. O Espiritismo é uma Ciência que se defronta com as outras ciências em pé de igualdade e não pode ser julgada pelos cientistas que não a conhecem. Os sábios são dignos de admiração e respeito, quando se pronunciam sobre o que sabem. Mas quando opinam sobre o que não sabem igualam-se ao vulgo, dando simples opiniões desprovidas de valor. O que vale na Ciência são os fatos e não as opiniões. Só é valido no campo científico o veredicto das provas. A rejeição dos fatos a priori não tem valor cientifico, por mais reputado que o seja o cientista que emitiu um julgamento. E acrescenta: "Quando a Ciência sai da observação material dos fatos para apreciá-los e explicá-los, abre-se para os cientistas o campo das conjecturas. Cada um constrói o seu sistemazinho, que deseja fazer prevalecer e o sustenta encarniçadamente. Os fatos são o verdadeiro critério dos nossos julgamentos sem réplica. Na ausência dos fatos, a dúvida é a opinião do homem prudente."

A posição de Kardec era assim de uma clareza e positividade absoluta. O Espiritismo nascia como Ciência, dentro dos quadros da evolução científica, e ao mesmo tempo assumia uma posição epistemológica realista, criticando os desvios individualistas à realidade objetiva. Aos que o criticaram alegando que o objeto de sua doutrina não era objetivo, Kardec lembrava que o conceito espírita de Espírito não era vago, indefinido, mas rigorosamente objetivo. "'O Espírito é um ser concreto e circunscrito — afirmava — um ser real, definido, que em certos casos pode ser apreendido pelos nossos sentidos da vista, da audição e do tacto." A natureza objetiva do Espírito não podia ser confundida com a dos objetos lógicos, matemáticos ou mitológicos e imaginários, pois as suas manifestações permitiam a verificação científica de sua realidade objetiva e de sua capacidade de produzir efeitos materiais das mínimas às máximas proporções. Por isso o Espiritismo exigia atitude científica no seu estudo, pesquisas objetivas na comprovação das leis naturais que regem as suas relações com o mundo sensível e com os homens encarnados.

A maioria dos cientistas criticava o fato de o Espiritismo haver nascido da observação da chamada dança das mesas. Kardec perguntava se a movimentação espontânea de objetos materiais, rigorosamente constatada, era mais ridícula que a dança das rãs que dera a Galvani a possibilidade de descobrir a eletricidade. Negar esses fatos sem observá-los e pesquisá-los era anticientífico, revelava a persistência de preconceitos na Ciência e exigia, por isso mesmo, a pesquisa séria e metódica dos cientistas sérios. A Ciência da época se fechara sobre as suas conquistas primárias e com elas se julgava na posse do conhecimento total. Caíra num mecanicismo simplório e se alienava num solipsismo arrogante. Quando a Academia reconheceu a existência do Hipnotismo, Kardec lembrou, num artigo crítico e irônico da Revista Espírita, que o Sr. Magnetismo tentara numerosas vezes entrar na Academia pelas portas da frente, mas sempre rejeitado, até que resolveu trocar de nome e entrar pelas portas dos fundos, sendo bem recebido e adquirindo a sua desejada cidadania cientifica. A Ciência dava mais importância às aparências formais do que à substância. Kardec assinalava que o Espiritismo não era uma questão de forma, mas de fundo.

Sua crítica epistemológica desenvolveu-se implacável através dos anos sucessivos de pesquisa na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que ele estruturara e dirigia como instituição científica de pesquisas. Quando os cientistas voltavam à carga contra o Espiritismo, Kardec declarava francamente a impotência da Ciência para opinar sobre questões que os cientistas simplesmente desconheciam. Respeitava os cientistas sérios e prudentes, mas não poupava os levianos e atrevidos que se julgavam, como ele dizia, monopolizadores do bom-senso e da verdade.

Charles Richet, Prêmio Nobel de Fisiologia, reconheceu o seu valor e a sua capacidade de pesquisador, embora não aceitasse a Doutrina Espírita, que considerava precipitada. William Crookes aceitou a incumbência da Sociedade Dialética de Londres, de demolir o Espiritismo, e após três anos de pesquisas, com resultados assombrosos, proclamou a veracidade inegável dos fenômenos espíritas. A luta solitária de Kardec deu resultados inesperados: Os trabalhos de Friedrich Zöllner e do Barão Von Schrenk- Notzing na Alemanha, de Ernesto Bozzano e Chiaia na Itália, que dobraram a resistência férrea de Césare Lombroso, com várias materializações incontestáveis da mãe do grande antropólogo, o aparecimento da Metapsíquica, da Ciência Psíquica Inglesa, da antiga Parapsicologia Alemã, as pesquisas que levaram Friederic Myers a publicar seu tratado A Personalidade Humana e sua Sobrevivência, o desenvolvimento da Psicologia Experimental e por fim o aparecimento da Parapsicologia Moderna de Rhine e McDougal provaram a legitimidade da Ciência Espírita e da critica epistemológica, de Kardec. Mas como o Espiritismo não mudou de nome, conservando-se fiel à sua origem e a si mesmo, intransigente na sua clara e precisa posição epistemológica, não foi admitido na Academia nem recebeu a cidadania cientifica a que tinha e tem o mais absoluto e inegável direito. Kardec, que faleceu em 1869, não teve a oportunidade de ver, em vida, os lances mais importantes da sua vitória sobre o carrancismo e o radicalismo do mundo científico oficial.

Hoje, arrastada pela correnteza da evolução, a Ciência teve de mergulhar no oceano invisível dos átomos e suas partículas, da percepção extra-sensorial e do poder insuspeitado do pensamento, precipitando-se na voragem das pesquisas sobre a reencarnação, ao absurdo das múltiplas dimensões da matéria, dos mundos interpenetrados, da antimatéria, da pluralidade dos mundos habitados, da assustadora problemática filosófica da concepção existencial do homem, da realidade ontológica considerada como subjetividade pura e assim por diante, negando-se a si mesma para poder sobreviver como sobrevivem os homens e todas as coisas e seres, segundo Kardec afirmava.

Kardec podia opinar com autoridade sobre a Ciência, porque era professor de Ciências. Mas por isso mesmo negava à Ciência o direito de opinar sobre o Espiritismo, que ela não conhecia e os cientistas o encaravam através de preconceitos, numa atitude anticientífica. Sua rejeição ao juízo científico da época, nesse sentido, é um veredicto: "A Ciência propriamente dita, como Ciência, é incompetente para se pronunciar sobre a questão do Espiritismo, e seu pronunciamento a respeito, qualquer que seja, favorável ou não, nenhum peso teria". Essa declaração de incompetência é válida ainda hoje, quando vemos a Ciência confirmar o Espiritismo sem querer e sem o saber. A ignorância dos sábios a respeito, como dizia Kardec, não se modificou. A posição realista de Kardec prova a sua segurança absoluta no tocante à legitimidade das suas pesquisas. O Espiritismo se sustentava em suas bases experimentais e lógicas, sem necessitar de aprovações estranhas, mesmo porque essas aprovações não provinham de quem tivesse o conhecimento suficiente para opinar a respeito.

Por outro lado, a posição epistemológica do Espiritismo não podia ser criticada (2). Seu objeto era inegável: a realidade psíquica do homem e os fenômenos que a demonstravam através dos tempos. Seu método de investigação era perfeito e bem integrado nas exigências científicas, adequado ao objeto; a orientação das pesquisas era feita por um mestre capacitado e reconhecido como tal; os resultados obtidos eram interpretados com critério rigorosamente científico; a divulgação das experiências, observações e pesquisas era feita através de órgão específico e especializado, com todas as informações e minúcias das ocorrências; nenhuma experiência conseguira cientificamente negar a realidade dos fenômenos ou contrariar a validade das interpretações. Se a Ciência não reconhecia a validade científica da pesquisa espírita, não era por desmenti-la ou pô-la em cheque com outras experiências, mas por simples atitude preconceituosa, que não podia pesar em considerações realmente científicas. Restava ainda o fato importante da comprovação dos fenômenos por cientistas eminentes da época e conhecidamente contrários ao Espiritismo.

As alegações de que o Espiritismo se apresentava à Ciência como um produto híbrido, em que problemas científicos, filosóficos e religiosos se misturavam, tornando-o indefinido, não passava de manobra, pois a seqüência natural dessas áreas, no plano do desenvolvimento cultural, corresponde exatamente ao esquema espírita. A magia primitiva corresponde ao fazer experimental, portanto à Ciência; a Filosofia era a concepção do mundo dada pela experiência em que se conjugam teoria e prática; a moral decorria do comportamento determinado pela mundividência e a religião surgia como imperativo das conquistas do saber adquirido. Toda a História do Mundo Antigo testemunhava isso. As próprias culturas teológicas fizeram esses caminhos. O Positivismo de Augusto Comte, que se apresentava como Filosofia Científica, seguiria o mesmo esquema da Teoria Geral do Conhecimento, acabando por desembocar na Religião da Humanidade. Epistemologicamente nada havia a censurar ou condenar no contexto do Espiritismo. Comentando a fatuidade humana, Kardec lembra que os homens mais sábios deixam-se embaraçar por coisas insignificantes. O que impediu a expansão do Espiritismo na Europa do século passado, de maneira a poder renovar a velha criminosa concepção do mundo ainda hoje dominante, foi simplesmente o seu aspecto religioso. Como no Cristianismo Primitivo, o Espiritismo foi acolhido com ansiedade relas camadas pobres da população, que o converteram por toda parte numa nova seita cristã. Nesse aspecto devocional as camadas superiores viam apenas o religiosismo popularesco, dotado da mesma fé ingênua de toda a religiosidade massiva. Contra essa avalancha de crentes humildes, predispostos ao beatismo, surgiram pequenos grupos de pessoas cultas, que lutaram muitas vezes com entusiasmo, mas acabaram cedendo à pressão dos preconceitos. Esses grupos se fecharam em sociedades de elite, desligados do povo, ou simplesmente desapareceram por falta de elementos dispostos ao trabalho árduo e à luta constante em defesa da doutrina. Padres e médicos aproveitaram-se disso para tentar asfixiar, acompanhados por pastores protestantes de produtivos rebanhos, o Renascimento Cristão. A palavra Cristianismo gerara um estereótipo enriquecido pelo duplo prestigio das classes dominantes e das igrejas tradicionais. As corporações científicas e as associações profissionais de médicos representavam a reação cientifica e as igrejas cristãs a cólera divina, disparando os raios do Olimpo contra os renegados. Apesar desses fogos cruzados sobre as suas cabeças descobertas, os espíritas conseguiram compreender os princípios fundamentais da doutrina, a sua luta pacífica no desespero das guerras impiedosas.

Mas a atualidade nos oferece perspectivas inteiramente diversas das que predominaram até agora. Graças à sua própria ignorância do assunto, os cientistas entraram a fundo no esquema de pesquisas da Ciência Espírita e comprovaram a sua veracidade. Chegamos assim a um momento crucial. E se os homens não clamarem, como advertiu Jesus, as pedras clamarão. Na verdade já estão clamando, pois é precisamente do minério que se levanta sobre o mundo a alvorada da concepção atômica, dissipando as trevas da falsa cultura materialista, em que o espírito fora substituído pelo pó dos túmulos. O poder atômico é ao mesmo tempo ameaça e consolo. E está nas mãos dos homens para que eles decidam por si mesmos o que desejam ser. A opção do Espiritismo continua aberta para todos. Quem quiser semear bombas e destruição poderá fazê-lo, mas os que optarem pela semeadura da luz, da compreensão real do homem e do Universo, do verdadeiro sentido da vida e do destino superior da Humanidade, verão na concepção espírita a solução do Grande Enigma sobre o qual Léon Denis escreveu um dos seus livros mais profundos.

A critica de Kardec à Ciência do seu tempo continua válida em nossos dias. A Epistemologia Espírita assemelha-se, neste momento, às profecias apocalípticas da Antiga Israel. Não é apenas uma crítica do Conhecimento e dos processos da Ciência, mas uma crítica do Homem, pois é ele quem busca o Conhecimento e quem faz a Ciência. A estrutura cientifica nos dá a imagem do Homem, do seu fazer e de como ele a fez. Voltado para fora de si mesmo, estimulado pelo fascínio da Natureza, o homem esqueceu a sua própria natureza — a natureza humana — e coisificou-se. Esse homem-coisa perdeu-se no orgulho das suas conquistas materiais e rejeitou os anseios espirituais. Por isso desenvolveu a Técnica e atrofiou a Religião. A eclosão espírita do Século XIX foi desencadeada pelos Espíritos para despertar os homens da sua apatia espiritual, lembrando-lhe que a euforia material o levaria à sua própria destruição. Descartes já lembrara que é mais fácil conhecermos as coisas exteriores do que a nós mesmos. Frances Bacon advertira que só atingimos o poder científico obedecendo a Deus. Mas Deus e suas leis foram considerados indignos do laboratório e jogados na sacristia, entregues à quinquilharia devocional das medalhas, escapulários, imagens para a idolatria e ameaças demoníacas.

Kardec estruturou a Ciência do Espírito e instituiu a pesquisa mediúnica, porque a mediunidade é a janela aberta no paredão dos fenômenos materiais para mostrar uma nesga do Infinito aos homens imantados ao finito. Sua crítica à Ciência é um ato de transcendência: liga-se em conflito a concepção do homem e do mundo, para que ambos recobrem a sua unidade e possam livrar-se da hipnose atômica. Mas os próprios espíritas, em geral, ao tentarem compreendê-lo, retornam às fontes mágicas do beatismo religioso (3), esquecidos de que religião sem ciência é superstição e ciência sem religião é loucura. Deus é a Fonte da Sabedoria e os homens a procuram na matéria. Esse engano vaidoso e fatal levou-nos à beira da destruição do planeta. O Espiritismo é um esforço para devolver-nos à condição humana, salvando-nos do robô). A Terra está sendo destruída pela técnica da voracidade sem limites. O Espiritismo nos oferece a única via de escape: a unidade do espírito em contraposição à fragmentação da matéria. Só a visão monista do mundo que Kardec nos oferece pode salvar-nos do caos.

Da obra Curso Dinâmico de Espiritismo, de J. Herculano Pires.
Cap X
Epistemologia Espírita

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Demônio, o mal e nós

21:58 Posted by Administrador , , , , 2 comments
Por Ronaldo Magella*

Lamentavelmente e infelizmente alguns conceitos e algumas idéias precisam ser repensadas no dias de hoje, desconstruídas e erradicadas, analisadas de forma fria e racional, e é uma pena que, o mito do Demônio, do Diabo, de Lúcifer, de Belzebu, seja uma dessas ideologias a qual temos que esclarecer alguns pontos e emitir outros de forma lógica, coerente e sensata, pelo menos é, será, o que buscaremos.

Durante muito tempo pensou-se, acho que hoje não se pensa mais, que a origem do mal no mundo, que todo o mal que acomete as criaturas humanas tinha sua origem em um único ser, no Diabo. Naturalmente que esse conceito teológico poderia até fazer algum sentido numa época obscura, ignorante, de trevas, sem informação e liberdade de expressão, mas em tempos atuais e modernos já não faz o mínimo de sentido, de razão e lógica crer em tal simbologia, pois o mal é criação nossa.

Ora, conforme busca demonstrar em sua filosofia Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho, se houve sido Deus o responsável pela criação do mal ou pela criação de um ser eternamente destinado ao mal, logo, então, Deus não seria perfeito, pois teria em si mesmo o mal, o mal lhe seria um dos seus atributos, conseqüentemente estaria também dentro dessa imperfeição.

E mais, se há, houver ou houve um dia um Demônio, e se comprovada fosse a existência de um ser maligno, responsável todo o mal no mundo, assassinados, mortes, corrupção, guerras, fome, miséria, mentiras, falsidades, roubos, enfim, um ser responsável por todos os crimes, atos horríveis e ignóbeis, por qual motivo Deus já não o haveria de puni-lo? Por que ele haveria ainda de estar por aí a solta? E por que nós seres humanos seríamos punidos, levados ao Inferno, castigados eternamente, por conta de algo do qual não tivemos a menor intenção de fazer, a responsabilidade, se estávamos sob a influência desta criatura nefasta? Se nós como seres humanos muitas vezes podemos perdoar as pessoas, desculpar, por que Deus assim também não poderia proceder? Será que somos melhores do que Deus? Será que por conta de uma vida miserável, de pobreza e misérias, que muitas vezes nos fazer praticar coisas ruins, só por isso haveremos de pagar eternamente no Inferno?

O Céu e o Inferno hoje nada passam de símbolos de uma teologia que não tem razão de ser, de existir, haja vista, além de outros motivos e razões, que ninguém mais em tempo atuais tem medo desse ambiente de fogo, nem muito menos deseja esse paraíso de brisas leves, parece que hoje o nosso propósito é gozar a vida aqui e agora, da melhor forma e maneira possível, sem nos preocupar com o que virá depois, sem nos preocupar se há ou não outros ambientes após a vida física.

Durante muito tempo tivemos e tínhamos religiosidade, mas não tínhamos espiritualidade. Lembro-me que em tempos passados no período da Semana Santa em nossa casa não se podia ouvir música, ver televisão, comer carne, nem chamar palavrão e mais uma séria de outras coisas, pois tudo se configurava pecado. Hoje essas atitudes não se sustentam mais, as pessoas não se preocupam mais com essas coisas, não tomam esses dogmas como respeito, nem assumimos essa postura religiosa. Porque os temos são outros, as épocas mudam, os sentimentos e pensamentos desenvolvem-se, deflagrar medos e idéias longe da razão, do raciocínio não fará de ninguém melhor ou pior. É preciso se crie na criatura humana uma consciência de boa conduta, de humanização, de espiritualidade, sem culpa, mas com responsabilidade, sem pecado ou temor, mas com conhecimento de bem e do mal.

Logo, se o mal não existe em um ser, se o mal não existe num único ambiente, se o mal não provém de Deus, é preciso se perguntar, então, qual a sua origem? O mal é criação nossa, tem origem em nós, somos nós quem o praticamos. Toda vez que mentimos, que matamos, que violentamos ou insuflamos a violência, o egoísmo, a ganância, que usamos de forma equivocada o poder que temos, o dinheiro, a beleza, que maltratamos as pessoas, estamos a fazer o mal, perpetuar o mal, disseminar o mal. Está em nós, nos nossos sentimentos de vaidade, de orgulho, quando queremos ludibriar os outros, quando queremos vencer a todos custo, nos vingar, devolver na mesma moeda, culpar as pessoas pelo nossa responsabilidade, está em nós o mal do mundo.

O mal é a nossa falta de consciência da vida, a nossa infantilidade com relação ao qual é espiritual, a espiritualidade, a Deus, as leis naturais. Pois toda vez que defraudamos essas leis não os tornamos culpados ou pecadores, mas responsáveis pelo seu restabelecimento, pelo seu ajustamento, daí tantas doenças, tantas dores, tantas lágrimas, por desconhecimento nosso.

“A cada um segundo as suas obras”, disse Jesus, logo, não é o Demônio que nos induz ao mal ou quem pratica o mal, somos nós.

* Ronaldo Magella é professor e jornalista.
Blog: http://ronaldo.magella.zip.net/

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dever e caridade

Por Cairbar Schutel

O trabalho de propaganda, pelo qual nos empenhamos, aplicando todas as nossas aptidões, além de ser uma tarefa que se acha adstrita aos nossos afazeres na Terra, é um dos maiores exercícios de caridade que não pode deixar de concorrer para o nosso bem-estar futuro.

Se mais não fizemos que pregar, insistentemente, a existência e imortalidade da alma e, portanto, a sorte que aguarda os crentes e os descrentes, os bons e os maus, as almas liberais e as avaras, os simples, os humildes, os orgulhosos e os enfatuados, já teríamos realizado o nosso dever e exercido, na frase de S. Paulo, a mais alta expressão da Caridade Cristã.

Com efeito, a imortalidade da alma, ou seja, o prosseguimento da nossa existência, à despeito da transformação que chamamos morte, é o princípio fundamental de todos os cometimentos e, consequentemente, o ponto de partida, o fundamento de uma orientação firme para bem nos guiarmos na estrada da vida.

Poder-se-á comparar a existência, o modo de agir de um homem que em nada crê, julgando ser o túmulo a sua última morada, com a existência de um outro que, orientado pelos princípios espíritas, já sabe que a morte nada mais é que um incidente na sua ascensão para a felicidade, pela conquista de conhecimentos que enriquecem e santificam sua alma!

O princípio da Imortalidade, quando aceito, não como um artigo de fé-cega, mas, após acurado estudo e experiências positivas e bem controladas, constitui o pivô mágico sobre o qual nos equilibramos para triunfarmos nas lutas e aproveitarmos o tempo da nossa peregrinação terrestre. Além de tudo, a Doutrina da Imortalidade nos faculta uma soma enorme de consolações e esperanças que, em vão, procuraríamos em qualquer religião da Terra e em todas as ciências, que constituem o orgulho da nossa civilização.

A imortalidade individual implica a existência, portanto, dos nossos parentes, dos seres queridos que, segundo afirma o Espiritismo, não foram absorvidos nas voragens dos túmulos e, consequentemente, ela vem nos dizer que nós também não seremos destruídos nesse combate que teremos todos de enfrentar contra a morte.

“Mors janua est” – a morte é a porta da vida –, como disse o filósofo, e repetiu-nos, numa carta que nos enviou o grande biologista francês recém-desencarnado, Professor Charles Richet.

Pois bem, em troco dessa grande Luz que o Espiritismo nos proporciona, julgamos que, por dever e caridade, nos cumpre erguer bem alto esse lábaro sagrado, que constitui a Verdadeira Fé, para que, os que nos são próximos bebam dessa Água que desaltera e vivifica e prossigam, intemeratamente, nas lutas pelo seu aperfeiçoamento espiritual, certos de que, assim fazendo, terão magnificamente aproveitado a sua existência terrestre.

A Imortalidade é a Luz da Vida; só por ela, podemos vislumbrar, desde já, o futuro que nos espera.

Vida no Além

Por Léon Denis

"O ser humano, como dissemos, pertence desde esta vida a dois mundos. Pelo seu corpo físico, está ligado ao mundo visível; pelo seu corpo fluídico, ao invisível. O sono é a separação temporária desses dois envoltórios; a morte é a separação definitiva. Nos dois casos, a alma se separa do corpo físico e, com ela, a vida se concentra no corpo fluídico. A vida de além-túmulo é simplesmente a permanência e a liberação da parte invisível de nosso ser.

A ciência, por seu lado, estudou e conheceu até aqui no homem terrestre apenas a superfície, a parte física. Acontece que essa é, para o ser integral, quase o que a casca é para a árvore. Quanto ao homem fluídico, etéreo, de que nosso cérebro físico não pode ter consciência, ela o tem ignorado até os nossos dias.

Daí sua impotência para resolver o problema da sobrevivência, uma vez que é apenas o ser fluídico que sobrevive.

Os espíritos inferiores conservam por muito tempo as impressões da vida material. Acreditam ainda viver fisicamente e continuam a sentir, às vezes durante anos, o engano de suas ocupações habituais. Para os materialistas, o fenômeno da morte permanece incompreensível. Por falta de conhecimentos prévios, confundem o corpo fluídico com o corpo físico. As ilusões da vida terrestre ainda persistem neles. Pelos seus gostos e até mesmo pelas suas necessidades imaginárias, estão como que amarrados à Terra. Depois, lentamente, com a ajuda de espíritos benfazejos, sua consciência desperta, sua inteligência se abre à compreensão desse novo estado de vida. Mas, desde que procuram se elevar, sua densidade os faz recair na Terra. As atrações planetárias e as correntes fluídicas do espaço os reconduzem violentamente para nossas regiões, como folhas secas varridas pela tempestade.

Os crentes ortodoxos vagueiam na incerteza e procuram a realização das promessas do sacerdote e do pastor, o gozo das beatitudes prometidas. Às vezes, sua surpresa é grande, e um longo aprendizado é necessário para se iniciarem nas verdadeiras leis do espaço. Em vez de anjos ou demônios, encontram os espíritos dos homens que, como eles, viveram na Terra e os precederam. Sua decepção é grande ao verem suas esperanças malogradas, suas convicções transformadas por fatos que de nenhum modo, na educação recebida, os havia preparado. Mas se durante a vida foram bons e submissos ao dever – tendo os atos sobre o destino ainda mais influência do que as crenças – essas almas não poderão ser infelizes.

Para os descrentes e todos aqueles que com eles se recusaram a admitir a possibilidade de uma vida independente do corpo, julgam-se mergulhados em um sonho, cuja duração irá se prolongar até que seu erro seja desfeito.

Suas impressões são bastante variadas, assim como os valores das almas.

Aqueles que, durante a vida terrestre, conheceram a verdade e a serviram, recolhem, logo que desencarnam, o benefício de suas investigações e de seus trabalhos. A comunicação a seguir, entre muitas outras, dá testemunho disso. Provém de um espírita militante, homem de coração e convicção esclarecida: Charles Fritz, fundador do jornal La Vie d’Outre-Tombe (A Vida do Além-Túmulo), em Charleroi. Todos aqueles que conheceram esse homem reto e generoso irão reconhecê-lo pela sua linguagem. Ele descreve as impressões sentidas depois de sua morte e acrescenta:

“Senti que os laços se desfaziam pouco a pouco e que minha personalidade espiritual, meu ‘eu’, ia se desligando. Vi ao meu redor bons espíritos que esperavam por mim; foi com eles, enfim, que me elevei da superfície terrestre.

“Não sofri com essa desencarnação a morte do corpo físico; meus primeiros passos foram os da criança que começa a andar. “A luz espiritual, cheia de força e de vida, nascia em mim; a luz não vem dos outros, e sim de nós. É um raio que sai do envoltório fluídico e que nos penetra por inteiro. “Quanto mais tiverdes trabalhado na verdade, no amor e na caridade, mais essa luz será maior, até se tornar deslumbrante para aqueles que vos são inferiores.

“Pois bem! Meus primeiros passos foram inseguros; entretanto, pouco a pouco a força foi-me vindo e pedi a Deus sua assistência e sua misericórdia. Após ter constatado o completo desprendimento de minha individualidade, enfrentei, afinal, o trabalho que tinha de fazer. Vi o passado de minha última vida e me esforcei para que ela viesse com clareza das profundezas da memória.

“O passado se encontra no fluido do homem e, conseqüentemente, do espírito. Seu perispírito é como uma miragem de todas as suas ações e sua alma: se foi má a sua vida, contempla com tristeza suas faltas, inscritas, ao que parece, nas dobras do corpo perispiritual.

“Não tive dificuldade alguma em reconhecer minha vida tal qual ela fora. Evidentemente, constatei que não havia sido infalível, pois quem se pode vangloriar de o ter sido na Terra? Mas devo dizer-vos que, após essa constatação, senti-me bastante satisfeito e feliz com meu trabalho na Terra.

“Lutei, trabalhei e sofri pela causa do Espiritismo. Essa luz, dei-a, juntamente com a esperança, a muitos irmãos da Terra, por meio da palavra, dos meus estudos e meus trabalhos; por isso, volto a encontrar essa luz.

“Sou feliz por ter trabalhado em reerguer a fé, o coração e a coragem das pessoas. Recomendo a todos esta fé inabalável fundada no Espiritismo. Possuo luz o bastante para caminhar com segurança vendo o que está diante de mim, o meu futuro, e já ajudo espíritos infelizes.”

A lei de atração no espaço é a das afinidades. Todos os espíritos estão sujeitos a ela. A orientação de seus pensamentos os leva naturalmente para o lugar que lhes é próprio, porque o pensamento é a própria essência do mundo espiritual, sendo a forma fluídica apenas o vestuário. Por todos os lugares, reúnem-se os que se amam e se compreendem.

Herbert Spencer, num momento de intuição, formulou um axioma igualmente aplicável ao mundo visível e invisível. “A vida – disse ele – é apenas uma adaptação das condições interiores às condições exteriores ”.

Se é apegado às coisas materiais, o espírito permanece ligado à Terra e se mistura aos homens que têm os mesmos gostos, os mesmos apetites. Quando é voltado para o ideal, para os bens superiores, se eleva sem esforço para o objeto de seus desejos. Une-se às sociedades do mundo espiritual, participa de seus trabalhos e desfruta dos espetáculos, das harmonias e do infinito.

Se o pensamento cria, a vontade edifica. A fonte de todas as alegrias, de todas as dores está na razão e na consciência. É por isso que encontramos, cedo ou tarde, no além, as criações de nossos sonhos e a realização de nossas esperanças. Mas o sentimento da tarefa inacabada traz, ao mesmo tempo que os afetos e as lembranças, a maior parte dos espíritos para a Terra. Toda alma encontra o meio que os seus desejos reclamam e irá viver nos mundos sonhados, unida aos seres que estima; aí também encontrará as lamentações, os sofrimentos morais que seu passado gerou.

Nossas concepções e nossos sonhos nos seguem por toda parte. No surto de seus pensamentos e no ardor de sua fé, os adeptos de cada religião criam imagens nas quais acreditam reconhecer os paraísos entrevistos. Depois, pouco a pouco, percebem que essas criações são imaginárias, de pura aparência e comparáveis a vastos panoramas pintados na tela ou a imensos afrescos. Aprendem, então, a se desprender e desejam realidades mais altas e mais sensíveis. Sob nossa forma atual e no estreito limite de nossas faculdades, não poderíamos compreender as alegrias e os êxtases reservados aos espíritos superiores, nem as angústias profundas experimentadas pelas almas delicadas que chegaram aos limites da perfeição. A beleza está por toda parte; só os seus aspectos variam ao infinito, de acordo com o grau de evolução e de depuração dos seres.

Tudo o que o espírito fez, quis, pensou reflete-se nele. Semelhante a um espelho, a alma reflete todo o bem e todo o mal realizados. Essas imagens nem sempre são subjetivas; pela intensidade da vontade, podem revestir um caráter substancial.

Elas vivem e se manifestam, para nossa felicidade ou nosso castigo. Tendo se tornado transparente no além, a alma julga a si mesma, assim como é julgada por todos aqueles que a contemplam. Apenas em presença de seu passado, vê reaparecer todos os seus atos e suas conseqüências, todos os seus erros, até mesmo os mais ocultos. Para o criminoso não há descanso nem esquecimento; sua consciência, como um justiceiro impiedoso, o persegue incessantemente. Em vão procura escapar às suas obsessões; seu suplício só poderá acabar se o remorso se converter em arrependimento e se ele aceitar novas provas terrestres, o único meio de reparação e de regeneração."

LIVRO: O PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Movimento Espírita: "Alvo das investidas das sombras organizadas"

Por Artur Felipe Azevedo

O espírito Camilo, através da psicografia de José Raul Teixeira, fez um alerta muitíssimo pertinente intitulado "Uma Reflexão sobre o Movimento Espírita", constante da obra "Desafios da Educação"(Editora Fráter).

Como o prezado e atento leitor poderá notar, a citada entidade espiritual analisa detalhadamente a quantas anda o Movimento Espírita em vista da falta de estudo e conhecimento do Espiritismo, resultando na tentativa de enxertias e desvios de todo tipo, incentivadas pela espiritualidade inferior, interessada em promover o sincretismo e a confusão em nossa fileiras.

Leiamos com atenção e vejamos a estreita conexão com aquilo que analisamos aqui neste blog.

Inicialmente, a nobre entidade fala sobre a excelência da mensagem espírita e da grandiosa figura do Codificador Allan Kardec e sua preocupação com a UNIDADE doutrinária.

"A excelente Mensagem Espírita chega ao mundo como refrescante e iluminada aurora, anunciando um dia novo de bençãos para o planeta, atendendo as imensas carências da alma terrestre, que vivia a braços com as trevas ocasionadas pelo absolutismo materialista, que tem seus fundamentos balançados, em razão das Vozes altíssimas e claras que rasgaram o silêncio dos túmulos, para invadir os ouvidos da Humanidade inteira.

Como chuva bondosa, a Doutrina Espírita penetra o solo ressequido das almas, onde, a partir de então, as sementes nobres dos ensinamentos do Mundo Superior teriam toda a chance de germinar e medrar, estabelecendo ventura e progresso.

Eram novos tempos para a cultura e para a fé, que, agora, irisadas por luzes espirituais que se mostravam diante de todos, formulando convite ao espírito humano para um pensamento mais alto.

No centro das ocorrências, destaca-se a figura augusta do professor Rivail, universalmente conhecido como Allan Kardec, e na sua visão de espírito de escol, sabia e afirmava que seria ponto de honra para o desenvolvimento da Mensagem na Terra a manutenção da unidade. Seria indispensável que em toda parte, onde surgisse um núcleo de estudos do Espiritismo, se pudesse falar a mesma linguagem, sem que houvesse riscos de ser ele desfigurado, sem riscos de que viesse a sofrer enxertias, o que seria descabida ocorrência no bojo de uma doutrina de tamanha lucidez. A preocupação do Codificador, porém, dizia que tais dificuldades eram passiveis de ocorrer."

Prosseguindo, o espírito Camilo comenta sobre o crescimento do Movimento Espírita e faz um alerta:

"O tempo passa, as atividades em torno da Doutrina Espírita são desenvolvidas com rapidez. Da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, aos dias atuais, podem-se contar por milhares as instituições levantadas no mundo em nome da Veneranda Doutrina. Do pequeno grupo de almas dispostas, que ladearam o Codificador, suportando toda agrestia e fereza dos primeiros preconceitos até hoje, quando se torna status importante dizer-se espírita, há quase um século e meio de modificações na mentalidade geral.

À semelhança do que ocorreu com a primitiva comunidade dos Apóstolos de Jesus, que foi perdendo em qualidade à medida que se foi expandindo, se popularizando e ganhando notoriedade através do prestígio político de Roma, as atividades ao redor do Espiritismo - o Movimento Espírita - foi tomando contornos preocupantes em todo lugar, na proporção do seu agigantamento acompanhado pelo desconhecimento declarado dos seus fundamentos."

Como pudemos perceber, Camilo aponta o desconhecimento decorrente da falta de estudo do Espiritismo como razão principal para a perda de qualidade que se nota em todo lugar no que tange à prática doutrinária, tal qual ocorreu com o Cristianismo, que em praticamente nada se assemelha àquilo que foi legado por Jesus.

"Allan Kardec, valendo-se do seu inesgotável bom senso, estabeleceu que o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, significando que, não sendo impositiva, oferece ao indivíduo que vai ao seu encontro todas as possibilidades de discussão e de análises, até que tenha podido compreender suas bases, de modo a vivê-las com claridade mental e segurança. Tristemente, muitos pensaram que tal condição de Mensagem lhes permita adaptar os seus preceitos doutrinários aos próprios gostos e tendências, sem causarem problemáticas adulterações no trabalho de profunda coerência dos Numes Tutelares da Terra."

Realmente perfeita a colocação do espírito Camilo. Muitos acham que podem adaptar seus atavismos ao corpo doutrinário espírita, demonstrando, com isso, total incoerência. Se não encontram-se satisfeitos com o Espiritismo, e não sendo esta uma Doutrina exclusivista e impositiva, nada mais sensato que dedicarem-se aos seus movimentos religiosos, deixando a prática espírita livre de adulterações e enxertias descabidas.

"Referiu-se o Codificador à compreensão do Espiritismo dizendo que quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das suas idéias (Kardec, A. O Livro dos Espíritos, introdução, parte VIII). Lamentavelmente, porém, muitos admitiram que poderiam falar e agir em seu nome, sem o mínimo de estudo de sua doutrina, na pressa inconsequente por obter fenômenos que bem podiam ser buscados fora dos arraiais espíritas, o que não vincularia a possível má qualidade ou a sua impostura ao respeitável estatuto espiritista.

Os abnegados Prepostos do Cristo ensinam na Codificação que o ensino dos espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão (O Livro dos Espíritos, questão 627). Desafortunadamente, indivíduos oriundos dos mais diversos territórios intelectuais, das mais variadas regiões morais, com as mais estranhas idiossincrasias, atiraram-se a propor alterações doutrinárias, a fazerem adaptações inconsistentes quão perigosas, introduzindo idéias e práticas francamente estranhas aos textos e contexto da Doutrina. São muitos os que, ignorantes, vão mantendo outras criaturas no seu mesmo nível, abominando estudos, detestando análises, impossibilitando a aeração dos movimentos do raciocínio. Um grande número não crê no que o Espiritismo expõe, mas se vale da atenção dos crédulos e ingênuos, sempre abundantes, para impor as suas próprias fantasias que trata de envolver com as cores da Veneranda Doutrina, porque sabe do desvalor do produto que oferece querendo adesões que lhe incense a vaidade.

Nenhum problema provocaria o indivíduo que criasse uma ordem de idéias, uma doutrina pessoal e que a defendesse com insistência, em seu nome mesmo, e a partir disso cobrasse atendimento, forjasse distintivos, premiações, imagens de "santos" encarnados, liturgias sacramentais e ordenações. Toda a sua prática seria buscada e seguida pelas almas que sintonizassem com isso, como deparamos no mundo dos intocáveis ismos , personalizados e personalistas, arrebanhando grupos imensos de fanatizados, que pagam bem caro para comprar um lugar no céu..., conforme a promessa dos seus líderes."

Camilo cita aquilo que também defendemos: sigam a quem quiserem e aquilo que bem entenderem, têm todos esse direito, mas aqueles que se dizem espíritas devam cuidar para que o Espiritismo mantenha-se livre de misturas, atavios e enxertias, permanecendo claro e límpido conforme nos foi legado pela Espiritualidade Superior.

"Quanto ao Espiritismo, porém, as coisas devem ser diferentes. Não havendo obrigação da pessoa ser espírita; inexistindo qualquer ameaça infernal para quem não aceite sua orientação; não se prometendo premiações celestiais a quem quer que seja e sendo uma escolha livre da criatura, em meio de tão diversificadas opções, torna-se imprescindível que quem queira ser espírita se despoje dessa terrível vaidade de que querer que as coisas sejam a seu gosto, ao invés de ajustar-se aos espirituais ensinamentos da Grande Luz. Imprescindível que o sincero espírita assuma, de fato, a disposição de melhorar-se com o conteúdo assimilado das lições do Infinito, pelejando para domar as suas inclinações inferiores."

No trecho a seguir, Camilo fala da estratégia da espiritualidade inferior para aniquilar o Movimento Espírita:

"Com tristeza, percebe-se hoje que o Movimento Espírita, que dispõe de tudo o que a Doutrina Espírita lhe brinda para ser amadurecido, pujante e avançado, tem sido alvo das investidas das Sombras organizadas e se encharcado com seus conteúdos peçonhentos e danosos. Daí, são núcleos criados para reverenciar personalidades vaidosas, que não abrem mão da relação de vassalagem; são instituições montadas somente para atender os corpos, sem qualquer compromisso com o espírito imortal que permanece vagueando nas trevas de si mesmo; são casas erguidas para desfigurar o pensamento espírita, em razão das mesclas implantadas com doutrinas, filosofias e práticas orientalistas ou africanistas que, mesmo merecendo respeito, têm propostas bem distintas das do Consolador."

Tais observações de Camilo não poderiam ser mais claras: a ênfase em trabalhos de cura de corpos em detrimento do estudo da Doutrina; a inserção de práticas orientalistas e africanistas; a idolatria a personalidades vaidosas e centralizadoras, encarnadas e desencarnadas, tidas como detentoras exclusivas da Verdade... Tudo isso com o velado objetivo de desfigurar o Espiritismo.

"Ainda em nosso Movimento Espírita, se há confundido o caráter universalista do Espiritismo com uma infausta tendência agregacionista, pois, ao invés de o pensamento espírita ajudar a ver o mundo dentro da óptica da Vida Superior, para que o indivíduo saia do nível das considerações meramente materiais, vê-se que tudo que é encontrado de "interessante" mundo afora, deseja-se agregar ao Espiritismo. Cânticos, terapias, experimentações psíquicas diversas, mantras, vestuário, jargões, festividades de gosto execrável e coisas outras ocupando variado espectro, têm despontado aqui e ali, em nome da Doutrina Espírita. E o que é mais contristador, é que tudo isto se dá diante da postura inerme dos que aceitaram responsabilidades diretivas das quais não dão conta. Tudo isto tem sido acompanhado com o consentimento dos que dirigem, coordenam, "orientam"..."

Exatamente como pensa a seita ramatisista: tudo crêem devam incorporar ao Espiritismo, em nome de um suposto "universalismo", que, na verdade, não passa de confusão sincrética oriunda de atavismos e falta de aprofundamento e entendimento da proposta doutrinária espírita. Disseminam aos quatro cantos que Kardec (entenda-se a Codificação) estaria ultrapassado, como se as verdades universais fossem mutáveis, ao mesmo tempo que desejam inserir no Espiritismo as crendices e superstições cujam origens remontam milhares de anos, quando a civilização achava-se em sua infância. E quando chamados a atenção, colocam-se na posição de vítimas, de perseguidos, raivosamente alegando "falta de caridade" daqueles que lutam pacificamente pela manutenção da unidade doutrinária. No entanto, como bem disse o espírito Camilo, falta de caridade é justamente nada fazer e tão-somente observar o crescimento dessas estranhas idéias em nosso meio.

Conclui Camilo, magistralmente:

"Afirmou o Celeste Guia que ninguém pode servir a dois senhores...

Estabeleceu o Excelso Mestre: Seja o vosso falar sim, sim, não, não...

Informa o Espírito da Verdade: Deus procede ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente.

Vale a pena refletir em todos esses brilhantes dizeres e nessas imagens tão expressivas dos mentores da Humanidade. A hora é, incontestavelmente, de testemunhos difíceis, e quem ainda não se sinta em condições de tomar do conteúdo da luminosa Revelação e dar-lhe impulso positivo, fazendo-a útil a si e aos irmãos do caminho, comece ou recomece o esforço íntimo para o fortalecimento da vontade de crescer, de despojamento do comodismo do homem velho, uma vez que Jesus Cristo confia nos empenhos das suas ovelhas, e conta que esses empenhos sejam verdadeiros, para que o seu devotamento não seja tão somente aparência, a fim de que se possa, então, construir um Movimento Espírita vívido e forte, capaz de representar as excelências do Espiritismo vivenciado e sofrido, se necessário, através das ações e convicções dos seus seguidores fiéis."

Retirado do blog "Ramatis - Sábio ou Pseudosábio?"