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quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Demônio, o mal e nós

21:58 Posted by Fabiano Vidal , , , , 2 comments
Por Ronaldo Magella*

Lamentavelmente e infelizmente alguns conceitos e algumas idéias precisam ser repensadas no dias de hoje, desconstruídas e erradicadas, analisadas de forma fria e racional, e é uma pena que, o mito do Demônio, do Diabo, de Lúcifer, de Belzebu, seja uma dessas ideologias a qual temos que esclarecer alguns pontos e emitir outros de forma lógica, coerente e sensata, pelo menos é, será, o que buscaremos.

Durante muito tempo pensou-se, acho que hoje não se pensa mais, que a origem do mal no mundo, que todo o mal que acomete as criaturas humanas tinha sua origem em um único ser, no Diabo. Naturalmente que esse conceito teológico poderia até fazer algum sentido numa época obscura, ignorante, de trevas, sem informação e liberdade de expressão, mas em tempos atuais e modernos já não faz o mínimo de sentido, de razão e lógica crer em tal simbologia, pois o mal é criação nossa.

Ora, conforme busca demonstrar em sua filosofia Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho, se houve sido Deus o responsável pela criação do mal ou pela criação de um ser eternamente destinado ao mal, logo, então, Deus não seria perfeito, pois teria em si mesmo o mal, o mal lhe seria um dos seus atributos, conseqüentemente estaria também dentro dessa imperfeição.

E mais, se há, houver ou houve um dia um Demônio, e se comprovada fosse a existência de um ser maligno, responsável todo o mal no mundo, assassinados, mortes, corrupção, guerras, fome, miséria, mentiras, falsidades, roubos, enfim, um ser responsável por todos os crimes, atos horríveis e ignóbeis, por qual motivo Deus já não o haveria de puni-lo? Por que ele haveria ainda de estar por aí a solta? E por que nós seres humanos seríamos punidos, levados ao Inferno, castigados eternamente, por conta de algo do qual não tivemos a menor intenção de fazer, a responsabilidade, se estávamos sob a influência desta criatura nefasta? Se nós como seres humanos muitas vezes podemos perdoar as pessoas, desculpar, por que Deus assim também não poderia proceder? Será que somos melhores do que Deus? Será que por conta de uma vida miserável, de pobreza e misérias, que muitas vezes nos fazer praticar coisas ruins, só por isso haveremos de pagar eternamente no Inferno?

O Céu e o Inferno hoje nada passam de símbolos de uma teologia que não tem razão de ser, de existir, haja vista, além de outros motivos e razões, que ninguém mais em tempo atuais tem medo desse ambiente de fogo, nem muito menos deseja esse paraíso de brisas leves, parece que hoje o nosso propósito é gozar a vida aqui e agora, da melhor forma e maneira possível, sem nos preocupar com o que virá depois, sem nos preocupar se há ou não outros ambientes após a vida física.

Durante muito tempo tivemos e tínhamos religiosidade, mas não tínhamos espiritualidade. Lembro-me que em tempos passados no período da Semana Santa em nossa casa não se podia ouvir música, ver televisão, comer carne, nem chamar palavrão e mais uma séria de outras coisas, pois tudo se configurava pecado. Hoje essas atitudes não se sustentam mais, as pessoas não se preocupam mais com essas coisas, não tomam esses dogmas como respeito, nem assumimos essa postura religiosa. Porque os temos são outros, as épocas mudam, os sentimentos e pensamentos desenvolvem-se, deflagrar medos e idéias longe da razão, do raciocínio não fará de ninguém melhor ou pior. É preciso se crie na criatura humana uma consciência de boa conduta, de humanização, de espiritualidade, sem culpa, mas com responsabilidade, sem pecado ou temor, mas com conhecimento de bem e do mal.

Logo, se o mal não existe em um ser, se o mal não existe num único ambiente, se o mal não provém de Deus, é preciso se perguntar, então, qual a sua origem? O mal é criação nossa, tem origem em nós, somos nós quem o praticamos. Toda vez que mentimos, que matamos, que violentamos ou insuflamos a violência, o egoísmo, a ganância, que usamos de forma equivocada o poder que temos, o dinheiro, a beleza, que maltratamos as pessoas, estamos a fazer o mal, perpetuar o mal, disseminar o mal. Está em nós, nos nossos sentimentos de vaidade, de orgulho, quando queremos ludibriar os outros, quando queremos vencer a todos custo, nos vingar, devolver na mesma moeda, culpar as pessoas pelo nossa responsabilidade, está em nós o mal do mundo.

O mal é a nossa falta de consciência da vida, a nossa infantilidade com relação ao qual é espiritual, a espiritualidade, a Deus, as leis naturais. Pois toda vez que defraudamos essas leis não os tornamos culpados ou pecadores, mas responsáveis pelo seu restabelecimento, pelo seu ajustamento, daí tantas doenças, tantas dores, tantas lágrimas, por desconhecimento nosso.

“A cada um segundo as suas obras”, disse Jesus, logo, não é o Demônio que nos induz ao mal ou quem pratica o mal, somos nós.

* Ronaldo Magella é professor e jornalista.
Blog: http://ronaldo.magella.zip.net/

sábado, 10 de outubro de 2009

Diálogo com o demônio

Por Licinio Castro

- Eu sou o Demônio!

- Não és. Isso eu te digo com a mais absoluta certeza.

- Mas como ousas dizê-lo? Queres asseverar que eu não sou o que sou?

- Não és o que julgas ser.

- Que audácia! Como me explicarias esse absurdo? Porventura ignoras que eu sou protagonista na Bíblia e nas religiões?

- Insisto em assegurar-te que não és esse personagem fictício, ainda hoje capaz de apavorar tanta gente.

- Fictício? Enlouqueceste, por acaso? Não estás me vendo e me ouvindo, e ousas afirmar que não existo?

- Não só não existes, como também jamais poderias existir. Não és O, mas apenas UM demônio. Compreendes, agora?

- Não. Eu fui criado para fazer sempre o mal e tramar a queda de todas as almas. Eu consegui tentar até o Crucificado

- Enganas-te. Deus só cria para o bem: tu é que te imaginas predestinado à maldade. Lembra-te que também és criatura de Deus. Quanto às tentações sofridas pelo Mestre, trata-se de provável equívoco do texto bíblico. Admitirias a possibilidade de provação pecaminosa em alguém já aureolado pelas mais nobres conquistas da angelitude? Os anjos são inacessíveis a quaisquer influenciações da animalidade.

- Mas eu consegui induzir o Sinédrio a crucificar Jesus. Eu ainda o vejo vencido, humilhado e morto no Calvário.

- Não conseguiste coisa alguma. O Mestre desencarnou daquela forma porque quis. Na verdade, não foi vencido, venceu; não morreu como ser aniquilado, pois prossegue, triunfante, na realização de sua obra redentora da Terra e de sua humanidade.

(O Demônio senta-se na relva, em postura meditativa, enquanto o sol delineia, no horizonte, os primeiros acordes da sinfonia do poente.)

- Tu me confundes com essa dialética estranha. Então, não há um só mas vários demônios?

- Sim. São os próprios homens, quando empenhados na transgressão da Lei.

- E qual seria, na tua cosmovisão, o destino deles?

- Todos se tornarão anjos, depois de burilados pela dor e iluminados pelo Amor. Os santos de hoje são os pecadores de ontem, como os pecadores de hoje são os santos de amanhã. Mas escuta bem: isso não é "milagre" ou "graça", mas conquista individual, pela Lei do Mérito.

- Em que te baseias para ensinar isso?

- Na afirmação categórica do nosso Divino Mestre: "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá".

- Oh, tiraram meus chifres, meu rabo e meu tridente! Sou também uma criatura humana, e com esperança de salvação?

- E como não? Também és ovelha do imenso rebanho do Galileu.

- Isso me confunde mais ainda!... quem és tu?

- Um ser humano qualquer, um irmão teu, que já foi muito demônio, porém agora disposto a sair do inferno.

- Do inferno, disseste?

- Claro. Do inferno que cada um cria dentro de si.

(Revista O Espírita – nº 100 – abr/ago-98.)

(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 98)