quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Porque todos nos calamos!

Por Marcelo Henrique

Primeiro eles vieram com a exaltação à "santidade" e a "pureza", ou "perfeição" do homem de Nazaré. Deturparam textos de Kardec, com traduções bizarras. E você se calou!

Depois, resolveram editar "Os quatro evangelhos" e, massificadamente, utilizaram o expediente da publicidade em sua "revista oficial", a da Reforma - não por acaso - divulgando a obra com seu epíteto "a revelação da revelação", porque "precisavam" de "novidades". E você se calou!

Então, foram introduzindo livros, ditos psicografados ou escritos por literatos espíritas, editando-os em sequência, apresentando o Jesus-fluídico (sem sofrimentos físicos) e a virgindade de Maria, para celebrar os "mistérios". E você se calou!

Elegeram um "anjo" - materialização de uma fábula católica - como "guia espiritual" do planeta e você achou sublime, porque a ideia da angelitude é uma metáfora em relação ao ápice do percurso espiritual. Você se deixou convencer, e se calou!

Adiante, aproveitando-se de uma prodigiosa (mas ingênua) mediunidade, que produzia muito, deram-lhe o caráter de "continuador" doutrinário, sem criticar os textos que provinham de um velho sacerdote católico, impregnado de suas crendices e visões igrejistas. E você, novamente, se calou!

Dizem, até, que os originais das obras psicografadas foram todos destruídos. Porque não havia necessidade de mantê-los, pois tínhamos os livros editados, físicos. E o silêncio foi a sua resposta!

Foram desistindo da filosofia e da ciência, entendendo que o edifício estava pronto e que as manifestações de espíritos eleitos e médiuns escolhidos, do ontem e do hoje, foram todas, sempre, autorizadas pela "Espiritualidade", e você silenciou novamente!

Capciosamente, tocaram o teu coração com a simbologia da mensagem sublime, sobre amor e caridade, sobre perdão e não-discórdia, para tê-lo como cordeiro diante do Pastor, e você não esboçou qualquer reação!

Resgataram velhos conceitos de temor e culpa, tão comuns entre as igrejas, desde Constantino, instituindo "prêmios" para bons comportamentos, bonificadores, definindo lugares imaginários para o regalo das almas submissas à meia-verdade, com departamentos e ocupações similares às da Terra, e você deixou "barato", porque desejava uma esperança de que, na outra vida, as coisas se parecessem com a "atmosfera" da vida física. E você se aquietou!

Agora resgatam textos evangélicos diferentes dos escolhidos como relevantes por Kardec e pela Verdade, publicando oficialmente "O Novo Testamento" e projetando uma versão da Bíblia (Antigo Testamento), porque, afinal, um é a consequência do outro, e que voltar aos textos antigos é buscar a "sinergia" entre as mensagens. E você até está pensando, silente, em comprar as obras!

Disseram-te, também, que o tal controle das mensagens só era necessário na época de Kardec, porque a doutrina estava iniciando e era necessário filtrar as muitas comunicações, evitando a desfiguração da "árvore cristã". E você aplaudiu, inconsciente, entendendo que a diretriz vinha, mesmo, do Alto, e calar-se para aprender seria a única alternativa!

E os pastores prosseguem, tangendo as almas pacatas, desfigurando a mensagem e aproximando-a das vaidades e das honrarias do mundo. Todos se maravilham ante os "dotes" artísticos, literários e de oratória de um ou outro virtuose, enquanto os grupos de aprofundamento espírita, de discussão e de promoção de saudáveis debates em busca dos conhecimentos progressivos, mingua e se esvai, no tempo, contando com a tua aquiescência e timidez, silenciosas!

Dizemos, por vezes, que não temos tempo, nem energia para gastar com contendas, que precisamos cuidar de coisas mais importantes, que não estamos no "movimento" para "procurar confusão", e os dias vão passando... E a você só resta o silêncio de sua intimidade, a conversa com seus botões, e aquela indignação quase morta, que não ultrapassa os limites de sua boca, de sua letra, ou de sua própria casa...

Porque você, eu, todos nós... Nos calamos!

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Cosme Massi refuta afirmações de Luiz Felipe Pondé sobre o Espiritismo

O filósofo Luiz Felipe Pondé resolveu fazer críticas ao Espiritismo em seu canal do YouTube. Demonstrou desconhecer os princípios elementares da Doutrina Espírita e recebeu uma resposta muito bem fundamentada e educada de Cosme Massi, que pôs abaixo suas críticas. Confiram:

O espiritismo é uma filosofia respeitada pelo mainstream filosófico? - Luiz Felipe Pondé


Cosme Massi rebate Pondé

terça-feira, 18 de abril de 2017

domingo, 26 de março de 2017

[VÍDEO] - O Que é o Espiritismo - Viagem Espírita em 1862

Fabiano Nunes apresenta O Que é o Espiritismo: seus princípios, suas obras fundamentais, a metodologia utilizada por Allan Kardec, dentre outros esclarecimentos sobre os conceitos e a prática da Doutrina dos Espíritos. Esse quadro faz parte do programa de TV Despertar Espírita exibido no dia 27 de outubro de 2012.

[VÍDEO] - Ramatis em uma análise espírita

Apresentamos aqui uma série de apresentações do escritor e pesquisador espírita Artur Felipe Ferreira, autor de Ramatis: sábio ou pseudossábio?, a respeito das comunicações mediúnicas deste espírito que tantas controvérsias trouxe ao meio espírita.

O Blog dos Espíritas

 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

[RE] - Propagação do Espiritismo

20:46 Posted by Administrador No comments
Por Allan Kardec

Passa-se, na propagação do Espiritismo, um fenômeno digno de nota. Há apenas alguns anos que, ressuscitado das crenças antigas, fez sua aparição entre nós, não mais como outrora, à sombra dos mistérios, mas claramente e à vista de todo mundo. Para alguns, foi objeto de uma curiosidade passageira, um divertimento que se deixa como um brinquedo para tomar um outro; em muitos não encontrou senão a indiferença; na maioria a incredulidade, malgrado a opinião dos filósofos dos quais se invoca, a cada instante, o nome como autoridade. Isso nada atem de surpreendente: o próprio Jesus convenceu todo o povo judeu com seus milagres? Sua bondade e a sublimidade de sua doutrina fizeram-lhe encontrar graça diante de seus juizes? Não foi ele tratado como patife e como impostor? E se não lhe aplicaram o epíteto de charlatão, foi porque não se conhecia, então, esse termo da nossa civilização moderna. Todavia, os homens sérios viram, nos fenômenos que ocorrem em nossos dias, outra coisa além de um objeto de frivolidade; eles estudaram, aprofundaram com o olho do observador consciencioso, e neles encontraram a chave de uma multidão de mistérios até então incompreendidos; isso foi, para eles, um raio de luz, e eis que desses fatos saiu toda uma doutrina, toda uma filosofia, podemos dizer, toda uma ciência, divergente segundo o ponto de vista ou a opinião pessoal do observador, mas tendendo, pouco a pouco, para a unidade de princípios. Apesar da oposição interessada de alguns, sistemática entre aqueles que crêem que a luz não pode sair senão de seu cérebro, essa doutrina encontra numerosos adeptos, porque ela esclarece o homem sobre seus verdadeiros interesses presentes e futuros, porque responde às suas aspirações quanto ao futuro, tornado, de alguma sorte, palpável; enfim, porque satisfaz, ao mesmo tempo, sua razão e suas esperanças, e dissipa as dúvidas que degeneram em incredulidade absoluta. Ora, com o Espiritismo, todas as filosofias materialistas ou panteístas caem por si mesmas; não é mais possível a dúvida quanto à Divindade, à existência da alma, sua individualidade, sua imortalidade; seu futuro nos aparece como a luz do dia, e sabemos que esse futuro, que deixa sempre uma porta aberta à esperança, depende de nossa vontade e dos esforços que fazemos para o bem.

Enquanto não se viu, no Espiritismo, senão fenômenos materiais, nele não se interessou senão como um espetáculo, porque se dirigia aos olhos; mas do momento em que se elevou à categoria de ciência moral, foi tomado a sério, porque fala ao coração e à inteligência, e nele cada um encontra a solução daquilo que procurava vagamente em si mesmo; uma confiança baseada sobre a evidência substituiu a incerteza dolorosa; do ponto de vista tão elevado em que nos coloca, as coisas daqui parecem tão pequenas e tão mesquinhas que as vicissitudes deste mundo nada mais são do que incidentes passageiros, que se suporta com paciência e resignação; a vida corpórea não é senão uma curta parada na vida da alma; para nos servir da expressão do nosso sábio e espiritual confrade, senhor Jobard, não é mais que uma má hospedagem onde não se tem necessidade de desfazer a mala. Com a Doutrina Espírita, tudo está definido, tudo está claro, tudo fala à razão; em uma palavra, tudo se explica, e aqueles que se aprofundaram em sua essência nela hauriram uma satisfação interior à qual. não querem mais renunciar. Eis porque ela encontrou, em tão pouco tempo, tão numerosas simpatias, e essas simpatias as recruta não no círculo restrito de uma localidade, mas no mundo inteiro. Se os fatos não estivessem aí para prová-lo, julgaríamos por nossa Revista, que não tem senão alguns meses de existência, e da qual os assinantes, embora não se contem ainda por milhares, estão disseminados sobre todos os pontos do globo. Além daqueles de Paris e suas províncias, temo-los na Inglaterra, na Escócia, na Holanda, na Bélgica, na Prússia, em São Petersburgo, Moscou, Nápoles, Florença, Milão, Gênova, Turim, Genève, Madri, Shangai, na China, Batávia, Cayenne, México, no Canadá, nos Estados Unidos, etc. Não o dizemos por fanfarrice, mas como um fato característico. Para que um jornal novo, tão especial, seja desde hoje pedido em países tão diversos e tão distantes, é preciso que o objeto que trata encontre seus partidários, de outro modo não o fariam, por simples curiosidade, vir de várias milhares de léguas, ainda que fosse do melhor escritor. É, pois, por seu objeto que interessa e não por seu obscuro redator; aos olhos de seus leitores, seu objeto, portanto, é sério. Torna-se assim evidente que o Espiritismo tem raízes em todas as partes do mundo, e, sob esse ponto de vista, vinte assinantes, repartidos em vinte países diferentes, provariam mais do que cem, concentrados em uma única localidade, porque não se poderia supô-lo senão como a obra de um grupo.

A maneira pela qual se propagou o Espiritismo até agora, não merece uma atenção menos séria. Se a imprensa tivesse feito soar sua voz em seu favor, se o tivesse enaltecido, em uma palavra, se o mundo o tivesse repetido fastidiosamente, poder-se-ia dizer que se propagou como todas as coisas que encontram consumo em razão de uma reputação factícia, da qual se quer experimentar, não fora senão por curiosidade. Mas nada disso ocorreu: a imprensa, em geral, não lhe deu voluntariamente nenhum apoio; ela o desdenhou, ou se, em raros intervalos, dele falou, foi para torná-lo em ridículo e enviar seus adeptos aos manicômios, coisa pouco encorajadora para aqueles que tivessem tido a veleidade de se iniciar. Apenas o próprio senhor Home obteve as honras de algumas menções semi-sérias, ao passo que os acontecimentos mais vulgares nela encontram um grande espaço. Aliás, é fácil de ver, na linguagem dos adversários, que estes falam dele como os cegos das cores, sem conhecimento de causa, sem exame sério e aprofundado, e unicamente sobre uma primeira impressão; também seus argumentos se limitam a uma negação pura e simples, porque não honramos com o nome de argumentos as piadas engraçadas; os gracejos, por espirituais que sejam, não são razões. Todavia, não é preciso acusar de indiferença, ou de má vontade, todo o pessoal da imprensa. Individualmente, o Espiritismo nela conta com partidários sinceros, e os conhecemos, mais de um, entre os mais distintos homens de letras. Porque, pois, guardam o silêncio? Porque ao lado da questão de crença, há a da personalidade todo-poderosa neste século. A crença, entre eles, como entre muitos outros, é concentrada e não expansiva; por outro lado, são obrigados a seguirem os trâmites de seu jornal, e tal jornalista teme perder assinantes, arvorando francamente uma bandeira cuja cor poderia desagradar a alguns dentre eles. Esse estado de coisas durará? Não; ocorrerá com o Espiritismo como com o Magnetismo, do qual outrora não se falava senão em voz baixa, e que não mais se teme confessar hoje. Nenhuma idéia nova, por bela e justa que seja, não se implanta instantaneamente no espírito das massas, e aquela que não encontrasse oposição seria um fenômeno inteiramente insólito. Por que o Espiritismo faria exceção à regra comum? É preciso às idéias, como aos frutos, o tempo para amadurecer; mas a leviandade humana faz com que sejam julgadas antes de sua maturidade, ou sem se dar ao trabalho de sondar-lhes as qualidades íntimas. Isso nos lembra a espiritual fábula a jovem macaca, o macaco e a noz. Essa jovem macaca, como se sabe, colhia uma noz em sua casca verde; levou-a ao dente, fez careta e a rejeitou, espantando-se em não achar boa uma coisa tão amarga; mas um velho macaco, menos superficial e sem dúvida profundo pensador em sua espécie, apanhou a noz, a parte, a descasca, a come e acha deliciosa; o que acompanha com uma bela moral endereçada a todas as pessoas que julgam as coisas novas pelas aparências.

O Espiritismo, pois, deveu caminhar sem o apoio de nenhum recurso estranho, e eis que, em cinco ou seis anos, ele se vulgarizou com uma rapidez prodigiosa. Onde hauriu essa força, senão em si mesmo? É preciso, pois, que haja, em seu princípio, alguma coisa bem poderosa para estar assim propagado sem os meios superexcitantes da publicidade. É que, como dissemos acima, quem quer que se dê ao trabalho de se aprofundar nele, encontra o que procurava, o que sua razão lhe faz entrever, uma verdade consoladora, e, afinal de contas, nele haure a esperança e uma verdadeira alegria. Também as convicções adquiridas são sérias e duráveis; não são opiniões levianas, que um sopro faz nascer e que um outro sopro desfaz. Alguém nos disse recentemente: "Encontro no Espiritismo uma tão suave esperança, dele retiro tão doces e tão grandes consolações, que todo pensamento contrário me tornaria bem infeliz, e sinto que meu melhor amigo se me tornaria odioso se tentasse me arrancar dessa crença." Quando uma idéia não tem raízes, pode lançar uma luz passageira, como essas flores que fazem produzir à força; mas logo, por falta de sustento, elas morrem e delas não se fala mais. Aquelas, ao contrário, que têm uma base séria, crescem e persistem; acabam por se identificarem de tal modo como os hábitos que se admira mais tarde não se ter podido passar sem elas.

Se o Espiritismo não foi secundado pela imprensa da Europa, não ocorreu o mesmo, dir-se-á, com a da América. Isso é verdade até um certo ponto. Há na América, como aliás em toda parte, a imprensa geral e a imprensa especial. A primeira, sem dúvida, dele se ocupou mais do que entre nós, embora menos do que se pensa; ela tem, aliás, também seus órgãos hostis. A imprensa especial conta, só nos Estados Unidos, com dezoito jornais espíritas, os quais dez hebdomadários e vários de grandes formatos. Vê-se que estamos ainda bem atrasados a esse respeito; mas lá, como aqui, os jornais especiais se dirigem às pessoas especiais; é evidente que uma gazeta médica, por exemplo, não será procurada de preferência, nem pelos arquitetos, nem pelos homens de lei; do mesmo modo, um jornal espírita não é lido, com algumas exceções, senão pelos partidários do Espiritismo. O grande número de jornais americanos que tratam dessa matéria prova uma coisa: que há bastantes leitores para mantê-los. Fizeram muito, sem dúvida, mas sua influência, em geral, é puramente local; a maioria é desconhecida do público europeu, e os nossos não lhes fizeram senão bem raras transcrições. Dizendo que o Espiritismo se propagou sem o apoio da imprensa, entendemos falar da imprensa em geral, que se dirige a todo o mundo, daquela cuja voz fere milhões de ouvidos cada dia, que penetra nos refúgios mais obscuros; daquela com a qual o anacoreta, no fundo do seu deserto pode estar ao corrente do que se passa, tanto quanto o citadino; enfim, daquela que semeia as idéias a mãos cheias. Qual o jornal espírita que pode se gabar de assim fazer ressoar os ecos do mundo? Ele fala às pessoas convencidas; não chama a atenção dos indiferentes. Estamos, pois, com a verdade dizendo que o Espiritismo esteve entregue às suas próprias forças; se por ele mesmo se fez assim tão grande, quê será quando puder dispor da poderosa alavanca da publicidade! À espera desse momento, planta por toda parte estacas; por toda a parte seus ramos encontrarão ponto de apoio; por toda parte, enfim, encontrará vozes cuja autoridade imporá silêncio aos seus detratores.

A qualidade dos adeptos do Espiritismo merece uma atenção especial. São recrutados nas camadas inferiores da sociedade, entre as pessoas iletradas? Não; aqueles dele se ocupam pouco ou nada; foi pouco se dele ouviram falar. As próprias mesas girantes neles encontraram poucos praticantes. Até o presente, seus prosélitos estão nas primeiras classes da sociedade, entre as pessoas esclarecidas, os homens de saber e de raciocínio; e, coisa notável, os médicos, que durante tão longo tempo fizeram uma guerra encarniçada ao Magnetismo, se juntam sem dificuldade a essa doutrina; contamos um grande número deles, tanto na França quanto no estrangeiro, entre os nossos assinantes, em cujo número se encontra também uma maioria de homens superiores em todos os sentidos, notabilidades científicas e literárias, altos dignatários, funcionários públicos, oficiais generais, negociantes, eclesiásticos, magistrados, etc., todas pessoas sérias para dar o título de passatempo a um jornal que, como o nosso, não se considera capaz de recrear, e ainda menos se crêem nele encontrar fantasias. A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não é uma prova menos evidente dessa verdade, pela escolha das pessoas que reúne; suas sessões são seguidas com um firme interesse, uma atenção religiosa, podemos mesmo dizer com avidez, e todavia não se ocupa senão de estudos graves, sérios, freqüentemente muito abstratos, e não de experiências próprias para excitarem a curiosidade. Falamos do que se passa sob os nossos olhos, mas podemos dizê-lo igualmente de todos os centros onde se ocupa do Espiritismo sob o mesmo ponto de vista, porque quase por toda parte (como os Espíritos o haviam anunciado) o período de curiosidade chega ao seu declínio. Esses fenômenos nos fazem penetrar numa ordem de coisas tão grandes, tão sublimes que, ao lado dessas graves, questões um móvel que gira ou que bate é um brinquedo de criança: é o abe da ciência.

Aliás, sabe-se o que se examinar agora sobre a qualidade dos Espíritos batedores, e, em geral, daqueles que produzem efeitos materiais. Eles foram justamente chamados os saltimbancos do mundo espírita; por isso interessa-se menos por eles do que por aqueles que podem nos esclarecer.

Podem-se assinalar, à propagação do Espiritismo, quatro fases ou períodos distintos:

1. A da curiosidade, na qual os Espíritos batedores desempenharam o papel principal para chamar a atenção e preparar os caminhos.

2. A da observação, na qual entramos, e que pode-se chamar o período filosófico. O Espiritismo é aprofundado e se depura, tende à unidade da doutrina e se constitui em ciência.

Virão em seguida:

3. O período da admissão, no qual o Espiritismo tomará uma categoria oficial entre as crenças universalmente reconhecidas.

4. O período de influência sobre a ordem social. Será então que a Humanidade, sob a influência dessas idéias, entrará em um novo caminho moral. Essa influência, desde hoje, é individual; mais tarde, agirá sobre as massas para o bem geral.

Assim, de um lado, eis uma crença que se propaga no mundo inteiro por si mesma, pouco a pouco, e sem nenhum dos meios usuais de propaganda forçada; de outro, essa mesma crença que se enraíza, não na base da sociedade, mas na sua parte mais esclarecida. Não há, nesse duplo fato, alguma coisa bem característica e que deve levar à reflexão todos aqueles que ainda tratam o Espiritismo de sonho fútil. Ao contrário de muitas outras idéias que partem da base, grosseiras ou desnaturadas, e não penetram senão depois de longo tempo nas camadas superiores onde se depuram, o Espiritismo parte do alto, e não chegará às massas senão liberto das idéias falsas, inseparáveis das coisas novas.

Todavia, é preciso convir que não há ainda, em muitos adeptos, senão uma crença latente; o medo do ridículo em alguns, em outros o medo de melindrar certas suscetibilidades, em seu prejuízo, os impedem de ostentarem francamente suas opiniões; isso é pueril, sem dúvida, e todavia o compreendemos; não se pode pedir, a certos homens, o que a Natureza não lhes deu: a coragem de afrontar o Que dirão disso; mas quando o Espiritismo estiver em todas as bocas, e esse tempo não está longe, essa coragem virá aos mais tímidos. Uma mudança notável já se operou, desde há algum tempo, sob esse assunto; fala-se dele mais abertamente: arrisca-se, e isso faz abrir os olhos aos próprios antagonistas, que se perguntem se é prudente, no interesse de sua própria reputação, combater uma crença que, bom grado, mal grado, se infiltra por toda parte e encontra seus apoios no topo da sociedade. Também o epíteto de louco, tão largamente prodigalizado aos adeptos, começa a se tornar ridículo; é um lugar comum que se usa e volta ao trivial, porque cedo os loucos serão mais numerosos do que as pessoas sensatas, e já mais de um crítico estão alinhados ao seu lado; de resto, é o cumprimento do que os Espíritos anunciaram dizendo que: Os maiores adversários do Espiritismo dele se tornarão os mais dedicados partidários e os mais ardentes propagadores.

Fonte: Revista Espírita, setembro de 1858

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Marcha gradual do Espiritismo. Dissidências e entraves

Por Allan Kardec


27 DE ABRIL DE 1866

(Paris, em casa do sr. Leymarie, méd. sr. L...)

Caros condiscípulos, o que é verdadeiro deve ser; nada pode se opor à irradiação de uma verdade; às vezes, pode-se velá-la, torturá-la, fazer nela o que fazem os teredos nos diques holandeses; mas uma verdade não é edificada sobre estaca: ela corta o espaço; está no ar ambiente, e se pôde deslumbrar uma geração, há sempre encarnações novas, de recrutamentos da erraticidade que vêm trazer germes fecundos, outros elementos, e que sabem atrair para eles todas as grandes coisas desconhecidas.

Não vos apresseis muito, amigos; muitos dentre vós gostariam de ir a vapor, e nesse tempo de eletricidade, correr como ela. Esqueceis as leis da Natureza, gostaríeis de ir mais depressa do que o tempo. Refleti, no entanto, o quanto Deus é sábio em tudo. Os elementos que constituem o vosso planeta sofreram uma longa e laboriosa criação; antes que pudésseis existir, foi necessário que tudo se constituísse segundo a aptidão de vossos órgãos. A matéria, os minerais, fundidos e refundidos, os gases, os vegetais, pouco a pouco harmonizados e condensados, a fim de permitir a vossa eclosão sobre a Terra. É a eterna lei do trabalho que não cessou de reger os seres inorgânicos, como os seres inteligentes.

O Espiritismo não pode escapar a essa lei, à lei da criação. Implantado sobre um solo ingrato, é preciso que haja suas más ervas, seus maus frutos. Mas também, cada dia se roçam, se arrancam, se cortam os maus ramos; o terreno se surriba insensivelmente, e quando o viajor, fatigado das lutas da vida, encontrar a abundância e a paz à sombra de um fresco oásis, virá estancar a sua sede, enxugar seus suores, nesse reino lenta e sabiamente preparado; ali o rei é Deus, esse dispensador generoso, esse igualitário judicioso, que sabe bem que o trajeto a seguir é doloroso, mas fecundo; penoso, mas necessário; o Espírito formado na escola do trabalho, dela sai mais forte e mais apto para as grandes coisas. Aos desfalecidos ele diz: coragem; e como esperança suprema, deixa entrever, mesmo aos mais ingratos, um ponto de atraso, ponto salutar, caminho demarcado pelas reencarnações.

Ride das vãs declamações: deixai falar os dissidentes, berrar aqueles que não podem se consolar por não serem os primeiros; todo esse pequeno ruído não impedirá o Espiritismo de fazer invariavelmente o seu caminho; é uma verdade, e, como um rio, toda verdade deve seguir o seu curso.

Fonte: Obras Póstumas - http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/op/op-57.html