domingo, 28 de fevereiro de 2010

Progresso dos Homens e dos Mundos

Por Allan Kardec

O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes.

Ora, sendo incessante, como é, a criação dos mundos e dos Espíritos e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude.

Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros orbes, havendo os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo ditoso.

Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação cm corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, na qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.

Assim, qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do Universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil.

A coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a alma do Universo. Por toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis.

Quando a Terra se encontrou em condições climáticas apropriadas à existência da espécie humana, encarnaram nela Espíritos humanos. Donde vinham? Quer eles tenham sido criados naquele momento; quer tenham procedido, completamente formados, do espaço, de outros mundos, ou da própria Terra, a presença deles nesta, a partir de certa época, é um fato, pois que antes deles só animais havia.

Revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às suas aptidões, e que, fisionomicamente, tinham as características da animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades, esses corpos se modificaram e aperfeiçoaram. É o que a observação comprova.

Deixemos então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação. Malgrado a analogia do seu envoltório com o dos animais, poderemos diferenciá-lo destes últimos pelas faculdades intelectuais e morais que o caracterizam. Como, debaixo das mesmas vestes grosseiras, distinguimos o rústico do homem civilizado.

Conquanto devessem ser pouco adiantados os primeiros que vieram, pela razão mesma de terem de encarnar em corpos muito imperfeitos, diferenças sensíveis haveria decerto entre seus caracteres e aptidões. Os que se assemelhavam, naturalmente se agruparam por analogia e simpatia. Achou-se a Terra, assim, povoada de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso.

Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral. Continuando a encarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, das raças e dos povos, caráter que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso deles.

Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de emigrantes de origens diversas, que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios.

Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, mesmo sem se levar em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo encarnar na Terra juntamente com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a diferença em matéria de progresso.

Entretanto, os Espíritos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para encarnar noutro mais elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passar a mundos mais avançados.

Fonte: KARDEC, Allan. A Gênese.

Coexistência entre Ciência e Espiritismo é possível?

Por Jorge Hessen

Nos tempos medievais, havia o consenso de oposição entre fé e razão (Ciência e Religião). Entronizava-se o paradigma religioso, através do qual tudo era explicado pelas imposições religiosas. Na Renascença, ocorreu a revolução do pensamento científico, mormente a partir de Galileu e, posteriormente, de Newton. A partir deles, o homem modificou a maneira de ver e interpretar o mundo, irrompeu-se um novo enfoque - o científico, desintegrando-se os medievais métodos religiosos. Nos fenômenos espirituais (metafísicos), defrontamos com limitações no que se refere à experimentação científica. Esta classe de fenômenos é, ainda, muito pouco estudada, quando comparada com outros objetos de estudo das ciências ortodoxas. Para Eduardo Marino, professor titular de física, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e membro da Academia Brasileira de Ciências, hoje, apesar de ainda polêmico, há coexistência entre Ciência e espiritualidade, configurando-se em novo paradigma acadêmico.

Em 1962, Thomas Kuhn, introduziu o conceito de paradigma (1). Atualmente, paira um clima de inexatidão racional, compatível com o livre-exame e incompatível com todo princípio que se pretenda absoluto. O físico Fritjof Capra é, totalmente, aberto à metafísica e crê ser capaz de fornecer a matéria-prima para a elaboração de hipóteses experimentais. Em 1975, declarou, em seu livro, "O Tao da Física", que "o método científico de abstração é muito eficaz e possante, mas não devemos lhe pagar o preço, pois existem outras aproximações possíveis da realidade". (2) A rigor, "os inconcebíveis fenômenos da percepção extrasensorial parecem, de certo modo, menos absurdos, comparados aos inconcebíveis fenômenos da física". (3)

De toda classe de fenômenos, os ditos fenômenos espirituais são os menos redutíveis e controláveis e, por isso, mais distantes de atingir aqueles pretensos requisitos que dão o status de Ciência ou "mais ciência que as outras". O fato de não se conseguir precisão e controle tão apurados, como nas Ciências exatas, não significa que os métodos e técnicas das Ciências que investigam a espiritualidade sejam menos eficazes ou mais limitados. Os fenômenos quânticos, por exemplo; mas outros tantos campos, como a teoria do caos, revelam, de maneira mais profunda, que quase nada é perfeitamente preciso e controlável. O genial lionês não caiu na psicose de adequação ao paradigma materialista, positivista e reducionista das Ciências do Século XIX. Contudo, preservou características fundamentais a fim de dar um caráter de cientificidade à Terceira Revelação.

O nó da questão é que o "espiritual", no senso comum, tende ao "sobrenatural", destarte, não pode ser testado. Ora, não podendo ser testado e verificado, não pode ser científico. Por isso, para que exista uma "ciência espiritual" é preciso que este elemento não seja "sobrenatural" a fim de que possa ser observado e testado. Porém, o fato de ser natural não significa que seja material e nem, tampouco, que esteja sujeito aos mesmos meios de verificação da matéria. Alguns fenômenos quânticos possuem a característica de serem imprevisíveis e determinados por causas "imateriais". Além disso, tem-se comprovado a participação da consciência do observador como elemento determinante no desenrolar de fenômenos físicos.

Para a teoria quântica, a matéria nem possui uma existência física real, mas uma probabilidade à existência. O que faz a matéria emergir do universo probalístico, para irromper como onda ou partícula, é a consciência do observador. Por isso, observador e coisa observada formam um único e mesmo sistema. A consciência, mais do que interferir sobre a matéria, é o elemento que torna possível a própria existência da matéria analisada e, como ela não pode ser causa e efeito ao mesmo tempo, é necessário admitir que consciência e matéria possuem naturezas distintas.

O Espiritismo, desde o princípio, reconheceu que a crença e o estado de espírito do observador têm influência direta sobre estes fenômenos e, ao invés de ignorar esse fato, considera-o como elemento fundamental para o sucesso na observação de fenômenos mediúnicos. Embora o Espiritismo trate de assuntos que escapam ao domínio das ciências clássicas, que se circunscrevem aos fenômenos físicos, Kardec, no Século XIX, escreveu que o "Espiritismo e a ciência se completam, reciprocamente". (4)

Quando citamos ciência e espiritualidade, não estamos referindo a coisas incompatíveis e opostas. Todavia, devemos reconhecer que o objeto fundamental do Espiritismo não se pode comparar ao das ciências tradicionais, salvo nas interfaces ou nos pontos comuns. A Ciência, emancipada da fé, estabeleceu seus métodos de investigação, como meio de se aproximar da realidade, baseando-se em provas, princípios, argumentações e demonstrações que garantam a sua legítima validade.

Em verdade, o Espiritismo toca domínios, até agora, reservados às religiões. Porém, em metodologia, o Espiritismo difere, radicalmente, das religiões tradicionais, porque rejeita a fé dogmática, a crença cega, as práticas ritualizadas, o culto exterior ou esotérico. "Se não é justo que a Ciência imponha diretrizes à religião, incompatíveis com as suas necessidades de sentimento, não é razoável que a religião obrigue a Ciência à adoção de normas inconciliáveis com as suas exigências do raciocínio." (5)

Os que declaram que os fenômenos Espíritas não são objetos da Ciência, não sabem o que dizem, pois que "O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, (...) uma das forças da natureza, que reage, incessante e reciprocamente, sobre o princípio material." (6)

O genial lyonês afirma que "Espiritismo e Ciência se completam, reciprocamente. A Ciência, sem o Espiritismo, acha-se na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria. Ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. Seria preciso alguma coisa para preencher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse; esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o mundo espiritual e suas relações com o mundo corporal" (7)

O Codificador lembra, ainda, que "O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará." (8)

FONTES:
(1) Os paradigmas são descobertas científicas universalmente reconhecidas que, por um tempo, fornecem a uma comunidade de pesquisadores problemas típicos e soluções
(2) Cf. Kempf Charles, artigo O Espiritismo é uma Ciência? Traduzido por: Paulo A. Ferreira, revisado por: Lúcia F. Ferreira, disponível acesso em 07-04-08
(3) Koestler , Arthur. As Razões da Coincidência, RJ: editora Nova Fronteira, 1972
(4) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, Cap. 1, parágrafo 16,
(5) Xavier, F. Cândido, Segue-me, ditada pelo Espírito Emmanuel, SP: 7.ed. Matão, Editora O CLARIM, 1994
(6) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, Cap. "Os milagres e as predições segundo o Espiritismo", item 16v (7) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 1984, p. 37
(8) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed. FEB, 2003, cap. 1, item 55

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GAZETA ELETRÔNICA DA ANESPB, EDIÇÃO DE MARÇO, ESTÁ DISPONÍVEL E CHEIA DE NOVIDADES

CARLOS BARROS - PB
Editor e Redator Responsável

Reportagens, entrevista, artigos e informações atualizadas de tudo que aconteceu e vem acontecendo no dinâmico movimento espírita da Paraíba e do Brasil.

Destaques desta edição: as reportagens do SIMPENSE 2010, evento realizado em João Pessoa; e o 37º Movimento de Integração do Espírita Paraibano, que recebeu cerca de 15 mil pessoas durante os quatro dias de programação, na cidade de Campina Grande, na acolhedora Serra da Borborema.

Tem mais: artigos de Octávio Caúmo, Fabiano Vidal, Beatriz Conceição e apontamentos críticos dos inquietos redatores da gazeta eletrônica da ANESPB.

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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Os Maus Espíritos

Por Léon Denis

Há muitas classes de Espíritos maus?

- Há os Espíritos simplesmente inferiores, tais como os Espíritos levianos, imperfeitos, zombeteiros, que nossos pais chamavam de duendes, os brincalhões, e que gostam de travessuras de toda espécie; depois há os Espíritos perversos, que induzem os homens ao mal, pelo prazer de fazer o mal, e os que, como os Espíritos batedores, habitam as casas mal-assombradas.

Como vivem os Espíritos inferiores?

- Numa vida inquieta e atormentada; eles percorrem, sem destino certo, as regiões crepusculares da erraticidade, sem poderem compreender seu estado, nem achar seu caminho: é o que se chama de almas penadas.

Os Espíritos inferiores são nocivos?

- Alguns o são; e sua má influência sobre os homens deu lugar à crença nos demônios.

Os demônios, então, não existem?

- Não; há maus Espíritos, porém os que são chamados de demônios, ou espíritos eternamente maus, não existem; nem o mal, nem os maus podem ser eternos.

Como os homens podem entrar em relação com os maus Espíritos?

- Por meio dos fluidos e em virtude da lei de afinidade espiritual: “Quem se assemelha, se ajunta.”

Os maus Espíritos podem, então, exercer influência sobre os homens?

- Sim. Sobre os homens maus, que os invocam, ou sobre os homens fracos, que se entregam a eles; daí os frequentes fenômenos da possessão e da obsessão.

Que pensar do papel do demônio nas manifestações espíritas?

- O demônio não existe e não pode existir, porque, se ele existisse, Deus não existiria; um exclui necessariamente o outro.

Como assim?

- Se o demônio é eterno como Deus, há dois seres eternos. Ora a coexistência de duas eternidades é impossível; ela seria uma contradição na ordem metafísica. Esses dois deuses, um do bem, outro do mal, lembram a teoria oriental dos dois princípios: é uma reminiscência do dualismo dos maniqueus. Se, ao contrário, o demônio é uma criatura de Deus, Deus se torna responsável diante da humanidade de todo o mal que o demônio tem feito e fará ainda, eternamente. É a mais clamorosa injúria que se possa fazer a Deus, pois que é negar sua justiça e sua bondade. Há maus Espíritos, já o dissemos acima, que impelem ao mal o homem que a ele é propenso; mas o demônio, considerado como a personificação individual do mal, não existe.

Entretanto, a Igreja não ensina e afirma o caráter satânico de certas manifestações espíritas?

- A Igreja tem uma única palavra para explicar o que não compreende: Satã. No decorrer dos séculos, a Igreja sempre atribui a Satã todas as invenções do gênio, desde a do vapor às da estrada de ferro e da eletricidade. Está em sua lógica habitual e em sua característica dizer que os fenômenos do magnetismo e as revelações espíritas são obra de Satã. Todavia, apesar dos anátemas da Igreja, a ciência progride, o gênio do homem evolui e o Espiritismo se tornará à fé universal do futuro.

Fonte: Livro 'Síntese Doutrinária' – Léon Denis

Desafio Kardequiano

Por Amilcar Del Chiaro Filho

Temos o hábito, de quando em quando, pegar em nossa estante algum livro que lemos há algum tempo e rever alguns tópicos que grifamos. Dia destes pegamos A Gênese, e entre os inúmeros parágrafos marcados, demos com este, no capítulo 1º Caracteres da Revelação Espírita: “Vós que combateis o Espiritismo, se desejais que o deixemos para seguir-vos, oferecei mais e melhor do que ele oferece. Curai mais eficazmente as feridas da alma. Oferecei mais consolo, mais alegrias para o coração, esperanças mais legítimas, maior segurança. Apresentai um quadro mais racional do futuro, um quadro mais sedutor. Mas não penseis derrotá-lo com a perspectiva do nada ou com a alternativa do fogo do inferno ou com a beata e inútil contemplação perpétua”.

Ao reler o texto ficamos mais uma vez admirados com a posição viril, corajosa de Allan Kardec, que, sem tergiversar, diz claramente: apresente algo melhor e desistiremos do espiritismo.

O desafio Kardequiano ainda é válido. Até hoje, quase 150 anos depois, nenhuma doutrina, filosofia, religião ou crença, se apresentou para aposentar o Espiritismo. Não! não existe nenhuma que apresenta o mesmo quadro de racionalidade para solucionar os enigmas humanos.

Não existe porque não estamos atrás de privilégios, de salvação mágica ou de posições fanáticas. O Espiritismo ensina ao homem que ele é o construtor do seu destino. Ao fazer a sua semeadura, obriga-se à colheita. Nada mais justo e mais belo.

Quando nos conscientizamos dos erros enganos cometidos, sabemos de antemão que não existe o perdão. O arrependimento é um primeiro passo, porém sabemos que ele não basta por si só, é preciso reparar o erro, e para isto a oportunidade será oferecida.

O Espiritismo não é uma questão de crença, mas de racionalidade, pois determina que, antes de crer é preciso compreender. Mas muito, muito tempo se passará até que alguma doutrina tenha a coragem de aceitar o desafio Kardequiano.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Entrevista com Érika de Carvalho: "André Luiz tem incongruências".

Reproduzimos entrevista da revista ABERTURA com a doutora em Física pela UFMG, Érika Carvalho, publicada em 2004. Os grifos são nossos.

Quem é Érika de Carvalho Bastone? É uma jovem professora universitária, doutora em Física pela UFMG, área de concentração: Física da Matéria Condensada – Supercondutividade (2001), Mestre em Física pela UFMG, área de concentração: Estrutura Eletrônica (1995); Bacharel em Física pela UFMG (1993). Estudiosa do Espiritismo apresentou trabalho no VIII SBPE, analisando os livros Mecanismos da Mediunidade e Evolução em dois mundos, do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, sob o ponto de vista de sua especialização em Física.

Nesta entrevista, ela analisa alguns aspectos da pretendida mentalidade científica do Espiritismo, vê com certo pessimismo a formação de grupos de cientistas espíritas para estudar os fenômenos, diz que O Livro dos Médiuns não é um livro científico mas "técnico".

ABERTURA- Você admite que o movimento espírita, pela sua feição religiosa, tem certa ojeriza pelos intelectuais. Mantida esta tendência a que se reduzirá o espiritismo?

Érika - Em ciência, todo trabalho publicado passa por rigorosa avaliação da comunidade, seja através da apresentação pública na forma de seminários, com argüição da platéia, ou pelos editores das revistas e jornais, que encaminham os trabalhos para pesquisadores (no mínimo dois e de lugares diferentes) altamente qualificados no assunto específico do texto. No movimento espírita são poucos os que se atrevem a tornar pública uma crítica ao que se está sendo publicado. E mesmo que se queira fazer alguma crítica, o espaço encontrado é mínimo, pois jornais, revistas e programas de rádio e televisão estão voltados para artigos de interesse religioso, salvo raras exceções.

Um texto em que a física, por exemplo, é explorada, como nos livros "Evolução em Dois Mundos" e "Mecanismos da Mediunidade", de André Luiz, deveriam, na minha opinião, antes de serem publicados, passar por uma avaliação por pessoas capacitadas no assunto. Não temos ainda condições de avaliar suas explicações a respeito da esfera espiritual, mas com certeza todas as imprecisões e erros encontrados nestes dois livros, quando o autor explica a física atual e a utiliza como analogia não estariam sendo divulgados. Se o movimento espírita não abrir espaço para críticas e constituir grupos capacitados para avaliar o que se divulga, estaremos cada vez mais afastados do seu aspecto científico. Passaremos a ter dogmas e não proposições científicas.

ABERTURA- Apesar das incongruências apontadas na obra de André Luiz, você não considera que, fora dele, poucos ou quase ninguém tem dado uma contribuição mais positiva para criar uma mentalidade científica no Espiritismo?

Érika - Esta pergunta sugere que André Luiz contribuiu para criar uma mentalidade científica no Espiritismo, o que eu discordo. Não me lembro de nenhum texto seu nos incitando a pesquisar os fenômenos espíritas, a formar grupos de pesquisa, ou nos direcionando, indicando um caminho a ser trilhado neste sentido. A sua contribuição consistiu em nos transmitir, sob o seu ponto de vista e o seu entendimento, o que ele encontrou na esfera espiritual. Lançou no meio espírita uma quantidade grande de informações fazendo uso de termos estabelecidos na ciência, surgidos para explicar outros fenômenos. Talvez, se tivesse feito como Kardec – para coisas novas palavras novas – tivesse incorrido em menos erros.

No entanto, estas informações por si só não constituem ciência. Segundo o próprio Kardec "Toda ciência deve estar baseada sobre fatos, mas só fatos não constituem a ciência; a ciência nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos; é o conjunto de leis que os regem." (Revista Espírita, janeiro de 1858).

Agora, além de André Luiz, de vez em quando surgem algumas teorias isoladas, mas sem fundamentos científicos. E a minha opinião é de que teorias especulativas e o uso inapropriado de termos científicos ajudam a afastar o Espiritismo do meio acadêmico. Citando novamente Kardec, "Se é verdade que a utopia da véspera, freqüentemente, seja a verdade do dia seguinte, deixemos ao dia seguinte o cuidado de realizar a utopia da véspera, mas não embarquemos a Doutrina de princípios que seriam considerados como quimeras e a fariam ser rejeitadas pelos homens positivos" (Revista Espírita, dezembro de 1868).

O espírita, como o leigo em geral, não entende o que é ciência, pois não é um conceito que faz parte do dia a dia das pessoas. É necessária uma conscientização no meio espírita do que seja um processo científico.

ABERTURA- Porque você contesta que o livro dos médiuns seja um livro científico?

Érika - O Livro dos Médiuns dá a sua contribuição para a ciência espírita no sentido de como tratar e conviver com a mediunidade, assim como o Evangelho dá a sua contribuição às ciências humanas. Mas não é um livro científico, do mesmo modo que os fenômenos mediúnicos não constituem o aspecto científico do Espiritismo. Eu o classificaria, se necessário, mais como um livro técnico.

E esta não é uma opinião particular, só minha. O meu grupo de estudos em Belo Horizonte – ICAV, e o Prof. Carlos Peppe, de Uberaba, como exemplos, pensam como eu. Citando Carlos Peppe, em Espiritismo: 2o Século - O Sentido Evolutivo da Doutrina espírita: Uma Opinião, "Muitas pessoas consideram os fenômenos mediúnicos como sendo o tal aspecto científico do Espiritismo. Chegam a dizer que o Livro dos Médiuns de Kardec representa a parte científica do Espiritismo... Trata-se, evidentemente, de opiniões de expositores doutrinários alheios ao domínio científico; serão, sem dúvida, pessoas de boa vontade, porém sem preparo,... sem a mínima noção do que seja um trabalho científico legítimo".

A ciência espírita precisa buscar como se dá o processo mediúnico, pois isto ainda não se sabe.

ABERTURA- Você acredita que haja espíritas com formação acadêmica suficiente para criar uma ciência espírita, nos moldes da pesquisa, por exemplo, da Física ou outra ciência?

Érika - Acredito que sim. Durante o doutoramento tive professores e colegas espíritas. O mesmo deve ocorrer em outras instituições. Não deve ser um número grande, mas dá para se formar grupos de pesquisa. A questão é se estes cientistas espíritas estariam interessados no Espiritismo como ciência ou apenas como religião. Não se pode excluir também pesquisadores não espíritas interessados no assunto. São necessárias ações no sentido de criar no meio espírita uma mentalidade realmente científica, de modo que as pessoas capacitadas para o desenvolvimento de pesquisas se voltem para tal.

ABERTURA- Se houver gente e dinheiro suficiente para manter uma pesquisa, como poderíamos agregar os dispostos a isso?

Érika - Se houvesse dinheiro suficiente, poderia até se pensar em criar um centro de pesquisas espíritas. Mas acho muito difícil conseguir financiamento para pesquisas desse tipo logo de início. Talvez, depois de grupos já estabelecidos, com pesquisas em andamento, com algum tipo de resultado, possa se pensar neste assunto. Esta é uma questão que precisa ser muito discutida. Pode até parecer incongruente se pensar em estabelecer grupos de pesquisa sem existência de financiamento, mas não vejo alternativa. Se desejarmos criar uma comunidade científica espírita, devemos começar com ou sem financiamento, e com as pessoas que se propuserem a isto, as respostas só virão se começarmos a trabalhar neste sentido.

Preconceito contra o Espiritismo

Por José Herculano Pires

Ainda existe, em maior escala do que se pensa, o medo do Espiritismo. Há pouco, fomos procurados por uma pessoa que, sentindo evidentes perturbações de origem mediúnica, e tendo percorrido os consultórios de psiquiatria, vira-se obrigada a recorrer aos “recursos espirituais”, segundo dizia. Quando soube que não estava tratando com um “espiritualista”, mas com um espírita, assustou-se de tal maneira, que viu-se forçada a confessar o seu medo. “Se eu soubesse que o senhor era espírita - declarou - não o teria procurado.”

A verdade é que, apesar disso, acabou se convencendo de que o Espiritismo poderia ajudá-la, e mais tarde tornou-se espírita. Mas não foi muito fácil arrancar-lhe da mente o pavor doentio que lhe haviam infundido. Sacerdotes, pessoas da família, amigos e médicos, todos haviam contribuído para que o medo se enraizasse em sua alma. Terrível medo, que a desviava da única solução possível para o seu problema.

E o que é mais curioso, a maior contribuição para esse estado de temor foi dado por certas publicações espiritualistas, que apesar de admitirem a reencarnação e a lei de causa e efeito, condenam a mediunidade, pintando-a com as mais negras pinceladas.

O preconceito anti-espírita assemelha-se muito à prevenção contra o Cristianismo, no mundo antigo. As pessoas que temem o Espiritismo não conhecem a doutrina, dão ao termo aplicações indevidas, perdem-se num cipoal de lendas e suposições a respeito das sessões espíritas. Em geral nos acusam de endemoniados, necromantes, feiticeiros e coisas do mesmo teor, como faziam gregos e romanos com os cristãos primitivos. E essas deturpações do Espiritismo não são apenas orais, correndo entre pessoas simples. Figuram também em publicações eruditas, revistas, jornais, livros de ensaios e estudos, com signatários cultos.

Pitágoras já dizia que a Terra é a morada da opinião. E como a opinião é a coisa mais frívola que existe, a mais incerta e a mais irresponsável, não é de admirar que tanta gente opine sobre o que não conhece. Mesmo entre os letrados, a opinião é um hábito enraizado. Mas é evidente que, quando se trata de uma doutrina espiritual, esposada por tantos homens de projeção no mundo das ciências e do pensamento, em todo o mundo, as pessoas de cultura, ou mesmo de mediana cultura, deviam ter mais cautela ao se manifestarem a respeito. Porque se é livre o direito de opinar, não é menos livre o direito de se julgar o senso de responsabilidade de quem opina.

O maior motivo de temer do Espiritismo é o próprio temor. Ou seja: é a covardia humana, essa terrível covardia que faz os homens estremecerem de horror diante do perigo de mudarem de posição diante da vida e do mundo. O Espiritismo, entretanto, não exige outra mudança, senão a da concepção estreita de uma vida utilitarista e falsa, para a ampla concepção de uma vida espiritual, profunda e verdadeira.

Quanto ao problema das relações com o mundo invisível, o Espiritismo não estabelece essas ligações, que existem na vida de todas as criaturas, mas apenas as explica e orienta, dando-lhes o verdadeiro sentido no processo da existência.

Temer o Espiritismo é temer a verdade, que os seus princípios nos revelam, apesar de todos os que lutam para deturpá-los.

Do livro “O Homem Novo” - Herculano Pires

domingo, 21 de fevereiro de 2010

As Vidas Sucessivas

Por Léon Denis

Dissemos que, para esclarecer o seu futuro, o homem devia antes de tudo aprender a conhecer-se. Para se caminhar com segurança, é necessário saber aonde se vai. É conformando seus atos com as leis superiores que o homem trabalhará eficazmente pelo seu próprio melhoramento e pelo da sociedade. O que precisamos é discernir essas leis, determinar os deveres que lhes são inerentes, prever as conseqüências das nossas ações.

Quando se compenetrar da grandeza da sua missão, o ser humano saberá desprender-se melhor daquilo que o rebaixa e abate; saberá governar-se criteriosamente, preparar pelos seus esforços a união fecunda dos homens numa grande família de irmãos.

Mas, quão longe estamos desse estado de coisas!

Ainda que a Humanidade avance na via do progresso, pode-se entretanto dizer que a imensa maioria de seus membros caminha através da vida como no meio duma noite escura, ignorando-se a si mesma, nada sabendo do fim real da existência.

Trevas espessas velam a razão humana. Os pálidos e enfraquecidos raios da verdade que lhe chegam, são impotentes para esclarecer as vias sinuosas percorridas pelas inumeráveis legiões que estão em caminho, e não conseguem fazer resplandecer a seus olhos o alvo ideal e longínquo.

Ignorante dos seus destinos, vacilando sem cessar entre o prejuízo e o erro, o homem maldiz às vezes a vida. Curvado ao seu fardo, inculpa os seus semelhantes das provações que suporta e que são quase sempre ocasionadas pela sua imprevidência. Revoltado contra Deus, a quem acusa de injustiça, ele chega algumas vezes, na sua loucura e no seu desespero, a desertar do combate salutar, da única luta que pode fortificar sua alma, esclarecer seu julgamento, prepará-lo para trabalhos de ordem mais elevada. Por que o homem desce, fraco e desarmado, à grande arena onde se entrega sem repouso, sem descanso, à eterna e gigantesca batalha? É porque a Terra é um degrau inferior na escala dos mundos. Nela residem apenas espíritos principiantes, isto é, almas nas quais a razão começa a despontar. A matéria reina soberanamente sobre o mundo. Curva-nos ao seu jugo, limita nossas faculdades, refreia nossos impulsos para o bem, nossas aspirações para o ideal.

Assim, para discernir o porquê da vida, para perceber a lei suprema que rege as almas e os mundos, é necessário saber libertar-se das influências grosseiras, desligar-se das preocupações de ordem material, de todas as coisas passageiras e mutáveis que encobrem nosso espírito, obscurecem nossas apreciações. É elevando-nos, pelo pensamento, acima dos horizontes da vida, fazendo abstração do tempo e do espaço, pairando de alguma sorte acima das minúcias da existência, que entreveremos a verdade.

Por um esforço da vontade, abandonemos por um instante a Terra, elevemo-nos a essas alturas extraordinárias. Então se desenrolará para nós o imenso panorama das idades inumeráveis e dos espaços ilimitados. Assim como o soldado, perdido no meio da peleja, só vê confusão ao seu redor, enquanto que o general, cujo olhar abrange todas as peripécias da batalha, calcula e prevê os resultados; assim como o viajante extraviado nos desfiladeiros pode, ao subir a montanha, vê-los formar um conjunto grandioso, assim também a alma humana, das alturas elevadas em que paira, longe dos ruídos da Terra, longe das suas misérias, descobre a harmonia universal.

A mesma coisa que lhe parecia aqui contraditória, inexplicável, injusta, então se harmoniza e o esclarece; as sinuosidades do caminho desaparecerão; tudo se une, se encadeia; ao espírito deslumbrado aparece a ordem majestosa que regula o curso das existências e a marcha do Universo.

Dessas alturas luminosas, a vida não é mais, aos nossos olhos, como o é para os da multidão, a vã procura de satisfações efêmeras, mas sim um meio de aperfeiçoamento intelectual, de elevação moral; uma escola onde se aprendem a docilidade, a paciência, o dever. E essa vida, para ter proveito, não pode ser isolada. Fora dos seus limites, antes do nascimento e depois da morte, vemos, numa espécie de penumbra, desdobrar-se multidão de existências através das quais, à custa do trabalho e do sofrimento, conquistamos gradualmente, palmo a palmo, o diminuto saber e as qualidades que possuímos, assim também conquistaremos o que nos falta: uma razão perfeita, uma ciência sem lacunas, um amor infinito por tudo o que vive.

A imortalidade, semelhante a uma cadeia sem-fim, desenrola-se para cada um de nós na imensidade dos tempos. Cada existência liga-se, pela frente e por detrás, a vidas distintas e diferentes, porém solidárias umas das outras. O futuro é a conseqüência do passado. Gradualmente o ser se eleva e engrandece. Artista dos seus próprios destinos, o espírito humano, livre e responsável, escolhe sua estrada e, se esta é má, as pedras e os espinhos que o ferem produzirão o desenvolvimento da sua experiência, fortificarão a razão que vai despontando.

Fonte: Léon Denis - O porquê da vida

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Allan Kardec x Roustaing: A hora da verdade

Por Wilton Porto*

“É dever dos espíritas sinceros combater a mistificação roustainguista neste alvorecer da Era Espírita no Brasil. Ou arrancamos o joio da seara ou seremos coniventes na deturpação doutrinária que continua maliciosamente a ser feita. O Cristo agênere é a ridicularização do Espiritismo, que se transforma num processo de deturpação mitológica do Cristianismo. A doutrina do futuro nega-se a si mesma e mergulha nas trevas mentais do passado. O homem-espírita, vanguardeiro e esclarecido, converte-se no homem da era ante-cristã, no crente simplório das velhas mitologias” (José Herculano Pires).

No livro “Conscientização Espírita”, o espírita Gélio Lacerda da Silva faz implacáveis críticas aos “Quatro Evangelhos” ou “Revelação da Revelação” de autoria do francês J. B. Roustaing, obra publicada quase à mesma época dos livros codificados por Allan Kardec. A obra de Kardec é considerada o “Consolador” prometido por Cristo. Roustaing diz que os livros publicados por ele traz informações mais coerentes e estes é que formam os ensinamentos que traduzem o “Consolador”. O papel deste artigo é mostrar opiniões a respeito do assunto, a fim de que o leitor – principalmente o espírita – tire suas conclusões após outras leituras e profunda análise.

Em “O Verbo e a Carne” de José Herculano Pires e Júlio Abreu Filho, na parte “O Roustainguismo à Luz dos Textos”, José Herculano Pires contempla o leitor com uma inteligente análise da obra de Roustaing, a partir do prefácio desta, e como Gelásio, ele demonstra que “Os Quatro Evangelhos” é obra ditada por espíritos “das trevas” e não por espíritos de luz, com o acompanhamento de Lucas, João, Marcos e Mateus, além de Moisés, como afirmou Roustaing.

Como se não bastasse, o roustainguismo conta com o apoio irrestrito da Federação Espírita Brasileira (FEB), que edita e divulga a publicação de J. B. Roustaing, embora os seguidores deste não passem de 1% (um por cento) dos espíritas existentes.

Gélio disse no livro citado, que “Chico Xavier se relacionou com a FEB do jeito que ela gosta: deixou a critério da FEB selecionar os escritos mediúnicos. Chico e Emmanuel ficaram à mercê do ‘criterium’ da FEB roustainguista”.

O próprio Gélio explica o motivo de Chico e Emmanuel se deixarem envolver pela FEB: esta tem interesse em patrocinar o roustainguismo e aqueles, contam com a comodidade da publicação e divulgação das obras psicografadas por Chico Xavier. Isso também se vê com outros espíritas de renome, como Humberto de Campos-Espirito e Bezerra de Menezes. O último, hoje, já no mundo espiritual, voltou-se de tal forma para o kardecismo que criou a frase “é hora de kardequizar”, além de ter escrito páginas belíssimas e contundentes defendendo a obra de Allan Kardec.

A publicação de “O ROUSTAINGUISMO À LUZ DOS TEXTOS”, de José Herculano Pires, e CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA, de Gélio Lacerda da Silva, foram taxativas para se entender a publicação de Roustaing e por que os espiritistas devem seguir o exemplo de Bezerra de Menezes-Espírito, que hoje segue e defende com unhas e dentes a obra codificada por Allan Kardec, obra esta que afirma o cristo humano e não que este veio ao mundo com um corpo fluídico como diz Roustaing.

O Corpo Fluídico de Jesus

Um dos principais motivos da publicação de OS QUATRO EVANGELHOS é mostrar que Jesus possuía – na terra – um corpo fluídico e não com a matéria igual a nossa. Revela que Maria – mãe de Jesus – teve uma gravidez aparente como também o parto. Ou seja: gravidez, parto, amamentação não passaram de “ilusão”. “Tanto quanto na gravidez, Maria teve a ilusão no parto, na medida do que era necessário, a fim de que acreditasse, como devia acontecer, num nascimento real”. Meu Deus! Os Espíritos Superiores eram inocentes ou aqueles que ditaram a obra de Roustaing viram uma baita inocência em Roustaing? No tocante à amamentação não fora diferente – José Herculano Pires prova as aberrações, porque Roustaing diz ter sido também um ato ilusório, modificando-se o sangue, etc. e tal.

José Herculano Pires trata a mensagem de Roustaing de “ridícula”, “episódio lírico-burlesco”. Considera na mensagem desse contestador de Kardec “truques e passes de mágicos”. E pergunta: Como aceitar-se o papel de Jesus, sob a permissão, pelo menos, de Deus, nesse processo de trapaça espiritual em nome da verdade

Reencarnação

No tocante à reencarnação, Roustaing escreveu que os seres que decaíram podem renascer como “criptógamos carnudos”, que são “criaturas estranhas, em forma de larva e lesma”, conforme estudo.

J. Herculano Pires assim se expressa: “São encarnações de espíritos humanos que haviam atingido alta evolução sem passar pela encarnação humana. Depois de desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos processos de criação, chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à condição de criptógamos carnudos”. E atira o escritor: “Invenção absurda e tola. E tanta gente a defender essas bobagens dentro do Espiritismo”!

Quem conhece o mínimo de espiritismo é cônscio de que a evolução espiritual é “irreversível”, que o espírito humanizado não pode regredir ao plano animal(irracional). Roustaing, com a assinatura da FEB, quer “ridicularizar” o Espiritismo para deste afastar as pessoas de bom senso, com revela J. Herculano Pires.

Mensagens Falsas

Gelásio aponta trechos de mensagens atribuídas a Allan Kardec, que ele considera “insegura”, com “indícios de mistificação ou animismo”. Não se esquecendo de lembrar que muitos dos médiuns que receberam rezam pela cartinha de Roustaing.

“Lamento haver ensinado a Doutrina Espírita”. Essa frase atribuída a Allan Kardec, recebida pelo médium Daniel Douglas Hume, traz suspeita, porque Douglas não tinha apreço por Kardec, por isso não merece “credibilidade”, no dizer de Gelásio.

“Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais Brasil, foi dada também a Revelação da Revelação”. (médium Francisco Pereira da Silva Júnior). A expressão remete o leitor ao roustainguismo.

Há uma poesia contida no “O ROUSTAINGUISMO À LUZ DOS TEXTOS” que foi atribuída ao poeta Guerra Junqueiro: O CORPO DE JESUS. Junqueiro, em soneto, “Funerais da Santa Sé” (Uma explicação), após anos calado sobre o assunto, em respeito à médium que recebeu a poesia, diz no soneto:

Essa obra prima, porém, traiu o figurino;/mostra-me às vezes mudo e o verso alexandrino/não contém elisão ou traz quebrado o pé.../ O filtro era imperfeito. E até meu pensamento/sofreu deformações ou carregou-o o vento.../Perdoa-me leitor, “Os Funerais da Sé”!

O poeta português publicou, também, “OS QUATRO EVANGELHOS”, através do médium da confiança dele: Jorge Rizzini, com crítica à obra de Roustaing, em que o poeta demonstra que Roustaing foi vítima de espíritos do Umbral. Vejamos uma estrofe:

Esse livro indigno – excremento do Umbral,/Encontrou no Brasil ferozes defensores!/Eu explico a razão, dessa obra afinal,/Eles foram no Além os vis expedidores!...

Roustainguismo no Brasil

Resumirei o máximo – darei tópicos sobre o assunto. Acredito, no entanto, que será suficiente para se entender.

Formação religiosa é o ponto de partida, tendo a formação racial e o período medieval influenciado no desenvolvimento brasileiro. O roustainguismo chegou ao Brasil num momento crítico da nossa cultura, com infiltrações européias. Nesse período, nos chega o espiritismo, vindo da França. O roustainguismo, que se apresentava como integrado ao Espiritismo, tocou de perto a sensibilidade mística de alguns ex-católicos. A França era o centro da Civilização e Paris o cérebro do mundo. Roustaing, como advogado, era respeitado e a médium que lhe ajudava, Madame Collignon, pertencia a prestigiosa família de juristas. “Trazia um grande alívio aos espíritas místicos, quebrava a frieza racional da obra de Kardec e restituía ao Cristo a sua condição sobrenatural. Homens profundamente religiosos como Chico Xavier, Bezerra de Menezes, Antônio Luiz Sayão, Bitencouart Sampaio e outros, surgia como tábua de salvação, livrando-os do “racionalismo “ kardeciano. Roustaing era a volta ao maravilhoso, ao Cristo místico, divino no espírito e no corpo.

Mas o pensamento da grande maioria hoje é esse: “Em Roustaing impera, absoluto, sobre todos os seus ensinos, o sentimento religioso da antiguidade. – Em os Quatro Evangelhos as verdades são sempre contrariadas pelas mentiras, o natural é prejudicado pelo absurdo e o belo é sempre desfigurado pelo horrível. Jesus é fluidificado, purificado e até endeusado; mas também é ironizado, ridicularizado, deturpado e estupidificado”! “Roustaing é o anti-Kardec. Se Kardec é o bom senso, Roustaing é a falta de bom senso”. (José Herculano Pires).

*Wilton Porto é Professor, jornalista, terapeuta, escritor e membro da Academia Parnaibana de Letras - APAL

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O espírito de Roustaing

Por José Queid Tufaile Huaixan

Anos atrás, fui convidado para fazer um trabalho doutrinário numa federação espírita de um Estado brasileiro. Não, não haviam nos chamado por simpatia. Tudo não passava de manobra, impetrada pelo presidente da casa e seus auxiliares. Na época, o jornal A Voz do Espírito mantinha um representante na cidade e ele denunciava constantemente a situação de penúria do movimento local. Isso irritava os federativos que resolveram calar a boca do cidadão. Daí, armaram um delicado esquema, para conseguir o fim daquilo que consideravam uma heresia.

Não vamos descer aos detalhes rasteiros da ação. Mas, a situação de atraso dos centros espíritas, mostrava-se algo incomum. Era muito difícil identificar conceitos verdadeiramente kardequianos em tudo o que se via. Algumas poucas casas do interior, pareciam melhor orientadas. Mas no geral, o movimento espírita estadual, era uma lástima. Uma coisa me chamou a atenção: o presidente da federação declarava-se abertamente um seguidor de Roustaing. E assim pude conviver com o espírito do roustainguismo por alguns dias.

Para quem não sabe, Jean Baptiste Roustaing foi um advogado da cidade de Bordeaux (França), que viveu na época de Allan Kardec. Ele, e seguidores, constituíram-se inimigos do Codificador. A coisa foi mais ou menos assim. Roustaing tinha um diploma que lhe facilitava fazer idéia um tanto elevada da sua pessoa; coisa ainda muito comum nos "mestres" do nosso tempo. Ao ver o grande interesse que o Espiritismo despertava na sociedade da época, ele resolveu também participar. Mas escolheu o caminho errado. Com a ajuda da médium Madame Colignon, ele conseguiu escrever alguns livros, chamados hoje "Os Quatro Evangelhos de Roustaing".

Até aí tudo bem. Cada um escreve o que quer. Mas, em termos de Espiritismo, a coisa não é bem assim. Allan Kardec havia estabelecido normas cautelosas, para se aceitar teses vindas do mundo espiritual.

Os livros de Roustaing eram o catolicismo disfarçado de Espiritismo. O advogado apresentou suas teses ao Codificador, que não lhes deu a importância que o autor julgava ter. Claro, não poderia ser diferente, tamanho o número de tolices que existiam nos ditados dos Espíritos. Muito educado, Kardec não condenou a obra, mas afirmou que os diversos volumes, poderiam ser resumidos a dois ou apenas um e que o futuro dessas idéias estaria ligado ao que diria delas a universalidade dos ensinos dos Espíritos. Isso foi como uma ofensa. Os tais escritos eram assinados pelos apóstolos de Jesus, assistidos nada mais nada menos do que pelo profeta Moisés. Roustaing, motivado pelo espírito de grandeza de sua personalidade, não suspeitou. Ele (ou os Espíritos que o assistiam) deram o nome a seus livros de "Revelação da Revelação".

As absurdas teorias de Roustaing vieram achar lugar no Movimento Espírita Brasileiro. Foram e são divulgadas pela toda poderosa Federação Espírita Brasileira - FEB, a "casa máter" no país, um respeitável "vaticano" dos que se dizem seguidores de Allan Kardec. Com a ajuda de médiuns famosos (e até certo ponto inocentes) essas idéias se espalharam no movimento, caracterizando-o por condutas semelhantes ao que se vê na mentalidade católica. Hoje, o roustainguismo é o espírito de sistema, a que muita gente de consciência, por conveniência (ou em nome da caridade) evita combater.

Certas federações, ligadas à FEB, comportam-se como verdadeiras dioceses. E, seus dirigentes, como se fossem bispos. Nessa minha interessante visita federativa, vi coisas incomuns. No momento em que o tal presidente anunciava a abertura da sessão de estudos, todos se colocavam de pé. Depois, finda a prece, os presentes se sentavam. Em algumas casas, havia hinários destinados à cantoria que se estabelecia antes das reuniões públicas (prática que aos poucos se espalha no país). Nos trabalhos, estando presente uma "autoridade federativa", era ela quem primeiro dirigia a palavra ao povo. Tudo como no misticismo católico, obedecendo a convenções estabelecidas pelo sistema vigente. Nada a ver com as instruções de Allan Kardec.

O que caracteriza o roustainguismo em qualquer lugar que se apresente, é a ausência de regras fundamentadas na Codificação ou no mais elementar bom-senso. O misticismo e o domínio de Espíritos inferiores impera. As pessoas têm certa noção do que é o kardecismo, mas não o seguem em espírito e verdade. Todo este atraso é de responsabilidade de federações coniventes e da própria FEB, que faz de conta que tudo está muito bem. E, não se pode deixar de imputar responsabilidades aos oradores e médiuns conhecidos, que ajudam alimentar as fantasias, dizendo sempre que tudo está maravilhoso; que os Espíritos disseram isso e aquilo; que deve se seguir assim e que o futuro será brilhante. E por aí vai.

Isso me lembra uma ocasião em que conhecemos um dirigente de centro espírita (30 anos de atividades), que colocou na cabeça a idéia de que substituiria Chico Xavier. Segundo inspiração do "Alto", o médium iria desencarnar e esse companheiro continuar a tarefa. Bem, em alguns meses, já estava treinando psicografia, usando paletó e penteado iguais aos do médium mineiro. O Espírito responsável pela coisa, assinava José de Anchieta, um padre como o de Chico. A fascinação era evidente. Tudo fizemos para convencer o sujeito de que era uma armadilha, mas ele insistia dizendo que estávamos obsediados, querendo atrapalhar o que julgava ser um grande feito. E os seus trinta anos de Espiritismo lhes davam a doce ilusão de que tinha experiência suficiente para dispensar conselhos amigos.

Bem, não havia outra saída. Como estava fascinado por Chico Xavier, tentamos um último recurso: fazê-lo falar com Chico sobre o tal trabalho. Ora, todo mundo pensa que médiuns famosos estão em contato constante com Espíritos esclarecidos e o que dizem pode ser tomado como verdadeiro. Infelizmente, isso não é verdade. No caso de Chico, por exemplo, muitas coisas que disse ao longo da sua vida monástica, foram tomadas como verdades irretocáveis por alguns fanáticos seguidores; ainda que contrariasse frontalmente princípios da Codificação. É assim também, com Divaldo Pereira Franco e similares. E lá se foi nosso amigo, em direção à cidade mineira de Uberaba. Depois de esperar naquela interminável fila, ouviu do médium, que estava tudo bem e que deveria continuar o trabalho. Era o que queria.

Evidentemente, não deve ter contado detalhes da história para Chico. E, nem que quisesse isso seria possível. Verdadeiras feras cercavam o médium, arrastando literalmente quem se detivesse por mais de 20 segundos ao seu lado. O resultado foi terrível. A fascinação destruiu a vida dessa criatura que, em termos espirituais, ficou enfermo até o final de sua vida. Como dizem os conciliadores chiquistas: devia ser algum resgate de outras vidas. É, pode ser... mas, prefiro a sabedoria popular: "pimenta nos olhos dos outros é refresco".

Dias atrás, um leitor escreveu falando do orador que visitou sua casa espírita e fez uma palestra dizendo que Jesus nunca havia encarnado; que seu corpo era fluídico e que ele jamais conhecera o pecado. Certamente deve ter afirmado também, que Maria (a mãe do Mestre) era virgem; que a carne é suja e outras tolices próprias do catolicismo e do roustainguismo. Uma amiga do nordeste, teve a mesma desagradável surpresa. A pedido da federação local, abriu a casa que dirige para um expositor da Federação Espírita Brasileira, que visitava a cidade. Foi horrível. Ele resolveu ensinar às pessoas, catolicismo misturado com Espiritismo. Isso é, a doutrina de Jean Baptiste Roustaing.

Tudo o que vimos acima, condutas, procedimentos, conselhos e conseqüências, chama-se roustainguismo. É a doença do movimento espírita e que se espalhou por outros países, onde a FEB e emissários distribuem a semente daninha. Dirigentes e grupos sérios, que se orientam pela doutrina de Allan Kardec, não devem permitir que tais conceitos sejam divulgados entre o povo; mesmo que os oradores sejam ligados a federações. Isso, de maneira alguma garante a qualidade do que dizem. Aconselha-se conversar com convidados desconhecidos, antes de proferirem palestras. É melhor prevenir, do que remediar. Se você puder, leia Os Quatro Evangelhos de Roustaing. É muito importante saber de onde nasceram os problemas que atormentam os centros espíritas da atualidade. E, se tiver tempo, não deixe de conhecer a lendária obra, "Brasil: Coração do Mundo, Pátria do Evangelho". Elas vieram da mesma fonte espiritual.

Fonte: Portal do Espírito

* A foto acima do Cavalo de Tróia é uma referência à célebre frase do escritor José Herculano Pires, que definiu o roustainguismo como sendo "O Cavalo de Tróia do Espiritismo."

Em Defesa de Allan Kardec

Por Yvone do Amaral Pereira

Muito freqüentemente, ouvimos adeptos do Espiritismo declararem, não sabemos baseados em que autoridade, que os códigos firmados por Allan Kardec foram “ultrapassados” por obras espíritas modernas, incluindo também León Denis a par do codificador nesse conceito irreverente. Mesmo alguns espíritas de certa circunspecção tem afirmado tal novidade de suas tribunas, incorrendo, portanto, em melindrosa responsabilidade perante a Doutrina. No entanto, bastará pequeno raciocínio para observarmos que nem Allan Kardec nem León Denis foram ultrapassados agora, nem o serão tão cedo, assim como não o foi o Evangelho, que há dois mil anos deu aos homens o mais perfeito código de moral até hoje conhecido, código que, não obstante, ainda não é acatado pelos próprios cristãos, como poucas exceções, visto que a própria Terra, com seus prejuízos de planeta inferior, não comporta, por enquanto, a prática integral de tão elevados princípios. E não poderia Allan Kardec estar ultrapassado porque ainda não apareceram, depois dele, no mundo inteiro, obras melhores que as por ele firmadas, sobre o mesmo assunto.

A humanidade, por sua vez, ainda não foi despertada pelos ensinamentos que os livros deles apresentam, e os próprios espíritas os conhecem tão pouco que o próprio movimento espiritista são eles ainda desconhecidos nas suas mais belas e significativas expressões.

Conhecemos até mesmo médiuns cuja instrução doutrinaria se limita a uma única leitura de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. E orientadores de sessões que apenas leram (dizemos leram, e não estudaram) uma só vez “O Livro dos Espíritos”, desconhecendo completamente as demais obras clássicas que, com as primeiras acima citadas, formam a estrutura doutrinária espírita; não assimilaram os dois compêndios lidos e por isso consideram superado o grande Codificador, porque se integraram somente nas obras modernas, as quais, conquanto excelente, apenas irradiam detalhes extraídos da base já revelada. Isso acontece até mesmo com presidentes de Centros e oradores, o que vem a ser de suma gravidade.

Se quisermos raciocinar seriamente, sem paixões nem idéias pessoais, contataremos que os nobres Espíritos, incumbidos da instrução aos humanos, assim não pensam. Consideram antes Allan Kardec o mestre terreno ainda credenciado para tudo quanto voluteie em torno do Espiritismo, tanto assim que tudo quanto escrevem, ou ditam, aos seus médiuns, é baseado nos códigos kardecistas, vazados deles e neles inspirados, sendo todas as teses apontadas a desenvolver em suas produções as mesmas estudadas por Kardec, alem daquelas neles inspirados, sendo todas as teses apontadas a desenvolver em suas produções as mesmas estudadas por Kardec, além daquelas também colhidas no Evangelho Cristão.

Allan Kardec poderá ter sido ampliado, talvez completando nos seus ensinamentos pela obra ditada do Espaço, visto ele próprio haver afirmado que apenas estabelecia os primeiros passos doutrinários, mas ultrapassados não!

Mesmo assim vemos que essa ampliação, esses complementos, são inteiramente assentados em suas obras, porque se não o forem estarão deslocados, serão ilógicos e suspeitos, o próprio raciocínio os repele diante a feitura desconexa que apresentam, como sucede a várias obras que não logram o apoio da maioria dos leitores justamente pela ausência da dita base Kardecista. Precisamos refletir que Allan Kardec somente será superado no dia em que ele mesmo aparecer na Terra, reencarnado, para prosseguir o assunto, ou outro à altura do mandato insigne, e quando já a maioria dos espíritas, pelo menos, tiver adquirido amplo conhecimento da Revelação por ele obtida dos Espíritos Superiores.

Os códigos Kardecistas serão sempre surpreendentes novidades para aqueles que os consultarem pela primeira vez, como o nascimento de Jesus Nazareno em Belém de Judá é novidade para aquele que no fato presta tenção pela primeira vez, não obstante o dito fato haver se passado há quase dois mil anos. Se os próprios espíritas desconhecem as verdadeiras bases da Doutrina que professam, como ousaremos declarar superada a obra de Kardec? Essa obra é imortal como imortal é o Evangelho, uma vez que ambos são revelações divinas e porque sempre existirão cérebros e corações necessitados de renovação e esclarecimentos através deles. Por enquanto é, com efeito, a fonte Kardecista a única habilitada em assuntos de Espiritismo capaz de expandir renovações para o futuro, visto ser o alicerce de quanto existe a respeito, até agora. O mais que poderemos aceitar é que, em futuro talvez próximo, a obra de Allan Kardec poderá sofrer uma revisão, uma vez que ele próprio previu esse acontecimento.

Para os espíritas, pois Kardec ainda é o grande desconhecido, dado que a minoria é que o conhece planamente. Ele tratou de Ciência, de Filosofia e de Moral e tais matérias, de suma grandeza, não podem ser apenas lidas uma ou duas vezes, mas estudadas continuamente, com método analítico, observação acurada, amor e perseverança, a fim de serem bem compreendidas e praticadas. . . e não mal interpretadas e sofismadas, como vemos acontecer de quando em vez. . .

Fonte: Anuário Espírita - 1965

Obra de ficção espiritualista "Nosso Lar" estréia em setembro

Por Fabiano Vidal

A obra de ficção espiritualista "Nosso Lar", psicografada por Chico Xavier, de autoria do espírito André Luiz, estréia em setembro nos cinemas nacionais. Ao contrário do que muitos espíritas e simpatizantes da Doutrina Espírita crêem, a citada obra não é espírita devido às suas inúmeras incoerências com as obras de Allan Kardec.

Para saber mais a respeito, recomendamos a leitura dos textos abaixo relacionados:


Sinopse do filme:

Ao despertar no Mundo Espiritual, André Luiz se depara com criaturas assustadoras e sombrias vivendo, juntamente com ele, neste lugar escuro e sombrio. Além disso, ele também se assusta por perceber que apesar de ter "morrido" ele ainda continua vivo e ainda sente fome, sede, frio e outras sensações materiais. Após um longo período de sofrimento ele é recolhido dessa zona de sofrimento e purgação de falhas do passado por espíritos do bem e é levado para a Colônia Espiritual Nosso Lar, de onde surge o nome do filme. A partir desse momento ele começa a conhecer melhor a vida no além túmulo e a aprender lições e adquirir conhecimentos que mudarão completamente o seu modo de enxergar a vida.

Tendo então tomado consciência de que está desencarnado (morto), sente imensa vontade de voltar à Terra para visitar e rever parentes próximos de quem guarda imensa saudade. Entretanto, como narra a sinopse do site oficial do filme, isso acontece só para que ele perceba "a grande verdade - a vida continua para todos".

Teaser trailler:


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Líderes Espíritas Atuais

José Herculano Pires nos brinda com este artigo aonde é feita uma análise sincera sobre os líderes espíritas do MEB. Infelizmente, sua atualidade mostra que pouco mudou e que o Espiritismo ainda é desconhecido por grande parte do MEB.

Trecho:

"A liderança intelectual é indispensável ao Espiritismo e a Ciência Espírita tem métodos de pesquisa e avaliação de fenômenos, não de fantasia. Os líderes atuais não encontram na Doutrina a segurança dos antigos, apesar de estarem livres das pressões que os antigos tinham de combater, amparados pelo referendo das Ciências, impondo-se ao mundo cultural como representação de uma realidade incontestável."

Clique na figura abaixo para fazer o download do arquivo em formato PDF.

Liderança



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Estado de Coma ante os Conceitos Espíritas

Por Jorge Hessen

A palavra "coma" advém do termo grego koma, que significa "estado de dormir", mas estar em coma não é o mesmo que estar dormindo. Alguns pacientes em estado comatoso podem sair do problema depois de algum tempo. Porém, há uma grande diferença entre estar em coma e estar em estado vegetativo. Este último é um tipo de coma em que o paciente, quando desperto ou quando dorme, não reage aos estímulos. Há vários conceitos e muitas incertezas sobre esses estados de inconsciência. Sabe-se, porém, que as taxas de sobrevivência ao coma são de, até, 50%, e pouco menos de 10% saem do coma e conseguem uma recuperação completa.

Os pesquisadores acreditam que a consciência depende da constante transmissão de sinais químicos do tronco cerebral e tálamo para o cérebro. Essas áreas estão conectadas por caminhos neurais chamados Substância Reticular Ativada. Qualquer interrupção nessas mensagens pode colocar a pessoa em um estado alterado de consciência.

Em dezembro de 1999, uma enfermeira estava arrumando os lençóis da cama quando a paciente White Bull, repentinamente, sentou-se e exclamou: "Não faça isso!", fato, esse, que foi uma grande surpresa para a família. Bull ficou em coma por 16 anos e os médicos haviam dito aos familiares que ela jamais voltaria ao estado de consciência. Outra ocorrência surpreendente aconteceu, há cinco anos, com o bombeiro Donald Herbert. Ele teve queimaduras graves, em 1995, quando o teto de um prédio em chamas desabou sobre seu corpo. Herbert ficou em coma por 10 anos e, quando os médicos lhe prescreveram drogas, normalmente usadas para tratar mal de Parkinson, depressão e problemas de déficit de atenção, Donald acordou e falou com sua família por 14 horas sem parar.

Em um noticiário recente, temos informação sobre o caso Rom Houben, que foi vítima de um acidente de carro, em 1983, aos 20 anos, e diagnosticado o estado vegetativo do paciente. Um especialista, porém, usando um tomógrafo, que não estava disponível nos anos 80, afirma ter descoberto que Rom sofria de um tipo de enclausuramento psíquico ou "síndrome de prisão", em que a pessoa não consegue falar ou se mover, todavia pode pensar. O médico, então, disponibilizou um equipamento e o paciente começou a se comunicar, ajudado por uma terapeuta. (1) Com o dedo esticado, Rom digita, com surpreendente rapidez, em um computador de tela sensível ao toque, relatando sobre como se sentia "sozinho, solitário e frustrado", nos 23 anos em que ficou preso a um corpo paralisado. Para os descrentes, as respostas de Houben parecem artificiais para alguém com danos tão profundos e que passou décadas sem se comunicar. Porém, a equipe médica, que cuida de Houben, atesta que realizou testes especiais para comprovar que a comunicação do paciente, de fato, está ocorrendo.

O corpo físico de uma pessoa em coma não é capaz de perceber os estímulos internos e externos e de reagir, fisicamente, a esses estímulos apreendidos. Mas, espiritualmente, o indivíduo é capaz de perceber o que acontece em seu redor. Em verdade, quando o corpo entra em um estado neurofisiológico alterado ("estados alterados de consciência"), como o sono físico, o sonambulismo, o êxtase, o coma, etc., o perispírito tem possibilidade de expandir-se, e o Espírito se liberta, parcialmente, do corpo em repouso, embora ainda ligado, a esse, por um "laço" fluídico, sem o qual desencarnaria.

A Doutrina Espírita explica que o homem é constituído de três partes: o corpo físico, que possui automatismos biológicos dirigidos pela mente; o Espírito, centro da inteligência, indestrutível, que sobrevive à morte do corpo, libertando-se e retornando à vida espiritual, para voltar à vida material em uma nova reencarnação; e, finalmente, o perispírito, laço de união entre o Espírito e a matéria, corpo fluídico semi-material (energético) que "reveste" o Espírito e permite a ligação, deste, com o corpo.

Na Codificação, não encontramos farta referência sobre o coma, propriamente dito. Contudo, podemos compreender o que se passa com o Espírito no estado comatoso, refletindo as lições dos Benfeitores Espirituais, consoante explica O Livro dos Espíritos sobre "estado de letargia e morte aparente." (2) Para Kardec, "a letargia e a catalepsia têm o mesmo princípio, que é a perda momentânea da sensibilidade e do movimento (...)". Portanto, se no sono e na letargia a alma não fica presa ao corpo, a fortiori não ficará presa no coma, até porque "(...) o Espírito jamais fica inativo" (3)

No entanto, há pacientes, em estado de coma, que muitas vezes ficam presentes no local onde seus corpos ficam paralisados, presenciando o que ocorre ao seu redor ou em qualquer lugar, à semelhança do que confirma o caso Rom Houben. Se familiares, amigos ou médicos conversarem com o paciente, podem ter a certeza de que ele terá condições de ouvir e ver, sem, contudo, ter a capacidade de dar a resposta "física". Pode, até, surgir, normalmente, em sonhos, pois quem está aprisionado na cama é o corpo e não o Espírito. Portanto, o Espírito não fica preso o tempo todo ao corpo doente, pois, neste, só funciona a vida vegetativa e, nesse estado, o corpo só precisa do Espírito para mantê-lo vivo; o Espírito, somente "preso ao corpo" ficaria inativo, sem condições instrumentais para evoluir. Por isso, sabemos que, no coma, o Espírito poderá estar em outras dimensões, sem estar adstrito ao corpo, em situação semelhante ao de uma pessoa dormindo.

A miopia médica, para as questões espirituais, tem atrasado os avanços necessários para o tratamento integral do ser humano. A causa para alguém passar muito tempo em estado de coma, embora com profunda consciência na intimidade do ser, e compreendendo a Lei Divina como perfeita, é certo que essa experiência deva servir de resgate de débitos morais contraídos em outras vidas, ante a justiça do princípio da reencarnação.

FONTES:
(1) Linda Wouters é a terapeuta e afirmou à Associated Press que pode senti-lo guiar sua mão com uma pressão sutil vinda de seus dedos, e que inclusive percebe sua negativa quando digita uma letra errada
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questões 422/424
(3) idem, questão 401.

A Filosofia Espírita da Fé Raciocinada

Por Luiz Signates

As relações entre fé e razão desde o princípio fazem parte do debate filosófico espírita, com a criação por Allan Kardec do conceito de fé raciocinada. De um ponto de vista conceitual, estabelece-se uma contradição aparentemente insuperável, porquanto a fé se funda na convicção e a razão, na dúvida; resulta, então, que ambos se contradizem. Ora, como crer e duvidar são práticas antagônicas por definição, o conceito de "fé raciocinada", seria por isso um evidente contra-senso.

Em Kardec, esse conceito é apresentado dentro de um quadro argumentativo construído para negar uma outra noção, atribuída pelo professor lionês às religiões dogmáticas: a "fé cega". Nesse sentido, a fé raciocinada seria algo próximo de "fé fundamentada", isto é, o adjetivo referente ao raciocínio daria ao sujeito o significado de um estado, e não de um processo. Ou seja, a fé raciocinada não seria propriamente uma "fé que raciocina", e sim, uma fé que já raciocinou antes, para se constituir. Tal interpretação consegue parcialmente satisfazer o quadro lógico de separação entre fé e razão: haveria primeiro o movimento de raciocínio e, somente depois, a fé se constituiria.

Esse ponto de vista, entretanto, não é satisfatório, sob o prisma kardequiano. Ainda nas menções que faz sobre a questão da fé, o codificador publicou em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" um axioma que se tornou famoso nos meios doutrinários espíritas: "Fé inabalável só é a que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade". Nessa proposição, Allan Kardec nos remete a uma percepção histórica, processual, do fenômeno da crença, delimitando, com o rigor que lhe era próprio, a característica especial e profundamente inovadora da fé espírita.

Nesse contexto, a fé raciocinada – qualidade que a tornaria inabalável – seria não apenas aquela que se constituísse por um movimento de decisão racional, mas, também, a que se mantivesse em regime de racionalidade contínua, inclusa essa exigência no exercício da própria fé. A conciliação necessária, nesse caso, entre os conceitos de fé e razão, seria feita pela mudança de um raciocínio lógico para um raciocínio dialético: os contrários, ao invés de se excluírem, se complementam, se conjugam, na explicação da realidade.

Dentro desse modo de pensar, a fé espírita forma um par dialético inseparável com a razão espírita. Tal idéia significa que a crença espírita é basicamente uma fé que admite dúvida e com ela convive, durante todo o tempo. Trata-se, pois, de uma fé aberta, dialogal, disposta a modificar as próprias opiniões ou o objeto de sua manifestação como crença, desde que satisfeitas as condições do livre exercício da razão. Em contrapartida, a razão espírita constitui uma dúvida que se baseia na fé, capaz de fazer emergir as desconfianças naturais da racionalidade sem uma pretensão cética ou cientificista, e que, sobretudo, está disposta a admitir a crença e a confiança naqueles conteúdos sobre os quais a razão ainda não assumiu uma postura de conhecimento e verificação. Tal composição resulta no que Herculano Pires denominou, muito apropriadamente, "fideísmo crítico".

O uso da razão é a admissão da dúvida, a qual, no Espiritismo, se funda no princípio filosófico da imperfeição espiritual (temos preferido denominá-la incompletude, para retirar o sentido pejorativo do termo "imperfeição", como algo "errado, estragado, com defeito"), o que faz da jornada espiritual a contínua e necessária possibilidade da mudança. Por esta via, o Espiritismo funda um novo iluminismo, cuja formulação acredita na racionalidade como fundamento da fé humana e, por tal razão, confia no aperfeiçoamento das possibilidades da razão como geratriz do aprimoramento da fé.

Feitas tais considerações, de ordem filosófica, convém refletir pragmaticamente. Nem todos os espíritas na atualidade compreendem o que significa essa dimensão do conceito de fé raciocinada. Não raro, imaginam que raciocinar seja o mesmo que racionalizar, isto é, referir-se à razão como pretexto para justificar o dogma, o que transforma o argumento racional em argumento ideológico (no sentido negativo, como falsa concepção da realidade, apoiada somente em critérios de identidade religiosa), atitude que de modo algum pode ser justificada na proposta de Kardec. Fé raciocinada, portanto, não é o mesmo que fé racionalizada (até porque todas as formas de fé podem ser enquadradas neste último tipo).

Dentre as diversas concepções de racionalidade válidas em filosofia, acreditamos que a noção de "razão comunicativa" ou "razão consensual", do filósofo alemão Jürgen Habermas, é a que melhor se adequa ao conceito de fé raciocinada, em Kardec. Para aquele pensador, há racionalidade sempre que houver diálogo onde se instaurem consensos entre os interlocutores, sendo que a verificação prática do consenso seria a própria demonstração de que houve racionalidade. Em outras palavras: razão é o diálogo que dá certo.

Em Kardec, a fé raciocinada é a fé que permanece em constante contato com a razão, isto é, busca sempre um saber mais amplo, argumenta e se questiona. Para isso, a fé espírita há de ser permanentemente reconstruída no diálogo com os diversos saberes, especialmente na interação entre o saber humano, de vertente científica, filosófica ou experiencial, e o saber espiritual, originado da interlocução mediúnica. Eis, portanto, sob formulação espírita, a razão comunicativa, um movimento de construção da crença erigido sobre o diálogo e, por isso, capaz de "enfrentar a razão, face a face, em qualquer época da Humanidade".

Os espíritas, por isso, não podem abandonar em tempo algum a possibilidade do diálogo, não apenas com os espíritos, a partir dos quais o conhecimento assume a forma de "revelação", em definição kardequiana, mas também com os variados saberes humanos, especialmente o filosófico e o científico. A fé espírita há de ser uma fé em constante atualização, uma fé sempre renovada, sempre reconstruída. Ou recairá lamentavelmente num novo tipo de fé cega: a que se contenta em apenas fingir que vê.

Fonte: Portal Rede Brasil Espírita

A Carta Comprometedora de Elias

Por Paulo da Silva Neto Sobrinho

Se não se convencem pelos fatos, menos o fariam pelo raciocínio. (Allan Kardec).

O escritor José Reis Chaves, autor do livro A Face Oculta das Religiões, em um artigo publicado, em sua Coluna, de 26.04.04, no jornal “O Tempo”, de Belo Horizonte, “Ressurreição de Todos”, dá-nos uma informação interessantíssima. Diz ele:

“E o desaparecimento de Elias vivo confundiu muito os teólogos sobre a ressurreição. Mas ele ficou na Terra, pois Jorão, depois, recebeu dele uma carta. (2 Crônicas 21,12)”.

Engraçado como muitas vezes não enxergamos o óbvio, pois realmente, segundo a narrativa bíblica citada, Elias, depois de ter sido supostamente arrebatado, enviou mesmo uma carta a Jorão, filho e sucessor de Josafá, de Judá. Confirmam isso os tradutores da Bíblia de Jerusalém, quando nos oferecem a seguinte explicação para essa passagem:

“De acordo com a cronologia de 2Rs, Elias tinha desaparecido antes do reinado de Jorão de Israel (2Rs 2; 3,1) e, portanto, antes de Jorão de Judá (2Rs 8,16; cf. no entanto 2Rs 1,17). O cronista deve utilizar uma tradição apócrifa”.

Mas o que há de extraordinário nisso? Bom, se a passagem mencionada for verdadeira, e aqui os defensores da inerrância bíblica, por coerência, não podem aceitar de outro modo, estaremos diante de duas alternativas. A primeira: que Elias não foi arrebatado, já que envia uma carta. Isso para nós foi o que de fato ocorreu, uma vez que é difícil sustentar que alguém tenha sido arrebatado de corpo e alma levando-se em conta que se “Deus é espírito” (Jo 4,24), nós também somos seres espirituais, já que fomos criados à Sua imagem e semelhança. Por outro lado, se “o espírito é que dá vida, a carne não serve para nada” (Jo 6,63) e que “a carne e o sangue não podem herdar o reino dos céus” (1Cor 15,50) não há como compatibilizar corpo físico na dimensão espiritual. A segunda alternativa, que, por certo, poderá deixar alguns fanáticos perplexos, é que, se aceitarmos que não há exceção nas Leis Divinas, Elias morreu, como irá acontecer com todo ser humano; daí, por força das circunstâncias, teremos que admitir que, do plano espiritual, ele envia uma carta ao rei. Portanto, uma ocorrência mediúnica, com alguém servindo de médium para receber essa carta e enviá-la ao destinatário, traduzindo-se isso em uma autêntica psicografia.

A título de curiosidade, observamos que os termos usados nessa narrativa aparecem, nas diversas traduções bíblicas, ora como “uma carta”, ora como “uma mensagem” e ora como “um escrito”, mas, no fundo, tudo é a mesma coisa. Lembramo-nos aqui do saudoso Chico Xavier que recebia, com facilidade uma imensidão de cartas dos “mortos”.

Na primeira hipótese acima citada, não há nenhum fato bíblico entre “os arrebatados” que venha a sustentar a possibilidade de que, em algum momento, um deles tenha se comunicado, por qualquer meio, com os encarnados. Entretanto, quanto à segunda hipótese, ou seja, a que Elias tenha morrido, podemos comprovar biblicamente, por dois acontecimentos, os quais vêm apoiar a uma ocorrência dessa ordem.

O primeiro, narrado em 1Sm 28, 1-25, é um fenômeno mediúnico de psicofonia, que registra a ocasião em que o rei Saul vai a Endor, para que, através da pitonisa (médium) que residia nessa localidade, pudesse aconselhar-se com o profeta Samuel, já desencarnado. Como estava numa situação angustiante, pois se encontrava cercado pelo exército dos filisteus, queria saber do espírito do velho profeta sobre o que o futuro lhe aguardava em relação a essa iminente guerra.

O segundo, sempre “esquecido” dos contraditores da comunicação com os “mortos”, é quando os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, Pedro, Tiago e João, e conversaram com o Mestre. Classificamos esse fenômeno mediúnico como de “materialização”, pois esses dois espíritos também foram vistos pelos três discípulos que testemunharam o fato, que, ao que tudo indica, eram os médiuns doadores da energia necessária para a produção do fenômeno, a qual chamamos de ectoplasma. Inclusive, podemos observar que, nos principais fenômenos mediúnicos produzidos por Jesus, vistos por alguns como milagres, os três apóstolos citados eram convidados por Ele, para deles participarem, pois só eles, entre os que o seguiam, possuíam essa energia de forma mais acentuada.

Há ainda um outro evento, que nunca é falado, pois não teria como ser negado: trata-se do acontecido com o próprio Jesus, que depois de morto comunicou-se com inúmeras pessoas. E, plagiando o que o apóstolo dos gentios disse aos coríntios, diríamos: “Pois se os mortos não se comunicam, também Cristo não se comunicou. Se Cristo não se comunicou ilusória a nossa fé”.

Assim, com essa carta de Elias, acreditamos estar diante de mais uma ocorrência bíblica, que vem provar a comunicação entre os dois planos da vida, embora negada sistematicamente por alguns, mas que pode ser corroborada pela própria proibição bíblica de Moisés de se comunicar com os mortos (Dt 18,9-14), já que Moisés não era tão louco assim para proibir algo que não existe. Está, portanto, comprovada pela própria Bíblia, a realidade da comunicação entre os habitantes do mundo físico com os do mundo espiritual. E como diria Jesus: “Quem tem ouvidos, ouça”.


Referência Bibliográfica:

Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.

Jornal O Tempo, de 26.04.2004, Coluna de José Reis Chaves, pág. A8.

(Artigo Publicado no Jornal Espírita, julho de 2004, nº 347, FEESP, pág. 11)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fidelidade a Kardec

Por Deolindo Amorim (espírito)

Uma observação muito criteriosa de Allan Kardec, feita na Introdução de "O Livro dos Espíritos", portanto, vamos dizer assim, no frontispício da própria Doutrina, diz bem da seriedade com que devem os estudos espíritas ser realizados; refiro-me à assertiva de que, se para adquirir, um sábio, o conhecimento de uma ciência particular, precisa ele de, pelo menos, três quartos da vida, quanto não mais se carecerá para que se aprenda o Espiritismo, que diz respeito ao conhecimento da ciência da vida. Outra declaração de Kardec que não deve ser esquecida diz respeito à importância da revelação do mundo espiritual, cujas conseqüências são por si mesmas maiores e mais revolucionárias do que a descoberta dos microrganismos. Evidentemente, não se pode abeirar da Doutrina e procurar compreendê-la, num abrir e fechar de olhos, como se tratasse de um magazine, de história em quadrinhos, ou se se pudesse aprender seus princípios e deduzir suas conseqüências através de leitura dinâmica. Não pode ser assim. O universo que o Espiritismo toca, o conjunto de interesses que ele desperta, as dificuldades naturais provenientes da extensão dos conhecimentos e as relações que mantém com as ciências, tudo isto demonstra o vasto campo de observações que ele oferece ao estudioso, devendo, assim, despertar o interesse mesmo daqueles que não são espíritas, ou porque adotam outros princípios filosóficos e religiosos, ou porque ainda não se inclinaram definitivamente por nenhum deles.

Afinal de contas, a revelação espírita é bem uma revolução no campo das idéias, porque representa uma total mudança de perspectiva da própria vida, a descoberta de um mundo mais invisível do que o dos microrganismos, a afetar diretamente não só a compreensão do humano, que agora se torna também o espiritual, mas as próprias relações humanas que se revelam influenciadas, de um modo concreto, por um mundo novo até então considerado abstrato. Não há como negar. Sem dúvida a descoberta do Mundo Invisível impõe uma revolução integral das idéias, o que permite compreender a resistência que certos cientistas demonstraram na aceitação dos fenômenos espíritas, pois esta lhes custaria a derrubada do edifício materialista em que se acomodam: a história nos revela que se chegou ao cúmulo de sugerir-se a formação de um complô para negar a verdade, ainda que os fenômenos pesquisados viessem a mostrar-se autênticos durante as investigações.

Realmente, temos aí um mundo muito mais importante, mais revelador, mais revolucionário do que a descoberta das Américas em seu tempo ou as conquistas espaciais de hoje. Afinal, as viagens interplanetárias revelar-nos-ão outros mundos de matéria idêntica à nossa, ainda que de constituições diversas, enquanto o chamado Mundo Invisível leva-nos o pensamento e as pesquisas para dimensões insuspeitadas, abrindo um leque infinito, à nossa frente, de possibilidades de vida, das quais só paulatinamente o homem poderá ir tomando conhecimento.

É ou não é verdade que as conseqüências são muito maiores do que a descoberta dos microrganismos, apesar da importância que representou esta para a compreensão da vida e dos processos patológicos que se desenvolvem nos corpos físicos? Em face disto, somos levados evidentemente a admirar-nos de certo dogmatismo que, vez por outra, corre nas veias do movimento espírita como sangue estranho a envenenar-lhe a vida. Neófitos e mesmo companheiros que há muito tempo perlustram as avenidas da Doutrina, recolhem-se e encolhem-se em posições fechadas como se já se tivessem tornado senhores de todo o saber espírita e pudessem dizer a última palavra. À força de defenderem Kardec, acabam por ir de encontro à sua obra, porque se constitui em uma verdade indiscutível, que não pode ser negada, o horror do mestre lionês a todas as formas de dogmatismo. Ele não só colocava seu trabalho ao julgamento da crítica, ao lado de outros sistemas existentes ou que pudessem advir, mas destacava que a ortodoxia espírita jamais poderia formar-se em torno de um nome, e muito menos do seu que rejeitava o papel de fundador do Espiritismo, indicando o caminho certo da universalidade do ensino, sempre submetido ao controle da razão, e a possível modificação da Doutrina todas as vezes que a ciência demonstrasse o erro de quaisquer dos seus pontos. Deseja-se algo mais livre, mais aberto, mais isento de dogmatismo e de fanatismo?

Infelizmente, em muitas oportunidades, vemos adeptos da Doutrina, à custa de forcejarem na criação de uma ortodoxia, violentarem o próprio ensino do mestre, apesar de se apresentarem como seus defensores. Ora, nisto separam-se, em realidade, até das perspectivas do próprio movimento espírita que é coletivo desde sua origem; ou seja, Kardec não aceitou a mensagem de um só Espírito, por mais alta fosse sua gradação, para constituir a base doutrinária; preferiu um caminho mais difícil, porém mais seguro, interrogando Espíritos de variadas categorias, fazendo um trabalho de campo digno de um sociólogo. Não se limitou ele a saber o que pensavam os Espíritos mais esclarecidos, nem o que sentiam ou percebiam; investigou também junto, vamos dizer assim, às classes mais baixas da sociedade espiritual, para que pudesse obter um conhecimento de primeira mão acerca de particularidades a elas atinentes. Espíritos já bastante desmaterializados, que, pela sua elevação espiritual, não tinham contato diário com a Terra ou, para melhor dizer, com estas esferas mais próximas da Terra, não poderiam fornecer as informações por não sofrerem na pele, como se costuma dizer, as dificuldades; falariam de algo, de uma situação que não mais viviam, e, por isso, Kardec optou pelo conhecimento direto. Tal procedimento constitui-se em um fato muito importante, embora desconhecido ou ao menos descuidado da maioria dos espíritas, que o olvidam no estudo da Doutrina, embora Kardec o tivesse levado em conta na própria formulação de "O Livro dos Espíritos" que registra respostas das mais diversas procedências. Kardec não era pois um dogmático, e não podemos, em seu nome, ou em defesa do patrimônio espiritual que nos legou, tornarmo-nos dogmáticos, qualquer que seja a esfera de atuação em que estejamos, enfaixados ou desenfaixados do corpo físico.

Um ponto muito esquecido é o da relatividade dos Espíritos que geralmente se comunicam e o fato de possuírem muitas vezes opiniões contrárias umas ás outras; são opiniões pessoais que não desdoiram o Espiritismo, pois isto nos mostra que eles continuam pensando livremente e que, do lado de cá, também se respeitam as idéias ainda quando se mostrem errôneas - é o direito de livre opinião e de livre investigação. Não registrou Kardec divergências entre os espíritos que afirmavam a ligação da alma ao corpo no momento do nascimento e no momento da concepção, daqueles que defendiam as idéias fixistas ao contrário de outros francamente evoluvionistas, e também não registrou a existência de Espíritos que defendiam a teoria da incrustação planetária na formação da terra e a teoria da lua ovóide, etc., mostrando as diferenças existentes no mundo dos Espíritos? Não se mostrou ele contrário às teorias aceitas por Roustaing, resistindo mesmo às críticas acerbas que este lhe fez? Aí está como agiu realmente o mestre. Mas, apesar de tudo, não colocava a sua opinião acima das dos demais. Como esquecer estas coisas e criar uma ortodoxia que, a despeito de utilizar o nome de Kardec, é feita em torno do pensamento de um indivíduo ou de um grupo? Estarão estas pessoas recebendo as únicas comunicações realmente aceitáveis?

Há um outro ponto também muito esquecido. A Doutrina Espírita resultou dos estudos de Kardec, mas os ensinos coletados por ele sofreram inicialmente a verificação com o auxílio de mais de dez médiuns, em núcleos diferentes, foi ele quem o disse. Este cuidado do mestre visou evitar influências a que os médiuns estão submetidos pelo contato com os Espíritos que os dirigem - são as "colunas espirituais" de que nos falou ele em "O Livro dos Médiuns", capazes de, com sua influência, alterar, uma resposta dada, por um Espírito alheio à mesma; é que, como ensina André Luiz, a capacidade conceptual do médium resulta, também, do contato mais ou menos íntimo que possa ter com o seu mentor ou responsável pela tarefa mediúnica. Mas, como dizia, Kardec teve esse cuidado, e depois, no desenvolvimento da Doutrina, esteve em contato com um milhar de médiuns espalhados por todo o globo, recolhendo notícias do mundo espiritual provenientes das mais diversas partes, como nos dá ampla notícia nas páginas da Revista Espírita. São fatos que fazem parte da história do Espiritismo, mas cujo ensinamento não está ultrapassado, mesmo porque Kardec erigiu este controle através da universalidade do ensino como um dos métodos de investigação da ciência espírita. Apesar disto, no entanto, muitos companheiros atêm-se simplesmente ao que é produzido em seus centros, ou através de determinados médiuns, ou com aval de certas instituições, e geralmente só ao que se produz no território brasileiro. Tudo isto não contraria na prática o discurso teórico da universalidade que geralmente se ouve, bem como as lições de Kardec? Não é dele a advertência de que o Espiritismo subsistiria a todas as perseguições, porque não se poderia obstar a marcha do ensino dos Espíritos, que se manifestariam em outros pontos da face da Terra? Assim sendo, não é possível colocar de lado as comunicações mediúnicas que se obtém em diversas regiões do globo - nos Estados Unidos, na França, na Alemanha, na Itália, etc., sem que devamos esquecer o nosso vizinho, a Argentina, que sempre deu mostras de alta visão espiritual com pensadores de escol. O caráter universalista da Doutrina exige que ela se conserve universalista em seus fundamentos, pois, como assinalava Kardec, a formação de uma ortodoxia espírita só poderá provir da universalidade do ensino dos espíritos, e este critério foi erigido, na Introdução de "O Evangelho segundo o Espiritismo", em uma das garantias da própria Doutrina.

Do Livro "Espiritismo em Movimento" - pelo espírito Deolindo Amorim, psicografado por Elzio Ferreira de Souza - Círculus - 1999.