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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Homem Como Ser Único

Por Jaci Régis

O título desta crônica é o de uma palestra desenvolvida no Centro Espírita Allan Kardec, em Santos-SP.

A princípio questionei a partícula “único”. Por que único? O que denota exclusividade? Certamente não podia ser aplicado ao ser individual, que é multiplicado na população terrena.

Mas é possível analisar o ser humano enquanto “único” num mundo diversificado, considerando sua individualidade e também enquanto gênero.

O ser humano, pela teoria espírita, é o resultado de um longo processo de maturação de um princípio espiritual que evoluiu da simplicidade e da ignorância para o estágio da razão e do sentimento. Essa tese, no aspecto físico e ambiental, está mais ou menos conforme a teoria darwiniana da seleção das espécies, embora sob um novo ângulo.

Mas difere substancialmente das crenças espiritualistas e religiosas que atribuem à criação divina o surgimento do homem e depois da mulher, como seres acabados, mais ou menos na forma atual.

Já a ciência, descompromissada com a ideia de Deus, atribui a existência do ser humano a uma combinação aleatória de fatores genéticos, na cadeia de mamíferos.

Sociológica e politicamente, o ser humano vem caminhando em alternativas de criação, recriação, reformulação de sistemas econômicos, políticos e sociais, alcançando etapas progressivas, com desníveis consideráveis no conjunto da sociedade humana, matizada por ideologias, crenças religiosas, superstições e disputa pelo poder.

Examinando esse “ser único”, podemos dizer que ele é, simultaneamente, um ser do ser, um ser físico e um ser psicológico, mantendo-se, todavia, uno.

O ser do ser é a essência do ser em si mesmo e define sua estrutura íntima, reduzida à sua natureza natural. Ou seja, em relação ao ser humano, é o Espírito em si mesmo, sem nenhuma designação, nome ou forma. Isso pode, sob certas condições, aplicar-se também ao animal que, sendo um princípio espiritual em transição para tornar-se um Espírito é, também, um ser do ser.

O ser físico é a condição da relação do ser do ser, ou Espírito ou princípio espiritual, com formas orgânicas e corporais, no desencadeamento de seu desenvolvimento.

Já o ser psicológico é uma condição exclusiva do ser humano.

Entendemos como “psicológico” o conjunto de qualificações humanas relativamente à razão e ao sentimento. Aí temos a formação de uma tríade ou triângulo, em que os lados se completam, formando uma unidade.

Examinando as exclusividades humanas, temos que destacar duas posições importantes.

O ser humano é único na sua solidão.

O ser do ser, embora trabalhado pelo processo que o transforma de um princípio num Espírito é, por sua natureza, solitário. Ou seja, as emoções, pensamentos, ideias que lhe habitam a mente são exclusivas, intrínsecas e imperscrutáveis.

As relações eu/tu, que definem a natureza social, estabelecem um elo, um liame de comunicação, mas não eliminam a natureza solitária da pessoa. Esta solidão é atenuada quando as ligações são afetivamente compensatórias, seguem para uma completude, uma parceria e uma cumplicidade, descobrindo caminhos semelhantes, idênticos, ao nível das vibrações específicas no campo da integração mente a mente.

Mas isso é um processo que, na etapa evolutiva atual, nem todos conseguem. Ainda assim, permanece a intimidade indevassável da pessoa, na sua estrutura que, segundo a Psicanálise, ela mesma desconhece.

Mas existe outra condição em que o ser humano é único.

Trata-se da sua exclusiva competência e necessidade de estabelecer e desenhar o próprio destino.

Nos reinos anteriores o princípio espiritual segue, na sua condição de ser físico, uma linha determinística inexorável, tipificada pela repetição de comportamentos e formas de atuação no ambiente.

Mas quando o ser do ser atinge o nível humano, conquista o livre-arbítrio, que o torna capaz de utilizar de forma racional e consciente os recursos que já possui no campo dos automatismos comportamentais e de apreender, ordenar, utilizar e concluir sobre novas experiências vivenciais.

Na verdade, o livre-arbítrio é a condição básica sem a qual seria impossível haver o “ser psicológico”.

Nesse sentido, não é possível desconhecer o gênio de Freud ao propor uma estrutura para o ser psicológico. De um lado, com o conjunto do id, representando o acervo pulsional, instintual do ser, o ego, sua atuação no mundo real, na busca da relação com o outro e o superego, que é a sua imersão no mundo moral, dos valores e que o torna um ser psicológico. De outro lado, o inconsciente, depósito de emoções recalcadas, porém vivas, o pré-consciente, sede da memória e o consciente, a face atual da pessoa na sua relação com o ambiente.

Essa complexidade de situações é que tornam o ser humano único, porque tem condições de lidar com uma multiplicidade de pressões, realizar operações mentais simultâneas e atuar no ambiente de forma positiva, transformando-o.

Os fatores que se combinam, na medida de avanço de sua ascensão, usando seu livre-arbítrio, detém-se nos valores morais que, a partir de um dado momento, decidem sua felicidade ou infelicidade, dentro de um quadro diverso e, não raro, conflitante.

Mas esses fatores, que parecem muitas vezes adversos e imprevisíveis, são justamente os que lhe garantirão, no desenrolar de sua vida imortal, o equilíbrio básico que chamamos de perfeição, palavra que, entretanto, não qualifica exatamente o que será alcançado, pois são condições que escapam ao nosso conhecimento e sentimentos atuais.

Continua obscuro o objetivo da criação humana, sob o ponto de vista de sua destinação. Claro que a existência das criaturas humanas é justificada pela sua atuação no ambiente, modificando-o e também, pelo relativo progresso constantemente alcançado pelo uso da inteligência, criatividade e engenhosidade.

Mas qual o objetivo da Divindade ao criar o universo, dotá-lo de condições de agasalhar seres vivos cada vez mais avançados até a criatura humana, prossegue incógnito.

Por fim, parece justo também afirmar que o ser humano é único na possibilidade de sobreviver ao corpo físico, mantendo sua identidade e voltar a encarnar-se sem perder seu acervo evolutivo, embora se submetendo a um novo processo vivencial, diferenciado do anterior e assim sucessivamente.

Fonte: Jornal de cultura espírita “Abertura”, julho de 2001, ano XIV, nº 160 - Santos-SP.

Retirado do site Pense - http://viasantos.com/pense/arquivo/1343.html

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Progresso dos Homens e dos Mundos

Por Allan Kardec

O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus habitantes.

Ora, sendo incessante, como é, a criação dos mundos e dos Espíritos e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude.

Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros orbes, havendo os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo ditoso.

Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado, onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo mais de proveito algum a encarnação cm corpos materiais, passam a viver exclusivamente da vida espiritual, na qual continuam a progredir, mas noutro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos, tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.

Assim, qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do Universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil.

A coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a alma do Universo. Por toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser, tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em dificuldades insuperáveis.

Quando a Terra se encontrou em condições climáticas apropriadas à existência da espécie humana, encarnaram nela Espíritos humanos. Donde vinham? Quer eles tenham sido criados naquele momento; quer tenham procedido, completamente formados, do espaço, de outros mundos, ou da própria Terra, a presença deles nesta, a partir de certa época, é um fato, pois que antes deles só animais havia.

Revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às suas aptidões, e que, fisionomicamente, tinham as características da animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades, esses corpos se modificaram e aperfeiçoaram. É o que a observação comprova.

Deixemos então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação. Malgrado a analogia do seu envoltório com o dos animais, poderemos diferenciá-lo destes últimos pelas faculdades intelectuais e morais que o caracterizam. Como, debaixo das mesmas vestes grosseiras, distinguimos o rústico do homem civilizado.

Conquanto devessem ser pouco adiantados os primeiros que vieram, pela razão mesma de terem de encarnar em corpos muito imperfeitos, diferenças sensíveis haveria decerto entre seus caracteres e aptidões. Os que se assemelhavam, naturalmente se agruparam por analogia e simpatia. Achou-se a Terra, assim, povoada de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao progresso.

Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral. Continuando a encarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, das raças e dos povos, caráter que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso deles.

Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de emigrantes de origens diversas, que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular. Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios.

Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, mesmo sem se levar em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo encarnar na Terra juntamente com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a diferença em matéria de progresso.

Entretanto, os Espíritos selvagens também fazem parte da Humanidade e alcançarão um dia o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas, sem dúvida, não será em corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para encarnar noutro mais elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passar a mundos mais avançados.

Fonte: KARDEC, Allan. A Gênese.