quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Contradição de Roustaing consigo mesmo


Por Nazareno Tourinho

Quem quiser se divertir, sóbria ou delirantemente, com os dislates e disparates da obra de J.B. Roustaing, encontrará em Os Quatro Evangelhos um coquetel de “revelações” fantasiosas, que tanto inclui flagrantes obviedades (“Tudo em a natureza é magnetismo. Tudo é atração produzida por esse agente universal.” – página 194 no Volume I na 6ª edição da FEB), quanto, conforme já vimos no texto anterior, pitorescas absurdidades (“Os Espíritos prepostos à preparação do aparecimento do Messias na terra reuniram em torno de Maria fluídos apropriados, que lhe operaram a distensão do abdômen e o intumesceram. Ainda pela ação dos fluídos empregados, o mênstruo parou durante o tempo preciso de uma gestação, contribuindo esse fato para a aparência da gravidez.” – p. 195).

O pior, porém, nos escritos massudos e hipnóticos do antigo bastonário da Corte Imperial de Bordeaux, são os seus desastrosos deslizes doutrinários de conteúdo filosófico, que manifestam contradição com os postulados de Kardec.

Eis um exemplo disso. Lê-se à página 289 de Os Quatro Evangelhos (prosseguimos citando o Volume I): 

“O Espírito, na origem de sua formação, como essência espiritual, princípio da inteligência, sai do todo universal.”

Veja o leitor, aqui, a contradição de Roustaing com Kardec em um dos pontos fundamentais de nossa filosofia (depois ficam os dirigentes da FEB espalhando por aí que tal divergência reside em “questões secundárias”). A Codificação ensina que os Espíritos são criados pela vontade de Deus (resposta à pergunta nº 81 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS), o que é muito diferente de sair do todo universal.

Veja ainda o leitor, a seguir, a contradição de Roustaing consigo próprio. Ele defende que Jesus evoluiu em linha reta sem nunca ter animado um corpo como o nosso, que em essência não passa de um aglomerado de elementos materiais. No entanto, escreve ao fim da mencionada página:

“O princípio inteligente se desenvolve ao mesmo tempo que a matéria e com ela progride, passando da inércia à vida.”

Deixemos de lado, contudo, estes problemas sutis e transcendentes, que alimentam inúteis especulações teóricas, sem o menor proveito para a consciência do ser humano, ainda desprovida de faculdades que lhe permitam penetrar nos magnos mistérios da sua gênese existencial. Ao invés de ficarmos com os Espíritos pseudossábios autores da mistificação rustenista, fiquemos com os Espíritos lúcidos que nos deram a codificação kardequiana, confessando, com palavras de comovente honestidade, nada saberem como nem quando Deus nos criou (resposta à pergunta nº 78 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS).  É justamente esta lucidez e honestidade que tornam os Espíritos orientadores de Kardec mais confiáveis do que os Espíritos enganadores de Roustaing.

Atentemos para o detalhe de que os Espíritos autores da obra de Roustaing, talvez pertencentes a uma falange de padres jesuítas desencarnados, no fundo almejam comprometer a nossa filosofia com as ideias católicas do pecado original e dos anjos decaídos, expulsos do luminoso paraíso celeste para as trevas deste mundo, os quais somente se salvariam com a graça divina administrada por eles através dos sacramentos.

De acordo com o pensamento roustainguista o nosso planeta não é uma escola de aprimoramento da alma, é uma sucursal do Inferno. Segundo a obra de Roustaing, a encarnação e a reencarnação constituem um castigo e não uma lei natural para TODOS os seres inteligentes, inclusive para aqueles capazes de evoluir em linha reta, como declara a mensagem kardequiana (RESPOSTA à pergunta nº 133 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS).

Só encarna pela primeira vez – garantem os “guias” de Roustaing – quem, descuidando-se das beatitudes angelicais nas esferas fluídicas, cai em desgraça pelo erro. Diz o Volume 1 de Os Quatro Evangelhos na página 311:

“Qualquer que seja a causa da queda, orgulho, inveja ou ateísmo, os que caem, tornando-se por isso Espíritos de trevas, são precipitados nos tenebrosos lugares da encarnação humana, conforme o grau de culpabilidade, nas condições impostas pela necessidade de expiar e progredir.” (Os grifos nos termos “tenebrosos lugares da encarnação humana” são dos autores, não nossos!)

Para que não reste dúvida a esse respeito, eis o arremate à página 317:

“Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos.”

Julgue agora o leitor se os atuais dirigentes da Federação Espírita Brasileira têm razão quando afirmam que as divergências entre Roustaing e Kardec prendem-se a questões secundárias, não afetando a Doutrina.

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

O Espírito do Vento


Por Riviane Damásio

Quem nunca se viu as voltas em dúvidas sobre situações que remetem a experiências espirituais? Sonhos inusitados com cores e tons diferentes dos habituais onde reencontramos pessoas especiais que já fizeram o trajeto de volta ao mundo espiritual ou mesmo com pessoas desconhecidas que intrigaram nossa imaginação...sonhos históricos, onde vivenciamos episódios inusitados e detalhados de outras realidades que fogem à nossa...

O inesperado muitas vezes vem no momento de vigília, naquele relance de visão de algo que passou e parece ter deixado um rastro de luz, um cheiro gostoso no ar, um frio gelado apesar das janelas estarem fechadas.

Encontrar aquela pessoa que não vemos há anos e sobre a qual falamos no dia anterior ou acabamos de pensar, também sacode nosso imaginário ou nossa curiosidade.

Decifrar algo que não está catalogado no Google, nem tem o respaldo de nenhum meio científico, sempre nos cataloga na categoria de meros crédulos leigos e supersticiosos.

Mas, nesta balança onde de um lado pende a matéria e do outro o espírito, usar o contrapeso da razão é sempre prudente, mesmo que esta racionalidade nos empurre para caminhos não convencionais.

O primeiro dever de casa é o de derrubar as paredes que construímos com tijolos frágeis da credulidade e substituí-los por alicerces que venham ao encontro de nossa inteligência, que apesar de limitada pela vastidão do desconhecido, ainda é o norte saudável da nossa condição humana.

Sabemos que nossa mente é poderosa, mas não temos dons ou superpoderes, podemos sim, condensar vivências, desejos, conhecimentos esquecidos em nosso inconsciente e tudo isto pode ser revertido em sonhos inusitados, editados por nossa mente tão criativa quanto a daquele carvalesco da Unidos da Tijuca. E tal qual o público de uma escola de samba, nos surpreendemos com as criações formidáveis deste carnavalesco emocional chamado mente, que tantas vezes converte nossos desejos ou nossos medos em fantasias, sonhos, visões tão reais que as dúvidas quanto a sua autenticidade ou realidade seriam pecado (se pecados existissem e também não fossem fruto de nossas fantasias e temores).

Ahhh! Mas nem todas as peças podem ser creditadas ao cérebro! Inocente tantas vezes quando o real culpado é o vento que trás cheiros familiares ou inusitados. O vento, este culpado que corre rápido levando consigo as provas do crime, carregando-as como as trouxe, silencioso e transparente.

Nossa mente, o vento...e onde fica o fenômeno espiritual? A verdade do Espiritismo? Aquela que nos diz que o mundo espiritual está aqui do nosso lado, tal qual uma dimensão que não enxergamos por não termos todos, enquanto encarnado, o sentido necessário à sua percepção? A que nos informa que os homens desencarnados deslizam ao nosso redor, arraigados às suas paixões carnais? Aquela que nos vislumbra que os espíritos podem sussurrar aos nossos ouvidos seus conselhos e verdades condizentes com seus graus de evolução? A que nos quase surpreende quando informa que os eles podem se fazer visíveis se necessário, mesmo que nossos olhos não tenham sido preparados para ver ou nossos ouvidos para ouvir, avançando pelas fronteiras da nossa ignorância.

Frágil, insegura, subversível é a linha que separa o real do imaginário. Sim, porque não tenha dúvida de que o mundo espiritual é real e que as orientações fundamentadas na Doutrina Espírita são autênticas e apoiadas na fé racionada, fé esta que clama à nossa razão a cada vez que duvidamos, que oscilamos nossas incertezas na balança onde oscila a crendice cega e a realidade, realidade não menos maravilhosa e espetacular, pois nos permite experienciar o espetáculo de estarmos espíritos encarnados, “evoluintes”, fazedores de nós mesmos e de nosso amanhã infinito.

Sopra por aqui um vento silencioso que trás cheiro de chuva, enquanto um sol tórrido queima as telas na parede... Um olhar curioso se debruça sobre a janela e o fenômeno se revela no jardineiro do prédio ao lado, molhando o jardim. É o verdadeiro espírito do vento. E a fé continua queimando do lado de dentro, fortificada pela verdade, sempre...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pensamento e Liberdade de Consciência

Por Carmem Paiva de Barros*

Os espíritos disseram a Allan Kardec que "só pelo pensamento o homem pode gozar de uma liberdade sem limites". JESUS também deixou claro que até mesmo o ato de amar resulta da liberdade de atuação de uma lei que age diretamente no pensamento: a lei de assimilação e da repulsão dos fluidos.

As culturas religiosas até hoje têm demonstrado dificuldade em lidar com essa liberdade do ser humano. Ainda ecoam em nossos ouvidos as palavras arbitrárias de um Deus que manda, vigia, julga, enaltece, escolhe e castiga.

Ligada à fé dogmática e não raciocinada a humanidade aprendeu que para ligar-se ao "todo poderoso" deve obedecê-lo cegamente, conforme prescreve as correntes religiosas judaico-cristãs da Terra.

A livre consciência religiosa, no entanto, é aquela que não se impõe, mas se compreende, porque se conhece. Assim é a Doutrina dos Espíritos, que resgata em seus ensinamentos o respeito à liberdade de ação dos indivíduos, seja em pensamentos ou obras.

Tendo sua codificação baseada no progresso incessante do ser humano dentro das leis eternas e imutáveis, o Espiritismo vem estimular a sociedade terrena a excelência do seu livre arbítrio, que as autoridades religiosas equivocadamente reprimiram, por longo tempo, na tentativa de aproximá-la do Deus que elas criaram e acreditavam.

Por conseguinte, a independência do pensamento religioso prende-se a outro importante conhecimento: o de que somos responsáveis por todos os nossos atos, seja lá de que forma forem praticados. Somente por meio da reflexão e dos acertos que fizer com sua consciência é que conseguirá conquistar a verdadeira sabedoria, na qual não haverá lugar para julgamentos e discriminações sem o crivo do bom senso.

Na questão 837 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta qual é o resultado dos entraves à liberdade de consciência. E os espíritos responderam: "Constranger os homens a agir de maneira diversa ao seu modo de pensar, o que os tornará hipócritas".

Quando alguém vier com aquela conversa de "doutrinar" você para que pense e aja como ele, não se aborreça. Ouça-o pacientemente e depois dê um jeitinho de livrar-se dele com educação.

Bem mais proveito você terá estudando as obras kardequianas e seguindo as orientações morais de JESUS.

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*Carmem Paiva de Barros é Gestora e Redatora do blog Kardec Ponto Com.Fonte: http://amigoshansenianos.blogspot.com/2012/02/pensamento-e-liberdade-de-consciencia.html

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

El Padron Del Pensamiento Determina El Ambiente


Por Orson Peter Carrara

Allan Kardec uso el mismo título,   en su Revista Espirita de mayo de 1867, para abordar la cuestión de la influencia de los malos fluidos – producidos por los sentimientos contrarios a la caridad -, que tornan  los ambientes desagradables y muchas veces intolerables.

No es otra la causa de los constreñimientos que se establecen en las relaciones, especialmente  en grupos donde el ambiente “parece pesar”  y surgen sensaciones  de malestar. Y hay que considerar  que las permanencias  de esos “ambientes pesados”, característicos     por ondas mentales  conflictivas, puede  acarrear graves prejuicios morales y aun mismo desuniones y daños a la salud, ya que son desencadenadores de obsesiones.

 el abordaje del Codificador es extremadamente lucido y coherente. Seleccionamos algunos trechos al lector, indicando, todavía, la fuente    original para la lectura y estudio en la integridad, conforme es citado en el primer parágrafo.

“(…) sabemos que, en una reunión, más allá  de los asistentes corporales, hay siempre auditores invisibles, que siendo la impermeabilidad una propiedad del organismo de los Espíritus, estos pueden hallarse en un número ilimitado en un dado espacio. (…) Se sabe que los fluidos que emanan  de los espíritus son más o menos saludables, conforme sea su grado de depuración. Se conoce su poder curativo en ciertos casos y, también, sus efectos mórbidos de individuo a individuo. Ora, desde que el aire puede ser saturado por esos fluidos, no es evidente que, conforme la naturaleza de los Espíritus que abundan en determinado lugar, el aire ambiente se halla cargado   de elementos  saludables o malsanos, que deben ejercer influencias sobre la salud física, asi como también, sobre la salud moral? ¿Cuando se piensa  en la acción  de la energía que un Espíritu  puede ejercer sobre un hombre, es de admirar la que debe resultar de una aglomeración de centenas o millares de Espíritus? Esta acción  será buena o mala conforme los Espíritus la derramen en un dado medio con un fluido benéfico o maléfico, actuando a la manera  de las emociones fortificantes o de los miasmas deletéreos, que se esparcen en el aire. Así se puede explicar  ciertos efectos colectivos, producidos sobre masas de individuos, el sentimiento de bienestar o de malestar, que se experimenta en ciertos medios  y que no tiene ninguna causa aparente conocida, el entusiasmo o el desaliento, algunas veces  la especie de vértigo que se apodera de una asamblea, de toda una ciudad, aun mismo de un pueblo. En razón de su grado de sensibilidad, cada individuo súfrela influencia de esta atmosfera viciada o vivificante. Por este hecho, que parece fuera de duda y que, al mismo tiempo que la teoría  y la experiencia, nos hallamos en las relaciones del mundo espiritual con el mundo material, un nuevo principio de higiene, que, sin duda, un día la ciencia hará entrar en línea de cuenta. (…)

Ahora, el trecho transcrito es por demás claro. El remite a otras tantas consideraciones, imposibles de ser traídas al simple espacio de una articulo. Más podríamos ponderar sobre como substraerse a estas influencias (y Kardec aborda  eso en la continuidad del texto).

El hecho concreto es que somos siempre responsables por el tipo de influencia que atraemos o alteraciones que producimos en los fluidos que nos rodean por la fuerza de los sentimientos y pensamientos que cultivamos.

En una asamblea, pequeña o numerosa, el padrón dominante de los pensamientos es factor decisivo para determinar el tipo de sensación que vigorizará “en el aire” de aquel ambiente. Alterarlo también es tarea de los mismos pensamientos y sentimientos. Fruto de la perseverancia en el bien y en el reconocimiento de los valores que conducen al establecimiento de la harmonía en la convivencia.

Una vez más surge la necesidad de la mejoría moral como único recurso de poder vivir mejore.


Clique aqui para a versão em português.
Tradução: Mercedes Cruz

Educação e felicidade - Parte II


Por Maria Ribeiro

A definição de lei natural dada pelos Espíritos na questão 614 de O Livro dos Espíritos, que abre assim o estudo sobre as leis morais, elucida: "a lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer e o que não deve fazer, e ele não é infeliz senão quando se afasta dela.” Mais adiante, na questão 621, com a confirmação de que esta lei se encontra na consciência do homem, conclui-se que a felicidade que este busca alhures, está interiorizada em si, bastando-lhe apenas a satisfação dos desejos espirituais para que possa senti-la. 

Em outras palavras, pode-se afirmar que o homem age em desacordo com sua natureza, apenas para satisfazer um desejo, geralmente fruto do egoísmo, que lhe trará um gozo intenso, mas momentâneo. O agir em desacordo é uma demonstração de imaturidade, mesmo que esta esteja por trás da obstinação, uma vez que um Ser devidamente amadurecido não se presta a cenas de caprichos e teimosia. Assim, a presente análise pretende dividir a Humanidade em obstinados – Espíritos mais experientes que ainda, mesmo sob alguma corrente religiosa, deixam que os vícios morais os dominem; e em imaturos – os que estão desprovidos do aprendizado e experiência que os primeiros já gozam.

A infelicidade do homem é conseqüência das más escolhas; e se a lei de Deus é a única verdadeira para a felicidade e está na consciência de cada um, logo infere-se que todos foram dotados de uma fórmula para ser felizes. Não uma fórmula mágica, não uma felicidade pueril, mas o mínimo de vontade firme, e uma felicidade na medida desta firmeza, desta perseverança. Logo, a consciência não pode indicar o mau caminho; ou seja, o senso moral desenvolvido dá ao homem todo o poder sobre sua liberdade.

Para comprovar tal tese, citem-se o que os Codificadores registram na questão 921 de O Livro dos Espíritos ...”o homem é o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele se poupa dos males e chega a uma felicidade tão grande quanto o comporta sua existência sobre a Terra.”

As encarnações sucessivas são a causa do aprimoramento da inteligência humana em todos os aspectos. Um homem verdadeiramente inteligente jamais negará o perdão àquele que lhe ofendeu ou magoou, aliás, quanto mais inteligente, menor será a sensação de ofensa ou mágoa, e por isso será mais feliz, porque pratica a lei Divina. 

Todos conhecerão e compreenderão cada qual a seu turno, as leis divinas. Os Amigos da Espiritualidade, na questão 619, vem esclarecer que “...os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la.” Querer procurar as leis divinas, embora que fora de si mesmo, tem sido o comportamento de uma maioria, mas que representa grande passo para o encontro desejado. O diferencial está, francamente, no QUERER. De acordo com a questão 797 da mesma obra magnânima, a influência das pessoas de bem é que impulsionam as sociedades a reformularem suas leis, e por extensão, sua conduta. 

Quando os Espíritos dizem ser o egoísmo a maior das chagas humanas, também o vinculam à educação,¹ e na questão 914 eles advertem que depende da educação reformar as instituições que o entretêm e excitam. Kardec vê na educação a cura para o estado calamitoso em que as sociedades se encontram, e a chave para o progresso moral.² Mas a educação de que o mestre francês se refere é “aquela que consiste na arte de formar caracteres”.³ Paulatinamente fica à descoberto o quanto a formação de caracteres promove sociedades mais perfeitas, povos mais felizes.  

Nas últimas décadas as sociedades elegeram o consumismo como estilo de vida, ao aceitar e seguidamente manter as instituições que se aproveitam dos vícios humanos para enriquecerem. Personalidades viram sandálias que não duram mais do que duas estações; ou promovem a venda de produtos, seja de uso pessoal seja de uso doméstico, que nem sempre correspondem às expectativas dos ávidos consumidores. Quase todos podem comprar quase tudo hoje em dia, devido às facilidades oferecidas pelas empresas, inclusive as empresas financeiras. De repente as pessoas não param para pensar se sabem o que compram e por que compram. Este retrato das sociedades atuais, principalmente das deslumbradas do terceiro mundo, mostra que as instituições não tem se preocupado com outras questões, senão, as econômicas. Há algumas que ousam fazer apologias à preservação da vida; mas são as mesmas que se utilizam de personalidades em evidência, e muito comumente de mulheres seminuas, para venderem suas marcas de alcoólicos. Seria um acinte à inteligência humana, ou será que não temos homens inteligentes o bastante para perceberem a armadilha cruel à qual se expõem e auxiliam a conservar?

Somente recentemente as escolas se viram coibidas de vender alimentos menos agressivos à saúde das crianças e jovens. Até essas por longo tempo  aderiram ao desenfreado comércio de balas, refrigerantes, frituras, e todo o tipo de empacotado: batatas, chips para todos os gostos, etc que, apesar de conter conservantes, excesso de cloreto de sódio, são relativamente caros, conseguem atrair a preferência da criançada. Parece banal, mas o fato mereceu a atenção das autoridades que terminaram por proibir o comércio destes “alimentos” nas escolas. 
São poucos os que resistem a esta força que arrasta a tantas extravagâncias; mesmo sabendo-se da transitoriedade do momento, a Humanidade tem optado por manter a pose, enquanto intimamente sabe o preço que terá que pagar. 

O consolo é que tudo está submetido à lei de progresso. A função de tudo é progredir em todas as nuances, e muito embora o orgulho ache que não, existe outra força verdadeiramente capaz de conduzir o homem a outros páramos.

De acordo com a questão 625 de O Livro dos Espíritos, nosso guia e modelo é mesmo o Mestre Jesus. A maioria dos que se dizem cristãos, ainda não sabe disso, nem mesmo os Espíritas que têm acesso a esta informação assim de forma tão escancarada. Porque as sociedades elegeram outros modelos: é a estrela da música, ou do cinema, ou das passarelas, ou das revistas... Sempre os mais bem sucedidos materialmente. O carpinteiro de Nazaré ainda não é muito atraente para grande parte dos homens.

Mas já é percebida a necessidade de algo mais incisivo para conter o rumo que as coisas têm tomado. Os homens estão insatisfeitos, infelizes, mas descobriram que o Evangelho pode diminuir as forças mais abrasivas; timidamente a idéia parece convencer, embora ainda não prevaleça. A adesão à moral cristã, capaz de elevar os sentimentos de qualquer que dela se aproxime, faz-se urgente, pois é insustentável continuar num mundo onde todas as instituições estão falidas: a polícia não é confiável; o sistema carcerário é um terror; saúde e educação tratadas com indiferença. 
Mas é a partir das experiências adquiridas que um Espírito obtém a capacidade de traçar o próprio caminho. Sem esta experiência, ele nada sabe, não possui uma bagagem. Sob esta ótica fica fácil compreender a razão de tantos bons conselhos não serem ouvidos – ninguém aprende com a experiência do outro. Portanto, as reflexões são para obstinados e imaturos propriamente ditos, porém as exigências serão mais para os primeiros do que para os segundos, evidentemente.

Pode-se, inclusive, pensar que o grupo dos obstinados conte com maior número de adeptos das várias religiões, especialmente das espiritualistas. Esta reflexão é devido ao resultado que a própria experiência tem demonstrado: muitos companheiros da lide Espírita se confessam, seja por palavras, seja por atitudes, portadores de dificuldades que bem seriam julgadas já por vencidas, dado o tempo de estudos. É evidente que é muito mais fácil a correção dos defeitos materiais do que morais, embora nem todos encontrem a mesma facilidade, mas há que se ponderar sobre alguns pontos. Primeiro: aos portadores de vícios deve ser dado todo o apoio moral, para que se sintam fortes a fim de que também recorram ao auxílio psicológico e tratamentos convencionais. Segundo: não se deve exigir dos outros uma conduta inatacável, por motivos óbvios. E pensar que em muitos casos, o colega que ainda bebe ou fuma, mesmo que socialmente, pode já ter vencido vícios morais, como a maledicência, ou a inveja, por exemplo, vícios que muitos abstêmios ainda cultivam. Terceiro: não ser hipócrita, principalmente com relação aos próprios defeitos e dificuldades para vencê-los. E é exatamente neste ponto que se encontra a maior de todas as dificuldades humanas. Jesus repudia a hipocrisia em várias passagens evangélicas. A recomendação citada na questão 919 de O Livro dos Espíritos – conhece-te a ti mesmo – imprime mais profunda reflexão a respeito, quando cada qual se permite tal ensejo. Entender aquelas palavras dos amigos Espirituais é o mesmo que reconhecer a senectude da raça humana, pois eles dizem: “Um sábio da antiguidade vos disse”. 

A mensagem do Cristo deve atravessar as fronteiras dos livros e dos lábios. Sua magnânima essência não deve permanecer nos romances nem nas ilusões, porque todos precisam da sua vivacidade, da sua realidade tornada presente e ativa. As orientações de Jesus estão todas fundamentadas na Ética, ciência estudada desde muitos séculos antes e que fez muitos adeptos sinceros, leva muitos homens a pensarem sobre seus atos e corrige muitas condutas equivocadas. A educação que Kardec pontuou como primordial para liquidar com os problemas humanos vige em todas as concepções que o termo é capaz de abranger. 

As mensagens evangélicas trazidas para o palco da vida convencerão que é através da simplicidade que o Ser se torna honrado; é cumprindo a vontade do Pai que a criatura se eleva, porque disso se alimenta: “Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou”.(João 4, 34) E tudo isto se faz no dia a dia, na convivência com os semelhantes. Faz-se urgente tornar o Cristo uma personagem tão conhecida quanto um jogador de futebol, tão querido quanto um astro de Hollywood e tão plagiado quanto um modelo das passarelas. É preciso exemplificar, na medida da condição de cada um, o amor puro que Ele ensinou. É necessário que os Espíritas aprendam a rever conceitos, a mudar de opinião sobre si mesmos. Atitudes cristãs são lições que influenciam em algum grau, o mundo em redor. 

A Terra, conforme dissertam os Codificadores, em O Evangelho segundo o Espiritismo, é uma escola, é uma prisão, é um hospital4. Com um pouco de reflexão, ver-se-á que nos três ambientes é possível promover a reeducação de hábitos, ou mesmo a educação primária, básica de vários aspectos da personalidade humana. O planeta se encontra como uma dona de casa que faz uma faxina para aguardar por uma comitiva que breve se aportará. O período é angustiante, a espera fastidiosa, mas o trabalho, embora pouco apreciável, não pode parar: ela segue dia a dia fiel na sua incumbência. 
Agora é momento de Jesus ficar em evidência por meio das atitudes dos seus seguidores.

¹ Questão 913 – O Livro dos Espíritos
² ------------- 917 – ------------------
³ --------- 685 - ----------------------
4- O Evangelho segundo o Espiritismo – Capítulo III – item 7.

Leia aqui a primeira parte deste artigo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Reencarnação como processo educativo – Parte II


Por Ricardo Malta

Conforme já tivemos a oportunidade de externar (1º parte): a reencarnação não é um processo punitivo. “Reencarna-se para aprender, para educar-se, para crescer, a partir de novos elementos, de uma nova oportunidade, num novo ambiente, onde se possa construir ou reconstruir sua própria elevação espiritual.” (Adenáuer Novaes; Reencarnação-Processo Educativo)

Vivemos numa grande escola. Retornamos ao envoltório carnal na condição de aprendizes. Alunos em busca de novos conhecimentos. Repetimos tarefas outrora mal acabadas, pois “o processo de aprendizagem se dá também por repetição e revisão das lições. A experiência repetida significa a mesma lição ainda não aprendida” (op.cit.)

O aprendizado exige esforço, dedicação e, não raro, causa-nos uma espécie sofrimento. Mas esse é o caminho natural que deve ser traçado pelo estudante. Não há como adquirir conhecimento sem esforço. Quem deseja passar num concurso público não espera facilidades, sabe que terá que abdicar de muitos momentos de lazer, mas também reconhece que há um objetivo maior para ser conquistado. Isso ocorre com o graduando, mestrando, doutorando, etc. Enfim, porque haveria de ser diferente com o aluno matriculado na escola terrestre? Inconcebível. 

“É comum dizer-se que o espírito reencarnou para “pagar”, pois quem deve tem que pagar. Tal afirmação deve ser entendida no seu sentido figurado. A “dívida” deve ser entendida como ausência de conhecimento, isto é, desconhecimento em relação às leis de Deus. O entendimento deve ser de que, se o espírito, por exemplo, odeia, ele desconhece a lei do Amor. Reencarna, portanto, para viver experiências que o façam aprender aspectos que o levem ao conhecimento da respectiva lei. ‘Divida’ e ‘Resgate’ são expressões simbólicas de nossa ignorância às leis de Deus.” (op.cit.)

Ninguém deseja sofrer. Nada mais natural do que a busca pelo bem estar. Parece-nos uma espécie de “pressentimento” ou “intuição” de que algo maior nos espera. O Espírito guarda a certeza intima de existências mais felizes, que será conquistada mediante o esforço incessante de evolução.

Será por acaso a existência de tsunamis, terremotos, furacões, etc.?  Não. Tudo tem um objetivo especifico. “Há métodos educativos coletivos, os quais visam alcançar grupos de espíritos necessitados de um mesmo aprendizado. A humanidade, por vezes, atravessa processos educativos coletivos, cujo planejamento pertence a instâncias superiores e visam dar novo ritmo ao planeta” (op.cit.)

Como são perfeitas as leis divinas! A doutrina da reencarnação é fantástica. É a peça que faltava no quebra-cabeça. Como é bom saber que Deus não é temor, e sim que é Amor, Misericórdia, Bondade, Justiça, enfim: Perfeição absoluta.

Nada de penas eternas, punições ou castigos macabros. Também não há ociosidade entediante do céu teológico infantil. Tudo é trabalho, progresso, evolução incessante! Não existem eleitos e excluídos: há seres em constante ascensão. A reencarnação, se bem compreendida, constitui um valioso mecanismo de progresso da humanidade. A vida, diante da visão reencarnacionista, passa a ter um objetivo maior. Estamos (re)encarnados a fim de evoluir no campo intelecto-moral, o egoísmo cede lugar à caridade, compreende-se, por conseqüência, conforme a expressão de Leon Denis, o problema do ser, da dor e do destino. Tudo é aprendizado.

Claro que não são as vicissitudes (dor, doença, sofrimento, etc.) da vida, compreendidas em si mesmas, que nos fazem crescer espiritualmente, mas nossas atitudes diante delas. Podemos nos resignar (não confundir com conformismo) e lutar para superar as provas e expiações ou passar toda uma encarnação blasfemando contra a vida e a divindade. Na primeira situação haverá evolução, na segunda hipótese o ser permanece estacionado na escala ascensional e, provavelmente, passará por situações análogas, ou mais complexas, até que o aprendizado seja verdadeiramente auferido. Pelo exposto, resta evidente que somos nós os responsáveis pelo nosso destino, iremos colher em existências futuras aquilo que estamos semeando agora: “Se você prefere sofrer a ser alegre, o universo obedecerá com todo prazer” (Lou Marinoff; Pergunte a Platão)

“No mundo tereis aflições” – disse o mestre nazareno – “mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33) Chegará o momento em que nós também iremos dizer: Eu venci o mundo! Mas para que isso se concretize é “indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói.” (Leon Denis; O problema do ser do destino e da dor) 

Clique aqui para ler a primeira parte do artigo de Ricardo Malta.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Padrão dos pensamentos determina ambiente


Por Orson Peter Carrara
      
Allan Kardec usou o mesmo título, em sua Revista Espírita de maio de 1867, para abordar a questão da influência dos maus fluidos - produzidos pelos sentimentos contrários à caridade -, que tornam os ambientes desagradáveis e muitas vezes intoleráveis.
      
Não é outra a causa dos constrangimentos que se estabelecem nos relacionamentos, especialmente em grupos onde o ambiente "parece pesar" e surgem as sensações de desconforto. E há que se considerar que a permanências desses "ambientes pesados", característicos de ondas mentais conflitantes, pode acarretar graves prejuízos morais e mesmo desuniões e danos à saúde, já que desencadeadores de obsessões.
      
A abordagem do Codificador é extremamente lúcida e coerente. Selecionamos alguns trechos ao leitor, indicando, todavia, a fonte original para leitura e estudo na íntegra, conforme citado no primeiro parágrafo.
      
"(...) sabemos que, numa reunião, além dos assistentes corporais, há sempre auditores invisíveis; que sendo a impermeabilidade uma propriedade do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado num dado espaço. (...) Sabe-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhece-se o seu poder curativo em certos casos e, também, seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo. Ora, desde que o ar pode ser saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que abundam em determinado lugar, o ar ambiente se ache carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer influências sobre a saúde física, assim como sobre a saúde moral? Quando se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem, é de admirar-se da que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem num dado meio um fluido benéfico ou maléfico, agindo à maneira das emanações fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se espalham no ar. Assim se pode explicar certos efeitos coletivos, produzidos sobre massas de indivíduos, o sentimento de bem-estar ou de mal-estar, que se experimenta em certos meios, e que não tem nenhuma causa aparente conhecida, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes a espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de toda uma cidade, mesmo de todo um povo. Em razão do seu grau de sensibilidade, cada indivíduo sofre a influência desta atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida e que, ao mesmo tempo que a teoria e a experiência, nós achamos nas relações do mundo espiritual com o mundo material, um novo princípio de higiene, que, sem dúvida, um dia a ciência fará entrar em linha de conta.(...)"

Ora, o trecho transcrito é por demais claro. Ele remete a outras tantas considerações, impossíveis de serem trazidas ao simples espaço de um artigo. Mas poderíamos ponderar sobre como subtrair-se a estas influências (e Kardec aborda isso na continuidade do texto).

O fato concreto é que somos sempre responsáveis pelo tipo de influência que atraímos ou alterações que produzimos nos fluidos que nos circundam por força dos sentimentos e pensamentos que cultivamos.

Numa assembléia, pequena ou numerosa, o padrão dominante dos pensamentos é fator decisivo para determinar o tipo de sensação que vigorará "no ar" daquele ambiente. Alterá-lo também é tarefa dos mesmos pensamentos e sentimentos. Fruto da perseverança no bem e no reconhecimento dos valores que conduzem ao estabelecimento da harmonia na convivência.

Uma vez mais surge a necessidade da melhora moral como único recurso de vivermos melhor.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Kardec analisa Swedenborg


Por Maria das Graças Cabral

Na Revista Espírita do mês de novembro de 1859, Allan Kardec publica um artigo altamente esclarecedor sobre a veracidade ou não de certas doutrinas e revelações feitas por Espíritos. Na realidade, o Mestre nos dá uma aula sobre tal problemática, analisando as experiências mediúnicas de Swedenborg, e suas constatações pós mortem.

Inicialmente, o Codificador faz um breve resumo biográfico de Swedenborg, e comenta que o mesmo “é um desses personagens mais conhecidos de nome que de fato, ao menos para o vulgo.” Segundo Kardec, “suas obras muito volumosas e, em geral, muito abstratas, quase que só são lidas pelos eruditos.” Daí, para uns, “ele é considerado um grande homem, para outros, não passa de um charlatão, de um visionário, de um taumaturgo.”

Assevera o Codificador, que na realidade a doutrina defendida por Swedenborg deixa muito a desejar. E que o próprio Swedenborg, na condição de Espírito, está longe de aprová-La em todos os pontos! No entanto, segundo as palavras de Kardec, “por mais refutável que seja, nem por isso deixará de ser um dos homens mais eminentes do seu século.”

Afinal, quem foi Swedenborg? - Emmanuel Swedenborg, nasceu em 1688, em Estocolmo, e faleceu em Londres, em 1722, aos 84 anos de idade. Destacou-se em todas as ciências, especialmente na Teologia, na Mecânica, na Física e na Metalurgia. Em 1716, Carlos XII o nomeou seu assessor na Escola de Metalurgia de Estocolmo. A rainha Ulrica o fez nobre, e ele ocupou os pontos de maior relevo, com distinção, até 1743, época em que teve a sua primeira revelação espírita. Tinha então, 55 anos. Pediu demissão e não quis mais se ocupar senão de seu apostolado e do estabelecimento da doutrina Nova Jerusalém.

Allan Kardec observa que “mesmo rendendo justiça ao mérito pessoal de Swedenborg, como cientista e como homem de bem, não nos podemos constituir defensores de doutrinas que o mais elementar bom-senso condena. À esse respeito, vale pontuar que hodiernamente, tal determinação kardeciana, é totalmente desconsiderada! Qualquer mensagem mediúnica, ou entendimentos pessoais de médiuns e/ou palestrantes famosos ou não, por mais esdrúxulos e contraditórios que sejam, são acatados, publicados e divulgados como preceitos espíritas válidos e procedentes.

Acrescenta o Codificador: - “Ele (Swedenborg) cometeu um equívoco dificilmente perdoável, não obstante sua experiência das coisas do mundo oculto: o de aceitar cegamente tudo quanto lhe era ditado, sem o submeter ao controle severo da razão. Se tivesse pesado maduramente os prós e os contras, teria reconhecido princípios irreconciliáveis com a lógica, por menos rigorosa que fosse. (...) A qualidade que a si mesmo se atribui o Espírito que a ele se manifestou bastaria para o por em guarda, sobretudo se considerarmos a trivialidade de sua apresentação. (...) Seus próprios erros devem ser um ensinamento para os médiuns demasiado crédulos, que certos Espíritos procuram fascinar, lisonjeando-lhes a vaidade ou os preconceitos por uma linguagem pomposa ou de aparências enganosas.(grifei) Observemos o alerta de Kardec para o controle severo da razão!

Prosseguindo em seus esclarecimentos, o Mestre transcreve uma comunicação dada pelo Espírito de Swedenborg, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 23 de setembro de 1859, na qual, o Espírito faz a abertura da sessão, pontuando dentre outras coisas, que sua moral espírita e a sua doutrina, não estariam isentas de grandes erros, os quais atualmente (na condição de Espírito) reconhece. Nega por exemplo, a “eternidade das penas“, como também a existência “do mundo dos anjos”. Assim se expressa o Espírito: “O que eu também dizia do mundo dos anjos, que é o que pregam os templos, não passava de ilusão dos meus sentidos; acreditei vê-lo, agia de boa-fé, mas enganei-me.” (grifei) Vale ressaltar aqui, o cuidado para as tais “cidades espirituais” tão em voga na literatura espiritualista!

Vejamos agora, algumas indagações feitas por Allan Kardec, e as respectivas respostas dadas pelo Espírito de Swedenborg:

- Qual foi o Espírito que vos apareceu, dizendo ser o próprio Deus? Era realmente Deus? Resposta - Não. Acreditei no que me falava porque nele via um ser sobre-humano e fiquei lisonjeado. (grifei)

- Por que ele tomou o nome de Deus?
Resposta - Para ser mais bem obedecido. (grifei) O Espírito utiliza-se do nome de personalidades famosas e respeitadas para que seja facilmente obedecido pelo médium lisonjeado e temeroso.

- Aquele Espírito que vos fez escrever coisas que hoje reconheceis como errôneas. Ele o fez com boa ou com má intenção?
- Não o fez com má intenção; ele próprio se enganou, porque não era suficientemente esclarecido. Agora percebo que as ilusões do meu próprio Espírito e de minha inteligência o influenciavam, mau grado seu. Entretanto, no meio de alguns erros de sistema, fácil é reconhecer grandes verdades. (grifei)

Oportuno observar na fala de Swedenborg, que o Espírito comunicante era de grau evolutivo inferior, e se deixava também influenciar pelas “ilusões” criadas por Swedenborg, “mau grado seu”!

- O princípio de vossa doutrina repousa sobre as correspondências. Continuais acreditando nessas relações que encontráveis entre cada coisa do mundo material, e cada coisa do mundo moral?
Resposta - Não; é uma ficção. (grifei)

- Poderíeis dizer-nos de que maneira recebíeis as comunicações dos Espíritos? Escrevíeis aquilo que vos era revelado à maneira de nossos médiuns, ou por inspiração?
Resposta - Quando me achava em silêncio e em recolhimento, meu Espírito ficava como que maravilhado, extasiado, e eu via claramente uma imagem diante de mim, que me falava e ditava o que deveria escrever; algumas vezes minha imaginação se misturava nisso. (grifei)

Diante de ensinamentos tão importantes, ministrados e exemplificados com tanta propriedade pelo Mestre Allan Kardec, constatamos da necessidade do estudo efetivo e aprofundado das Obras Fundamentais da Codificação, e da Revista Espírita. Só assim poderemos identificar e rechaçar a avalanche de mensagens de Espíritos desencarnados e/ou encarnados, produto de ilusões e mistificações, e que acabam por confundir e desvirtuar os preceitos doutrinários Espíritas, levando multidões de desavisados ao engano e a futuras decepções. 
 
REFERÊNCIA:
KARDEC, Allan. REVISTA ESPÍRITA, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano II, novembro de 1859. Ed. FEB., RJ/RJ, 2ª edição, 2004, p. 437/446.

In: Um Olhar Espírita - http://umolharespirita1.blogspot.com/2012/02/kardec-analisa-swedenborg.html

Divergência Doutrinária Fundamental


Por Nazareno Tourinho

Entremos agora na parte principal de Os Quatro Evangelhos publicados por Jean-Baptiste Roustaing, de suspeita origem mediúnica jamais sancionada pelo critério de universalidade no ensino dos Espíritos.

Preparando a defesa da tese fantasiosa do corpo fluídico de Jesus, os autores que teriam do Além ditado a obra dizem à página 166 do Volume 1:

“Mas, não esqueçais: todo aquele que reveste e sofre, como vós, a encarnação material humana – é falível. Jesus era demasiado puro para vestir a libré do culpado.”

Nota-se, logo, como a articulação do pensamento é defeituosa e sofística. Da premissa de que o Espírito encarnado pode falir retira-se a conclusão de que ele deve falir, ou pior, faliu, sendo culpado.

Aqui, nesta sutileza pouco percebida por alguns companheiros de crença, impregnados de misticismo, encontra-se a contradição fundamental da mensagem de Roustaing com a mensagem de Kardec, contradição grave e profunda que a Diretoria da FEB esforça-se por esconder, classificando as diferenças teóricas entre uma obra e outra na categoria de “questões secundárias” incapazes de “afetar a doutrina”.

Como não afeta a nossa Doutrina, cuja estrutura filosófica repousa na encarnação e reencarnação, através das quais funcionam as leis evolutivas de causa e efeito, o fato de Roustaing contradizer Kardec negando que TODOS os Espíritos encarnam? (Este princípio básico da Doutrina está enfaticamente estabelecido na resposta dada à pergunta nº 133 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS).

A ideia de que só os Espíritos culpados animam corpos humanos legitima a lenda católica dos anjos decaídos, expressando o injustificável desprezo que a Igreja Romana sempre devotou ao corpo carnal, criação de DEUS como tudo o mais dentro da Natureza. Reproduzindo-se o corpo físico pela atividade do sexo, e precisando os padres exaltar a virgindade porque fogem ao exercício da função genética, outra alternativa não têm eles senão apregoar, consoante o faz Roustaing, servindo-lhes de instrumento, à página 112 do Volume 1 de Os Quatro Evangelhos, que possuímos um “corpo de lama”.

Eis como no referido tomo os autores discorrem sobre o hipotético corpo fluídico de Jesus a partir da sua geração:

“Tudo, na vida “humana” de Jesus, foi apenas aparente, mas se passou em condições tais que, para os homens, houve ilusão, assim como para Maria e José, devendo todos acreditar na sua “humanidade”...”. (Página 243; as aspas pelo meio e os destaques em itálicos são dos autores).

Consta ainda da mesma página o que segue, para levarmos a sério, sem rir:

“Quando Maria, sendo Jesus, na aparência, pequenino, lhe dava o seio – o leite era desviado pelos Espíritos superiores que o cercavam, de um modo bem simples: em vez de ser sorvido pelo “menino”, que dele não precisava, era restituído à massa do sangue por uma ação fluídica, que se exercia sobre Maria, inconsciente dela”.

Neste tópico vê-se como a imaginação dos autores se mostra fértil, porém no seguinte verifica-se como eles saem pela tangente na hora de explicar o mais importante. Ei-lo:

“Não vos espanteis tampouco de que Maria tivesse leite, uma vez que não sofrera a maternidade humana e era virgem. A maternidade não é uma condição absoluta para que se produza o leite, que não passa de uma decomposição do sangue, determinável por diversas causas, que não nos cabe determinar aqui”. (Página 244)

Também na página 258, ao tentar fornecer dados explicativos sobre como o corpo de Jesus podia parecer carnal sendo tão só uma condensação do perispírito, declaram os autores:

“Para vos darmos explicação a este respeito, teríamos de entrar em minúcias acerca da natureza dos fluídos e isso ainda não é possível.”

Além de fugir da raia quando os acontecimentos se complicam para as suas ingênuas explicações, os autores chegam ao cúmulo da insensatez escrevendo coisas assim:

“...Jesus, “se ausentava”, afigurando-se a Maria e aos homens que repartia assim o tempo entre os deveres humanos e a prece, sem que jamais o tivessem visto fazer qualquer refeição, tomar qualquer alimento humano, seja em casa com a família, seja alhures”. (Página 255)

Ora, isto é um despautério, pois todo mundo sabe que, segundo as narrativas evangélicas, Jesus sentou à mesa para alimentar-se com várias pessoas, inclusive em ocasiões festivas, havendo pouco antes da crucificação participado de uma célebre ceia com os discípulos.

Mais absurdo, no entanto, do que os aspectos ridículos de tais “revelações”, é o conceito depreciativo de Jesus formulado pelos autores, à guisa de enaltecimento, na página 205. Leiamos:

“Queremos dizer que Jesus, de uma elevação extrema, incompatível com a vossa essência, não podia submeter-se à encarnação material humana. Era-lhe impossível suportar o contato da matéria, como vos é impossível suportar um odor fétido.”

Afora a impropriedade doutrinária de que a elevação extrema de Jesus é incompatível com a nossa essência, pois todos, inclusive o amorável Mestre, somos dotados da mesma essência como filhos de DEUS (o Catolicismo, e não o Espiritismo, é que confunde o Cristo com a Divindade), defrontamos neste último tópico a leviana afirmação de ser impossível a Jesus suportar o contacto da matéria. Ora, por que lhe seria tal feito impossível? Por que, com seus formidáveis poderes psíquicos, não teria ele condição de superar os incômodos do relacionamento temporário com a fisiologia humana?

Observe o leitor como a obra de Roustaing se baseia em falsos pressupostos, sendo, portanto, destituída da mais elementar substância lógica. Não passa de pura ficção, ela, sim, incompatível com a essência da filosofia espírita, que Allan Kardec soube tão bem codificar.

Fonte:
TOURINHO, Nazareno.  As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.

Educación Y Felicidad

Por Maria Ribeiro

Muchos podrán cuestionar cual es la relación entre la educación y la felicidad, ya que cada uno de esos conceptos  tiene su definición propia, no habiendo ningún vínculo, aparentemente  ni aun mismo indirectamente, entre ambos. Para realizar  la asociación entre  educación y felicidad, es preciso conocer ante todo, tales definiciones, según lo considera el diccionario*. Por tanto, educación  es la acción de desenvolver las facultades psíquicas, intelectuales y morales; conocimiento y prácticas de los hábitos sociales; buenas maneras. Y felicidad es el estado de quien es feliz; ventura; bienestar; alegría.

El mundo ofrece muchas formas de adquirirse tanto una como otra, bien como formas, aunque sutiles, para que ambas interactúen a través de las acciones humanas.

La experiencia  hace demostraciones inequívocas   de cuanto la educación es necesaria para conquistar la felicidad, y aun mismo  que  la educación representa una adquisición individual tanto como la propia felicidad. En otras palabras: educación es conquista y felicidad  es consecuencia, ni conquista, ni privilegio.

Bajo esta concepción, se entiende porque la reencarnación es ley divina indispensable para la evolución humana-espiritual. Sin la reglamentación  de valores cristianos, jamás se experimentará la felicidad en su legítima versión. Ya antes de Cristo, la Filosofía intentaba conducir  al hombre para una reflexión profunda, para pensamientos más maduros sobre la vida, sobre la muerte, sobre un Ser Superior, culminando en una visión introspectiva. El hombre volviendo a mirar para si mismo en su interior, pasa a comprender mejor lo que pasa a su alrededor, cual es su destino, el porque de los sinsabores, de las desgracias, cual es su papel  ante todo esto. Comprende su inferioridad y la necesidad de educarse, viendo que la felicidad real es incompatible  con sentimientos de egoísmo y de todos los que de este se originan.

¿En un mundo como la Tierra, donde el crimen en todos sus matices ruge sin cesar, puede haber un único individuo realmente feliz? Se puede decir que apenas los hombres en los cuales habitan Espíritus más adelantados gozan de tal sentimiento. Estos se encuentran en un estado más avanzado de educación espiritual a través de las experiencias reencarnatorios que supieron aprovechar bien. Más en estos no se ve la risa descarada, ni la alegría ruidosa, ni señal de excitación, porque estas características  son de la felicidad egoísta, insana, irreflexiva o inconsciente. Al contrario, traen la serenidad en la mirada, la dulzura en la descripción de la sonrisa que es siempre verdadera, los gestos  y las palabras invariablemente  mencionan el auxilio, la cortesía  o la gratitud.

Más no fue siempre así. Educación es un proceso. Proceso es una cosa  que no acontece de repente, más si paulatinamente y metodológicamente.

De acuerdo  con necesidades especificas, se reencarna con esta o aquella característica física, en esta o aquella familia o clase social, también como la localidad y otros factores son determinados para que faciliten la jornada del que reencarna. Mas estas facilidades lejos está de significar   languidez o privilegios. Educación espiritual es la educación del espíritu, que  se allá en estado de inmadurez. Repitiendo Pablo:cuando yo era niño, , hablaba como un niño, discurría como un niño,  más luego llegue a ser hombre, deje las cosas de niño. Es la inmadurez espiritual que impele al hombre a prácticas odiosas, más, o hacer referencia a un eufemismo - prácticas de los niños. Es  por desconocer el bien por lo que el hombre  hace el mal; es por ignorar la Verdad que el hombre vive en el error; es por desconocer la luz  que disipa las tinieblas. Más el mal, el error  y las tinieblas no son su esencia, más el hombre aun no descubrió eso. cuando, “llegará a ser hombre”, o sea,  cuando creciera  espiritualmente a través de la educación, que nada más es la encarnación bien aprovechada, dejará de practicar tales infantilidades, que  hoy aun son juzgadas como barbaridades, perversidades, crueldades…

Muchos hermanos entre nosotros experimentan  tal estado evolutivo, sacando el sosiego donde toda una sociedad que asiste atónita, a escenas horribles todos los días. Hay los que quieren perseverar en el mal, que se sirven de la inteligencia adquirida para corromper y engañar,; más  hay los que posiblemente se encuentran en un estado moral-intelectual muy atrasado, tiene pocas experiencias  en sociedades civilizadas. (OLE** - 102) Las leyes penalizan , aunque absurdamente, en vez de emprender para estos compañeros formulas educativas, en este caso, más allá,  formulas de reeducación. Se habla de la pena de muerte en Brasil, más ya tenemos una pena de muerte, aunque velada, en casos específicos, lo que muestra la hipocresía de nuestra sociedad, de nuestras autoridades policiales. El ciudadano común en estado de euforia desea el linchamiento del infractor; en casos que ganan notoriedad el tema vuelve a un primer plano  como solución para el problema. Es así que la sociedad civilizada auxilia  a estos hermanos que ignoran el bien, reforzando en ellos  el sentimiento de agresividad, de venganza, de más violencia. La solución para el problema tal vez esté en la percepción de que aun  no fueron vencidos los sentimientos menos dignos, animalizados y degradantes aun mismos entre los civilizados, cuyos sentimientos se encuentran en proceso de mejoramiento.

Un ser debidamente educado para la Vida en ningun momento deseará el mal, aun mismo para aquel que es juzgado como el peor de los criminales. Se ha olvidado que estos también tienen madres que lloran por sus destinos malogrados; se ha  hostilizado la idea de que estos  comparten la misma paternidad Divina.

Se testimonia, principalmente en épocas de festejos,  una felicidad  alocada y casi primitiva, descomprometida, evidentemente  de la situación del semejante: cada buscando la forma de ser feliz. Así, queda olvidado que es imposible encontrar la felicidad solo, porque esta es un tesoro que pertenece a todos; ser feliz solo es impracticable, cuando se trata de la legítima felicidad cristiana. y solamente el hombre espiritualmente educado será capaz de descubrir la importancia del  prójimo en su vida, y pasará a valorizar la vida y la naturaleza  que lo rodea, sintiendo en todo una sensación indeleble de felicidad.

* Diccionário Aurélio

Tradução: Mercedes Cruz

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Educação e felicidade


Por Maria Ribeiro

Muitos poderão questionar qual a relação entre a educação e a felicidade, já que cada um desses conceitos tem sua definição própria, não havendo nenhum vínculo, aparentemente nem mesmo indireto, entre ambos. Para realizar a associação entre educação e felicidade, é preciso conhecer antes de tudo, tais definições, segundo o que considera o dicionário*. Portanto, educação é a ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais; conhecimento e práticas dos hábitos sociais; boas maneiras. E felicidade é o estado de quem é feliz; ventura; bem aventurança; bem estar; contentamento.

O mundo oferece muitas formas de se adquirir tanto uma como outra, bem como formas, ainda que sutis, para que ambas interajam através das ações humanas. 

A experiência faz demonstrações inequívocas do quanto a educação é necessária para a conquista da felicidade, e mesmo a educação representa aquisição individual tanto quanto a própria felicidade. Melhor dizendo: educação é conquista e felicidade lhe é conseqüente, nem conquista, nem privilégio.

Sob esta concepção, entende-se porque a reencarnação configura lei divina indispensável à evolução humano-espiritual. Sem arregimentação de valores cristãos, jamais se experimentará a felicidade em sua versão legítima. Já antes do Cristo, a Filosofia tentava conduzir o homem para uma reflexão profunda, para pensamentos mais maduros sobre a vida, sobre a morte, sobre um Ser superior, culminando numa visão introspectiva. O homem voltando o olhar para o próprio interior, passa a compreender melhor o que se passa a sua volta, qual a sua destinação, o porquê dos dissabores, das desgraças, qual o seu papel diante de tudo isto. Compreende sua inferioridade e a necessidade de educar-se, visto que a real felicidade é incompatível com sentimentos de egoísmo e todos os que deste se originam.  

Num mundo como a Terra, onde o crime em todas as suas nuanças grassa sem trégua, pode haver um único indivíduo realmente feliz? Pode-se dizer que apenas os homens nos quais habitam Espíritos mais adiantados gozam de tal sentimento. Estes se encontram num estágio mais avançado de educação espiritual através das experiências reencarnatórias que bem souberam aproveitar. Mas nestes não se vê o riso escancarado, nem a alegria ruidosa, nem sinal de excitação, porque estes caracteres são da felicidade egoísta, insana, irrefletida ou inconsciente. Ao contrário, trazem a serenidade no olhar, a doçura na discrição do sorriso que é sempre verdadeiro, os gestos e as palavras invariavelmente mencionam o auxílio, a cortesia ou a gratidão. 

Mas não foi sempre assim. Educação é um processo. Processo é uma coisa que não acontece de repente, mas paulatina e metodologicamente. 

De acordo com necessidades específicas, reencarna-se com esta ou aquela característica física, nesta ou naquela família ou classe social, bem como a localidade e outros fatores são determinados para que facilitem a jornada do reencarnante. Mas este facilitar longe está de significar moleza e regalias. Educação espiritual é a educação do Espírito, que ora se acha em estado de imaturidade. Repetindo Paulo: quando eu era menino, falava como menino, discorria como menino, mas logo que cheguei a ser homem, deixei as coisas de menino. É a imaturidade espiritual que impele o homem a práticas odiosas, más, ou, recorra-se a um eufemismo – a práticas infantis. É por desconhecer o bem que o homem faz o mal; é por ignorar a Verdade que o homem vive no erro; é por desconhecer a luz que espalha as trevas. Mas o mal, o erro e as trevas não são a sua essência, mas o homem ainda não descobriu isso. Quando “chegar a ser homem”, ou seja, quando crescer espiritualmente através da educação, que nada mais é do que reencarnações bem aproveitadas, deixará de praticar tais infantilidades, que hoje ainda são julgadas como barbaridades, perversidades, crueldades...

Muitos irmãos entre nós experimentam tal estágio evolutivo, tirando o sossego de toda uma sociedade que assiste atônita, cenas horríveis todos os dias. Há os que querem perseverar no mal, que se utilizam da inteligência adquirida para corromper e enganar; mas há os que possivelmente se encontram num estágio moral-intelectual muito atrasado, têm poucas experiências em sociedades civilizadas. (OLE** – 102) As leis penalizam, ainda que absurdamente, ao invés de empreender para estes companheiros fórmulas educacionais, neste caso, aliás, fórmulas de reeducação. Fala-se em pena de morte no Brasil, mas já temos uma pena de morte, ainda que velada, em casos específicos, o que mostra a hipocrisia da nossa sociedade, das nossas autoridades policiais. O cidadão comum em estado de euforia deseja o linchamento do infrator; em casos que ganham notoriedade o tema volta à baila como solução para o problema. É assim que a sociedade civilizada auxilia estes irmãos que ignoram o bem, reforçando neles o sentimento de agressividade, de vingança, de mais violência. A solução para o problema talvez esteja na percepção de que ainda não foram vencidos os sentimentos menos dignos, animalizantes e degradantes mesmo entre os civilizados, cujos sentimentos se encontram em processo de aprimoramento.

Um Ser devidamente educado para a Vida em tempo algum desejará o mal, mesmo para aquele que for julgado como o pior dos criminosos. Tem-se esquecido que estes também têm mães que choram por seus destinos malogrados; tem-se hostilizado a idéia de que estes compartilham da mesma paternidade Divina. 

Testemunha-se, principalmente em épocas de festejos, uma felicidade tresloucada e quase primitiva, descompromissada, evidentemente da situação do semelhante: cada um que procure um jeito de ser feliz. Assim, fica esquecido que é impossível encontrar a felicidade sozinho, porque esta é um tesouro que pertence a todos; ser feliz sozinho é impraticável, em se tratando da legítima felicidade cristã. E somente o homem espiritualmente educado será capaz de descobrir a importância do próximo em sua vida, e passará a valorizar a vida e a natureza que o cerca, sentindo em tudo uma sensação indelével de felicidade.

* Dicionário Aurélio
** OLE – O Livro dos Espíritos

A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces.
-- Aristóteles