sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Mediunidade no tempo de Jesus

Por Paulo da Silva Neto Sobrinho

“Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocês” (PAULO, aos coríntios).

Introdução

A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.

É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.

Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.

A mediunidade e Jesus

Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.

O evangelista Mateus narra o seguinte:

“Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).

A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.

Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.

O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:

“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).

Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.

A mediunidade no apostolado

Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:

“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).

Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.

Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:

“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).

Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.

A mediunidade como era “transmitida”

A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.

Em Atos 8, 17-18:

“Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Dêem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”.

Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.

Em Atos 19, 1-7:

“Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze homens”.

Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.

A mediunidade como os dons do Espírito

Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.

Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.

E esclarece o apóstolo dos gentios:

“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11).

Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.

Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele:

“...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembléia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembléia seja edificada...”.

Conclusão

Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.

Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má-vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.

Referência bibliográfica.

* PASTORINO, Carlos Torres, Sabedoria do Evangelho, volume 1, Revista Mensal Sabedoria, Rio, 1964.
* Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 43ª ed. 2001.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Projeto Kardequizar

Por Salomão Jacob Benchaya

Uma nova etapa de trabalho se desdobra à nossa frente, convocando as lideranças espíritas a se manterem empenhadas na sua dinamização e expansão, com vistas à penetração e vivência das idéias espíritas em todos os segmentos da sociedade, atentas, entretanto, à proposta consubstanciada na Codificação Kardequiana. Esta última observação faz sentido no momento em que uma parcela da comunidade espírita do país se apercebe e se reverbera que o movimento espírita brasileiro, embora dinâmico, realizador e gozando de indiscutível prestígio junto à sociedade, ideologicamente vem se distanciando, em alguns setores, das diretrizes traçadas pelo Codificador.

Não somos os primeiros a chamar a atenção para essa realidade e não é nosso propósito causar melindres pessoais, já que nos cingimos à análise dos fatos, sem referências particulares a pessoas ou instituições, mas desejando, isto sim, convocar os trabalhadores espíritas a uma reflexão séria acerca dos rumos do nosso movimento.

É certo que o povo brasileiro, por sua própria formação étnica e cultural, apresenta acentuada índole mística com traços marcantes de emocionalidade em seu comportamento, contrastando, por isso, com a postura mais racional e fria do europeu, por exemplo. Esse traço característico de nossa gente, naturalmente que não poderia deixar de se refletir nas atitudes dos espíritas, não obstante o convite da Doutrina à "fé raciocinada". É preciso que se distinga, no entanto, o comportamento místico-afetivo das massas, que não é necessariamente negativo, do exagerado afeiçoamento da ação dos espíritas a padrões confessionais e ritualísticos, velados ou explícitos, que caracterizam um processo de sectarização indesejável e insustentável à luz do Espiritismo.

Lamentavelmente, constata-se nos arraiais espíritas procedimentos os mais esdrúxulos na prática doutrinária, como reflexos do desconhecimento e da má interpretação dos postulados espíritas, agravados pelos condicionamentos atávicos igrejeiros dos quais não conseguimos, ainda, nos desvencilhar.

Não são raras ocorrências como as que citaremos a seguir, tendentes a transformar o Espiritismo em mais uma seita, pela subversão dos seus ideais, ressalvadas honrosas e justas exceções.

Liturgia da Prece.

Vemos, por exemplo, preces como verdadeiros atos litúrgicos, formalizadas, longas, por vezes decoradas, ditas em tom compungido e piedoso. Casas espíritas realizando sessões de preces sem objetivo doutrinário, preces encomendadas por terceiros, algumas até adotando posições especiais para orar. Adeptos há que utilizam impressos contendo preces e até fotografias de vultos espíritas à guisa de amuletos protetores.

Na área das chamadas irradiações, a falta de orientação doutrinária conduz os freqüentadores a transferir para os dirigentes a tarefa de interceder junto à Divindade para amenizar os padecimentos de encarnados e desencarnados, para isso bastando colocar os nomes dos beneficiários em recipientes ou longas listagens, muitas vezes sem qualquer participação dos interessados na prece coletiva.

Batismos, Casamentos, etc.

Muito embora o Espiritismo não possua ritos sacramentais, estes vão sendo sutilmente introduzidos - às vezes, até ostensivamente - com a realização, no recinto das sociedades, de preces especiais por ocasião de nascimentos, casamentos, colação de grau, indo até a realização de velórios, como se a Doutrina Espírita comportasse tais cerimônias religiosas. Não que ela recuse a prece em qualquer circunstância, mas sim a sua formalização hierática. Há algum tempo, vimos publicado em jornal de grande circulação, em Porto Alegre, convite para fazer "prece de sétimo dia" pela alma de um confrade. Isso para não falarmos de que a Federação do Rio Grande do Sul já recebeu proposta de um dirigente no sentido de analisar a conveniência de as Casas Federativas adotarem o batismo, o casamento, etc., uma vez que seria falta de caridade não darmos esse tipo de atendimento aos adeptos espíritas.

Culto externo.

O aprisionamento ao culto externo, infelizmente, ainda tem expressão em nosso meio, seja no uso preferencial de toalhas brancas sobre as mesas, na utilização de uniformes, distintivos, ou no passe em roupas e fotografias. Outros apetrechos ritualísticos muito comuns ainda são os retratos e imagens de vultos espíritas expostos no salão de palestras públicas, não raras vezes ornados de flores e luzes coloridas, num convite à veneração idolátrica. E o que diremos se tais quadros e imagens são dos santos e líderes católicos, sem dispensar sequer os detalhes simbólicos usados pela igreja, tais como o halo sobre a cabeça, chagas, coração sagrado, terços e anjos com asas?

Já vimos reuniões públicas serem iniciadas com todos em pé, cantando hinos em nada diferentes dos de nossos irmãos protestantes, e, até, invocando as bênçãos do Espírito Santo para o êxito dos trabalhos. Alguns procedimentos são impostos aos freqüentadores pela própria direção dos Centros, tais como a recepção de passes mesmo sem necessidade de tal socorro, separação entre homens e mulheres no recinto das reuniões, ingestão de água magnetizada após o passe ou ao término das reuniões, prática esta semelhante à da ministração da hóstia nas igrejas.

Passemania.

Na verdade, para muitos freqüentadores de sessões espíritas, tomar passes constitui um hábito não muito saudável à luz da proposta espírita, sendo muito conhecida, neste terreno, a figura do "papa-passes". À falta de maiores esclarecimentos sobre a oportunidade em que se deve recorrer a essa abençoada terapêutica, muitos dela se utilizam desnecessariamente, ou, o que é pior, como se, através do passe, o indivíduo estivesse obtendo a "absolvição" de suas fraquezas ou purificando-se espiritualmente. Seria enfadonho insistirmos aqui na feição nitidamente ritualística que a gesticulação exagerada, as preces murmuradas e outros comportamentos exóticos imprimem ao passe.

É oportuno salientar que é no terreno da terapêutica do passe que se gerou a mais acentuada distorção acerca do que o Espiritismo pode oferecer ao homem. O passe assumiu tamanha importância para a manutenção dos níveis de freqüência nas Casas Espíritas, que são raras as reuniões públicas em que ele não é ministrado. A grossa maioria dos freqüentadores de nossas casas ali vai "tomar passe" ou "tirar consulta", pois são esses os produtos que o nosso espiritismo (com "e" minúsculo) oferece. Nessa área se incluem as chamadas "sessões de cura", denominação imprópria diante da promessa nela implícita, de realização de curas, passível de enquadramento no Código Penal.

Substitui-se o essencial pelo acessório, ilude-se os freqüentadores oferecendo-lhes os subprodutos da ação espírita como se a Doutrina não tivesse algo melhor para dar. Notem que não recusamos o socorro que os recursos espíritas podem oferecer aos que o buscam. O que verberamos é a omissão relativa à "caridade da divulgação da própria Doutrina", recomendada por Emmanuel.

Idolatria.

O movimento espírita não escapa, sequer, da tendência idolátrica de seus seguidores que, se já não constroem bezerro de ouro, instituíram, entretanto, o "bezerrismo", como alguém já denominou, o culto à figura apostolar de Bezerra de Menezes, invocado aqui e ali, como um autêntico santo milagreiro espírita. Isso para não falarmos de "santos" locais ou regionais, de menor expressão. Como se não bastasse a consagração de entidades espirituais, entre as quais também se incluem Maria, Ismael, por exemplo, vamos encontrar médiuns e líderes espíritas sofrendo, mesmo a contra-gosto, o mesmo processo de idolatria e até de santificação no qual se identifica acentuada dose de fanatismo, inclusive com o beneplácito de dirigentes espíritas.

Nesse contexto e à falta de uma definição ideológica ao movimento espírita, vemos dirigentes pretendendo representar o Espiritismo em cerimônias políticas, ecumênicas, alinhando-se entre as autoridades civis e eclesiásticas, ou, pior ainda, patrocinando cerimônias ecumênico-religiosas, políticas ou cívico-doutrinárias, numa demonstração de desconhecimento do caráter universalista do Espiritismo.

Literatura pseudo-espírita.

Integrando o quadro de distorções doutrinárias, pode-se ainda relacionar o mercantilismo com a literatura espírita, mediúnica ou não, a circulação no meio espírita de obras de conteúdo medíocre ou conflitantes com a filosofia espírita, como as de cunho profético-apocalíptico, as messiânico-salvacionistas, etc., cuja produção é estimulada pela desinformação do mercado consumidor e pela conivência da rede distribuidora do livro.

Evangelismo, Assistencialismo e Dogmatismo.

Outros indícios de igrejificação encontram-se no surgimento e expansão de verdadeiras confrarias com seus ritos de iniciação doutrinária e controle estatístico da reforma moral dos aprendizes, das cidades "espíritas" com seu fanatismo mediúnico, das confraternizações de devotos e místicos e dos pregadores evangélicos aprisionados às passagens bíblicas distanciadas da interpretação espírita.

Em área mais delicada, desenvolve-se a concepção de um Espiritismo voltado somente para os pobres e necessitados, incompreensivelmente alérgico às esferas do intelecto, na falsa interpretação de que "os sãos não precisam de médico", daí decorrendo todo um trabalho assistencialista, do tipo paternal e acomodador, em contraste com a proposta libertadora da Doutrina.

A postura dogmática que o Espiritismo rejeita inflitra-se, também, entre os dirigentes espíritas, ora refletindo-se na crença cega no que dizem os espíritos e médiuns, numa recusa à análise e à crítica, ora cerceando o livre-exame, pela proibição de leituras ou de discussão de temas ditos "polêmicos".

Kardequização.

Essas são algumas das manifestações que consideraríamos como indícios de um processo sectarizador de difícil refluxo se o movimento espírita não adotar posição firme no sentido de sua "kardequização", ou seja, de aproximar-se, em nível desejável, do modelo proposto por Kardec. É lógico que alguns dos problemas enumerados têm localização restrita e são perfeitamente detectados pela comunidade espírita mais esclarecida. O risco maior está em não se atribuir importância a determinados procedimentos e atitudes que "não fazem mal nenhum", mas que, inperceptivelmente, deturpam a verdadeira identidade da Doutrina.

Um esforço revitalizador faz-se, portanto, mister, mormente quando são os próprios orientadores espirituais do movimento espírita brasileiro que a tanto nos convocam. Suas advertências são de tal modo enérgicas que nos permitimos reproduzir trechos significativos de suas mensagens, corroborando o que aqui desejamos propor. Angel Aguarod, em mensagem que motivou o lançamento da Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (Rio Grande do Sul, 1978) salientava: "Não é possível erigir um monumento doutrinário, como é o da Revelação Espírita, deixando-nos levar, a cada dia, por idéias que sopram de todos os lados, sem direção, qual vendaval que tudo derruba na sua passagem. Estamos sendo alertados de Plano mais alto sobre esse aspecto do nosso movimento, pois - dizem nossos superiores - se não nos fizermos vigilantes nesse sentido, em pouco tempo o movimento espírita, embora conservando o nome, nada terá de Espiritismo."

Vianna de Carvalho, pela psicografia de Divaldo Franco, na mensagem "Espiritismo Estudado", afirma que "[...] surgem os primeiros sintomas de cultos espíritas e constata que o movimento espírita cresce e se propaga, mas a Doutrina Espírita permanece ignorada, quando não adulterada em muitos dos seus postulados".

Daí a recomendação de Bezerra de Menezes: "Kardequizar é a legenda de agora". Para tanto, faz-se necessário se conheça mais profundamente o pensamento de Allan Kardec a fim de aquilatarmos o grau de fidelidade que lhe vota o movimento espírita. Não é por outro motivo que Emmanuel, na mensagem intitulada "Kardec", ditada a Chico Xavier, após as afirmativas, entre outras, de que precisamos "[...] estudar Kardec, meditar Kardec, divulgar Kardec", finaliza, dizendo: "Que é preciso cristianizar a Humanidade é afirmação que não padece dúvida, entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação". [...]

Diante dos problemas apresentados, talvez até de forma contundente, e dos desafios propostos pelos espíritos, sentimo-nos encorajados a desenvolver os esforços que estiverem ao nosso alcance no sentido de estimular o movimento espírita à observância das diretrizes preconizadas pelo Codificador quanto à sua própria estrutura e características. Eis o motivo desta análise de comportamento e de tendências do movimento espírita. Mais uma vez evidencia-se a necessidade de as Casas Espíritas realizarem estudo mais aprofundado e completo da obra kardequiana, única forma de evitarmos que o Espiritismo seja transformado em mais uma seita religiosa.

Fonte: Revista Espírita HARMONIA - Ano XX - nº 147 - dezembro de 2006

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Colônias Espirituais: Fantasias Anímicas de Chico?

Por Iso Jorge Teixeira.

Que acontece com a alma após a morte? A dos bons irão para o céu e a dos maus para o inferno? Haveria um purgatório, um lugar determinado para a ascensão ao céu ou como preparativo para a reencarnação, daquelas almas necessitadas de purificação?

Essas perguntas, exceto, a primeira, seriam respondidas com um 'sim', pela maioria dos religiosos brasileiros...

Curiosamente, alguns confrades sincretizam tais conceitos de 'céu, inferno e purgatório' e admitem coisas semelhantes àquelas descritas em 'A Divina Comédia' – do obscurantismo medieval –dizendo que, após a morte, seremos encaminhados para um 'Pronto-socorro espiritual' e, daí, para 'colônias espirituais'. No entanto, não é isso que está explícito e implícito na Doutrina dos Espíritos; por isso, julgamos importante tratar aqui da questão básica relativa à erraticidade e a dos Espíritos errantes...

As chamadas 'colônias espirituais' são de existência questionável

Há uma grande falha em nosso Movimento Espírita, ao admitir que fiquemos, quase enclausurados em 'colônias espirituais', a receber conselhos de Espíritos; como se aí estivéssemos encarnados.Até um tal 'vale dos suicidas', é creditado como verdadeira Doutrina dos Espíritos!Contudo, nas obras de KARDEC, não há a menor referência nem às colônias espirituais nem ao vale dos suicidas. Seria uma omissão imperdoável da Espiritualidade Superior?

Acreditamos em que, ao desencarnarmos, a nova vida é eminentemente espiritual, nada de mundos especiais: 'cópias aperfeiçoadas dos objetos da Terra', como dizem alguns confrades. O mundo da erraticidade é um mundo de reflexão, em que nos preparamos para uma nova encarnação, mas essa preparação não tem nada de material.

Alguns argumentam que aqueles Espíritos mais terra-a-terra, não conseguiriam viver sem a matéria. Ora, se não conseguirem viver sem a matéria, ao desencarnarem não sairão daqui do orbe terrestre?

"O Umbral – continuou ele, solícito – começa na crosta terrestre. É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos.”

Mais adiante, diz também:

“... O Umbral funciona, portanto, como região destinada a esgotamento de resíduos mentais; uma espécie de zona purgatorial, onde se queima, a prestações, o material deteriorado das ilusões que a criatura adquiriu por atacado, menosprezando o sublime ensejo de uma existência terrena."
(Livro 'Nosso Lar' - Espírito André Luiz)

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Por Allan Kardec - tradução de José Herculano Pires.

IX - Paraíso,Inferno,Purgatório,Paraíso perdido.

1011. Um lugar circunscrito no Universo, está destinado às penas e aos gozos dos Espíritos, de acordo com os seus méritos?

— Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição do Espírito. Cada um traz em si mesmo, o principio de sua própria felicidade ou infelicidade. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros. Quanto aos Espíritos encarnados, são mais ou menos felizes ou infelizes, segundo o grau de evolução do mundo que habitam.

1012. De acordo com isso, o inferno e o paraíso não existiriam como os homens os representam?

— Não são mais do que figuras: os Espíritos felizes e infelizes estão por toda parte. Entretanto, como já o dissemos também, os Espíritos da mesma ordem se reúnem por simpatia. Mas podem reunir-se onde quiserem, quando perfeitos.

Comentário de Kardec: A localização absoluta dos lugares de penas e de recompensas só existe na imaginação dos homens. Provém da sua tendência de materializar e circunscrever as coisas cuja natureza infinita não podem compreender.

1013. O que se deve entender por purgatório?

— Dores físicas e morais: é o tempo da expiação. É quase sempre na Terra que fazeis o vosso purgatório e que Deus vos faz expiar as vossas faltas.

Comentário de Kardec: Aquilo que o homem chama 'purgatório', é também uma figura pela qual se deve entender, não algum lugar determinado, mas o estado dos Espíritos imperfeitos que estão em expiação até a purificação completa que deve elevá-los ao plano dos Espíritos felizes. Operando-se essa purificação nas diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corpórea.

1014. Como se explica que os Espíritos que revelam superioridade por sua linguagem, tenham respondido a pessoas bastante sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de acordo com as idéias vulgarmente admitidas?

— Eles falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando essas pessoas estão muito imbuídas de certas idéias, eles não querem chocá-las muito rudemente, para não ferir as suas convicções. Se um Espírito fosse dizer, sem precauções oratórias, a um muçulmano, que Maomé não era um profeta, seria muito mal recebido.

1014 – a) Concebe-se isso da parte dos Espíritos que desejam instruir-nos. Mas como se explica que Espíritos interrogados sobre a sua situação tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório?

— Quando eles são inferiores e não estão completamente desmaterializados, conservam uma parte de suas idéias terrenas e traduzem as suas impressões pelos termos que lhes são familiares. Encontram-se num meio que não lhes permite sondar o futuro senão, de maneira deficiente. Essa é a causa por que, em geral, os Espíritos errantes, ou recentemente libertados, falam como teriam feito se estivessem na vida carnal. Inferno pode traduzir-se por uma vida de provas extremamente penosas, com a incerteza de melhora; purgatório, por uma vida também de provas, mas com a consciência de um futuro melhor. Quando sofres uma grande dor, não dizes que sofres como um danado? Não são mais do que palavras, sempre em sentido figurado.

Portanto, os tais informes espirituais referentes a Umbral, colônias e vales destoam da Codificação.

CIÊNCIA ESPÍRITA EM FACE DA RAZÃO E DO CONTROLE UNIVERSAL

Por vezes, adota-se um conceito absoluto de razão, do qual provém o qualificativo racional. No Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, o verbete razão apresenta inúmeras acepções e variadíssimo conteúdo semântico. Não obstante, logo na primeira entrada, tem-se por razão o "referencial de orientação do homem, em todos os campos em que seja possível a indagação ou a investigação, de tal jeito que ela corresponde a "uma ‘faculdade’ própria do homem, que o distingue dos animais". Outrossim, da noção de razão derivam a de racional e a de razoável. Ora, o racional constitui aquilo proveniente da razão ou dela correlato, enquanto o razoável compõe aquilo capaz de gravitar em torno dela, sem, no entanto, perder o ponto de tangência.

Não há, portanto, absolutizar o conceito de razão, pois tudo quanto se afigure assimilável pela razão deve ser considerado racional, quando o objeto não discrepar ora do senso comum ora do bom senso. Desse modo, racional se torna aquilo admitido pela razoabilidade, embora, a razão em si mesma, não constitua a demonstração da verdade. Somente quando a razão, como faculdade, logra aproximar-se da percepção e da sensação, como realidade apresentada, pode-se interceptar de alguma forma a verdade. Ora, afigura-se importante ser razoável para ser racional e entrever a razão.

Decerto, as obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier, devem ser estudadas, assim como acuradamente comparadas às da Codificação Espírita, porém, dentro das margens de razoabilidade. Não obstante, o articulista, cujas páginas mais parecem um repreensão à mediunidade de Francisco Cândido Xavier, está convicto de que existem nos livros atribuídos a André Luiz "situações ingênuas cientificamente" e devidas ao animismo do notável médium de Pedro Leopoldo. Por outro lado, de tão convicto o observador e de tão verazes as ingenuidades, não as revela ou menciona sequer de relance, a fim de que as analise o leitor. Houve também uma inadvertência do açodado articulista: se houve animismo daquele médium, houve também de Waldo Vieira, cuja personalidade não tinha por hábito e nem terá de padecer "misticismo católico", muito menos agora. Em pelo menos três livros da série, ambos os médiuns, laboraram em conjunto: Sexo e Destino, Evolução em Dois Mundos e Mecanismos da Mediunidade.

Para escapar ao argumento, o médium deverá recorrer a duas hipóteses, muito ao gosto do consumidor, consoante diria o Padre Quevedo: I) houve fraude liberada e deliberada de Waldo Vieira, sob assédio do "misticismo católico" de Chico Xavier; II) houve manipulação dos textos pela FEB, sob o beneplácito dos médiuns. Sobre tal enfoque, Waldo Vieira nunca se manifestou, nem mesmo após haver-se tornado apóstata(renúncia ao rótulo de espírita) do Espiritismo. Como aplicar a ambos, a hipótese do animismo por "misticismo católico"? Seria animismo duplo em personalidades assaz distintas?

Outrossim, o articulista, de muita cultura e de extenso lastro médico, por ser livre-docente de Psicopatologia e de Psiquiatria, como se pode notar em muitos e bons artigos em que trata conjuntamente da mediunidade e da própria especialidade, assinalou algo de suma importância à pesquisa científica:

Todo ESTUDO realmente CIENTÍFICO, não deve partir para uma busca daquilo que "queremos" encontrar; senão, encontraremos exatamente aquilo que "desejamos"; ora, os nossos DESEJOS, os nossos AFETOS não devem contaminar um estudo científico. Todo estudo deve partir com AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTOS, como recomendava o grande filósofo alemão KARL JASPERS, baseado no também filósofo EDMUND HUSSERL.

Há uma sentença mais verdadeira e mais adequada à problemática? Decerto, parte-se da noção de neutralidade científica, cuja verdadeira existência parece extremamente dubitável, da mesma forma, como parece inexistir a decantada neutralidade axiológica. Ora, como examinar a ausência de pressupostos, se ela mesma se constitui em um pressuposto, usando-se aqui um raciocínio de Bertrand Russel? Se aqui se parte do pressuposto de que existem as colônias espirituais, o articulista partiu, a seu turno, da premissa de que elas não existem. Onde a ausência de pressupostos no exame do problema, sem usar-se aqui o método parenético de Antônio Vieira, o respeitável orador barroco?

Simplesmente,pelo estudo dos conhecimentos espirituais existentes,embasados em LEIS NATURAIS,encontrados na CODIFICAÇÃO ESPÍRITA.

Fonte: Blog Ciência, Filosofia e Moral.

Atualizando Kardec

Por Carlos de Brito Imbassahy

Desde minha adolescência sempre vi e ouvi diversos participantes do movimento espírita dizerem que era preciso atualizar Kardec, cada qual usando um argumento diferente.

É claro que, se o codificador do Espiritismo definiu esta doutrina como sendo de natureza científica com conclusões filosóficas (ver preâmbulo do livro “O Que é o Espiritismo”), como ciência, ela precisa estar se atualizando com as novas descobertas, principalmente, em se levando na conta de que a codificação data de meados de século XIX e atualmente muitos conceitos científicos usados àquela época foram devidamente alterados.

Mas, na verdade, o que tenho visto são verdadeiras aberrações e, para ilustrar esta afirmativa cito o caso em que, numa Sala espírita da Internet estudávamos o livro “O Céu e o Inferno” cuja segunda parte, toda, Kardec dedica à invocação de Entidades espirituais. Um dos participantes afirmou que Kardec estava errado porque Emmanuel, lembrando Paulo aos Hebreus – versículo que condena a evocação dos mortos –, diz que “o telefone só toca de lá para cá”. Sem comentários.

No caso, a maioria dos que querem reformular a obra de Kardec, na verdade, deixam-se levar pelos seus próprios pensamentos, alguns ligados a tradições cristãs e outros admiradores de obras mediúnicas, nem sempre coerentes com o pensamento do mestre lionês.

Até então, ainda não me deparei com nenhum espírita que, de fato, proponha a atualização da linguagem, porque, a não ser os que militam nas áreas científicas, os demais também não estão a par da nova terminologia empregada, como no caso do termo “fluido” que, na época da codificação, abrangia tudo o que não fosse sólido, inclusive as energias, como a elétrica. Hoje, apenas os líquidos e os gases são considerados como fluidos. Assim, os técnicos da linguagem, usam o conceito de “eflúvios” para definir aquilo que seria o aludido fluido psíquico ou espiritual.

E outras coisas mais neste sentido.

O estudo da Mecânica Quântica, por exemplo, inteiramente desconhecida dos médiuns e mensageiros espirituais que estão transformando o Espiritismo no Brasil em mais uma seita cristã, traz-nos novas idéias que, se analisarmos o que foi dito à época da codificação, podemos, perfeitamente, adaptar aos novos conceitos, desde que atualizemos nossas linguagens, mas, justamente isso é que não interessa aos evangelizadores das igrejas que migraram para o movimento espírita porque teriam que reformular suas antigas posições em vez de alterar os conceitos espíritas como vêm a ser seus desejos, para adaptá-los às suas velhas tendências.

Kardec não podia, à sua época, falar em coisas que só foram descobertas mais de um século após seu falecimento, pois isto seria antecipar os conhecimentos humanos e ele seria considerado um visionário, como o foi Jules Verne.

Assim mesmo, muita coisa antecipada em suas obras foi tida como pura imaginação de crenças espirituais! Calculemos, se ele afirmasse que o mundo material compreendia apenas 27% do Universo e que o resto era a provável Espiritualidade, que Deus não podia ser aquele apresentado pela Bíblia e que a Terra não era sua obra prima! Naquela época, ninguém tomaria conhecimento da sua obra.

O que temos que levar em conta é que, de fato, o Espiritismo foi codificado num tempo em que o conhecimento científico relativo ao que já sabemos era por demais precário e que se supunha que o homem, segundo a Bíblia estaria condenado a viver preso ao planeta, não se admitindo que ele se tornasse um astronauta capaz de sair da nossa atmosfera impunemente e voltar sem que tenha sido castigado por obra e graça divina. Até hoje, várias Igrejas cristãs garantem que tudo é mentira e armação dos americanos, pois, pela Bíblia, o homem não pode sair da Terra.

Todavia, os novos adeptos do movimento espírita, ainda calcados nos conceitos evangélicos de suas antigas seitas, acham (doutrina do “achismo”) que o Espiritismo precisa exatamente se transformar em mais um movimento cristão para que Jesus olhe por nós e não nos abandone. Como se os Espíritos superiores fossem mesquinhos como os humanos vulgares.

E ainda é a grande influência da Igreja e de Entidades ligadas a ela que dita esse desejo de transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã, o que, em vez de atualizá-lo, fa-lo-ia regredir aos antigos e impróprios conceitos religiosos.

Além disso, se a finalidade da doutrina espírita é a de levar os ensinamentos e a doutrina de Jesus aos cientistas sem lhes atacar o fundamento da razão, fazendo com que a codificação se torne em mais um movimento cristão, o que se vai obter, justamente, é o resultado contrário. Além disso, com as novas descobertas dos documentos do mar Morto, tudo aquilo que a Igreja impôs como evangélico está sob suspeita de não ser verdade. Por que, então continuar insistindo em tal erro, em vez de pautar o Espiritismo pelos fundamentos que Kardec estabeleceu, principalmente na obra que ele próprio considerou como básica para os estudos doutrinários? Mas, “O Que é o Espiritismo” justamente, vem a ser o livro que os evangélicos excluem de seus estudos. Pudera!

Atualizar Kardec, pois, não é alterar seu pensamento, mas colocá-lo na linguagem atual esclarecendo o possível significado das suas afirmativas com a coerência do que se conhece pelas novas concepções estabelecidas.

O que não se pode, também, é negar as pesquisas que os parapsicólogos fazem – já que os espíritas são omissos –, servindo-se da linguagem atualmente considerada arcaica, usada pelo codificador.

E principalmente: reconhecer que ele não podia ter sido mais claro e preciso do que fora, ante os conhecimentos de sua época.

Atualizar é uma coisa, modificar é outra.

Fonte: Revista Harmonia - Edição nº 167

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Por que a imprensa insiste em manter equívocos?

Por Alamar Régis Carvalho

Que não fique entendido, por esta matéria, que o seu autor ou qualquer outro espírita consciente, queiram que a grande imprensa, revista VEJA, Rede Globo, Bandeirantes, SBT, Folha de São Paulo etc... façam propagandas do Espiritismo, por duas razões:

Primeiro porque o Espiritismo não precisa nunca de propaganda, já que não depende de número de adeptos, uma vez que não faz comércio religioso muito menos mercantilização da fé, adotando dízimos, ofertas e aquelas obrigações financeiras que determinadas religiões adotam, sob a argumentação de que os seus fiéis estão dando para JE$U$.

Segundo porque seria um abuso querer que os veículos de comunicação utilizassem dos seus espaços para fazerem propaganda de graça.

Porém, levando em consideração que o papel de qualquer jornalista íntegro, honesto, ético e decente é levar as coisas ao grande público como elas são e não como eles ou os seus informantes acham que são, creio que com esta matéria eu vou conseguir levar alguns profissionais do jornalismo a algum momento de reflexão, certo de que nesse universo existe muita gente que tem consciência, bom senso e compromisso de honestidade para consigo mesmo.

É o caso de se perguntar:

Por que a imprensa brasileira, que procura estar tão bem informada sobre vários assuntos da cultura geral, não se interessa em saber também o que é o Espiritismo, pelo menos nos seus fundamentos básicos, já que tem tanta gente que se interessa por ele, antes de reportar sobre este assunto?

Por que, a cada grande matéria que sai nos grandes jornais, revistas, rádios e emissoras de televisão vêm sempre repetidos os mesmos equívocos, colocados sempre da mesma forma?

Observemos algumas colocações, citações, pontos de vistas e idéias sempre presentes nas grandes reportagens, quando resolvem falar sobre Espiritismo, Reencarnação, Comunicação com “mortos” e coisas ligadas à espiritualidade.

1) Convites insistentes em ouvir o Padre Quevedo

No Brasil existem milhares de padres e bispos, em um universo onde encontramos nomes altamente respeitáveis, cultos, brilhantes e sobretudo honestos, que além de tudo são altamente comunicativos, didáticos e agradáveis, que nunca são convidados pelos grandes programas das televisões e das rádios brasileiras, bem como pelas revistas.

Insistem apenas no Quevedo, que não consegue ser agradável nem para o público católico.

Já imaginou se no universo da Cardiologia, por exemplo, ouvissem apenas o Adib Jatene, embora seja um homem de uma dignidade extraordinária, e desconhecessem a existência de inúmeros outros profissionais competentes na mesma área?

Será possível que a imprensa brasileira ainda não percebeu que o senhor Oscar Gonzalez Quevedo, esse que diz que nada “ecziste”, odeia o Espiritismo, é inimigo declarado do Espiritismo e que está provado pela Psicologia que nenhuma pessoa que é inimiga de alguém ou de alguma coisa pode ter credibilidade para falar sobre esse alguém ou sobre essa coisa?

A imprensa investigativa brasileira, que já investigou tantos assuntos e trouxe tantas verdades à tona, desmascarando muita gente e muitos conceitos, por que em relação ao Quevedo ela não procura se aprofundar na verdade, sobretudo na sua relação para com a Parapsicologia?

Uma prova da sua fraude já está bem evidente, quando ele manda as pessoas estudarem Parapsicologia através dos seus livros, quando o mundo inteiro, a Europa, os Estados Unidos e todos os países que conhecem o assunto, sabem que a base de estudo dessa Ciência são os livros do J. B. Rhine.

Tem hora que imagino como seria eu presunçoso e “cara de pau” se, por também ser escritor e ter um montão de fãs por este Brasil afora, resolvesse escrever uns livros sobre Espiritismo, à minha moda, conforme a minha cabeça, e orientasse o povo que me vê pela televisão aprender o Espiritismo pelos meus livros e não pelos do Allan Kardec. Não seria um absurdo? Que nível de espíritas eu formaria? Que inteligência teria esse público, sem competência de perceber uma fraude dessa?

Repetidas vezes o Quevedo afirmou na imprensa que os seus livros são considerados os melhores livros de Parapsicologia do mundo?

Ora, amigo leitor, por que a nossa imprensa, que é tão bem preparada, não faz a ele uma pergunta óbvia: “Considerados os melhores do mundo, por quem, Padre Quevedo?”.

Naturalmente ele deve ter algumas pessoas amigas dele, que gostam dele, que são suas fãs em alguns lugares da Europa, dos Estados Unidos etc. que de fato gostam dos seus livros. Isto aí ninguém discute. Mas daí a dizer que o mundo inteiro o considera o melhor, há uma diferença muito grande.

Eu também tenho pessoas que me adoram em vários países. Em Portugal, por exemplo, em 1998, fazendo uma palestra em um auditório super lotado em Lisboa, Portugal, aproximadamente umas duas mil pessoas, por ocasião do 2º Congresso Espírita Mundial, eu fui interrompido por oito vezes, em aplausos calorosos, e ao final da minha palestra fui aplaudido de pé, com palmas por um tempo muito além do normal.

Uai, por causa disso vou sair por aí afirmando que sou considerado na Europa um dos maiores conferencistas brasileiros?

Nos Estados Unidos, também fiz palestras, várias vezes, em New York, em New Jersey, Miami e outras cidades da Flórida e outros Estados, inclusive sendo aplaudido de pé diversas vezes. Inclusive fui o apresentador da primeira Semana Espírita de New York e também expositor do primeiro Congresso Espírita dos Estados Unidos.

Por causa disto, vou sair dizendo que sou destaque, como palestrante pelos americanos?

Na realidade, as platéias para as quais eu falei eram constituídas em maioria por brasileiros que moram lá, pessoas que já me conheciam. Poucos, mas muito poucos mesmo, eram os americanos presentes.

Sou um mero desconhecido e insignificante pelo americano.

Será que a imprensa brasileira não consegue perceber uma coisa dessa?

Existem inúmeros verdadeiros Parapsicólogos no Brasil, que têm as suas formações com base em J. B. Rhine, o verdadeiro e autêntico pai da Parapsicologia. Por que a grande imprensa nunca mostrou nenhum deles?

Que diabo de inteligência é essa?

Já que querem um padre, eu posso indicar o Padre José Linhares Pontes que, além de ser também Parapsicólogo, é um homem que possui 8 cursos superiores, fala 9 idiomas, é ex-mestre na Sourbone, doutor de verdade e não um simples doutorzinho em Teologia, respeitado no mundo inteiro... este sim, verdadeiramente é conhecido..., porque é convidado sempre a falar em várias Universidades da Europa, e acima de tudo é um “gentleman”, educado, fino, um fantástico comunicador e tem competência para enfrentar qualquer um em debate, sem utilizar de deboches.

Você já percebeu quanta presunção do senhor Quevedo, em querer que os seus conhecimentos científicos sejam superiores aos conhecimentos científicos de vários médicos, nas mais diversificadas especializações que a medicina moderna se apresenta, que os biólogos, também em diversas especialidades, que a Psiquiatria, a Psicologia e a Psicanálise de um modo geral, de uma abrangência gigantesca no estudo do psiquismo, da engenharia, também nas suas mais diversificadas especialidades da eletrônica, da mecânica, da química etc. dos astrofísicos, da Física Quântica etc... só porque se auto rotula como formado em Teologia?

Gente! Que diabo de ciência é a Teologia, senão um estudo de Deus, conforme a visão de uma determinada religião, no caso dele, o catolicismo? Como é que um homem com conhecimento apenas de teologia, à moda da sua confissão religiosa, quer se igualar a outros praticantes de Ciências tão abrangentes?

Por favor, senhores jornalistas, Parapsicologia é uma coisa, Quevedologia é outra!

2)Sempre confundem Espiritismo com feitiçaria, cartomantes e outras coisas

Toda pessoa de bom senso sabe que qualquer informação sobre qualquer coisa, com maior fidelidade, deve ser obtida na fonte. Jamais tirar conclusões definitivas com base em disse-me-disse, “conheço uma senhora que diz ser espírita”, “tem um funcionário aqui na casa que diz ser espírita” e coisas parecidas. Isto é um absurdo e caracteriza uma verdadeira ingenuidade, irresponsabilidade e até leviandade.

Em centro espírita nenhum do Brasil, por mais que existam alguns dirigentes que também fazem o que chamo de “espiritismo à moda da casa”, pratica-se matança de animais, sacrifícios, acendimento de velas, defumações, advinhações, obrigações e essas coisas. Mas a imprensa, quando fala disso, mete o nome do Espiritismo pelo meio.

Que diabo o Espiritismo tem a ver com isso?

Por que não procuram pesquisar, com seriedade e responsabilidade, para saberem o que verdadeiramente é praticado em um Centro Espírita?

Não estou aqui pedindo para nenhum jornalista se converter ao Espiritismo não, primeiro porque o Espiritismo não pratica esse tipo de coisa, segundo porque acho este procedimento uma tremenda falta de educação e desrespeito às convicções alheias. Jamais faria isto.

A proposta é apenas para que eles conheçam a verdade, como a coisa realmente é, já que todos eles querem se pautar pela verdade.

Não é preciso aderir, elogiar e nem aceitar, para retratar a verdade.

Por que a gente não vê, nunca, uma reportagem mostrando ao grande público o que o Espiritismo pratica e o que ele não pratica? Não seria uma boa oportunidade para a imprensa esclarecer à cultura popular?

3) A concepção deles sobre as reuniões mediúnicas

Conforme todos tiveram oportunidade de ler na recente matéria publicada pela VEJA, embora conduzissem a matéria com elegância e sem faltar com respeito e consideração aos espíritas, ainda imaginam que os espíritas são um monte de bobos, irracionais, que se reúnem em torno de uma mesa, na cor branca... impressionante com falam nessa tal de mesa branca... chamando por espíritos para lhes dar conselhos, ordens e dizer o que eles devem e não devem fazer, e que todo mundo obedece, direitinho, como se fossem ordens de Deus.

E ainda botam para falar, entre aspas, pessoas que viram o galo cantar e não sabem onde.

Tá certa uma coisa dessa?

Por que esse pessoal não procura se informar melhor?

Sei que não é fácil. Imagino a situação da redação da VEJA em identificar quem verdadeiramente tem condições de falar sobre o Espiritismo com conhecimento, sem enxertos, sem masoquismo do tipo “sofrer é bom, meus irmãos”, falsa humildade e evolução espiritual de aparência. É difícil, sim, mas com um pouco de esforço dá para identificar.

Todos nós, espíritas, sabemos o quanto somos exigentes, e até chatos, em muitas ocasiões até intolerantes, em relação a comunicações mediúnicas. No movimento espírita existe até excesso quanto aquela recomendação da doutrina que nos alerta que é preferível recusarmos nove verdades, em dez comunicações, do que aceitar uma mentira.

A imprensa não sabe, inclusive, e deveria saber, que no movimento espírita há até debates e sérias divergências porque há um grande segmento que vem insistindo em fazer Espiritismo sem espíritos, haja vista a responsabilidade com que tratamos a questão do intercâmbio mediúnico.

Como é que ainda vêm, em pleno terceiro milênio, insistir em afirmar achismos tão primários acerca dessa questão?

Atenção senhores jornalistas, editores, apresentadores de televisão e rádio!

O diálogo dos espíritas com os espíritos é absolutamente igual ao de duas ou mais pessoas “vivas”, como vocês entendem. Espírito nenhum, por mais que se diga evoluído, costuma vir aqui dar ordens pra ninguém não, porque eles sabem que o espírita não é trouxa, estuda técnicas para identificar os espíritos, tem critérios, ética, sensatez e responsabilidade.

Aliás, espírito verdadeiramente evoluído jamais se apresenta como tal.

Já os espíritos mais atrasados, não conseguem nem falsificar as suas comunicações, porque são facilmente identificados.

Do mesmo jeito que as nossas polícias terrenas se aperfeiçoaram na técnica de identificar autorias de crimes, pelo uso do DNA, dos microscópios, das impressões digitais, de um simples fio de cabelo deixado no local do crime e de uma série de meios, o movimento espírita também vem estudando e evoluindo, ao longo dos tempos, para identificar os malandros espirituais, através de muitas técnicas.

4) As inúmeras obras sociais espíritas, pelo país inteiro

Por que a grande imprensa não consegue nunca enxergar isso? Será que eles despertariam para fazer alguma reportagem em uma dessas instituições, apenas se algum fato policial acontecer em uma delas?

Será que nenhum jornalista se interessa em saber qual é o segmento religioso filosófico que mais dá atenção e trata com muito carinho milhares de hansenianos (leprosos, na linguagem deles), de Norte a Sul do País, segmento populacional esse altamente relegado ao abandono e à própria sorte pelos católicos e pelos protestantes?

5) Espiritismo é ou não é Cristão
Não é preciso o espírita responder isto não. Basta que eles consultem a própria obra básica do Espiritismo, onde verá que as instruções dos Espíritos recomendam aos espíritas que o maior modelo e guia a ser seguido por todos nós é o próprio Jesus.

O que eles querem mais?

É este Jesus que os espíritas seguem, pelo aspecto moral do seu Evangelho. Ou melhor, é ele que representa o espelho nós fazemos um esforço enorme para refletir.

Porém, torna-se necessário que eles tenham a inteligência de saber discernir entre os que verdadeiramente procuram seguir Jesus como modelo e guia e os que apenas utilizam o rótulo de Cristãos, mas vivem absolutamente em contradição com os ensinamentos básicos do Mestre, perseguindo a crença dos outros, praticando inquisições, intolerâncias, discriminações etc.

6) Sucessor de Chico Xavier
Foi uma tremenda maluquice, aquela postura da imprensa, quando Chico Xavier morreu. Todo mundo falando em sucessor, como se o Espiritismo tivesse Vaticano, capela sistina, cardeais e coisas parecidas. Por que a imprensa tem que compará-lo sempre com outras religiões, mais intensamente com a Igreja Católica? É algo que precisa ser revisto, gente. Nâo tem sentido.

Apontaram muito o nome de Divaldo Franco, como sucessor do Chico. Tremendo absurdo. Divaldo nunca quis isto, não existe isto no Espiritismo, não tem chefe, não tem dono, apesar de alguns dirigentes de centros espíritas se portarem como donos dos centros, e que adoram dar ordens, estabelecer determinações, em absoluta contradição com a doutrina, embora digam que o fazem em nome da disciplina..

7) As autoridades “científicas” que costumam convidar

Você já deve ter percebido que sempre, na maioria das vezes, que um programa de televisão ou uma reportagem de uma grande revista, convida algum elemento geralmente de alguma Universidade, que aparece na foto como cientista, entendido no assunto... agora veja só, se é possível existir na Terra alguém que conheça absolutamente tudo o que é científico... invariavelmente esses vem para fazerem afirmativas de que determinadas coisas não existem, não são possíveis e não serão nunca, quando, se fossem verdadeiramente honestos e coerentes para consigo mesmos, diriam: “Na minha opinião, conforme o meu nível de conhecimento, eu ACHO que determinada coisa não existe, que determinada coisa não é possível”.

Mas o orgulho, a vaidade excessiva e a presunção não deixam.

Toda vez que eu me vejo diante de uma dessas “sumidades”, na televisão, ou nas páginas das revistas, fico pensando na quantidade enorme de pessoas altamente qualificadas, cultas, experientes, muitos deles doutores com doutorados e mestres com mestrados que existem no movimento espírita, que sequer a grande imprensa interessa em saber quem são.

Impressionante como pode a imprensa não saber que os estudos, as experimentações e as pesquisas espíritas não se resumem apenas a reuniões de “rezações” em torno de mesas, como eles imaginam... brancas, é claro, como eles supõem... e são praticadas em laboratórios sofisticados, com instrumentos diversos, inclusive microscópios, telescópios e outros de alta precisão.

Por que a imprensa não se interessou, ainda, em conversar com aquele grupo de médicos, altamente qualificado, que há muito tempo se reúne em estudos, no bairro da Aclimação, em São Paulo, colocando eletroencefalógrafos nas cabeças de médiuns, quando da realização do transe mediúnico?

Será que eles sabem da existência do Dr. João Alberto Fiorini, da polícia científica do Paraná, com suas pesquisas impressionantes e extremamente sérias no campo da reencarnação?

Ou será que os inúmeros doutores e mestres, que são Espíritas, médicos, biólogos, psiquiatras, psicólogos, astrônomos, engenheiros de várias áreas... alguns deles com pós graduações e doutorados nas mais importantes universidades do mundo, são todos analfabetos e inconseqüentes?

CONCLUSÃO

Apelamos aos senhores jornalistas, em nível de colaboração, que reavaliem os seus conceitos acerca não apenas sobre o Espiritismo mais em relação a muitas coisas sobre as quais falam, em nome da preservação das suas credibilidades.

Sobre o Espiritismo, saibam também que em um país, onde o número de livros “per capta” lidos por ano, é de no máximo 3, o número de livros lidos pelos espíritas, “per capta”, é de 9. Simplesmente três vezes mais. Será que isso não significa nada, em termos culturais?

Será que a esse público não deveria ser dado um outro tipo de atenção?

Será que uma doutrina filosófica, que alguns querem qualificar como religião, que não tem nenhuma mancha moral na sua história, porque nunca assassinou ninguém, nunca torturou ninguém por motivos de modo de pensar, nunca se envolveu em briga religiosa, nunca se incomodou e muito menos tentou cercear o direito de ninguém manifestar a sua crença da forma como acha que deve, não mereceria uma atenção maior exatamente por parte de um segmento da sociedade que também sofreu durante anos, por razões de censuras, que é o segmento jornalístico?

Preservemos a credibilidade do jornalismo deste País.

OLE - O Materialismo

147. Por que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que se aprofundam nas Ciências Naturais são freqüentemente levados ao materialismo?

— O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que tudo crêem saber, não admitindo que alguma coisa possa ultrapassar o seu entendimento. Sua própria ciência os torna presunçosos. Pensam que a Natureza nada lhes pode ocultar.

148. Não é estranho que o materialismo seja uma conseqüência de estudos que deveriam, ao contrário, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Deve-se concluir que esses estudos são perigosos?

— Não é verdade que o materialismo seja uma conseqüência desses estudos. É o homem que deles tira uma falsa conseqüência, pois ele pode abusar de tudo, mesmo das melhores coisas. O nada, aliás, os apavora mais do que eles se permitem aparentar, e os espíritos fortes são quase sempre mais fanfarrões do que valentes. A maior parte deles são materialistas porque não dispõem de nada para preencher o vazio. Diante desse abismo que se abre ante eles, mostrai-lhes uma tábua de salvação, e a ela se agarrarão ansiosamente.

Comentário de Kardec: Por uma aberração da inteligência, há pessoas que não vêem nos seres orgânicos nada mais que a ação da matéria, e a esta atribuem todos os nossos atos. Não vêem no corpo humano senão a máquina elétrica; não estudaram o mecanismo da vida senão no funcionamento dos órgãos; viram-na extinguir-se muitas vezes pela ruptura de um fio, e nada mais perceberam além desse fio; procuraram descobrir o que restava, e como não encontraram mais do que a matéria inerte, não viram a alma escapar-se e nem puderam pegá-la, concluíram que tudo estava nas propriedades da matéria, e que. portanto, após a morte, o pensamento se reduz ao nada. Triste conseqüência, se assim fosse, porque então o bem e o mal não teriam sentido; o homem estaria certo ao não pensar senão em si mesmo e ao colocar acima de tudo a satisfação dos prazeres materiais; os laços sociais estariam rompidos e os mais santos afetos destruídos para sempre. Felizmente, essas idéias estão longe de ser generalizadas; pode-se mesmo dizer que estão muito circunscritas, não constituindo mais do que opiniões individuais, porque em parte alguma foram erigidas em doutrina. Uma sociedade fundada sobre essa base traria em si mesma os germes da dissolução, e os membros se despedaçariam entre si, como animais ferozes.

O homem tem instintivamente a convicção de que tudo não se acaba para ele com a vida; tem horror ao nada; é em vão que se obstina contra a idéia da vida futura, e quando chega o momento supremo, são poucos os que não perguntam o que deles vai ser, porque a idéia de deixar a vida para sempre tem qualquer coisa de pungente. Quem poderia, com efeito, encarar com indiferença uma separação absoluta e eterna de tudo o que ama? Quem poderia ver, sem terror, abrir-se à sua frente o imenso abismo do nada, pronto a tragar para sempre todas as nossas faculdades, todas as nossas esperanças, e ao mesmo tempo dizer: — Qual! Depois de mim, nada, nada, nada mais que o nada; tudo se apagará da memória dos que sobreviverem a mim; dentro em breve nenhum traço haverá de minha passagem pela terra; o bem mesmo que eu fiz será esquecido pêlos ingratos a quem servi; e nada para compensar tudo isso, nenhuma perspectiva, a não ser a do meu corpo devorado pelos vermes!

Este quadro não tem qualquer coisa de horroroso e de glacial? A religião nos ensina que não pode ser assim, e a razão o confirma. Mas uma existência futura, vaga e indefinida, nada tem que satisfaça o nosso amor do positivo. E é isso que, para muitos, engendra a dúvida. Está certo que tenhamos uma alma; mas o que é a nossa alma? Tem ela uma forma, alguma aparência? É um ser limitado ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus; outros, que é uma centelha; outros, uma parte do Grande Todo, o princípio da vida e da inteligência. Mas o que é que tudo isso nos oferece? Que nos importa ter uma alma, se depois da morte ela se confunde com a imensidade, como as gotas d’água no oceano? A perda da nossa individualidade não é para nós o mesmo que o nada? Diz-se ainda que ela é imaterial. Mas uma coisa imaterial não pode ter proporções definidas, e para nós equivale ao nada. A religião nos ensina também que seremos felizes ou desgraçados, segundo o bem ou o mal que tenhamos feito. Mas qual é esse bem que nos espera no seio de Deus? E uma beatitude uma contemplação eterna, sem outra ocupação que a de cantar louvores ao Criador? As chamas do inferno são uma realidade ou apenas um símbolo? A própria Igreja as compreende nesse último sentido; mas. então, que sofrimentos são esses? Onde se encontra o lugar de suplício? Em uma palavra, o que se faz e o que se vê nesse mundo que nos espera a todos?

Ninguém costuma-se dizer, voltou de lá para nos dar conta do que existe. Isto, porém é um erro e a missão do Espiritismo é precisamente a de nos esclarecer sobre esse futuro a de nos fazer, até certo ponto, vê-lo e tocá-lo, não mais pelo raciocínio, mas através dos fatos. Graças às comunicações espíritas, isto não e mais uma presunção uma probabilidade sobre a qual cada um pinta à vontade, que os poetas embelezam com suas ficções ou enfeitam de imagens alegóricas que nos seduzem. E a realidade que nos mostra a sua face, porque são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm contar a sua situação, dizer-nos o que fazem, permitir-nos assistir, por assim dizer a todas as peripécias da sua nova vida, e, por esse meio, nos mostram a sorte inevitável que nos está reservada, segundo os nossos méritos ou os nossos delitos Há nisso alguma coisa de anti-religioso? Bem pelo contrário, pois os incrédulos aí encontram a fé e os tíbios, uma renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é o mais poderoso auxiliar da religião. E se assim acontece é porque Deus o permite, e o permite para reanimar as nossas esperanças vacilantes e nos conduzir ao caminho do bem, pelas perspectivas do futuro.

Fonte: KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução e comentários de José Herculano Pires.

Educação para a Vida

Por Antônio Luís

Fomos educados para a morte.

Foi-nos incutido o medo de um dia encontrarmos o nada. De repente tudo deixaria de fazer sentido. Tudo quanto fizemos, tudo quanto construímos, as pessoas que amamos, aquelas que detestamos, tudo isso acabaria. Foi essa a noção de vida que nos foi dada, e claro, acreditamos, apesar de não fazer grande sentido, pois estes valores põem em causa o Amor preconizado por Jesus. Mas, à primeira vista, parece não haver outra solução que não acabar tudo abruptamente.

É uma cultura, são estilos de vida, que vêm dos nossos antepassados.

No entanto, Jesus, querendo nos consolar, disse: “Não se turve teu coração!”.

Que quis ele dizer com isso?

Teria sido uma simples expressão? – Não nos parece.

Uma profundidade, bem grande, tem essa advertência.

Há que parar para pensar um pouco. Às vezes também nos é exigido pensar!

Então não deixemos que se perturbe o nosso pensamento.

Fará sentido que tudo acabe?

- Uns preferem pensar que sim. É-lhes mais fácil, pois acham-se no direito de extravasar as suas emoções, atitudes, acabando, na maioria das vezes, por prejudicar os outros, pois afinal há que aproveitar a vida ao máximo mesmo usurpando quem está por perto.

- Nós espíritas, sabemos que não é assim.

Se assim fosse, Jesus ter-nos-ia enganado, prometendo a Terra como esperança de uma vida melhor.

A Doutrina Espírita assenta em 3 vertentes: Ciência, Filosofia e Moral.

Como ciência investiga os fenômenos espíritas dando-lhes credibilidade, demonstrando, dentre outras coisas, que a reencarnação é um fato e que assim vida após vida vamos reaparecendo neste globo, cada vez mais conhecedores dos grandes fenômenos da vida.

Graças a essa lei, hoje é-nos permitido o crescimento quer intelectual, moral e espiritual.

Somos hoje o somatório das nossas vidas pretéritas. Trazemos no nosso inconsciente, o conhecimento de que a vida não cessa. Não interessa se acreditamos ou não: sabemo-lo no nosso íntimo que continua.

Chegou o tempo de não deixarmos que a dúvida e o medo nos perturbem. Abramos os olhos, e mais que isso, abramos nosso coração.

A vida continua sim, não restam dúvidas, pois são os próprios espíritos (as almas que outrora animaram o Homem) que nos vêm confirmar isso mesmo, dizendo que não morreram e que se encontram tão vivos quanto nós.

Eis a imortalidade da alma, um dos princípios básicos da Doutrina Espírita.

Com estes conhecimentos estamos a ser educados para a vida, não havendo mais lugar para aquela ideia do vazio.

Formemos as crianças, incutindo-lhes os valores da esperança, pois elas serão os homens do amanhã, e assim a pouco e pouco, vamo-nos despojando das crenças e firmando o conhecimento na certeza do porvir.

Educação para a vida SIM!

O Espiritismo na era digital, uma realidade irreversível

Por Jorge Hessen

A Era Digital tem ampliado e facilitado a vida humana em face do rápido acesso à informação. Nesse contexto, a Internet é a maior rede mundial, ligando muitos milhões de computadores de grande, médio e pequeno portes, com enorme quantidade de pessoas de interesses variados, seja nos negócios, nas pesquisas, no lazer, na comunicação, e tantas outras áreas quanto se possa imaginar. Destarte, a divulgação na Internet deve ser democrática, porém, aqueles que querem divulgar o Cristianismo devem ter a consciência da responsabilidade, procurando sempre saber as finalidades da divulgação e as suas conseqüências, porque a Internet não é só um excelente foro de debates, mas, sobretudo, bastante vasto e influente, atingindo proporções globais, colocando as idéias e imagens face a face com outras realidades sociais, políticas e culturais.

Há um site de vídeos que prega os ensinamentos cristãos, engrossando a disseminação religiosa na Internet. Porém, em meio às divergências veiculadas, chegam a gerar disputas virtuais entre comunidades virtuais. Com cerca de 4,8 mil vídeos, por exemplo, o GodTube (Broadcast Him!), segue o estilo do popular YouTube, e afirma utilizar a tecnologia Web para conectar cristãos com a finalidade de promover e disseminar o Evangelho no mundo. Porém, o site potencializa uma tendência de levar, para a Internet, a discussão de temas religiosos ortodoxos, que, em alguns casos, já chegou a causar problemas em alguns países árabes.

Recentemente, a mídia divulgou que o Governo do Paquistão bloqueou o acesso a sites, principalmente de vídeos, cujos conteúdos de suas páginas considera ofensivos ao Islã. Outros países, também, já bloquearam o acesso ao YouTube, como a Turquia e a Tailândia, gerando, logicamente, um estado de grande irritação por parte dos usuários, apesar de os provedores nada poderem fazer diante da imposição dos Governos fundamentalistas. Todavia, ao inverso dessa medieval intolerância, a Rainha Rania, da Jordânia, de forma inteligente, tem utilizado sites de vídeos contra o preconceito. A esposa do Rei Abdullah acredita que o mundo está passando por intensas mudanças, principalmente aquelas movidas pela força do instinto, em que a violência substitui o diálogo e a compaixão perde para o ódio. Ela sustenta a tese de que a Internet é um canal de comunicação de extrema importância entre Ocidente e Oriente e, por isso mesmo, decidiu usar o site de compartilhamento de vídeos para acabar com os estereótipos ligados aos árabes e ao Islã no Ocidente.

A Rainha jordaniana não é a única figura pública a se aproveitar da popularidade da Internet, e particularmente dos sites de vídeos, pois outros políticos e monarcas, ao redor do mundo, também se utilizam desse inigualável instrumento de comunicação, mas, obviamente, na condição de uma árabe de renome, usa a Internet para se relacionar com o Ocidente e promover o Islã moderado, sobressaindo-se às demais personalidades mundiais. A comunicação virtual é tão poderosa que a rainha Elizabeth 2ª da Inglaterra lançou seu próprio canal em website (um site de vídeos), onde mensagens, com sons e imagens, são compartilhadas. Ela afirmou que o novo meio de comunicação tem tornado a sua mensagem mais pessoal e direta. No YouTube, por exemplo, já há canais exclusivos do gabinete britânico e do Presidente da França, Nicolas Sarkozy.

A rigor, pela rede mundial de computadores, temos excelente meio de divulgação de idéias e informações, "em face da sua facilidade, versatilidade, abrangência, interatividade e baixo custo. "Pela Internet, consegue-se atingir, também, uma população anônima que não pode ou nem sempre vai a uma Casa Espírita. Portanto, o uso da tecnologia, em geral, e, especificamente, da tecnologia da informação dentro da Casa Espírita, e na Divulgação Interna e Externa da Doutrina dos Espíritos, é um recurso de real importância e de profunda utilidade nos trabalhos espíritas, sempre apoiados na razão, e respaldados na Ciência, na Filosofia e na Religião. Até porque, estamos vivendo tempos de globalização da informação, que tramita numa velocidade impressionante, com tendência a aumentar mais ainda." (1) Para a divulgação do Espiritismo, essa tecnologia avançada significa tempo ganho sobre o que teríamos a despender, repetindo, continuamente, as mesmas coisas, muito embora, a publicação de livros espíritas, sem dispensá-los, obviamente, vem contribuindo, significativamente, com a aceleração progressiva do movimento espírita.

Em entrevista para Revista O Consolador, de Londrina, Divaldo afirma: "a Internet, como tudo que o homem toca e corrompe infelizmente, tornou-se veículo de informações incorretas, de agressões, de desmoralizações, de infâmias, de degradação e de crime... mas também de grandiosas realizações que dignificam o gênero humano e preparam a sociedade para dias mais belos e mais felizes". (2) Allan Kardec previa, no século XIX, que "uma publicidade em larga escala, feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro, até as localidades mais distantes, o conhecimento das idéias espíritas, despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder, diante do ascendente da opinião geral." (3) Como se observa, a divulgação em grande escala se consegue, atualmente, através da rede de computadores, o que permite a troca de informações dos mais variados assuntos, enviar mensagens, conversar com milhões de pessoas ou, apenas, ler as informações de qualquer parte do planeta. Em face disso, cremos que ela tem o papel mais importante na divulgação do Espiritismo contemporâneo, apoiado no que Emmanuel ensina: "O Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade - a caridade da sua própria divulgação". (4)

Nos dias de hoje, existem inúmeros grupos de estudo e discussões sobre temas espíritas, na Internet, com um conteúdo magnífico. Não há dúvida de que é um excelente instrumento de divulgação, especialmente, pelo fato de atingir longas distâncias, e, até mesmo, outros países, onde a Doutrina Espírita, ainda, é pouco conhecida. Cremos que nós, os espíritas, não devemos resistir aos avanços da tecnologia, temos que nos acostumar com isso, e estarmos sempre atualizados, porque a geração que já se aproxima dominará essa linguagem e, se pudermos facultar a aquisição do conhecimento espírita a esses jovens do futuro, será um extraordinário projeto espiritual para a sociedade contemporãnea. "a Internet elimina as barreiras físicas e estabelece a ligação que permite que as notícias corram rapidamente o mundo, que novas idéias sejam apresentadas e debatidas, que exemplos sejam conhecidos e seguidos, que resultados sejam checados e validados. Nela estamos todos próximos, todos em condição de conhecer o que se passa nos vários cantos deste nosso mundo."(5)

Nesta Era Digital, os estímulos de fraternidade, entre as diversas instituições espíritas em nível mundial, serão factíveis pelo intercâmbio que poderá ser mantido e pela possibilidade de se elaborar cursos interativos, por exemplo, uma discussão da obra de André Luiz, apontando links relevantes entre os deferentes textos, e com comentários feitos por autores reconhecidos. Pela rede de computadores, surge uma nova Era para o movimento espírita, sobretudo, na diretriz dada por Ismael ao Brasil. Há dois mil anos, Paulo de Tarso teve que andar a pé, cerca de 500 mil quilômetros, para divulgar a Boa Nova. Hoje, Deus nos oportuniza, do conforto da nossa casa, participar de estudos interativos em "salas espíritas" - a exemplo do uso do Paltalk - e, com isso, espalharmos a Terceira Revelação aos mais longínquos recantos da Terra.

Por essas razões, o orador Divaldo Franco afirma "que se Allan Kardec estivesse reencarnado, nestes dias, utilizar-se-ia da Internet com a mesma nobreza com que recorreu à imprensa do seu tempo na divulgação e defesa do Espiritismo, diante dos seus naturais adversários" (6), e acrescenta: "comovo-me diante deste excelente recurso que diminui distância, ainda mais por sentir, participando deste nosso convívio, alguns benfeitores espirituais que estão a todos nos envolvendo em ondas de paz e vibrações de saúde, entre os quais, os Espíritos Eurípedes Barsanulfo, Cairbar Schutel, Joanna de Ângelis e Vinícius, igualmente felizes, abençoando a tecnologia e a informática utilizadas para o bem". (7)

Por essas relevantes razões, "é interessante que as Casas Espíritas busquem os recursos tecnológicos como retroprojetores, datashows, áudios, vídeos, filmes, microfones, caixas de som e todo ferramental disponível que seja útil e aplicável para o aprendizado das Verdades da Vida, mas, principalmente, através desse imenso e irreversível universo de utilização da Informação por meios eletrônicos." (8)

FONTES:

(1) Macedo, Reinaldo. Espiritismo e Tecnologia da Informação (palestra realizada em 25.08.08 por ocasião da 44ª. Semana de Confraternização dos CEs do Méier e Adjacências no CENMC - RJ). Reinaldo é o Webmaster do site http://jorgehessen.net - ver este estudo no ítem 44 de 2008.
(2) Franco Divaldo. Entrevista para Revista Eletrônica O Consolador, disponível em http://www.oconsolador.com.br/51/entrevista.html
(3) Kardec ,Allan. Obras Póstumas -Projeto 1868, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001
(4) Xavier, Francisco Cândido. Estude e Viva, Ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. 40.
(5) Bernardo ,Carlos Alberto Iglesia. Espiritismo e a Internet, Artigo publicado no Boletim GEAE Número 282, de 3 de março de 1998.
(6) Franco. Entrevista para Revista Eletrônica O Consolador, disponível em http://www.oconsolador.com.br/51/entrevista.html
(7) Franco, em palestra virtual realizada dia 17/03/2000
(8) Macedo, Reinaldo. Espiritismo e Tecnologia da Informação (palestra realizada em 25.08.08 por ocasião da 44ª. Semana de Confraternização dos CEs do Méier e Adjacências no CENMC - RJ). Reinaldo é o Webmaster do site http://jorgehessen.net - ver este estudo no ítem 44 de 2008.

Os sonhos no Espiritismo e na neurociência

Por João Alberto Vendrani Donha

Quando, em artigo anterior, eu disse que o Espiritismo trouxe a primeira e mais completa teoria científica sobre os sonhos, reconheço que pareceu ufanismo de crente. Naquela oportunidade, eu o estava comparando à contribuição freudiana e afirmei que o Espiritismo admitia os sonhos como sendo desde manifestação puramente cerebral, passando pela identificação do sonho como realização do desejo (LE 405,406) e, ampliando sobremaneira seu conceito quando desvenda o desprendimento do espírito durante o sono e suas atividades extra-corpóreas. Deteve-se, preferencialmente, como bem o sabemos, nestes últimos, os "sonhos profundos". Agora, a divulgação de recente trabalho no campo da neurobiologia, permite-me continuar acreditando no pioneirismo espírita.

Durante quase todo o século XX os sonhos foram encarados como propriedade quase exclusiva da psicanálise; apesar disso, os neurocientistas nunca abandonaram as pesquisas e os resultados que sugerem seja o sonho conseqüência direta das alterações do funcionamento do cérebro durante o sono. Assim é que o artigo publicado em 01.03.03, no Le Monde, dando conta de uma pesquisa aparentemente aproximativa entre as duas ciências, tem como título: "Pode-se sonhar sem Freud?". O artigo, assinado por Catherine Vincent, traz, ainda, como subtítulo: "Os sonhos poderiam nascer do despertar. Esta abordagem recente da neurobiologia não contradiz a psicanálise".

A pesquisa citada é da neurobióloga Sophie Schwartz, da Universidade College de Londres, publicada em outubro de 2002 na revista "Sciences et Avenir", e que tentaremos resumir a seguir.

No período de sono, o córtex cerebral funciona na ausência de dois tipos de controles: o controle sensorial externo (o que vemos, o que ouvimos), e o controle "neuromodulador" de uma certa categoria de neurônios, encarregados, no estado de vigília, de hierarquizar a atividade das áreas cerebrais. A atividade do córtex durante o sono depende, pois, estreitamente das memórias constituídas nos períodos de vigília. Em outros termos, do funcionamento analógico do sistema nervoso central (no cérebro adulto, existiriam dois modos de estocagem das informações: um modo rápido, chamado analógico, onde a informação é tratada e registrada em algumas centenas de milissegundos sem que se tenha disso consciência, e um modo lento, dito cognitivo, onde a informação é analisada conscientemente antes de ser estocada).

E o que têm os sonhos com isso? Os neurocientistas respondem. As fases regulares de sono são entrecortadas de períodos muito curtos de "micro-despertamentos", que duram poucos segundos e podem se repetir uma dezena de vezes durante a noite. Ora, o estudo experimental tem demonstrado que esses micro-despertamentos estão associados à entrada em atividade dos neurônios moduladores. Daí a conclusão do subtítulo: os sonhos nasceriam do despertar!

Quando estamos em vigília estável, o modo de funcionamento cognitivo do nosso cérebro dá permanentemente uma coerência aos nossos atos e aos nossos pensamentos. Mas, quando ocorre um desses micro-despertamentos, a reativação abrupta dos neurônios moduladores provoca a entrada em forma consciente do conteúdo das memórias recém-ativadas. Como esta operação ocorre em algumas centenas de milissegundos, a censura, ativa em estado de vigília, não apareceria aqui. Daí as características bizarras do sonho: escala aberrante dos objetos, pessoas conhecidas com rostos estranhos, confusão de imagens, etc.

Mas, ainda segundo o artigo, os psicanalistas poderiam retorquir: esta hipótese permite explicar porque eu sonho com um cão gigantesco, mas não esclarece porque eu sonho com um cão! A neurobióloga reconhece que, com efeito, durante o sono, as memórias de nosso cérebro não seriam ativadas de maneira aleatória. Teriam mais chances de serem ativadas aquelas que possuíssem mais importância, maior carga emocional, sejam as dos primeiros anos da vida ou as dos dias que precedem o sonho. Enfim, continuaria sobrando muito interesse e material para análise.

Pois bem, o Espiritismo também não é contradito por esta pesquisa: a teoria espírita dos sonhos, revelada (não o podemos negar) com século e meio de antecedência, aborda essa relação entre sonho e despertar! Na questão 425 de "O Livro dos Espíritos", respondendo a uma pergunta de Kardec sobre a relação entre o sonambulismo natural e o sono, os Espíritos dizem, entre outras coisas: "Nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar. Recebem imperfeitamente as impressões produzidas por objetos ou causas externas e as comunicam ao Espírito, que, então, também em repouso, só experimenta, do que lhe é transmitido, sensações confusas e, amiúde, desordenadas, sem nenhuma aparente razão de ser, mescladas que se apresentam de vagas recordações, quer da existência atual, quer de anteriores". (LE 425; mas não conferir pela tradução do Herculano, que está incompleta).

O Espiritismo, como filosofia destinada a "marcar uma nova era na vida da humanidade" (E.I.8), aborda os problemas humanos de forma genérica. A Ciência, com outro desiderato, pesquisa, experimenta, detalha. Mas, o pesquisador espírita encontraria muitas "dicas" na leitura atenta daquelas generalidades filosóficas.