Por Carlos de Brito Imbassahy
Desde minha adolescência sempre vi e ouvi diversos participantes do movimento espírita dizerem que era preciso atualizar Kardec, cada qual usando um argumento diferente.
É claro que, se o codificador do Espiritismo definiu esta doutrina como sendo de natureza científica com conclusões filosóficas (ver preâmbulo do livro “O Que é o Espiritismo”), como ciência, ela precisa estar se atualizando com as novas descobertas, principalmente, em se levando na conta de que a codificação data de meados de século XIX e atualmente muitos conceitos científicos usados àquela época foram devidamente alterados.
Mas, na verdade, o que tenho visto são verdadeiras aberrações e, para ilustrar esta afirmativa cito o caso em que, numa Sala espírita da Internet estudávamos o livro “O Céu e o Inferno” cuja segunda parte, toda, Kardec dedica à invocação de Entidades espirituais. Um dos participantes afirmou que Kardec estava errado porque Emmanuel, lembrando Paulo aos Hebreus – versículo que condena a evocação dos mortos –, diz que “o telefone só toca de lá para cá”. Sem comentários.
No caso, a maioria dos que querem reformular a obra de Kardec, na verdade, deixam-se levar pelos seus próprios pensamentos, alguns ligados a tradições cristãs e outros admiradores de obras mediúnicas, nem sempre coerentes com o pensamento do mestre lionês.
Até então, ainda não me deparei com nenhum espírita que, de fato, proponha a atualização da linguagem, porque, a não ser os que militam nas áreas científicas, os demais também não estão a par da nova terminologia empregada, como no caso do termo “fluido” que, na época da codificação, abrangia tudo o que não fosse sólido, inclusive as energias, como a elétrica. Hoje, apenas os líquidos e os gases são considerados como fluidos. Assim, os técnicos da linguagem, usam o conceito de “eflúvios” para definir aquilo que seria o aludido fluido psíquico ou espiritual.
E outras coisas mais neste sentido.
O estudo da Mecânica Quântica, por exemplo, inteiramente desconhecida dos médiuns e mensageiros espirituais que estão transformando o Espiritismo no Brasil em mais uma seita cristã, traz-nos novas idéias que, se analisarmos o que foi dito à época da codificação, podemos, perfeitamente, adaptar aos novos conceitos, desde que atualizemos nossas linguagens, mas, justamente isso é que não interessa aos evangelizadores das igrejas que migraram para o movimento espírita porque teriam que reformular suas antigas posições em vez de alterar os conceitos espíritas como vêm a ser seus desejos, para adaptá-los às suas velhas tendências.
Kardec não podia, à sua época, falar em coisas que só foram descobertas mais de um século após seu falecimento, pois isto seria antecipar os conhecimentos humanos e ele seria considerado um visionário, como o foi Jules Verne.
Assim mesmo, muita coisa antecipada em suas obras foi tida como pura imaginação de crenças espirituais! Calculemos, se ele afirmasse que o mundo material compreendia apenas 27% do Universo e que o resto era a provável Espiritualidade, que Deus não podia ser aquele apresentado pela Bíblia e que a Terra não era sua obra prima! Naquela época, ninguém tomaria conhecimento da sua obra.
O que temos que levar em conta é que, de fato, o Espiritismo foi codificado num tempo em que o conhecimento científico relativo ao que já sabemos era por demais precário e que se supunha que o homem, segundo a Bíblia estaria condenado a viver preso ao planeta, não se admitindo que ele se tornasse um astronauta capaz de sair da nossa atmosfera impunemente e voltar sem que tenha sido castigado por obra e graça divina. Até hoje, várias Igrejas cristãs garantem que tudo é mentira e armação dos americanos, pois, pela Bíblia, o homem não pode sair da Terra.
Todavia, os novos adeptos do movimento espírita, ainda calcados nos conceitos evangélicos de suas antigas seitas, acham (doutrina do “achismo”) que o Espiritismo precisa exatamente se transformar em mais um movimento cristão para que Jesus olhe por nós e não nos abandone. Como se os Espíritos superiores fossem mesquinhos como os humanos vulgares.
E ainda é a grande influência da Igreja e de Entidades ligadas a ela que dita esse desejo de transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã, o que, em vez de atualizá-lo, fa-lo-ia regredir aos antigos e impróprios conceitos religiosos.
Além disso, se a finalidade da doutrina espírita é a de levar os ensinamentos e a doutrina de Jesus aos cientistas sem lhes atacar o fundamento da razão, fazendo com que a codificação se torne em mais um movimento cristão, o que se vai obter, justamente, é o resultado contrário. Além disso, com as novas descobertas dos documentos do mar Morto, tudo aquilo que a Igreja impôs como evangélico está sob suspeita de não ser verdade. Por que, então continuar insistindo em tal erro, em vez de pautar o Espiritismo pelos fundamentos que Kardec estabeleceu, principalmente na obra que ele próprio considerou como básica para os estudos doutrinários? Mas, “O Que é o Espiritismo” justamente, vem a ser o livro que os evangélicos excluem de seus estudos. Pudera!
Atualizar Kardec, pois, não é alterar seu pensamento, mas colocá-lo na linguagem atual esclarecendo o possível significado das suas afirmativas com a coerência do que se conhece pelas novas concepções estabelecidas.
O que não se pode, também, é negar as pesquisas que os parapsicólogos fazem – já que os espíritas são omissos –, servindo-se da linguagem atualmente considerada arcaica, usada pelo codificador.
E principalmente: reconhecer que ele não podia ter sido mais claro e preciso do que fora, ante os conhecimentos de sua época.
Atualizar é uma coisa, modificar é outra.
Fonte: Revista Harmonia - Edição nº 167
Desde minha adolescência sempre vi e ouvi diversos participantes do movimento espírita dizerem que era preciso atualizar Kardec, cada qual usando um argumento diferente.
É claro que, se o codificador do Espiritismo definiu esta doutrina como sendo de natureza científica com conclusões filosóficas (ver preâmbulo do livro “O Que é o Espiritismo”), como ciência, ela precisa estar se atualizando com as novas descobertas, principalmente, em se levando na conta de que a codificação data de meados de século XIX e atualmente muitos conceitos científicos usados àquela época foram devidamente alterados.
Mas, na verdade, o que tenho visto são verdadeiras aberrações e, para ilustrar esta afirmativa cito o caso em que, numa Sala espírita da Internet estudávamos o livro “O Céu e o Inferno” cuja segunda parte, toda, Kardec dedica à invocação de Entidades espirituais. Um dos participantes afirmou que Kardec estava errado porque Emmanuel, lembrando Paulo aos Hebreus – versículo que condena a evocação dos mortos –, diz que “o telefone só toca de lá para cá”. Sem comentários.
No caso, a maioria dos que querem reformular a obra de Kardec, na verdade, deixam-se levar pelos seus próprios pensamentos, alguns ligados a tradições cristãs e outros admiradores de obras mediúnicas, nem sempre coerentes com o pensamento do mestre lionês.
Até então, ainda não me deparei com nenhum espírita que, de fato, proponha a atualização da linguagem, porque, a não ser os que militam nas áreas científicas, os demais também não estão a par da nova terminologia empregada, como no caso do termo “fluido” que, na época da codificação, abrangia tudo o que não fosse sólido, inclusive as energias, como a elétrica. Hoje, apenas os líquidos e os gases são considerados como fluidos. Assim, os técnicos da linguagem, usam o conceito de “eflúvios” para definir aquilo que seria o aludido fluido psíquico ou espiritual.
E outras coisas mais neste sentido.
O estudo da Mecânica Quântica, por exemplo, inteiramente desconhecida dos médiuns e mensageiros espirituais que estão transformando o Espiritismo no Brasil em mais uma seita cristã, traz-nos novas idéias que, se analisarmos o que foi dito à época da codificação, podemos, perfeitamente, adaptar aos novos conceitos, desde que atualizemos nossas linguagens, mas, justamente isso é que não interessa aos evangelizadores das igrejas que migraram para o movimento espírita porque teriam que reformular suas antigas posições em vez de alterar os conceitos espíritas como vêm a ser seus desejos, para adaptá-los às suas velhas tendências.
Kardec não podia, à sua época, falar em coisas que só foram descobertas mais de um século após seu falecimento, pois isto seria antecipar os conhecimentos humanos e ele seria considerado um visionário, como o foi Jules Verne.
Assim mesmo, muita coisa antecipada em suas obras foi tida como pura imaginação de crenças espirituais! Calculemos, se ele afirmasse que o mundo material compreendia apenas 27% do Universo e que o resto era a provável Espiritualidade, que Deus não podia ser aquele apresentado pela Bíblia e que a Terra não era sua obra prima! Naquela época, ninguém tomaria conhecimento da sua obra.
O que temos que levar em conta é que, de fato, o Espiritismo foi codificado num tempo em que o conhecimento científico relativo ao que já sabemos era por demais precário e que se supunha que o homem, segundo a Bíblia estaria condenado a viver preso ao planeta, não se admitindo que ele se tornasse um astronauta capaz de sair da nossa atmosfera impunemente e voltar sem que tenha sido castigado por obra e graça divina. Até hoje, várias Igrejas cristãs garantem que tudo é mentira e armação dos americanos, pois, pela Bíblia, o homem não pode sair da Terra.
Todavia, os novos adeptos do movimento espírita, ainda calcados nos conceitos evangélicos de suas antigas seitas, acham (doutrina do “achismo”) que o Espiritismo precisa exatamente se transformar em mais um movimento cristão para que Jesus olhe por nós e não nos abandone. Como se os Espíritos superiores fossem mesquinhos como os humanos vulgares.
E ainda é a grande influência da Igreja e de Entidades ligadas a ela que dita esse desejo de transformar o Espiritismo em mais uma seita cristã, o que, em vez de atualizá-lo, fa-lo-ia regredir aos antigos e impróprios conceitos religiosos.
Além disso, se a finalidade da doutrina espírita é a de levar os ensinamentos e a doutrina de Jesus aos cientistas sem lhes atacar o fundamento da razão, fazendo com que a codificação se torne em mais um movimento cristão, o que se vai obter, justamente, é o resultado contrário. Além disso, com as novas descobertas dos documentos do mar Morto, tudo aquilo que a Igreja impôs como evangélico está sob suspeita de não ser verdade. Por que, então continuar insistindo em tal erro, em vez de pautar o Espiritismo pelos fundamentos que Kardec estabeleceu, principalmente na obra que ele próprio considerou como básica para os estudos doutrinários? Mas, “O Que é o Espiritismo” justamente, vem a ser o livro que os evangélicos excluem de seus estudos. Pudera!
Atualizar Kardec, pois, não é alterar seu pensamento, mas colocá-lo na linguagem atual esclarecendo o possível significado das suas afirmativas com a coerência do que se conhece pelas novas concepções estabelecidas.
O que não se pode, também, é negar as pesquisas que os parapsicólogos fazem – já que os espíritas são omissos –, servindo-se da linguagem atualmente considerada arcaica, usada pelo codificador.
E principalmente: reconhecer que ele não podia ter sido mais claro e preciso do que fora, ante os conhecimentos de sua época.
Atualizar é uma coisa, modificar é outra.
Fonte: Revista Harmonia - Edição nº 167
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