quarta-feira, 29 de abril de 2015

Movimento e Pesquisas Espíritas

Por Carlos Antônio de Barros

Muita gente em nosso meio acredita que a Doutrina Espírita esteja pronta e acabada. Assim pensa os espíritas religiosos. Logo, não tem porquê nem para quê acrescentar algo mais em nome da Ciência.

A palavra "inacabada", contudo, soa como herética aos ouvidos dos espíritas religiosos que acham não ter mais o que estudar e pesquisar, em face do "complemento definitivo" feito com os livros psicografados por Chico Xavier sob a orientação do seu orientador espiritual, Emmanuel.

Os espíritas que simpatizam com o aspecto científico da Doutrina não se conformam com a ideia de segui-la no formato "igrejificado", respingada de dogmas e atavismos teológicos que a deixa obscurecida pela fé cega.

Esta pendenga doutrinária, infelizmente, acabou dividindo o movimento em grupos que, soberbamente, classificam Allan Kardec como "superado" e que decidiram pesquisar a Bíblia para explicar o Espiritismo, com o propósito de trazer "novas luzes" para O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Os espíritas filosóficos - aqueles que se autodenominal de "livres pensadores", correm por fora de todo esse imbróglio preservando-se de atritos e contendas inúteis.

Alguns desses filósofos, evidentemente, admiram a sede conhecimentos dos espíritas científicos e pretendem dividir com estes as pesquisas que o Espiritismo "inacabado" tanto reclama.

Grupos, núcleos e associações espíritas estão se mobilizando em todo o País, implementando projetos para formar novos pesquisadores imbuídos do espírito perspicaz e investigativo de Kardec. Não se sabe ao certo se os projetos vão tomar a dimensão desejada e encontrar respostas em meio a tantas questões que permeiam o complexo campo da Ciência Espírita.

O saudoso e respeitado pesquisador paulista, José Herculano Pires (1914-1979), refere-se à Epistemologia Espírita - Estudo Crítico do Conhecimento Científico à Luz do Espiritismo, como indispensável à sua compreensão.

Segundo Herculano Pires, Kardec examina a posição epistemológica do Espiritismo na "Introdução do Estudo da Doutrina", que abre O Livro dos Espíritos. Resta saber, portanto, quem se interessou e leu essa relevante introdução.

Um texto que a maioria dos espíritas acha chato porque não traz nenhuma revelação dos mais sombrios umbrais ou alguma curiosidade sobre a colônia Nosso lar.

Lembrando: a posição epistemológica do Espiritismo não pode ser modificada a bel prazer dos espíritas entusiasmados com o seu pseudo-saber.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Elias - João Batista - Allan Kardec

O profeta, o precursor, o apóstolo

Do IPEAK

    Apesar de às vezes parecer que a Humanidade terrestre está entregue às suas próprias forças, ao fazermos algumas reflexões com base nos dados da nossa própria história, notamos que isso não é verdade. Muito devemos a Espíritos nobres que desde o inicio estão conduzindo o leme desta embarcação que serve de moradia a Espíritos que para aqui veem a fim de aprender e progredir.

       Nosso propósito, nestas breves reflexões, é seguir a trajetória de um desses Espíritos que temos hoje como nosso Mestre, e que ficou conhecido na Terra como Allan Kardec. Vamos tomar como ponto de partida o personagem Elias, tendo por base os dados históricos registrados na Bíblia, e nessa mesma fonte iremos encontrar registros desse nobre Espírito voltando à Terra, sempre com o objetivo de fazer com que a Humanidade avance na via do progresso intelecto-moral. Vamos então seguir sua passagem pela Terra em três momentos: como Elias, no século IX a.C., no primeiro século da era cristã, como João Batista, e no século XIX, como Allan Kardec.

Elias, o profeta


    Elias viveu em Israel, no século IX a.C., durante o reinado de Acab, após a morte do rei Salomão. Ele anunciava Yahweh, Deus de Israel, face a Baal, deus dos Cananeus, do qual Jezabel, esposa do rei Acab, era ardente missionária.

    A palavra Elias vem do hebreu Eliyâhou ou Eliyâh, que quer dizer: Yahweh é meu Deus.

    O profeta Elias tinha uma ardente fé em Deus, e seu objetivo era despertar no povo pagão a fé no Deus único, no Deus vivo, pregar a moral e defender os frágeis contra a tirania real. Ele surge no Antigo Testamento numa hora em que a fragilidade do rei Acab, pela falta de fé no Deus vivo, precipitava Israel no paganismo. Isso foi por volta de 875-850 a.C.

    No tempo de Elias os profetas do Deus vivo eram facilmente massacrados pelos seguidores de Baal, mas ele foi um sobrevivente e, segundo as tradições, fora arrebatado aos céus numa carruagem de fogo. Pouco antes de partir ele passou seu manto e seus poderes a seu discípulo Eliseu.

Elias ressuscita o filho de uma viúva

    Há uma passagem tocante sobre a vida desse grande profeta, no livro 1Reis,  cap. XVII, 17 a 24.

    Elias havia se hospedado, por orientação da voz que o guiava, na casa de uma pobre viúva que vivia com seu único filho, e mal tinham com que se alimentar.

    Um dia o filho da viúva foi atingido por uma enfermidade tão violenta que parou de respirar. A mulher disse a Elias: “Que há entre vós e mim, homem de Deus? Viestes à minha casa para me trazer à memória os meus pecados, e para fazer morrer meu filho?

    Elias lhe disse: Dai-me vosso filho. E, tendo-o tomado nos braços, levou-o para seu quarto e colocou-o sobre a cama.

    Em seguida rogou ao Senhor, e lhe disse: Senhor meu Deus, afligistes essa viúva que tem o cuidado de me alimentar como pode, até mesmo fazendo morrer seu filho?

    Depois, implorou ao Senhor, dizendo-lhe: Senhor, meu Deus, fazei, eu vos peço, que a alma dessa criança volte ao seu corpo.

    E o Senhor atendeu a prece de Elias; a alma da criança voltou, e ela retomou a vida. A mulher disse a Elias: eu reconheço agora, após esta ação, que sois um homem de Deus, e que a palavra do Senhor é verdadeira em vossa boca.”

    Elias ainda é lembrado hoje em dia como um homem virtuoso, respeitado por muitas religiões, e comemorado em várias nações. Muitas montanhas levam o seu nome, dentre as quais a mais conhecida é o monte Santo Elias, no Alasca.

    O conjunto de livros de Reis, que trazem as narrativas da vida e dos feitos dessa grande alma é conhecido como o “Ciclo de Elias”.

Predição da vinda do precursor do Messias

    Naquele tempo, segundo os escritos bíblicos, o povo judeu estava esquecendo as leis trazidas por Moisés, estava deixando de lado o culto a Deus, e a injustiça se alastrava causando dor e sofrimento.

    No Antigo Testamento, no livro de Malaquias, por volta do V século a.C., vamos encontrar a predição da volta de Elias, agora como sendo aquele que viria preparar o povo para receber o Messias. Eis como está escrito sobre a vinda do precursor:

    O Senhor disse a Malaquias: “Lembrai-vos da lei de Moisés, meu servidor, lei que lhe deixei na montanha de Horeb, para que ele levasse a todo o povo de Israel meus preceitos e meus mandamentos.

    Eu vos enviarei o profeta Elias, antes que chegue o grande dia do Senhor; e ele reunirá o coração dos pais aos dos seus filhos, e o coração dos filhos aos dos seus pais, para que, vindo, eu não lance anátema sobre a Terra." (Malaquias, cap. IV, 4 a 6.)

Comentário de Santo Agostinho sobre a nova vinda de Elias

    Santo Agostinho comenta a predição de Malachias em sua obra intitulada A cidade de Deus, livro XX, cap. XXIV. Reproduzimos aqui um pequeno trecho:

    "Após haver advertido os judeus para que se lembrassem da lei de Moisés, bem prevendo que ainda por longo tempo eles não a conceberiam espiritualmente, logo a seguir a Escritura acrescenta: 'Eu vos enviarei Elias de Thesba, antes que esse grande e luminoso dia do Senhor chegue. E ele volverá o coração do pai ao do filho, e o coração do homem ao de seu próximo, para que, no meu advento, eu não lance anátema à Terra.’

    É uma crença bastante geral entre os fiéis, que no fim do mundo, antes do julgamento, os judeus devem crer no verdadeiro Messias, isto é, em nosso Cristo, por meio desse grande e admirável profeta Elias, que lhes explicará a lei. Além disso, não é sem razão que se espera nele o precursor do advento de Jesus Cristo, pois não é sem razão que ainda agora se crê que ele vive. É certo, com efeito, segundo o testemunho da própria Escritura, que ele foi arrebatado num carro de fogo. Quando ele vier, explicará espiritualmente a lei que os judeus ainda entendem carnalmente, e ‘ele unirá o coração do pai ao do filho’,(…). O sentido é que os judeus, que são os filhos dos profetas, no número dos quais está Moisés, compreenderão a lei como seus pais, e assim o coração dos pais se reunirá aos dos filhos e o coração dos filhos aos de seus pais, quando tiverem os mesmos sentimentos." (...)[1]

João Batista, o precursor       


    Segundo o Evangelho de Lucas, João é filho do sacerdote Zacarias e de Elizabeth, prima de Maria, mãe de Jesus. Zacarias orava a Deus com fervor diante do altar; o anjo Gabriel apareceu ao seu lado, e Zacarias assustou-se. Mas o anjo lhe disse: “Não temas Zacarias, pois tua prece foi ouvida. Tua esposa te dará um filho, e tu lhe darás o nome de João. Ele será para ti um motivo de alegria e contentamento, e muitos se felicitarão com o seu nascimento, pois ele será grande diante do Senhor; não beberá vinho nem outra bebida que possa embriagar, e será repleto do Espírito santo desde o ventre de sua mãe; ele conduzirá ao Senhor seu Deus muitos dos filhos de Israel; caminhará diante de Deus com o espírito e o poder de Elias, para reunir os corações dos pais aos dos seus filhos, e chamar os rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo perfeito.” (Lucas, 1: 5 a 17.)

João Batista é Elias reencarnado

    O Novo Testamento tem algumas passagens que atestam de forma clara que João Batista, o precursor de Jesus, é Elias reencarnado.

    No Evangelho de Mateus, cap. 11: 1 a 10, lemos o seguinte:

    “Ora, tendo João, na prisão, tomado conhecimento das obras maravilhosas de Jesus Cristo, envia dois de seus discípulos lhe dizer: Sois vós aquele de deve vir, ou devemos nós esperar um outro?

    Jesus lhes respondeu: Ide contar a João o que haveis ouvido e o que haveis visto: Os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres.

    E feliz daquele que não fizer de um motivo de escândalo e queda.

    Quando eles se foram [os discípulos de João], Jesus começa a falar de João ao povo, desta maneira:

    O que ides ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?

    O que ides vós, digo eu, ver? Um homem indolente vestido de luxo? Sabeis que aqueles que se vestem dessa forma estão nas mansões dos reis.[2]

    Que ides ver então? Um profeta? Sim, eu vo-lo digo, e mais que um profeta.

    Pois é dele que foi escrito: Eu envio a vós o meu anjo, que vos preparará o caminho por onde deveis andar.

    Em verdade eu vos digo: entre os que são nascidos de mulher, não teve nenhum maior que João Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus, é maior que ele.(…)”

    Logo após o evento da transfiguração de Jesus no Monte Tabor, e de terem vindo confabular com o Mestre os Espíritos de Moisés e Elias, os discípulos Pedro, Tiago e João, que testemunharam aquela cena, perguntaram a Jesus:

    “Por que, pois, dizem os escribas ser preciso que, antes, venha Elias? - Jesus lhes respondeu: É certo que Elias tem de vir e que restabelecerá todas as coisas.

    Mas, eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram; antes o trataram como lhes aprouve. É assim que farão morrer o Filho do homem.

    Então, seus discípulos compreenderam que era de João Batista que ele lhes falara.” (S. Mateus, 17:10 a 13.)

    As palavras de Jesus sobre João Batista são suficientes para que não precisemos buscar evidenciar ainda mais o caráter desse Espírito e a importância do seu papel como precursor do Messias.

Kardec fala sobre o novo advento de Elias

    "Ora, desde o tempo de João Batista até o presente, o reino dos céus é tomado pela violência e são os violentos que o arrebatam; - pois assim o profetizaram todos os profetas até João, e também a lei. - Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o Elias que deve vir. - Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir. (S. Mateus, 11:12 a 15.)”

    Se o princípio da reencarnação, conforme se acha expresso em S. João, podia, a rigor, ser interpretado em sentido puramente místico, o mesmo já não acontece com esta passagem de S. Mateus, que não permite equívoco: ELE MESMO é o Elias que deve vir. Não há aí figura, nem alegoria: é uma afirmação positiva. - ‘Desde o tempo de João Batista até o presente o reino dos céus é tomado pela violência.’ Que significam essas palavras, uma vez que João Batista ainda vivia naquele momento? Jesus as explica, dizendo: 'Se quiserdes compreender o que digo, ele mesmo é o Elias que deve vir.’ Ora, sendo João o próprio Elias, Jesus alude à época em que João vivia com o nome de Elias. 'Até ao presente o reino dos céus é tomado pela violência': outra alusão à violência da lei moisaica, que ordenava o extermínio dos infiéis, para que os demais ganhassem a Terra Prometida, Paraíso dos hebreus, ao passo que, segundo a nova lei, o céu se ganha pela caridade e pela brandura.

    E acrescentou: Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. Essas palavras, que Jesus tanto repetiu, claramente dizem que nem todos estavam em condições de compreender certas verdades." [3]

    "Elias já voltara na pessoa de João Batista. Seu novo advento é anunciado de modo explícito. Ora, como ele não pode voltar, senão tomando um novo corpo, aí temos a consagração formal do princípio da pluralidade das existências. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, nº 10.)”[4]                         

Anunciação do Consolador

    "Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: – O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. – Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito. (S. João, 14:15 a 17 e 26.)

    Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido.”[5]                         

    “Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, juntamente com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos.[6]

    Aqui fica bem claro que Elias estaria ao lado do Espírito de Verdade, que é o próprio Cristo, para restabelecer todas as coisas.

Por que Consolador? É Kardec quem responde:

    "Por que chama ele Consolador ao novo messias? Este nome, significativo e sem ambiguidade, encerra toda uma revelação. Assim, ele previa que os homens teriam necessidade de consolações, o que implica a insuficiência daquelas que eles achariam na crença que iam fundar. Talvez nunca o Cristo fosse tão claro, tão explícito, como nestas últimas palavras, às quais poucas pessoas deram atenção bastante, provavelmente porque evitaram esclarecê-las e aprofundar-lhes o sentido profético."[7]

O Espírito de Verdade é o guia espiritual de Allan Kardec

    Na Revista Espírita de novembro de 1861, no discurso feito por Allan Kardec no banquete que lhe fora oferecido em Bordeaux, ele lê uma comunicação que havia recebido sobre o grupo espírita que se formava naquela cidade, e assim se refere:

    “Eis, acerca deste assunto, o que ainda ontem, antes da sessão, dizia meu guia espiritual, o Espírito de Verdade.”

    Numa dissertação do Espírito de Verdade ele assim se refere àquele que está à frente da Doutrina Espírita, isto é a Kardec: “Estou convosco e meu apóstolo vos instrui.”[8]

    Não resta dúvida de que essas duas grandes almas, juntamente, vieram, pelo Espiritismo, restabelecer o verdadeiro pensamento do Cristo.

Allan Kardec, o Apóstolo

    Vejamos o que diz Santo Agostinho sobre o mestre Allan Kardec, numa comunicação publicada na Revista Espírita:

    “Um Espírito encarnado foi escolhido para vos dirigir, para vos conduzir. Submetei-vos com respeito, não às suas leis, pois ele não dá ordens, mas aos seus desejos. Por essa submissão provareis aos vossos inimigos que tendes o necessário espírito de disciplina para fazerdes parte da nova cruzada contra o erro e a superstição, o necessário espírito de amor e de obediência para marchardes contra a barbárie.

    “Envolvei-vos, pois, nessa bandeira da civilização moderna: o Espiritismo sob um só chefe, e derrubareis essas ideias esquisitas de frontes cornudas e de grandes caudas que devem ser destruídas.

    “Esse chefe, cujo nome não direi, bem o conheceis. Ele está na frente. Ele marcha sem temor às picadas venenosas das serpentes e dos répteis da inveja e do ciúme que o cercam. Ele ficará de pé, porque ungimos o seu corpo, para que seja sempre sólido e robusto. Segui-o, então. Mas, em vossa marcha, as tempestades cairão sobre as vossas cabeças e alguns de vós não encontrarão refúgio nem abrigo. Que esses se resignem com coragem, como os mártires cristãos, e pensem que a grande obra pela qual terão sofrido é a vida, é o despertar das nações adormecidas e que por isso serão largamente recompensados um dia, no reino do Pai.” Santo Agostinho.[9]

Jesus, Moisés e Elias: os três reveladores.

    "Seis dias depois, tendo chamado de parte a Pedro, Tiago e João, Jesus os levou consigo a uma alta montanha afastada[10] e se transfigurou diante deles. - Enquanto orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram brilhantemente luminosas e brancas como a neve, de maneira que não há pisoeiro na Terra que possa fazer alguma tão branca. - E eles viram aparecer Elias e Moisés, que conversavam com Jesus." [11]

    No monte Tabor, diante dos três discípulo que Jesus chamara para acompanhá-lo, eis que aparecem, ao lado do Mestre, os Espírito de Moisés e de Elias…

    Naquela cena, em que Jesus mostra seu esplendor como Espírito puro que é, vemos um marco importante para a história da Humanidade, pois estavam ali os três reveladores das leis morais: Moisés, Jesus e Kardec.

Caráter da revelação espírita - Terceira revelação

    “O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.

    A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.

    Assim como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, também o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra."[12]       

O Consolador consiste nas relações entre os Espíritos e os homens

    "O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações.

    Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” (Allan Kardec, O que é o Espiritismo?, Preâmbulo.)       

    Haveria, neste momento por que passa a Humanidade terrena, maior consolo do que obter, nas instruções obtidas nas comunicações com os Espíritos do progresso, por evocação ou espontaneamente, nos diálogos com nossos familiares que nos antecederam na volta para a verdadeira vida, a fé em Deus e a certeza da vida futura?

    Poderíamos, fora das relações com os Espíritos, compreender a justiça divina, obter consolo e aquecer a esperança em melhores dias?

    Todavia, há Espíritos que, embora comunicando-se com os vivos, orientam seus médiuns a desaconselhar as evocações dos familiares, dos Anjos guardiães e dos demais guias, enfim, querem que só alguns possam se comunicar, minando assim o aspecto consolador do Espiritismo…

    Vejamos o que diz o Espírito de Verdade a este respeito:

    “Aliás, os Espíritos que pretendem ser eles os únicos que se podem comunicar esquecem-se de dizer por que não o podem os outros fazê-lo. A pretensão que manifestam é a negação do que o Espiritismo tem de mais belo e de mais consolador: as relações do mundo visível com o mundo invisível, dos homens com os seres que lhes são caros e que assim estariam para eles sem remissão perdidos. São essas relações que identificam o homem com o seu futuro, que o desprendem do mundo material. Suprimi-las é remergulhá-lo na dúvida, que constitui o seu tormento; é alimentar-lhe o egoísmo. Examinando-se com cuidado a doutrina de tais Espíritos, nela se descobrirão a cada passo contradições injustificáveis, marcas da ignorância deles sobre as coisas mais evidentes e, por conseguinte, sinais certos da sua inferioridade” O Espírito de Verdade. (Livro dos Médiuns, item 301.)

Encerramos estas breves reflexões com as ternas palavras do Espírito de Verdade:

    “(…) Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não estão mais no corpo, a clamar: Orai e crede! pois a morte é a ressurreição, e a vida a prova escolhida, durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.

    Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.

    Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades. (...)"

Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes

    "Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes. - (O Espírito de Verdade. Bordeaux, 1861.) [13]


[1] Santo Agostinho, La Cité de Dieu, livre XIX, ch. XXIX, “De la venue d'Elie avant le jugement, pour dévoiler le sens caché des Écritures et convertir les juifs à Jésus-Christ.” Traduzido do francês pela autora deste artigo.

[2] Elias se vestia com um manto rude feito de pele de camelo e habitava uma caverna no deserto.

[3] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV - Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo - Ressurreição e reencarnação, itens 10 e 11.

[4] A Gênese - As predições, cap. XVII - Predições do Evangelho - Advento de Elias, itens 33 e 34.

[5] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI - O Cristo consolador - Consolador prometido, itens 3 e 4.

[6] A Gênese - As predições, cap. XVII - Predições do Evangelho - Anunciação do Consolador, item 37.

[7] A Gênese - A Gênese, cap. I - Caráter da revelação espírita, item 27.

[8] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI - O Cristo consolador - Instruções dos Espíritos - Advento do Espírito de Verdade, item 6.

[9] Revista Espírita, agosto de 1862 - Sociedade Espírita de Constantina.

[10] O Monte Tabor, a sudoeste do lago de Tabarich e a 11 quilômetros a sudeste de Nazaré, com cerca de 1.000 metros de altura. (nota original)

[11] A Gênese - Os milagres segundo o Espiritismo, cap. XV - Os milagres do Evangelho - Transfiguração, itens 43 e 44.

[12] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I - Não vim destruir a lei - O Espiritismo, itens 5 a 7.

[13] O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VI - O Cristo consolador - Instruções dos Espíritos - Advento do Espírito de Verdade, itens 5 e 7.

Fonte: IPEAK