quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os Espíritos Tudo Sabem e Tudo Podem?

Por Amilcar del Chiaro Filho

Os espíritos tudo sabem e tudo podem? Quantas pessoas já fizeram essa pergunta, e já ouvimos diferentes respostas. Por exemplo: já ouvimos que os espíritos, não sendo mais do que as almas dos homens que já viveram na Terra, nada tem a nos ensinar. Já lemos em livros de autores estrangeiros, traduzidos para o nosso idioma, que os mortos nada tem a ensinar aos vivos, porque são mortos. Por outro lado já deparamos com um grande número de pessoas que acreditam, que ao desencarnar os espíritos passam a tudo saber e poder.

Na pergunta de n.° 238 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec perguntou: As percepções e conhecimentos dos espíritos são infinitos? Em uma palavra, sabem eles todas as coisas? A reposta foi: Quanto mais se aproximam da perfeição mais sabem – se são superiores, sabem muito. Os espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes em todos os assuntos.

Deduzimos dessa resposta que estão errados aqueles que pensam, que basta ser um espírito desencarnado para ter toda a sabedoria possível e conhecer todas as coisas e assuntos. Este é um triste engano que tem levado muitas pessoas à sérias decepções, e pior ainda, culpam a Doutrina Espírita por isso.

Se tivessem se dado ao trabalho de estudar um pouco o Espiritismo, se forrariam de tais decepções.

Por outro lado equivocam-se os que pensam que os espíritos não tem nada a nos ensinar, pois, tem e muito. A sua simples manifestação já nos ensina sobre a imortalidade do ser, imortalidade dinâmica que caminha para a perfeição.

Apesar das advertências feitas por centros espíritas sérios e por programas de rádio e jornais doutrinários, ainda existem os que se fanatizam por espíritos e acham que eles tudo podem e sabem. Entretanto é preciso convir que existem muitos espíritos, considerados guias e protetores de médiuns e instituições espíritas ditas espíritas, que nem sequer conhecem a Doutrina Espírita.

Outra questão complicada para os espíritos é a questão do tempo. Eles não marcam o tempo como nós, não estão escravizados ao relógio ou calendário, por isso, cada vez que um espírito marque um tempo para certos acontecimentos, existem possibilidades de falhas. Aliás, Allan Kardec recomendou que desconfiássemos, sempre que um espírito predissesse um tempo exato para algum acontecimento.

Saber o princípio das coisas, ter domínio sobre o tempo e ter todas as percepções são coisas de espíritos muito evoluídos.

Sabemos que eles se interessam por nós, aliviam nossos sofrimentos, nos aconselham, mas como eles conhecem as finalidades dos acontecimentos, não se angustiam como nós. Eles se entristecem, mesmo, quando nos rebelamos contra a vida e contra Deus, pois sabem que as conseqüências serão, a de nos atrasar na evolução e trazer mais dores em nosso caminho.

Vale a pena ser espírita? Claro que sim, mas ser espírita com lucidez, amante do estudo, do conhecimento. O homem que procura no Espiritismo as soluções para os problemas que cabe a ele próprio resolver, que só entende Espiritismo pelos prisma dos fenômenos mediúnicos, pelas vantagens materiais, está imitando o personagem bíblico Esaú, que trocou a sua progenitura por um prato de lentilhas.

Não pode existir Espiritismo sem estudo, sem aplicação do aprendizado, sem transformação moral, sem o desenvolvimento das potencialidades do ser. Somos seres em desenvolvimento. Somos imperfeitos, mas perfectíveis, por isso, os pequenos gestos de bondade ajudam em nossa caminhada.

O Espiritismo é uma terapia para a alma cansada, doente, aflita, é a terapêutica do amor. Como não pode existir Espiritismo sem estudo, também não pode existir Espiritismo sem amor.

Se você decidiu, espontaneamente, ser espírita, seja-o por inteiro. Desenvolva a fé racional, tenha por lema a caridade, espalhe em torno dos teus passos a bondade e a esperança. Desenvolva o amor em plenitude para anular o ódio dos que ainda se comprazem na sombra.

Fonte: http://www.caminhosluz.com.br/detalhe.asp?txt=3707

terça-feira, 18 de junho de 2013

[RE] - Plano de campanha - A Era Nova - Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

Por Allan Kardec

(Paris, 10 de fevereiro de 1867 - Médium, Sr. T..., em sono espontâneo) 

NOTA: Nessa sessão, nenhuma pergunta prévia tinha provocado o assunto que foi tratado. A princípio o médium se havia ocupado de saúde, depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões cuja análise damos a seguir. Ele falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.

Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um terror que eles não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer;... a criança cresceu... então eles pressentiram o seu futuro e disseram para si mesmos que em breve estariam com a razão... Mas, como se costuma dizer, o menino tinha vida dura. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às troças. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros renovos... Para cada um que destruíam, surgiam cem outros.

A princípio empregaram contra ele as armas de outra época, as que outrora davam resultado contra as ideias novas, porque essas ideias eram apenas clarões esparsos que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância, e que ainda não tinham criado raízes nas massas;... hoje é outra coisa; tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se emociona com as ameaças que amedrontam as crianças; o diabo, tão temido por nossos avós, já não mete medo: rimos dele.

Sim, as armas antigas entortaram-se na couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça forte guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de prejudicá-lo, seus esforços só serviam para dar-lhe autoridade.

Para lutar com vantagem contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas, pois o menos não pode vencer o mais.

Então, não podendo triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza... De lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semear a desordem, a divisão, a confusão. Porque chegaram a lançar a perturbação nalgumas fileiras, cedo de mais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente, a ideia abre o seu caminho sem muito alarido... Eles é que fizeram o alarido... Não a vedes perpassar tudo, nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo na cátedra? Ela trabalha todas as consciências; ela arrasta os Espíritos para novos horizontes; é encontrada no estado de intuição mesmo naqueles que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que a cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que ela é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade... Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado... Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns, que terão comunicações encomendadas, ade­quadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, se esforçarão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la ante o que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques, nesses fenômenos que surgem de todos os lados como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?... A vida dos homens, a sorte da Humanidade não está em suas mãos?... Cegos!... Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente supera a geração que se vai... Ainda alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando depois de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas para deter o impulso do espírito humano, que avança a despeito de tudo... Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar o desabrochar do novo período humanitário... com apoios que se vão erguer em favor da nova doutrina cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores por sua autoridade.

Oh! Como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!... Quanta ruína eles verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes se abrirão à sua frente!... Será como a aurora afugentando as sombras da noite... Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança... Sim! O século XX será um século abençoado, porque verá a era nova anunciada pelo Cristo. 

NOTA: Aqui o médium para, dominado por indizível emoção, e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, ele retoma:

 ─ O que vos dizia eu, então? ─ Vós nos faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois falastes da era nova. ─ Continuo. 

Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Eles renunciaram pouco mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são onipotentes neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que resistiu à ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à adulação, ao gosto do bem-estar material... Prometem pão ao que o não o tem; trabalho ao artesão; freguesia ao negociante; promoção ao empregado; honras aos ambiciosos, se renunciarem às suas crenças. Ferem-no em sua posição, em seus meios de existência, em suas afeições, se forem indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns o seu efeito ordinário. Entre esses encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os manobra se esconde... Há também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisso; sua renúncia é apenas aparente; eles se vergam, mas para se erguerem na primeira ocasião... Outros, aqueles que no mais alto grau têm a verdadeira coragem da fé, enfrentam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos bons Espíritos... Alguns, ah!... mas estes jamais foram espíritas de coração... preferem o ouro da Terra ao ouro do Céu; eles ficam, pela forma, ligados à doutrina, e sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos... É uma triste troca que eles fazem, e que pagarão bem caro!

Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, felizes aqueles sobre os quais se estender a proteção dos bons Espíritos, porque jamais ela foi tão necessária!... Orai pelos irmãos desgarrados, a fim de que aproveitem os curtos instantes de moratória que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo pese sobre eles... Quando eles virem rebentar a tempestade, mais de um pedirá graça!... Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinamentos? Como médiuns, não escrevestes centenas de vezes a vossa própria condenação?... Tivestes a luz e não a aproveitastes! Nós vos tínhamos dado um abrigo; por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido às seduções estendidas ao vosso amor-próprio e à vossa vaidade. Então acreditastes poder no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabei, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos.

Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? Que seja para oferecer um alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não. Desenganei-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, este deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente. A mediunidade, sob todas as formas, será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, por assim dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de frustrar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos que eles julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, repercutem nessas almas sensíveis como num Espelho, e se desvelam por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que os conheçam. Feliz aquele que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto. 

OBSERVAÇÃO: O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento era anunciado há já algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas dessa faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve muitos no momento da revolução; os Calvinistas das Cévènes, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, eram qualificados de iluminados; hoje começa-se a compreender que a visão à distância e independente dos órgãos da visão pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo a explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero de tal modo se multiplicaram, que já nos admiramos menos; o que outrora a alguns parecia milagre ou sortilégio é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se estancam uma fonte, ele ressurge por outros caminhos.

Então, esta faculdade não é nova, mas ela tende a se generalizar, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas também como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo endêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deverá produzir no organismo modificações que facilitarão a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Assim, é bom manter-se em guarda contra a charlatanice que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la e, por todos os meios possíveis, assegurar-se a boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno e ver se nada oferecem de suspeito.

Fonte: Ipeak - http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=6096&idioma=1

segunda-feira, 10 de junho de 2013

[RE] - Fernanda - Novela Espirita

Por Allan Kardec - Revista Espírita, Agosto 1867

Tal es  el título de un folletín, por el Sr. Jules Doinel (d’Aurillac), publicado en el Monitor del Cantal del 23 y 30 de mayo, el 6, el 13  y el 20 de junio de 1866. Como se ve, el nombre del espiritismo no está disimulado, y el autor debe ser tanto más felicitado por su coraje de opinión, que es más rara en los escritores de provincia, donde las influencias contrarias ejercen una presión mayor que en París. 

Lamentamos que, después de haber sido publicada en el folletín, una forma bajo la cual una idea se esparcía más fácilmente en las masas, la novela no haya sido publicada en volumen, y que nuestros lectores estén privados  del placer de adquirirla. Aunque sea una obra sin pretensiones y circunscrita en un pequeño cuadro, es una verdadera pintura  y atrayente de las relaciones entre el mundo espiritual y el mundo corporal, que trae su contribución  a la vulgarización de la idea espirita, desde el punto de vista serio y moral. Ella muestra los puros y nobles sentimientos que esta creencia puede desenvolver en el corazón del hombre, la serenidad  que da en las aflicciones, por la certeza de un futuro que responde a todas las aspiraciones  de alma y de la plena satisfacción a la razón. Para pintar esas aspiraciones con justicia, como lo hace el autor, es preciso tener fe en aquello que se dice. Un escritor, para quien semejante asunto no sería un cuadro banal, sin convicción, juzgaría que para hacer Espiritismo basta acumular  lo fantástico, lo maravilloso y las aventuras extrañas, como ciertos pintores juzgan que basta esparcir los colores vivos para hacer un cuadro. El Espiritismo verdadero es simple; toca el corazón y no hiere la imaginación con martilladas.  Fue lo que comprendió el autor. 

La vida de Fernanda es  muy simple. Es una joven tiernamente amada por su madre, robada en la flor de la edad de su ternura y al amor de su novio, y que resalta  su coraje manifestándose su visión y dictando su amado, que en breve debe reunirse con ella, el cuadro del mundo que lo espera. Citaremos algunos de los pensamientos que ahí observamos.

“Desde la aparición de Fernanda, yo me había tornado un adepto resoluto de la ciencia de más allá del túmulo. Por cierto, por qué habría yo dudado de ella? El hombre tendrá el derecho de establecer límites al pensamiento y decir a Dios: ¿No iras más lejos? 

“Considerándose que estamos cerca de ella y pisamos una tierra que es santa, yo veo, mi querido amigo, te hablare con el corazón abierto, tomando a Dios por testimonio de la sinceridad de todo cuanto vas a oír. Tú crees  en los Espíritus, yo se,  y más  de una vez me pediste para precisar tu creencia sobre este punto. No lo hice, y es preciso decirte que sin las manifestaciones extrañas que tuviste, te lo habría dicho. Amigo mío creo que Dios dio a ciertas almas una fuerza de simpatía tan grande que ella puede propagarse en las regiones desconocidas de la otra vida. es sobre este fundamento que reposa  toda mi doctrina. El charlatanismo  y la bellaquería de ciertos adeptos me hacen mal, porque no comprendo  que se pueda  profanar una cosa tan santa.”

“Oh! Stephen Stany (el novio) tenía mucha razón en decir que el charlatanismo y la bellaquería  profanan  las cosas más santas. La creencia en los Espíritus debe tornar al alma serena. ¿De dónde viene, pues, que en la oscuridad, el menor ruido me espante? Muchas veces vi dibujarse en la penumbra de mi alcoba, el fantasma de Fernanda de Moeris,  ahora el vago perfil de mi madre. A los cuales yo sonreí, más muchas veces, también, mi vista se desvió con terror del rostro deformado de algunos Espíritus malos que venían con el propósito de apartarme del bien y desviarme de Dios.”
Mientras me hablaba, Stany estaba calmo. No note el su rostro cualquier trazo de exaltación. Más, junto a esa  piedra, su diafanidad se tornaba aun más visible. El alma de mi amigo se mostraba aun más visible. El alma de mi amigo se mostraba toda entera a mi mirada. Esa bella alma nada tenía que ocultar. Yo comprendía  que el lazo que la prendía a ese cuerpo de lama era muy débil, y que no estaba lejos la ahora en la que ella volaría para el otro lado del mundo.”

“Ella me había dicho: “¡Ve a casa de mi madre ¡- Esto fue difícil para mí, confieso; aunque novio de Fernanda, yo no estaba muy bien con tu prima. Sabes  cuánto ella tenía envidia de todo aquel que tuviese una parte del afecto de su hija. Te diré que me recibió con los brazos abiertos y me dijo llorando: “Yo la re mire” La frialdad  estaba rota; nos íbamos a comprender por primera vez. – ¡Mi querido Stephen, acrecentó ella,  creo que he soñado! Más, en fin, yo la vi, y escucha lo que ella me dijo:  Madre, pedirás a Stephen Stany que se quede ocho días en el cuarto que fue mío. Durante esos ocho días, no permitirás que lo perturben. Durante ese retiro, Dios le revelará muchas cosas.”-  me condujeron al cuarto de tu prima, y a partir de aquel mismo día hasta entonces, cuando te vi, su alma estuvo  ininterrumpidamente conmigo. Yo la vi y la vi también  con los ojos del espíritu y no con los de mi cuerpo, aunque estos estuviesen abiertos. Ella me habló. Cuando digo que me habló, quiero decir que hubo entre nosotros transmisión de pensamiento. Yo ahora sé todo lo que precisaba saber. Sé que este globo no tiene  nada más para mi, y que una existencia mejor me aguarda.”

“Aprendí a estimar el mundo en su justo valor. Reten estas palabras, amigo mío: Todo Espíritu que quiere  lograr la felicidad superior debe mantener su cuerpo casto, su corazón puro, su alma libre. Feliz quien sabe percibir la forma inmaterial de Dios a través de las sombras por las que se pasa!”

“No olvidemos jamás, hermanos, que Dios es espíritu y que cuanto más la gente se torna espíritu, más la gente se aproxima a Dios. no es permitido al hombre  quebrar violentamente los lazos de la materia, de la carne y de la sangre. Esos lazos suponen deberes; más le es permitido de ellos desprenderse poco a poco por el idealismo de sus aspiraciones, por la pureza de sus intenciones, por la radiación de su alma, reflejo sagrado cuyo deber es el hogar, hasta que, vuele libre, su espíritu desprendido de las cadenas mortales vuele y planee en los inmensos espacios.
El manuscrito dictado por el Espíritu de Fernanda, durante los ocho días del retiro de Stephen, contiene los siguientes pasajes:

“Mori  en la perturbación y desperté en la alegría. Vi mi cuerpo, una vez enfriado, extenderse en el lecho funerario, y me sentí como desprendida de un pesado fardo. Fue entonces que te percibí, amado mío, y que por el permiso de Dios, unida al libre ejercicio de mi voluntad, yo te percibí junto a mi cadáver.

“Mientras los gusanos seguían su obra de corrupción, yo penetraba, curiosa, los misterios del mundo nuevo que habitaba. Yo pensaba, yo sentía, yo amaba como en la Tierra; más mi pensamiento, mi sensación, mi amor había crecido. yo comprendía mejor los designios de Dios, yo aspiraba su voluntad divina. Vivimos una vida casi inmaterial, y somos superiores  a vosotros tanto como los ángeles  lo son a nosotros. Nosotros vemos a Dios, más no claramente; nosotros lo vemos como se ve el Sol de vuestra Tierra, a través de una espesa nube. Más esta visión imperfecta  basta a nuestra alma, que aun no está purificada.

“Los Hombres nos parecen como fantasmas vagando en una bruma crepuscular. Dios dio algunos de entre nosotros la gracia de ver más calro aquellos a quien aman de preferencia. Yo te vi así, querido amor, y mi voluntad te cercaba de una simpatía amorosa en todo momento. Es así que tus pensamientos venían de mi; que tus actos eran inspirados por mi;  que tu vida, en una palabra, no era sino un reflejo de mi vida. así como podemos comunicarnos con vosotros, los Espíritus superiores pueden revelarse a nuestra vista. Algunas veces, en la transparencia  inmaterial, vemos pasar la silueta augusta y luminosa de algún espíritu. Me es imposible describirte el respeto que esa visión nos inspira. Felices aquellos  de entre nosotros que son honrados con esas visitas divinas. Admira la bondad de Dios! los mundos se corresponden todos. Nosotros nos mostramos  a vosotros; ellos se muestran a nosotros; es la simbólica escalera de Jacob.”

“Es así que, en un solo batir de alas, se elevaban hasta Dios. Más esos son raros. Otros sufren las largas pruebas de las sucesivas existencias. Es la virtud  la que establece  las clases, a los ojos de Dios justo y severo, mayor que el rey soberbio  o el conquistador  invicto.  Nada vale la pena sino el alma; es el único peso que importa en la balanza de Dios. 

Ahora que hicimos el elogio, hagamos la crítica. Ella no será larga, porque solo atiende dos o tres pensamientos. Para comenzar, en el dialogo entre los dos amigos, encontramos el siguiente pasaje:
¿Tenemos existencias anteriores? No lo creo: Dios nos saca de la nada, más de lo que tengo certeza es que después  de lo que llamamos muerte, comenzamos – y cuando digo nosotros, hablo del alma – comenzamos, digo, una serie de nuevas existencias. el día que seamos bastante puros para ver, comprender y amar a Dios enteramente , solo en ese día morimos. Anote bien que en ese día no amamos más que a Dios y nada más sino Dios. Si, pues, Fernanda estaba purificada, ella no pensaría, no podría pensar en mí.  Porque se manifestó, concluyo que vive. ¿Dónde’ ¡En breve lo sabré! Ella está feliz con su vida, yo lo creo, porque mientras el Espíritu no haya sido completamente depurado, no puede comprender que la felicidad solo está en Dios. el puede ser relativamente feliz. A la medida que nos elevamos, la idea de Dios cada vez crece más en nosotros, y somos, por eso mismo, cada vez más felices. Más esa felicidad jamás es sino una felicidad relativa. Siendo así, mi novia vive. ¿Cómo es su vida? Lo Ignoro. Solo Dios puede decir a los Espíritus que revelen esos misterios a los hombres.”

Después de ideas como las que encierran pasajes precipitados, la gente se admira de encontrar una doctrina como esta, que hace de la felicidad perfecta una felicidad egoísta. El encanto de la Doctrina espirita, lo que de ella hace una suprema consolación, es precisamente el pensamiento de la perpetuidad de los afectos, depurándose  y estrechándose a la medida que el Espíritu se depura y se eleva. Aquí,  al contrario,  cuando el espíritu es perfecto, olvida a los que amo, para no pensar sino en sí; está muerto  para cualquier otro sentimiento que no sea el de su felicidad; la perfección le quitará la posibilidad, al propio deseo de venir a consolar a los que deja en la aflicción. Convengamos que esto seria una triste perfección, o mejor, sería una imperfección. La felicidad eterna, concebida así, casi no sería más envidiable que la perpetua   contemplación, de la cual la reclusión claustral nos da la imagen por la muerte anticipada de las madres santas  afectos de la familia. Si así fuese, una madre estaría reducida a tener, en ver y desear, la completa depuración de los seres que les son más queridos. Jamás la generalidad de los Espíritus enseño cosa semejante. Se diría  una transición entre el espiritismo y la creencia vulgar. Más esa transición no es feliz, porque, no satisfaciendo las aspiraciones intimas del alma, no tiene ninguna oportunidad de prevalecer en la opinión.

Cuando el autor dice que no cree en las existencias anteriores, más que si está seguro que, después de la muerte, comenzamos una serie de nuevas existencias, no percibió que comete una contradicción flagrante. ¿Si admite, como cosa lógica y necesaria para el progreso, la pluralidad de las existencias posteriores, en que se fundamenta  para no admitir las existencias anteriores? El no dice como explica de una manera condicente con la justicia de Dios, la desigualdad natica, intelectual y moral, que existen entre los hombres. Si esta existencia es la primera, y si todos salen de la nada, se cae en la doctrina absurda, inconciliable con la soberana justicia, de un Dios parcial, que favorece a algunas de sus criaturas, creando almas de todas las calidades.  Se podría ver ahí un ajuste  con las nuevas ideas, más que no es más feliz de que el precedente.

La gente se admira, en fin,  de ver a Fernanda, Espíritu  adelantado, sustentar esta proposición de otro tiempo: “Laura se torno madre; Dios tuvo piedad de ella  y llamo para si a esa criatura. El viene a verla algunas veces. El está triste porque ahbiendo muerto sin el bautismo, jamás gozará de la contemplación divina. Así es un espíritu que Dios llama  a si, y que siempre será infeliz  y privado de la contemplación de Dios porque no recibió el bautismo, cuando de el no dependía recibirlo, y la falta es del propio Dios que, lo llamo muy temprano. Son esas doctrinas las que hicieron a tantos incrédulos, y se engañan  si esperan hacerlas pasar para el lado de las ideas espiritas solamente lo que es racional y sancionado por la universalidad de la enseñanzas de los Espíritus. Si todavía hay transacción, ella es equivocada. Aseguramos que en mil centros espiritas donde las proposiciones que acabamos de criticar fueron sometidas a los Espíritus, habrá novecientos  y noventa donde ellas serán resueltas en el sentido contrario. Fue la universalidad de la enseñanza, más allá sancionada por la lógica, la que hizo   y completara la Doctrina Espirita. Esta doctrina coge en esa universalidad de la enseñanza dada en todos los puntos del globo, por Espíritus diferentes, y en centros completamente extraños a unos a los otros, y que no sufren cualquier presunción común, una fuerza contra la cual en vano lucharían las opiniones individuales, quiera de los espíritus, quiera de los hombres. La alianza que pretendiese establecer   de las ideas espiritas con ideas contradictorias, no puede ser sino efímera  y localizada. Las opiniones individuales pueden ligar a algunos individuos, más, forzosamente circunscritas, no pueden ligar a la mayoría, al menos que tenga la sanción de esa mayoría. Rechazadas por el mayor numero, ellas no tienen vitalidad y se extinguen con sus representantes. 

Este es el resultado de  un puro calculo matemático. Si en ¡000 centros hubiera 990 donde se enseña de la misma manera y 10 de manera contraria, es evidente que la opinión dominante será la de los 990 en ¡000, esto es, la casi unanimidad. Pues bien! Estamos seguros de conceder una parte muy grande  a las ideas divergentes, llevándolas a un centésimo. Jamás formulando un principio antes de estar asegurado del asentamiento general, estamos siempre de acuerdo con la opinión de la mayoría. 

El espiritismo está hoy en la posesión de una suma de verdades de tal modo demostradas por la experiencia, que al mismo tiempo satisfacen a la razón tan completamente, y que pasaran  a artículos  de fe en la opinión de la inmensa mayoría, de sus adeptos. Ahora, oponerse en abierta hostilidad con esta mayoría, chocar sus aspiraciones y sus más caras  convicciones, es prepararse para un choque inevitable. Tal es la causa del fracaso de ciertas publicaciones.

Más,  preguntaran, está  entonces prohibido a quien no comparte las ideas de la mayoría publicar sus opiniones? Ciertamente que no; es incluso útil que lo haga; más, entonces, debe hacerlo por su cuenta y riesgo, y no contar con el apoyo moral y material de aquellos cuyas creencias quieren destruir.

Volviendo a Fernanda, los puntos de la doctrina que combatimos parecen ser opinión personal del autor, que no sintió el lado flaco. Remitiéndonos a su obra,  estrella de un joven, nos dijo el que cuando había escrito esa novela, tenía apenas  un conocimiento superficial de la Doctrina Espirita y que, sin duda, en ella encontraríamos varias cosas que corregir, y sobre las cuales pedía nuestra opinión; que hoy, más esclarecido, hay principios que formularía de otro modo. Felicitándolo por su franqueza  y por su modestia, le informamos que si hubiese motivo para refutarlo, lo haríamos en la Revista,  para instrucción de todos.

Más allá de los puntos que acabamos de citar, no hay ninguno que la Doctrina Espirita no pueda aceptar. Felicitamos al autor por el punto de vista moral y filosófico en el que se coloco, y consideramos su trabajo como eminentemente útil para la difusión de la idea, porque desea que ella sea encarada bajo su verdadera luz, que es el punto de  vista serio. (Ved en el número precedente la poesía del mismo autor, titulado A los Espíritus Protectores): 

Traducido por M. C. R

Os Messias do Espiritismo

Por Allan Kardec

Para quem conhece a doutrina, ela é, de ponta, um pro­testo contra o misticismo, pois que tende a reconduzir to­das as crenças para o terreno positivo das leis da natureza. Mas, entre os que não a conhecem, há pessoas para as quais tudo o que escapa da humanidade tangível é místico. Para estas, adorar a Deus, orar, crer na Providência é ser místico. Não temos que nos preocupar com a sua opinião.

A palavra messias é empregada pelo Espiritismo na sua acepção literal de mensageiro, enviado, abstração feita da idéia de redenção e de mistério, particular aos cultos cris­tãos, O Espiritismo não tem que discutir esses dogmas, que não são de sua jurisdição: diz o sentido no qual emprega o vocábulo, para evitar qualquer equívoco, deixando cada um crer conforme a sua consciência, que não procura pertur­bar.

Assim, para o Espiritismo, todo Espírito encarnado para cumprir uma missão especial junto à humanidade é um messias, na acepção geral da palavra, isto é, um missionário ou enviado, com a diferença, entretanto, que o vocábulo messias implica mais particularmente a idéia de uma mis­são direta da divindade e, por isto, a da superioridade do Espírito e da importância da missão. De onde se segue que há uma distinção a fazer entre os messias propriamente di­tos, e os Espíritos simples missionários, O que os distingue é que, para uns, a missão ainda é uma prova, porque podem falir, ao passo que para os outros é um atributo de sua su­perioridade. Do ponto de vista da vida corporal, os messias entram na categoria das encarnações ordinárias de Espírito, e o vocábulo não tem nenhum caráter de misticidade.

Todas as grandes épocas de renovação viram aparecer messias encarregados de dar impulso ao movimento regenerador e o dirigir. Sendo a época atual uma das mai­ores transformações da humanidade, terá também os seus messias, que a presidem já como Espírito, e terminarão sua missão como encarnados. Sua vinda não será marcada por nenhum prodígio, e Deus, para os fazer reconhecer, não perturbará a ordem das leis da natureza. Nenhum sinal extraordinário aparecerá no céu, nem na Terra, e não se­rão vistos descendo das nuvens acompanhados por anjos. Nascerão, viverão e morrerão, como o comum dos homens, e sua morte não será anunciada ao mundo nem por tremo­res de Terra, nem pelo obscurecimento do sol; nenhum si­nal exterior os distinguirá, assim como o Cristo, em vida, não se distinguia dos outros homens. Nada, pois, os assina­lará à atenção pública senão a grandeza de suas obras, a sublimidade de suas virtudes, e a parte ativa e fecunda, que tomarão, na fundação da nova ordem de coisas. À antigüidade pagã os teve, feitos deuses; a história os colocará no Panteon dos grandes homens, dos homens de gênio, mas, sobretudo entre os homens de bem, cuja memória será hon­rada pela posterioridade.

Tais serão os messias do Espiritismo; grandes homens entre os homens, grandes Espíritos entre os Espíritos, marcarão sua passagem por prodígios da inteligência e da virtude, que atestam a verdadeira superioridade, muito mais que a produção de efeitos materiais que pode realizar o primeiro a surgir. Este quadro um pouco prosaico talvez faça caírem algumas ilusões; mas é assim que as coisas se passarão, muito naturalmente, e os seus resultados não serão menos importantes por não serem rodeados das formas ideais e um tanto maravilhosas, com que certas imaginações gostam de os cercar.

Dissemos os messias porque, com efeito, as previsões dos Espíritos anunciam que haverá vários, o que nada tem de admirável, segundo o sentido ligado a essa palavra, e em razão da grandeza da tarefa, pois que se trata, não do adiantamento de um povo ou de uma raça, mas da regeneração da humanidade inteira. Quantos serão? Uns dizem três, outros mais, outros menos, o que prova que a coisa está nos segredos de Deus. Um deles teria supremacia? E ainda o que pouco importa, o que até seria perigoso saber antecipadamente.

A vinda dos Messias, como fato geral, está anunciada, porque era útil que dela se estivesse prevenido; é uma dádiva do futuro e um assunto de tranqüilidade, mas as individualidades não se devem revelar senão por seus atos. Se alguém deve abrigar um deles, o fará inconscientemente, como para o primeiro vindo; assisti-lo-á e o protegerá por pura caridade, sem a isto ser solicitado por um sentimento de orgulho, do qual talvez não se pudesse defender, que mau grado seu deslizaria para o coração e lhe faria perder o fruto de sua ação. Seu devotamento talvez não fosse tão desinteressado moralmente quanto ele próprio o imaginasse.

Além disso, a segurança do predestinado exige que ele seja coberto por um véu impenetrável, porque ele terá Herodes. Ora, um segredo jamais é melhor guardado do que quando por todos desconhecido. Ninguém, pois, deve conhecer a sua família, nem o lugar de seu nascimento e os próprios Espíritos vulgares não o sabem. Nenhum anjo virá anunciar sua vinda à sua mãe, porque ela não deve fazer diferença entre ele e os outros filhos; magos não virão adorá-lo em seu berço e lhe oferecer ouro e incenso, porque ele não deve ser saudado senão quando tiver dado suas provas.

Será protegido pelos invisíveis, encarregados de velar por ele e conduzido à porta onde deverá bater e o dono da casa não conhecerá aquele que receberá em seu lar.

Falando do novo Messias, disse Jesus: Se alguém vos disser: O Cristo está aqui, ou está ali”, não vades lá, porque lá não estará.” Há, pois, que desconfiar das falsas indicações, que têm por fim ludibriar, visando fazer procurá-lo onde ele não está. Desde que não é permitido aos Espíritos revelar o que deve ficar secreto, toda comunicação circunstanciada sobre este ponto deve ser tida por suspeita, ou como uma provação para quem a recebe.

Pouco importa, pois, o número dos messias. Só Deus sabe o que é necessário; mas o que é indubitável é que ao lado dos messias propriamente ditos, Espíritos superiores, em número ilimitado, encarnar-se-ão, ou já estão encarnados, com missões especiais, para os secundar. Surgirão em todas as classes, em todas as posições sociais, em todas as seitas e em todos os povos. Havê-los-á nas ciências, nas ar­es, na literatura, na política, nos chefes de estado, enfim por toda a parte onde sua influência poderá ser útil à difusão das idéias novas e às reformas que serão sua conseqüência. A autoridade de sua palavra será tanto maior quanto será fundada na estima e na consideração de que serão cercados.

Mas, perguntarão, nessa multidão de missionários de todas as classes, como distinguir os messias? Que importa se os distinguem ou não? Eles não vêm à Terra para aí se fazer adorar, nem para receber homenagens dos homens. Não trarão, pois, nenhum sinal na fronte; mas, assim como pela obra se conhece o artífice, dirão após a sua partida: Aquele que fez a maior soma de bem deve ser o maior.”

Sendo o Espiritismo o principal elemento regenerador, importava que o instrumento estivesse pronto, quando vierem os que dele devem servir-se, e o trabalho que se realiza neste momento, e que os precede de pouco. Mas antes é preciso que a grade tenha passado pelo chão, para o purgar das ervas parasitas, que abafariam o bom grão.

E sobretudo o vigésimo século que verá florescerem grandes apóstolos do Espiritismo, e que poderá ser chamado o século dos messias. Então a antiga geração terá desaparecido e a nova estará em plena força; livre de suas convulsões, formada de elementos novos ou regeneradores, a humanidade entrará definitivamente e pacificamente na fase do progresso moral, que deve elevar a Terra na hierarquia dos mundos.

(Extraído do artigo "COMENTÁRIOS SOBRE OS MESSIAS DO ESPIRITISMO", R. E., março de 1868)

Fonte: http://saberesdoespirito.blogspot.com.br/2009/08/os-messias-do-espiritismo-allan-kardec.html

Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais

Por Allan Kardec

Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em conseqüência da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A obsessão que é um dos efeitos de semelhante ação, como as enfermidades e todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou expiação e aceita com esse caráter.

Chama-se obsessão à ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vão desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais. Ela oblitera todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade audiente e psicográfica, traduz-se pela obstinação de um Espírito em querer manifestar-se, com exclusão de qualquer outro.

Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio.

Quase sempre a obsessão exprime vingança tomada por um Espírito e cuja origem freqüentemente se encontra nas relações que o obsidiado manteve com o obsessor, em precedente existência.

Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo. Ora, um fluido mau não pode ser eliminado por outro igualmente mau. Por meio de ação idêntica à do médium curador, nos casos de enfermidade, preciso se faz expelir um fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.

Nem sempre, porém, basta esta ação mecânica; cumpre, sobretudo, atuar sobre o ser inteligente, ao qual é preciso se possua o direito de falar com autoridade, que, entretanto, falece a quem não tenha superioridade moral. Quanto maior esta for, tanto maior também será aquela.

Mas, ainda não é tudo: para assegurar a libertação da vítima, indispensável se torna que o Espírito perverso seja levado a renunciar aos seus maus desígnios; que se faça que o arrependimento desponte nele, assim como o desejo do bem, por meio de instruções habilmente ministradas, em evocações particularmente feitas com o objetivo de dar-lhe educação moral. Pode-se então ter a grata satisfação de libertar um encarnado e de converter um Espírito imperfeito.

O trabalho se torna mais fácil quando o obsidiado, compreendendo a sua situação, para ele concorre com a vontade e a prece. Outro tanto não sucede quando, seduzido pelo Espírito que o domina, se ilude com relação às qualidades deste último e se compraz no erro a que é conduzido, porque, então, longe de a secundar, o obsidiado repele toda assistência. É o caso da fascinação, infinitamente mais rebelde sempre, do que a mais violenta subjugação. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. XXIII.)

Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso meio de que se dispõe para demover de seus propósitos maléficos o obsessor.

Na obsessão, o Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como teia e constrangido a proceder contra a sua vontade.

Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito atuante se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; toma-lhe o corpo para domicílio, sem que este, no entanto, seja abandonado pelo seu dono, pois que isso só se pode dar pela morte. A possessão, conseguintemente, é sempre temporária e intermitente, porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar de um encarnado, pela razão de que a união molecular do perispírito e do corpo só se pode operar no momento da concepção. (Cap. XI, nº 18.)

De posse momentânea do corpo do encarnado, o Espírito se serve dele como se seu próprio fora: fala pela sua boca, vê pelos seus olhos, opera com seus braços, conforme o faria se estivesse vivo. Não é como na mediunidade falante, em que o Espírito encarnado fala transmitindo o pensamento de um desencarnado; no caso da possessão é mesmo o último que fala e obra; quem o haja conhecido em vida, reconhece-lhe a linguagem, a voz, os gestos e até a expressão da fisionomia.

Na obsessão há sempre um Espírito malfeitor. Na possessão pode tratar-se de um Espírito bom que queira falar e que, para causar maior impressão nos ouvintes, toma do corpo de um encarnado, que voluntariamente lho empresta, como emprestaria seu fato a outro encarnado. Isso se verifica sem qualquer perturbação ou incômodo, durante o tempo em que o Espírito encarnado se acha em liberdade, como no estado de emancipação, conservando-se este último ao lado do seu substituto para ouvi-lo.

Quando é mau o Espírito possessor, as coisas se passam de outro modo. Ele não toma moderadamente o corpo do encarnado, arrebata-o, se este não possui bastante força moral para lhe resistir. Fá-lo por maldade para com este, a quem tortura e martiriza de todas as formas, indo ao extremo de tentar exterminá-lo, seja por estrangulação, seja atirando-o ao fogo ou a outros lugares perigosos. Servindo-se dos órgãos e dos membros do infeliz paciente, blasfema, injuria e maltrata os que o cercam; entrega-se a excentricidades e a atos que apresentam todos os caracteres da loucura furiosa.

São numerosos os fatos deste gênero, em diferentes graus de intensidade, e não derivam de outra causa muitos casos de loucura. Amiúde, há também desordens patológicas, que são meras consequências e contra as quais nada adiantam os tratamentos médicos, enquanto subsiste a causa originária. Dando a conhecer essa fonte donde provém uma parte das misérias humanas, o Espiritismo indica o remédio a ser aplicado: atuar sobre o autor do mal que, sendo um ser inteligente, deve ser tratado por meio da inteligência.[1]

São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados.[2]

[1] Casos de cura de obsessões e de possessões: Revue Spirite, dezembro de 1863, pág. 373; — janeiro de 1864, pág. 11; — junho de 1864, pág. 168; — janeiro de 1865, pág. 5; — junho de 1865, pág. 172; — fevereiro de 1866, pág. 38; — junho de 1867, pág. 174.

[2] Foi exatamente desse gênero a epidemia que, faz alguns anos, atacou a aldeia de Morzine na Sabóia. Veja-se o relato completo dessa epidemia na Revue Spirite de dezembro de 1862, pág. 353; — janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863, págs. 1, 33, 101 e 133.

Fonte: A Gênese - Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Capítulo 14, parte 2.

terça-feira, 4 de junho de 2013

[RE] - Fernanda - Novela espírita

Por Allan Kardec - Revista Espírita, Agosto 1867

Tal é o título de um folhetim, pelo Sr. Jules Doinel (d’Aurillac), publicado no Moniteur du Cantal, de 23 e 30 de maio, 6, 13 e 20 de junho de 1866. Como se vê, o nome do Espiritismo não está dissimulado, e o autor deve ser tanto mais felicitado por sua coragem de opinião, que é mais rara nos escritores de província, onde as influências contrárias exercem uma pressão maior do que em Paris.
Lamentamos que, depois de ter sido publicada em folhetim, forma sob a qual uma ideia se espalha mais facilmente nas massas, a novela não tenha sido publicada em volume, e que os nossos leitores estejam privados do prazer de adquiri-la. Embora seja uma obra sem pretensões e circunscrita num pequeno quadro, é uma pintura verdadeira e atraente das relações entre o mundo espiritual e o mundo corporal, que traz sua contribuição à vulgarização da ideia espírita, do ponto de vista sério e moral. Ela mostra os puros e nobres sentimentos que esta crença pode desenvolver no coração do homem, a serenidade que dá nas aflições, pela certeza de um futuro que responde a todas as aspirações da alma e dá plena satisfação à razão. Para pintar essas aspirações com justeza, como o faz o autor, é preciso ter fé naquilo que se diz. Um escritor, para quem semelhante assunto não seria um quadro banal, sem convicção, julgaria que para fazer Espiritismo basta acumular o fantástico, o maravilhoso e as aventuras estranhas, como certos pintores julgam que basta espalhar cores vivas para fazer um quadro. O Espiritismo verdadeiro é simples; toca o coração e não fere a imaginação com marteladas. Foi o que compreendeu o autor.
O roteiro de Fernanda é muito simples. É uma jovem ternamente amada por sua mãe, roubada na flor da idade à sua ternura e ao amor de seu noivo, e que ressalta sua coragem manifestando-se à sua visão e ditando ao seu amado, que em breve deve reunir-se a ela, o quadro do mundo que o espera. Citaremos alguns dos pensamentos que aí notamos.

“Desde a aparição de Fernanda, eu me havia tornado um adepto resoluto da ciência de além-túmulo. Aliás, por que dela teria eu duvidado? O homem terá o direito de estabelecer limites ao pensamento e dizer a Deus: Não irás mais longe?”
“Considerando-se que estamos perto dela e pisamos uma terra que é santa, eu vou, meu caro amigo, te falar com o coração aberto, tomando Deus por testemunha da sinceridade de tudo quanto vais ouvir. Tu crês nos Espíritos, eu sei, e mais de uma vez me pediste para precisar tua crença sobre este ponto. Não o fiz, e é preciso dizer-te que sem as manifestações estranhas que tiveste, eu jamais tê-lo-ia feito. Meu amigo, creio que Deus deu a certas almas uma força de simpatia tão grande que ela pode propagar-se nas regiões desconhecidas da outra vida. É sobre este fundamento que repousa toda a minha doutrina. O charlatanismo e a velhacaria de certos adeptos me fazem mal, porque não compreendo que se possa profanar uma coisa tão santa.”
“Oh! Stephen Stany (o noivo) tinha muita razão de dizer que o charlatanismo e a velhacaria profanam as coisas mais santas. A crença nos Espíritos deve tornar a alma serena. De onde vem, pois, que na obscuridade, o menor ruído me espante? Por vezes vi desenhar-se, na penumbra de minha alcova, ora o fantasma de Fernanda de Moeris, ora o vago perfil de minha mãe. Àqueles eu sorri, mas muitas vezes, também, minha vista se desviou com terror do rosto deformado de alguns Espíritos maus que vinham com o propósito de me afastar do bem e me desviar de Deus.”
“Enquanto me falava, Stany estava calmo. Não notei em seu rosto qualquer traço de exaltação. Mas, junto dessa pedra, sua diafaneidade tornava-se ainda mais visível. A alma de meu amigo mostrava-se toda inteira ao meu olhar. Essa bela alma nada tinha a ocultar. Eu compreendia que o laço que a prendia a esse corpo de lama era muito fraco, e que não estava longe a hora em que ela voaria para o outro mundo.”
“Ela me havia dito: ‘Vai à casa de minha mãe.’ ─ Isto foi difícil para mim, confesso; embora noivo de Fernanda, eu não estava muito bem com tua prima. Sabes quanto ela tinha inveja de todo aquele que detivesse uma parte da afeição de sua filha. Dir-te-ei que me recebeu de braços abertos e me disse chorando: ‘Eu a revi!’ A frieza estava quebrada; nós íamos nos compreender pela primeira vez. ─ Meu caro Stéphen, acrescentou ela, acho que eu sonhei! Mas, enfim, eu a vi, e escuta o que ela me disse: ‘Mãe, pedirás a Stéphen Stany que fique oito dias no quarto que foi meu. Durante esses oito dias, não permitirás que o perturbem. Durante esse retiro, Deus lhe revelará muitas coisas.’ ─ Conduziram-me imediatamente ao quarto de tua prima, e a partir daquele mesmo dia até ontem, quando te vi, sua alma esteve ininterruptamente comigo. Eu a vi e vi bem, com os olhos do Espírito e não com os do meu corpo, embora estes estivessem abertos. Ela me falou. Quando digo que me falou, quero dizer que houve entre nós transmissão de pensamento. Eu agora sei tudo o que precisava saber. Sei que este globo nada mais tem para mim, e que uma existência melhor me aguarda.”
“Aprendi a estimar o mundo no seu justo valor. Retém estas palavras, meu amigo: Todo Espírito que quer atingir a felicidade superior deve manter seu corpo casto, seu coração puro, sua alma livre. Feliz quem sabe perceber a forma imaterial de Deus através das sombras do que se passa!”
“Não esqueçamos jamais, ó irmãos, que Deus é espírito e que quanto mais a gente se torna espírito, mais a gente se aproxima de Deus. Não é permitido ao homem quebrar violentamente os laços da matéria, da carne e do sangue. Esses laços supõem deveres; mas lhe é permitido deles se destacar pouco a pouco pelo idealismo de suas aspirações, pela pureza de suas intenções, pela radiação de sua alma, reflexo sagrado cujo dever é o lar, até que, pomba livre, seu Espírito desprendido das cadeias mortais voe e plane nos espaços imensos.”

O manuscrito ditado pelo Espírito de Fernanda, durante os oito dias do retiro de Stéphen, contém as seguintes passagens:

“Morri na perturbação e despertei na alegria. Vi meu corpo, logo que esfriou, estender-se no leito funerário, e me senti como que descarregada de um pesado fardo. Foi então que te percebi, meu bem-amado, e que pela permissão de Deus, unida ao livre exercício de minha vontade, eu te percebi junto ao meu cadáver.
“Enquanto os vermes seguiam sua obra de corrupção, eu penetrava, curiosa, os mistérios do mundo novo que habitava. Eu pensava, eu sentia, eu amava como na Terra; mas meu pensamento, minha sensação, meu amor tinham crescido. Eu compreendia melhor os desígnios de Deus, eu aspirava sua vontade divina. Vivemos uma vida quase imaterial, e somos superiores a vós tanto quanto os anjos o são a nós. Nós vemos Deus, mas não claramente; nós o vemos como se vê o Sol de vossa Terra, através de uma espessa nuvem. Mas esta visão imperfeita basta à nossa alma, que ainda não está purificada.
“Os homens nos aparecem como fantasmas vagando numa bruma crepuscular. Deus deu a alguns dentre nós a graça de ver mais claro aqueles a quem amam de preferência. Eu te via assim, caro amor, e minha vontade te cercava de uma simpatia amorosa a todo momento. É assim que teus pensamentos vinham a mim; que teus atos eram inspirados por mim; que a tua vida, numa palavra, não era senão um reflexo de minha vida. Assim como podemos comunicar-nos convosco, os Espíritos superiores podem revelar-se às nossas vistas. Por vezes, na transparência imaterial, vemos passar a silhueta augusta e luminosa de algum Espírito. É-me impossível descrever-te o respeito que essa visão nos inspira. Felizes aqueles dentre nós que são honrados com essas visitas divinas. Admira a bondade de Deus! Os mundos se correspondem todos. Nós nos mostramos a vós; eles se mostram a nós; é a simbólica escada de Jacob.”
“É assim que, num só bater de asas, se elevavam até Deus. Mas esses são raros. Outros sofrem as longas provações das existências sucessivas. É a virtude que estabelece as classes, e o mendigo curvado para a terra é, às vezes, aos olhos do Deus justo e severo, maior que o rei soberbo ou o conquistador invicto. Nada vale senão a alma; é o único peso que importa na balança de Deus.”

Agora que fizemos o elogio, façamos a crítica. Ela não será longa, porque só atinge dois ou três pensamentos. Para começar, no diálogo entre os dois amigos, encontramos a seguinte passagem:

“Temos existências anteriores? Não o creio: Deus nos tira do nada, mas do que tenho certeza é que depois que chamamos a morte, começamos ─ e quando digo nós, falo da alma ─ começamos, digo, uma série de novas existências. No dia em que estivermos bastante puros para ver, compreender e amar Deus inteiramente, só nesse dia morremos. Note bem que nesse dia não amamos mais que Deus e nada senão Deus. Se, pois, Fernanda estava purificada, ela não pensaria, não poderia pensar em mim. Porque se manifestou, concluo que vive. Onde? Em breve saberei! Ela está feliz com sua vida, eu o creio, porque enquanto o Espírito não tiver sido completamente depurado, não pode compreender que a felicidade só está em Deus. Ele pode ser relativamente feliz. À medida que subimos, a ideia de Deus cada vez mais cresce em nós, e somos, por isso mesmo, cada vez mais felizes. Mas essa felicidade jamais é senão uma felicidade relativa. Assim, minha noiva vive. Como é a sua vida? Ignoro. Só Deus pode dizer aos Espíritos que revelem esses mistérios aos homens.”

Depois de ideias como as que encerram as passagens precitadas, a gente se admira de encontrar uma doutrina como esta, que faz da felicidade perfeita uma felicidade egoística. O encanto da Doutrina Espírita, o que dela faz uma suprema consolação, é precisamente o pensamento da perpetuidade das afeições, depurando-se e estreitando-se à medida que o Espírito se depura e se eleva. Aqui, ao contrário, quando o Espírito é perfeito, esquece os que amou, para não pensar senão em si; está morto para qualquer outro sentimento que não seja o de sua felicidade; a perfeição lhe tirará a possibilidade, o próprio desejo de vir consolar os que ele deixa na aflição. Convenhamos que isto seria uma triste perfeição, ou melhor, seria uma imperfeição. A felicidade eterna, assim concebida, quase não seria mais invejável que a perpétua contemplação, da qual a reclusão claustral nos dá a imagem pela morte antecipada das mais santas afeições da família. Se assim fosse, uma mãe estaria reduzida a temer, em ver de desejar, a completa depuração dos seres que lhe são mais caros. Jamais a generalidade dos Espíritos ensinou coisa semelhante. Dir-se-ia uma transição entre o Espiritismo e a crença vulgar. Mas essa transição não é feliz, porque, não satisfazendo às aspirações íntimas da alma, não tem nenhuma chance de prevalecer na opinião.
Quando o autor diz que não acredita nas existências anteriores, mas que está certo que, depois da morte, começamos uma série de novas existências, não se apercebeu que comete uma contradição flagrante. Se admite, como coisa lógica e necessária ao progresso, a pluralidade das existências posteriores, em que se fundamenta para não admitir as existências anteriores? Ele não diz como explica de uma maneira condizente com a justiça de Deus, a desigualdade nativa, intelectual e moral, que existe entre os homens. Se esta existência é a primeira, e se todos saíram do nada, cai-se na doutrina absurda, inconciliável com a soberana justiça, de um Deus parcial, que favorece algumas das suas criaturas, criando almas de todas as qualidades. Poder-se-ia aí ver um ajuste com as ideias novas, mas que não é mais feliz do que o precedente.
A gente se admira, enfim, de ver Fernanda, Espírito adiantado, sustentar esta proposição de outro tempo: “Laura tornou-se mãe; Deus teve piedade dela e chamou para si essa criança. Ele vem vê-la, às vezes. Ele está triste, porque tendo morrido sem batismo, jamais gozará da contemplação divina.” Assim, eis um Espírito que Deus chama a si, e que sempre será infeliz e privado da contemplação de Deus, porque não recebeu o batismo, quando dele não dependia recebê-lo, e a falta é do próprio Deus, que o chamou muito cedo. São essas doutrinas que fizeram tantos incrédulos, e se enganam se esperam fazê-las passar para o lado das ideias espíritas que se enraízam. Aceitarão das ideias espíritas somente o que é racional e sancionado pela universalidade dos ensinamentos dos Espíritos. Se aí ainda há transação, ela é equivocada. Asseguramos que em mil centros espíritas onde as proposições que acabamos de criticar forem submetidas aos Espíritos, haverá novecentos e noventa onde elas serão resolvidas em sentido contrário.
Foi a universalidade do ensino, aliás sancionada pela lógica, que fez e que completará a Doutrina Espírita. Esta doutrina colhe nessa universalidade do ensino dado em todos os pontos do globo, por Espíritos diferentes, e em centros completamente estranhos uns aos outros, e que não sofrem qualquer pressão comum, uma força contra a qual em vão lutariam as opiniões individuais, quer dos Espíritos, quer dos homens. A aliança que se pretendesse estabelecer das ideias espíritas com ideias contraditórias, não pode ser senão efêmera e localizada. As opiniões individuais podem ligar alguns indivíduos, mas, forçosamente circunscritas, não podem ligar a maioria, a menos que tenha a sanção dessa maioria. Rechaçadas pelo maior número, elas não têm vitalidade e se extinguem com os seus representantes.
Este é o resultado de um puro cálculo matemático. Se em 1.000 centros houver 990 onde se ensina da mesma maneira e 10 de maneira contrária, é evidente que a opinião dominante será de 990 em 1.000, isto é, a quase unanimidade. Pois bem! Estamos certos de conceder uma parte muito grande às ideias divergentes, levando-as a um centésimo. Jamais formulando um princípio antes de estar assegurado do assentimento geral, estamos sempre de acordo com a opinião da maioria.
O Espiritismo está hoje de posse de uma soma de verdades de tal modo demonstradas pela experiência, que ao mesmo tempo satisfazem a razão tão completamente, e que passaram a artigos de fé na opinião da imensa maioria de seus adeptos. Ora, pôr-se em aberta hostilidade com esta maioria, chocar suas aspirações e suas mais caras convicções, é preparar-se para um choque inevitável. Tal é a causa do insucesso de certas publicações.
Mas, perguntarão, é então proibido a quem não compartilha as ideias da maioria publicar as suas opiniões? Certamente não; é mesmo útil que o faça; mas, então, deve fazê-lo por sua conta e risco, e não contar com o apoio moral e material daqueles cujas crenças querem destruir.
Voltando a Fernanda, os pontos de doutrina que combatemos parecem ser opinião pessoal do autor, que não sentiu o lado fraco. Remetendo-nos a sua obra, estreia de um jovem, disse-nos ele que quando tinha escrito essa novela, tinha apenas um co­nhecimento superficial da Doutrina Espírita e que, sem dúvida, nela encontraríamos várias coisas a corrigir, e sobre as quais pedia a nossa opinião; que hoje, mais esclarecido, há princípios que formularia de outro modo. Felicitando-o por sua franqueza e por sua modéstia, informamos-lhe que se houvesse motivo para refutá-lo, fá-lo-íamos na Revista, para instrução de todos.
Além dos pontos que acabamos de citar, não há nenhum que a Doutrina Espírita não possa aceitar. Felicitamos o autor pelo ponto de vista moral e filosófico em que se colocou, e consideramos o seu trabalho como eminentemente útil à difusão da ideia, porque enseja que ela seja encarada sob sua verdadeira luz, que é o ponto de vista sério. (Vide no número precedente a poesia do mesmo autor, intitulada Aos Espíritos Protetores).

Fonte: http://www.ipeak.com.br/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=6082&idioma=1